quinta-feira, 18 de abril de 2013

Tendências/Debates

folha de sao paulo

ROGÉRIO CEZAR DE CERQUEIRA LEITE
TENDÊNCIAS/DEBATES
Os milagres do pré-sal
O investimento requerido pela opção pré-sal é muito superior ao calculado para produzir etanol que substitua 10% da gasolina do mundo
O ex-presidente da Petrobras, dr. Sérgio Gabrielli, em veemente defesa da opção pelo pré-sal, anunciou nesta Folha, em 3 de abril último, que a produção do pré-sal havia atingido 300 mil barris por dia em apenas sete anos. Uau! Por que será que este anúncio não foi feito pela atual presidente da empresa?
Acontece que, em sintonia com essa declaração, vasta propaganda da Petrobras anunciou, inicialmente, 200 mil barris/dia, para ser imediatamente corrigida para os 300 mil barris/dia do dr. Gabrielli.
Tudo bem: que sejam 300 mil. Então, se a tecnologia já permite esse nível de produção, por que essa suposta imensa atividade em pesquisa que envolveria 120 universidades e institutos de Pesquisas, como diz o ex-presidente? Uau! Eu não sabia que o Brasil já possui 120 Institutos e Universidades de Pesquisas.
Essa iniciativa parece, pois, mais um programa de cooptação de apoio político. Há, contudo, males que vêm para o bem. Palmas para a Petrobras.
Outra dúvida: se a produção total nacional não aumentou, será que aquelas contribuições devidas a águas profundas e continente decaíram em tão pouco tempo esses 300 mil barris/dia?
Todavia o que não se explica é como pode a OGX, empresa criada para explorar o pré-sal e que teve o privilégio da escolha das melhores áreas, pois contratou da própria Petrobras equipe especializada, estar hoje em situação tão difícil, tendo seu valor de mercado decaído a 13% de seu valor inicial, ou seja, uma queda de 87%.
Como é possível que áreas adjacentes sejam uma o sucesso triunfante que o dr. Gabrielli alardeia e outra, o retumbante fracasso representado pelo reconhecidamente experto empresário Eike Batista?
Mas tudo bem, pois concomitantemente anuncia a Petrobras que dinheiro não falta e que pretende investir cerca de US$ 237 bilhões para viabilizar os 30 bilhões de barris que seu ex-presidente e agora porta-voz anuncia.
Aliás, a última declaração da presidente Dilma Rousseff, de cuja credibilidade ninguém duvida, sobre o assunto foi que a reserva do pré-sal seria a metade daquela revelada hoje pelo ex-presidente da Petrobras.
Mas teria a opção pré-sal sido inteligente? Esse valor de US$ 237 bilhões é muito superior àquele calculado para os investimentos necessários para uma produção de etanol suficiente para substituir 10% da gasolina do mundo. ("Can Brazil Replace 10% of the 2025 Gasoline World Demand with Ethanol?" Energy, V.34, p. 655-661, 2009, Rogério Cezar de Cerqueira leite et. al.).
A produção de combustíveis líquidos seria, nesse caso, entre duas e três vezes maior que a esperada do pré-sal, de 1,5 a 2 milhões de barris/dia --com a diferença de que o petróleo do pré-sal duraria 50 anos, enquanto o etanol é renovável, ou seja, eterno. E isso se de fato as reservas do pré-sal forem de 30 bilhões de barris, como diz o "insuspeito" porta-voz.
Além do mais, os cálculos realizados para o etanol incluem a logística (inclusive alcooldutos) e se restringem à primeira geração, excluindo ainda cogeração, tecnologias, que hoje já estão desenvolvidas e que, se incluídas, aumentariam expressivamente a produtividade do etanol.
Para tal produção bastariam 10 a 15% da área hoje utilizada para pastagem, ou outra equivalente. Se, entretanto, acreditarmos na presidente Dilma, a produção média em 50 anos de petróleo do pré-sal seria apenas a metade da mencionada acima, ou seja, entre 750 milhões e 1 bilhão de barris.
Talvez seja por essas e outras que a presidente da Petrobras, quebrando uma longa tradição, deixou de se comprometer, delegando a um porta-voz a notícia espalhafatosa.


