terça-feira, 3 de setembro de 2013

Tv Paga


Estado de Minas: 03/09/2013 


 (Multishow/Divulgação)

E vai rolar a festa…


A química de Paulo Gustavo e Ivete Sangalo (foto) no Prêmio Multishow do ano passado foi tão evidente que eles vão reeditar a parceria hoje à noite. A cantora e o humorista serão novamente os anfitriões da festa de premiação, na Arena da Barra, no Rio de Janeiro, com transmissão ao vivo pela TV e pelo site premiomultishow.com.br, a partir das 22h. Uma atração será o reencontro de Thiaguinho e Péricles, do Exaltasamba, mas haverá ainda apresentações de Caetano Veloso com Emicida, Marcelo D2 com o ConeCrewDiretoria, e Zezé de Camargo & Luciano com Paula Fernandes, além de Anitta, Naldo, Sorriso Maroto e Skank.

GNT também fiscaliza a
malhação dos famosos

O quadro “Medida certa” foi retomado domingo, no Fantástico, mas o canal GNT também vai acompanhar a luta de Fábio Porchat, Gaby Amarantos, Preta Gil e César Menotti contra a balança. Márcio Atalla promete colocar todo mundo para malhar em duplas, competindo semanalmente entre si. O programa do GNT vem com cenas exclusivas e mais dicas de Atalla. Confira às 20h30.

Canal Bio invade as salas
de emergências médicas


Outra novidade de hoje é Socorro imediato, que estreia às 18h30, no canal Bio. A produção vai mostrar o trabalho de equipes médicas que atendem casos de emergência, desde idosos que quebram a perna a cirurgias e acidentes de carros. Para começar, o primeiro episódio acompanha um dia inteiro de atendimentos de socorro imediato envolvendo o Samu, bombeiros e paramédicos.

Animal Planet apresenta
atração só com os felinos

E mais: às 20h, no Animal Planet, vai ao ar o primeiro episódio de Meu gato endiabrado. Intitulado “Briga de gato”, o episódio mostra que Jackson Galaxy é o herói dos donos de gatos endiabrados. Na atração, dois felinos hostis ameaçam a lua de mel de um casal e um gato-de-bengala mostra o quanto pode ser rebelde.

Canal Brasil reprisa hoje
o filme Cabeça a prêmio


Louise Cardoso é a entrevistada de hoje de José Wilker, em mais um programa da série Palco e plateia, às 21h30, no Canal Brasil. A atriz vai falar sobre o início da carreira no grupo Tablado, a admiração pela dramaturga Maria Clara Machado e o atual teatro infantil brasileiro. Às 22h, na sessão Seleção brasileira, a emissora exibe o longa-metragem Cabeça a prêmio, estreia do ator Marco Ricca na direção, tendo como ponto de partida a literatura de Marçal Aquino.

Muitas alternativas na
programação de cinema


Por falar em filme, o assinante tem seis boas opções na faixa das 22h: Frank e o robô, na HBO; 500 dias com ela, no Telecine Touch; Os três patetas, no Telecine Pipoca; Fomos heróis, na MGM; Ponto de vista, no Sony; e O poder do amor, no TCM. Outras atrações da programação: Horror em Amityville, às 20h, no Universal; A volta do Todo-poderoso, às 20h35, no Megapix; Homens livres, às 21h10, no Max; e Magnólia, às 21h50, no Glitz.

MARIA ESTHER MACIEL » As horas de Nélida‏


Estado de Minas: 03/09/2013 


Já conhecia Nélida Piñon de livros, fotos, entrevistas e referências diversas, mas só na semana passada tive a grata oportunidade de conhecê-la pessoalmente. Nosso encontro aconteceu na terça-feira, entre arranjos de tulipas e orquídeas, na casa de Ângela Gutierrez, a grande empreendedora das artes em Minas Gerais. Lá, um pequeno (e especialíssimo) grupo de pessoas se reuniu para receber a notável escritora brasileira de origem galega. Ela estava na cidade para participar do projeto Ofício da Palavra, coordenado pelos escritores José Eduardo Gonçalves e Sílvia Rubião, no Museu de Artes e Ofícios de Belo Horizonte.

Sorridente e muito atenciosa com todos, Nélida parecia encantada com a beleza da casa de Ângela e feliz com a acolhida dos amigos mineiros. Estava à vontade e falante. Contou vários casos, participou ativamente das conversas do grupo e, antes de sair, chegou a nos mostrar fotos do cão Gravetinho – segundo ela, a alegria dos seus anos maduros. “Ele acha que é gente”, comentou com os olhos cheios de ternura pelo amigo canino, que, aliás, ocupa um considerável espaço no livro de memórias que Nélida publicou no ano passado, sob o título O livro das horas. Um livro delicioso, diga-se de passagem. Nele, a vida pulsa na intensidade das horas, dos dias e dos anos vividos. Ao lê-lo, entramos em vários tempos e espaços da história dessa escritora única, que escreveu alguns dos romances mais densos e alentados da literatura brasileira das últimas décadas, como A república dos sonhos e Vozes do deserto. E que, por suas narrativas tecidas em forma de rede, já foi até chamada de a Sherazade brasileira.

Para quem quiser saber um pouco sobre o seu avô galego, os anos da infância passados por ela na Galícia, a amizade próxima que teve com Clarice Lispector e outros escritores, as muitas viagens que fez pelo mundo, seus autores e livros de cabeceira, é só ler O livro das horas e permitir-se o deleite. Como os textos são curtos e leves, a sensação da leitura é a de um passeio pelas palavras, lembranças, ideias e imagens afetivas da autora.

Não pude, infelizmente, ir à sua palestra no Museu de Artes e Ofícios, que deve ter sido ótima. Sei, por comentários dos que já a viram falando em público, que suas falas são sempre envolventes e interessantes. Nélida tem esse dom de cativar as pessoas com as palavras e a presença.

Lembro-me de uma vez que fui ao México com meu marido, José Olympio, para tentar entrevistar o poeta Octavio Paz – autor sobre quem eu estava fazendo minha tese de doutorado. Não foi fácil chegar até ele, mas chegamos. E Paz nos recebeu com gentileza e generosidade. A primeira observação que ele fez quando dissemos que éramos brasileiros foi que o Brasil era a terra de uma das mais admiráveis romancistas da América Latina: Nélida Piñon. Por incrível que pareça, eu não tinha ainda lido nenhum livro dela e, a partir de então, tratei de ir atrás deles.

Agora, 20 anos depois, graças a Ângela Gutierrez, José Eduardo Gonçalves e Sílvia Rubião, pude encontrar, ao vivo, a escritora que Paz tanto prezava. Junto a esses e outros amigos que receberam a escritora naquela terça, tive algumas horas raras, dessas que ficam vivas na memória do presente.  

Da sensibilidade das crianças

Um garoto indomável deixa o Bolshoi para crescer em coletivo de sucesso em Belo Horizonte. Convite de sacada em duelo de dois mundos feitos de som e movimento leva jovem capoeirista da favela às aulas de clássico da Cidade Jardim, enquanto, na Alemanha, mestre de Barbacena, na Zona da Mata mineira, faz história. 


Jefferson da Fonseca Coutinho

Estado de Minas: 03/09/2013 



"Era um garoto, tinha 13 anos, já dançava desde os 5. Vi os bailarinos falando em cena e enxerguei que era aquela a dança que eu queria"

O Nijinski do Jardim Canadáa
Antes de realizar o sonho de aprender novos passos na escola de dança do Grupo Primeiro Ato, Lucas Resende, na época com 13 anos, precisou mostrar mais que talento. Por quatro meses, duas vezes por semana, o garoto cortava a cidade para esperar sentado, quieto e em silêncio, uma vaga na escola, no Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. “Eu dizia que o número de bolsas estava esgotado. Ainda assim ele vinha todos os dias de aula e ficava esperando para poder dançar. Por determinação, força de vontade e petulância, ele entrou para a escola”, orgulha-se Suely Machado.

A diretora e coreógrafa de um dos principais grupos de dança do país, funcionários, professores e bailarinos do coletivo acolheram o jovem talento “como uma família, para a vida”. “Eu vi Sem lugar, no Parque Municipal, e enlouqueci. Era um garoto, tinha 13 anos, já dançava desde os 5. Vi os bailarinos falando em cena e enxerguei que era aquela a dança que eu queria”, diz Lucas. O menino se preparava para audição na Inglaterra. Antes, havia passado pelo Bolshoi, de Moscou. “Dei conta de ficar apenas três semanas. Não me adaptei a toda aquela reverência”, conta.

