sábado, 18 de maio de 2013

Manobra religiosa, com olhos nas urnas - WADIH DAMOUS


O Globo - 18/05/2013

É essência da democracia a convivência
de forças políticas que se opõem, cada
uma representando a parcela da sociedade
que com ela se identifica, e no
caso de mandatos no Legislativo e cargos no
Executivo preenchidos pelo voto direto da população.

É a partir desta premissa básica, e sendo nosso
país um Estado laico — desde 1890 —, que
vem causando grande preocupação às entidades
de defesa dos direitos humanos e das minorias
a insidiosa contaminação da política pela
religião, cada vez mais utilizada por determinadas
lideranças partidárias e seus seguidores na
tentativa de insuflar a opinião pública.

Para isso, alguns desses parlamentares vêm se
valendo da disseminação, notadamente pela internet,
de uma intensa campanha de ódio. Com
vídeos editados e ataques agressivos, buscam
demonizar, pela via da difamação e dos termos
mais chulos, os ativistas e parlamentares que se
recusam a reconhecer uma comissão que deixou
de fazer jus ao seu nome e esvaziou-se e
perdeu sentido desde que foi posto para presidi-
la o deputado Marco Feliciano.

Como defensor das liberdades democráticas,
não podemos quedar inerte ante o seu desvirtuamento,
a forma repugnante, espúria, com que
vêm sendo extravasados conceitos e preconceitos
homofóbicos e racistas camuflados de supostos
preceitos religiosos ou presumidos valores
familiares.

Tribunas estão sendo transformadas em púlpitos
do fundamentalismo. E, de maneira estranha
à atividade parlamentar, a tecnologia é usada
na campanha viral de ataques à honra de
pessoas que lutam contra a hipocrisia e a repressão
dos que fecham os olhos à diversidade
humana. Procura-se, por todos os meios, e covardemente,
reforçar antigos estigmas sociais.

Há os que pretendem tratar homossexualidade
como doença — convicção de inspiração
nazista — e quem queira confundir os cidadãos
levando-os a acreditar na necessidade
de punir quem discrimine heterossexuais. Alguém
já ouviu falar em tal discriminação? Pura
provocação.

Vemos a infeliz combinação da influência religiosa
com e para fins políticos e da política com
e para objetivos que têm mais a ver com a disputa
mundana de poder do que com algum propósito
espiritual. Em qualquer dos casos, tratase
de uma excrescência a ser combatida.

Devemos denunciar os que tentam manobrar
politicamente a massa de fiéis e nos insurgimos
contra a exploração da religiosidade para benefícios
eleitorais. 

Wadih Damous é presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB e da Comissão da Verdade no Rio

Um comentário:

  1. INACREDITÁVEL!!! INDEPENDENTEMENTE DE CRENÇA RELIGIOSA, O PRINCÍPIO FUNDAMENTAL É O AMOR PELO PRÓXIMO!!! COMO AQUELES QUE SE INTITULAM REPRESENTANTES DE DEUS PREGAM O ÓDIO, O PRECONCEITO SE VALENDO DA INGENUIDADE OU IGNORÂNCIA DE SEUS SEGUIDORES, TENDO COMO OBJETIVO ALCANÇAR SEUS INTERESSES VERGONHOSAMENTE SÓRDIDOS, INDECOROSOS, CÍNICOS, REPUGNANTES. HIPÓCRITAS!!!

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