quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Uma Pedra no Sapato - Newton Sobral

A Tarde /BA
21/11/2012

Um Abraço Negro - Mãe Stella

A Tarde  - 21/11/2012

Maria Stella Azevedo Santos
Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá


Não se faz boa farofa sem usar boa farinha


Não se faz boa farofa sem usar boa farinha
Farinha de baixa qualidade perde no sabor e na capacidade de dar liga
Segredo para um resultado crocante também está no preparo sem excesso de líquido e de gordura
DE SÃO PAULOÉ consenso entre chefs e especialistas que a qualidade da farinha de mandioca é um dos fatores que mais influencia o sabor de uma farofa.
Mas as farinhas não são sempre "do mesmo saco", lembra Mara Salles, chef do Tordesilhas, em São Paulo. Para ela, encontrar um
produto de boa qualidade em São Paulo, onde reinam farinhas industrializadas, não é das tarefas mais simples.
"O 'filé-mignon' da farinha de mandioca é a goma, ou o polvilho. E a grande indústria retira esse componente em excesso da raiz [para usá-lo em outros produtos]. Depois, torra o que restou e vende uma farinha quase sem amido", explica Mara.
De acordo com os especialistas ouvidos, se processada dessa maneira, a farinha de mandioca -uma das mais usadas para fazer farofa- tem menos sabor e uma capacidade inferior de conferir consistência e liga a outras receitas, como o pirão e o mexido.
"Ainda não conheço uma boa farinha industrializada. Farinha tem gosto, não pode ser insossa e deve preencher a boca quando é provada", diz o chef Edinho Engel, dos restaurantes Amado, em Salvador, e Manacá, no litoral norte de São Paulo.
Na Bahia, ele vai atrás de farinhas de boa qualidade em mercados regionais, que se abastecem da produção de cidades como Nazaré e Santo Antônio de Jesus, reconhecidas por sua boa produção.
Para ele, melhor ainda quando é possível obter a "farinha quente", cuja torra aconteceu recentemente, há cerca de 20 dias -fator que rende uma sensação melhor na boca.
Farinhas -e farofas- são elementos de primeira ordem nos restaurantes da chef Tereza Paim: o Terreiro Bahia, que fica na Praia do Forte, e a Casa de Tereza, em Salvador. A cada mês ela produz ao menos 100 quilos de farofa, que são consumidos entre as duas casas e seu bufê.
"Alguns clientes comem [a farofa] com massas. Um dia, vi um despejando às colheradas no risoto de camarão com coco", diz. Em cada mesa, ao lado do sal e do azeite, ela dispõe farofas de alho e de dendê, sequinhas e crocantes.
Exceção à regra é a farofa de bolão ou d'água, de tradição local, que ali é umedecida com caldo de legumes até formar grumos do tamanho de bolinhas de gude. É acompanhamento para o vermelhinho, espécie de peixe.
A FAROFA PERFEITA
Quando sequinha e crocante, a farofa é acompanhamento ideal para pratos mais úmidos, como feijão, cozidos e assados substanciosos.
Em geral, ela é preparada com a adição de farinha a uma base aromática refogada (que pode ter variações infinitas e incluir ingredientes como cebola, alho e bacon). Para que o resultado seja soltinho, a base não deve ter excesso de líquido ou gordura.
Também é possível preparar farofa "torrando-a" lentamente em frigideira ou tacho -e mexendo com frequência para não queimar-, o que rende crocância extra.
É o que faz Tereza Paim, que, por no mínimo duas horas, apura sua farofa no fogo até conseguir a textura que considera ideal.
A farinha de milho, o cuscuz e até o pão ou castanhas podem ser usados para fazer receitas de farofa. Mas o preparo mais difundido é aquele feito com farinha de mandioca -seja ela a biju (mais flocada) ou d'agua (da mandioca fermentada em água).
ORIGEM
Não existe uma origem certeira para o aparecimento da farofa.
As receitas podem ter surgido simplesmente como uma "maneira de dar mais sabor à farinha de mandioca, um alimento altamente consumido no Brasil", afirma o chef Paulo Machado, professor do Senac e da rede de universidades Laureate.
Para a chef Mara Salles, "A farofa que está no nosso imaginário é portuguesa, inspirada em um hábito indígena", já que mistura farinha de mandioca a um refogado que remete à Portugal.
Na opinião da pesquisadora e escritora Ana Rita Suassuna, ela é um "prato de aproveitamento". "No sertão, há farofa de fundo de panela. Prepara-se uma carne. Aí, joga-se a farofa ali para utilizar o que restou".
(MM)
-
fácil
15 porções
15 min
FAROFA CROCANTE DE ALHO
INGREDIENTES
  • 1/2 kg de farinha beiju de mandioca
  • 1 xícara (chá) de azeite de oliva
  • 20 dentes de alho picados finamente
  • Sal a gosto
PREPARO
- Coloque a farinha beiju em um recipiente aberto (pode ser uma bacia, uma assadeira ou uma travessa, por exemplo)
- Em uma panela à parte, aqueça o azeite
- Doure bem o alho
- Quando ainda estiver frigindo, derrame essa mistura sobre a farinha
- Acrescente o sal
- Misture bem
- Pare de misturar quando a farofa estiver homogênea
- Sirva como acompanhamento de carne vermelha

    Mercado editorial vira "briga de cachorro grande" - Eduardo Simões


     | Para o Valor, de São Paulo

    Anunciado no fim do mês passado, o acordo de união entre a Penguin, do grupo britânico Pearson, com a Random House, do grupo alemão Bertelsmann, pode abrir caminho para demais empresas do chamado "Big Six" - as gigantes editoriais americanas Hachette, HarperCollins, Macmillan e Simon & Schuster - buscarem novas fusões, de olho especialmente em mercados potenciais como o brasileiro.
    Para Sônia Machado Jardim, presidente do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e vice-presidente do Grupo Record, o negócio, que ainda tem de ser aprovado por agências reguladoras, é uma clara estratégia para aumentar o poder de fogo com o varejo, em especial a Amazon e a iBookstore, que estão por iniciar suas operações no Brasil.
    "O varejo está faminto por descontos e melhores condições de negociação e o mercado estrangeiro está fraco, então o Brasil desperta cada vez mais a cobiça dos grupos estrangeiros que buscam aqui os resultados que já não têm lá fora", diz Sônia.
    O negócio bilionário, que deve criar o maior grupo editorial do mundo, com vendas estimadas em quase R$ 8 bilhões anuais, favorece a Companhia das Letras, editora que teve 45% de suas ações compradas pela Penguin no ano passado. Sônia lembra que o mercado editorial brasileiro está altamente competitivo, com disputas cada vez mais acirradas em leilões de direitos internacionais.
    "O Brasil está entrando no Primeiro Mundo no que diz respeito à negociação de direitos, com adiantamentos altíssimos. É briga de cachorro grande e, nesse cenário, quem for pequeno vai comer osso", afirma Sônia, para quem a fusão naturalmente dará acesso privilegiado à empresa de Luiz Schwarcz.
    O editor da Companhia das Letras, no entanto, acredita que ainda é um pouco cedo para falar sobre as consequências da fusão. "Os possíveis benefícios que poderão ocorrer, como uma relação mais intensa com as outras editoras do grupo, ainda não foram objeto de conversa entre nós, e só deverão ser no encontro que teremos no dia 10 de dezembro. A aproximação, de todo jeito, é boa. Sobretudo com a transferência do conhecimento que eles têm do mundo digital. A Penguin sempre esteve na vanguarda disso", afirma Schwarcz.
    No cenário atual, o Grupo Record é um dos candidatos naturais a eventuais fusões e aquisições envolvendo grupos estrangeiros. Segundo Sônia, a editora já sofreu "assédio" nos anos 1990 e 2000, pela posição de liderança no mercado, com apetitoso catálogo de grandes clássicos e vendas regulares para o governo.
    "Sempre declinamos, mas não podemos esquecer que, no mundo corporativo, tudo é vendável. Dependendo do parceiro, pode gerar sinergias e nos fortalecer internacionalmente, o que é importante num setor que vem se globalizando", diz ela.

    Para Carlo Carrenho, fundador do PublishNews, newsletter que é importante referência do mercado editorial no país, a lista de editoras cobiçáveis inclui ainda a Ediouro, a Sextante, a Intrínseca, a Rocco e a Novo Conceito. "A primeira coisa que os caras olham é a presença nas listas de mais vendidos, depois, se as empresas contam com uma boa distribuição. Mais cedo ou mais tarde vai cair a ficha e os outros grandes grupos também vão vir, seja para uma joint venture, ou sozinhas, como fizeram a Planeta e a Leya ", afirma Carrenho.
    Pascoal Soto, diretor-geral no Brasil do grupo português Leya e ex-diretor da Planeta Brasil, lembra que a experiência da internacionalização do mercado de livros no Brasil é tardia, se comparada com a Argentina, o México e até mesmo o Chile, mas inevitável. "Nós não vamos ter tempo para respirar. E quem vai sofrer mais são as editoras pequenas, que já têm grande dificuldade de negociar distribuição e espaço nas grandes cadeias do varejo", afirma Soto.
    Angel Bojadsen, da Estação Liberdade, editora de pequeno porte e perfil mais literário, como a Companhia das Letras, afirma que a fusão lá fora "mexe" com as empresas pequenas, sim. "Mas o que mexe mais ainda são as mudanças no atacado e principalmente no varejo, com uma profissionalização extremada, onde se quer lucro sobre cada produto, e não mais com alguns [livros] bons de vendas cobrindo os mais difíceis", afirma Bojadsen. "Aí fica difícil surgir um [James] Joyce, Guimarães Rosa ou [William] Faulkner. Não é questão de bancá-los, eles nem veem a luz do dia. Estamos vendo como fazer para ficarmos num mercado onde os pequenos não terão mais vez. Você tem que se dar os meios de ser um 'player' aceitável para as redes de livrarias, senão a marginalização é inevitável."
    Pascoal Soto, da Leya, acredita que a globalização do setor no país pode, no entanto, ser "promissora" para autores nacionais. "A Leya deixa claro que investe em ficção e não ficção brasileiras. Acredito que outros grupos estrangeiros com os pés aqui vão querer saber o que está acontecendo também, vão atrás dos melhores e mais prestigiosos escritores, e com armas de sedução fortes, como a chance de publicação nos EUA, no Reino Unido, na Alemanha. É incontornável."
    Já Carlo Carrenho, da PublishNews, não é tão otimista. "Para a bibliodiversidade, pode ser ruim. De um lado temos o exemplo da espanhola Santillana, que comprou 75% das ações da Objetiva, mas não transformou a brasileira em mero entreposto. Por outro lado, temos o caso da Planeta na Argentina, por exemplo. O que ocorre é um aumento da presença dos autores estrangeiros no país e, em honrosas exceções, o caminho inverso, sobretudo para a descoberta de novos escritores", avalia.
    Schwarcz, da Companhia das Letras, discorda. "O contato com a Penguin já gerou a venda de direitos de títulos de autores brasileiros da Companhia, como Daniel Galera e Carola Saavedra, para editoras do grupo, como a inglesa Hamilton e a americana Riverhead. Acho que haverá um incentivo nessa direção", afirma o editor.

    Pimenta na farofa - Marília Miragaia


    Pimenta na farofa
    Depois que o chef-celebridade David Chang experimentou farofa em São Paulo e achou a combinação muito seca, convidamos chefs, pesquisadores e internautas para dizer qual é a receita ideal
    Raul Spinassé/Folhapress
    Tereza Paim, chef dos restaurantes Casa de Tereza, em Salvador, e Terreiro Bahia, na Praia do Forte
    Tereza Paim, chef dos restaurantes Casa de Tereza, em Salvador, e Terreiro Bahia, na Praia do Forte

    MARÍLIA MIRAGAIADE SÃO PAULOHá duas semanas, o chef-celebridade David Chang não se conteve ao provar a farofa servida com seu bife, no Sujinho, em São Paulo.
    Por que vocês, brasileiros, comem algo "tão seco"?, indagou o dono de casas em Nova York e Toronto, conforme escreveu a colunista da Folha Alexandra Forbes.
    Depois de ouvir chefs e pesquisadores de gastronomia brasileira, e lançar uma enquete para a participação dos internautas, é possível concluir: na "receita" da farofa, não faltam divergências.
    Entre os que discordam de Chang, está Edinho Engel -chef do Amado, em Salvador, e do Manacá, no litoral norte de São Paulo.
    Para ele, a farofa deve ser sequinha e crocante. "É o nosso jeito de comer, está ligada à nossa origem".
    Além do mais, completa, se tiver água em excesso "torna-se um virado". Em contato com líquidos, a farinha pode fazer as vezes de espessante e dar origem, assim, a virados.
    Mara Salles, do Tordesilhas, é categórica em relação a essas combinações que umedecem demais a farinha. "Prefiro não chamar de farofa. São texturas diferentes."
    A farofa molhadinha feita no Natal, com frutas e castanhas, não escapa do rigor da chef. "São frutas empanadas", diz ela.
    É outra a opinião da chef Teresa Corção, do instituto Maniva, que promove a comida brasileira. A farofa, diz, cumpre papel de agregar sabor à farinha, não importa se resulta úmida ou crocante.
    Seja farofa, seja virado, a maioria dos internautas que participaram de enquete no site do "Comida" (folha.com.br/comida) preferem essa versão "úmida e com ingredientes variados" à seca.
    farofeiro
    Na noite seguinte à visita ao Sujinho (o dono do restaurante da rua da Consolação não quis comentar a opinião do chef), Chang foi ao D.O.M..
    Comeu uma queixada (porco-do-mato) com uma farofa muito crocante, com sabor pronunciado de pimenta-de-cheiro. Gostou.
    São muitas as opiniões sobre a farofa. Um consenso? A importância da farinha.

      Um pedaço de terra mequetrefe - Nina Horta


      NINA HORTA
      Um pedaço de terra mequetrefe
      Os sabiás são gordos, barrigudos. Não sabem o perigo que correm em casa de cozinheira
      Tomei café da manhã e fui me sentar num banco duro lá fora, só para tomar um solzinho e me sentir dona da jabuticabeira que, neste ano, está dando mais que o pires de "fruita", como era de costume.
      Fico até disfarçando o orgulho que sinto daqueles galhos pretos, era o que me faltava na vida. Ainda será preciso esperar uns dois anos para ela estalar de vez, em tlocs, plufs e nhocs.
      Perto dela, tem uma arvorezinha parruda de pimentas negras, acho que são mexicanas. As pimentas parecem pitangas, ardidas, mas frescas, fazem bem a qualquer comida.
      Sem querer, fui moldando um quintalzinho caipira, com a ajuda do seu Antonio, que vem aqui em casa três vezes por semana e conversa com plantas e com bichos e divide a marmita que traz de casa com o cachorro.
      Planta mangarito, cará roxo, galangal, mas não sei se se esquece do local ou as plantas não vingam porque jamais consegui achar os frutos dessas plantações. Quando pergunto, embrulha daqui, embrulha dali, fala baixinho e me mostra o gengibre, só o gengibre.
      Antes o jardim era bem bonito com umas cutucadas da Suzana, da Bothanica, mas fui relaxando. Primeiro ganhei duas galinhas garnisés, tão comoventes na sua pequena burrice...
      Por mais amante de galinhas que eu seja, não houve como mantê-las soltas. Entram em casa nas piores horas, o desconfiômetro é zero, vivem em perpétuo estado de susto, à beira de um ataque de nervos.
      Põem os ovos mais lindos, menores do que os comuns e maiores do que os de codorna e gorgolejam, desafinam, gritam, compartilhando o espaço com duas tartarugas e alguns pardais comilões.
      Sentada ali, vejo que a primavera fez umas flores modestas. Tem uns jasmins-do-cabo cheirosos que duas amigas inventaram de me dar no mesmo dia. Cresceram numa rapidez e cheiram muito bem.
      A casa vizinha à minha era térrea. Foi vendida e construíram uma fora do gabarito do bairro, com três andares. Meu sol sumiu por algumas horas e todas as plantas espicham o pescoço o mais que podem para alcançá-lo. Uma roseirinha deu um cacho a uns três metros de altura, acreditem.
      Ando louca por umas boninas de todas cores. Até já tive, mas elas se espalham com tanta gula pelo chão que cortei tudo e agora meu coração fica pequeno quando as vejo florindo em outras casas.
      Os sabiás são do tamanho das galinhas pois comem ração de cachorro, milho e mais o que apareça. São gordos, barrigudos e não sabem o perigo que correm em casa de cozinheira.
      E as maritacas ou maitacas. Barulhentas, passavam gritando em voo e se aboletavam num pau d'alho altíssimo. Comprei umas sementes especiais para elas. Agora ficam à distância de um braço, naquela boniteza verde, descascando cada semente com o bico e aquelas garras de papagaio que têm. São buliçosas, olha só que palavra mais velha.
      Confessem que isso parece um paraíso. Não. É um pedacinho de terra bem mequetrefe que eu embalo com os olhos e nem trato, deixo que ele cresça maluco e misturado, como um matinho da infância. Só falta mamona para fazer uns cachimbos. Vou providenciar.

        Quadrinhos


        CHICLETE COM BANANA      ANGELI

        ANGELI
        PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

        LAERTE
        DAIQUIRI      CACO GALHARDO

        CACO GALHARDO
        NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

        FERNANDO GONSALES
        MUNDO MONSTRO      ADÃO

        ADÃO
        BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

        ALLAN SIEBER
        MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

        ANDRÉ DAHMER
        GARFIELD      JIM DAVIS

        JIM DAVIS

        HORA DO CAFÉ      LÉZIO JUNIOR

        Lézio Junior

        De PT, Ayres e egos - Zuenir Ventura


        O Globo - 21/11/2012 

        Poucos dias depois que a Executiva Nacional do PT lançou uma nota oficial criticando as condenações da Ação Penal 470, vulgo mensalão, e acusando o STF de "instaurar um clima de insegurança jurídica no país", o ex-presidente da Corte Carlos Ayres Britto, que acaba de se aposentar, deu uma longa entrevista aos repórteres Valdo Cruz e Felipe Seligman, da "Folha de S.Paulo". Entre as duas manifestações, a do partido e a do ministro, há um abismo. Lendo o que ele disse e sabendo de sua inatacável reputação, é impossível admitir sem má-fé que esse poeta e filósofo declaradamente "contemplativo", "espiritualista", adepto da física quântica, da meditação e de um violão, íntegro, sereno e sensato, tenha permitido que a Casa presidida por ele tivesse sido capaz de "partidarizar" o julgamento, fazendo política em vez de justiça, entre outros desvios jurídicos como falta de isenção, "transferência do ônus da prova aos réus", "transformação de indícios em provas", "penas desproporcionais".

        É bom lembrar que, paradoxalmente, todas essas queixas-denúncias foram apresentadas justamente pelo partido no qual Ayres Britto militou durante 18 anos e pelo qual ainda nutre uma mal disfarçada simpatia, ressaltando, por exemplo, que o mensalão "não é o julgamento do PT; são réus que ocuparam cargos de direção no PT". Ao analisar o que ele considera ser o esgotamento da "fase ideológica" do PSDB e do PT, com perda do que os gregos chamam de "Deus dentro da gente", entusiasmo, ou seja, "aquele ímpeto depurador das instituições", Britto adverte: "Não podemos ser injustos, porque o PT continua com quadros muito bons." E cita o caso do governador Tarso Genro, "que chegou a escrever um artigo a favor do Supremo".

        Quando lhe foi perguntado se houve "traição" e se os presidentes petistas erraram nas nomeações, já que, dos dez ministros do julgamento, sete foram indicados por Lula ou Dilma, ele respondeu: "A nossa postura técnica, independente, isenta, desassombrada, é uma postura que honra os nomeantes. Não só os nomeados." E aproveitou para esclarecer que Lula nunca "se aproximou para cobrar, fazer queixa".
        Diante das homenagens que lhe estão sendo prestadas, é curioso observar que foi preciso o discreto e recatado Ayres Britto se aposentar para que se prestasse atenção nele, presidente, e não só no relator e no revisor. Uma questão de mais ou de menos ego.

        Durante os próximos 15 dias, concederei a vocês um merecido descanso - de mim.

        DIANA CORSO - Do tempo das águas turvas

        Zero Hora - 21/11/2012 

        “País de mestiços, onde branco não tem força para organizar um Ku Klux Klan, é país perdido para altos destinos.” Publicado na revista Bravo, edição 165, o trecho acima faz parte de uma carta enviada por Monteiro Lobato para um destinatário tão entusiasta da eugenia quanto ele próprio. Antes de ser ventilado o racismo de Lobato, lembro de ter enfrentado um constrangimento pessoal por suas posições.

        Tinha o hábito de ler suas histórias para minhas filhas pequenas. Nos deliciávamos ao vê-lo trazer para nosso quintal um exército de personagens clássicos.

        O ogro verde Shrek, nascido no século seguinte, foi muito elogiado por mixar e recriar os contos de fadas. Só que no Brasil já estávamos habituados a essas paródias graças à irreverência de Lobato. Peter Pan, Gato Félix, anjos e seres mágicos da mitologia, da literatura e do folclore confraternizam no Sítio do Picapau Amarelo. Era empolgante essa mestiçagem na ficção, algo que aparentemente ele não aprovava na vida real.

        Quando apareceram expressões inaceitáveis alusivas à Tia Nastácia, minhas filhas se revoltaram e perderam o entusiasmo pelo Sítio. Acabaram reincidindo, não há menina brasileira que tenha crescido alheia às reinações de Narizinho. Aliás, é bom lembrar que ela casou com o príncipe peixe do Reino das Águas Claras sem nenhum preconceito! Essa pequena crise doméstica deixou-me claro que hoje banhamo-nos em outras águas, bem menos turvas.

        Nosso tempo não perdoa o racismo. Hoje é inaceitável a incoerência de valores entre vida pessoal e obra. A hipocrisia, embora eterna, perdeu espaço. Como valorizar algo feito por aqueles que a história condenou? É sempre bom lembrar que os campos de extermínio nazista derramavam sua fumaça fétida sobre as comunidades que viviam coladas a eles.

        Como era possível àquela gente conviver com esse horror? Condenando Lobato ao ostracismo, banindo suas obras, julgamos que nada se aproveita de alguém assim. Seria o mesmo que condenar todo o legado cultural da população da Alemanha e da Polônia pelo que promoveu. O julgamento é justo e necessário, mas separar o joio do trigo vale a pena. Principalmente porque as crianças precisam saber que o autor genial, assim como o cidadão vizinho ao campo, eram pessoas comuns como nós.

        Eles cometeram muitos erros e, mesmo hoje, nenhum de nós está livre de imitá-los. Covardia é furtar-se a esse debate com filhos e alunos. A propósito, ontem foi o Dia da Consciência Negra, data pensada para lembrar as atrocidades que somos capazes de cometer.

        Um quarto dos brasileiros com HIV não sabe que está infectado


        Novos casos de infecção por HIV caem 20% na década
        Acesso a medicamentos aumentou 20 vezes desde 2003, segundo a ONU
        Relatório global vislumbra o fim da epidemia e destaca redução na transmissão de mãe para filho
        DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIASUm fim para a epidemia mundial de Aids está no horizonte, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), principalmente por causa do maior acesso às drogas antirretrovirais que podem tratar e prevenir a infecção pelo HIV.
        Na última década, as mortes pela doença caíram e o número de infectados foi estabilizado, segundo o relatório anual da Unaids.
        Cerca de 34 milhões de pessoas viviam com HIV no fim de 2011, de acordo com os números do programa das Nações Unidas para o combate à Aids. As mortes caíram de 2,3 milhões em 2005 para 1,8 milhão em 2010 e 1,7 milhão em 2011. No mundo, o número de novos casos de infecção está em queda. Em 2011, foram 2,5 milhões, 20% a menos do que em 2001.
        O maior alcance dos programas nacionais de combate à Aids e as novas combinações de medicamentos que evitam a contaminação e reduzem as mortes são as principais explicações para os avanços observados.
        "O ritmo do progresso está aumentando. O que costumava levar uma década agora é conseguido em 24 meses", afirmou Michel Sidibé, diretor-executivo da Unaids.
        Um exemplo disso é a queda no número de infecções registradas em crianças de até 14 anos. Entre 2003 e 2009, os novos casos nessa faixa caíram 23%.
        Em dois anos, entre 2009 e 2011, a queda foi de 24%, chegando a um patamar de 300 mil por ano. Boa parte do avanço se deu entre os recém-nascidos, o que, diz a ONU, mostra que é possível zerar a chamada transmissão vertical, de mãe para filho.
        A África subsaariana ainda é a região mais afetada pela doença, com quase um infectado a cada 20 adultos. No fim de 2011, 8 milhões de pessoas estavam em tratamento com antirretrovirais, um aumento de 20 vezes em relação ao número de 2003. A meta da ONU é ter 15 milhões em tratamento até 2015.
        "Essa meta é factível e oferece o benefício triplo de reduzir a doença, as mortes e o risco de transmissão", afirmou Manica Balasegaram, da ONG Médicos Sem Fronteiras.
        Estudos científicos mostraram que oferecer tratamento aos infectados com HIV a tempo reduz o número de novos casos da doença. Segundo a Unaids, os maiores declínios nos números de novos casos na última década se deram no Caribe e na África subsaariana, onde as taxas caíram 25% no período.
        Mesmo assim, 71% dos novos casos da doença em 2011 foram registrados na África subsaariana, que também responde por 1,2 milhão das mortes -no mundo, houve 1,7 milhão.
        Apesar do otimismo do relatório, ainda falta muito para que as metas colocadas para 2015 sejam cumpridas. A falta de programas de prevenção específicos para homens homossexuais, prostitutas e usuários de drogas injetáveis pode atrasar os avanços contra a doença, diz a ONU.

          Um quarto dos brasileiros com HIV não sabe que está infectado
          DE BRASÍLIA
          Um em cada quatro brasileiros infectados com o vírus HIV desconhece essa situação. Para o Ministério da Saúde, barreiras culturais e preconceito prejudicam o diagnóstico precoce da doença.
          De acordo com números divulgados ontem pela pasta, há hoje 530 mil pessoas com HIV no Brasil. Desse total, estima-se que 135 mil (25,4%) não tenham essa informação.
          O governo deu início a uma campanha para incentivar o diagnóstico e tratamento dos casos da doença. Serão oferecidos na rede pública de saúde os testes rápidos para HIV/Aids, sífilis e hepatites B e C -o resultado do exame, implantando em 2005, fica pronto em 30 minutos.
          O ministro Alexandre Padilha (Saúde) afirmou que, nos últimos anos, houve avanços no monitoramento clínico dos brasileiros infectados. Há cinco anos, 32% dos casos foram diagnosticados precocemente. Em 2011, o índice subiu para 36,7%.
          "É bom para o paciente, porque isso pode permitir uma melhor qualidade de vida (...) e muito bom para o enfrentamento [da epidemia], porque reduz o risco de transmissão", disse o ministro.
          Ao mesmo tempo, entretanto, houve pouca mudança no percentual de diagnósticos tardios -em 2006, eles representavam 31,2% do total de diagnósticos. No ano passado, eram 29,2%.
          Em 2011, foram registrados 38.776 novos casos de Aids no país, número mais alto ao menos desde o ano 2000. Houve pequena queda da mortalidade: de 5,7 casos por 100 mil habitantes em 2010 para 5,6 casos no ano passado.
          O ministério identificou aumento dos casos de Aids nas regiões Norte e Nordeste e entre homens gays entre 15 e 24 anos. No ano passado, esse público foi o alvo principal de campanha do governo.


          MARTHA MEDEIROS - Casas

          Zero Hora - 21-11-2012

          Era cedo da manhã e eu estava na sacada do meu apartamento lendo o jornal e pegando um pouco de sol. Foi quando a escavadeira começou o seu serviço. Com um barulho irritante, foi demolindo uma casa onde vivia uma velhinha miúda e briguenta. Não raro eu a via em plena calçada, de roupão, discutindo com algum vizinho. O que será que aconteceu a ela? Espero que esteja bem, mas sua casa morreu de morte matada.

          No fim daquele mesmo dia, havia tudo sido posto abaixo. Pilares, paredes, telhado. Do ponto de vista de onde eu estava, a casa me pareceu pequena, uma miniatura insignificante. Mas nunca será insignificante um lugar onde foram criados filhos, onde refeições em família aconteceram, onde Natais foram celebrados, onde amigos foram recebidos e onde houve um jardim. Casas possuem algo de sagrado.

          Nunca morei em casa, sempre em apartamentos que serviram de cenário para a história de vida que construí. O da Rua Fabrício Pillar, onde passei a infância, o da Dom Pedro II, onde vivi a adolescência, o da Lavras, onde morei sozinha, o da Mariz e Barros, onde escrevi meus poemas e tive minhas filhas, o da João Obino, onde as criei e comecei a escrever crônicas, e este onde vivo agora, num andar alto em que posso observar boa parte da cidade e o estrago que algumas escavadeiras fazem em volta.