O pai, Willer Wagner, de 47, administrador, e a mãe, Magna Pinto, de 41, autônoma, diferentemente de alguns amigos e familiares, sempre estiveram ao lado do garoto bailarino. “Meus primos falavam que balé era coisa de veado. Minha mãe dizia que isso ia se repetir, mas que não precisava me importar, porque aquilo não tinha valor ou significado algum”, diz. Lucas, hoje, aos 21, conta que pegou a mãe chorando por vezes sem saber o porquê. Depois, entendeu que era por causa das cobranças em família em relação à sua opção pelo balé.

É dia de ensaio de Só um pouco a.normal, novo espetáculo do Primeiro Ato, com coreografia de Wagner Moreira. Pablo Ramon, Vanessa Liga e Verbena Cartaxo estão prontos. O espetáculo, intimista, é uma tocante valsa dos afogados que retrata os porões da loucura em Barbacena, na Zona da Mata mineira. Um recorte perturbador de dois homens e duas mulheres desnudados pela voracidade das ideias. Lucas, o menino indomável que o Bolshoi não deu conta, também está em cena, no Jardim Canadá, em Nova Lima, inteiro, na infinitude do espaço. Suely, orgulhosa, elogia: “É o meu Nijinski”.

Da capoeira ao clássico
O ano é 2009. Nos limites do Bairro Santo Antônio com o Morro do Papagaio, na Região Centro-Sul, foi numa cena de cinema, dessas que só a arte é capaz de montar, que Carlos Antônio de Souza Júnior, na época com 15 anos, caiu na dança profissional. De um lado, da varanda de prédio de luxo, grupo de hip-hop faz a festa com coreografia urbana. Do outro lado, da laje de cimento batido no aglomerado, roda de capoeira faz tremer pandeiros e berimbaus. Do duelo de ritmos e movimentos, um convite no gogó rompe a distância entre as duas realidades. Gustavo Durso, professor de danças urbanas, levou o jovem capoeirista, bolsista, para as salas de aula do Primeiro Ato.

Sob as asas de Suely Machado e companhia, Carlos Júnior conheceu o clássico, o contemporâneo e a dança de salão. “Faço balé, faço clássico”, orgulha-se. Nas voltas que o mundo dá, o bailarino deixou o Morro do Papagaio como bolsista, em 2009, e voltou ao aglomerado como professor do projeto social Dançando na Escola, em 2012. “Tenho muito orgulho dos meus passos com a dança. O preconceito e os ruídos me fortalecem. Se não fosse dançarino, seria pedreiro”, diz. Em casa de família grande – “somos oito” –, o bailarino e professor vive com irmãos, sobrinhos e os pais, Carlos Antônio, de 57, e Suzete Izidora, de 54.

Com os sonhos na ponta dos pés, Carlos Júnior – o “calango” na capoeira –, fala em graduar-se em dança pela UFMG. Pensa também em educação física, mas quer conhecer o mundo por meio da dança. “É um sonho que já começa a ser realizado quando saio de Belo Horizonte. Já estive em Joinville e em Curitiba com danças urbanas”, comemora. O masculino na dança é assunto delicado para Carlos. “É complexo. Os homens já descobriram a dança, mas, infelizmente, são poucos os que querem levá-la adiante, seriamente, como profissão”, avalia.

Hora de dançar Notícias diárias, no Espaço de Acervo e Criação Compartilhada (EACC), do Primeiro Ato, em Nova Lima. Um solo visceral, orientado pelo professor Fabrício Donato, que traz à cena um sujeito em crise com a família, “no limite”, que lê uma notícia que o desagrada. Por fim, o personagem come o jornal. Barba e cabelo crescidos, Carlos dança com o vigor e a força bruta de grande intérprete que se eleva ao mundo que compreende. “Dançar é viver. É ter um estilo diferenciado. O que aprendo na vida levo para o palco e vice-versa”, revela, feliz.




"O preconceito e os ruídos me fortalecem. Se não fosse dançarino, seria pedreiro"


Sentimentos do mundo
Casado, pai da pequena Olivia, Wagner Moreira, de 36, queria ser um ator completo, com domínio da dança e do canto. Menino, aos 13 decidiu aprender sapateado e foi mandado para o clássico. Na dança, em Barbacena, encontrou-se para o mundo. “Descobri muito cedo que a arte é uma porta”, revela. Pouco tempo depois, aos 16, Wagner tomou conta das salas de aula como professor. Tamanho sucesso o levou para a Alemanha, aos 24, para assumir escola em Westfalia. Em terras estrangeiras, o mestrado em coreografia e performance.

De passagem pelo Brasil, convidado por Suely Machado para a nova criação do Primeiro Ato, são de Wagner a concepção e coreografia de Só um pouco a.normal.

Como Arnaldo Alvarenga, da UFMG, Wagner não tem dúvidas da importância da dança na formação do homem. “Se todos os meninos tivessem a oportunidade de conhecer o papel do bailarino, os adultos teriam uma relação mais madura com as diferenças”, considera.

Para o mestre, os alemães são exemplo na educação dos filhos. “Lá, os pais levam os meninos para o balé e as meninas para o futebol. Eles estão atentos à sensibilidade das crianças. Isso nada tem a ver com opção sexual”, avalia. Wagner comenta ainda as cenas comuns de meninos empurrando carrinhos com bonecas nas ruas da Alemanha. “Afinal, eles também vão ser pais um dia. Por que não aprender, desde cedo, a ter cuidados com um bebê?”



"Se todos os meninos tivessem a oportunidade de conhecer o papel do bailarino, os adultos teriam uma relação mais madura com as diferenças"


Depoimentos
Tarcísio Ramos Homem
Bailarino, coreógrafo, mestre em artes e professor do Teatro Universitário (TU)


Quando comecei a dançar e também a fazer teatro, há exatamente 30 anos, comecei por um desejo de expressão, por uma necessidade de ocupar um espaço e aproximar-me de mim mesmo. Na época, os homens dançarinos chamavam a atenção, pois ainda era algo um pouco “estranho”, diferente e que sempre gerava dúvida sobre a opção sexual deles. Masculinidade e sexualidade se confundiam. Como os tempos mudaram um pouco, também mudou essa preocupação sobre a sexualidade. Creio que mudou o foco de discussão e interesses, permitindo aos jovens de hoje terem mais liberdade por suas opções. O que sempre busquei foi minha verdade como artista, e a cena era meu lugar mais masculino. Masculina é uma qualidade da energia, é a força, é o sol. Sinto que é com isso que devemos nos preocupar: nossa energia em cena e também fora dela. O importante é que nossas opções sejam comprometidas com o nosso saber, o nosso fazer, o nosso viver.

Jomar Mesquita
Diretor da Mimulus Companhia de Dança


A dança já surgiu na minha vida pelo lado masculino, pois meu pai foi o meu primeiro professor e quem primeiro me inspirou a dançar, há 25 anos. Apaixonei-me porque era uma forma de expressar e extravasar o que sentia. Principalmente por ser a dois, por dançar com uma mulher e, geralmente, de forma passional… Ou seja: meu lado masculino está sempre presente. Entretanto, para exercê-lo cada vez melhor, é fundamental o homem compreender muito bem o papel da parceira, de forma que a dança se torne diálogo entre os dois. Em toda a minha vida profissional se deu esse diálogo entre masculino e feminino. Não apenas dançando, mas também administrando a Mimulus, escola e companhia, ao lado de meus pais.

Poder da telinha - Mariana Peixoto

Depois de décadas como patinhos feios da indústria do audiovisual, seriados de televisão ganham prestígio, lançam novas estrelas e recuperam carreiras que andavam em baixa 


Mariana Peixoto

Estado de Minas: 03/09/2013 



Aos 57 anos e com mais de 30 de carreira, Bryan Cranston precisou do seriado Breaking bad para ganhar o direito de frequentar o star system


Técnico-estrela do futebol europeu, o espanhol Pep Guardiola apareceu recentemente na capa da revista alemã 11 Freunde (11 amigos) vestido com a camisa do Bayern de Munique, meião e prancheta na mão direita. Guardiola está em meio a uma área desértica, postado de frente para a câmera, em atitude bem desafiadora. Tal e qual a imagem que serviu de inspiração para a publicação esportiva: uma das fotos mais conhecidas de Walter White, o protagonista de Breaking bad. O lançamento da revista (cuja manchete foi Breaking Pep) coincidiu com o da segunda metade da quinta (e derradeira) temporada da produção televisiva mais comentada dos últimos anos (vale dizer, desde a finada Lost).

