domingo, 30 de junho de 2013

AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Jovens e adultos, quem sabe mais?‏


Estado de Minas: 30/06/2013 


Dizem que é de Nelson Rodrigues esta frase:

– Qual o melhor conselho que se pode dar a um jovem?

– Envelheça, meu filho.

Eu complementaria:

– Qual o melhor conselho que se deve dar a um adulto?

– Seja jovem, meu caro.

Jovem ou velho? Impetuoso ou precavido?

 Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Ou seja, no mar e na terra. Ou como dizia o dialeta Guimarães Rosa – olhar as coisas da terceira margem do rio.

Pode-se retomar Sócrates: ele era velho, mas foi obrigado a se matar porque estava seduzindo a juventude. Dizia ele: “A verdade não está com os homens, mas entre os homens”. (Lembremos, ironicamente, que ele fala do genérico homem, pois a mulher é uma invenção recente: mulher, preto, índio, homossexual e outras minorias, que são maioria.)

Várias coisas me ocorrem neste momento em que jovens de 19 anos vão conversar com os adultos da Presidência. Os guerrilheiros de ontem face aos revoltosos de hoje.

O que o jovem pode ensinar aos adultos?

O que os adultos podem ensinar aos jovens?

Será que todo adulto é um fruto que apodreceu? Será que se deve ainda dar crédito àquela frase do tempo do poder jovem, que dizia: “Não acredite em ninguém com mais de 30 anos”?

Se os mais velhos são uns imbecis, com etiqueta de validade vencida, então a humanidade esteve errada durante seis mil anos? Experiência tem utilidade? Para que serviam os velhos sábios da tribo, qual a utilidade do conselho dos anciãos?

O que é mito e o que é realidade? O que o mito tem a nos contar e o que a realidade tem a desmentir?

Em várias culturas existe o mito do jovem sábio. Está até na Bíblia: um menino de 12 anos disse coisas de pasmar os anciãos do templo.

Quem tem ouvidos ouça, dizem as Escrituras. É possível que os velhos tivessem alguma cera nos ouvidos e aquele menino trazia boas-novas, um novo testamento.

Mas o que testamento tem a ver com sabedoria ou experiência?

Quando jovem, li um livro que pode ter ainda muita utilidade: O drama de Jean Barois, de Roger Martin de Gard. Deveriam reeditá-lo. Conta a história de um personagem que, quando se achava na força da idade, fez um testamento radical dizendo que ia deixar aquilo escrito, porque temia negar tudo o que afirmara quando ficasse velho. O tempo passou, ele ficou velho e fez outro testamento contrariando o primeiro. O leitor termina a leitura com os dois testamentos na mão. Onde está a verdade? Com o jovem ou com o adulto?

Talvez seja bom reler alguma coisa sobre a revolução cultural na China. Um desastre. Os jovens aliados a velhos oportunistas humilhavam seus professores e os mandavam para ser reeducados, cuidar de porcos.

Slogans revolucionários têm seu charme, nos fazem rir ou nos levam a quebrar lojas. Muitas frases têm que ser desmistificadas. Veja a impactante frase de Kennedy: “Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país”. É equivocada: abole o indivíduo, coloca o país acima do cidadão, poderia ser dita por Lenin. Guevara dizia: “Endurecer sem perder a ternura”. Imaginem os que foram fuzilados por Guevara ouvindo a explicação: estou matando vocês, sem perder a ternura…

Tudo depende de que lado você está. É próprio dos radicais estar de um lado só. São donos da verdade. Sabem para onde vai a história, sabem o que o povo quer. Ignoram que há várias histórias e que o povo não é uma manada de búfalos de Marajó.

Certa vez, li o poeta argentino Armando Tejada Gomes, que dizia o seguinte:

“Já que o mundo é redondo, é recomendável
Não se posicionar à esquerda da esquerda    
Pois, além daquele declive, aqueles
Que são distraídos acabam na direita.
Conhecem-se vários casos. E eles têm se repetido muito.
Nesses dias de confusa urgência”.


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