terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Janio de Freitas

folha de são paulo

Um trio inovador
Renan Calheiros, Henrique Alves e Eduardo Cunha oferecem uma síntese do estado das instituições
É uma situação sem precedente na história parlamentar brasileira: o eleito para a presidência do Senado, o eleito para a presidência da Câmara dos Deputados e o eleito para a importante, quando não decisiva, liderança na Câmara do partido-chave para o governo, estão pendentes de inquéritos e decisões judiciais. Por diferentes motivos, mas não por coincidência, os três já foram ou estão investigados em improbidades financeiras.
A coincidência se dá no Judiciário: os processos de Renan Calheiros, Henrique Eduardo Alves e Eduardo Cunha entram em ano após ano, mas em pautas de julgamento jamais são chamados a entrar.
Os três parlamentares do PMDB oferecem uma síntese do estado das instituições brasileiras. E, ainda que apenas parlamentares, não só das instituições políticas, como indica a sorte dos seus processos.
No exaltado discurso com que encerrou, para o plenário dos deputados, sua campanha de candidato a presidi-los, Henrique Alves berrou que a Câmara "é o mais atacado dos Poderes porque é o mais transparente".
Não cometia uma licença retórica, mas uma inverdade como autodefesa. O mais criticado dos Poderes é, de longe, o Executivo, e assim foi e será com todos os governos menos conservadores do que os meios de comunicação.
Além disso, a Câmara não pode ser transparente se seus integrantes não puderem sê-lo. Henrique Eduardo Aves, por exemplo, tratou de interceptar a quebra dos seus sigilos financeiros.
A Câmara é criticada, como o Senado, na medida das contribuições pessoais, políticas e financeiras que integrantes seus deem à degradação incessante do Congresso e da modesta democracia brasileira.
CRIMINOSO
O achado de documento oficial sobre a prisão de Rubens Paiva pela Aeronáutica e subsequente transferência para a criminalidade do DOI-Codi, como narrado pela repórter Patrícia Britto na Folha de ontem, tem um valor além da investigação de sua morte.
Ao se referir à busca de duas passageiras de um voo da Varig vindo do Chile, o documento também confirma que a repressão já sabia que eram portadoras de correspondência destinada a Paiva.
Há um delator, um infiltrado nos exilados, a ser descoberto. Agora já se sabe que agia para a Aeronáutica. Portanto, para o Cisa, o centro de informação da FAB, em cuja documentação deve estar a pista necessária (remessas de dinheiro para o Chile, pagamentos feitos por um certo diplomata em Santiago, e outros).
Esse infiltrado é cúmplice no assassinato de Rubens Paiva. E sua identificação é essencial na verdade procurada a respeito.
CRIMINOSAS
A cúpula do governo espanhol e seu partido, o conservador PP, estão acusados de receber dinheiro ilícito nos últimos 18 anos: doações regulares de empresas para o caixa dois partidário.
Que empresas? Ora, sobretudo, ao que está verificado até agora, empreiteiras de obras públicas.
Sempre empreiteiras. Aqui e em toda parte. São a mola mestra da grande corrupção, a praga da imoralidade governamental em nosso tempo.

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