domingo, 30 de junho de 2013

A serviço da música (Filipe Catto) - Ana Clara Brant‏

Filipe Catto chama a atenção entre as jovens revelações da MPB contemporânea. O cantor gaúcho trilha o próprio caminho e rejeita as comparações com o veterano Ney Matogrosso 


Ana Clara Brant

Estado de Minas:
30/06/2013 

Entre cabelos olhos & furacões não é apenas o nome do último trabalho do cantor e compositor Filipe Catto, de 25 anos. Emprestado de Ave de prata, canção de Zé Ramalho incluída em seu álbum Fôlego (2011), o verso resume o momento atual do artista gaúcho, radicado em São Paulo desde 2010. “Ali no palco, eu estava, sim, entre cabelos, olhos e furacões. Isto mostra toda a minha entrega: é a coisa do físico, do olhar para o outro, da intensidade”, explica.

Gravados na capital paulista, CD e DVD acabam de sair pelo selo Canal Brasil/Universal Music. Este é o primeiro registro da carreira de Filipe com a participação do público. Apesar de não deixar de ressaltar a experiência em estúdio, ele diz que a verdade se faz ao vivo.

“Ali, não tem como mentir, é um momento de confirmação. É ou não é. Sou artista do palco. Esse é o meu trabalho, o meu dom. A verdadeira arte do cantor mora no ao vivo. Consegui me mostrar para o público de forma inteira e integral”, comemora.

Com sua performance visceral, Filipe Catto apresenta repertório de projetos anteriores, como o disco de estreia, lançado em 2009 de forma independente, e Fôlego, dois anos depois. O roteiro do show traz narrativa teatral, é como se contasse uma história.

Além de canções autorais, Filipe interpreta composições de artistas que admira, como Nelson Cavaquinho (Luz negra), Maysa (Meu mundo caiu) e Fábio Jr. (20 e poucos anos). Também há espaço para os contemporâneos Pélico (Sem medida) e Arnaldo Antunes (2 perdidos).

Saga abre o DVD (“Andei depressa para não rever meus passos/ Por uma noite tão fugaz que eu nem senti/ Tão lancinante, que ao olhar pra trás agora/ Só me restam devaneios do que um dia eu vivi”). Essa canção o projetou nacionalmente quando foi incluída na trilha sonora da novela Cordel encantado. Trata-se de uma espécie de lema da vida do artista.

Para Filipe Catto, cada música tem uma função em sua carreira. Coube a Saga abrir-lhe as portas. “Ela é quase o meu manifesto. Além de me definir artisticamente e revelar a intensidade que tenho na vida e no palco, mostra toda uma trajetória. Saga fala de olhar para a frente, mas reconhecendo e valorizando o chão e as raízes sem ter medo de viver”, filosofa.

Timbre
Um dos pontos que mais chamam a atenção em Filipe Catto é o timbre de voz, comparado ao de Ney Matogrosso. O contratenor diz que a semelhança “nem incomoda nem desincomoda”, ressaltando que seu trabalho independe de expectativas e comparações.

“Somos muito diferentes. Não temos nada a ver com o outro, até mesmo como artistas e em relação às influências. Ser contratenor é uma questão fisiológica. Meu pai e meu irmão também têm vozes mais agudas”, comenta.

Para o gaúcho, seu diferencial está em ser intérprete. Mais que isso: em cantar a própria obra. “Sou um cara a serviço da interpretação da letra, da música. O Brasil também é um país de grandes cantores e intérpretes”, destaca.

Vindo de família afeita às artes, Filipe conta que sua casa sempre foi repleta de instrumentos musicais. Ele começou se apresentando com o pai e sua carreira já soma sete anos. “Canto há muito tempo, cresci nisso. Não decidi ser músico, foi a música que me escolheu. As conquistas de agora são só a ponta do iceberg. O que está por baixo disso é muito bonito”, conclui.


Fã de carteirinha

Filipe Catto desenvolve trabalho autoral, mas é fã de ícones da MPB e do pop. Gosta especialmente da cantora britânica PJ Harvey (foto), estrela dos anos 1990, e admira os sessentistas The Doors e Janis Joplin. O gaúcho também reverencia Milton Nascimento e Elis Regina, além da roqueira Cássia Eller. Em seu repertório, chama a atenção 20 e poucos anos, hit de Fábio Jr. O cantor diz que a letra dessa canção traduz sua trajetória com perfeição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário