domingo, 3 de março de 2013

Socorrooo, o hóspede chegou! - Lilian Monteiro‏

Receber é um arte que exige talento e paciência do anfitrião e cobra da visita bom senso e etiqueta 


Lilian Monteiro

Estado de Minas: 03/03/2013 

Cena 1: Rogério, na companhia da mulher, Sandra, resolve tirar férias e visitar o irmão, Júlio, no Rio de Janeiro. Anos sem ver o irmão e o mar, já que vive no interior do Mato Grosso, avisa que será uma semana de descanso. Cena 2: Quinze dias se passam, Júlio perde a cabeça e expulsa o casal depois de lidar com a cunhada andando pela casa enrolada na toalha e ocupando o banheiro como salão por horas intermináveis à frente do espelho, se maquiando e pilotando o secador de cabelo; do irmão ter se apossado do controle remoto paralisado nos reality shows, sendo ele um crítico do entretenimento fácil; da geladeira lotada de carne vermelha, ele vegetariano desde a adolescência, e, por fim, da chegada repentina de um gato vira-lata, o Bob, levando-o a uma crise alérgica que o fez parar no hospital. Essa história é ficção, mas saiba que outras bem mais cabeludas ocorrem por aí e revelam tipos assustadores quando assumem o papel de visitas.

Casamentos entram em crise, namoros terminam, pais brigam com filhos, amizades ficam em risco e netos se transformam em pestinhas. Não existe anfitrião e hóspede perfeitos, mas especialistas garantem que há regras essenciais de convivência que não podem ser descartadas, sob o risco de se criar uma crise em qualquer relacionamento.

Portanto, preste atenção ao abrir as portas da sua casa para um hóspede. E, visitante, saiba quando estiver sobrando. Fique de olho na duração da estada, lembre-se de que é legal deixar saudade. Seja bem-humorado, pois não há coisa mais desagradável do que a pessoa emburrada e de mal com a vida. Não faça da casa alheia acampamento e use o truque de desaparecer por algumas horas. E não se engane, a cartilha de boas maneiras é bem mais extensa. Aproveite a leitura e lembre-se: hóspedes e leite, depois de alguns dias azedam!

Conheça os tipos*:

Folgado: aquele que chega tirando os sapatos e jogando pela casa, põe os pés em cima da mesa e pergunta o que tem para comer. Socorro!

Naturalista: aquele que toma banho de porta aberta e cantando porque se sente tão em casa que perde o limite. Feche os olhos!

Resmungão: aquele que sempre vê o lado feio das coisas. O calor está demais, as ruas muito cheias, as praias muito sujas, a comida local muito pesada. Não o convide!

Mimimi: aquele que fica de “mimimi”, com comparações e saudosismo de toda a sua vida que deixou para trás há exatos dois dias e ele já não pode viver sem sua rotina. Ignore!

Hippie, sem ser chique: aquele que fica largado e não faz um agrado ao dono da casa, porque acha que é coisa de burguês presentear e agradecer. Releve!

O que veio para ficar: chegou para ficar de segunda a sexta-feira, mas esqueceu de ir embora. Bem, esse não é preciso descrever muito, apenas.... Não abra a porta!

Preguiçoso: aquele que chega em casa, se joga no sofá e ainda pede um copo de água. Nunca oferece uma ajuda e acha que o seu prato vai sozinho para a cozinha. Ninguém merece!

Bisbilhoteiro: aquele que aaaadddoooorrrra olhar o que você tem guardado nos armários e gavetas. Não consegue controlar a curiosidade. Isole!

Sem noção: aquele que decididamente não vive num mundo ecoconsciente. Deixa a água do chuveiro correr por horas, mantém todas as luzes acesas e por aí vai. Desperte!

Furão: se mete na rotina da casa. Em minutos está dando ordens à empregada e comprando um adorno porque acha que aquele elefantinho, que você adora e trouxe de viagem, não está de acordo com a sua decoração. Fuja!

* Fonte: Luciana Teixeira, advogada e fundadora do site Atitude Caprichosa


Relação de amor e desespero 


Especialista em receber hóspedes, aposentada revela inconvenientes e momentos prazerosos dessas visitas 



Lilian Monteiro



Gostar e ter prazer em receber hóspedes é uma coisa. Que essa visita se torne uma dor de cabeça é bem diferente. Por outro lado, apesar dos tropeços, não tem como não se divertir e aprender com as nuances e diferenças do ser humano. Ex-maquiadora, aposentada, e cantora decaraoquê nas horas vagas, Marília Eugênia Pelegrine Honorato, de 70 anos, é especialista em ter a casa cheia. Receptiva, dona de um sorriso largo e pronta a ajudar, o problema é que muitos chegam e se esquecem de ir embora. Mas ela não reclama, apesar de revelar alguns deslizes e inconvenientes com que precisa lidar no seu dia a dia.

As histórias são hilárias. Ao receber o físico norte- americano William Fadgen, o Bill, amigo do filho, Rodrigo, teve de conviver com o gringo por quase um ano. Sem falar inglês, a comunicação era por mímica. Garantia de embaraços e boas gargalhadas. “Queria que ele pusesse a roupa suja no balde e, como não entendia, ia falando cada vez mais alto. E nada. Meu filho chegou e me disse: ‘Mãe, ele não é surdo. Só não entende o que você fala’. No fim, ao entrar um dia no quarto do Bill, me deparei com uma pilha quase no teto de roupa suja e limpa misturada. Juntei tudo e pus para lavar.”

Em outra situação, Marília conta que não gosta de carne vermelha e como Bill adorava, ele comprava e ia para a cozinha preparar. “Deixava tudo sujo e minhas panelas pretas, igual carvão. Muitas vezes, esquecia o fogão ligado, ia mexer no computador e precisava sair correndo para alertá-lo.” Rei dos deslizes, ele também vivia se esquecendo de desligar o chuveiro. “Acho que na casa dele era tudo automático, elétrico, não é possível. Não ligava para nada. Eu não reclamava, pois lembrava que ele estava tão longe de casa. E ele sempre dizia que eu trabalhava demais e me dava ajuda financeira simbólica. Quando decidiu ficar no Brasil, comprou uma casa em Belo Horizonte. Fui até sua fiadora.”


Marília recebeu ainda mais dois americanos, também amigos do filho, os advogados Lairnalddo e Leonel, os dois conhecidos por Leo, sendo que um ficou com ela por três meses e o outro 25 dias. “Eram bem caprichosos e só não cabiam na cama de tão grandes, os pés sobravam. O problema é que esperavam receber tudo na mesa, gostavam de ser servidos. Tomaram conta da TV da sala, eu fiquei com a do quarto. Mas ficamos amigos e fui até madrinha de casamento de um deles. Até hoje me mandam presentes dos EUA, uns perfumes chiques e deliciosos”, conta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário