segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A inclusão social pela educação - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico 03/02/2014

A inclusão social mais sustentável se dá pela educação, mas ela está em mudanças, que a maior parte ainda desconhece

Comentei na semana passada o pacto implícito que resultou na maciça inclusão social pelo consumo, promovida pelo PT, para satisfação geral da nação - das dezenas de milhões que subiram para a classe C, podendo agora comprar todo bem de consumo durável doméstico; dos empresários que lucraram com isso; da sociedade que respirou, porque imaginem só o tamanho da violência num cenário de alto desemprego e de falta de perspectivas de ascensão social para os mais pobres. Mas alertei para os problemas do consumismo, facilitados pela forte marca do prazer em nossa sociedade. E se a inclusão - que precisa passar pela renda e pelo consumo - realmente sustentável se der pela educação?

Qualquer discussão sobre a ascensão social dos pobres terá, como uma das principais respostas, a educação. Ela é muito elogiada. Mas nem sempre a sério. Às vezes é um meio de desviar a atenção de reformas econômicas e sociais que aumentem realmente a renda dos pobres. Como tudo na educação demora tempo, invocá-la pode ser um modo de jogar para escanteio as transferências de renda necessárias para extinguir, não só a miséria, mas também a pobreza. E uma boa educação custa dinheiro.

Mas hoje discutirei o valor da educação, não seu preço ou custo - tema que fica para outra vez. A educação dá poder às pessoas. Vivemos na sociedade mais complexa da História. Vejam: há vinte anos, a USP oferecia menos de cem habilitações (ou "diplomas") diferentes na graduação. Hoje são uns 250. Essa riqueza de cursos é um modo de formar profissionais capazes de entender a diversidade do mundo e de atuar nele. Mas, se é um modo, não é o único. As universidades federais da Bahia e do ABC fizeram experiências audazes na graduação. Apostaram no bacharelado interdisciplinar que, em vez de direcionar para uma profissão específica, busca formar alguém que, no futuro, seja capaz de reposicionar-se, de mudar seus rumos. A ideia - que já defendi em livro - é que o aluno aprenda as várias linguagens do mundo, mais que o conteúdo de cada uma delas. Por exemplo, antropologia e economia veem a sociedade de maneiras distintas. Se os futuros profissionais souberem quando precisam mudar de ferramenta mental, estarão mais aptos a lidar com o imprevisto, a diferença, a surpresa, as mudanças na vida.

Preparar um jovem para as surpresas da vida

Isso, também, porque cada vez menos formados trabalham na profissão que escolheram na faculdade. Engenheiros se tornam gerentes de banco, porque seu principal trunfo nem sempre é saber construir casas ou pontes, mas sim dominar o raciocínio mais prático que existe. Formados em filosofia se espalham pelas profissões, porque sabem mudar de forma de pensamento - de "paradigma", se quiserem - velozmente. Em 2007, o presidente do Conselho Nacional de Educação dizia que um terço dos formados em medicina, um dos cursos mais caros que há, não atuava como médico. Dos diplomados em direito e administração, a grande maioria trabalha em outra área. A meu ver, isso deveria reduzir o stress na escolha do curso universitário: é bem possível que meu filho ou o seu mude de rumo, na faculdade ou depois dela, e isso pode ser um êxito, não uma falha.

Mas há também a educação básica. As avaliações, em especial o IDEB, permitem medir de maneira acurada as escolas do Brasil inteiro. Uma pessoa responsável deve levá-las em conta na hora de escolher a escola do filho. Quem paga a escola diretamente deve cobrar-lhe resultados. Quem a paga pelo imposto, colocando o filho na escola pública, deve exigir dos governantes que tenha qualidade.

Aqui há um alerta a fazer. As avaliações de desempenho das escolas se focam no êxito - ou fracasso - delas na transmissão de conhecimentos. Verificam, por exemplo, se no primeiro ano de escolaridade a criança aprendeu as operações básicas da aritmética, a ler e a escrever. Não medem a qualidade da formação do ser humano. Tenho uma recomendação aos pais. Quando escolhi a escola do meu filho, vi as três melhores do bairro - com base nas avaliações do Ministério da Educação - e depois as visitei. Procurei entender o projeto, a filosofia de cada uma, para além das notas do IDEB. Porque, afinal, numa cidade grande, a diferença entre as cem melhores escolas pode ser pequena. E dificilmente uma avaliação medirá se a escola forma uma pessoa ética e com iniciativa.

São esses os dois pontos principais na formação de uma criança ou adolescente: deve se tornar um ser humano íntegro, e ao mesmo tempo o mais criativo possível. Mas não é tão fácil unir estas duas qualidades. Muita ênfase na iniciativa pode levar a uma formação competitiva demais - com o risco de não respeitar o outro, de atropelá-lo. E não podemos confundir o respeito aos outros com o respeito à autoridade. Nas minhas visitas encontrei um colégio que apresentava, como virtude a valorizar naquele mês, a obediência. Ora, respeito não é obediência. Respeito se dirige a todos e institui um mundo de iguais. Já a obediência geralmente é vertical, é do subordinado em relação ao superior. Uma pessoa criativa e com iniciativa deve ser respeitosa, mas será obediente? Não muito.

Temos assim rumos diferentes para a educação aprimorar as pessoas, dando-lhes instrumentos para crescer na vida - e não apenas pela ascensão social. Na verdade, o mais importante da educação é o que fica dentro da pessoa: sua formação. E esta é uma das vantagens da educação, sobre o consumo, na inclusão social: o que você consome se esvai imediatamente e precisa ser substituído; já a pessoa que você se tornou não se perde. É sua para sempre. O trabalho da educação é mais consistente.

TeVê

Estado de Minas: 03/02/2014

TV PAGA » Cinema especial


 (Arte 1/Divulgação)


De hoje a domingo, o canal Arte 1 vai promover uma sessão especial de cinema, com clássicos dirigidos por alguns dos mais conceituados diretores brasileiros, sempre na faixa das 21h30. Apresentada por Gisele Kato e Sérgio Rizzo, a Semana cine clube Arte 1 clássicos abre com um curta e na sequência será exibido um longa-metragem. Começa esta noite com O pátio (foto), primeiro filme de Glauber Rocha, e São Paulo sociedade anônima, de Luís Sérgio Person.

Muitas alternativas na  programação de filmes

Outros destaques do pacotão de cinema: Amigas com dinheiro, às 21h, no Comedy Central; O último exorcismo – Parte 2, às 22h, no Telecine Premium; Guerra dos mundos, às 22h, na MGM; Quarteto Fantástico e o Surfista Prateado, às 22h30, na Fox; e As férias de Mr. Bean, também às 22h30, no Megapix.

Edward Burns faz papel  de mafioso em Mob City

Estreia hoje, às 22h30, na TNT, a série Mob City. Serão dois episódios em sequência, introduzindo a trama, que é baseada em histórias reais, envolvendo a guerra contra o crime organizado na Los Angeles dos anos 1940. No elenco estão Edward Burns, Ron Rifkin, Neal McDonough, Jeffrey DeMunn e John Bernthal.

Série desafia público a  desvendar experimentos    
No Nat Geo, a novidade é a série Desafios mentais, que estreia às 20h. A produção começa com episódio duplo: “Água e fogo” e “Forças naturais”. O engenheiro Tim Shaw apresenta o programa, conduzindo uma série de experimentos que envolvem ciência, física e engenharia.

Face off emplacou mais  uma temporada no Syfy
No Syfy, estreia hoje, às 22h, a quinta temporada do reality show Face off. Apresentado pela atriz e cantora McKenzie Westmore, a atração reúne oito novos artistas em uma competição contra os participantes de edições anteriores. A tal disputa envolve técnicas de maquiagem de efeito especial.

Surrealismo dá o tom  de animação do Cartoon
Novidade também para a garotada, com a estreia da animação Titio avô, às 21h15, no Cartoon Network. O avô mágico que protagoniza a série tem a missão de viajar pelo mundo e mudar a vida das pessoas. Para tanto, ele conta com a ajuda de um dinossauro, um pedaço de pizza tagarela, uma tigresa gigante e uma pochete cheia de surpresas.

Confira a homenagem  de Gil para Bob Marley

O documentário Kaya N’Gan Daya, que vai ao ar hoje, às 22h30, no canal Curta!, traz o registro do show com o repertório do disco homônimo, gravado em 2011 por Gilberto Gil. Como o título sugere, foi uma homenagem do músico baiano ao pioneiro do reggae jamaicano Bob Marley.



CARAS & BOCAS » Soltando a voz



Lívia Andrade gravou uma versão de   Erva venenosa para a novela Chiquititas     (Fabio Tieri/Divulgação)
Lívia Andrade gravou uma versão de Erva venenosa para a novela Chiquititas


Bonita, todos vão concordar que Lívia Andrade é, e muito. Talento como atriz, sim, também, como já demonstrou, especialmente fazendo comédia. Agora, cantora? Pois este é o novo desafio que a jovem vem encarando já tem um tempinho. Sua nova incursão na área foi a regravação de Erva venenosa, antigo sucesso de Rita Lee – na verdade um original de Jerry Leiber e Mike Stoller –, para a trilha sonora da novela Chiquititas, do SBT/Alterosa. Depois de lançar a dupla de funk Liberta com Roberta Tiepo, ela parte para a carreira solo.
A canção é o tema da personagem Matilde, irmã gêmea de Ernestina e vilã na novelinha adolescente.

Cauã Reymond agora vai  contracenar com Cleo Pires


 Aparentemente neutro às notícias na imprensa sobre o fim de seu casamento com Grazi Massafera e o início de um romance com Isis Valverde, Cauã Reymond não para de trabalhar. O ator será visto em breve na série O caçador (Globo). Na trama, ele interpreta um policial que se encanta pela mulher do irmão, vivida por Cleo Pires.

