segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Aos 10 anos, oposição enfrenta maior revés

VALOR ECONÕMICO - 28/01/2013 

Por Cristian Klein | De São Paulo


Uma oposição desidratada - 34% menor na Câmara e 50% no Senado - e com comportamento errático é o obstáculo que os petistas encontram no Congresso dez anos depois de alcançar o poder. O partido de esquerda que chegou ao governo com uma coalizão minoritária, em ambas as Casas do Parlamento, ampliou sua base, seja pelo voto ou pela cooptação, e está prestes a formar o maior - embora não necessariamente coeso - bloco de apoio desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a ocupar o Palácio do Planalto, em janeiro de 2003.

Os dez anos do PT no poder devem coincidir com a consumação do maior golpe na oposição, assim que a presidente Dilma Rousseff confirmar a entrada do PSD em seu governo, na reforma ministerial esperada para as próximas semanas. Com uma bancada de 49 parlamentares em exercício na Câmara - a maioria de ex-adversários petistas - o PSD elevará a base aliada para um patamar superior a 360 deputados, superando os 356 registrados no início do último gabinete do primeiro mandato do ex-presidente Lula. Um novo gabinete é marcado pela entrada ou pela saída de um partido do ministério ou pelo começo de um novo mandato presidencial.

Dilma ruma para contabilizar a segunda maior coalizão desde 1988, de acordo com levantamento feito pelo Cebrap a pedido do Valor. A maior base aliada do período, com 396 do total de 513 deputados, foi a registrada em abril de 1996, no segundo gabinete do primeiro mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O amplo apoio à presidente reflete o progressivo definhamento da oposição, num drama que revela histórias de perseverança, adesismo e trajetórias políticas empurradas para o ostracismo.
Boa parte do grupo dos adversários mais ferrenhos quando Lula assumiu em 2003 aderiu à era petista. É o caso de parlamentares como Inocêncio de Oliveira (ex-DEM, hoje PR-PE), que triplicou sua taxa de apoio ao Executivo; a ruralista Kátia Abreu (ex-DEM, hoje PSD-TO) - cotada para o ministério de Dilma - e do então deputado Gilberto Kassab, que liderou dissidentes do DEM, abriu um racha na oposição e fundou o governista PSD. No princípio, Kassab estava entre os que mais se opunham aos projetos da administração Lula.

O PSD é apenas a última das hostes colecionadas pelo PT desde 2003, como PTB, PP e PMDB. O desembarque dos pemedebistas em 2004 trouxe figuras antes associadas ao governo FHC, como os deputados Geddel Vieira Lima (BA) e Henrique Eduardo Alves (RN), que por pouco não foi vice na chapa do tucano José Serra na eleição de 2002; e o líder nacional Michel Temer, ex-presidente da Câmara e hoje vice-presidente de Dilma Rousseff.

Poucos persistem com a mesma verve oposicionista a exemplo dos deputados Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) e do senador José Agripino Maia (DEM-RN).





"Alguns não resistiram e se entregaram antes do tempo. Vão se arrepender. Vão malograr junto com o modelo equivocado do PT, que está no fim", afirma Agripino Maia. "Sobrevivi. Não deixei meu eleitorado ser enganado pelo canto da sereia do Lula, ou melhor, do PT", corrige o senador, negando que a retificação seja uma precaução contra a ira do ex-presidente. "Ele não me intimidou. Digladio com o modelo petista", diz.

Agripino Maia foi um dos poucos sobreviventes na eleição de 2010, quando Lula utilizou sua popularidade para derrotar seus maiores adversários no Senado.

Entre os que aderiram ao governo petista ao longo dos últimos dez anos, as explicações são distintas. O deputado Júlio César Lima, que saiu do DEM e é um dos líderes do PSD no Piauí, começa a entrevista afirmando que nunca foi "opositor ferrenho dentro do então PFL, pelo contrário". Ao ser questionado sobre a baixíssima taxa de apoio que deu aos projetos do Executivo em 2003, o parlamentar reconhece o giro em seu perfil. "Começou a mudar dois anos depois [que Lula venceu], na eleição municipal de 2004. A base cobra muito. Sou muito ligado aos prefeitos, aos deputados estaduais, e eles não estavam conseguindo liberar as verbas federais. Vinham e me pediam. Além disso, o pessoal nosso já estava indo para o PT, que também havia ganho o governo estadual, em 2002, com o Wellington Dias", conta o deputado.

Seu colega de partido e de Câmara, Eduardo Sciarra, do Paraná, também saiu do DEM, onde era um dos mais combativos oposicionistas ao governo do PT. Sua explicação para a mudança, porém, é outra. O problema era Lula, e não sua sucessora. "Tive atuação bem crítica durante o governo Lula. Mas com relação à Dilma tenho outro posicionamento. Ela facilitou o apoio, com sua rigidez na questão ética, com o foco na gestão. O PT, com Lula, não fazia investimento em infraestrutura e por questões ideológicas não realizava as concessões de aeroportos e rodovias", afirma Sciarra, que será o próximo líder do PSD na Câmara.

O parlamentar diz que não aderiu ao governo federal por causa de pressões da base e que sua maior votação foi em 2010, quando conquistou o terceiro mandato.

Mesma sorte não teve o ex-deputado Arnaldo Madeira (PSDB-SP), um dos personagens mais representativos do tucanato que foi líder do governo FHC na Câmara. Madeira não faz parte nem do grupo dos cooptados nem dos sobreviventes. Está entre os medalhões que saíram de cena após derrota eleitoral, como o ex-senador Tasso Jereissati (CE), que hoje preside o Instituto Teotônio Vilela (ITV), a fundação do PSDB cujo nome é uma homenagem ao pai do governador de Alagoas, Teotônio Vilela Filho.

Madeira aponta o recente apoio do governador tucano a Lula como um dos maiores indicadores do nível de enfraquecimento a que chegou a oposição. Em dezembro, Teotônio Vilela Filho participou do ato de solidariedade feito por governadores que visitaram o petista. O ex-presidente estava às voltas com as denúncias que envolviam sua ex-chefe de gabinete no escritório da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha, e com a divulgação do depoimento ao Ministério Público no qual o publicitário Marcos Valério dizia que Lula sabia do esquema do mensalão.

"Essa visita tem um significado forte do ponto de vista político. O [ex-]presidente terá que se defender na Justiça. Não é a oposição que deve defendê-lo. O governo está nadando de braçada e a oposição está muito frágil. Faz crítica pedindo desculpa. Onde já se viu, numa democracia, um opositor justificar que está fazendo uma crítica não ao país, mas ao governo? É o que tem acontecido", afirma Madeira.

O ex-deputado não credita sua derrota nas urnas à virulência contra o PT, mas a um esgotamento de seu nome junto ao eleitorado, que teria procurado novos candidatos. Arnaldo Madeira defende que um dos maiores problemas da oposição é exatamente não fazer um discurso bem formulado e contundente - embora acredite que no Brasil, em geral, "o próprio povo tem certa vocação governista".

"Não se conquista a opinião pública da noite para o dia. É um processo. Se está com a tese correta, um dia ganha. Mas mesmo quando éramos governo setores do PSDB tinham dúvidas se estávamos na direção certa. O programa não era defendido com convicção. Precisou o PT vencer e assumir nossas bandeiras para se perceber que Fernando Henrique tinha razão", afirma Madeira.

O quadro teria piorado quando a oposição, PSDB à frente, passou a fazer uma "imitação do discurso social do PT, a competir na mesma área". "Isso revela a fragilidade conceitual. Ao se preocupar em não passar a imagem de elitista, meteu-se numa sinuca de bico", conclui o ex-deputado.

O diagnóstico pessimista é compartilhado por um dos principais representantes da oposição à esquerda do PT, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP). "Desde a ditadura militar, nunca um governo teve tanto apoio como este", afirma.


Incluir não é fácil - Renato Janine Ribeiro


Circulou muito no Facebook uma recomendação do blog "Viajando com os filhos", que consistia em conselhos para lidar com a babá. A autora, que em São Paulo se hospeda num dos melhores hotéis da cidade, discutia passagem, hospedagem, comida e bebida de sua empregada. O texto é detalhista e chocante. A patroa chama a babá de gênero de "terceira necessidade" e fala dela como se fosse um animal. Curiosamente, não parece mesquinha: paga um excelente quarto de hotel para a empregada; o problema é que não tem noção de como lidar com um ser humano.
Por que discutir esse tema numa coluna dedicada à política? Porque, sem querer, o texto - que foi retirado do ar, quando o blog se deu conta da péssima publicidade que angariou com ele - mostra as dificuldades para se aceitar algo que, reconheço, é difícil: a inclusão social. Não me juntarei àqueles que - com razão - condenam a autora. O que quero entender é o que passa na cabeça de alguém que vive no privilégio e não consegue sequer entender o que é a passagem ao mundo do direito. Ou que, tendo a vantagem da riqueza numa sociedade com alto teor de exclusão, não percebe que, um dia, isso acabará. Antes que me chamem de petista, é bom lembrar que tal nível de exclusão acabou faz tempo nas grandes economias capitalistas. Se a autora vivesse nos Estados Unidos, Reino Unido ou França, primeiro, dificilmente escreveria o que escreveu; segundo, se o fizesse, pagaria por isso.
O assunto faz lembrar a declaração de Delfim Netto, em abril de 2011 (quem teve empregada doméstica, que é um "animal em extinção", teve; quem não teve, não terá) ou o artigo de Danuza Leão, de novembro, observando como viagens a Paris perdem o valor quando todos podem fazê-la. Mas são casos bem diferentes. Com seu conhecido humor e inteligência, o ex-ministro anotou um fato: os empregos domésticos se extinguem, justamente porque uma pessoa cuidar da vida íntima de outra é quase humilhante e por isso, nos países desenvolvidos, se encarece ou se extingue. Danuza Leão dizia que há prazeres que dificilmente comportam o acesso de todos: o Louvre não pode, gostemos ou não disso, receber 100 mil pessoas por dia. Daí, ela conclui - o que endosso - que ler um livro pode ser bem melhor. Delfim e Danuza disseram coisas pertinentes, ainda que a formulação não tenha sido feliz. Já o post da blogueira não é reflexão, é sintoma, e suscita outra discussão.
A inclusão social mexe em nosso imaginário
Ao longo dos séculos e milênios, o que hoje chamamos de inclusão social se estagnou, cresceu raramente e com frequência recuou. Mas, nas últimas décadas, a integração dos miseráveis na sociedade (civil? de consumo? a diferença é importante) se acelerou intensamente - em muitos países. Aqui, em cinco anos do governo Lula, 50 milhões passaram das classes D e E para a C. Esse aumento de justiça social impõe mudanças de atitude radicais no interior da sociedade. Os mais vulneráveis se fortalecem. Socialmente, o dado principal é que recusam o papel subalterno ou subserviente que sempre foi o dos pobres em nosso país.
Se esse processo é amplamente positivo, ele tem seus senões, também pensando no plano social. Um diz respeito à própria condição dos ex-miseráveis. Eles parecem dar maior importância ao aumento do consumo, e junto com ele ao do crédito e do endividamento, do que ao acesso à educação e à cultura - da mesma forma, por sinal, que os gestores da economia e da política. Daí que a conquista de espaços sociais pela nova classe média continue frágil. Hoje, pode ser que muitos salários estejam subindo mais porque a economia está aquecida do que porque os seres humanos, que eventualmente chamamos de "mão de obra", se qualificaram como sujeitos de sua existência. Mas há outro problema, eticamente mais grave. Para as classes tradicionalmente ricas - ou "dominantes" - o ingresso em seu território de quem era não pessoa é chocante. Isso não quer dizer que os privilegiados sejam maldosos, de tão egoístas. O que falta é noção dos limites recíprocos que constroem uma sociedade decente. Obviamente, não merece elogio, nem sequer pena, quem age assim. Até porque essas pessoas, se viajam a países ricos, sabem que não podem tratar dessa forma as pessoas lá, mesmo as menos ricas. Seguem então um duplo padrão - assim como respeitam a lei de trânsito na Flórida e não no Brasil. Mas quem deseja mudar a sociedade não pode ficar na condenação ou no repúdio. É preciso compreender. Sem entender o que está ocorrendo, é difícil agir para mudar. Este é um campo importante para a pesquisa.
Mesmo assim, há medidas concretas e urgentes a tomar. Têm que ficar claros, para todos os brasileiros, valores como a liberdade e a igualdade. Isso depende do "governo", dos órgãos de defesa dos direitos humanos, do Ministério Público e do Judiciário mas, mais que tudo, do esforço da sociedade. É preciso difundir a ética nas escolas. Ela não pode ficar nas mãos só das Igrejas e das famílias; deve ser estudada, com uma abordagem leiga e universal, no ensino básico, isto é, da alfabetização até a conclusão do ensino médio. Deve haver também uma preocupação das empresas, que são responsáveis por boa parte da socialização das pessoas. Uma corporação ou organização não pode tolerar atitudes antiéticas de seus funcionários, sobretudo de seus dirigentes. Estas são políticas públicas, não apenas estatais. Além disso, politicas de combate aos privilégios devem ser adotadas - tanto de quem usa um cargo público para levar vantagem, quanto de quem utiliza sua riqueza para desprezar o próximo. Porque a batalha se trava, afinal, nos corações e mentes.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. Escreve às segundas-feiras
E-mail: rjanine@usp.br