Quando o último episódio da série for exibido nos Estados Unidos em 29 deste mês – no Brasil, o quinto ano de Breaking bad estreia somente em 4 de outubro, no canal pago AXN –, seu protagonista, o ator Bryan Cranston, estará com a cabeça longe da produção de metanfetamina que marcou a trajetória de Walter White. A grande aposta – que vem causando muito disse que disse na internet – é de que Cranston vai viver Lex Luthor, o mítico adversário do Super-Homem, na continuação de O homem de aço. Caso confirmado o rumor, ainda terá que manter a careca por um longo tempo. Antes disso, Cranston, que ganhou há dois meses uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood, lança uma nova versão de Godzilla.

Cranston tem 57 anos, ao menos 30 de carreira. Não fosse Breaking bad, esse ator e dublador poderia ficar restrito a personagens secundários, muitos deles vilões canastrões, de séries menores de TV. No próximo dia 22, poderá levar seu quarto Emmy pelo mesmo personagem, o onipresente Walter White. Vai ter como concorrentes Jon Hamm e Damien Lewis, dois atores que, como ele, se tornaram estrelas por causa da televisão: são os protagonistas de Mad men e Homeland, respectivamente. Todos atores que já passaram dos 40 anos e que, depois de labutar muito em pequenos papéis em produções sem grande repercussão, se consagraram na televisão.

Foi a partir de 1999, com Os Sopranos, que consagrou o ator James Gandolfini, que a revolução da teledramaturgia norte-americana teve início. Desde então, a força da criação, antes mola propulsora do cinema, está na TV. Séries com histórias absolutamente originais, que arriscam e não vivem tanto à mercê dos departamentos de marketing quanto os estúdios de Hollywood, fizeram nascer novas estrelas. Mais importante: têm narrativas construídas aos poucos, bem diferentes dos tradicionais seriados, que costumam repetir a mesma fórmula semana após semana.

O que seria de Terry O'Quinn sem o Locke de Lost? Ou de Michael C. Hall, não tivesse ele encarnado o psicopata Dexter? É por causa das narrativas – e de seus personagens, que carregam matizes bem diferentes dos protagonistas rasos dos blockbusters – que o público atual consegue esperar, por meses, para assistir à estreia de uma nova temporada. Não se espera com tanta ansiedade por uma nova produção da Universal ou da Disney quanto se aguarda pelo próximo ano de uma série como Game of thrones (HBO) ou The walking dead (AMC).

Veteranos
Curiosamente, neste Emmy, Cranston, Hamm e Lewis estarão concorrendo na categoria melhor ator em série dramática com veteranos do cinema: Kevin Spacey e Jeff Daniels. Nomes reconhecidos – Spacey tem inclusive dois Oscar, por Beleza americana (1999) e Os suspeitos (1996) –, são exemplos bem-acabados dessa dança das cadeiras. Antes considerada do baixo clero dentro da seara da dramaturgia, a TV tem recebido de braços abertos nomes que fizeram carreira bem longe dela. Daniels encabeça o elenco de The newsroom, produção sobre os bastidores de um influente telejornal.

Spacey é também produtor de House of cards, impecável trama dos bastidores de Washington que é um dos destaque da principal premiação da TV americana neste ano. Isso porque House of cards é a primeira série que concorre ao Emmy que não foi produzida para a TV: foi criada para a internet (pelo site de streaming Netflix). Com orçamento de longa-metragem (US$ 100 milhões por 26 episódios divididos em duas temporadas), traz como novidade para o público a ausência de espera. Explicando melhor: o primeiro ano, com seus 13 capítulos, foi lançado no semestre passado integralmente (uma vantagem e tanto se comparada à costumeira espera de uma semana para um novo episódio). O segundo ano, que será o último, entra no ar no início de 2014.

Spacey é estreante em seriados. “A terra não é mais fértil para contar histórias e dramas no cinema como era antes”, admitiu. Faz dobradinha com outro Kevin, o Bacon, que estreou na TV com a série policial The following, uma das mais comentadas do primeiro semestre. O time masculino de atores, que vêm migrando, pouco a pouco, do cinema para a televisão, ganha em Claire Danes sua representante feminina de maior destaque. Atriz até então reconhecida por um único papel – a Julieta de uma versão moderninha do clássico de Shakespeare (1996), em que fez par romântico com um Leonardo DiCaprio também em início de carreira –, deu a volta por cima em Homeland como Carrie Mathison, uma genial (e psicótica) oficial da CIA especializada em caçar terroristas no Oriente Médio. Em 29 deste mês, retorna (nos EUA) ao personagem, no aguardado terceiro ano da série. Já ganhou dois Globos de Ouro pelo papel. Falta-lhe o Emmy, ao qual concorre no fim do mês.

Revelados pela TV
     (Carlo Allegri/Reuters)



» Bryan Cranston (Breaking bad, quinta temporada estreia em 4 de outubro, no AXN)
» Jon Hamm (Mad men, sétima temporada estreia em 2014)
» Damien Lewis (Homeland, terceira temporada estreia dia 29 deste mês, nos EUA. No Brasil, segunda temporada está sendo reprisada, aos domingos, às 9h15, no FX)
» Jim Parsons (The big bang theory, sétima temporada estreia dia 26 deste mês, nos EUA. No Brasil, Warner exibe reprises às terças, 21h30)
» Lena Dunham (Girls, segunda temporada em reprise às terças, às 22h, na HBO Plus) – foto

Veteranos no cinema, estreantes na TV
 (Ben Stansall/AFP)


» Kevin Spacey (House of cards, segundo ano estreia em 2014 no site de streaming Netflix) – foto
» Kevin Bacon (The following, segundo ano estreia em 2014)
» Jon Voight (Ray Donovan, no ar às segundas, às 21h, na HBO)
» Maggie Smith (Downton Abbey, terceira temporada no ar às quintas, às 22h30, na GNT)
» Don Cheadle (House of lies, reprises da segunda temporada nas quartas, às 2h, na HBO2)

Recuperados pela TV

 (HBO/Divulgação)

» Claire Danes (Homeland, terceira temporada estreia dia 29 deste mês nos EUA. No Brasil, segunda temporada está sendo reprisada, aos domingos, às 9h15, no FX)
» Alec Baldwin (30 rock, já finalizada; Sony reprisa a série aos sábados, às 11h)
» Jeff Daniels (The newsroom, no ar às segundas, às 22h, na HBO) – foto
» Kiefer Sutherland (24 horas, já finalizada)

Pura provocação - Carolina Braga

Em sua estreia na literatura, a escritora e jornalista Mariana Lage quer levar o leitor a uma reflexão sobre o universo feminino e toda a carga emocional que existe nele 


Carolina Braga

Estado de Minas: 03/09/2013 


Mariana Lage diz que se sente nua ao se expor tanto em No dorso do leão (Paula Huven/Divulgação )
Mariana Lage diz que se sente nua ao se expor tanto em No dorso do leão

Das anotações esquecidas no fundo de uma gaveta até a impressão do romance No dorso do leão (212 páginas, R$ 33) passaram-se quatro anos. Foi nesse tempo que a jornalista e escritora Mariana Lage se encontrou com um novo mundo. Aquele de personagens, conflitos, narrativas e muitas descobertas envolvidas nas experiências literárias de um autor.

“Será que eu consigo escrever de forma que não sejam apenas anotações pessoais, somente para mim?”, se perguntava ela diante do achado escrito a mão. Tanto conseguiu que o romance de estreia será lançado hoje, a partir das 19h, no Café 104 (Praça Ruy Barbosa, 104). Publicado de maneira independente, Mariana compartilha em suas 220 páginas muito sobre o universo feminino e a potência emocional que o cerca.

Revelações Com forte apelo filosófico, No dorso do leão tem estrutura diferente dos romances convencionais. A história das personagens Branca e Eduarda é apresentada tanto de maneira linear, em textos corridos, como também em fragmentos de cartas, notas, mensagens eletrônicas. Além de ferramentas de comunicação, são também pequenas epifanias do cotidiano das personagens.

O desafio, segundo ela, foi garantir ritmo à leitura. “Precisa haver uma ordem também. Foi isso que eu mais precisei aprender. Como trabalhar a personagem por meio de fragmentos”, comenta. Ela confessa que “roubou” alguns escritos das próprias correspondências.

