segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O Rede e o bom rei - Janine Renato Ribeiro

VALOR ECONÔMICO - 07/10/2013

No julgamento do Rede, estiveram em jogo ética e lei. Isso me lembra a distinção antiga entre boas leis e bons reis


A questão crucial desta semana foi: deveria o Rede Sustentabilidade ser autorizado a funcionar como partido? O problema é que ele não conseguiu validar as 492 mil assinaturas de eleitores exigidas em lei. O problema adicional é que dois partidos de quem ninguém ouviu falar até um mês atrás, Pros e Solidariedade, conseguiram esse número de apoios. Um terceiro problema é que o Rede tem por líder uma política notável, que obteve 20 milhões de votos nas últimas eleições presidenciais, enquanto o Pros, por exemplo, foi montado por um vereador de cidade pequena: como um pequeno partido, de nome que simboliza o governismo ("pró"), se habilita para as eleições, enquanto fica fora uma força liderada por gente do mais alto quilate ético? Vejo aqui uma nova versão do embate entre a letra fria da lei e o espírito da ética.

Isso recorda uma questão que aparece na filosofia desde Aristóteles: é melhor ser governado por boas leis ou por bons reis? Há argumentos para as duas posições. Boas leis são necessárias. Mas bastam? Para aplicá-las não é preciso o critério de bons líderes, capazes de modulá-las? Mas, se o pêndulo favorecer o bom rei, não cairemos num regime arbitrário, em que o governante fará o que quiser? Ainda mais, e esta resposta me parece decisiva, onde está o Bem? Quem garante que esteja deste lado, e não do outro? Porque, se soubermos onde está o Bem, não precisaremos de leis, de instituições, de eleições.

Estamos divididos, como alertava o filósofo grego, entre as instituições e nossas visões do Bem. Esta divisão não é privilégio nosso. Os Estados Unidos são o caso modelar. Constituem o exemplo supremo de país, na modernidade, em que a democracia coexiste com práticas desumanas, a começar pela escravidão. Na América Latina, a escravatura fazia parte do despotismo. Quando acaba o regime despótico, acaba a propriedade do homem pelo homem. Já nos Estados Unidos, a escravidão e depois a segregação racial couberam em regimes democráticos. São hoje a único democracia a aplicar, com frequência, a pena de morte. Chegaram a empossar, em 2000, um presidente derrotado nas eleições. Mas isso convive com instituições democráticas, e quando estas falham redondamente - mantendo a escravatura, o linchamento, a segregação, a pena de morte, a fraude eleitoral - o resultado é acatado, porque se crê nas regras do jogo. E se acredita que, com essas regras, as coisas possam melhorar. E com o tempo melhoram. Daí que as instituições pesem tanto naquele país e, embora falhem muitas vezes, seus cidadãos possam, o que nos surpreende e até nos faz rir, também acreditar que encarnam o bem, que representam o Bem na Terra.

Os moinhos moem devagar mas de forma sustentável


O que deu certo nos Estados Unidos foi a aposta na via institucional, mesmo com quebras dela - como a Guerra de Secessão ou, nos anos 60, a quase guerra civil que incendiou os bairros de negros. Quase guerra civil porque o presidente Lyndon Johnson conseguiu aprovar uma legislação de direitos humanos pacificando a relação entre as etnias e fazendo seu país, mais atrasado na época que o Brasil no respeito ao negro, se tornar em poucas décadas uma referência para nós. A mesma via das instituições funcionou no Reino Unido. Já em outra grande democracia, a França, a ruptura prevaleceu mais vezes. Aqui, cabe a questão: queremos o cumprimento das leis, mesmo que inviabilize a curto prazo o Rede, ou - porque Marina é representativa e seria absurdo não poder disputar, em 2014, a Presidência - preferiríamos soluções extraordinárias?

Confesso, com toda a simpatia que tenho pelo Rede, preferir a via das instituições. Comete erros mas, com o tempo, eles são sanados. Não nego que seja preciso pressionar as instituições. Até entendo pressões, como algumas ações dos manifestantes de maio e junho, que ficam perto da ilegalidade. Não as justifico eticamente, mas compreendo sociologicamente. Contudo, aprovar um partido porque é do Bem me parece abrir a via para todo tipo de arbitrariedade. Estamos perto de uma das piores formas de tirania, que é a tirania do Bem, melhor dizendo, a tirania exercida em nome do Bem (porque, o Bem, onde ele estará? quem tem acesso a ele, quem fala em seu nome?). Foi esse um dos vícios originais do comunismo. É esse o risco, hoje, de quem invoca o Bem na política (não, não me refiro a Marina nem ao Rede).