          Tenho ótimas lembranças dos meus ex-apartamentos, mas, se os edifícios em que se localizam fossem demolidos, a nostalgia seria repartida entre muitos, não me sentiria atingida de forma especial. Casa tem um status diferente. Cada casa é única. Traz o DNA da família. Não é produto de classificados.

          Não moro em casa porque sou prática, gosto de bater a porta e não me preocupar com questões de segurança, além de fazer questão de vista panorâmica. Mas não deixo de admirar as casas de rua, casas passadas de pais para filhos, casas teimosas que se mantêm de pé a despeito das escavadeiras. Toda casa é uma sobrevivente, deveria exibir na porta uma medalha pela resistência.

          Esse preâmbulo todo é pra falar do novo livro da Cintia Moscovich, Essa Coisa Brilhante que é a Chuva, onde ela reúne contos primorosos, com um humor muito peculiar e uma humanidade que nos nocauteia. O mais longo, que encerra o livro, narra a história de uma casa e de uma família.

          “Uma forma de herança”, chama-se, e comove profundamente, pois traz à tona o que está mais que evidenciado: as escavadeiras andam passando por cima das nossas eternidades. Hoje não preservamos as matrizes da nossa história, viramos cidadãos dispersados, cada um sob seu teto. A solidão, quem diria, também pode ser um subproduto da especulação imobiliária.

          A Feira acabou, mas os livros seguem no mercado. Anote: Essa Coisa Brilhante que é a Chuva, de Cintia Moscovich. Se você acha o título longo e difícil de guardar, decore ao menos uma palavra: brilhante.

          Pior que a morte - Frei Betto‏

          Isso sim, merece ser imitado dos EUA: detentos usam orelhões para se comunicar com seus familiares e todas as ligações são grampeadas 

          Frei Betto 
          Estado de Minas: 21/11/2012 
          É preferível morrer que ficar preso”, foi a afirmação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, proferida a 13 de novembro. O ministro sabe o que diz. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. Perde apenas para EUA, China e Rússia. Hoje, nossas cadeias abrigam 515 mil pessoas em 1.312 unidades prisionais com capacidade máxima para acolher 306.500 detentos. Se o sistema judiciário brasileiro fosse menos lento e mais humanitário, 36 mil detentos já deveriam ter sido soltos ou beneficiados com a progressão de penas.

          A Lei de Execução Penal assegura a cada preso seis metros quadrados de espaço na cela. Hoje, a maioria se espreme entre 70 centímetros e um metro quadrado. Daí as frequentes rebeliões. O Brasil não tem política prisional e muito menos de reintegração social dos detentos. Diante da violência urbana, muitos clamam, ingenuamente, por mais cadeias. Pressionados pelo clamor popular, governos federal e estaduais investem em prisões o que deveriam destinar a escolas. 
          Nossas cadeias são verdadeiros queijos suíços, com multiplicidade de buracos. De dentro das celas, bandidos usam celulares para extorquir incautos (o golpe do sequestro de parentes) e comandar o crime organizado. Drogam-se com cocaína, maconha, crack, e recebem bebida alcoólica.

          Privatizar presídios é a solução? Sim, para enriquecer empresários. Esse sistema estadunidense já é adotado nos estados de Pernambuco, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo e Santa Catarina. A empresa dona do presídio cobra do Estado o que ele gasta, em média, com cada detento: R$ 1,5 mil. E mais R$ 1 mil por cabeça. Ao todo, R$ 2,5 mil por prisioneiro. Ora, quanto mais tempo o preso permanecer ali dentro, tanto mais lucro. Sem que haja preocupação de reintegração social. 
          Nossas unidades prisionais estão sucateadas e abandonadas. Pela Lei Orçamentária Anual (LOA) , elas deveriam ter recebido do governo federal, este ano, R$ 277,5 milhões. Mereceram apenas R$ 2.579,776,61 – menos de 1% do previsto! Apenas no Piauí não há superlotação de cadeias. País afora, os presos são confinados em espaços exíguos, promíscuos, sem acesso a atividades esportivas, artísticas, escolares e profissionais.

          O que fazer diante da falta de vagas em nossas unidades prisionais? Adotar a pena de morte? Multiplicar o número de penitenciárias? Estive preso quatro anos (1969-1973). Dois, entre presos comuns de São Paulo – Penitenciária do Estado, Carandiru e Penitenciária de Segurança Máxima de Presidente Venceslau. Nesta última, na qual fiquei mais de um ano, foi possível recuperar alguns detentos por meio de grupos bíblicos, teatro, desenho e pintura e, sobretudo, pela instalação de um curso supletivo de ensino médio, que interessou 80 dos 400 presos.

          Nos dois anos em que trabalhei no Palácio do Planalto (2003-2004), tentei ressaltar a urgência de reforma em nosso sistema prisional. Em vão.

          As delegacias e os estabelecimentos de apreensão de menores funcionam como ensino fundamental do crime. Os presídios, como ensino médio. As penitenciárias, como ensino superior. Como é possível que o Estado não consiga algo tão simples quanto evitar a entrada de celulares na cadeia? Alguém consegue passar com celular escondido no controle dos aeroportos? Isto sim, merece ser imitado dos EUA: detentos usam orelhões para se comunicar com seus familiares e todas as ligações são grampeadas.

          Nossos policiais são, em geral, despreparados, a ponto de considerarem direitos humanos como alforria de bandidos; alguns carcereiros dificilmente resistem à corrupção e tratam o preso como inimigo, e não como reeducando; o sistema prisional não é pensado tendo em vista a reinserção do preso como cidadão na sociedade.

          A educação é a solução, fora e dentro das prisões. Como evitar a criminalidade se 5,3 milhões de jovens brasileiros, com idade entre 18 e 25 anos, estão fora da escola e sem trabalho? Nossas penitenciárias poderiam funcionar como escolas profissionalizantes. Aulas de mecânica, alfaiataria, computação e culinária, associadas ao aprendizado de idiomas e à dedicação a práticas esportivas e artísticas (teatro, música, literatura), certamente esvaziariam as nossas cadeias. O progresso no curso equivaleria a retrocesso na pena.

          Se o Estado e a sociedade não cuidam dos presos, eles mesmos tratam de buscar o que mais lhes convém: auto-organização em comandos; rede de informantes entre carcereiros e policiais; vínculos com os bandos que atuam em liberdade. E nós, cidadãos, pagamos duplamente: por sustentar um sistema inoperante e ser vítimas da recorrente espiral da violência.