Rede Jovem de Cidadania  festeja a Guarda de Congo


O programa Rede jovem de cidadania faz hoje um registro da festa anual de Nossa Senhora do Rosário, realizada pela Guarda de Congo Feminina, do Bairro Aparecida, Região Noroeste de Belo Horizonte. Essa guarda existe há 37 anos e remonta a outra mais antiga na região: a Guarda de Congo dos Caducos. Confira às 17h30, na Rede Minas.

TV Cultura eleita segunda  melhor emissora do mundo


Essa é de dar inveja na concorrência: a pedido da BBC, um levantamento foi feito em 14 países com mais de 7 mil pessoas e a TV Cultura foi apontada como a segunda emissora de televisão de maior qualidade no mundo, ficando atrás apenas da BBC One. Depois da Cultura, a próxima brasileira da lista é a Globo, que ficou com a 28ª posição. Foram votadas ainda TV Brasil (32º lugar), Bandeirantes (35º), Record (39º) e o SBT (40º).

Aberta votação para a fase  inicial do Prêmio Multishow


Já estão abertas as votações para a primeira fase do Prêmio Multishow 2014. No site premiomultishow.com.br, os internautas podem indicar seus artistas preferidos em sete categorias: melhor cantor, cantora, grupo, música e show, além das novidades Experimente e Música-chiclete. Depois, os cinco mais votados em cada categoria passam para a segunda fase, que rola até o dia anterior à entrega do prêmio.

Nova série do Nickelodeon
bota as crianças na cozinha


A Nickelodeon anunciou durante a conferência anual da NATPE (sigla em inglês para Associação Nacional de Executivos de Programação de Televisão), em Miami, sua nova série de ficção, em parceria com a Somos Production. Com 40 episódios, La cocina de Talia será produzida em alta definição para o mercado latino-americano, incluindo o Brasil. A produção tem como protagonista uma chef de cozinha de apenas 12 anos!

Grito de carnaval

A festa de Momo está cada vez mais perto, e o Viva o sucesso vai dar seu grito de carnaval na sexta-feira, abrindo uma seleção especial de sambistas consagrados para preparar o público para a folia. Artistas como Arlindo Cruz, Diogo Nogueira, Beth Carvalho, Alcione e Jorge Aragão contam suas trajetórias em dois episódios semanais, às sextas-feiras, às 21h15, e sábados, às 21h30, no canal viva (TV paga). Os assinantes poderão conferir reapresentações de depoimentos reveladores e até mesmo curiosos, como o de Zeca Pagodinho: “Um dia tomei umas cervejas a mais e cheguei no Faustão meio balançando. Minha mãe me deu um esporro! Nunca mais. Quando vou fazer televisão não vou nem na rua”.

viva

O Superbonita especial de verão tem chamado a atenção nas noites de segunda-feira, no GNT (TV paga). Hoje, às 21h30, Luana Piovani destaca a beleza das paulistanas, como a atriz Alessandra Negrini.

vaia

A RedeTV! anuncia a volta da transmissão de combates de MMA, com a primeira edição brasileira do Xtreme Fighting Championships, sábado que vem. Pode até ser esporte, mas é violento demais.

Tiradentes, marcada pela exibição de filmes sobre relações entre pessoas do mesmo sexo‏

Liberdade de escolher 
 
A vizinhança do tigre, do mineiro Affonso Uchoa, foi o destaque da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, marcada pela exibição de filmes sobre relações entre pessoas do mesmo sexo 


Carolina Braga *
Estado de Minas: 03/02/2014


No encerramento da mostra, a equipe que trabalhou no longa A vizinhança do tigre foi muito aplaudida pelo público no Cine Tenda   (Túlio Santos/EM/D.A Press)
No encerramento da mostra, a equipe que trabalhou no longa A vizinhança do tigre foi muito aplaudida pelo público no Cine Tenda



Tiradentes – Não há como não reconhecer que foi um rebu. Sim, o beijo de Niko e Félix no capítulo final da novela Amor à vida, da Globo, teve aplauso em bar, virou sensação nas redes sociais e tema de conversa. Mas, se o próprio Félix estivesse entre nós, ele soltaria um sonoro “hellooo” para acordar a sociedade. Mesmo com toda a carga histórica que a cena possa ter, o tema é importante, mas velho e ultrapassado, pelo menos para a galera que faz o cinema brasileiro. Não é de hoje que a Mostra de Cinema de Tiradentes reflete isso. Repulsa do público? Que nada.

Vencedor do prêmio aquisição do Canal Brasil (TV paga), com exibição garantida nos próximos dois anos na telinha, o curta Quinze, de Maurílio Martins, mostrou por aqui a relação de duas mulheres, às vésperas da festa de 15 anos de uma delas. A discussão sobre pais homossexuais também ocupou a tela do Cine Praça no curta documental Meu amor que me disse, de Cátia Martins Nucci. Até o amor entre Batman e Robin saiu do armário no longa Batguano, do paraibano Tavinho Teixeira, um dos concorrentes da Mostra Aurora. Tudo nesta 17ª edição.