CAMPOS MACHADO
TENDÊNCIAS/DEBATES
Sobre a distorção da verdade
A não aprovação da PEC 1/2013 será um estímulo ao arbítrio e à perseguição que alguns membros da Promotoria vêm fazendo
Há muito aprendi que nunca se pode pautar a conduta alheia pela própria. E, dos meus avós, nunca esqueci a lição caseira que diz que uma mentira, se bem repetida, ou vira verdade ou dela se aproxima.
Pensando nisso, e numa linguagem simples, desprovida de citações filosóficas próprias de quem busca a sombra da distorção, resolvi abordar um tema que causa arrepios a alguns membros de uma instituição séria e respeitada como o Ministério Público de São Paulo. Estes, julgando-se dotados de superpoderes, adentraram, perigosamente, o terreno do arbítrio, das contendas políticas e do desprezo à honra.
O artigo "Mandonismo à paulista", publicado nesta Folha, em 27/3, além de exibir sintomas de arrogância, deu-me a certeza de que a Proposta de Emenda Constitucional 1/2013, por mim encabeçada, pela qual caberia exclusivamente ao Procurador-Geral de Justiça a competência para propor as ações necessárias contra agentes políticos nelas elencados, é acertada.
Ao contrário do que dizem os autores do artigo, não se pretende proibir as investigações feitas pelo Ministério Público. Mas, na linha de distorção, alegam que o MP vai ser impedido de investigar crimes. Nada mais inverídico e, desculpe-me pelo excesso, nada mais ridículo.
O que se pretende, unicamente, é não mais permitir que alguns promotores públicos, sedentos de holofotes e sem alicerces, continuem enxovalhando honras alheias com picuinhas, perseguições baratas e oportunistas, quase todas levadas pelo sentimento de superioridade de que se acham detentores.
Em quase todas as cidades do Estado (pergunte aos intimidados prefeitos se é verdade), já ocorreram excessos de autoritarismo, de abusos e de perseguições, todas elas de cunho pessoal e político. Parcelas do MP querem administrar as cidades sem terem sido eleitas para tal.
Diga-se ainda que, ao "investigar" fatos que consideram relevantes, primeiro comunicam a imprensa para depois apurar a veracidade dos mesmos. E a honra das pessoas, como fica, após exposta, sem comprovação, à opinião pública?
A nossa proposta é que o procurador-geral --com experiência de anos e sem se sujeitar à influência de opiniões, vaidade ou posição política--, sugira as investigações que achar necessárias. É ofensivo à figura do chefe-geral do MP insinuar que crimes e irregularidades não serão investigados pela instituição, pois o procurador-geral poderá nomear e indicar quantos promotores julgar necessários para apuração de crimes e outras irregularidades.
Os adversários da proposta, entre eles os autores do supracitado artigo, ainda se atrevem a dizer o que pode e o que não pode ser apreciado e votado pela Assembleia Legislativa de São Paulo. Não cheira isso a presunção e a arrogância?
Para ilustrar o drama de prefeitos sob a fúria incontrolável de alguns promotores públicos, um deles, de uma cidade do Vale do Ribeira, impossibilitado pela enxurrada de solicitações sem sentido por parte de um douto e inexperiente promotor público, foi ao seu gabinete e lhe disse: "Doutor, eis as chaves da prefeitura. Pode assumir o meu lugar, pois não aguento mais".
A não aprovação da PEC 1/2013 será um estímulo ao arbítrio, à vaidade, à prepotência e à perseguição que alguns membros da Promotoria do Estado vêm fazendo, desde a aprovação da Constituição de 1988. Aos meus colegas da Assembleia, um apelo: a coragem e a dignidade são irmãs gêmeas.

    Um comentário:

    1. Veja a resposta do Gabrielli:
      http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2013/04/1267624-jose-sergio-gabrielli-de-azevedo-o-pre-sal-sem-milagres.shtml

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