quinta-feira, 18 de abril de 2013

As tardes sāo labirintos


De Carlos Emilio Faraco

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

Desaguar-se a fundo nelas
Exige uma alma profusa
Que nāo se deixe minguar
Por mil vielas confusas
Que irrigam a asa do dia
E impedem o seu voo -
Barreiras de líquido estorvo -
Antes que a noite se ria
Como um grasnido de corvo.

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

É preciso beber delas
Em goles bem controlados:
Que o copo nāo se entorne
Na volúpia do amarelo,
No desejo desabrido
De passear por castelos,
Por vales alaranjados.

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

Nāo há na tarde jardins,
Nāo há na tarde castelos.
Só há tantos labirintos
Construídos em duelo,
Com contragolpes procelos
Que, sendo o que nunca sāo,
Se desmentem, se anulam,
E sobrevivem sozinhos
Em espaços semoventes
De mil espelhos que falam
De si para si,
frente a frente,
Sem permitir que os olhos
Conquistem a arquitetura
De uma tarde madura:
Um beco sem abertura,
Labirinto, captura.

Mesmo quando nāo querem,
As tardes sāo labirintos.

(Boa tarde aos náufragos).

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