Lirismo

“É um casal como outro qualquer. Duas pessoas que se gostam. Acho que ser um tabu na TV é ridículo porque isso é uma coisa que faz parte da vida da gente”, disse a estudante de cinema Maria Vitória Oliveira, na saída da sessão de O uivo da gaita, de Bruno Safadi. “Esse filme é um ótimo exemplo de como poetizar qualquer tipo de relação, independentemente se é homem ou mulher”, completou a também estudante Andrea.

Com Leandra Leal e Mariana Ximenes como protagonistas, O uivo da gaita é o tipo de produção que poderia sim dar o que falar para os moralistas. No longa exibido na tarde de sábado, Antônia (Mariana Ximenes) tem um companheiro, Pedro (Jiddu Pinheiro), mas se apaixona por Luana (Leandra). Eles até que tentam uma relação a três, mas a atração entre elas não deixa espaço para o homem. Isoladas, elas se permitem ter uma relação íntima, de entrega. O modo como as cenas são filmadas deixa clara a escolha pela delicadeza e o lirismo em cenas de beijos e sexo.

“Entendo que seja mais complicado para a televisão chegar a esse lugar, somos um país continental. Mas ao mesmo tempo acho que tem o dever de fazer isso, mostrar com naturalidade, como uma escolha do amor. Sempre falei que achava um absurdo ser permitido dar um tiro, matar, esfaquear e não duas pessoas se beijarem em um ato de amor”, argumenta Leandra Leal. Ela, que planeja estrear como diretora no próximo ano, se diz surpreendida com a “caretice brasileira”.

Atualmente Leandra Leal está montando seu primeiro documentário. Para chegar a esse ponto com Divinas divas, que registra a trajetória de oito travestis brasileiros, precisou recorrer a financiamento colaborativo, tipo crowdfunding, porque foi impossível conseguir patrocínio. “É muito triste que ainda hoje no Brasil a questão do gênero seja um tabu e a questão da velhice também. É um preconceito muito enraizado no Brasil”, reconhece.

Mariana Ximenes e Leandra Leal estrelam O uivo da gaita, que fala do amor entre pessoas do mesmo sexo   (Ludwig Maia Arthouse/Divulgação )
Mariana Ximenes e Leandra Leal estrelam O uivo da gaita, que fala do amor entre pessoas do mesmo sexo


Provocação

Para Maurílio Martins, diretor de Quinze, é de se lamentar o fato de um beijo gay na televisão ter tamanha repercussão. “Assusta-me quando a televisão toma isso como uma questão: um beijo entre dois personagens masculinos ser uma notícia. Como a nudez ainda é uma questão na televisão, o corpo ainda é uma questão”, critica. O desejo dele era fazer um filme sobre mulheres. Desde que o roteiro ficou pronto, em nenhum momento o fato de ter um casal lésbico na trama foi tema de conversas. “Quando as pessoas da minha casa viram, não teve nenhum comentário. Tenho uma mãe de 73 anos e sobrinhos adolescentes que viram. Por essa percepção de família acho que para o cinema não é uma questão.”

“O público não está preparado para quê? Para as pessoas serem, existirem”, desabafa o diretor paraibano Tavinho Teixeira. Figura bem-humorada, o diretor produziu e protagonizou Batguano, sobre a relação de amor de Batman e Robin, dois ícones da cultura pop. O longa, que se passa em 2030, tem cenas ousadas do romance dos dois. “A função do cinema é justamente quebrar os paradigmas e toda essa moralidade cristã que a televisão ressalta”, proclama.

Tavinho observa com ironia toda a discussão gerada em torno do desfecho de Félix e Niko. “Hoje é moderno ser gay. É engraçado, é como se a TV tivesse aceitado”, diz. Como lembra, o primeiro casal lésbico da telinha gerou tamanha repulsa em alguns setores que foi preciso aniquilar as personagens de Christiane Torloni e Silvia Pfeifer em Torre de Babel. Eis que 15 anos depois o vilão da novela das nove se arrepende de seus erros e vira o mocinho da trama ao lado do companheiro.

Batguano, O uivo da gaita e Quinze são produções que mostraram relações entre pessoas do mesmo sexo nesta edição da Mostra de Cinema de Tiradentes sem carregar qualquer bandeira. É a vida. É natural. “Não é uma questão, é uma condição. Afirmar a vida até o último oxigênio. Estamos aqui, que experiência incrível é esta de existir”, resume Tavinho.

Formando plateias

Mais uma vez a Mostra de Cinema de Tiradentes reafirmou sua escolha em ser espaço para o cinema com investigação de linguagem, pesquisa e rompimentos com padrões. É necessário que existam espaços assim no calendário de festivais no Brasil, seja para escoar a produção de novas gerações, seja para descobrir os nomes que darão continuidade ao cinema nacional. Mas a cada edição há algo a considerar em relação ao público de Tiradentes.

