quinta-feira, 28 de novembro de 2013

MARTHA MEDEIROS - Um toque da Tailândia

Zero Hora - 27/11/2013

Passei os últimos 21 dias realizando um sonho antigo: conhecer a Tailândia e, de quebra, dar um pulinho no Camboja logo ali ao lado – ainda que seja um disparate falar em “logo ali” ao referir-se à Ásia.

Acompanhada do grupo seleto comandado pelas gurias do Viajando com Arte, vivi em três semanas o que nunca imaginei possível em menos de três vidas: fiz desde um safári de elefante até rafting de jangada, fui de mergulho em alto-mar a passeio de barco por aldeias flutuantes, de luau na beira da praia a cerimônia de bênção de um monge, sem falar na apimentada aventura gastronômica e no impacto de conhecer os templos de Angkor montada numa bicicleta. Cada dia parecia possuir 40 horas, exatamente o que se deseja quando se está num ritmo frenético de trabalho, com a vantagem de o trabalho ter sido deixado pronto antes.

Os detalhes ficarão para a segunda parte de Um Lugar na Janela, relatos de viagem que um dia voltarei a publicar. Por ora, sendo o espaço curto, saliento o reencontro com algo que se tornou raro entre nós: a delicadeza.

O Oriente não grita. O Oriente sussurra.

Além de usarem um tom de voz absolutamente relaxante para nossos ouvidos estressados, nunca vi tantos sorrisos em rostos estranhos. As pessoas sorriem o tempo todo umas para as outras. Por nada. Por tudo. Trabalham sob um calor massacrante e ainda assim não se emburram, não perdem a compostura, não passam a mão na testa, parece que nada que é externo os atinge. O ar-condicionado funciona por dentro. A alma é que é climatizada.

Sua cultura não estimula o contato físico que para nós é tão normal: nem abraços, muito menos esbarrões. Não se tocam com o corpo: o contato se dá com o olhar direto e com o semblante sereno de quem, em sua infinita calma (90% da população é budista), tem tempo para ouvir os outros e para repetir informações pacientemente até que fique claro que o importante não é tocar, e sim trocar.

Até mesmo no apressado e caótico trânsito de Bangcoc, a coisa se resolve sem buzina.

Pessoas viajam pelo mundo para conhecer monumentos, comer, comprar. A atenção geralmente é voltada para o que se pode fotografar com a câmera e administrar com o bolso. A Tailândia e o Camboja são realmente fotogênicos. Quanto às compras, o mundo virou um supermercado gigante e o que se comercializa lá é vendido aqui também, compra-se mais por impulso do que pela novidade. O que não se globalizou (ainda) é o espírito do lugar, e isso é que verdadeiramente encanta: a reverência que não é submissão, mas respeito. O silêncio que não é timidez, mas educação. E flores e cores em abundância, que traduzem a importância do mínimo essencial: a beleza que não é vaidade, mas manifestação de amor à vida.

Impossível não voltar tocada.

MARINA COLASANTI » O que dizem três notícias‏

Estado de Minas: 28/11/2013 





Sempre, o jornal traz notícias que me surpreendem. Ou talvez seja a vida.
Li no início desta semana que a jovem atriz Larissa Manoela, estrela de Carrossel, vai comemorar o aniversário de 2 anos de sua cachorrinha Guilhermina com uma grande festa em São Paulo, no bufê Mega Magic. Larissa tem somente 12 anos e já ganha bem mais do que uma mesada de adolescente, basta isso para tornar o festejo aceitável, embora excessivo. Mas a notícia nos informa ainda que a aniversariante, da raça yorkshire, tem 10 fã-clubes. Sendo eu própria dona feliz de uma canina da mesma raça, me perguntei como faria para inscrevê-la em um desses clubes, e cheguei a ventilar a possibilidade de ela própria fundar um novo núcleo de admiradoras de Guilhermina. Antes, porém, de perguntar-lhe qual opção seria mais do seu agrado, abri espaço mental para perceber que quem tanto admira a cachorrinha não são seus semelhantes, mas humanos, talvez jovens. O fato de o objeto de tanta devoção desconhecê-la plenamente não parece desestimulá-los.

