quinta-feira, 4 de abril de 2013

Editoriais FolhaSP

folha de são paulo

Rugidos norte-coreanos
A Coreia do Norte deslanchou um novo ciclo de tensão na Ásia, com ameaças bélicas e restrições aos já limitados contatos e parcerias com a Coreia do Sul.
Apesar de a atual crise assemelhar-se a episódios anteriores -todos motivados por blefes-, a irracionalidade do regime totalitário de Pyongyang exige que a comunidade internacional leve a sério o risco de um conflito armado, que poria em linha de confronto as duas maiores economias mundiais, EUA e China. Nos últimos dias, a volatilidade só aumentou.
Provocações são quase diárias. Pyongyang bloqueou a entrada de cerca de 480 trabalhadores sul-coreanos no complexo industrial de Kaesong, mais importante projeto entre as Coreias, e voltou a ameaçar os EUA com mísseis atômicos (embora só possa alcançar, quando muito, bases americanas no Pacífico). Um dia antes, anunciara a intenção de reativar um centro de produção de armas nucleares.
Com pequena variação, todas as ações do atual ditador Kim Jong-un faziam parte da cartilha do pai, Kim Jong-il, para fazer chantagem e obter ajuda internacional ao país, incapaz de sequer alimentar a sua população miserável. Mas essa repetição não é garantia de novo apaziguamento: trata-se de um regime com pouquíssimo contato externo, centrado num forte culto à personalidade do ditador e sem nenhum espaço para dissidência.
Contribuem para a imprevisibilidade as movimentações militares dos Estados Unidos, a quem a Coreia do Norte ameaça reiteradamente. O Pentágono anunciou que antecipará a instalação de um sistema de defesa antimísseis na ilha de Guam, território dos EUA no Pacífico. Embora previsível, o incremento da presença americana na região torna o conflito armado um pouco menos improvável.
Preocupa ainda a aparente incapacidade da China de conter a Coreia do Norte. O anúncio da retomada do complexo nuclear de Yongbyon, desativado em 2007 após negociações impulsionadas por Pequim, revela que o regime norte-coreano não vê problema em constranger, diante da comunidade internacional, seu único aliado e principal provedor.
Nos últimos anos, Pequim tem enfatizado o diálogo com a Coreia do Norte, ao mesmo tempo que promove investimentos que busquem abrir mais o país ao mundo, via comércio. Mas a crise atual é um sinal de que isso não basta.
A China não tem toda a influência que se imagina sobre a Coreia do Norte, mas, sem exercer mais pressão do que fez até agora, só agrava a instabilidade.

    EDITORIAIS
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    Monotonia na Fazenda
    Ministro Guido Mantega volta a estender redução de IPI para tentar reativar a indústria, que ainda resiste aos anseios do Planalto
    A decisão do governo federal de prorrogar o abatimento do IPI para automóveis até o fim do ano, revogando o cronograma de normalização anunciado pelo mesmo governo no fim de 2012, equivale à confissão de sua impotência em restaurar a atividade na indústria -e na economia como um todo.
    O Ministério da Fazenda cogita estender o favor para a linha branca de eletrodomésticos, na expectativa de aí também impulsionar as vendas. Mas o arsenal do Planalto é cada vez mais inoperante.
    Em 2009, a mesma política de cortar impostos fez as vendas e a produção dispararem. O PIB cresceu 7,5% no ano seguinte e o incentivo foi suspenso. O dinamismo, porém, durou pouco.
    Em maio de 2012 houve nova redução do IPI, em reação à fraqueza de vendas e aos altos estoques. O ministro Guido Mantega decerto contava repetir o sucesso de 2009, mas o crescimento do PIB foi confrangedor (0,9%). A sensação agora é de fim de festa, a despeito de recordes pontuais de vendas.
    O mercado de veículos novos, incluindo caminhões e ônibus, registrou no primeiro trimestre deste ano o melhor volume de sua história. Foram 830,5 mil unidades licenciadas, uma alta de 1,5% em relação ao mesmo período de 2012.
    A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) manteve a previsão de alta de 3,5% a 4,5% na produção deste ano, para 3,5 milhões de veículos. Mas a meta estaria ameaçada sem a renovação do abatimento do IPI, segundo o presidente da entidade, Cledorvino Belini.
    Certamente a linha de argumentação se provou eficaz para convencer o governo a aceitar a renúncia fiscal (que, de abril a dezembro, engolirá R$ 2,2 bilhões). A projeção de aumento da produção, contudo, não é realista. O comportamento do mercado sugere estagnação ou até queda moderada de vendas.
    Os estoques permanecem altos (34 dias), mesmo com o recorde de vendas. O crédito também não dá sinais de retomada -de um lado, a disposição dos bancos para uma nova onda de empréstimos a fim de alavancar o consumo parece arrefecer; de outro, o consumidor já está muito endividado.
    Mais uma vez, o ministro da Fazenda apenas adia o problema, o que serve para confirmar que sua caixa de ferramentas se esvaziou. De duas, uma: ou o abatimento do IPI se tornará eterno, ou o consumo sofrerá um baque quando a alíquota do IPI for normalizada.
    Seja como for, está mais evidente que só reiterar a política de estímulo ao consumo não tem mais o poder de catapultar o crescimento do PIB acima do nível de 3%, como deseja a presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff.

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