Sabe aquele senhor que mora na cidade e aproveita uma única temporada do ano para ir ao cinema? Pois é. Existem dúvidas se ainda há espaço para ele na programação, por mais que os filmes exibidos no Cine Praça tentem cumprir essa função. Será que a obsessão pelo novo, pelo diferente, não estaria afastando quem é da cidade e sempre esperou janeiro chegar para se encontrar com o cinema? Será que há como o jovem cinema de invenção conviver com produções mais acessíveis àqueles que não têm tanta referência cinematográfica? Que tal procurar o equilíbrio na diversidade da produção brasileira?

De acordo com a organização da mostra, 35 mil pessoas passaram por Tiradentes durante os nove dias do evento. Foram exibidos 134 filmes em 54 sessões, no Cine Praça, Cine Tenda e Cine Teatro, todas com entrada franca. Além disso, foram realizados 22 seminários que tiveram os filmes ou o processo de produção no centro das discussões. Prestes a alcançar a maioridade, a Mostra de Cinema de Tiradentes é um evento consolidado no calendário. Que continue apostando no novo, mas sem se esquecer daquele público .

Vizinhos

O retrato ousado de um grupo de amigos da periferia da cidade mineira de Contagem abordado em A vizinhança do tigre fez de Affonso Uchoa o grande vencedor da 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes. O longa foi escolhido melhor filme pelo Júri da Crítica e pelo Júri Jovem e levou o Prêmio Itamaraty, no valor de R$ 50 mil, além de serviços e materiais cinematográficos dos parceiros da mostra. Branco sai preto fica, de Adirley Queirós, ganhou menção honrosa de ambas as comissões. O curta vencedor da Mostra Foco foi E, de Alexandre Wahrhaftig, Helena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos. O Júri Popular elegeu respectivamente o curta Diários daltônicos, de Patrícia Monegatto, e o longa Cidade de Deus: 10 anos depois, de Cavi Borges e Luciano Vidigal.

* A repórter viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes

Caça ao tesouro de Joaquina‏

Caça ao tesouro de Joaquina 
 
Crença de que Dama do Sertão enterrou presente de dom João VI debaixo do seu casarão, demolido em 1954, leva curiosos a Pompéu com equipamentos que detectam metais 


Paulo Henrique Lobato
Estado de Minas: 03/02/2014


Vandeir percorreu a região com um detector de metais em busca do tesouro. Sempre que acha algo valioso, doa para museus ( Paulo Henrique Lobato/EM/D.A Press  )
Vandeir percorreu a região com um detector de metais em busca do tesouro. Sempre que acha algo valioso, doa para museus

Pompéu – Desde pequena, a agricultora Léia Faria, de 39 anos, ouve histórias de que um tesouro está enterrado no lugar onde existiu o casarão de Joaquina Bernarda da Silva de Abreu Castelo Branco (1752-1824), uma importante personagem mineira do século 19 e com estreitos laços com a família real portuguesa. Em 1808, por exemplo, ela enviou centenas de gados e outros mantimentos para matar a fome de dom João VI (1767-1826) e dos cerca de 10 mil súditos que fugiram da invasão das tropas de Napoleão Bonaparte (1769-1821) e desembarcaram, no Rio de Janeiro, sem alimentação suficiente para todos. Já em 1822, Joaquina enviou tropas de cavalos e mantimentos para reforçar o exército de dom Pedro I (1798-1834) na luta pela independência do Brasil.

O tesouro em questão seria um presente de João VI em gratidão à ajuda financeira de Joaquina. Há quem acredite que se trata da escultura de um cacho de bananas folheado com ouro. Outros afirmam que o objeto tem o formato de uma única banana coberta com pó do precioso metal. Ainda há quem sugere um pote com objetos valiosos. Muita gente, porém, alerta que tudo não passa de uma lenda que surgiu em razão da riqueza acumulada por Joaquina, considerada uma grande empreendedora à frente de seu tempo.
Cemitério dos escravos de dona Joaquina também é alvo da caça ( Paulo Henrique Lobato/EM/D.A Press  )
Cemitério dos escravos de dona Joaquina também é alvo da caça

Ela deixou aos herdeiros, segundo escreveu o historiador Gilberto Cézar no artigo “As duas faces da matriarca”, publicado na edição de 14 junho de 2008 da Revista de História, “11 fazendas, 40 mil cabeças de gado e algumas centenas de escravos, fora baixelas de prata e bandejas e barras de ouro, entre outros tesouros”. Para se ter ideia do tamanho das terras da amiga da corte, basta dizer que suas fazendas abrangiam áreas que hoje pertencem às cidades de Abaeté, Dores do Indaiá, Paracatu, Pitangui, Pequi, Papagaios, Maravilhas, Martinho Campos e Pompéu.
Foto de 1945 mostra casarão onde Joaquina pode ter enterrado o presente (Raquel Mascarenhas Viana/Divulgação)
Foto de 1945 mostra casarão onde Joaquina pode ter enterrado o presente

Foi nessa última cidade que Joaquina e o marido, o capitão Inácio de Oliveira Campos, passaram os últimos anos de vida. O sobrado-sede, com 79 cômodos, foi erguido de esteio de aroeira, em sistema de pau a pique, no Pompéu Velho, um povoado a 22 quilômetros de Pompéu e a 190 de Belo Horizonte. O imóvel foi derrubado em 1954. “Pessoas acreditavam que debaixo do solar havia um saco de ouro ou outra peça do metal e associaram a existência (do tesouro) à derrubada do imóvel”, disse Hugo de Castro, coordenador do Centro Cultural Dona Joaquina do Pompéu.