Li também que Betty Lagardère está se desfazendo de algumas “peças de sua coleção pessoal’’. Não de quadros ou obras de arte, como seu padrão de vida levaria a crer, e sim de itens do seu guarda-roupa, aquilo que mais modestamente chamamos de “dar uma limpa no armário”. Mas há armários e armários. Este vai ser aliviado ao bater do martelo pelos leiloeiros Soraia Cals e Evandro Carneiro. É justo, sendo Betty quem é, empresária ela mesma e viúva de Jean-Luc Lagardère, um dos maiores, senão o maior, empresários da França. O que surpreende é que, segundo a notícia, um dos itens mais cobiçados é a famosíssima bolsa Birkin, da Hermès, cujo preço quando nova pode passar, bastante, dos R$ 100 mil, e para a qual há fila de espera. Pois bem, o lance inicial para essa preciosidade será de R$ 5 mil. Como assim, só R$ 5 mil?! , pergunto-me incrédula. Imagino o digladiar-se de mulheres, a disputa feroz avançando lance a lance até alcançar cifras dignas de um Picasso. Pois se há fila para uma Birkin nova igual a todas as Birkins novas, muito mais haverá de valer aquela única, duplamente grifada por Hermès e pelo uso de Betty Lagardère.

Nunca mandei cartinha para Papai Noel. Quando tinha idade para isso vivia na Itália, em plena 2ª Guerra Mundial, e suspeito que Papai Noel estivesse lutando no front. Mas acho meiga essa credulidade ou falsa credulidade das crianças, e sempre, quando chega esta época do ano, me debruço sobre notícias e reportagens que transcrevem seus pedidos inocentes. O jornal me informa, porém, que a relação com Papai Noel está mudando. Meninos e meninas já não escrevem por acreditar que o bom velhinho atenderá seu pedido, mas porque sabem que uma campanha dos Correios estimula as pessoas a realizar o sonho dos pequenos. E já que os presentes não são mais fabricados no Polo Norte pelos ajudantes de Papai Noel, mais vale mirar alto no bom coração dos doadores. Nada de bonecas ou carrinhos. Nas cartas, as crianças não mais inocentes estão pedindo “tablets ou videogames modernos, além de TV compatível”.

Li três notícias diferentes, e foi como se tivesse lido uma reportagem sobre essa nossa sociedade de consumo que erige e se deleita com tantos bezerros de ouro.

Tv Paga

Estado de Minas: 28/11/2013


(Fernanda Grigolin/Divulgação )


Canta e conta

A cantora Fabiana Cozza (foto) é a convidada de hoje de Fernando Faro no programa Ensaio, às 23h30, na Cultura. Além de cantar, ela fala sobre suas influências, seus compositores preferidos e a turnê pela Alemanha, onde se apresentou ao lado da HR Big Band. Mais cedo, às 21h30, no Canal Brasil, Lucas Silveira, da banda Fresno, é o convidado de Moska em mais uma edição do Zoombido.

Série do SescTV vai seguir a rota do café

O programa Coleções, que vai ao ar às 21h30, no SescTV, mostra hoje a rota percorrida pelo café em Vassouras, no Vale da Paraíba (RJ), durante o período colonial, revisita a história de barões do café e de escravos e reflete sobre a atual condição turística das fazendas.

Imagina só um hotel que foi feito de gelo!

Outro documentário em destaque hoje é Hotel de gelo, às 20h, no canal +Globosat. A produção acompanha a construção do famoso hotel de gelo na Suécia, no inverno de 2004, a 200 quilômetros do círculo polar ártico. O hotel foi erguido com mais de 4 mil toneladas de gelo e atrai turistas do mundo inteiro, que buscam uma experiência totalmente diferente, inesquecível e abaixo de zero pelas suas 25 suítes, 60 dormitórios, cinema e bar.

