domingo, 7 de abril de 2013

Paulo Vinicius Coelho

folha de são paulo

Salvem o domingo
Apesar dos clássicos hoje, perspectiva é de estádios vazios para 11 dos 12 maiores clubes do país
Se você tem menos de 30 anos ou por um acidente do destino nunca se deparou com a letra de "Domingo no país do futebol", vá ao computador assim que terminar este texto. Você vai ouvir uma das canções capazes de retratar um tempo que já não existe -mas precisa voltar a existir. "Brasil está vazio na tarde de domingo, né? Olha o sambão, aqui é o país do futebol!"
Hoje é domingo, e a pergunta é se aqui ainda é o país do futebol. Tem Ba-Vi inaugural da Fonte Nova, América x Cruzeiro no Mineirão, mas a perspectiva é de estádios vazios para 11 dos 12 maiores clubes do país.
Fernando Brant e Milton Nascimento são os autores da canção, encomendada para o filme "Tostão, a Fera de Ouro." O filme é de 1970, a trilha sonora, do ano anterior.
Fernando Brant se lembra da inspiração: "A gente caminhava nas ruas e avenidas de Belo Horizonte e não havia carros, gente, ninguém. Estava tudo vazio, mas os estádios estavam cheios".
Brant ainda vive em Belo Horizonte e continua sendo um americano fervoroso. Sua percepção não é 100% verdadeira, porque naquele tempo também existia estádio vazio. No dia 28 de junho de 1969, o Cruzeiro enfrentou a Usipa pelo Campeonato Mineiro para 3.399 espectadores apenas. Era um sábado.
No domingo, 22 de junho de 1969, o Corinthians enfrentou o Palmeiras no Morumbi para 5.702 torcedores. Na véspera, o Santos havia conquistado o tricampeonato paulista empatando por 0 x 0 com o São Paulo, com 31 mil pagantes.
"Hoje, o domingo anda mais fracote!", diz Fernando Brant.
Quarta-feira nem tanto. A próxima tem Barcelona x PSG como grande atração -ih, também não é no velho país do futebol...
Mesmo por aqui, as noites de quarta são mais animadas. O Morumbi recebeu 41 mil em São Paulo x Bolívar, o Pacaembu teve 32 mil para Corinthians x Tijuana, o Independência lota em todo jogo de Libertadores. O problema é que muita gente não se comove com futebol.
Muito menos com o domingo...
Naquele 1969 de Milton e Fernando Brant, 31 de agosto registrou o recorde de público do Maracanã e, uma semana depois, o embaixador americano Charles Elbrick foi libertado de sequestro em meio à multidão de um Fluminense x Cruzeiro. Eram domingos.
Na sexta-feira, o craque alemão Paul Breitner gravou o programa Bola da Vez, na ESPN. Fez diversas críticas ao futebol que se pratica por aqui, pôs o dedo na ferida. Mas deixou também o alento de julgar que, sim, é possível construir uma liga forte no Brasil. Que seja vista na Europa e, no futuro, possa desenvolver e manter os principais jogadores aqui.
Dá trabalho e, para isso, é preciso reconstruir o Brasil como país do futebol. Também é preciso salvar nosso domingo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário