domingo, 2 de dezembro de 2012

Novo salmo 23 - AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA‏

Novo salmo 23 


AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA
Estado de Minas: 02/12/2012

Todo mundo sabe o salmo 23 de cor. Até porque a primeira coisa que São Pedro diz a quem quer entrar no céu é isto: “Meu filho, recite aí o salmo 23…”.

E se você teve, como eu, a chance de saber a Bíblia praticamente de cor, poderá dizer com o júbilo dos remidos:

“O senhor é o meu pastor

E nada me faltará

Deitar-me faz em verdes pastos

Guia-me mansamente a águas tranquilas

Refrigera a minha alma

Guia-me pelas veredas da justiça

Por amor ao seu nome

Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte

Não temeria mal algum

Porque tu estás comigo

O teu cajado e tua vara me consolam

Preparas uma mesa perante mim

Na presença dos meus inimigos

Unges meu cabelo com óleo

E meu cálice transborda

Certamente que a bondade e misericórdia

Me seguirão por todos os dias 

E eu habitarei a casa do Senhor por longos dias”

Estou pondo isso aqui de memória. Podem crer. Talvez haja uma ou outra pequena diferença no texto, de acordo com o tradutor da Bíblia. Mas, pelo que viram, minha entrada no reino dos céus é tranquila. 

Outro dia, esse salmo me veio à mente e me ocorreram duas coisas sobre ele. A primeira é que todas as imagens do texto correspondem à vida agrária e pastoril do antigos judeus: ali se fala de pastor, dos pastos verdes, daquele cajado que o pastor usava para conduzir o rebanho e há também algumas referências mais específicas. Por exemplo, aquele “vale da sombra da morte”, dizem os exegetas, não é uma simples imagem, mas seria um vale terrível que se tinha que atravessar. E aquela menção ao óleo que unge a cabeça vem de um ritual de abençoar o eleito.

Mas não foi só isso o que me ocorreu. E sim um contraponto com o mundo moderno. David, que era rei, experimentou, quando apascentava seus carneiros, aquela vida pastoril e agrária. Era natural que sua poesia retratasse esse cenário. Mas a pergunta que não pode calar é: como ele faria esse salmo hoje?

Procurei em vão, por minha biblioteca, a Bíblia em “Nova tradução na linguagem de hoje”, que reduziu o vocabulário de 8,38 mil palavras para 4,39 mil. Queria ver como está lá o salmo 23. Como não a achei, fiquei matutando: como será que, em tempos de globalização e internet, o nosso harpista e rei David recitaria seu poema? Claro que ele trocaria a harpa por uma guitarra. Mas acho que iria mais longe e talvez dissesse:
    
O computador é meu pastor e nada me faltará

Ele está comigo no escritório, nos verdes pastos ou no banheiro

E o levo aos restaurantes e estações de águas

Ele me tranquiliza e angustia

Me incrimina junto à Justiça e pacifica os amigos do Facebook

Com ele nem penso na morte

E não temerei mal algum

Porque a internet, o Google e o iPad

Me consolam

Conectado na rede, nem me dou conta dos inimigos

Não preciso comer nem beber

Sou um ungido, uma celebridade eletrônica

E curtindo a pós-modernidade, 

Habitarei as redes sociais por longos dias.

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