Brinquedinhos para os meninos grandes

Um veículo de três rodas é a principal atração do episódio de hoje de Boys toys, às 21h, no canal History. É o ELF, parte bicicleta e parte carro, movido à energia dos pedais. Já falando de carrões potentes, a série mostra “brinquedos” como o Porsche 918 Spyder e o holandês RapX-S. E ainda tem uma visita à fábrica da lendária Moto Guzzi, na Itália, para apresentar a mais recente versão do modelo California 1400. E por aí vai.

Bio narra o drama de dois reféns das Farc

Um voo de rotina sobre a selva colombiana se transformou em pesadelo quando o avião bateu na aterrissagem. Os dois tripulantes foram capturados por guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e mantidos reféns durante cinco angustiantes anos. Sua história e como eles sobreviveram ao período de terror são detalhados no episódio desta noite de I survived, às 22h, no canal Bio.

Cultura traça o perfil de Abbas Kiarostami

A série Cultura mundo reservou para hoje, às 22h, o documentário Abbas Kiarostami: a arte de viver, montado a partir de duas entrevistas do mais importante diretor do cinema iraniano. Já no pacote de filmes, o assinante tem mais 10 opções na mesma faixa das 22h: Os desafinados, no Canal Brasil; Desenrola, no Telecine Fun; Protegendo o inimigo, no Telecine Premium; Todos dizem eu te amo, no Telecine Touch; A super agente, no Telecine Pipoca; Chernobyl – Sinta a radiação, na HBO; Hotel Transilvânia, na HBO 2; Jogos, trapaças e dois canos fumegantes, no Sony Spin; O último portal, no TCM; e A pele que habito, no Max. Outras atrações da programação: Escola de rock, às 19h55 , no Universal; Invictus, às 22h15, no Space; X-Men: primeira classe, às 22h30, na Fox; e Mais estranho que a ficção, às 23h, no Comedy Central.

Descoberta substância que interfere nos estágios do parasita da malária

Terapia integral contra a malária 
 
Descoberta substância capaz de interferir em todos os estágios do ciclo de vida do plasmódio, parasita causador da doença, que mata 660 mil pessoas anualmente 
 
Paloma Oliveto

Estado de Minas: 28/11/2013


Há pelo menos 5 mil anos, a malária ronda a humanidade. Manuscritos egípcios do século 3 a.C. relatam a existência de uma estranha condição médica – interpretada por muitos como uma maldição dos deuses – que provocava febre alta, acompanhada de calafrios, vômitos e fortes dores pelo corpo. Apesar de tão antiga, a doença ainda carece de um remédio de ampla atuação, que não só aplaque os graves sintomas, mas combata a ação do parasita em todas as suas fases, inclusive aquela em que está latente. Uma pesquisa publicada na revista Nature sugere que a busca por esse composto pode estar perto do fim.

Atualmente, a droga mais completa no mercado tem mais de meio século: data de 1952, quando a primaquina foi aprovada pelo Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos. Embora eficaz, a substância tem sérios efeitos colaterais, sendo o pior deles uma anemia que pode matar indivíduos com uma deficiência enzimática, comum justamente nas áreas onde a malária é endêmica, o que limita bastante seu uso.

“Além disso, é preciso tomar a primaquina por muito tempo; o tratamento prescrito pode chegar a duas semanas, então, obedecer a esse prazo pode ser um problema”, diz Elizabeth A. Winzeler, principal autora do estudo e pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Diego. Para piorar a situação, ela lembra que diversos estudos indicam o surgimento de populações de parasitas resistentes, o que diminui a efetividade dos medicamentos.