ESPERANÇA O certo é que, de lá para cá, muita gente revirou aquele solo na esperança de encontrar algum objeto de valor e – quem sabe – até mesmo o cacho de banana folheado em ouro. Léia, a agricultora, mora a menos de 100 metros do terreno, hoje ocupado por um canavial. Ela mesma cavacou a terra e retirou dois objetos antigos. O primeiro é uma enxada com a lâmina toda enferrujada. A ferramenta teria sido usada por escravos de Joaquina e foi negociada a um colecionador fora de Pompéu por R$ 700: “Eu precisava do dinheiro”.

O segundo objeto encontrado por Léia tem cerca de 20 centímetros e é exibido com orgulho pela mulher. Trata-se de uma chave de ferro de uma das janelas de madeira da antiga fazenda. A agricultora já garimpou ofertas pela peça, mas o valor oferecido por um senhor da sede do município está bem aquém do que ela deseja. “Ele me ofereceu R$ 150. Acho que a chave vale bem mais do que isso. Para mim, uns R$ 600 ou R$ 700”, completou a moradora, mãe de dois filhos e que ganha a vida vendendo alface e outras verduras numa feira na região. Léia não se importa em mostrar a chave a visitantes que buscam conhecimentos sobre Joaquina. Vários deles foram lá para, como diz a agricultora, “revirar a terra”.

Nem todos, porém, querem fazer fortuna às custas da amiga de João VI. Há quem chegue ao Pompéu Velho apenas para pesquisar o local. Foi o que fez, no último domingo, Vandeir Santos, morador de Contagem. Apaixonado pela história do Centro-Oeste mineiro, ele já percorreu diversas partes da região equipado com seu detector de metal. Quando acha algum objeto antigo, o doa para museus. Há dois anos, numa mina de ouro desativada em Pitangui, que fica a 90 quilômetros de Pompéu, Vandeir encontrou um ponteiro de ferro do século 18 e o doou ao acervo do museu do município. Em Pompéu, porém, ele não teve a mesma sorte.

SINAIS Vandeir percorreu parte do terreno com seu detector. O equipamento emitiu alguns sinais, mas o barulho foi provocado pelo arame de uma cerca debaixo de algumas árvores de mamonas. Ele ainda tentou garimpar algo no antigo cemitério dos negros, mas o aparelho só apitou nas proximidades de outra cerca de arame farpado.

Em seu livro Dama do Sertão, Antônio Campos Guimarães descreve uma ordem de Joaquina ao mestre de obras Tomé Dias: “Tomé: quero construir, a quatrocentos metros do lado esquerdo do casarão, um cemitério com uma capela e uma cruz de aroeira para a minha família (cemitério dos brancos). Do mesmo lado, distante mil metros, um cemitério para os meus escravos (cemitério dos negros), cercado com lascas de aroeira, bem fundo, para que os tatus não comam os meus negros depois de mortos, e uma cruz do mesmo tamanho da cruz do cemitério da minha família”.

Tanto o cemitério dos brancos, onde está sepultado o corpo de Joaquina, quanto o dos negros estão às margens da estrada de terra que liga Pompéu a Papagaios. Os dois locais são pontos turísticos da região, mas foram alvos da ação de vândalos. A capela do cemitério dos negros e o piso em seu entorno devem ser reformados pela prefeitura.
Léia encontrou chave antiga quando esvacou o terreno ( Paulo Henrique Lobato/EM/D.A Press  )
Léia encontrou chave antiga quando esvacou o terreno

MEMORIAL
O Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, Artístico e Histórico de Pompéu pretende construir uma praça ou um marco no local onde havia o casarão de dona Joaquina. “Seria uma extensão do museu. Os moradores da região poderiam, inclusive, vender (mimos) relacionados à memória da Dama do Sertão, aumentando a renda deles”, disse Hugo de Castro.

Eduardo Almeida Reis - Explicação‏

Explicação 
 
Como é possível que um doente esteja firme e seguro, se ninguém fora dos hospitais está? 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 03/02/2014



Foi num hotel do Bairro Higienópolis, em São Paulo, no ano de mil novecentos e muito antigamente. Pela manhã, no lobby, conheci o casal Antônio de Carvalho Barbosa, muito simpático, educado, paciente com a tietagem de três meninas que moravam na roça fluminense. De noitinha, no mesmo lobby, conheci Tarcísio Magalhães Sobrinho e Nicelde Soares Magalhães, também educadíssimos e muito simpáticos, suportando a tietagem das três meninas.