Na era clássica, que é como chamamos os séculos 17 e 18, era comum distinguir a ação ordinária e extraordinária do rei. Seu poder ordinário estava na aplicação das leis, a exemplo de Deus quando rege o mundo por suas leis usuais, como a água fervendo a cem graus ou o sol nascendo todo dia. Mas, assim como o Criador eventualmente recorria ao milagre, parando o sol diante de Josué, também o rei agia extraordinariamente. Isso, para eles, era mais ou menos normal - nem tão normal assim, porque a Revolução Inglesa de 1640 se deu contra o "milagre" que Carlos I pretendia praticar, suspendendo a Constituição.

Estaremos hoje - quando alguns cogitam deixar em segundo plano a rota das leis, das instituições, em favor do espírito da lei, do Bem - de novo querendo milagres que nos salvem de um cotidiano tido por insuportável? Mas os protestantes diziam que a era dos milagres tinha passado. Talvez a fé católica em milagres e a descrença protestante neles explique por que estes últimos foram mais capazes de construir as primeiras grandes sociedades democráticas. Milagres são lindos, mas a sociedade não é feita deles. Da religião, prefiro a passagem sobre os moinhos de Deus que moem lentamente, mas muito fino. Só isso é sustentável. Só isso educa.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.
E-mail: rjanine@usp.br



Tv Paga

Estado de Minas: 07/10/2013 


 (Sony/Divulgação )


Michael Sheen e Lizzy Caplan (foto) estrelam a série de comédia dramática Masters of sex, que estreia hoje, às 21h, na HBO. Serão 12 episódios, narrando a trajetória de William Masters e Virginia Johnson, uma dupla de médicos pioneiros na pesquisa científica sobre a sexualidade humana na década de 1950, nos Estados Unidos. A mesma HBO estreia às 22h o documentário Pussy Riot – Um protesto punk, sobre três jovens artistas de um movimento de feministas na Rússia, acusadas de provocação religiosa e política em um julgamento que ganhou repercussão mundial.

Discovery Kids estreia
nova série de animação


Antecipando o Dia das Crianças, o Discovery Kids estreia hoje a série Lalaloopsy. Na atração, os pequenos conhecerão as “lalas”, um grupo encantador de amiguinhas que protagonizam a nova série animada, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 20h. Inspirado nas populares bonequinhas de pano homônimas, cada uma das oito lalas tem uma personalidade única, uma casa e um animal de estimação que representa o seu temperamento.

Está de volta o Prêmio
Multishow de Humor


Novidades também no Multishow, começando a estreia da nova temporada de No caminho, às 22h, com Susanna Queiroz viajando ao Japão com seu filho Gabriel para mostrar a ele e aos assinantes a cultura e costumes daquele país, partindo de Tóquio até Kanagawa e Shizuoka. Já às 22h30 é a vez do Prêmio Multishow de Humor, e o vencedor vai estrelar um especial no canal e receber ainda R$ 25 mil. Além dos jurados Sérgio Mallandro, Fernando Caruso, Natalia Klein e Miá Mello, os comediantes Fabio Porchat, Marcus Majella, Dani Valente, Samantha Schmütz, Cacau Protásio, Smigol e Ary Toledo vão ajudar a avaliar os concorrentes.

Documentário denuncia
descaso do poder público


Dirigido pela estreante em longas-metragens Joana Oliveira, o documentário Morada é a atração de hoje da sessão É tudo verdade, às 22h, no Canal Brasil. No filme, Joana Oliveira narra o drama da avó dona Virgínia, que aguarda há mais de 50 anos a desapropriação de sua casa, em Belo Horizonte. Na residência onde vive com a filha e o genro, a velha senhora recebe a neta e apresenta detalhes do cotidiano em meio à esperada ampliação da grande avenida onde mora e a consequente demolição dos imóveis do local. Uma angústia que vem desde 1953, quando o então prefeito da cidade, Américo René Giannetti, publicou a portaria de desapropriação. Enquanto a demolição não chega, o sobrado vira um misto de museu e depósito de quinquilharias.

Muitas alternativas na
programação de filmes


No pacotão de filmes, o Telecine Premium estreia, às 22h, o drama A família Flynn, com Paul Dano, Robert De Niro e Julianne Moore. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito boas opções: Jogos vorazes, na HBO 2; Sobrenatural, na HBO HD; Diaz: don't clean up this blood, no Telecine Cult; Xingu, no Telecine Action; O sorriso da Mona Lisa, no Sony Spin; Partir, no Glitz; Dália negra, no ID; e Minority report – A nova lei, na MGM. Outras atrações da programação: O amor não tira férias, às 19h55, no Megapix; Escola de rock, às 20h, no Universal Channel; Dupla implacável, às 21h, no Cinemax; e Tratamento de choque, às 23h, no Comedy Central.