Enquanto isso, o plasmódio, transmitido para o organismo humano por meio da picada da fêmea do mosquito Anopheles infectada, tira 660 mil vidas por ano, sendo 90% dos casos concentrados na África. Elizabeth explica que o Plasmodium vivax é o mais comum em todo o mundo, enquanto que o P. falciparum é considerado o mais letal. A Organização Mundial da Saúde estima 216 milhões de ocorrências da doença no planeta, principalmente entre mulheres grávidas e crianças. “Há uma clara necessidade de encontrarmos maneiras de combater os parasitas da malária ao longo de todos os estágios do ciclo de vida deles”, diz a pesquisadora.

Enzima Elizabeth, que também é diretora do Centro de Imunidade, Infecção e Inflamação da universidade, explica que, para considerar a malária eliminada do organismo, um bom medicamento deve primeiro combater os sintomas que aparecem quando o plasmódio se instala na corrente sanguínea. A droga deve também evitar que o parasita chegue ao fígado, onde ele se reproduz. Finalmente, é preciso bloquear novas transmissões, evitando que, a cada picada de mosquito, uma pessoa afetada acabe infectando dezenas de outras. Tudo isso, de acordo com a estudiosa, pode ser feito por uma classe de antimaláricos chamados imidazopirazinas, que tem como alvo uma enzima essencial para o crescimento e o desenvolvimento do plasmódio.

Na pesquisa, os cientistas identificaram a substância orgânica PI4K, envolvida no metabolismo de ácidos graxos, como o foco do combate ao plasmódio. Isso porque ela desempenha um papel crucial em todos os estágios do ciclo de vida do parasita. Em roedores e primatas não humanos, constatou-se que as imidazopirazinas conseguem inibir essa enzima. Dessa forma, elas combatem os sintomas da fase sanguínea, evitam a infecção do fígado e impedem a infecção do mosquito vetor. Elizabeth Winzeler destaca que a estratégia alcançou um importante progresso, eliminando a possibilidade de o plasmódio se alojar em silêncio no fígado. Uma vez no órgão, ele é capaz de ficar latente durante muitos anos, sem ser detectado, até se manifestar novamente.

“A dra. Winzeler teve uma ideia muito criativa e poderosa para ajudar a identificar os alvos para futuras drogas contra a malária”, avaliou, em um comunicado de imprensa, Case NcMara, coautora do artigo e pesquisadora do Instituto Genoma da Fundação de Pesquisa Novartis. Ela se refere à sofisticada tecnologia empregada pelos pesquisadores, que reproduziu cada estágio do ciclo de vida do parasita em tubos de ensaio. A cientista explicou que, como a PI4K também existe em humanos, o próximo desafio é desenvolver uma droga que consiga discriminar entre a enzima do indivíduo infectado e a do plasmódio, pois apenas a do segundo deve ser inibida.

Pesquisadora do Grupo de Saúde Global da Universidade da Califórnia em San Francisco, Allison Mills destaca a importância de impedir a recorrência da doença, ao eliminar o estágio de latência do plasmódio. Enquanto o medicamento ideal ainda é desenvolvido nos laboratórios, ela ressalta a necessidade de melhorar os testes de diagnóstico e os métodos de detecção da deficiência na enzima glicose 6 fosfato desidrogenase, que está relacionada à anemia severa em indivíduos que tomam altas doses de primaquina.

“Quando pensamos na eliminação da malária, temos de nos debruçar sobre várias questões. É muito importante encontrar um remédio, mas também temos de pensar em políticas globais de longo prazo que garantam o acesso desse medicamento a todos que realmente necessitam dele”, reforça Allison.

