segunda-feira, 4 de março de 2013

Marcos Augusto Gonçalves

folha de são paulo

Bienal ambiciosa
O curador Guilherme Wisnik quer conectar pontos de SP numa espécie de festival para discutir as cidades
Depois de ter passado um longo período à sombra, a arquitetura brasileira voltou a florescer nos últimos anos à luz das mudanças socioeconômicas e dos grandes eventos programados para 2014 e 2016, que atraem atenções e capitais, em especial para o Rio de Janeiro.
A inauguração, na sexta passada, do MAR (Museu de Arte do Rio), desenhado pelo escritório Bernardes + Jacobsen, é mais um sinal desse ressurgimento, que também se estende a projetos mais amplos, de reforma urbana, como a recuperação da área portuária carioca.
Reside justamente nessa conexão da arquitetura com o urbanismo e com a vida das cidades o interesse do arquiteto Guilherme Wisnik, curador da 10ª Bienal de Arquitetura.
A mostra, ambiciosa, vai interligar diversos pontos de São Paulo nos meses de outubro e novembro. "Vai ser uma Bienal voltada para a cidade e realizada em rede, em lugares onde as pessoas poderão chegar de metrô", diz Wisnik.
Será também uma maneira de aproximar a discussão sobre mobilidade urbana -um entre os diversos temas da Bienal- da experiência prática com o transporte público. O título da mostra resume bem o espírito da coisa: "Cidades: modos de fazer, modos de usar".
Desta vez, o coração da Bienal será o Centro Cultural São Paulo, na Vergueiro, que passa por reformas depois de 30 anos de sua inauguração. Pela primeira vez, todo o CCSP será ocupado por um único evento.
Os outros pontos de referência são o Masp, o Museu da Casa Brasileira e o Centro Universitário Maria Antonia. Também haverá atividades no Auditório Ibirapuera e em pavilhões temporários montados em espaços públicos, além das Fábricas de Cultura, dos CEUs, do Centro de Formação Cultural Cidade Tiradentes, do parque D. Pedro 2º e de instalações no Metrô.
Essa escolha de curadoria implica também um novo formato de gestão -em vez de o Instituto de Arquitetos do Brasil assumir a realização de uma mostra no pavilhão do Ibirapuera, são costuradas parcerias com instituições que já possuem suas equipes e instalações.
"A ideia é discutir e tomar a cidade, adotando um modelo mais parecido com o de um festival. As bienais costumam ser endógenas, mais voltadas para arquitetos. Gostaria que essa edição atraísse mais atenção e repercutisse em vários públicos", explica o curador.
À ampliação territorial deverá corresponder uma expansão temática. A Bienal, por exemplo, vai ter mostras de filmes e a participação de artistas contemporâneos -Nuno Ramos e Héctor Zamora já foram convidados para realizar intervenções.
O conteúdo principal será a exposição e discussão de projetos, não só relativos à construção física, mas também às maneiras de apropriação e redefinição do uso do espaço urbano. Entre os destaques, o High Line, de Nova York, e as ideias arquitetônicas e de convívio social que serviram para reduzir a violência em Medellín, na Colômbia. No primeiro caso, diz Wisnik, "é claro que a discussão vai nos levar ao Minhocão"; o segundo levanta o tema "da segurança como direito à cidade".
Para o curador, a Bienal será uma boa oportunidade para se discutir "a retomada da inteligência arquitetônica e urbanística" no contexto contemporâneo de transformação das cidades. Para os interessados em apresentar projetos, em breve será feita uma chamada aberta para inscrições, tanto na área de arquitetura e urbanismo quanto na de artes.

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