domingo, 7 de abril de 2013

'Ainda sonho em ser desenhista', diz ciclista que perdeu braço na Paulista

folha de são paulo

CHICO FELITTI
DE SÃO PAULO

Ele não perdeu o equilíbrio. Menos de um mês depois de ter o braço direito decepado ao ser derrubado da bicicleta por um carro, na avenida Paulista, o operador de rapel para limpeza de prédios David Santos de Sousa, 21, já ensaia algumas voltas na "bike".
Ele não quer mais falar sobre o acidente nem sobre o jovem que o atropelou, o universitário Alex Siwek, 21, que, após o ocorrido, jogou o braço de David em um córrego. Siwek foi preso, mas a Justiça concedeu uma liminar libertando-o.
Agora, David prefere fazer planos, como retomar as aulas do terceiro ano do ensino médio, que cursa em uma escola pública em Pedreira, na zona sul, colocar a prótese do braço e praticar esportes de novo. E promete: "Ainda vou voltar a andar de 'bike'".

Acidente com ciclista na avenida Paulista

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Christian von Ameln/Folhapress
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David Santos, que perdeu um braço quando andava de bicicleta na avenida Paulista, São Paulo
sãopaulo - O que achou do apoio que recebeu de cicloativistas da cidade?
David Santos de Sousa - Foi muito bom, ainda que eu não tenha visto tudo, já que estava no hospital. O apoio ajudou a não me sentir sozinho.
São Paulo não é uma cidade para ciclistas?
Tem muita violência, e não só contra os ciclistas. Mas acho que seja possível andar de bicicleta aqui, sim.
Voltaria a andar em SP de bicicleta?
Sim. Já consegui me equilibrar na bicicleta do meu irmão. Mas, para quem pedalava sem os braços [apoiados], será tranquilo. Não estou com medo.
Como se distrai após o acidente?
Vou ao centro de Diadema, ao shopping e até o campo para ver os meninos jogar bola. Ainda estou sem praticar esportes, mas andar de bicicleta é meu foco.
Uma empresa de Sorocaba ofereceu uma prótese de graça. A promessa foi cumprida?
Sim. Já testei a prótese, mostrei como são os movimentos que eu tenho de fazer usando o braço esquerdo. Em dois meses faremos o teste com o direito.
Você perdeu o emprego de limpador de vidros. Vive como?
Minha mãe, que era doméstica, pediu demissão para cuidar de mim. O pessoal que se mobilizou [pela internet] arrecadou algum dinheiro.
Mas a comoção que seu caso criou deve ter trazido oportunidades.
Tem até oferta de emprego. A Caloi pediu para eu participar de passeatas de bicicleta em outros Estados. Não é um emprego para sempre, mas eu topei.
O sonho de ser desenhista resiste?
Sim, inclusive um desenhista de games famoso e que não quer dizer o nome ligou para me oferecer algumas aulas. Ainda tenho muito a aprender. Se der, quero fazer faculdade de engenharia.

Braço de plástico é colocado na avenida Paulista

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Edson Lopes Jr./Folhapress
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Braço de plástico é colocado em poste da av. Paulista em protesto de ciclistas Leia mais

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