quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Cazuza volta aos palcos em 2013 em 'versão holograma'


Cazuza volta aos palcos em 2013 em 'versão holograma'


LUCAS NOBILE

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
MATHEUS MAGENTA
DE SÃO PAULO
Cazuza morreu em 1990, aos 32 anos. Em 4 de abril 2013, quando completaria 55, ele volta aos palcos, na forma de um holograma. Será a primeira vez que um artista brasileiro revive por meio desse efeito especial.
A ideia de ressuscitar um músico por meio de um holograma chamou a atenção mundo afora em abril deste ano, quando o rapper americano Tupac Shakur (1971-1996), assassinado quase 16 anos antes, repareceu projetado em um show do também rapper Snoop Dogg, no festival Coachella, nos EUA.
O projeto que homenageia o cantor carioca, idealizado por Omar Marzagão e George Israel (do Kid Abelha e parceiro de Cazuza), terá shows de 90 minutos, em 20 dos quais a imagem do músico vai interagir com uma banda.
Estimado em R$ 3 milhões, o projeto prevê um show em São Paulo, dois no Rio, um em Belo Horizonte e outro em Brasília. Os idealizadores esperam captar R$ 2,5 milhões por meio de mecanismos de fomento à cultura via isenção fiscal, como a Lei Rouanet.
TECNOLOGIA
O desenvolvimento do holograma, que será baseado em fotos e vídeos de arquivo de Cazuza, é realizado pela empresa francesa 4Dmotion. O processo técnico, que deve durar seis meses, está em sua segunda fase (veja abaixo).
Na primeira, que levou dois meses, foi feita uma pesquisa sobre figurino, expressões faciais, gestos e trejeitos.
As imagens utilizadas para o projeto foram feitas principalmente nos anos de 1986 e 1987 -os idealizadores optaram pelo período pré-doença de Cazuza, que morreu em decorrência do vírus da Aids, para evitar a lembrança do artista debilitado.
Avani Stein/Folhapress
O cantor Cazuza, em foto de 1985
O cantor Cazuza, em foto de 1985
Com base na tecnologia de "motion capture", muito usada no desenvolvimento de videogames e efeitos especiais para o cinema, um dublê imitará a expressão corporal do músico. Sobre a face deste mesmo ator, será sobreposto um rosto virtual criado em 3D a partir de fotos de Cazuza.
O áudio dos shows será original, com registros vocais feitos pelo próprio cantor.
As imagens do Cazuza virtual são projetadas sobre uma superfície espelhada no chão, na parte posterior do palco, e refletidas numa espécie de "parede invisível" vertical -para que a plateia o veja ao lado de uma banda ao vivo.
A tela terá uma extensão de cinco metros, pela qual Cazuza poderá "passear", lembrando suas performances marcantes como a que fez no Rock in Rio de 1985, ao lado do Barão Vermelho.
A banda que irá "acompanhar" Cazuza ao vivo será formada por antigos parceiros dele, como George Israel, Arnaldo Brandão, Leoni, Guto Goffi e Rogério Meanda. O grupo deve interpretar 23 canções, sob direção musical de Nilo Romero, produtor e também parceiro do artista.
"O Cazuza fez música com muita gente. O Barão [Vermelho] vai estar ali, não tem como dissociar, mas não vai ser a banda do show", diz Romero. "Sobre o holograma, todos nós vamos estar de olho e dar palpites, mas vai depender muito do trabalho do diretor do show", completa.
Consenso entre os envolvidos no projeto para dirigir o espetáculo, Ney Matogrosso, responsável pelo último show de Cazuza, diz que sua participação depende ainda de seus compromissos, pois deve lançar seu novo álbum após o Carnaval.
Sobre o projeto de "ressuscitar" Cazuza no palco, a mãe dele, Lucinha Araújo, refuta a possibilidade de que a homenagem fique mórbida.
"Acho lindo. Como eu e meu marido somos sozinhos, só tivemos o Cazuza, para nós, vai ser como o renascer de um outro filho."
Editoria de Arte/Folhapress
O TEMPO NÃO PARA: Entenda o desenvolvimento do holograma do músico
O TEMPO NÃO PARA: Entenda o desenvolvimento do holograma do músico

MARTHA MEDEIROS - Brasília e as distâncias

Zero Hora - 14/11/2012 


Estive em Brasília na semana passada para um evento que me encheu de orgulho. Fui receber a medalha da Ordem do Mérito Cultural, entregue pelas mãos da presidente Dilma Rousseff em cerimônia realizada no Palácio do Planalto.

