domingo, 3 de março de 2013

ENTREVISTA, DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS PRESIDENTE DA CNBB - Diego Amorim‏

ENTREVISTA, DOM RAYMUNDO DAMASCENO ASSIS PRESIDENTE DA CNBB » "A Igreja somos todos nós" "(O próximo papa deve ser) Um homem pastoral. Mais ágil e, além disso, um homem que conheça a organização da Igreja e os desafios que se apresentam" 


Diego Amorim

Estado de Minas: 03/03/2013

Cidade do Vaticano – A Igreja brasileira deseja um líder mais flexível e aberto à participação do clero e dos fiéis. "O papa não governa a Igreja sozinho. A Igreja somos todos nós", defendeu dom Raymundo Damasceno Assis, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em rápida entrevista exclusiva ao Estado de Minas. De passeio pelas igrejas de Roma e redondezas, ele atendeu o celular no fim da tarde e descreveu o perfil esperado pelos cinco cardeais brasileiros com direito a voto no conclave: homem de pastoral (com habilidade para lidar com o povo), mais ágil, conhecedor do funcionamento da Igreja e dos desafios a serem enfrentados. Também arcebispo de Aparecida (SP), o cardeal, de 76 anos – primeiro padre ordenado na Arquidiocese de Brasília –, evitou citar nomes de colegas mais cotados e sustentou que a nacionalidade do novo pontífice não importa.
Como tem sido a preparação para a realização do conclave?
Em clima de muita oração e meditação, e atendendo vocês, jornalistas. Vocês não param de nos ligar, de nos procurar, querem saber como estão as coisas, quem vai ser o novo papa...

E quem vai ser o novo papa? Chegou a hora de um papa brasileiro?
Quem sabe? É possível que sim, mas a origem do papa não é o fundamental. Se desta vez for um brasileiro, ótimo, mas cada cardeal tem liberdade para votar diante de Deus.

Entre os brasileiros, dom Odilo Scherer tem sido o mais citado. Gostaria de vê-lo papa?
Se ele for elevado a essa função, claro, ficaremos muito felizes. Mas é o Espírito Santo quem vai conduzir a escolha.

Ontem, o senhor e os outros quatro cardeais brasileiros votantes almoçaram juntos. Chegaram a identificar um nome mais forte entre os papabili?
Não, não falamos em nomes. Falamos sobre o perfil, expressamos um pouco o perfil que desejamos para o novo papa.

E que perfil seria esse?
Primeiramente, um homem pastoral. Mais ágil e, além disso, um homem que conheça a organização da Igreja e os desafios que se apresentam.

Que desafios, por exemplo?
O papa não governa a Igreja sozinho. Cada vez mais é preciso incentivar o espírito colegial. O papa é, sim, a autoridade máxima, mas a Igreja somos todos nós.

Existe alguma chance de o novo papa não ir ao Rio de Janeiro em julho para a Jornada Mundial da Juventude?
Não, esperamos que não. Até porque, Bento XVI disse que, se não fosse ele, o próximo papa estaria lá conosco. O que deve ocorrer são mudanças na programação. Antes, as atividades com o papa estavam reduzidas, era coisa simples. Com o novo pontífice – mais jovem, talvez – poderemos ter alterações.

Quando começará o conclave?
É difícil dizer. Somente quando todos os cardeais estiverem em Roma poderemos decidir. Na segunda-feira (amanhã) começarão as congregações (reuniões de preparação para o conclave) e poderemos ter uma ideia melhor. Mas, penso eu, que talvez pelo dia 11. Rezem por nós e um abraço a todo o pessoal do Brasil.


SUCESSÃO NO VATICANO » O que eles têm a dizer ao novo papa

Eles já não ocupam cargos nem desempenham papéis importantes. Mas continuam atentos ao que ocorre dentro e fora do Vaticano e não se eximem de opinar sobre a renúncia de Bento XIV e as negociações para escolha do novo papa. O Estado de Minas conversou com seis bispos brasileiros que participaram do Concílio Vaticano II. Todos estão na faixa dos 90 anos, entre eles dom Waldir Calheiros, que critica a postura supostamente apolítica da Igreja. Já dom José Maria Pires  observa que a instituição se afastou do povo. Para o cardeal-arcebispo emérito de Belo Horizonte dom Serafim Fernandes de Araújo , a crise na Igreja Católica "é mais séria do que imaginamos". E o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Raymundo Damasceno, diz que a origem do novo papa não é fundamental.



três perguntas para...

Fernando Altemeyer Júnior
professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP 



Afinal, as decisões do Concílio Vaticano II
se tornaram realidade?
Sim, muitas delas – e particularmente na América Latina. As questões litúrgicas, aquelas ligadas ao Ecumenismo e sobretudo o documento Gaudium et spes (Alegria e esperança, que trata da Igreja no mundo contemporâneo).

Há quem diga que ele acabou dividindo a Igreja —
entre progressistas e conservadores, por exemplo...
Como o atraso da Igreja em relação ao período moderno e à Revolução Francesa havia criado um hiato de 200 anos de paralisia, o Concílio precisou assumir um gigantesco passo que nem todos estavam preparados ou dispostos a dar. Foi um salto de qualidade para atualizar a Igreja e repropor sua mensagem com linguagem adequada aos novos tempos e ambientes culturais. O Concílio não dividiu, mas aprofundou um desafio: o diálogo. E esse colóquio exige compromissos novos e radicais.

Em relação ao futuro: ter ou não ter um papa
latino ou africano faz diferença?
Simbolicamente, sim! Do ponto de vista eclesiástico, talvez não. Dependerá dos gestos e da ação episcopal e da reforma que se fizer na Cúria Romana.

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