          Defesa dos passeios não é unânime entre educadores


          ANÁLISE
          FÁBIO TAKAHASHIDE SÃO PAULO
          A própria coordenação do projeto já detectou que há dificuldades. Tanto que, em março deste ano, foi publicada uma orientação técnica a respeito
          As excursões são motivo de antiga controvérsia nas escolas. Algumas das dúvidas são se vale "perder" um dia de aula; se o passeio tem utilidade pedagógica; e o que será feito com quem não participar.
          A defesa dos passeios não é unânime entre educadores.
          Em meio à polêmica, escolas particulares e públicas tendem a avaliar que vale a pena deixar um pouco a lousa de lado e levar os estudantes para terem contato com um "conhecimento vivo".
          Aí, surgem as dificuldades de execução. Na rede estadual paulista, por exemplo, são 4,3 milhões de alunos, contingente maior que a população de Buenos Aires.
          Dúvidas que surgem: quais escolas serão beneficiadas? E, dentro delas (que em média têm quase 800 alunos cada uma), quem será escolhido?
          O programa estadual Lugares de Aprender não fixa parâmetros rígidos para a seleção. Explicitamente, veta apenas que alunos com notas baixas sejam preteridos.
          Mas a própria coordenação do projeto já detectou que há dificuldades na seleção.
          Tanto que, em março deste ano, foi publicada uma orientação técnica a respeito.
          Como "proposta", sugere-se que sejam priorizadas as "escolas carentes e mais distantes". Focar os colégios com piores condições tem sido um dos pilares de políticas de diversos partidos, incluindo PT e PSDB.
          Outra sugestão da coordenação é que, escolhida a escola, busque-se levar todas as turmas dessa unidade.
          Em resumo, no papel, o programa sugere que tenham prioridade as escolas com mais dificuldades; que todos os alunos desses colégios sejam beneficiados; e, se for necessária alguma seleção, que não sejam prejudicados os estudantes mais atrasados.
          A apuração da Folha, porém, aponta que os sensatos critérios sugeridos não têm sido adotados na prática.
          Nesse ponto, um problema histórico da rede estadual fica em evidência: a dificuldade de fazer com que uma ideia bolada num núcleo de gestão seja efetivamente praticada em mais de 4.000 colégios.

            Mulher - Fernando Brant‏


            Fernando Brant
            Estado de Minas: 21/11/2012 
            Drauzio Varela escreveu um texto em que fala de pesquisas de universidades que buscam comprovar que quando em uma cultura não há submissão das mulheres, a possibilidade de guerras e violência diminui muito. São estudos que varrem a história da  humanidade. Sem ser senhor de nenhuma delas, vivo cercado de mulheres. Desde pequeno, com as quatro irmãs e a mãe. Casado, com a mulher e as filhas e uma delas, antes de um neto, me presenteou com uma neta, joia rara de imenso valor.

            Na vida, mulheres continuaram me cercando de amizade, afeto, compreensão, intuição, delicadeza e inteligência. Não que elas sejam perfeitas e não existam homens que carreguem na alma ações e sentimentos que machistas estúpidos não entendem e clamam ser coisa de mulher. 

            O certo é que o ardor guerreiro aflora muito mais onde se trata desigualmente as mulheres, os negros, os pobres. Daí é que surgem as reações que têm momento de início, mas nunca se sabe até onde e quando irão. Onde há parceria, há compreensão. Se isso vale para a vida particular de cada um de nós, na esfera coletiva a história já demonstrou e continua a demonstrar nos campos de guerra dos nossos dias. 

            Toda dominação é perversa, desumana e busca a exclusão ou o controle sobre o outro. Os poderosos não enxergam adversários ou pensamentos diferentes. Só veem inimigos a ser destruídos, extirpados. Democracia é um conceito impossível de ser aceito por esse tipo de gente, mesmo quando louvam em palavras o seu valor.

            O governo de todos e para todos, ideal a ser perseguido por todo humanista, talvez seja mesmo coisa de mulher. E estou com elas. Sempre estive. Estou lendo um livro de Juan Arías, teólogo e jornalista do jornal El País, sobre Madalena, apóstola de Cristo e não a prostituta arrependida descrita por alguns evangelistas. Não vou tratar hoje dessa questão, mas me ilumina essa ideia de um mensageiro, Jesus, acompanhado por apóstolos machos e também por mulheres.

            Não reivindico aqui o poder para as mulheres, pois seria apenas trocar de dono para dona. O seis por meia dúzia de que tanto falam no campo dos esportes. E não sei se é com cotas que melhor se combatem essa e outras desigualdades. 

            A questão, como todas as essenciais para a raça humana, é de cultura. A primeira mestra de todos nós é nossa mãe. Dela é que pode partir a revolução que pode transformar as crianças de hoje em homens melhores no amanhã. É dela, com beijos, abraços e verdade, é que deve vir o ensinamento que transformará nossa sociedade através do novo homem. O homem filho da mãe será parceiro e igual a todos os seus semelhantes.

            Escolas excluem alunos de passeio cultural


            Escolas excluem alunos de passeio cultural
            Sem vagas suficientes, professores e diretores da rede estadual têm de selecionar quem visita museus e exposições
            'Os estudantes ficam frustrados e, nós, muito mais', diz docente; prática contraria regras do governo paulista
            NATÁLIA CANCIANREYNALDO TUROLLO JR.DE SÃO PAULOCom número de vagas em passeios insuficiente para atender a todos os alunos, professores e diretores de escolas estaduais de São Paulo se veem obrigados a excluir parte dos estudantes de visitas a museus e exposições.
            Pelas normas do programa Lugares de Aprender, o maior da pasta nessa modalidade, cada visita contempla 40 alunos. As regras dizem que, em uma visita, devem ser levados todos os alunos de uma classe, "sem distinção".
            Mas, na prática, isso não acontece. Nas últimas cinco semanas, a Folha conversou com dezenas de professores de escolas estaduais de 14 cidades, que relataram ser comum alunos de uma mesma sala serem preteridos do passeio. Os escolhidos geralmente são os que têm as melhores notas ou bom comportamento.
            Segundo os professores, isso ocorre porque a secretaria costuma ofertar só um ônibus para uma determinada série de uma escola.
            Assim, para levar alunos das quatro salas da oitava série à Bienal, por exemplo, docentes selecionam dez de cada classe. Os demais ficam de fora.
            "Já chegam com a lista dos alunos pronta. Vão sempre os mesmos. E aí os outros pensam: 'Por que vou me interessar?'", afirma a aluna do ensino médio Mayara Cardoso, 18, da zona leste da capital, que diz ter sido preterida.
            Em Santo André, a mãe de um aluno de 15 anos chamou de "absurda" a exclusão do filho de um passeio neste ano, também à Bienal. Ele já havia sido excluído de outro dois anos atrás. Neste ano, segundo relato do aluno à Folha, a escola teve de selecionar 40 alunos de três classes do primeiro ano do ensino médio.
            A reportagem contatou professores, alunos e pais por telefone e pessoalmente, durante visitas à Bienal de São Paulo e ao Catavento Cultural, ambos na capital. De todos ouviu relatos semelhantes sobre exclusão de alunos. A maioria pediu para ter seus nomes e os das escolas preservados.
            EXCLUSÃO AUTOMÁTICA
            Quando a sala tem mais de 40 alunos, o excedente está automaticamente excluído.
            Nesses casos, de acordo com uma professora de Pirajuí (a 384 km de São Paulo), costuma-se deixar de fora os que faltaram à aula no dia do anúncio do passeio.
            Mesmo escolas que tentam cumprir as normas, levando uma classe inteira por vez, recebem queixas. "Por que a escola leva sempre só o 1º ano A? Minha filha nunca foi", diz Alexandra Wolf, 42, mãe de aluna do 1º ano D de escola de Santo André (Grande São Paulo).
            "A moral da história é essa: escolha", diz uma professora de Ribeirão Pires (Grande São Paulo). "Os alunos ficam frustrados e, nós, muito mais."
            Conforme um professor de artes de São José dos Campos (a 97 km de São Paulo), a escola em que ele leciona faz uma lista dos "alunos de destaque", que são "convidados" para os eventos extraclasse.
            "Já aconteceu de aluno que não foi [ao passeio] estudar mais, para ir no próximo", diz.
            Mas para Neide Noffs, da Faculdade de Educação da PUC-SP, nem sempre o aluno entende o critério. "O excluído fica com uma mágoa que pode prejudicar seu rendimento."
            Neste ano, 852 mil participaram do programa; a rede tem 4,3 milhões de alunos.