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A volta por cima dos EUA

VALOR ECONÔMICO
Alfred Gusenbauer 
Como é de costume no início de cada ano, estatísticas e previsões são alardeadas por todos os lados. Por exemplo, em 2016, a China deverá substituir os Estados Unidos como maior economia do mundo. E, em 2040, a população da Índia terá superado a da China, que terá parado de crescer em 2030.
Talvez, a projeção mais assombrosa de todas seja a de que os EUA terão autossuficiência energética em 2035, graças à abundante oferta de gás de xisto de baixo custo de extração e à descoberta de imensas reservas de petróleo pelo país. Apesar da oposição de grupos ambientalistas, essas reservas serão mais fáceis de explorar do que as europeias, por estarem localizadas em áreas pouco povoadas.
Como resultado, a energia será muito mais barata nos EUA do que na Europa ou China no futuro previsível. De fato, a extração do gás de xisto é tão favorável em custos que mesmo o gás americano exportado à Europa custaria 30% a menos do que cobra atualmente a gigantesca petrolífera russa Gazprom.
Embora o peso da política e da economia internacional, assim como o poder de influência, esteja em grande parte se deslocando do Atlântico para o Pacífico, seria um erro subestimar o papel dos EUA na nova ordem mundial. Eles nunca saíram dos holofotes
A energia barata representa um grande incentivo para que indústrias de uso intensivo de energia - desde a siderúrgica e química até a farmacêutica - operem nos EUA. De fato, as reduções de custo na produção industrial nos EUA, aliadas à regulamentação favorável às empresas, o estado de Direito consolidado e a estabilidade política no país, vão eliminar a vantagem competitiva que impulsionou o crescimento econômico da China nas últimas décadas.
Além disso, as universidades dos EUA ainda atraem as mentes mais brilhantes do mundo em muitas áreas, mais notavelmente em ciência e tecnologia. E as outras antigas vantagens do país - flexibilidade, capacidade de renovação, mobilidade econômica, influência na regulamentação internacional e a principal moeda de reserva do mundo - continuam em vigor.
Tendo em vista essas condições favoráveis, os EUA já começaram a "repatriar" sua indústria - processo que, com grande probabilidade, continuará por muitas décadas. À medida que outras economias avançadas se tornam cada vez mais baseadas no setor de serviços, os EUA voltam a se industrializar.
O valor agregado resultante disso vai ampliar a capacidade das autoridades para encontrar soluções de longo prazo para problemas persistentes, como o sistema ineficiente de assistência médica, o ensino fundamental e médio deficiente e as injustiças sociais gritantes. Êxitos nessas áreas amplificariam ainda mais o poder de atração dos EUA como centro industrial.
Como parte do Projeto de Competitividade dos EUA, da Harvard Business School, Michael Porter e Jan Rivkin, divulgaram recentemente um plano de oito pontos1, que poderia ser executado nos próximos dois a três anos. Cada medida proposta foi recebida com amplo apoio bipartidário entre parlamentares (pelo menos a portas fechadas) americanos.
O plano destaca a necessidade de aproveitar as oportunidades possibilitadas pelo gás de xisto e pelas recém descobertas reservas de petróleo. A energia doméstica de baixo custo poderia ajudar a reduzir o déficit comercial, impulsionar os investimentos e reduzir a exposição econômica do país aos instáveis países exportadores de petróleo. Um marco regulatório federal poderia ajudar a assegurar esse resultado e minimizar os riscos ambientais e de segurança relacionados à extração.
Os outros pontos propõem facilitar a imigração de pessoas com alta capacitação, em especial as que se formem em universidades nos EUA; resolver distorções nos investimentos e comércio internacionais; desenvolver uma estrutura mais sustentável para o orçamento federal; simplificar tributos e regulamentações; e iniciar um ambicioso programa de infraestrutura. Com essas estratégias, o presidente Barack Obama conseguiria restabelecer a posição dos EUA como motor da economia mundial.
Colocar as oito propostas em prática também ampliaria ainda mais a desigualdade de riqueza entre EUA e Europa, que cresceu nos últimos 30 anos. Em 1980-2005, a economia dos EUA cresceu 4,45 vezes - nenhuma grande economia europeia chegou nem perto. Em 2011, Noruega e Luxemburgo foram os únicos países europeus com renda per capita nacional maior que a dos EUA em termos de paridade do poder de compra. Em 2040, as populações dos países europeus estarão estagnadas ou encolhendo (com exceção do Reino Unido, que terá população em torno a 75 milhões, comparável à da Alemanha), enquanto os EUA terão crescido das atuais 314 milhões para 430 milhões de pessoas.
As consequências políticas do impulso renovado da economia dos EUA vão reverberar em todo o mundo. Essa consciência já arrefeceu o apoio das autoridades americanas aos levantes da Primavera Árabe: como prova a hesitação de Obama em intervir na Líbia e sua falta de disposição, pelo menos até agora, em envolver diretamente os EUA na sangrenta guerra civil na Síria. Embora a importância histórica da Primavera Árabe tenha sido, de início, comparada à queda do Muro de Berlim, os receios cada vez maiores com a crescente influência da Irmandade Muçulmana vêm obscurecendo o potencial de mudanças na região.
Da mesma forma, embora os EUA não abram mão de seu relacionamento bilateral com Israel, as relações entre o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, e Obama chegaram a seu ponto mais baixo. Nesse contexto, qualquer grande iniciativa americana pela paz no Oriente Médio é improvável no futuro próximo.
Paralelamente, o antigo rival dos EUA, a Rússia está às voltas para retomar sua hegemonia sobre várias das ex-repúblicas soviéticas. E as condições na África e América Latina estão se estabilizando em termos gerais.
As prioridades da política externa americana, em meio a esse quadro, foram direcionadas para a região da Ásia-Pacífico, de onde vêm surgindo os desafios mais prementes em termos de econômicos, políticos e de segurança - incluindo a ameaça dos mísseis norte-coreanos e as crescentes tensões entre a China e seus vizinhos por reivindicações de soberania nos mares da China Meridional e da China Oriental. Em comparação, outros problemas internacionais parecem relativamente menos importantes.
Embora o peso da política e da economia internacional, assim como o poder de influência, esteja em grande parte se deslocando do Atlântico para o Pacífico, seria um erro subestimar o papel dos EUA na nova ordem mundial. Os EUA, na verdade, nunca saíram realmente dos holofotes e vão continuar desempenhando um papel central. (Tradução de Sabino Ahumada).
Alfred Gusenbauer foi primeiro - ministro da Áustria. Copyright: Project Syndicate, 2013.


