domingo, 2 de dezembro de 2012

Salvador enfrenta decadência e abandono

Folha de São Paulo
Cada vez mais violenta, engarrafada e suja, capital baiana vive declínio
Moradores e turistas reclamam de praias sombreadas e avanço de construções na orla e em áreas de mata
NELSON BARROS NETODE SALVADORPrimeira capital e terceira maior cidade do Brasil, Salvador vive hoje uma disputa entre passado e presente.
Nessa competição, o lugar de cultura e natureza exuberantes, referência nacional de alegria, perde cada vez mais terreno para uma cidade engarrafada, suja e violenta.
Problemas afloram dos bairros de alto padrão à periferia da cidade.
Em dez pontos turísticos visitados pela reportagem, a reclamação das pessoas era constante.
Os diagnósticos ecoavam a análise do antropólogo Roberto Albergaria: a terra romanceada por Jorge Amado e cantada por Dorival Caymmi "está morrendo".
O escritor Antônio Risério também lamenta o novo pessimismo soteropolitano.
"Essa postura é recente. Por muito tempo, Salvador ocupou lugar e função de mito no imaginário nacional. As pessoas celebravam isso em termos bem narcisistas. Tinha história, beleza urbana e natural", diz Risério.
O prefeito João Henrique (PP) tem a maior rejeição entre os gestores das capitais (75%), conforme pesquisa Ibope de outubro.
Ele reconhece as mazelas, mas diz que pesquisas são "induzidas" e que é "cultural" culpar o prefeito.
"Pegue grandes expoentes da administração e bote aqui. Quero ver um Beto Richa, um Aécio Neves gerir uma cidade com a penúltima receita per capita das 26 capitais."
Os soteropolitanos e os turistas reclamam: praias estão cada vez mais sombreadas por causa de prédios.
Junto com a especulação imobiliária e problemas no trânsito, o número de homicídios supera o de São Paulo.
No Pelourinho, adolescentes são flagrados fumando crack à luz do dia, entre casarões em risco de desabar.



Visitantes fogem para as praias do litoral norte
Procura cresce por Praia do Forte e Sauipe
DE SALVADOR
Os problemas de Salvador têm provocado migração de turistas para outros destinos no próprio Estado. Quem afirma é o presidente da seção baiana da Abih (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), José Manoel Garrido.
Ao tempo em que 40% dos 35 mil leitos da capital estavam desocupados em agosto, com queda da taxa de permanência de 3,4 para 2,5 dias em comparação a 2011, cresceu a demanda por destinos no litoral norte, como Praia do Forte e Costa do Sauipe, e pelas regiões de Morro de São Paulo, da Chapada Diamantina e de Porto Seguro.
Hoje, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), a Bahia lidera o ranking doméstico e internacional do Nordeste, recebendo mais turistas do que Ceará e Pernambuco juntos.
E também atrai mais visitantes estrangeiros do que todos os outros Estados nordestinos somados -o fluxo soma 11,6% do total do país.
No geral, foram 11 milhões de turistas no ano passado, contra 9 milhões em 2009. Eles injetaram mais de R$ 5 bilhões na economia local.
Apesar disso, praias da costa sul baiana como Ilhéus e Itacaré passaram a sofrer com a crise enfrentada pelo sistema ferryboat que liga Salvador à ilha de Itaparica.
As embarcações do "ferry" são usadas por moradores e turistas que viajam da capital para essas localidades.
De balsa, o percurso é de uma hora. Já de carro, contornando a baía de Todos os Santos, pode chegar a três.
No final de setembro, o governo estadual rompeu o contrato que iria até 2031 com a concessionária responsável pelo travessia, a TWB.
Apesar da intervenção, mas ainda sem melhorar o cenário, o próprio governo tem pedido para as pessoas evitarem o ferryboat. Mesmo assim, as filas se multiplicam, sobretudo nos feriados.
"Agradecemos à população por utilizar a estrada. Ao mesmo tempo, ficamos tristes porque não estamos prestando um serviço de qualidade", afirma Eduardo Pessôa, diretor-executivo da agência de regulação dos transportes públicos da Bahia.

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