            OUTRO LADO
            Governo apura problemas e pretende ampliar programa
            Secretaria diz que número de alunos beneficiados aumentou de 160 mil, em 2008, para 852 mil neste ano
            DE SÃO PAULOA Secretaria da Educação de São Paulo afirma que o uso de critérios como nota e comportamento para selecionar alunos para passeios é contrário às regras do programa e que vai apurar "quaisquer irregularidades para que sejam adotadas as medidas cabíveis".
            Segundo o governo, o número de alunos beneficiados aumentou de 160 mil, em 2008, para 852 mil neste ano. A rede estadual tem 4,3 milhões de alunos matriculados.
            Para 2013, a pasta diz ter a perspectiva de "aumentar o número de parcerias com espaços culturais e, se possível, ampliar a quantidade de estudantes por visita".
            Por meio de nota da FDE (Fundação para o Desenvolvimento da Educação), responsável pelo Lugares de Aprender, a pasta diz que orienta alunos e professores "a procurar as diretorias de ensino para informar sobre problemas no desenvolvimento das atividades do programa".
            As diretorias regionais são orientadas a organizar as ações "de modo que todos os estudantes de uma mesma classe participem das atividades".
            A secretaria diz que a necessidade de mais de 40 vagas por classe é "atípica" e que, quando ocorre, são contratados veículos extras.
            E que só existe o limite de 40 alunos por passeio porque instituições como museus oferecem número restrito de vagas. "As instituições recebem um número de visitantes de acordo com sua capacidade, em média, de 40 estudantes e dois docentes."
            A nota afirma também que "a única razão pela qual um estudante pode deixar de participar das visitas didáticas é a não anuência de seus pais".
            Com base no direito ao sigilo da fonte previsto na Constituição, a Folha informou à fundação que, a pedido de alunos, professores e diretores, que temem represálias, não divulgaria as escolas dos entrevistados.
            "A FDE lamenta que o jornal tenha se negado a informar em quais e quantas escolas haveria problemas. Com essa omissão, a Folha contribui para a manutenção de supostas práticas contrárias às regras do programa."

              CIÊNCIA » Nível de CO2 em 2011 foi o mais alto da história - Bruna Sensêve‏

              Relatório da Organização Meteorológica Mundial indica que concentração de dióxido de carbono na atmosfera, no ano passado, foi 40% maior do que o registrado na era pré-industrial. Acúmulo dos outros gases do efeito estufa também atingiu seu auge 

              Bruna Sensêve
              Estado de Minas: 21/11/2012 

              Um novo recorde de concentração de gases de efeito estufa foi registrado em 2011. Os dados divulgados pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) ontem, em Genebra, na Suíça, mostram que a concentração de dióxido de carbono no mundo chegou a 390 partes por milhão (ppm) no ano passado, 40% a mais que na época pré-industrial, quando o índice era de 280ppm. O aumento do volume de CO2 e outros gases retentores de calor dispersos na atmosfera, entre 1990 e 2011, tiveram como consequência o incremento de 30% no efeito de aquecimento climático do planeta. Desde o início da era industrial, em 1750, cerca de 375 bilhões de toneladas de carbono foram liberados na forma de CO2 , principalmente pela queima de combustíveis fósseis e por mudanças no uso da terra, como o desmatamento de florestas tropicais..

              No ano passado, foi registrado um aumento na atmosfera de 2,0ppm somente de CO2 , concentração essa que já havia aumentado em 2,3ppm no ano anterior. A taxa é superior à média registrada nos anos 1990 (1,5ppm), mas mantêm os níveis alcançados na última década, quase 3ppm por ano. “Esses bilhões de toneladas de CO2  adicionais em nossa atmosfera permanecerão durante séculos e aquecerão ainda mais nosso planeta. Isso terá repercussões em todos os aspectos de vida na Terra”, afirma o secretário-geral da OMM, Michel Jarraud.

              O documento divulgado pela OMM, denominado Boletim sobre gases de efeito estufa, adverte ainda que a capacidade do planeta de armazenar carbono pode diminuir nos próximos anos. Até hoje, cerca de metade do CO2  lançado na atmosfera pelas atividades humanas foi absorvido por “poços”, como mares e florestas. Alguns desses retentores, como os oceanos profundos, conseguem manter os gases presos por milhares de anos, um período muito mais longo que o das florestas mais novas. No entanto, os oceanos tendem a se acidificar com esse processo, o que pode levar a importantes repercussões na cadeia alimentar e nos arrecifes de coral. “Há muitas interações adicionais entre gases de efeito estufa, a biosfera da Terra e dos oceanos, e precisamos aumentar a nossa capacidade de monitoramento e do conhecimento científico, a fim de entendê-los melhor”, ressalta Jarraud. 

              Para Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), os dados devem ser encarados principalmente como um importante alerta de que as concentrações de gases que provocam o aquecimento global continuam a aumentar muito rapidamente. “São aumentos anuais de 2% de dióxido de carbono e 4% de metano. Isso é extremamente significativo, o que mostra a necessidade da redução de emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível”, afirma. 

              Artaxo lembra que o efeito do carbono emitido hoje tem reflexos nos próximos 10 ou 20 anos. “Não é um resultado imediato, mas cumulativo. Isso mostra mais uma vez a necessidade de mais rapidamente e fortemente reduzirmos a emissão para termos uma redução do aumento da temperatura mais eficiente.” O especialista considera que o aumento vertiginoso destaca a falta de uma estratégia global para enfrentar o problema. Ele cita a próxima Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-18) como uma nova oportunidade para traçar um plano mais ambicioso de redução de emissão de gases que aquele acordado na Rio+20 deste ano. 

              Coadjuvantes perigosos O gás carbônico é considerado o mais importante dos gases de efeito estufa de longa vida, assim chamado porque aprisiona a radiação dentro da atmosfera da Terra, causando o aquecimento (veja infografia). Outros compostos que favorecem a elevação da temperatura terrestre são o metano (CH4 ) e o óxido nitroso (N2O), que também alcançaram novos picos em 2011, de acordo com o boletim da OMM. Enquanto a concentração de metano na atmosfera chegou a 1.813 partes por bilhão (ppb) — crescimento de 259% em relação ao nível da era pré-industrial —, o de óxido nitroso foi a 324,2ppb — 120% maior que em 1750. 

              De acordo com a OMM, a concentração de CH4 encontrava-se estável até iniciar um crescimento a partir de 2007. Cerca de 40% do metano é emitido para a atmosfera por fontes naturais. Os outros 60% provêm de atividades como pecuária, cultivo de arroz, exploração de combustíveis fósseis, aterros e queima de biomassa. O crescimento dos índices de N2O também preocupam. Em 100 anos, a OMM prevê que o impacto do óxido nitroso no clima seja 298 vezes superior ao do CO2, a emissões iguais. Cerca de 60% das fontes de N2O são naturais e aproximadamente 40% têm origem antrópica, incluindo os oceanos, os solos, a combustão de biomassa e os adubos. O gás desempenha um papel importante na destruição da camada de ozônio que protege o planeta dos raios ultravioletas emitidos pelo Sol.