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Quadrinhos

folha de são paulo

CHICLETE COM BANANA      ANGELI

ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER

ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

JIM DAVIS
JULIO & GINA


Campus Party 2013 - Rafael Capanema

folha de são paulo

Campus business
Maratona nerd da tecnologia, 6ª edição da Campus Party começa hoje em SP com foco reforçado no empreendedorismo
RAFAEL CAPANEMADE SÃO PAULO"Tem gente que acha que a Campus Party é só um lugar com uma baita conexão à internet, onde fica um monte de gente baixando coisa. Mas, para mim, não é só isso. O mais legal do evento é usufruir do networking, das palestras e do conteúdo."
O depoimento é de Ricardo Katayama, 29, cocriador do Tableshare (tableshare.me), site que aproxima entusiastas de culinária e se destacou em uma das atividades voltadas ao empreendedorismo na Campus Party do ano passado.
Com debates, concursos, palestras e oficinas, a vocação do evento para formar empresários e negócios de tecnologia volta ainda mais forte na edição deste ano, que começa hoje e vai até domingo, em São Paulo.
"Nosso papel é promover um ambiente real de net-working para os empreendedores digitais, desde fomentar a concepção de trabalhos até conectar aceleradoras e investidores", afirma Mario Teza, diretor-geral do evento, no qual já nasceram empresas como o encurtador de links Migre.me, em 2009.
Segundo Luiz Barretto, presidente do Sebrae, os campuseiros são criativos, mas nem sempre têm o conhecimento necessário para viabilizar suas ideias. "Nosso papel é trabalhar temas de gestão empresarial que serão fundamentais no futuro dessa garotada", afirma.
No ano passado, o Sebrae fez da Campus Party o palco de um reality show que teve o Tableshare como finalista e foi vencido pelo Queroo.com, site de planejamento de casamentos hoje rebatizado de Emotion.me.
Neste ano, o Sebrae promoverá a "Maratona de Negócios", que pretende ajudar a transformar 500 ideias em empresas com produtos que possam ser vendidos.
"Até uma amizade que você faz na lanchonete da Campus Party pode ter grande impacto na sua vida profissional", diz Eduardo L'Hotellier, 27, cofundador do GetNinjas (getninjas.com.br).
Seu site, espaço para encontrar todo tipo de profissional, foi eleito a melhor start-up brasileira de 2012 pelo site "The Next Web". E L'Hotellier, que começou a frequentar a Campus Party em 2011 como participante "comum", será destaque de três atividades neste ano.
Felipe Salvini, 29, cofundador da Sieve (sieve.com.br), empresa de soluções para comércio eletrônico que venceu o desafio Campuseiros Empreendem em 2011, destaca a exposição na mídia que teve depois da participação no evento.
"Antes da Campus Party de 2011, nós tínhamos seis funcionários e um cliente. Fechamos o ano com cem clientes e 15 funcionários. Em 2012, chegamos a 250 clientes e 60 funcionários."
Ganhar prêmios e arregimentar investidores na Campus Party, porém, não é garantia de sucesso.
Dos dez projetos selecionados no desafio Campuseiros Apresentam em 2010, por exemplo, três sumiram do mapa e um ainda está em "fase privada de desenvolvimento".

    NERDS EMPREEDEM

    Conheça os destaques da programação e os eventos relacionados a empreendedorismo da Campus Party 6
    28.jan
    21h30 - Abertura
    Com Antônio Carlos Valente, presidente da Vivo, e Paco Ragageles, da Campus Party
    29.jan
    10h - Palestra: Brasil, país digital e empreendedor
    Com Amure Pinho (Sync) e Márcio Brito (Centro Universitário de Brasília)
    13h - Buzz Aldrin Segundo homem a pisar na Lua, hoje dirige projetos de robótica
    15h45 - Palestra: Transforme sua ideia em negócio
    Maria Augusta Orofino (BMGen)
    17h15 - Mesa: Aceleradoras, quando e por quê
    Com Felipe Mattos (Startup Farm), Marcelo Salles (nTime) e Carlos Pessoa (Endeavor)
    30.jan
    10h - Oficina: Criando ecossistemas de start-ups
    Guilherme Junqueira (StartupMS)
    15h - Rainey Reitman Diretora da EFF (Electronic Frontier Foundation), que luta por liberdade e privacidade na internet
    15h45 - Mesa: Movimento Start-ups no Brasil
    Com Guilherme Masseroni (GetWay) e Diego Remus (Startupi)
    19h - Nolan Bushnell Fundador da Atari, é considerado o "pai da indústria dos games"
    20h30 - Mesa: Tudo sobre o programa Startup Brasil
    Com Rafael Moreira (Ministério da Ciência) e Bob Wollheim (Sixpix Content)
    31.jan
    11h15 - Palestra: Empreendedorismo digital no Brasil
    Felipe Matos (Startup Farm)
    15h - Salim Ismail
    Empreendedor, fundou a Universidade da Singularidade, que fica no campus Ames, da Nasa
    21h45 - Palestra: O passo a passo de uma start-up
    Antonio Ventura (Up4Me)
    19h - Don Tapscott
    Autor de "Wikinomics: Como a Colaboração em Massa Pode Mudar seu Negócio"
    1º.fev
    11h15 - Mesa: A cara do empreendedorismo brasileiro
    Com Juarez de Paula (Sebrae) e Leandro Herrera (Endeavor)
    17h - Mesa: Como pensam os investidores?
    Com Anderson Thees (Apontador), Cássio Spina (Anjos do Brasil), Fernando Campos (Lab22), Ted Rogers (Arpex Capital) e Pedro Sorrentino (SendGrid)
    2.fev
    11h15 - Mesa: Destaques de 2012 entre empresas brasileiras
    Com Gustavo Caetano (Samba Tech), Eduardo L'Hotellier (GetNinjas) e Marcelo Marzola (Predicta)

      CAMPUS PARTY 2013
      QUANDO De 28 de janeiro a 3 de fevereiro
      ONDE Anhembi Parque (av. Olavo Fontoura, 1.209, Santana, São Paulo)
      QUANTO R$ 300 ou R$ 150 (para alunos do ProUni e de outros programas de bolsas de estudo universitário); R$ 75 pela barraca individual e R$ 37,50 pela barraca dupla
      PRAZO DE INSCRIÇÃO Até esgotarem os ingressos
      SITE campus-party.com.br

