Correio Braziliense - 11/12/2013
Relatório que afirma que JK foi vítima de conspiração será entregue a Dilma
Comissão da Verdade de SP quer que governo e Justiça reconheçam que ex-presidente foi vítima de conspiração
Felipe Canêdo
No telão, as imagens do carro que levava Juscelino são mostradas durante a leitura do relatório da comissão |
O relatório divulgado nessa terça-feira (10/12) pela Comissão da Verdade Vladimir Herzog, de São Paulo, que atesta que o ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, morto em agosto de 1976, foi assassinado, será enviado à presidente da República, Dilma Rousseff, aos presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, e do Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL), e à Comissão Nacional da Verdade. O documento irá com pedido para que seja reconhecido que a morte de JK e de seu motorista, Geraldo Ribeiro, em um suspeito acidente na Via Dutra, foi decorrente de complô político encabeçado pela ditadura. “Queremos que seja declarado que JK foi assassinado”, pediu o presidente da comissão paulistana, vereador Gilberto Natalini (PV).
Com 90 evidências de que o ex-presidente foi vítima de um atentado, o
documento narra diversos fatos a partir do momento em que Juscelino e o
motorista dele deixaram o Hotel-fazenda Villa-Forte, que pertencia ao
brigadeiro Newton Junqueira Villa-Forte, um dos criadores do Serviço
Nacional de Informações (SNI). O texto foi elaborado com base em
depoimentos como o do motorista do ônibus Josias Nunes de Oliveira — à
época, acusado de ter batido no carro de Juscelino antes que o veículo
cruzasse o canteiro central da rodovia, na altura de Resende (RJ), e
colidisse de frente com um caminhão. Outro relato importante foi o do
perito criminal Alberto Carlos de Minas, que participou da exumação do
corpo de Geraldo Ribeiro em 1996 e viu um fragmento metálico no crânio,
mas foi impedido por policiais civis de fotografar os restos mortais.
O ex-secretário de JK Serafim Jardim acredita que o mistério sobre a morte do ex-presidente foi finalmente esclarecido. Ele confia que a Comissão da Verdade e a presidente Dilma Rousseff vão reconhecer que ele foi assassinado. “Hoje, não há como não reconhecer. O processo sobre a morte dele foi muito mal feito. Nós tivemos uma reunião com o secretário de Defesa Social de Minas Gerais, Rômulo Ferraz, onde chegaram a dizer que jogaram fora a bala que matou o motorista. Isso é um absurdo”, disse ele, indignado. Serafim lembrou o caso do jornalista Vladimir Herzog, cuja morte nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo, foi reconhecida como assassinato.
Para o historiador João Pinto Furtado, a versão de que Juscelino foi morto por uma conspiração do regime ditatorial sempre esteve em pauta e que é muito factível. “Se há interesse de elucidar esse fato e se uma investigação séria está concluindo que ele foi morto, me parece que até que isso seja contestado, essa passa a ser a hipótese oficial. Se há pessoas que podem apresentar fatos novos, este é o momento”, diz.
Operação Condor
O ex-secretário de JK Serafim Jardim acredita que o mistério sobre a morte do ex-presidente foi finalmente esclarecido. Ele confia que a Comissão da Verdade e a presidente Dilma Rousseff vão reconhecer que ele foi assassinado. “Hoje, não há como não reconhecer. O processo sobre a morte dele foi muito mal feito. Nós tivemos uma reunião com o secretário de Defesa Social de Minas Gerais, Rômulo Ferraz, onde chegaram a dizer que jogaram fora a bala que matou o motorista. Isso é um absurdo”, disse ele, indignado. Serafim lembrou o caso do jornalista Vladimir Herzog, cuja morte nas dependências do DOI-Codi, em São Paulo, foi reconhecida como assassinato.
Para o historiador João Pinto Furtado, a versão de que Juscelino foi morto por uma conspiração do regime ditatorial sempre esteve em pauta e que é muito factível. “Se há interesse de elucidar esse fato e se uma investigação séria está concluindo que ele foi morto, me parece que até que isso seja contestado, essa passa a ser a hipótese oficial. Se há pessoas que podem apresentar fatos novos, este é o momento”, diz.
Operação Condor
“Carta de 28 de agosto de 1975, atribuída ao coronel chileno Manuel Contreras Sepulveda, diretor da Dina, o serviço secreto da ditadura do Chile, e endereçada ao chefe do SNI, general João Baptista Figueiredo, alertou para o apoio de políticos democratas dos Estados Unidos a Juscelino Kubitschek e Orlando Letelier”, aponta o item 85 do relatório da comissão. Letelier, ex-ministro das Relações Exteriores do Chile, foi assassinado em Washington menos de um mês após JK ter morrido. Outra possível vítima da chamada Operação Condor, que consistia em uma aliança entre ditaduras sul-americanas e a inteligência dos EUA, é o ex-presidente João Goulart. Na semana passada, seus restos mortais foram recebidos com honras de chefe de estado em São Borja (RS), após exumação e perícia para investigar se ele foi envenenado. Ainda não há previsão para divulgação dos resultados dos exames.