              Mais perto da erradicação da Aids - Max Milliano Melo‏

              Circulação do HIV entre as pessoas está mais difícil. Para especialistas, doença poderá estar controlada em 2015 

              Max Milliano Melo
              Estado de Minas: 21/11/2012

              O Relatório Mundial da Aids, divulgado ontem em Genebra, e o Informe Epidemiológico, disponibilizado no mesmo dia em Brasília pelo Ministério da Saúde, trazem boas notícias. O Brasil e o restante do mundo estão mais próximos de erradicar o HIV. Tanto em escala nacional quanto mundial, os números de novos casos caíram. As mortes pelo mal também desaceleraram e as pessoas com Aids vivem cada vez mais. A junção desses fatores deixa o planeta cada vez mais perto de erradicar o vírus da síndrome de imunodeficiência adquirida. As boas novas vieram, contudo, acompanhadas de alertas. Para a tendência de controle ganhar força e crescer, será necessário ampliar o aceso a testes e dar mais atenção às populações vulneráveis, como gestantes, crianças, profissionais do sexo e homens que fazem sexo com homens. No Brasil, um dado ainda assusta: cerca de 25% das pessoas contaminadas não sabem que têm o vírus.


              Segundo o documento do Programa Conjunto das Nações Unidas para HIV/Aids (Unaids), 2011 foi o quinto ano seguido em que o número de mortes pela síndrome caiu. Cem mil pessoas a menos sucumbiram por problemas relacionados à Aids em comparação a 2010. Depois de se estabilizar, a quantidade de novas infecções também diminuiu. Cerca de 2,5 milhões de pessoas adquiriram a doença em 2011, contra 2,6 milhões no ano anterior. 

              O número de pessoas vivendo com o vírus da imunodeficiência humana vem aumentando ano a ano na última década. Cerca de 29,7 milhões de pessoas tinham Aids em 2001. No ano passado, esse número pulou para 34 milhões. Curiosamente, esste aumento é comemorado pelos especialistas. Como os novos casos se estabilizaram e lentamente começaram a cair, o aumento do número de pessoas com HIV se deve a uma melhora na condição de vida de quem tem a doença. Os soropositivos estão vivendo mais e ter Aids deixou de ser sinônimo de morte. 

              Os resultados já fazem o Unaids, órgão da Organização das Nações Unidas (ONU), sonhar com o fim da doença. “O ritmo do progresso é acelerado, o que costumava levar uma década agora está sendo alcançado em 24 meses”, disse Michel Sidibé, diretor- executivo do Unaids. “Estamos  avançando contra a doença mais rápido e de maneira mais inteligente do que nunca. É a prova de que, com vontade política, podemos alcançar nossos objetivos compartilhados em 2015.”
              Os objetivos a que ele se refere foram sacramentados na Reunião de Alto Nível sobre HIV/Aids realizada em junho do ano passado na sede da ONU, em Nova York (EUA). No documento gerado no encontro, os países se comprometem a controlar a doença nos próximos cinco anos. Para tal, seria necessário zerar as novas contaminações, acabar com o preconceito e com as mortes em função da Aids. 

              “O progresso é irregular. Desde 2001, o número de pessoas que contraíram o HIV no Oriente Médio e na África Setentrional aumentou mais de 35%. Na Europa Oriental e na Ásia Central também foi registrado um aumento de infecções pelo vírus nos últimos anos”, ressalta o documento.

              Desafios localizados Embora seja uma epidemia global, os desafios das nações são bastante diferentes. Países da Europa e da América do Norte têm diante de si a tarefa de ampliar o acesso ao tratamento de seus doentes. A Europa Oriental e os países da Ásia Central precisam ampliar o acesso de seus cidadãos ao tratamento. Por lá, apenas 25% dos soropositivos têm acesso a remédios, número que contrasta com o acesso cada vez maior nas regiões pobres, como África Subsaariana e a América Latina, onde o tratamento está disponível para 56% e 68% dos infectados, respectivamente. Em outras regiões do globo, como a África, o desafio é combater o preconceito e diminuir os novos casos. 

              Sobre o Brasil, o relatório da Unaids ressalta o sucesso da política de popularização do tratamento e as estratégias para enfrentamento da tuberculose, mal associado à Aids. A capacidade de o país autofinanciar as estratégias de controle do vírus também foi ressaltada entre as mais positivas do planeta. 
              Por outro lado, o relatório inclui o Brasil no grupo dos países que vão mal principalmente em quesitos relacionados à universalização da testagem, uma das estratégias essenciais para controle do mal desde que pesquisas mostraram que quando um paciente recebe tratamento, ele tem 97% menos chance de transmitir a doença mesmo quando não faz sexo seguro.

              No Brasil, 135 mil não sabem que têm a doença

              Anna Beatriz Lisbôa

              Estima-se que existam cerca de 530 mil pessoas infectadas pelo vírus HIV no Brasil. Desse total, 135 mil, ou 25,4%, não sabem que estão contaminadas. As informações foram divulgadas ontem pelo Ministério da Saúde, que também lançou campanha para o diagnóstico e o tratamento da doença. O boletim mostra redução de 12% no coeficiente de mortalidade: a taxa de óbitos passou de 6,3 pessoas por 100 mil habitantes em 2000 para 5,6 em 2011.

              O ministro Alexandre Padilha, no entanto, chamou atenção para o crescimento da Aids entre homens de 15 a 24 anos que fazem sexo com homens, alvo da campanha deste ano. Esse grupo já representa pelo menos 50% dos 38,8 mil casos da doença registrados no país em 2011. “Estamos convencidos de que existe uma geração de brasileiros que não foi sensibilizada pelo início da luta contra a Aids ou acompanhou ídolos que enfrentaram a doença quando a terapia não era tão eficaz” analisou. 

              De acordo com o Informe Epidemiológico, a doença atinge 0,42% da população geral, sendo a incidência de 0,52% na população masculina e de 0,31% na feminina. Duzentos e dezessete mil brasileiros infectados estão em tratamento. Desses, 72,4% têm carga viral indetectável, resultado conquistado geralmente após seis meses de tratamento. Padilha destacou o desafio de minimizar os efeitos colaterais resultantes da assistência antirretroviral contínua. “Isso significa reorganizarmos o perfil do serviço de atenção à Aids para lidar com doenças cardiovasculares e os demais efeitos colaterais do tratamento.” Outro obstáculo a ser superado é o avanço da doença nas regiões Norte e Nordeste, onde a taxa de incidência por grupo de 100 mil habitantes em 2011 foi de 20,8 e 13,9, respectivamente. 

              “Os dados mostram o esforço que precisamos fazer nesses locais para ampliar o acesso à testagem e melhorar a qualidade dos serviços para quem vive com HIV”, defendeu. O Rio Grande do Sul é o estado que apresenta a maior incidência da doença: 40,2 por 100 mil habitantes, quase o dobro da média nacional.
              Professor de infectologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Luciano Zubaran Goldani ressalta a importância de regionalizar as ações públicas de combate à doença. "Não se pode fazer campanhas como se todas as regiões do Brasil fossem iguais. É preciso falar a mesma língua dos grupos mais vulneráveis."