      Nova busca do Facebook expõe usuário, afirma ativista
      Sistema é problemático, opina Rainey Reitman, que defende privacidade na rede
      Diretora da ONG Electronic Frontier Foundation fará uma palestra na Campus Party nesta quarta-feira
      DE SÃO PAULOEspecializada em privacidade nas redes sociais, a americana Rainey Reitman, da EFF (Electronic Frontier Foundation), vai falar na Campus Party sobre como governos e empresas "usam a tecnologia de formas prejudiciais aos direitos humanos".
      Diretora de ativismo da organização de defesa dos direitos civis e da liberdade de expressão no mundo digital, a americana fará uma palestra na Campus Party nesta quarta-feira, às 13h.
      "Precisamos achar formas de ensinar as pessoas a se importarem com privacidade na rede antes que elas sejam expostas a qualquer tipo de dano", afirma Reitman à Folha.
      A ativista prevê novos problemas de privacidade com a chegada da Busca Social do Facebook, lançada em fase de testes neste mês.
      O recurso permite aos usuários fazerem pesquisas bastante refinadas não só sobre seus próprios amigos ("colegas de faculdade mais velhos do que eu") como também sobre pessoas desconhecidas -"mulheres solteiras de 18 a 20 anos que moram em São Paulo", por exemplo.
      "Às vezes, sem se darem conta, as pessoas compartilham informações públicas sobre si mesmas no Facebook. Até então, muitos desses dados eram difíceis de achar", afirma. "A Busca Social é particularmente problemática porque torna todo esse conteúdo muito mais fácil de ser descoberto e acessado."
      Reitman diz esperar que campuseiros ajudem a reconstruir um projeto da EFF atualmente estacionado, o TOSBack (tosback.org), que monitora os termos de serviço de sites como Google e Facebook e avisa os usuários quando há alterações.
      Recentemente, o criador do extinto site de armazenamento de arquivos Megaupload, Kim Dotcom, afirmou no Twitter que a EFF está colaborando com ele na Justiça dos EUA para que usuários do serviço voltem a ter acesso aos seus arquivos.
      Reitnam confirma a parceria. "Muitas pessoas que armazenavam conteúdo absolutamente legal no Megaupload foram prejudicadas."
      A ativista diz que os usuários de internet devem se manter atentos a iniciativas dos governos que, segundo ela, ameaçam a liberdade de expressão com o pretexto de combater a pirataria.
      "Não sei se isso vai ocorrer já neste ano, mas o Sopa e o Pipa vão voltar", prevê ela, sobre os projetos antipirataria cuja aprovação foi adiada nos EUA no início do ano passado após fortes movimentos de oposição.
      Quando Aaron Swartz, acusado de baixar documentos em um repositório pago de artigos acadêmicos com a intenção de distribuí-los gratuitamente, foi encontrado morto, neste mês, Reitman publicou um desabafo sobre o suicídio do ativista.
      "Swartz cometeu um suposto crime que não teve vítimas."

        Organização diz que vai reforçar a segurança
        DE SÃO PAULONa Campus Party do ano passado, um homem foi preso em flagrante ao tentar furtar três laptops. Houve ainda casos de pertences subtraídos de barracas arrombadas.
        Observando que, "em cinco edições até aqui, o número de incidentes registrado foi pequeno, considerando a reunião de milhares de pessoas convivendo 24 horas durante uma semana", o diretor-geral do evento, Mario Teza, promete "procedimentos de segurança mais rígidos e vigilância constante" na Campus Party deste ano.
        O diretor-geral disse ainda que haverá mais bebedouros e ventiladores, escassos na edição anterior.
        A organização colocou à venda para este ano 8.000 ingressos -500 a mais do que em 2012. A capacidade do camping subiu de 5.500 para 6.000 pessoas.
        No ano passado, houve a primeira edição brasileira fora de São Paulo, em Recife, experiência que pode ser repetida. "Ficamos muito felizes com os resultados. Isso nos mostra que há espaço para outras edições, em outras cidades."
        Teza, que em 2011 elegera como "palestrantes dos sonhos" Bill Gates, Linus Torvalds, Mark Zuckerberg e Steve Jobs, diz ainda acreditar que seja possível levá-los à Campus Party (exceto, é claro, Jobs, morto meses depois). E acrescenta à lista o quadrinista Stan Lee, cocriador do Homem-Aranha.

          Luli Radfahrer

          FOLHA DE SÃO PAULO

          Durma-se com um brilho desses
          Por mais que fascine, é preciso limitar o uso do tablet na cama; sua luz reduz o hormônio do sono em 22%
          Estamos cercados de retângulos brilhantes. Dos pequenos displays nos micro-ondas e rádios às TVs cada vez maiores, passando por videogames, desktops, notebooks, tablets, celulares e smartphones, praticamente não há momento em que se viva distante deles. É só uma questão de tempo, creio, para chegarem ao fundo de piscinas e mares.
          Novos fabricantes desenvolvem, a cada ano, versões mais leves, econômicas, resistentes e versáteis dessas telinhas, que a partir deste ano serão até dobráveis. Nos carros, TVs para motoristas já não causam espanto. Dividem sua preciosa atenção com as telas do painel, do GPS, do celular e, de vez em quando, até com o que acontece na rua.
          Nossa relação com a luz é tão intensa que parece que vivemos de fotossíntese. Nas hiperluminosas residências modernas, algumas noites ficam mais claras do que os dias.
          Pena que o cérebro humano, esse primitivo, não esteja preparado para tanto brilho. Luz, para as mentes consolidadas desde os primeiros hominídeos, vem do céu, do fogo ou de raridades como um vaga-lume ou um metal radiativo. Luz branca, ainda mais rara, só vem de um raio ou do Sol ao meio-dia. LEDs, LCDs, plasmas e outras iridescências causam estranheza a nossos mecanismos de atenção. Como gatos expostos ao flash de uma câmera, ficamos meio paralisados diante eles.
          Isso não impede a exposição cotidiana a dezenas de retângulos brilhantes, deixando a mente em estado de constante estímulo. Por instinto, quem passa muito tempo em frente às telas permanece desperto até o momento em que não resta ao corpo outra opção se não desligar os disjuntores e desmaiar, até o sono ser interrompido pelo brilho do despertador. Como quem vive no fuso horário da Califórnia, o impulso de alguns brasileiros tecnológicos é deitar perto das 3h e acordar às 11h. A maioria, que não pode dar-se esse luxo, acaba dormindo pouco.
          E mal. Um estudo publicado no periódico técnico "Applied Ergonomics" revela que duas horas de exposição à luz brilhante de um tablet ou equivalente antes de dormir reduzem os níveis de melatonina, o hormônio do sono, em cerca de 22%.
          Essa carência provoca, além de noites ruins, o aumento dos riscos de obesidade, diabetes e problemas cardiovasculares. A falta de sono diminui a produtividade, aumenta o risco de acidentes, prejudica o raciocínio e mata a libido. Por mais que fanfarrões afirmem ser capazes de dormir poucas horas, não há argumentos médicos que defendam essa tese, muito pelo contrário.
          Aplicativos para smartphone se propõem a medir a qualidade do sono de seus usuários com base no movimento captado por seus acelerômetros. A intenção é nobre, embora seja fácil prever alguns resultados. Quem checa mensagens ou visita websites antes de dormir pode levar preocupações do trabalho para a cama. Quem joga ou interage com redes sociais tende a ficar mais alerta. Até mesmo quem assiste a um vídeo bobo no telefone fica exposto a uma luminosidade sem precedentes. Mal dormidos, vários acordam no meio da noite e checam suas redes. Não pode fazer bem.
          Por mais que aparelhos eletrônicos fascinem, é preciso limitar seu uso antes de ir para a cama. Talvez seja um excelente motivo para retomar o antigo hábito de conversar.