O leitor e a humanidade conhecem os casais Lidiane e Tony Ramos, Glória Menezes e Tarcísio Meira. Portanto, o hotel em que nos hospedamos devia ter convênio com a Globo para alojar tantas estrelas globais. De Antônio de Carvalho Barbosa diz a Wikipédia em italiano: “Sposato dal 1969 con Lidiane Barbosa, Tony Ramos ha due figli, Rodrigo e Andrea, laureati rispettivamente in medicina e diritto. Tony Ramos passa in Brasile per marito e padre modelo, ed è descrito da tutti i colleghi come uma persona d’animo particolarmente sensibile e di grande onestà morale”.

Por isso, a empresa Friboi, controlada pela JBS S.A. “the largest multinational food processing company in the world” obrou muito bem quando associou aos seus produtos a figura de Tony Ramos. Os resultados já se fazem sentir no Brasil inteiro. Hoje cedo, quando abri a geladeira para pegar os ingredientes do café da manhã, havia imensa peça de filé-mignon Friboi adquirida pela gerente do departamento de compras aqui do apê. Sinal de que terei rosbife caprichado no final de semana.

Estável
A mídia deu para informar, baseada nos laudos médicos ou em sabe-se lá o quê, sobre o estado que “permanece estável” de muitos pacientes. Em primeiro lugar, se permanece é claro que só pode ser estável. Contudo, nenhuma das acepções de estável se aplica aos pacientes, como passo a demonstrar.

Nosso belo Houaiss diz que estável é firme, seguro. Como é possível que um doente esteja firme e seguro, se ninguém fora dos hospitais está? Diz ainda que significa “que não varia, inalterável, invariável” e todos os organismos humanos variam sem parar, estejam ou não internados em hospitais.

“Que se mantém constante, que perdura, duradouro”: como? Basta estar internado para que não exista a menor garantia de perdurar, como também não têm garantias os que estão aqui fora.

As outras definições são no campo jurídico e na física, que não se aplicam aos doentes. Outra ousadia é afirmar que uma pessoa não corre risco de morte ou risco de (perder a) vida. Basta nascer para correr esse risco. Alfim e ao cabo, viver é muito perigoso, como disse João Guimarães Rosa, mineiro de Cordisburgo, filho de Florduardo Pinto Rosa. Em vez de estável, seria melhor dizer que o Fulano permanece internado sem previsão de alta.

Mosca
Ainda que não seja tão perigosa quanto os mosquitos que transmitem a dengue e a malária, a mosca doméstica reina absoluta no item chatura. De ocorrência universal, tem sido muito estudada. Dizem que transmite a febre tifoide, o carbúnculo, o cólera-morbo e algumas formas de conjuntivite e disenteria. A transmissão dos agentes patogênicos dá-se através das patas ou do aparelho bucal do inseto.

Uma só mosca chateia uma pessoa, sobretudo e principalmente quando à mesa das refeições. Nas fazendas, quando as residências são muito próximas dos currais, o fazendeiro e sua família dividem o espaço com milhões de moscas, salvo quando as janelas e portas são teladas, sem dispensar os esguichos venenosos dentro das casas.

O assunto mosca veio à balha, que continua sendo mais chique do que vir à baila, agora que o tempo esquentou. Tenho tido a companhia dos insetos à mesa e na sala da poltrona da tevê. Presumo que não se encontrem moscas nos invernos rigorosos do hemisfério norte. Entre o frio e o inseto, prefiro a mosca.

O mundo é uma bola

3 de fevereiro de 1488: Bartolomeu Dias desembarca em Mossel Bay, África do Sul, depois de dobrar o Cabo da Boa Esperança, sendo o primeiro europeu a fazê-lo. Em 2010, um Philosopho amigo nosso escapou de visitar a África do Sul para cobrir a Copa do Mundo a serviço do Estado de Minas. Já pensaram? Devo a dispensa ao nosso diretor de Redação, que temeu pela vida do cronista.

Em 1536, Pedro de Mendoza funda a cidade de Buenos Aires, hoje sob comando de Cristina Fernández de Kirchner, que não vai lá das pernas. Um deputado argentino vem de apresentar projeto de mudança da capital do país para o norte, onde faz um calor dos diabos.

Em 1894 é tocado pela primeira vez o Hino dos Açores. A letra começa assim: Deram frutos a fé e a firmeza/ no esplendor de um cântico novo:/ os Açores são a nossa certeza/ de traçar a glória de um povo.

Em 1917, durante a Primeira Guerra Mundial, os EUA rompem relações com a Alemanha. Em 1969, Yasser Arafat é nomeado líder da OLP no Cairo. Outro dia, examinando seus ossos, cientistas isentos concluíram que ele morreu de morte morrida.
Hoje é o Dia da Navegação no São Francisco.

Ruminanças

“Em todas as famílias há sempre um imbecil. É horrível, portanto, a situação do filho único” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, 1895-1971).

