domingo, 2 de dezembro de 2012

Dois poemas para Antonio Candido e 3 outros poemas


Dois poemas para Antonio Candido
E três outros poemas
ARMANDO FREITAS FILHO
Vidas secas
Romance em rosácea
desde que rosa sumária
de pétalas contadas, de
páginas onde se conta
o essencial sem floreios.
O tempo curto da vida
em dias decalcados, acres
na ida e na vinda circu-
lares, no mesmo lugar:
andar de dentro para
fora, ou vice-versa - fuga
debaixo do mesmo céu
em cima da terra parada
via sentenças-sinas, retas
escritas por partes - arte.
Bryaxis,11
A discreta datilografia noturna
aclara ainda mais o papel branco
que a recebe: retira do escuro
do pensamento por meio das teclas pretas
as linhas do texto cerrado do raciocínio.
Datiloscrito em tinta negra iluminando
melhor do que a lâmpada da mesa acesa
a textura da literatura inteira
que aparece escorreita na folha que sai
do ânimo, que azeitou a máquina.
Primeira impressão
O poema novo é dos insurgentes.
Surde, subterrâneo
e somente eles o escutam.
Não parece poema, parece
que todos podem escrevê-lo
mas não o escrevem
nem o escreverão nunca.
Não tem cabeça e pé
princípio ou fim definidos
mas não são sem pé nem cabeça.
Tem peito, plexo solar, e dois
dedos de prosa quebrados.
Só vai ser poesia, depois.
Quando muitos o terão lido
relido e estabelecido.
Escrito
A mão passa espremida
por entre as grades
[a sensação é essa]
e apanha a caneta
do outro lado, e escreve
assim, constrangida
sobretudo, sobre o mundo
de dentro, de fora, mas
sempre sobra, falta alguma coisa
quando já se largou
a caneta para a mão sair
do aperto, e quando se tenta
apanhá-la de novo para
o acréscimo, corte, reparo
ela rolou, longe do meu alcance.
Documento
para Leonardo Martinelli em memória
"A máquina do mundo cão"
título do poema crispado
que você escreveu e me dedicou
enviando-o numa terça-feira
5 de maio de 2007
às 15 horas e 47 minutos
e que eu agradeci, às 16 e
16 e 59 segundos, cravados
no mesmo dia de outono1
foi escrito durante 6 meses
com centenas de versos.
Em silêncio, solidão e segredo você
o foi aparando, até chegar às 4 estrofes
"de oito eneassílabos cada".
Eu não sabia o quanto essa máquina
o arranhou, o tanto que o mundo também
nem que o cão lhe mordeu tão fundo.
E ela ainda está inédita e parada
em 23 de janeiro de 2012, às 14 e 15
deste dia de verão aberto e furioso.

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