          Tirando da gaveta

          FOLHA DE SÃO PAULO

          FOLHATEEN
          São mais de 300 concursos literários no ano! Avise o escritor dentro de você
          ADRIANA FARIASCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAAquela redação escrita na sala de aula ou a poesia rabiscada numa noite em claro podem ganhar visibilidade por meio de concursos literários, capazes de dar o pontapé inicial na carreira de quem quer virar escritor.
          No ano passado, ao menos 312 concursos de poesias, contos, romances e crônicas foram abertos no Brasil, segundo mapeamento do escritor Rodrigo Domit, 28, criador do blog concursos-litera rios.blogspot.com.
          "Viabilizar uma obra para um autor iniciante é caro, por isso os concursos são a melhor opção", afirma.
          O escritor João Paulo Hergesel, 20, não pode ouvir falar em concursos literários: seus dedos ficam inquietos e a cabeça vai a milhão.
          Nascido em Sorocaba, mas criado em Alumínio, a 79 km de São Paulo, ele já participou de mais de 200 concursos. Ganhou 60 deles.
          Como resultado, teve textos publicados em nada menos que 25 antologias. As porcelanas e os porta-retratos que antes decoravam a sala da casa onde mora deram lugar a livros, troféus, certificados e menções honrosas. Prêmios em dinheiro foram três, totalizando R$ 3.500.
          Hergesel enfrentou o primeiro concurso aos oito anos, na escola. Aos 15, começou a levar a coisa a sério.
          "Percebi que queria mesmo escrever, então fiz o que muitos adolescentes fazem: criei uma comunidade -na época, no Orkut- e passei a divulgar meus textos. Ver as pessoas comentando e elogiando me incentivou a ir aos concursos", conta.
          Resolvida a questão da coragem, o que faltava era idade para concorrer.
          "Era uma dificuldade. A maioria dos concursos era para maiores de 18 anos, mas eu não desanimava. Ia atrás dos que permitiam todas as idades. Não tive medo."
          PORTUGAL
          Antes mesmo de completar a maioridade, o paulista conquistou 25 prêmios, sendo dois em Portugal, na categoria poema.
          Mas aquele que considera o mais importante veio quando tinha 19 anos: o primeiro lugar na categoria conto infantojuvenil do Prêmio Sesc de Literatura 2012.
          Um dos mais importantes do país, o Prêmio Sesc teve na última edição 1.200 participantes. As inscrições para a próxima edição vão de 1º de junho a 31 de agosto, só para maiores de 18 anos. As obras vencedoras serão publicadas e comercializadas.
          Quem também viu a carreira deslanchar depois de concursos foi Luisa Geisler, 21.
          Nascida em Canoas (RS), ela ganhou o Prêmio Sesc em 2010 na categoria conto, com o livro "Contos de Mentira", e, em 2012, venceu com o romance "Quiçá".
          Luisa foi uma dos 20 nomes escolhidos pela celebrada revista literária inglesa "Granta" para a edição "Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros", publicada em 2012.
          "Quando você é muito novo, rola preconceito. Os concursos são uma forma de ganhar reconhecimento."
          Ela dá um conselho a quem quer entrar nesse meio.
          "Perdi vários concursos e isso me desmotivava, mas aprendi que não se pode levá-los tão a sério. É coisa de momento, do jurado que leu seu texto. Perder não é sinal de que a obra é ruim. Uma hora você ganha."


            NOVAS CHANCES MANDE SEUS TEXTOS
            Cultura em Movimento
            Poesia. Inscrições até 31/jan.
            Info todahoracomvoce.com.br/culturaemmovimento/docs/regulamento.pdf
            6º Concurso Fritz Teixeira de Salles
            Poesia. Inscrições até 31/jan.
            Info fundacaopascoalandreta.com.br
            Prêmio Cidade de Belo Horizonte
            Poesia, teatro, romance e conto. Inscrições até 22/mar.
            Info portalpbh.pbh.gov.br
            Concurso Josué Guimarães
            Conto. Inscrições até 1º/jun. Info jornadasliterarias.upf.br
            Veja mais em concursos-lite
            rarios.blogspot.com

              Nobel Herta Müller virá ao Brasil para conferência

              folha de são paulo

              DO ENVIADO ESPECIAL A CARTAGENADe todos os presentes no Hay Festival Cartagena, ninguém parece mais diametralmente distinta de Mario Vargas Llosa do que sua companheira de Prêmio Nobel de Literatura, Herta Müller.
              Se em sua ruidosa conferência o peruano tratou de temas "king size", como a defesa da cultura, a decadência da sociedade e os rumos da literatura, a escritora romena-alemã se ocupou do que há de mais individual e intimista.
              Numa palestra no teatro colonial Heredia, Müller, 59, falou longamente sobre sua infância num povoado camponês da Romênia e de como as plantas foram suas babás.
              "Meu pais trabalhavam no campo, não tinha irmãos nem ninguém para cuidar de mim, então passava a minha infância no jardim. Ficava olhando as plantas, indiferentes a minha presença, e pensava: sou feita de outro material."
              Com uma fala repleta de pausas e silêncios ("Fui criada no silêncio"), os olhos azuis e melancólicos muitas vezes voltados para o chão, contou que comia as plantas "para ver se elas me aceitavam como uma delas".
              No reino vegetal encontrava também seus brinquedos. "Eu pensava: esta planta vai se casar com esta outra. E esta vai sair para tomar chá."
              Naturalmente, também suspeitava delas. Se sua vida e literatura são tatuadas pela experiência de ter crescido sob a áspera ditadura romena de Nicolae Ceaucescu (1918-1989), no jardim da sua infância já matutava a respeito: "Quando morria alguém do partido, via os cravos cobrindo o corpo e pensava: estas flores não têm caráter".
              Nesta época, e até o fim da adolescência, diz Müller, ela mal sabia o que era literatura. "Em minha terra quase não havia livros. Eu tinha o sonho de ser cabeleireira."
              Na saída do debate, Müller, que, como Vargas Llosa, não deu entrevistas, revelou àFolha que virá ao Brasil ainda neste ano, no ciclo Fronteiras do Pensamento. Antes disso, chega sua literatura: dois livros da autora estão saindo no país, o romance "Fera d'Alma" (Globo Livros) e a novela "O Homem É um Grande Faisão no Mundo" (Companhia das Letras).

                Trio brasuca ganha espaço ( Célia Catunda ) - Walter Sebastião‏

                A série Peixonauta terá segunda temporada no Discovery Kids a partir de hoje. Criadora da animação, a diretora Célia Catunda conta que os personagens da animação vão mudar 

                Walter Sebastião
                Estado de Minas: 28/01/2013 
                Três tipinhos muito simpáticos ganham segunda temporada na televisão: o peixe astronauta (para ele a Terra é outro planeta), a menina Marina e o macaco Zito, o trio de estrelas da série Peixonauta. São 52 novos episódios, de 11 minutos, que começam a ser exibidos hoje, no Discovery Kids (TV a cabo). É gol de placa da animação brasileira, que consegue inserir criações nacionais em território onde reinam, há décadas, apenas tipos de outras nações. A segunda temporada de Peixonauta chega com novidades: está mais musical, ganha canções do grupo Palavra Cantada, tem personagens coadjuvantes e vai além dos temas ambientais. Há, agora, histórias sobre responsabilidade, autonomia, relacionamento com as pessoas. “É sustentabilidade social”, brinca Célia Catunda, de 47 anos, criadora e diretora da série.