Luna Lunera completa 12 anos com balanço positivo.‏

Luna Lunera completa 12 anos com balanço positivo. Para celebrar, faz apresentação de abertura do CCBB com o espetáculo Prazer. Temporada vai de sexta a 22 de dezembro


Carolina Braga

Estado de Minas: 07/10/2013 



Depois de 90 apresentações de Prazer em São Paulo, Rio, Curitiba e Brasília, Luna Lunera estreia na terra natal     (Edésio Ferreira/EM/D.A Press)
Depois de 90 apresentações de Prazer em São Paulo, Rio, Curitiba e Brasília, Luna Lunera estreia na terra natal


Diz o diretor, autor, pesquisador e referência no mundo teatral Eugênio Barba que cada ano de um grupo de teatro equivale a três, tamanha a intensidade da experiência. Se for assim, lá se vão 36 anos desde que a Companhia Luna Lunera se formou numa sala de aula do Palácio das Artes. “Seria uma idade que ainda tem a energia do jovem, sem a inocência dos 20. Já tem uma maturidade, mas ainda não é o sênior. Acho que estamos aí”, embarca na brincadeira a atriz Isabela Paes.

Na sexta-feira, ela, Cláudio Dias, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves e Zé Walter Albinati se preparam para um feito digno de “gente grande”: inaugurar o teatro do Centro Cultural Banco do Brasil de Belo Horizonte. Será a esperada estreia de Prazer, o novo espetáculo, na terra natal do grupo. E, olha, foi uma novela chegar até aqui.

Contemplado em um dos editais do banco, o pré-requisito era estrear neste mesmo palco, porém em 2012. O problema é que o espaço não ficou pronto, daí, pela primeira vez, o Luna Lunera começou a trajetória de uma montagem em terra “estrangeira”. Esteve em São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília. “É como se as outras cidades tivessem apadrinhado a nossa vinda”, comenta Zé Walter. “Estou com uma expectativa enorme. Para mim, é uma sensação de que a peça estreia agora. É muito esquisito porque já temos quase 90 apresentações”, diz Odilon Esteves.

Inquietações

Outra raridade que marca a chegada de Prazer a BH é que será uma temporada de 11 semanas, até 22 de dezembro. Feito, até então, possível só para quem é dono do próprio espaço. “É surreal poder fazer uma temporada assim. Nutre-me saber que é um desafio grande manter a peça em cartaz tanto tempo aqui”, completa Odilon. Isso é bom por vários motivos. Não só porque a peça se adapta melhor ao local, como também dá tempo de o boca a boca rolar. O que vale muito a pena nesse caso.

Sejam os 12 anos reais de convivência ou os 36 à la Barba, ambos os marcos são idades de transição. Da infância para a adolescência ou da juventude para a vida adulta. O que de fato tem muito a ver com a companhia. Inspirada em fragmentos da obra de Clarice Lispector, especialmente no livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres, ao contar a história de quatro amigos que se encontram no exterior, a peça é também reflexão sobre o crescer.

“Tem uma coisa cíclica nos períodos de amadurecimento da gente. Em alguns momentos sinto que somos muito maduros, corajosos, audazes. Em outros ficamos fragilizados com nós mesmos e passa alguma coisa de imaturo, ainda inconsistente. Ficamos atentos e eventualmente brincamos com essas zonas”, diz Zé Walter. Não é exagero entender Prazer como uma dessas brincadeiras.

No texto indicado ao Prêmio Shell 2013, os atores/criadores expõem de maneira muito honesta inquietações sobre a vida. Conviver, envelhecer, ganhar, perder são questões que surgem ao longo do espetáculo. Como Isabela Paes pontua, em Prazer o grupo banca as escolhas que faz. “A gente consegue se posicionar e entender o que quer”, concorda Odilon.

História de sucesso

Os atores da companhia Luna Lunera se conheceram no curso profissionalizante do Palácio das Artes. Daquela formação, além dos cinco integrantes de Prazer, Cláudia Corrêa e Fernanda Kahal fazem parte da companhia. Logo na montagem de formatura, Perdoa-me por me traíres, com direção de Kalluh Araújo, conquistaram público e crítica. Para Odilon Esteves, aprender a lidar com o sucesso foi a última lição da escola.

