domingo, 2 de dezembro de 2012

O império de Barenboim


DIÁRIO DE BERLIM
o mapa da cultura
O império de Barenboim
Um maestro pela paz
ENQUANTO O Oriente Médio experimenta uma trégua entre Israel e os extremistas do Hamas, o pianista e regente Daniel Barenboim continua sua incansável busca pela integração de judeus, árabes e palestinos. Ao completar 70 anos no mês passado, ele anunciou a criação, em Berlim, de uma academia para a formação de jovens músicos daquela região.
Trata-se de mais uma empreitada de Barenboim, nomeado embaixador da paz pela ONU, premiado e condecorado pelos projetos musicais que toca em Israel, nos territórios palestinos e na Europa.
A revista "Spiegel" chama de "império Barenboim" seu conjunto de escolas, orquestras e fundações.
Nascido na Argentina, Barenboim adquiriu as cidadanias espanhola, israelense e palestina. É tido como o único israelense no mundo com a nacionalidade palestina.
Para a nova academia, o dirigente recebeu da Alemanha, sua pátria adotiva, 20 milhões de euros (R$ 54 milhões). Outros oito milhões podem vir de doações particulares.
A partir de 2015, cerca de 60 bolsistas terão ali aulas de música, história e filosofia. Depois de formados, devem integrar a Orquestra Divã Ocidental-Oriental, criada pelo maestro há mais de dez anos, com sede em Sevilha.
A imprensa alemã aclamou a iniciativa. Só algumas instituições de Berlim torceram o nariz, como os teatros, que penam com a falta de verba que impera na cidade.
Veja Daniel Barenboim regendo a Orquestra Divã Ocidental-Oriental embit.ly/dbarenboim.
SOCIEDADE FECHADA
Este é o título da primeira grande retrospectiva de fotografia da socialista Alemanha Oriental, que acontece até o final de janeiro na Berlinische Galerie. São cerca de 250 trabalhos de mais de 30 fotógrafos, produzidos entre 1949 e 1989.
A ideia dos curadores não era apenas trazer imagens do já conhecido cotidiano na Alemanha Oriental, mas destacar a fotografia como meio de expressão artística.
A primeira parte da exposição até se dedica à fotografia engajada e realista. Mas no material exposto sobressaem não só a crítica social como também o aspecto plástico. Ali estão, entre outros, os retratos femininos de Evelyn Richter, as famílias fotografadas por Christian Borchert e paisagens insólitas de uma Berlim desabitada, pelo fotógrafo e urbanista Ulrich Wüst.
Em seguida, veem-se as fotos mais subjetivas e experimentais, como a Berlim sombria de Peter Oehlmann e os retratos coloridos a mão de Florian Merkel.
Um filme traz depoimento de Arno Fischer (1927-2011), talvez o mais famoso do grupo, sobre a vida de fotógrafo na Alemanha Oriental. Proibidos de exporem, os artistas visitavam-se para trocar ideias e mostrar seus trabalhos.
A MEDIDA DO MUNDO
Foram contidos os elogios da crítica ao filme "A Medida do Mundo", que acaba de estrear na Alemanha. Baseado no livro de Daniel Kehlmann, o filme apresenta uma biografia romanceada de dois gênios do século 19: Alexander von Humboldt (1769-1859), pai da geografia empírica, e Carl Friedrich Gauss (1777-1855), um dos fundadores da estatística moderna e da geometria não euclidiana.
Dirigido pelo ator e cineasta Detlev Buck, o filme é bem humorado e traz uma bela fotografia. Mas não reproduz a linguagem requintada da obra de Kehlmann, apesar de o escritor também assinar o roteiro.
Um dos raros best-sellers saídos daqui, o livro vendeu mais de dois milhões de exemplares só em alemão. Foi traduzido para 40 línguas -inclusive o português, pela Companhia das Letras (2007).
FECHAMENTO
No final do mês passado foram anunciados o fim do jornal "Financial Times Deutschland" e a falência do tradicional "Frankfurter Rundschau" -dois órgãos importantes da imprensa séria do país.
Nos seus 13 anos de existência, o "FTD" nunca deu lucro. Com uma tiragem de 100 mil, fechará as portas ainda no começo deste mês.
Já o liberal de esquerda "FR", hoje com 118 mil exemplares diários, vinha mal das pernas mesmo antes de ingressar na era da internet. Algumas reformas até tentaram, em vão, recuperar a perda de assinantes e anunciantes. Como a de 2007, quando adotou o formato tabloide, pelo qual chegou a ser premiado. Agora, o jornal inicia uma campanha por novos investidores.
Ligado ao partido social-democrata SPD, o "FR" foi o segundo jornal criado na Alemanha depois da 2ª Guerra, em agosto de 1945. Lançou nomes importantes da crítica alemã, como Wolfram Schütte, e ousou em algumas edições, como a de 28 de agosto de 1999, inteiramente voltada aos 250 anos do nascimento de Goethe.

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