sábado, 18 de maio de 2013

Eduardo Almeida Reis-Elementos de composição‏

A bela doutora receitou vitamina D via sublingual, pílula que se dissolve num átimo 


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 18/05/2013 

Não aprendemos na escola, mas Houaiss nos ensina que clept(o) – é antepositivo do verbo grego kléptó 'roubar, furtar, dissimular, esconder', tomado de empréstimo do latim clepo,is,psi,cleptum,ère 'idem', em eruditismos do século 18 em diante: clepte, clepto, cleptobiose, cleptobiótico, cleptofobia, cleptofóbico, cleptófobo, cleptomania, cleptomaníaco, cleptômano. Cleptofobia é quadro inexistente entre os políticos de diversos países, porque significa medo mórbido de vir a roubar ou de se tornar ladrão, de não pagar dívidas ou de pagá-las com dinheiro falso. Ilustrados homens públicos defendem a cleptocracia, isto é, o regime político que se caracteriza pela corrupção, especialmente com o dinheiro público, o que não significa dizer que sejam contrários aos dinheiros privados. Procurei aqui nos dicionários próximos, que são seis, o significado de cleptobiose e cleptobiótico. Não encontrei. Voltei ao Houaiss para aprender que -biótico e -biose significam fato vital, comportamento de organismo vivo, o que me faz supor que a cleptobiose signifique roubar a vida, mas deixo a análise do palpitante assunto, como sempre, a critério do caro e preclaro leitor.

Dos eruditismos citados no primeiro parágrafo deste belo suelto, o mais comum é o cleptômano, distúrbio psicopatológico que consiste na compulsão que leva um indivíduo a roubar objetos, independentemente do seu valor. Diz a Wikipédia, fonte dos meus estudos psicopatológicos, que o cleptômano começa a furtar objetos diversos, mesmo sem valor, como pedaços de giz, sabonetes, esferográficas ordinárias, sem que tenha necessidade de praticar o ato. Furta nas lojas, na escola, nas casas dos amigos, em qualquer lugar. Distúrbio que teve larga repercussão midiática nos casos da atriz Winona Ryder e do rabino Henry Sobel, flagrados subtraindo objetos de lojas norte-americanas. Winona bispando roupas em Beverly Hills e Sobel, que sendo rabino não pode bispar, subtraindo gravatas na Flórida. O quadro é complexo e desborda os conhecimentos de um ex-produtor de leite, que só estudou as vacas ladronas, varadeiras de cercas para pastar melhor, e os bezerros ladrões, que mamam os leites de outras vacas insatisfeitos com a produção das respectivas mães.


Não contém glúten
A Coca-Cola Brasil, que não deve ser empresa de fundo de quintal, vende néctar de manga, embalagem Tetra Pak, com a seguinte frase: “O segredo é carinho”. No meu entendimento de philosopho, embalagem feia, com o desenho horrível de manga, aquelas explicações – polpa de cinco mangas, água, açúcar, acidulante ácido cítrico e aroma natural – calorias etc. Em torno da frase uns arabescos de mau gosto, mas gosto não se discute. O próprio desenho da manga pode encontrar quem o ache bonito. Inexplicável é a falta do “o”, 15ª letra do nosso alfabeto, antes de “carinho”. Se a frase fosse “o segredo é o carinho”, o consumidor entenderia que o segredo do néctar de manga é a maneira carinhosa com que é produzido. Sem “o”, até o gato lá de casa entende que o néctar é vendido por preço alto, que é caro, é carinho.

Pulemos para sublingual, adjetivo de dois gêneros, que está, é feito ou posto sob a língua. A bela doutora receitou vitamina D via sublingual, pílula que se dissolve num átimo. Fiquei encucado com a via sublingual e fui procurar na Wikipédia, a médica da família aqui de casa. Aprendi que a via sublingual ou SL permite a absorção de fármacos por baixo da língua, o que evita o efeito de primeira passagem hepática, pois a drenagem venosa é para a veia cava superior. As mucosas da região sublingual são altamente vascularizadas por capilares sanguíneos, portanto a absorção dos fármacos é altamente eficaz, muito mais rápida do que a absorção por via oral. E aí a notícia assustadora: “Mas devido a essa rápida absorção torna-se também uma via com riscos consideráveis”. A utilização da via sublingual depende da ionização e da lipossolubilidade do fármaco. Bidu.


O mundo é uma bola
18 de maio de 1152: casamento de Henrique II, da Inglaterra, com Leonor, duquesa da Aquitânia. Henrique II foi aquele que o leitor estudou como Henrique Curtmantle (em francês, “Court-manteau”), Henrique FitzEmpress ou Henrique Plantageneta. Governou como conde de Anjou, de Maine, duque da Normandia, da Aquitânia, conde de Nantes, rei na Inglaterra (1154–1189) e lord da Irlanda. Várias vezes controlou o País de Gales, a Escócia e o Ducado da Bretanha. Leonor da Aquitânia, com quem se casou em maio de 1152, tivera anulado seu casamento com Luís VII, de França. A história de Leonor é interessantíssima. Não se pense que Luís VII gostasse mais de rapazes do que dela, filha mais velha de Guilherme X, o Santo. Luís VII e Leonor tiveram dois filhos. Com Henrique II, o Plantageneta, ela teve oito filhos. Antes que algum trocadilhista resolva dizer que Henrique plantava genética, informo que plantageneta, adjetivo e substantivo de dois gêneros, é “relativo a ou indivíduo pertencente à casa real que governou a Inglaterra entre 1154 e 1485”. Hoje é o Dia do Vidreiro, o Dia Nacional da Luta Antimanicomial e o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.


Ruminanças
“Entre um governo que faz o mal e o povo que o consente há uma certa cumplicidade vergonhosa.” (Victor-Marie Hugo, 1802–1885).

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