“É muito importante encontrar um remédio, mas também temos de pensar em políticas globais de longo prazo que garantam o acesso desse medicamento a todos que realmente necessitam dele” 

Allison Mills,
pesquisadora da Universidade da Califórnia em San Francisco 

Cresce o número de usuários, mas planos de saúde atendem muito mal‏

Recorde de reclamações 
 
Cresce o número de usuários, mas planos de saúde atendem muito mal 
 
Jaci Custódio Jorge
Presidente da Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais (Samg)

Estado de Minas: 28/11/2013


Os planos de saúde mais uma vez entraram para o ranking de reclamações do Procon por todo o Brasil. No último trimestre foram registradas 17.417 queixas contra 553 operadoras – o maior número desde o início do monitoramento. O balanço do primeiro semestre apontou que o serviço está entre os 10 que mais causam problemas aos usuários. As multas também aumentaram. No mesmo período as operadoras receberam 4,8 vezes mais notificações do que em todo o ano de 2009. Em virtude do grande número de reclamações, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) suspendeu no dia 18 a comercialização de 150 planos de saúde de 41 operadoras, por três meses. Muitos planos são reincidentes.

Apesar da total insatisfação, o mercado de planos de saúde no Brasil cresce em ritmo acelerado, tornando-se um negócio lucrativo para as operadoras. A receita do setor em 2012 foi de R$ 37,2 bilhões, 17% acima de 2011. Neste ano, o teto de reajuste das mensalidades dos planos individuais foi de 9,04%, o mais alto em oito anos. Em relação ao aumento das mensalidades, os planos subiram 137% entre 2000 e 2010. O número de usuários também aumentou. No último ano, o crescimento foi de 2% e hoje 66,5 milhões de pessoas têm plano de saúde no país.

Mesmo com toda a receita bilionária, não há suficiente contrapartida em termos de oferta de cobertura às demandas dos pacientes. Não é raro encontrar beneficiários que pagaram durante anos mensalidades caras e, ao precisarem usar os serviços, não serem assistidos ou perceberem um reajuste abusivo. Outro entrave que o setor vem enfrentando é a desvalorização profissional. Médicos e as operadoras de planos de saúde continuam entrando em desacordo em relação aos honorários. A ANS já reconheceu que os reajustes não acompanham o crescimento do setor suplementar. Esse fato escancara um frágil modelo sustentado na precariedade dos contratos com os planos de saúde, que normalmente não determinam periodicidade e índice de reajuste. Uma das categorias mais prejudicadas é a anestesiologia. Usando a velha desculpa de que não existem recursos para pagar os profissionais para administração de todas as anestesias, as operadoras submetem o paciente ao tratamento indigno, doloroso e inseguro. A Sociedade de Anestesiologia de Minas Gerais (Samg) rebateu o discurso, e deixou claro que a medida pode acarretar em sérios danos ao paciente. Diante de toda essa falta de transparência, o consumidor fica vulnerável às situações de maior risco, exatamente naquelas em que ele mais precisa de assistência médica. A impossibilidade de marcação de consultas ou exames; o não cumprimento de prazos para atendimento e alterações na rede credenciada também são desdobramentos deste tipo de gestão irresponsável.

Há um consenso entre as entidades médicas de que o modelo atual desestimula o profissional, torna debilitada a assistência e ainda investe contra os princípios da especialidade, que é garantir a segurança do paciente. Porém, mesmo após várias tentativas de negociação, os convênios permanecem irredutíveis. É preciso dar um fim na intervenção antiética na relação médico-paciente imposta por operadoras e cessar imediatamente o total descaso com os envolvidos. 

Eduardo Almeida Reis - Minigolfe‏

Minigolfe
 
Se a Alemanha renasceu das cinzas da Segunda Grande Guerra e a Coreia do Sul é hoje uma potência mundial, fio que o Brasil se possa recuperar da separação de Grazi e Cauã


Eduardo Almeida Reis


Estado de Minas: 28/11/2013

Feira paulistana na década de 1930 pode explicar o horror que tantas celebridades brasileiras têm demonstrado pelas biografias. Contaram-me que a feira ocupou terreno imenso com diversos estandes apresentando e/ou vendendo os seus produtos. Na área das distrações, havia a barraca de um mágico que adivinhava as vidas dos consulentes. Um jogo de espelhos fazia aparecer a cabeça de linda mulher em cima de uma plataforma, cabeça que contava diversas passagens das vidas dos consulentes.

