sábado, 27 de abril de 2013

Bagagem de mão - Ruy Castro

folha de são paulo

RIO DE JANEIRO - No aeroporto, não vacilo mais. Descobri que faço parte de um grupo de privilegiados: os macróbios, que, assim como os cadeirantes, gestantes e mães com crianças de colo, podem ignorar a fila de embarque e passar à frente dos outros rumo ao avião. Com isso, sou dos primeiros a entrar no bicho. Não por pressa de voar, mas para me divertir com as bagagens de mão que as pessoas trazem consigo.
E não me refiro às mochilas descomunais, que, às costas de seus donos, passam abrindo caminho entre as fileiras, despenteando senhoras, derrubando óculos e se esfregando em bochechas. Como sempre fico no corredor, aprendi a não me deixar abalroar, inclinando-me a um ângulo de 45 graus em direção ao vizinho do meio e me desculpando por quase montar sobre ele.
De objetos compridos e pontiagudos é mais difícil desviar. Dependendo do destino ou origem do voo, já aconteceu de ter de me proteger de minipranchas de surfe, varas de pesca e até berimbaus. Não me pergunte como a turma entra no avião com esses apetrechos. Ou como, certa vez, um passageiro sentou-se ao meu lado segurando um acordeão de 120 baixos --e desmoralizou a lei de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo.
Outro dia, uma mulher com cintura de pilão tentava acomodar no compartimento superior um objeto circular que, pela embalagem, parecia ser um bambolê. E mães com enormes carrinhos de bebê são comuns --por sorte, os atuais carrinhos, depois de dobrados, ficam pouco maiores que um leque. Mas nada supera a jovem mãe que vi entrar no avião carregando uma criança de colo, esta com tamanho e peso suficientes para lutar sumô --estava, inclusive, de fralda.
Já tive confiscado um cortador de unhas, mas não me surpreenderei se, hora dessas, alguém entrar no avião portando uma bigorna.

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