Branca busca sentido para coisas vividas, estejam eles aparentes ou não. Mariana Lage também se apresenta assim, uma pessoa em busca constante pelo entendimento das coisas. Embora No dorso do leão seja uma obra de ficção, ela reconhece que muito do narrado vem das experiências da própria vida. “Outro dia, estava na fila do banco e comecei a reler o livro. Eu me senti um pouco nua. É uma exposição”, reconhece.

À medida que introduz o leitor nas relações vividas pelas personagens, Mariana lança mão de referências que vão de Clarice Lispector a Caio Fernando Abreu, Marguerite Duras e Santo Agostinho, entre outros. No fundo, embrulhado no papel de presente de um romance, No dorso do leão provoca a reflexão de cada leitor sobre a própria vida.

Além de jornalista, Mariana Lage é professora e doutoranda em estética e filosofia da arte pela UFMG. Após o lançamento de No dorso do leão, ela parte para temporada de um ano nos Estados Unidos, na Universidade de Stanford, na Califórnia. A ideia é disponibilizar o romance em todas as plataformas de livros digitais, a partir da publicação no site Smashwords, ferramenta de auto-publicação voltado para escritores independentes do mundo todo.

No dorso do Leão
Lançamento do livro de Mariana Lage. Hoje, às 19h, no Café 104 (Praça Ruy Barbosa, 104, Centro). Informações: (31) 2551-4504.


Trecho

“A coisa mais fácil de se ter é uma relação carnal. Todos têm! Poucos conseguem olhar nos olhos e encarar o tigre indomável que reside no outro. Olhar fundo, ver as feridas, as liberdades e as libertinagens – a vontade incontrolável de ser feio e amoral, de fazer errado e romper as arestas, chutar a porta e jogar abaixo tudo o que é socialmente aceito. É preciso despir-se dos olhares classificadores ou encaixotantes. Mas é preciso também despir o outro – com respeito – de seus discursos e referências.”
 (Philippe Albuquerque/Divulgação)

BOOKTRAILER

Como parte da divulgação do livro (foto), estão disponíveis três vídeos com roteiros inspirados nas viagens interiores de uma das personagens de No dorso do leão. Interpretado pela atriz Marina Abelha, os vídeos apresentam algumas reflexões propostas no livro, como “a mudança é a unica coisa que permanece”, “vivo presa nesse jogo de especulações de mim e do outro”, “sinto como se houvesse uma catarse acontecendo a partir de um engasgo”. Os booktrailers foram dirigidos por Guilherme Dutra. 

Chance para viver melhor(mieloma múltiplo)‏

Avanços nos últimos 10 anos, com o desenvolvimento de novas terapias para o tratamento do mieloma múltiplo, aumentam a sobrevida dos pacientes 


Carolina Cotta

Estado de Minas: 03/09/2013 


Com o médico Antonio Vaz de Macedo, o administrador Marcelo Augusto Andrade Reis é o primeiro a se beneficiar da estrutura de transplantes de medula óssea do Instituto Mário Penna (Jair Amaral/EM/D.A Press)
Com o médico Antonio Vaz de Macedo, o administrador Marcelo Augusto Andrade Reis é o primeiro a se beneficiar da estrutura de transplantes de medula óssea do Instituto Mário Penna


Belo Horizonte acaba de ganhar uma nova unidade de transplante de medula óssea, com capacidade para 50 procedimentos anuais. O administrador Marcelo Augusto Andrade Reis, de 68 anos, é o primeiro a se beneficiar da estrutura do Instituto Mário Penna, localizada no Hospital Luxemburgo. Internado desde ontem, ele começa hoje um transplante autólogo, um tipo de transplante realizado com as células do próprio paciente. Não há possibilidade de cura, mas Marcelo terá a chance de tratar o mieloma múltiplo, que descobriu no início do ano.

Nesse câncer de medula óssea, a proliferação desordenada dos plasmócitos, uma das células que compõem o sangue, leva a anemia, lesões ósseas, insuficiência renal e hipercaucemia, que é o aumento do cálcio no sangue em decorrência da destruição óssea. Apesar de raro, o mieloma múltiplo é um dos cânceres hematológicos mais comuns, representado ainda pelos linfomas e pela leucemia. Segundo o hematologista Antonio Vaz de Macedo, especialista em transplante de medula óssea, o mieloma múltiplo é um câncer mais comum em idosos, embora também possa acometer pessoas mais jovens.

Marcelo levava uma vida normal até o início do ano. Trabalhava, jogava tênis e fazia caminhadas. O checape anual, feito em janeiro, tinha terminado com sucesso, até que uma dor na coluna começou a incomodá-lo. A fisioterapia funcionou até certo ponto: ele já não conseguia dirigir e amarrar o sapato. Uma ressonância alertou o ortopedista e, em pouco tempo, o diagnóstico foi confirmado. A dor na região lombar e a anemia são sintomas clássicos da doença, que pode ser identificada com exames de sangue, de imagem e procedimentos como o mielograma, uma aspiração da medula, além da biópsia óssea.

Casado, pai de três filhos e às vésperas de ser avô, Marcelo está esperançoso com a recuperação, mas, antes disso, enfrentará pelo menos 20 dias de internação. O transplante autólogo de medula óssea não é uma cirurgia, e sim um procedimento em várias fases. A preparação começou há cinco meses, com as sessões de quimioterapia. Marcelo não teve queda de cabelo, mas emagreceu 10 quilos e sentiu as outras reações clássicas ao procedimento, como febre e dormência na mão. A dor que o impedia de realizar atividades rotineiras passou, dando mais conforto ao paciente.

AVANÇOS Hoje, o tratamento do mieloma múltiplo é feito com quimioterapia e transplante, em casos elegíveis. Para o Sistema Único de Saúde (SUS), o paciente precisa ter no máximo 70 anos e não ter comorbidades significativas. "Não há possibilidade de cura, a não ser em casos excepcionais de transplantes alogênicos, de maior risco e indicado para jovens. Avanços nos últimos 10 anos, com o desenvolvimento de novas terapias, aumentaram a sobrevida dos pacientes em até 15 anos. É uma doença lenta, mas que pode tomar um curso agressivo", explica o hematologista.



Fila mais curta
Publicação: 03/09/2013 04:00
A unidade de transplantes de medula óssea do Instituto Mário Penna, no Hospital Luxemburgo, foi inaugurada em julho, embora só hoje realize seu primeiro procedimento. São quatro leitos prontos para o funcionamento, dedicados ao procedimento autólogo, feito com células do próprio paciente, de beneficiados do Sistema Único de Saúde (SUS), convênios e particular. A expectativa da instituição é oferecer também o transplante de medula alogênico, realizado com células de um doador compatível, dentro de um ano. Para isso, será necessária nova vistoria do Ministério da Saúde e mais leitos.

O Instituto Mário Penna fornecerá a infraestrutura de internação, a coordenação dos serviços e os atendimentos complementares, como nutrição, exames, apoio psicológico e odontologia. Os transplantes de medula serão realizados no Hospital Luxemburgo, em parceria com a clínica hematológica, responsável pela coleta e criopreservação (congelamento) das células, além de uma equipe de seis médicos especializados, que prestará atendimento ao paciente durante todo o procedimento, incluindo os períodos pré e pós-transplante.

Atualmente, apenas o Hospital das Clínicas, o Socor e a Santa Casa realizam transplantes de medula óssea em Belo Horizonte, que tem uma demanda reprimida. Como o procedimento é complexo e são poucos os hospitais com o serviço, a oferta de leitos é insuficiente. Em Minas Gerais, estima-se que existam pelo menos 60 pacientes do SUS aguardando a vez para poder fazer um transplante autólogo. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o Brasil tem 70 centros cadastrados para realizar o transplante de medula óssea e 20 para transplantes com doadores não aparentados.

CONTROLE A nova estrutura representa uma maior expectativa de vida para os pacientes. Hoje, muitos chegam a morrer na fila de espera por um transplante desse tipo, por falta de leitos, já que o material a ser transplantado vem do próprio paciente. Segundo o hematologista Antonio Vaz de Macedo, há pessoas que ficam mais de um ano na fila, exigindo, assim, mais sessões de quimioterapia. "A quimioterapia feita no período de preparação para o transplante é para controlar a doença. Se não tem a vaga para fazer o transplante, o paciente continua fazendo a químio." (CC)

Consumidor gasta mais se puder comparar produtos‏

Segundo pesquisa norte-americana, consumidores resistem em realizar uma compra quando há poucas opções à disposição 


Vilhena Soares

Estado de Minas: 03/09/2013 


Clientes em supermercado: variedade de opções aumenta segurança na escolha de produtos, levando o indivíduo a comprar mais, indica estudo  (léo ramirez/afp)
Clientes em supermercado: variedade de opções aumenta segurança na escolha de produtos, levando o indivíduo a comprar mais, indica estudo


Imagine-se entrando em uma loja disposto a comprar determinado produto e se deparando com apenas uma opção. A limitação de escolhas o tornaria mais ou menos apto a levar a mercadoria para casa? Segundo Daniel Mochon, professor da Freeman School of Business, na Universidade Tulane, nos Estados Unidos, nessa situação, a chance de o estabelecimento comercial ficar com seu dinheiro seria menor. Depois de uma série de experimentos em que buscava desvendar a tendência de comportamento de consumidores, Mochon concluiu que o consumo cresce quando aumenta a variedade de produtos ofertados.

O especialista lembra que outros fatores, como preço e urgência pelo produto, evidentemente, são importantes na tomada de decisão. Contudo, afirma que o fato de mais possibilidades estarem à disposição eleva consideravelmente as chances de uma venda, independentemente de outros detalhes. A descoberta vai contra uma ideia antiga segundo a qual um maior número de produtos poderia alimentar a incerteza das pessoas e atrapalhar os negócios.

As conclusões do professor de marketing foram publicadas recentemente no Journal of Consumer Research. Os testes realizados buscaram identificar a tendência de escolha de compradores quando eles tinham uma única opção ou mais possibilidades à disposição. “Acredito que muitas investigações recentes têm incidido sobre os perigos de oferecer às pessoas muitas opções. Minha pesquisa sugere que os indivíduos também podem se recusar a escolher algo quando a oferta é demasiadamente restritiva”, resume Mochon.

Testes Em um dos experimentos, ele ofereceu um aparelho de DVD em um site de compras e contabilizou o número de vendas. Depois, no mesmo espaço on-line, o equipamento aparecia listado ao lado de outros modelos e marcas. A mudança fez com que as vendas do produto crescessem 32%. O pesquisador acredita que a diferença se deve ao medo dos consumidores a situações de escolha única. “Acho que a aversão à opção única é impulsionada por crenças sobre como as decisões devem ser feitas. Sabemos que é errado escolher uma opção sem considerar qualquer outra coisa, por isso ficamos relutantes em fazê-lo. Mesmo se realmente gostarmos da opção que está disponível”, declara.

Outro teste, realizado em um laboratório da universidade, consistia em oferecer dois tipos de chocolate para um grupo de voluntários e pedir que eles apontassem qual dos dois doces eles queriam. Os participantes podiam, nesse momento, pegar o produto preferido ou aguardar outra rodada, com mais opções, para decidir. A maioria optava por adiar a escolha. Contudo, na segunda parte, quando um terceiro chocolate aparecia, a tendência dos participantes era manter a primeira opção. Ou seja, eles estavam satisfeitos desde o início, mas a chance de comparar com mais produtos parecia irrecusável. “Os dados fornecem uma forte evidência de aversão à opção única. Mostram que as pessoas não estão dispostas a escolher uma oferta solitária, apesar de estarem dispostas a comprar esse mesmo item se um adicional for incluído, formando um conjunto de possibilidades”, afirma Mochon.

Segurança Para Flávio Coelho, professor de publicidade e propaganda da Universidade Católica de Brasília (UCB), o comportamento demonstrado pelos consumidores no experimento pode ser explicado por uma sensação de confiança maior que os compradores experimentam quando têm mais opções. “Com muitas opções de compra, sentimos mais segurança e garantimos uma escolha confiável. Isso seria uma vantagem”, destaca.

Coelho também acredita que, apesar de não ter havido distinção de sexos na pesquisa, os comportamentos feminino e masculino podem mostrar atitudes diferentes nesse aspecto de compra. “Não entra nessa pesquisa a diferenciação de gêneros, mas outros trabalhos mostram que a mulher sempre busca ver mais opções, experimentar mais os produtos, como roupas, por exemplo, para ter essa garantia”, diz.

De acordo com Orestes Diniz, professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o conceito de aversão à escolha única é um conceito teórico que foi aplicado em uma situação prática pelo estudioso. “O que esse estudo mostra, basicamente, é que, quando você é colocado em uma situação na qual é forçado a comprar uma única opção, ela prefere esperar para tomar essa decisão no futuro, quando acredita que terá mais informações suficientes”, diz. “Esses experimentos confirmam a busca pela alternativa. Ou seja, quanto mais liberdade de escolha o consumidor tem, mais provável é que ele se comprometa com a compra”, declara.

Daniel Mochon acredita que estudos como o feito por ele podem alterar a maneira de empresas apresentarem seus produtos. “Esse trabalho sugere que as companhias devem ser conscientes sobre a oferta de conjuntos de escolhas. Se as pessoas acham a escolha restritiva, elas podem continuar a busca e não comprar nada”, destaca. O pesquisador pretende dar continuidade ao trabalho. “Estou interessado no tema do conflito de escolha e indecisão. Pretendo continuar a estudar os fatores que levam as pessoas a evitar a tomada de decisões.”

ENTREVISTA / RUDOLPH GIULIANI, EX-PREFEITO DE NOVA YORK‏


ENTREVISTA / RUDOLPH GIULIANI, EX-PREFEITO DE NOVA YORK » "Combate a pequenas infrações tem de ser rigoroso" 

Mateus Parreiras

Estado de Minas: 03/09/2013 


 (AFP PHOTO/Stan HONDA - 11/9/04  )

Combater as pequenas infrações com o mesmo rigor de grandes crimes e tirar das ruas os flanelinhas e pichadores são algumas das recomendações do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani para diminuir a sensação de insegurança em Belo Horizonte. Ele é considerado o responsável pela redução de 70% dos índices de criminalidade da maior metrópole norte-americana, duas vezes mais do que a média nacional , entre 1994 e 2002, quando administrou a cidade. O nova-iorquino Rudolph William Louis Giuliani, de 69 anos, fará palestra amanhã no VI Congresso Internacional de Direito Penal e Criminologia, no Minascentro, em BH. Em entrevista exclusiva ao EM, ele analisa o que deu certo em Nova York e o que poderia funcionar em BH. Para combater crimes, Giuliani adotou a Teoria das Janelas Quebradas, sugerida em 1982 pelo criminologista James Quinn Wilson, e também conhecida como Tolerância Zero. Segundo a proposta, manter a ordem nos ambientes urbanos é essencial para frear o vandalismo e não permitir espaços propícios para crimes graves. “Se você vê uma janela quebrada na rua e não a conserta logo, no outro dia aparecerão mais vidros quebrados e, quando se der conta, a situação fugiu ao controle, porque nada foi feito quando ainda se tratava de um assunto de menor importância”, compara Giuliani.

Quando o senhor foi prefeito em Nova York a cidade enfrentava onda de criminalidade. Como a tolerância zero poderia ser aplicada em BH?

Tolerância zero não significa prevenir todos os crimes, mas que é preciso prestar atenção no que ocorre nas ruas. Deve-se prestar atenção no que a polícia considera crime de menor potencial. Quando assumi a prefeitura, a preocupação da polícia se restringia aos homicídios e grandes traficantes. Enquanto isso, não davam atenção à prostituição, aos pequenos traficantes e viciados nas ruas, porque achavam que não teriam tempo para isso. O que mudou foi isso. Todos que cometiam crimes tinham de ser tirados das ruas. Tínhamos de fazer das ruas um lugar seguro para pessoas decentes andarem. Foram necessários dois anos para essa política fazer a diferença. Pode ser aplicada em outras cidades sem maiores problemas.

Em Nova York foi nítida a colaboração da população. Como isso pode ser feito, por exemplo, no Brasil, onde ainda há muita gente que acha vantagem transgredir regras e não cumprir as leis?


Tem de mostrar que isso dá resultado. A filosofia foi a Teoria das Janelas Quebradas, mas não deixamos de acompanhar os índices de criminalidade por um programa de computador. Toda semana analisávamos e determinávamos onde a polícia iria atuar.


Mas isso seria suficiente, mesmo onde as pessoas têm hábito de furar filas, avançar semáforos e não seguir outras regras de cidadania?


Realmente, essas pequenas coisas fazem grande diferença, para que as pessoas abracem a ideia de uma sociedade com leis. Em Nova York, tínhamos duas manifestações como essas, que precisaram ser contidas. A primeira foram os pichadores. Passamos a prendê-los por danos a propriedades públicas e privadas, aos pontos de ônibus e metrôs. E outra eram aquelas pessoas que entravam na frente dos carros e constrangiam os motoristas pedindo dinheiro para limpar as janelas dos seus carros.

Como os flanelinhas, que cobram dinheiro nas ruas para vigiar o carro?


Sim, exatamente como eles. Eram pessoas que amedrontavam os motoristas por dinheiro. A solução é só uma: livre-se deles. Eu me livrei deles. Toda vez que um policial flagrava alguém limpando janelas de carros, essa pessoa era detida por andar no meio da rua. Alguns eram criminosos e acabaram presos, outros não eram, mas não podiam ficar amedrontando as pessoas no meio da rua. Então os policiais os mandavam sair e não voltar mais. Em quatro ou cinco semanas, acabamos com esse problema e os cidadãos se sentiram aliviados.

Os policiais norte-americanos são tidos como heróis, mas nem sempre foi assim. No Brasil há uma desconfiança muito grande, principalmente sobre os departamentos de investigação (Polícia Civil). Como isso pode ser revertido?

É preciso uma série de medidas fortes. A primeira coisa: ter uma força policial bem treinada. Não se faz nada com policiais sem treinamento correto. É preciso também pagar salário suficiente, para que não fiquem desesperados por dinheiro e acabem corrompidos mais facilmente do que costuma ocorrer. É preciso descobrir quem é corrupto e removê-lo da força. Deve haver também um programa que verifique a qualidade do atendimento policial. Treinamento e honestidade, basicamente, são questões críticas.

Agropecuária vai adubar o crescimento da economia‏

Desempenho do setor deve responder por 30,4% de toda a riqueza gerada no país em 2013, segundo especialistas. Com alta no trimestre, mercado revê para cima projeção para o PIB 


Diego Amorim, Pedro Rocha Franco


Estado de Minas: 03/09/2013 


Brasília – A força do agronegócio deve responder por quase um terço do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013. O campo tem tudo para se firmar, em ano de supersafra, como o principal responsável pelo avanço da economia em meio a inflação e juros altos. Nas projeções do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale, a atividade do país deve avançar 2,3%, sendo que 0,7 ponto percentual será debitado na conta das colheitas recordes, ou 30,4% de toda a riqueza que será gerada no país. A safra prevista para este ano é de 186 milhões de toneladas. No segundo trimestre a agropecuária já mostrou que tem fôlego para sustentar o crescimento econômico este ano. 

O setor fechou o período de abril a junho com crescimento de 3,9% em relação ao primeiro trimestre e expansão de 13% sobre o segundo trimestre de 2012. Já na comparação entre o primeiro semestre de 2013 com igual período do ano passado, o resultado é ainda mais expressivo, o melhor já registrado pela economia do campo. A alta foi de 14,7%, a maior taxa já registrada pelo IBGE desde 1996. Na sexta-feira, o resultado foi comemorado pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade. “Estamos vivenciando, provavelmente, um dos melhores momentos da agropecuária do país. Com o crescimento dos investimentos no campo – o que tem gerado maior produtividade nas lavouras – e a abertura de novos mercados”, afirmou.


Se toda a cadeia do setor agrícola for considerada — incluindo o escoamento dos produtos e a compra de máquinas agrícolas — o peso esperado na alta do PIB passa de 50%. Confirmada a expectativa, o campo se tornaria o componente mais importante do crescimento econômico brasileiro, algo que não se registra há muito tempo. As dificuldades enfrentadas pela indústria e os pífios resultados do setor de serviços ajudam a potencializar o bom momento do campo.

Revisão Após o surpreendente resultado da economia no segundo trimestre — alta de 1,5%, ante previsões que não chegavam a 1% —, divulgado na sexta-feira, o mercado financeiro reviu as estimativas para 2013. No Boletim Focus, compilado toda semana pelo Banco Central, os analistas elevaram as projeções de alta do PIB, o que não ocorria há 21 semanas. A aposta passou de 2,20% para 2,32%. No início do ano, o percentual esperado para 2013 era de 3,26%.
Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) permitem uma avaliação mais real da economia, na avaliação do sócio-diretor da Nobel Planejamento, Luiz Gonzaga Belluzzo. Porém, o economista sustenta que o crescimento maior que o previsto não autoriza a análise de que a situação do país vai bem. No primeiro trimestre, o PIB apresentou alta de 0,6%. Para o terceiro trimestre, as expectativas não são a das melhores.

Juros e inflação A estimativa de crescimento maior vem acompanhada de mais juros e mais inflação. Os analistas consultados pelo BC subiram de 5,80% para 5,83% a projeção para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2013. No caso da taxa básica de juros (Selic), a expectativa se mantém em 9,5% este ano, mas para 2014 os analistas já apostam em 9,75%. Entre os cinco que mais acertam as projeções, o percentual para os dois períodos é de 10% ao ano.
Para Júlio Miragaya, do Conselho Federal de Economia, o Boletim Focus divulgado ontem mostra que o mercado se apossou de uma visão um pouco mais otimista em relação ao crescimento do país. “As novas estimativas mostram isso. Mesmo que a criação de empregos continue a desacelerar, ainda acredito em avanço do PIB mais próximo de 3%”, aposta o economista, ponderando que o desempenho da indústria dependerá bastante do comportamento do câmbio até dezembro. O efeito positivo da desvalorização do real sobre os setores exportadores e as consequências do aumento de juros, analisa o Banco Santander, tendem a contrabalancear investimento e consumo, resultando em crescimento estável e moderado nos próximos trimestres.


É preciso ser atrativo

Diante da incapacidade do poder público de atender todas as necessidades da população, é preciso que os setores públicos e privados unam forças para aumentar o nível de investimento e, por consequência, melhorar o nível de vida no Brasil, avalia o diretor-presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi. O banqueiro classificou o atual momento do país como crucial para delinear os rumos da economia. “A conjuntura internacional está nos oferecendo novos desafios. E esses desafios passam pela nossa capacidade de provar ao mundo que o Brasil é o país mais amigável para investir”, afirmou Trabuco em almoço no Automóvel Clube de Belo Horizonte durante abertura do 4º Fórum Liberdade e Democracia.

O entendimento é que com as melhorias nos indicadores econômicos dos Estados Unidos – chamado por Trabuco de o “grande aspirador de capitais do mundo” – o Brasil terá pela frente a necessidade de disputar recursos com o resto do mundo. Mas, para ser atrativo em relação aos demais players mundiais, ele diz ser necessário haver uma “relação mútua de confiança” entre público e privado, ressaltando ser o Brasil um dos poucos países do mundo em que há convivência entre as duas esferas em diversos setores, como saúde, previdenciário, bancário etc.
O executivo afirma que no segundo semestre o país terá uma importante agenda para demonstrar como andam essas relações. A expectativa é que finalmente sejam realizados os leilões rodoviários, ferroviários e de aeroportos, o que pode contribuir para destravar os gargalos da infraestrutura. “É uma agenda muito interessante para o país. Estamos falando de centenas de bilhões. E isso é importante trabalharmos em conjunto para conseguir atrair os investidores. Mais aeroportos, mais rodovias e mais rodovias, o que acontece: o país fica mais competitivo”, afirma o diretor-presidente do Bradesco.


Modelo de concessões é criticado

Rio de Janeiro – O modelo de concessões proposto pelo governo federal para alavancar os investimentos privados em infraestrutura foi alvo de críticas de economistas e pesquisadores no Seminário Ibre de Infraestrutura – Gargalos e Soluções na Infraestrutura de Transportes Brasileira. No setor ferroviário, as mudanças propostas são consideradas de “alto risco” em função das incertezas nas garantias oficiais. “O modelo tem se mostrado inviável”, afirmou o coordenador de Economia Aplicada do Ibre, Armando Castelar, no evento da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio. “Primeiro, o governo começou com tarifa baixa e retorno baixo. Depois, para atrair investidores, começou a dar outros subsídios, que são mais perigosos de garantir em longo prazo”, avaliou.

Para a pesquisadora da FGV, Joísa Dultra, “as taxas de retorno não são compatíveis com a sustentabilidade econômica e financeira do negócio. O contrato não assegura claramente os retornos. Ficar brigando por causa de 1% ou 2 % de Taxa Interna de Retorno (TIR) atrasa a licitação e não estimula a concorrência”. Castelar também criticou a demora em definir uma solução. “No longo período de negociação dos termos e taxas de concessão, a situação mundial está mudando. Há um ano, essas medidas funcionariam, mas o cenário mudou adversamente.”