Muitos mineiros montaram seus estandes na feira, entre os quais alguns que conheci mais tarde. Um deles, bom sujeito, posto que muito feio e pouco inteligente, vivia assombrado com as adivinhações da tal cabeça orientada pelo mágico.

Foi o suficiente para um tio meu, que também tinha estande na feira, procurar o mágico e contar o nome, a filiação, os colégios, tudo sobre a vida do pouco inteligente, terminando por pedir ao mágico que dissesse, por intermédio da cabeça de mulher, que o amigo deles, quando rapaz, gostava de jogar golfinho.

Vejo no Houaiss que golfinho ou minigolfe foi inspirado no golfe para ser jogado em campo de pequenas dimensões, cujo percurso é entremeado de túneis, pontos, curvas fechadas e outros obstáculos. Talvez pela posição do praticante durante as partidas, jogar golfinho virou sinônimo de veadagem.

O mágico teve medo de ser agredido pelo consulente, mas foi tranquilizado com bela gratificação e a notícia de que os amigos do “golfista” garantiriam as coisas. E assim lá foram todos consultar o mágico, à frente o feio e pouco inteligente, que tinha orelhas de abano.

Além das orelhas de abano, o patrício tinha o cacoete de juntar os braços perto da cintura, como se estivesse levantando as calças. Cacoete que repetiu uma porção de vezes, enquanto a cabeça dizia tudo de sua vida, mas tudo mesmo. E ele, assombrado: “Não disse? Não falei?”. Até que a cabeça, meio encabulada, contou que o consulente, quando jovem, era dado ao vício de jogar golfinho. Foi uma gargalhada geral e o consulente emburrou.

Na volta para o hotel, quando passaram sobre o Viaduto do Chá, o golfista gritou: “Para! Para!”, o dono do carro freou e viu o amigo descer e se dirigir para o parapeito do viaduto, com a seguinte notícia: “Vou me suicidar”. Só desistiu do suicídio quando todos os amigos admitiram, sem ser verdade, que também jogaram golfinho.

De repente, os celebres que hoje defendem a proibição das biografias usando suas inteligências e seus advogados para dizer que a censura não é censura, jogaram golfinho na juventude ou ainda não craques no minigolfe.


Destruição

A história registra inúmeros casos de países que sofreram baques terríveis quando foram destruídos por guerras arrasadoras e se recuperaram em pouco tempo. Poupando o leitor de uma lista interminável, limito-me à Alemanha nazista, arrasada pelos aliados, transformada em potência 30 ou 40 anos depois. O fenômeno coreano também é curioso: em escassos 60 anos, como foi possível que a mesma península, com o mesmo povo e a mesma língua, produzisse as duas Coreias de 2013?

Esses fenômenos me animam a acreditar que o Brasil possa resistir e se recuperar do golpe sofrido outro dia, quando circulou a notícia de que a paranaense Grazielle “Grazi” Massafera e o carioca Cauã Reymond Marques já não dividem o mesmo teto. O galã foi acusado de namorar celebridade que cobra R$ 150 mil para aparecer numa festa, só para aparecer, para “estar” na festa, sem cantar, declamar, dançar ou ficar com o dono da casa.

Se a Alemanha renasceu das cinzas da Segunda Grande Guerra e a Coreia do Sul é hoje uma potência mundial, fio que o Brasil se possa recuperar da separação de Grazi e Cauã, mesmo acreditando que não voltará a ser o país que conhecemos e respeitamos.


O mundo é uma bola

28 de novembro de 1660: em Londres, fundação da Royal Society. Repito: em 1660. Li outro dia que o parlamento britânico custa ao povo a décima parte, isto é, 1/10 do custo do congresso brasileiro. Em contrapartida, o parlamento britânico nunca teve a honra de ser presidido por um Renan, um Sarney, um Henriquinho.

