sábado, 23 de março de 2013

Casa Daros estreia com exposição de obras colombianas

folha de são paulo

Espaço no Rio foi criado para exibir acervo privado europeu com 1.200 obras de artistas da América Latina
Prevista para ser inaugurada em 2008, casa é aberta com 70% da reforma pronta e custo de R$ 67 milhões
FABIO CYPRIANOENVIADO ESPECIAL AO RIO
Com a exposição "Cantos Cuentos Colombianos", é inaugurada hoje, no Rio, a Casa Daros, espaço criado para exibir as 1.200 obras da Coleção Daros Latinamerica, considerado um dos mais importantes acervos privados da Europa, com sede na Suíça.
A Casa Daros ocupa um edifício neoclássico com 11 mil metros quadrados em Botafogo, adquirido em 2006 por R$ 16 milhões.
Com inauguração prevista para 2008, o espaço está sendo aberto com 70% da reforma concluída a um custo de R$ 67 milhões. "A Casa demanda mais tempo que nossa ansiedade", diz sua diretora, Isabella Nunes.
A exposição de abertura ocupa 2 mil metros quadrados, mas outras áreas do espaço também são usadas.
Há, ainda, duas mostras: "Para (Saber) Escutar", organizada pelo cubano Eugenio Valdés Figueroa, diretor de Arte e Educação da instituição, e outra com depoimentos dos artistas de "Cantos". Com isso, a área expositiva é quase duplicada.
O início a reforma da Casa Daros foi conduzida pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e, desde 2008, pelo escritório Ernani Freire.
Com sua inauguração, amplia-se a reconfiguração de espaços para as artes visuais no Rio, que viu abrirem as portas recentemente o Museu de Arte do Rio (MAR) e aguarda a abertura de outras três instituições: o Museu do Amanhã, o da Moda e o novo Museu da Imagem e do Som.
Em 2006, quando foi anunciada a criação da Casa, nenhum desses espaços estava previsto e a Daros surgia numa cidade carente de espaços.
"Quanto mais, melhor", celebra o curador alemão Hans-Michael Herzog, o diretor artístico da casa.
Foi Herzog quem, em 2000, junto com o então casal Ruth e Stephan Schmidheiny, criou, na Suíça, a Coleção Daros Latinamerica. "Naquela época, os curadores europeus não se interessavam pela América Latina", diz Herzog, esquecendo-se que algumas instituições europeias, como o centro cultural holandês Witte de With e a espanhola Fundação Tapiés, já haviam feito mostras antológicas de Hélio Oiticica e Lygia Clark.
Em 2003, a Daros, "um nome que não significa nada", segundo Herzog, criou uma sala em Zurique, na Suíça, para exibir a coleção, mas ela foi fechada há dois anos porque a abertura da filial brasileira se tornou prioridade.
Stephan Schmidheiny, uma figura controversa, deixou a organização em 2004. Herdeiro da Eternit, ele foi crítico do uso do amianto antes que a substância cancerígena fosse proibida, mas teve sua prisão decretada em primeira instância, na Itália, em 2012, justamente por causa de danos motivados pelo amianto. Ele apelou da decisão e está em liberdade.
Sua ex-mulher, Ruth, é quem banca tanto a coleção como a Casa Daros. "Temos dinheiro para manter a Casa Daros pelos próximos dez anos", diz Nunes.
Graças ao mecenato suíço, a Casa Daros não utiliza verba de lei de incentivo. O local não divulga seu orçamento nem sua expectativa de público: "Uma proposta sem fins lucrativos como a nossa não pode se basear em metas dessa tipo", afirma Nunes.
Com nove artistas colombianos, "Cantos" já foi vista na Suíça em 2004. Entre as obras, "Musa Paradisíaca", de Jose Alejandro Restrepo, com quase duas dúzias de cachos de bananas que vão amadurecer, aponta o risco de uma coleção dedicada a um território específico: reforçar o estereótipo e manter a arte latino-americana alijada do contexto global.

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