                Um ícone do programa, a Pop (uma bola com dicas para resolver os problemas que o trio enfrenta), detalhe que faz sucesso com a meninada, também vem com mudanças. Se até então a senha para abrir o objeto era repetir ritmo e gesto dos personagens, agora é só um convite para dançar. E vários ritmos: tango, rock, samba etc. “A Marina era muito correta, acertava sempre. Agora, às vezes, ela fica mandona, chata”, conta Célia Catunda. As novidades, explica, fizeram com que a série ficasse mais alegre e os personagens mais completos. A animação estreou em 2009, é produção da TV Pinguim e traz histórias com o trio de protagonistas às voltas com busca de soluções (não conflitivas) para problemas do cotidiano. Já foi exibida em 78 países e a primeira temporada continua sendo apresentada na TV Cultura.

                Mais livre

                “Se está vindo uma segunda temporada é porque acertamos na primeira”, observa Célia Catunda. A continuidade do projeto foi uma oportunidade de rever o realizado, mudar aspectos e trabalhar com os personagens de forma mais livre. “Toda a equipe já conhece bem o elenco e já é possível escrever para eles criando mais”, conta, avisando que a animação está também mais solta, mais fluida. Célia Catunda não tem um personagem favorito, mas é mais uma que se diverte com as trapalhadas do macaco Zito. “Ele inspira muitas histórias. Tive de segurar um pouco no planejamento, senão a serie deixava de ser Peixonauta e virava um Zitonauta”, conta. Uma antologia dos episódios foi transformada no longa Agente O.S.T.R.A. E, até o fim do ano, chega às telas Peixonauta: o filme, com trama inédita.

                 Também está sendo bem encaminhado (já ficaram prontos os cenários) projeto em 3D, previsto para 2014, que Célia Catunda acalenta com carinho: o longa Tarsilinha, inspirado na obra da pintora Tarsila do Amaral. Célia é irmã da artista plástica Leda Catunda.

                Três perguntas para...
                Célia Catunda
                diretora e criadora de peixonauta

                Você pode falar de seus 25 anos trabalhando com animação no Brasil?

                “Fico feliz porque fazer animação era um sonho de adolescente, algo que sempre quis fazer. E não só por viver de animação, mas por ter contribuído para ampliação do mercado. Vejo vários animadores trabalhando comigo e sinto que estou dando oportunidade a muita gente. Quando comecei, o único caminho era a publicidade.”

                 O que você aprendeu com a série Peixonauta?


                “Aos poucos compreendemos melhor a indústria de animação global. Tentávamos fazer séries e não conseguíamos vender no Brasil. Tínhamos de concorrer com produção internacional, em grande volume, que chegava ao Brasil a preços baixos. Fomos entendendo que para ser viável, para ter retorno, tínhamos de vender nosso produto para o mundo, distribuí-lo em vários mercados. O que implicava em roteiros não regionais, versões em português e inglês, não fazer histórias que seriam compreendidas só no Brasil. Nossa proposta com o Peixonauta é de uma animação com cara brasileira – falamos muito de praia, sol, floresta, que são coisas muito nossas, com música brasileira e que pode ser compreendida universalmente.”

                Como você vê o mercado de produções dedicadas às crianças no Brasil?

                “Estamos crescendo. É mercado forte, com potencial, em que os trabalhos dão resultado – lembre-se que as bilheterias dos filmes internacionais estão sempre entre as maiores do cinema. No entanto, ao mesmo tempo, é área difícil. Não é simples conseguir patrocínio, há distribuidoras que não se interessam por distribuir um filme apenas porque ele é para crianças. Conseguir reconhecimento nesse mercado – e as séries brasileiras tiveram visibilidade – tem muito mérito.

                Marcos Augusto Gonçalves

                FOLHA DE SÃO PAULO

                Tubarões no Ipiranga
                Existe um aquário na cidade onde se pode ver os predadores, mas acabei ficando deprimido
                A primeira vez que vi tubarões em São Paulo foi em 1984. E eles voavam. A espécie se desenvolveu na imaginação de Luiz Gê. A ideia surgiu depois que um amigo viu na casa do artista uma imagem dos "Tigres Voadores", a famosa esquadrilha norte-americana de caças P-40, que usava uma boca de tubarão pintada na dianteira dos aviões. Por que não uma HQ com aqueles bólidos ambientada em São Paulo?
                Luiz Gê gostou da sugestão, mas, em vez de caças, resolveu que seriam tubarões. Os predadores nadariam pelos ares, a assombrar os moradores da metrópole. A história investia na paranoia da classe média urbana, assediada pelo medo e trancafiada em apartamentos e carros.
                Luiz Gê estava, naquela época, por fazer a capa do novo trabalho de Arrigo Barnabé. O compositor havia causado sensação com um disco vanguardista, que trazia tipos e situações da noite paulistana e apresentava, em ritmo de HQ, Clara Crocodilo, "o delinqüente, o facínora, o inimigo público número 1". O próximo álbum deveria se chamar "Crotalus Terrificus", mas, ao ver a nova aventura de Luiz Gê, tudo mudou. Arrigo decidiu musicar a história, e "Tubarões Voadores" virou um LP.
                No fim de semana, fui ver outros tubarões em São Paulo. Soube da existência de um aquário, localizado no bairro do Ipiranga, onde eles poderiam ser vistos. Achei que seria um programa pelo menos diferente, e convidei um amigo e seu filho para me acompanhar. E lá fomos nós, de carro, no dia do aniversário da cidade, ver tubarões.
                Não tinha muita ideia do que encontraria, a não ser por algumas fotos na internet, que pareciam animadoras. Estacionamos, descemos e tudo parecia meio estranho. Na entrada, palhaços, balões, uma parafernália de atrações para a gurizada querer gastar dinheiro. Pagamos R$ 40 cada adulto (R$ 20 para crianças a partir de 3 anos) e entramos. Já no início, o caminho, estreito como um túnel de mina, estava lotado. Famílias de classe média com câmeras, celulares e crianças disputavam espaço para se posicionar nas janelas dos tanques.
                Bem, vai melhorar, pensei com meu irremediável otimismo. De certa forma, sim. Pelo menos foi ficando um pouco menos apertado. Mas não demorou muito para entristecer. Além de peixes, havia sucuris, macacos, morcegos, um pequeno grupo, bastante deprê, de pinguins e um tamanduazinho solitário, que deu dó.
                Os tubarões? Sim, estavam lá, vários deles. É realmente impressionante ver aqueles seres incríveis passando pela sua frente. Da mesma forma, o esplêndido peixe-boi, que nadava numa simulação de igarapé amazônico. Há séculos não visitava um lugar com animais em cativeiro -e havia me esquecido da sensação deprimente que em geral me causam. Voltamos para casa achando o programa meio sinistro. "Trashaço", como disse meu amigo.
                Só salvei-me da melancolia no sábado, quando fui ver o show "O Nordeste é Aqui", no Sesc Vila Mariana. Com direção musical de Lucas Santtana, era uma homenagem à presença nordestina em São Paulo. Banda de primeira e participações especiais de Siba, Luciana Simões, Karine Alexandrino e Tom Zé. A seleção foi feita a partir do repertório de compositores nordestinos, de Luiz Gonzaga a Caetano Veloso, passando por Chico Science. Arranjos ótimos, intérpretes muito bons, som da pesada. Salvei-me dos tubarões.