Em 1860, emancipação do município de Franca, polo calçadista paulista. Durante anos, morando em BH e visitando regularmente Capitólio, MG, onde fica o condomínio Escarpas do Lago, ameacei dar um pulo a Franca para comprar botinas. Fiquei nas ameaças.

Em 1991, fato espantoso: declaração de independência da Ossétia do Sul. Por que espantoso? Ora, porque a Ossétia do Sul não foi reconhecida. A maioria dos países da ONU considera a Ossétia do Sul parte integrante da Geórgia, mas em agosto de 2008 o parlamento e o presidente da Rússia anunciaram o reconhecimento formal da independência da região juntamente com a da Abcásia.  Hoje é o Dia do Soldado Desconhecido.


Ruminanças

“As duas palavras mais curtas e de mais simples pronúncia – sim e não – são as que pedem mais detido exame.” (Pitágoras, c.570-c.495 a.C.)

NÍLTON SANTOS » A Enciclopédia se fecha‏

NÍLTON SANTOS » A Enciclopédia se fecha 
 
Morre aos 88 anos o bicampeão mundial Nílton Santos, o melhor lateral-esquerdo de todos os tempos. Atleta sofria do mal de Alzheimer e vivia numa clínica desde 2007


Estado de Minas: 28/11/2013


Em 16 anos de carreira, o atleta jogou num único clube, o Botafogo: convocação para a Seleção Brasileira veio já na temporada seguinte após sua estreia profissional (CARLOS MORAES-14/5/05)
Em 16 anos de carreira, o atleta jogou num único clube, o Botafogo: convocação para a Seleção Brasileira veio já na temporada seguinte após sua estreia profissional

O futebol brasileiro deu adeus ontem a um dos maiores ídolos e mestres de sua história. O ex-lateral-esquerdo Nílton Santos, da Seleção Brasileira e do Botafogo, morreu aos 88 anos em decorrência de insuficiência respiratória e cardíaca, na Clínica Bela Lopes, em Botafogo, Zona Sul do Rio. O craque botafoguense estava internado desde sábado. Teve uma pneumonia diagnosticada na segunda-feira com leve melhora no quadro no dia seguinte, mas não resistiu. Ele sofria de mal de Alzheimer (doença degenerativa do cérebro) e morava na Clínica da Gávea havia seis anos por causa da enfermidade. O clube carioca preparou o velório no salão nobre da sede de General Severiano.

Bicampeão mundial em 1958 e 1962 e eleito pela Fifa o maior lateral-esquerdo de todos os tempos, Nílton Santos enfrentava problemas de saúde desde 2007. Teve ainda dengue hemorrágica. O ex-jogador era acompanhado de perto pela segunda esposa, Maria Célia, com quem vivia havia 41 anos. Do primeiro casamento, o eterno camisa 6 alvinegro teve dois filhos: Carlos Eduardo e Andréa.

As despesas médicas eram custeadas pelo Botafogo como uma forma de reconhecimento pelos serviços prestados ao único time que defendeu na carreira. Nílton Santos jogou no clube de General Severiano de 1948 a 1964 e ficou conhecido como a “Enciclopédia do Futebol”. O último jogo oficial foi contra o Flamengo em 13 de dezembro de 1964, com triunfo alvinegro por 1 a 0.

Em 1998, o ex-camisa 6 recebeu o título de lateral-esquerdo da Seleção Mundial do Século, em Paris. Com a morte de Nílton Santos, dos campeões mundiais de 1958 agora estão vivos oito: Bellini, Pelé, Zagallo, Mazola, Pepe, Moacir, Dino Sani e Zito.

Antes de Nílton Santos, a lateral esquerda era apenas uma periferia do campo de futebol, onde os jogadores se limitavam às ações defensivas. Ele revolucionou essa história. Atuando com qualidade técnica sem precedentes para a época, avançava para apoiar o ataque e criar boas oportunidades de gols.