Os pesquisadores também apontaram problemas como os riscos na execução dos projetos, o desconhecimento do modelo e a insegurança na regulação. O governo federal aposta nas concessões para alavancar os investimentos e a economia do país “Por mais que vejamos no discurso do governo de incentivar o investimento de infraestrutura, o mercado não encontra uma resposta efetiva”, declarou o diretor do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), Luiz Guilherme Schymura.

Segundo ele, em dois anos, o país caiu 21 posições no ranking de investimentos em infraestrutura no ranking do Fundo Monetário Internacional (FMI), alcançando a 128ª posição entre 177 países. “O Brasil está com percentual de estoque de capital de infraestrutura baixíssimo, com 16% do PIB (Produto Interno Bruto), ante 58% da Índia, 64% dos EUA e 76% da China.” Os pesquisadores apontaram uma paralisia no setor de hidrovias, que representam menos de 15% no transporte de cargas, e ineficiência em medidas adotadas em outros setores, como o portuário. “Medidas para destravar operação dos terminais, não avança na flexibilização das relações trabalhistas. As coisas estão mais atrasadas”, afirmou Eduardo Guimarães.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deve reduzir de 0,75% para 0,50% o spread (taxa de remuneração) cobrado no repasse de recursos para projetos de infraestrutura rodoviária. A medida, prevista para vigorar nas licitações de rodovias que o governo pretende fazer ainda este mês, é mais um esforço de atratividade para o leilão marcado para o dia 18.  

Segunda chance para a Câmara‏

Liminar suspende efeitos da sessão que manteve o mandato de Donadon. Oposição quer cassação já, mas Alves aguardará a decisão final do Supremo


Maria Clara Prates, Diego Abreu e Adriana Caitano

Estado de Minas: 03/09/2013 



"A indignação cívica, a perplexidade jurídica, o abalo às instituições e o constrangimento que tal situação gera para os poderes constituídos legitimam a atuação imediata do Judiciário" - Luís Roberto Barroso, ministro do STF

Brasília – As orações do deputado federal Natan Donadon (sem partido-RO) para agradecer a manutenção de seu mandato pela Câmara, mesmo condenado a mais de 13 anos de prisão por improbidade administrativa e cumprindo pena no Complexo Presidiário da Papuda, no Distrito Federal, podem ter sido precoces. Ontem a alegria do parlamentar esbarrou em decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso que suspendeu os efeitos da sessão da Casa legislativa que o manteve no cargo. De acordo com o ministro, todo condenado em regime fechado que tenha que permanecer detido por prazo superior ao que lhe resta de mandato não pode exercer o cargo político. Por isso, a decisão da Câmara que manteve o mandato de Donadon seria inaplicável. Entretanto, a questão ainda depende de análise no plenário da Corte, em data indefinida.

A liminar tem potencial para provocar nova tensão não só entre o Supremo e a Câmara (veja quadro), mas também dentro da própria Casa legislativa. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), ouviu da assessoria técnica que o melhor a fazer é aguardar a análise definitiva do caso pelo plenário do STF. À noite, ele divulgou nota sobre o caso, por meio da assessoria, e disse que “a Presidência da Câmara dos Deputados solicitará a urgente decisão do pleno do Supremo Tribunal Federal sobre o mérito da questão”. A oposição, no entanto, defende que a Mesa Diretora da Casa declare a perda do mandato de Donadon imediatamente.

Antes de Alves divulgar a nota, o líder do PSDB na Câmara, deputado Carlos Sampaio (SP), autor do mandado de segurança, avaliou que o presidente da Casa deveria cumprir a liminar de imediato. “Agora, sim, a Casa tem condições de rever seu erro (manter o mandato de Donadon) e corrigi-lo. O presidente tem de agarrar essa possibilidade, em uma medida que vai ao encontro do que espera a sociedade e restabelece um mínimo de credibilidade à Câmara”, afirmou o tucano. O líder do PPS, Rubens Bueno (PR), corroborou: “Como o STF já deu liminar suspendendo os efeitos de todo o processo de cassação, a Casa precisa agir rapidamente para impedir que essa situação de deputado presidiário se arraste”.

A bancada governista permanece em recuo estratégico. O líder do PT, José Guimarães (CE), deu respostas escorregadias sobre os efeitos da liminar de Barroso, mas sinalizou que, mesmo não concordando com o resultado da votação sobre a perda de mandato, é contra a mudança do que foi decidido pela maioria dos parlamentares. “Sou contra um Poder interferir no outro. Cada macaco no seu galho”, disse. “Não podemos descartar mudança de posição pelo plenário do STF a respeito de liminar de algum ministro. Isto já ocorreu outras vezes”, contemporizou o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), antes de dizer que não compactuaria “com decisão que apequenasse a Câmara, ainda que ela própria tenha se apequenado”.

Na liminar, Barroso alerta que sua decisão não cassa o cargo do parlamentar, atribuição que, segundo ele, cabe à Mesa da Câmara. No mandado de segurança protocolado no STF, o PSDB apontou como um erro o fato de a Câmara ter submetido o processo de cassação ao plenário, quando a Mesa deveria ter declarado diretamente a perda de mandato.

Fora da norma Barroso reconhece que a Constituição prevê como regra geral que cabe ao Legislativo a decisão sobre a cassação de parlamentar que sofrer condenação criminal transitada em julgado. No entanto, ele pondera que o caso não se enquadra na norma. “Essa regra geral, no entanto, não se aplica em caso de condenação em regime inicial fechado por tempo superior ao prazo remanescente do mandato parlamentar. Em tal situação, a perda do mandato se dá automaticamente, por força da impossibilidade jurídica e física de seu exercício”, destaca o ministro. O mandato de Donadon se encerra no começo de 2015, antes do prazo em que ele poderá obter progressão de regime, correspondente a um sexto da pena.

Donadon foi condenado em função de desvio de verbas da Assembleia Legislativa de Rondônia entre 1995 e 1998, pelos crimes de peculato e formação de quadrilha. Na quarta-feira, a Câmara manteve o mandato do parlamentar. Foram 233 a favor da cassação (24 a menos que o total necessário), 131 contra e 41 abstenções. Donadon, que está preso desde o dia 28 de junho, foi autorizado pela Justiça a se defender em plenário, ajoelhou-se e rezou, com as mãos para cima, em comemoração.



Gravidade moral e institucional


Brasília – Na liminar na qual suspende a decisão da Câmara de manter o mandato do deputado Natan Donadon (sem partido-RO), o ministro Luís Roberto Barroso justifica ter tomado a decisão com urgência pela “gravidade moral e institucional de se manterem os efeitos de uma decisão política que chancela a existência de um deputado presidiário, cumprindo pena de mais de 13 anos, em regime inicial fechado”. Ele destacou que a “indignação cívica, a perplexidade jurídica, o abalo às instituições e o constrangimento que tal situação gera para os poderes constituídos legitimam a atuação imediata do Judiciário”.

O entendimento do ministro de que Donadon não pode exercer o mandato por estar na cadeia não alcança três dos quatro parlamentares réus do julgamento do mensalão. Diferentemente de Donadon, que cumpre pena em regime fechado, os deputados José Genoino (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP) foram condenados ao regime semiaberto, o que permitiria que trabalhassem durante o dia. Nesse raciocínio, o único congressista ligado ao mensalão que teria que perder o mandato imediatamente seria João Paulo Cunha (PT-SP), cuja pena é de 9 anos e 4 meses de cadeia.

A liminar de Barroso vai ser submetida ao plenário do STF em data ainda indefinida. O ministro fixou prazo de 10 dias para que a Câmara e a Advocacia-Geral da União se manifestem sobre o caso. Durante o julgamento do processo do mensalão, em 2012, o STF havia estabelecido que caberia à Câmara apenas cumprir a cassação do mandato dos deputados condenados quando o processo fosse encerrado. No entanto, em agosto passado, com nova composição, o Supremo fixou, após condenar o senador Ivo Cassol (PP-RO) a uma pena de 4 anos e 8 meses em regime semiaberto, que cabe à Casa Legislativa deliberar sobre a perda do mandato. (DA)

Trombadas entre poderes

Julho de 2010


Ficha Limpa
Com a aprovação no Congresso do texto que barra a candidatura de políticos condenados por decisões colegiadas, a lei poderia ter entrado em vigor nas eleições de 2010, mas o STF considerou inconstitucional a validade da regra no mesmo ano em que foi criada – a norma entrou em vigor em 7 de junho, quatro meses antes do primeiro turno eleitoral. No Congresso, sobraram críticas à interpretação dos ministros. Os desencontros com a Corte já se vinham tornando repetitivos em relação à inelegibilidade de políticos desde 2008, quando o STF decidiu que os políticos que respondem a processos – chamados “fichas-sujas” – não poderiam ser impedidos de disputar a eleição.