“O espetáculo foi bem recebido, viajou muito, teve reconhecimento. Mas quando vem o próximo é preciso recomeçar tudo. Do zero de novo. Não tem esse peso. Nenhuma construção anterior é garantia de nada posteriormente”, ressalta o ator. Prazer é o segundo espetáculo criado pelo grupo depois de Aqueles dois (2007), o grande divisor de águas.

Com ele, o Luna Lunera foi indicado – e ganhou – a prêmios, passou por mais de 40 cidades de 14 estados e, inclusive, viajou para o México. “À medida que vamos consolidando nossa história, isso nos dá força para sempre criar novos projetos, e que continue nessa roda-viva”, diz Marcelo Souza e Silva. A experiência também autoriza a lidar com mais leveza com certos cânones das artes cênicas.

O Luna Lunera nasceu como um grupo ligado à pesquisa teatral. Nunca se afastou dela e nem por isso suas criações se tornaram herméticas. Pelo contrário. Prazer, que teve parte de seu processo desenvolvido na Dinamarca em parceria com Roberta Carreri, do Odin Teatret, destoa do padrão mineiro. É experimental sim, mas se comunica com muita gente. Há técnica sim, mas ela não é a senhora da montagem.

“É muito a demanda do trabalho. Se a gente for pensar nos nossos espetáculos, em alguns observamos a técnica de forma mais clara. Em outros, está tão a serviço do trabalho que é quase imperceptível”, comenta Marcelo. “Para o pessoal do Odin a técnica é um meio. Eles não acreditam no mito da técnica. Eu também acho”, posiciona-se Isabela, que inclusive escreveu tese de doutorado sobre o Odin.

Segundo ela, em um tempo em que há uma geração que ignora a técnica em defesa do vale-tudo, a proposta do Luna Lunera é encontrar um meio-termo. “O que é a sua profissão se você não exercita sair de onde está para chegar a um lugar diferente? A técnica lhe permite sair do lugar, avançar, ver de outra forma. É um instrumento não só para chegar a um espetáculo, mas para desenvolver o trabalho do artista”, frisa a atriz. Taí Prazer para mostrar que o discurso vai além da teoria e distante da vaidade.

saiba mais

Apostas do CCBB


Construído para receber tanto espetáculos de artes cênicas como de música, o teatro do CCBB de Belo Horizonte tem 266 lugares, divididos nos 17 patamares da plateia. De acordo com o gerente de programação do local, Wander Araújo, a ideia é ter atrações todos os dias, exceto nas terças, quando o centro cultural fica fechado ao público. Assim como já ocorre nos outros espaços mantidos pelo Banco do Brasil, a ocupação se dará prioritariamente por meio de edital. Isso, no entanto, não exclui possibilidades de janelas específicas para a programação da cidade. De acordo com Wander Araújo, entre janeiro e março, por exemplo, algumas datas já estão reservadas para atrações da Campanha de Popularização de Teatro e também para o Verão Arte Contemporânea, ambos exclusivos de BH. Ainda este ano, o CCBB organiza série musical em homenagem a Ernesto Nazareth. “Nossa proposta é ocupar as quartas e quintas-feiras. Para 2014, vamos entrar no programa de itinerância dos outros espaços, seguindo a lógica dos editais”, adianta Wander.

Prazer
Espetáculo da Luna Lunera em cartaz do dia 11 a 22 de dezembro. Sextas, às 20h; sábados e domingos, às 19h. CCBB Belo Horizonte, Praça da Liberdade, 450, Funcionários, (31) 3431-9400. Ingressos: R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia).

O Luna Lunera faz parte do Concurso Expedição Cultural Estado de Minas.Acesse www.expedicaocultural.com.br, conheça os 20 grupos selecionados e vote no seu favorito. Crie uma frase ou texto que estimule as pessoas a irem ao teatro e participe do concurso. Você pode ganhar uma viagem com acompanhante para uma capital brasileira, com roteiro cultural personalizado. 

Síndromes detectadas sem agulha‏

Exame oferecido no Brasil, baseado na análise sanguínea da gestante, é alternativa para mulheres grávidas que querem investigar possíveis doenças genéticas no feto


Paula Takahashi


Estado de Minas: 07/10/2013 


Suspeitar que o filho é portador de alguma doença genética é uma grande apreensão. Submeter-se ao teste que comprova a anomalia pode intensificar ainda mais esse sentimento. A amniocentese do útero é o teste mais corriqueiro na identificação de síndromes cromossômicas, como a de Down. Nele, uma agulha comprida é inserida na barriga da mãe até chegar à placenta para coleta de amostra do líquido amniótico. Invasivo, o teste pode, mesmo que em raras ocasiões, causar um aborto espontâneo. Para trazer mais segurança à mãe e excluir a agulha do processo, laboratórios brasileiros já oferecem uma alternativa baseada apenas na análise sanguínea, valendo-se dos avanços da ciência e da tecnologia para facilitar os diagnósticos.