                Dissecando o mito - Mariana Peixoto‏

                Chega em março aos cinemas Hitchcock, baseado no livro recém-lançado do americano Stephen Rebello. A publicação destrincha as filmagens do clássico Psicose e aborda a vida do diretor 

                Mariana Peixoto
                Estado de Minas: 28/01/2013 
                “É necessário fechar as cortinas da tela logo após os créditos de encerramento e manter a sala no escuro por meio minuto. Durante esses trinta segundos de total escuridão, o suspense do filme fica indelevelmente gravado na mente do público, para depois ser discutido com amigos e parentes. A sala deve então ser iluminada com luzes de tom esverdeado, e refletores nesse mesmo tom devem iluminar o rosto do público ao sair.” A experiência de assistir a um filme no cinema é mais ou menos assim, salvo pelo preciosismo das luzes de uma sala de exibição. Só que a fala acima foi proferida 53 anos atrás, época em que uma ida ao cinema tinha outras características: o longa, geralmente, era antecedido e precedido de noticiários e curtas-metragens e o público entrava e saía da sala quando bem quisesse.

                Pois em 1960, Alfred Hitchcock estipulou uma série de regras que os cinemas deveriam adotar para exibir Psicose. O mais conhecido filme do diretor britânico teve uma gestação difícil. Além disso, era um filme diferente de tudo o que o cineasta havia feito até ali. Mas até sua estrondosa recepção nas bilheterias – o reconhecimento da crítica só ocorreu muitos anos depois – o clima entre equipe técnica, estúdio e atores variava da surpresa ao descrédito. Ao longo de 200 páginas, o escritor norte-americano Stephen Rebello destrincha os meandros do filme em Hitchcock – Os bastidores da filmagem de Psicose. O livro foi publicado originalmente em 1990. Agora, ganha edição acrescida de entusiasmado prefácio, em que o autor relembra reunião recente na 20th Century Fox para leitura do roteiro de Hitchcock. 

                O filme, que estreia no Brasil em 1º de março, traz como ponto de partida o livro de Rebello. É apenas uma inspiração, já que o extenso e bem trabalhado relato jornalístico pouco trata da vida pessoal do diretor. Já o longa, dirigido pelo britânico Sacha Gervasi, é centrado no relacionamento de Hitchcock com sua mulher, Alma, durante a produção de Psicose. O elenco é um dos destaques da produção, pois é encabeçado pelos grandes Anthony Hopkins e Helen Mirren. 

                O relato de Rebello acompanha todo o processo do filme, a partir de uma série de mórbidos crimes que assolaram um vilarejo do distante Wisconsin em 1957. O escritor Robert Bloch, então um autor desconhecido, foi até o tal lugar, Plainfield, para fazer uma pesquisa de campo. A partir do material colhido lá, escreveu Psicose, o livro que foi comprado por Hitchcock por apenas US$ 9 mil (o autor vendeu os direitos sem saber quem os estava adquirindo). Em ordem cronológica, e com muita riqueza de detalhes (ficamos sabendo, por exemplo, de todos os cachês dos envolvidos no projeto), Rebello vai repassando a história. Na época da pesquisa para o livro, havia entrevistado boa parte dos profissionais envolvidos. 

                Como filme, Psicose tinha tudo para dar errado. A Paramount não acreditou no projeto, então a verba de produção foi mínima (US$ 800 mil). Hitchcock, completamente envolvido pela história que misturava travestismo, erotismo e questões edipianas, não se deu por vencido. Resolveu que iria filmar para o cinema como se estivesse filmando para TV (na época, ele produzia a série Alfred Hitchcock presents), incluindo a equipe. A opção por filmar em preto e branco, por exemplo, foi primeiramente econômica, e não estética. Da criação do roteiro, passando por pré-produção, filmagem, lançamento e legado do filme, Rebello esmiúça todos os detalhes. 

                Cinéfilos e fãs do diretor vão se deleitar com a detalhadíssima descrição (toma páginas e páginas) da filmagem do assassinato de Marion Crane (Janet Leigh), que se tornou uma das mais antológicas (e copiadas) cenas do cinema. Há também uma discussão (hoje totalmente sem propósito) de como a nudez da personagem não apareceria frente à censura. Ao final da leitura, é obrigatório assistir Psicose mais uma vez. Será, com certeza, com outros olhos. 
                Relações conturbadas
                Morto há 23 anos, Alfred Hitchcock voltou agora à tona também na televisão. A HBO está exibindo desde o início deste mês o telefilme A garota, que mostra o turbulento relacionamento entre o diretor e a atriz Tippi Hedren durante a produção de Os pássaros (1963), filme subsequente a Psicose. A narrativa é centrada no assédio que a então estreante atriz sofreu do diretor. A intenção de Hitchcock era transformá-la numa nova Grace Kelly. Além de tentar se safar das investidas sexuais do diretor (que, dizem, era impotente), Hedren sofreu um bocado durante as filmagens. 

                Hitchcock não teria dito a ela, que só soube na hora da filmagem, que o ataque que a personagem Melanie Daniels sofre de um bando de pássaros seria filmado com aves reais, e não de mentira, como havia lhe assegurado. A atriz sofreu, por vários dias consecutivos, com os ataques. Depois de filmar Marnie, no ano seguinte, Hedren não quis mais trabalhar com o diretor, que a manteve sob contrato por mais alguns anos, privando-a de fazer qualquer outro filme. 

                Em seu livro, Rebello revela que algo semelhante ocorreu com Vera Miles, que participou de Psicose, só porque tinha obrigações contratuais (e ganhando menos de US$ 2 mil semanais). Dois anos antes, ela havia enfurecido o diretor quando engravidou pela terceira vez, ficando impedida de participar de Um corpo que cai (1958). “Segundo os colaboradores do diretor, ele acreditava que a atriz deveria ter sido grata e submissa”, escreveu Rebello.

                HITCHCOCK – OS BASTIDORES DA FILMAGEM DE PSICOSE
                De Stephen Rebello. Editora Intrínseca, 256 páginas, R$ 29,90 e R$ 19,90 (e-book).