Dezembro de 2013

Mensalão
O então presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), afirmou, em 18 de dezembro de 2012, que a Câmara dos Deputados deveria reagir ao que ele considerava "ingerência" do STF sobre o Parlamento, ao comentar a decisão de que haveria perda automática dos mandatos dos deputados condenados no processo do mensalão – João Paulo Cunha (PT-SP), Pedro Henry (PP-MT), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e, empossado depois, José Genoino (PT-SP). Ele avaliou que a Câmara deveria se preparar para impedir que o poder de cassação de deputados lhe fosse usurpado. O novo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), acenou que deve cumprir a decisão do Supremo.

Janeiro de 2013

Fundo de Participação dos Estados
Às vésperas de deixar o comando do Congresso, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que o Legislativo votaria no mês seguinte as novas regras de distribuição dos recursos do FPE se houvesse boa vontade dos parlamentares e dos partidos políticos. Na ocasião, o STF havia concedido 150 dias para o Legislativo resolver a questão. O ministro Ricardo Lewandowski, que presidia interinamente o Supremo na época, permitira, no dia anterior, que o FPE continuasse sendo pago, apesar de seu critério de distribuição ter sido considerado ilegal pelo próprio Supremo em 2010, até que os parlamentares votassem um novo critério de distribuição do fundo

Abril de 2013

Tribunais Regionais
Contra a orientação do governo, a Câmara dos Deputados aprovou a proposta de emenda constitucional (PEC) que cria mais quatro Tribunais Regionais Federais (TRFs) no país. O placar foi de 371 votos a favor e 54 contra. O presidente do STF, Joaquim Barbosa, trabalhou diretamente para evitar a aprovação da matéria, mas não obteve sucesso. Barbosa argumenta que a medida amplia os gastos da Justiça e não resolverá o problema de excesso de trabalho e chegou a dizer que os tribunais serão criados em resorts.

Partidos
O ministro do STF Gilmar Mendes determinou que fosse suspensa a votação no Senado do projeto de lei que prejudica a criação de novos partidos, com menos tempo de TV e menos verba do Fundo Partidário. Pela proposta, de autoria do deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), os parlamentares que mudarem de partido no meio do mandato não poderão transferir o tempo de rádio e TV nem os recursos do Fundo Partidário da sigla de origem para a nova legenda, mecanismos vitais para o funcionamento eleitoral e financeiro das siglas

Projeto que submete o STF ao Congresso
O deputado federal Nazareno Fonteles (PT-PI) apresentou Proposta de Emenda Constitucional 33, que submete decisões da Corte ao crivo Congresso. A proposta foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara e gerou fortes reações do Judiciário. O ministro Marco Aurélio disse que a PEC seria “retaliação”" do Congresso. Gilmar Mendes defendeu que, se aprovada, “é melhor fechar o Supremo”, e Joaquim Barbosa, presidente da Corte, declarou que a proposta “fragilizaria a democracia”. A tramitação da PEC foi suspensa pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).


Vandalismo na cúpula
 (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)


A cúpula que representa a Câmara no Congresso Nacional amanheceu pichada ontem, com a palavra “porcos”. O ato de vandalismo ocorreu durante e madrugada, mas ninguém foi detido. Um casal que passava próximo ao local chegou a ser abordado por policiais legislativos do Senado, mas, como não havia indícios de envolvimento da dupla na pichação, o homem e a mulher foram liberados. De acordo com o diretor da Coordenação de Polícia Judiciária da Câmara, Antônio Geraldo Martins, foi aberto boletim de ocorrência para apurar o caso. A pichação foi apagada no fim da manhã (foto), quando a cúpula foi pintada de branco por funcionários da Casa.

Azeda clima entre o Brasil e os EUA‏

Dilma convoca reunião de emergência e governo cobra explicação de Washington. Visita de Estado a Barack Obama pode ser adiada



Gabriela Walker

Estado de Minas: 03/09/2013 


Cardozo e Figueiredo informaram que o governo cobrou dos EUA explicações formais e imediatas     (Ueslei Marcelino/Reuters)
Cardozo e Figueiredo informaram que o governo cobrou dos EUA explicações formais e imediatas

Brasília – Ao fim de uma série de reuniões “de emergência” e de uma dura cobrança de explicações feita ao embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon, convocado ao Itamaraty, o governo brasileiro procurou deixar expressa a gravidade com que analisa as revelações sobre a espionagem norte-americana nas comunicações da presidente Dilma Rousseff por e-mail e telefone. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, afirmou que espera ainda nesta semana uma resposta “satisfatória” de Washington, “por escrito”. E, embora nenhum ministro ou outra autoridade tenha mencionado oficialmente, a visita de Estado da presidente a Washington, prevista para 23 de outubro, está sendo reavaliada – e corre o risco de ser adiada, em meio à mais séria crise diplomática recente com os Estados Unidos.

“Não vou tratar hoje da viagem”, limitou-se a dizer o chanceler na entrevista coletiva que concedeu, no Itamaraty, ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, após o encontro mantido com Dilma no Planalto. Além dos dois ministros, participaram os titulares da Defesa, Celso Amorim; das Comunicações, Paulo Bernardo; da Comunicação, Helena Chagas, e o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, que classificou o caso como uma “situação de emergência”. Figueiredo não fez segredo quanto ao tom da conversa que mantivera de manhã com o embaixador americano. Assegurou que Shannon “entendeu muito bem” os protestos brasileiros e frisou que “o caso requer explicações formais, por escrito”. “Muitas vezes, se acha que diplomacia é dar um jeito de explicar as coisas de forma sinuosa. Não é, não. As coisas, quando têm de ser ditas de forma clara, elas são ditas de forma muito clara”, afirmou. De acordo com o chanceler, embora os EUA celebrassem o feriado pelo Dia do Trabalho, Shannon comprometeu-se a informar à Casa Branca ainda ontem.

Cardozo, que esteve em Washington na semana passada para discutir o assunto, reforçou que as revelações feitas ao Fantástico pelo jornalista Glenn Greenwald, com base em documentos vazados pelo ex-agente americano Edward Snowden, caracterizam “uma violação inadmissível” à soberania do Brasil. “Se chega ao ponto de atingir a Presidência da República, o que não dizer dos cidadãos brasileiros e das empresas que atuam no território nacional?”, questionou Cardozo. De acordo com a reportagem, a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA teria montado um organograma da rotina de comunicações entre Dilma e vários colaboradores.

O conteúdo dos documentos contraria explicações dadas anteriormente pelo governo americano, segundo as quais o monitoramento de informações se limitava a dados sobre origem, destino e volume de comunicações e não eram usados com finalidades políticas ou econômicas. “Quando a violação se dá não para investigar (fatos) ilícitos, mas em uma dimensão política e empresarial, sem sombra de dúvidas, a situação piora. E isso foi expressado ao governo norte-americano”, garantiu Cardozo.

AMIGO OU INIMIGO? Em um dos documentos revelados, o Brasil é citado – com Egito, Irã, Turquia, Índia e México – em um grupo de países cuja relação com os EUA é classificada como “incerta”, podendo variar entre “amigo”, “inimigo” ou “problema”. “O Brasil é um país democrático, em região também democrática e estável, buscando convivência com parceiros que seja respeitosa”, respondeu, indiretamente, o ministro Figueiredo. “Portanto, não pode permitir que seja considerado, nem em sonho, um país de risco ou problemático.”

Resposta mexicana

O governo do México informou ontem que convocou o embaixador dos Estados Unidos e exigiu uma “investigação exaustiva” ao condenar categoricamente qualquer espionagem por parte de Washington, após a divulgação de informações sobre a interceptação de comunicações do presidente Enrique Peña Nieto. “O governo do México rejeita e condena categoricamente qualquer trabalho de espionagem de cidadãos mexicanos”, afirmou a Secretaria de Relações Exteriores em um comunicado.