Há três meses, a Reprogenetics Brasil oferece o teste Verifi, que pode ser realizado a partir da décima semana de gestação. O médico urologista e sócioproprietário da empresa, Rodrigo Pagani, explica que a simples coleta do sangue da mãe é suficiente para avaliação do material genético do bebê. “Nessa fase da gravidez já há células do feto circulando na corrente sanguínea da gestante. Identificadas essas células, fazemos seu isolamento e examinamos para verificar se há alguma alteração nos cromossomos 13, 18 e 21”, explica. Entre as várias características que permitem a distinção entre as células do neném e as da mãe está o tamanho dos cromossomos, maior no caso da gestante, o que permite a separação.

Trissomia no cromossomo 21 diagnostica síndrome de Down, enquanto no 13 é a síndrome de Edwards e no 18 a de Patau. Ainda são avaliados os cromossomos X e Y. Em situação normal, a menina é identificada como XX e o menino como XY. Mas há possibilidade de uma mutação em que o bebê nascerá apenas com um cromossomo X, o que caracteriza a síndrome de Turner. “Pode ocorrer também de ser XXY. Nesse caso, o menino nasce com a síndrome de Klinefelter”, explica Pagani. Para finalizar, nessa etapa ainda poderá ser identificado o sexo da criança.

A eficácia do Verifi é de 99,3%, segundo Pagani, por isso não elimina por completo a necessidade de realizar a amniocentese. “Se ocorrer qualquer suspeita de deformidade durante o ultrassom, há 80% de chance de se confirmar que a criança tem o problema. Para se certificar ainda mais pode ser indicada a realização do Verifi”, explica o médico. Se o teste sanguíneo der positivo, não há mais dúvidas, a criança terá uma das síndromes enumeradas. “Somente no caso de o resultado ser negativo surge a necessidade de realizar a amniocentese. Mas isso ocorre em menos de 1% das vezes”, acrescenta Pagani.


LIMITAÇÃO O obstetra e diretor científico da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Frederico Peret, afirma que, além de confiável – por ter um baixo índice de falso positivo –, o teste Verifi é certificado internacionalmente. “Mas é preciso lembrar que há uma limitação. Ele é indicado para as síndromes de Down, Edwards e Patau. O fato de o resultado ser negativo não impede que a criança tenha outros problemas”, alerta Peret.
Para os pais que querem buscar uma gama maior de alterações genéticas, a amniocentese ainda é a opção mais recomendada. “Há possibilidades maiores com esse exame, já que, além de uma análise de DNA, ainda é realizado um mapeamento cromossômico completo da criança”, explica o obstetra. Nesse caso, ainda podem ser identificadas outras anomalias, como doenças metabólicas congênitas graves e traços de anemia falciforme, por exemplo. “O teste com a coleta de sangue da mãe pode ser muito bem aplicado para substituir o teste invasivo nas situações mencionadas”, pondera Peret. Também é indicado apenas para mulheres que estão esperando um bebê.
O preço ainda é proibitivo para a maioria das mulheres: cerca de
R$ 3,5 mil e realizado por vários laboratórios, podendo ter nomes distintos. É indicado para mulheres com mais de 35 anos, que tenham ocorrência de anormalidade genética na família ou no caso de ser identificado acúmulo excessivo de líquido na região da nuca do feto durante o exame de translucência nucal.

Cada vez mais detalhados


Para reduzir ao máximo a possibilidade de o feto ter algum problema de saúde, há testes para cruzamento dos materiais genéticos dos pais. Um deles, o Recombine, permite a identificação de 180 doenças que podem ser desenvolvidas a partir da combinação dos dois DNAs no momento da concepção. “São doenças recessivas como fibrose cística, anemia falciforme, distrofias musculares e talacemia”, enumera o médico urologista e sócioproprietário da Reprogenetics Brasil, Rodrigo Pagani. Diante do resultado, o casal pode optar pela inseminação in vitro, na qual será possível selecionar os embriões saudáveis que serão implantados no útero. Não é preciso ter casos na família para recorrer ao teste. “As doenças recessivas têm característica de demorar várias gerações para voltar a aparecer. O fato de não ter casos próximos em parentes não exclui a possibilidade de sua ocorrência”,
alerta Pagani.