Doses de ouro contra o mal das articulações

Estudo aprovado pelo CNPq na área de medicina integrativa vai ser desenvolvido em Minas, associando o metal à cavalinha para combater a artrite reumatoide



Celina Aquino
Estado de Minas: 03/02/2014






O ouro pode voltar a integrar o arsenal terapêutico da artrite reumatoide. Indicado desde o século 20 para pacientes que desenvolvem a doença, que leva a uma inflamação das articulações, o metal deixou de ser usado por causar, a longo prazo, efeitos colaterais. Aprovada no primeiro edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) voltado para a área de medicina integrativa, uma pesquisa mineira investigará nos próximos dois anos a eficácia e o impacto de um medicamento com ouro ligado à antroposofia, ciência que estuda plantas, metais e minerais. A Sociedade Brasileira de Reumatologia alerta, no entanto, que tratamentos alternativos não devem substituir os tradicionais.

“O ouro é considerado um modificador do curso da doença. A inflamação desaparece e o estado geral do paciente melhora, mas o depósito dele nos tecidos provoca grandes efeitos colaterais”, esclarece a clínica geral, especialista em antroposofia aplicada à saúde, Ana Maria de Araújo Rodrigues. Apesar da eficácia, o uso continuado gera consequências como problemas nos rins e lesão na medula. Por isso, a pesquisadora decidiu testar uma nova forma de aproveitar o metal, seguindo o método antroposófico. Ao evaporar, o ouro perde a ação densa sobre órgãos e tecidos do corpo humano, responsável pelos efeitos colaterais, mas não perde suas propriedades terapêuticas. Em casos de artrite reumatoide, ele ajuda por ser anti-inflamatório, antidepressivo e imunogênico (agente que melhora a imunidade).

No estudo que será realizado no Ambulatório de Reumatologia da Santa Casa de Belo Horizonte, o metal será associado pela primeira vez a uma planta abundante no Brasil: a cavalinha. “Ela é osteogênica, pois regenera os ossos, anti-inflamatória, cicatrizante e contém silício, o maior componente dos ossos junto com o cálcio”, destaca a especialista, acrescentando que tem alcançado bons resultados com as duas substâncias para tratar a artrite reumatoide. Ana Maria comenta que os medicamentos antroposóficos, usados há 30 anos no Brasil, são autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em Belo Horizonte, eles são disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde 1994.

Setenta e cinco mulheres com grau de inicial a moderado de artrite reumatoide – que ainda serão recrutadas – usarão por seis meses o medicamento antroposófico Aurum metallicum/Equisetum arvense. Além de analisar a eficácia das substâncias, os pesquisadores vão testar uma nova maneira de administrar a medicação. Ana Maria explica que as voluntárias receberão as doses por via subcutânea, método menos doloroso e que permite ao paciente aplicar sozinho, seja na perna ou no braço, duas vezes por semana. Os outros participantes tomarão o medicamento em gotas, duas vezes ao dia.

No tratamento convencional da artrite reumatoide, utilizam-se medicamentos para alívio da dor, entre analgésicos, corticoides e anti-inflamatórios, e outros de uso contínuo que previnem lesões nas articulações, em especial o metotrexato, usado em todo o mundo. Integrante da equipe de pesquisadores que vão analisar a eficácia do ouro, a reumatologista Adriana Kakehasi pontua que uma parcela dos pacientes não responde bem ao uso da droga, porque desenvolve intolerância ou sofre com efeitos colaterais, daí a necessidade de se buscar alternativas. “É preciso entender que alguns pacientes sempre vão se beneficiar de alternativas. O ouro não vai ser pior nem melhor, vai ser mais uma possibilidade”, defende a professora do Departamento do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e coordenadora do Ambulatório de Artrite Reumatoide do Hospital das Clínicas.

Adriana conta que muitos pacientes já chegam ao consultório com o interesse de associar a medicina alopática à integrativa. “Indico desde atividade física até acupuntura e homeopatia. Desde que não faça mal à saúde, só tem a ajudar. Um tratamento trabalha em colaboração com o outro.”


Aliado do tradicional A coordenadora da Comissão de Artrite Reumatoide da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Licia Maria Henrique da Mota, revela que 75% dos pacientes recorrem a tratamentos alternativos. Diante da necessidade de uso contínuo da medicação e da falta de perspetiva de cura, eles tentam buscar outras soluções. Apesar de concordar com o uso de terapias que não trazem malefícios, a reumatologista adianta que não é possível comprovar a eficácia da maioria delas para tratar a doença.

“Para a quase totalidade não há evidências de que tragam benefícios. Isso sempre deve ser comunicado ao médico para que ele possa avaliar com muito cuidado. Mas orientamos que, em hipótese alguma, o tratamento alternativo deve substituir o convencional. Ele deve ser um aliado”, opina a médica, que também é professora de pós-graduação da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB).

Como revela Licia, o cenário do tratamento da artrite reumatoide no Brasil é um dos mais favoráveis em todo o mundo. As opções eram limitadas há três décadas, mas hoje os pacientes podem contar com uma gama de alternativas terapêuticas voltadas para a doença que são oferecidas pelo SUS. A reumatologista comenta que o metotrexato apresenta eficácia adequada, o que acabou contribuindo para que medicações menos seguras, incluindo o ouro, fossem substituídas ao longo do tempo.