Seu talento foi descoberto aos 23 anos. O destino trabalhou para que se eternizasse com a camisa botafoguense. Quando prestava serviço na Aeronáutica, foi levado por um sargento para treinar nas Laranjeiras. Ao chegar ao Fluminense, no entanto, o tímido e modesto Nílton Santos não se considerou digno de dividir o campo com Queixada e Rodrigues, dois jogadores da Seleção Brasileira. Deu meia-volta e foi parar no rival.

No alvinegro, os companheiros mais próximos foram Pirilo,  Garrincha, Didi, Amarildo, Caca, Zagallo e Rildo.

Era um atleta que defendia sem bater, finalizava bem com os dois pés e jamais chutou de bico. No início, sonhava atuar como atacante (tinha 1,84m), mas foi dissuadido da ideia pelo treinador Zezé Moreira.

AMARELINHA O talento logo levou Nílton Santos à Seleção Brasileira. A primeira convocação ocorreu em 1949, um ano após estrear como profissional. Disputou as Copas do Mundo de 1950 (reserva), 1954, 1958 e 1962, sagrando-se bicampeão nas duas últimas.

“Além de ter sido craque, foi grande exemplo e serei eternamente agradecido pelo que fez por mim. É mais um grande brasileiro que deverá ser sempre lembrado por todos”, reverenciou Pelé.

Sobre ele, o jornalista Armando Nogueira, um dos maiores cronistas esportivos brasileiros, sintetizou: “Tu, em campo, parecias tantos. E, no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos”.


O QUE ELE DISSE
“É a minha vida. Foi quem me deu tudo. Nunca me traiu, nunca me bateu na canela. Sempre me obedeceu. Minha bola é minha vida”

“Eu invejo os laterais de hoje. Não pelo dinheiro que eles ganham, mas pela liberdade que têm para jogar”

“Pelé, Garrincha e Didi jogam no nosso time. Os suecos que passem a noite em claro pensando em como marcar o Brasil. Eu vou dormir sossegado”



HERÓIS QUE SE FORAM
Os 19 campeões pelo Brasil que já morreram
.Gilmar (1968/62)
.Castilho (1958/62)
.Djalma Santos (1958/62)
.De Sordi (1958)
.Mauro (1958/62)
.Orlando (1958)
.Zózimo (1958/62)
.Nílton Santos (1958/62)
.Oreco (1958)
.Didi (1958/62)
.Garrincha (1958/62)
.Joel (1958)
.Vavá (1958/62)
.Dida (1958)
.Jurandir (1962)
.Zequinha (1962)
.Félix (1970)
.Fontana (1970)
.Everaldo (1970)

A lição do mestre - Carlos Marcelo

Nunca vi Nílton Santos jogar. Mas sempre o admirei por mostrar que o futebol é mais do que um jogo de vencedores e vencidos. Quando o talento se une à simplicidade e à honradez, o mais apaixonante dos esportes pode produzir imagens de encanto, capazes de desafiar o tempo e se alojar no inconsciente coletivo – de uma torcida, de um país.

Jogador que vestiu a camisa de um só clube, Nílton Santos participou de quatro Copas. Ganhou duas. Fez mais: com o ímpeto e o talento para atacar, mesmo sem o consentimento de seus treinadores, espantou o mundo e inaugurou a era dos laterais ofensivos. Como definiu outro bicampeão, o santista Zito, ao site da Fifa: “Quando você joga futebol como Nílton Santos, não importa a posição. Ele não era defensor nem atacante. Era uma estrela; simples assim”.

Bicampeão mundial, considerado o melhor de todos os tempos em sua posição, jamais recorreu ao marketing para brilhar. Ele não ostentou, ele não alardeou, ele não se jactou; ele foi. Por isso, a lição da Enciclopédia do Futebol vai além do Botafogo que incondicionalmente amou e do Brasil que orgulhosamente defendeu. Nílton Santos deixa uma aula de altivez e hombridade; uma lição de vida. Estrelas assim jamais se apagam.