Aproveito para cumprimentar os outros dois premiados do Sul nessa festa que teve como principal homenageado Luiz Gonzaga: a professora e doutora em Educação Cleodes Ribeiro, que reside em Caxias, e a Fundarte, de Montenegro. Compartilhamos esse momento ao lado de Marieta Severo, Regina Casé, os irmãos Campana, Elba Ramalho, além de ilustres póstumos como Plínio Marcos, Mazzaropi, Jorge Amado, Herivelto Martins e outros nomes de igual estatura.

Éramos 40 representantes da cultura brasileira, entre pessoas físicas e jurídicas, vivas e falecidas, e, se me permitem a piada, em trânsito: Orlando Orfei, aos 90 anos, compareceu frágil em sua cadeira de rodas, comovendo a todos que tiveram infância.

Mas, afora essa introdução cabotina, quero falar sobre Brasília. Foi a sexta vez em que lá estive, e não consigo mudar minha impressão: não é uma cidade, e sim uma instalação a céu aberto com obras do magnífico Oscar Niemeyer. Não há como não ficar impactado com seu trabalho grandioso e atemporal. De resto, a Capital Federal é uma abstração.

Brasília é plana – e fruto de um plano, imagino: impor distância entre o governo e o povo. A localização parece estratégica no bom sentido (no centro do país, o que, em tese, promoveria uma aproximação democrática com todos os Estados), mas na prática Brasília está ilhada em meio ao cerrado, observando os brasileiros de binóculos.

Nada convida à aproximação. Imensos terrenos separam os prédios. A cidade é dividida em setores que não se comunicam com facilidade. Caminhar em Brasília é um desconsolo, uma travessia solitária em meio à geometria fria e monocromática das ruas.

A cerimônia de premiação se deu pela manhã, e no início da noite fomos convidados para um coquetel no Palácio da Alvorada, onde a presidente, junto a alguns ministros, recebeu-nos como uma dona de casa recebe: com alegria, afeto, descontração.

Havia quadros, tapetes, cortinas, um lindo jardim com piscina e a presença de Chambinho do Acordeon (protagonista do filme Gonzaga, de Pai Para Filho), que tocou xote, baião e promoveu um arrasta-pé no meio da sala. Dançamos, cantamos. Havia calor humano ali. Havia gente ali. Foi a única ocasião em que me senti numa cidade comum.

Vi quando alguém cumprimentou a presidente pela sua casa e ela respondeu: “Não é minha, e sim de todos os brasileiros”. Meu primeiro pensamento: “Hum, da próxima vez vou trazer meu biquíni”. O segundo: “Brasília inteira deveria ser a casa de todos os brasileiros”. O Rio é. Salvador é. Qualquer outra cidade do Brasil é.

Uma casa é onde seus moradores interagem, onde todos são vistos, onde a proximidade desmascara as mentiras e impõe a verdade. Uma casa é onde acontecem nossos dramas, comédias, rebeliões, discussões, abraços. É onde a vida germina e cresce. A capital de um país deveria estimular exatamente isso que Brasília dificulta: a convivência.

Marcos Coimbra - O PSDB e seus dilemas‏

Ninguém gosta de admitir fracassos, mas fingir que não existem é péssimo. Com limões azedos, só se fazem limonadas amargas 

Estado de Minas: 14/11/2012 
O PSDB precisa aprender com seu passado.

Ou, como reza a sabedoria popular, não conseguirá evitar a repetição de antigos erros. 

Está reagindo a outra eleição complicada como fez em relação à anterior. O que sugere que não tirou daquela experiência as lições necessárias. 

Seu primeiro equívoco é tentar tapar o sol com a peneira. E acreditar que, assim fazendo, apaga a luz. 

Nas eleições municipais de outubro, o partido se saiu mal. Encolheu no número de prefeituras, perdeu vereadores, reduziu sua participação no comando dos principais municípios. 

Valorizar vitórias no Norte e em capitais menores do Nordeste é uma parca compensação para o desempenho medíocre nas grandes metrópoles. Nas capitais do Sul e do Sudeste em que teve candidato próprio, perdeu em todas – em algumas, ficando do tamanho de nanicos. 

A derrota em São Paulo é do porte da maior cidade do país. 

Ninguém gosta de admitir fracassos, mas fingir que não existem é péssimo. Com limões azedos, só se fazem limonadas amargas. 

Uma das coisas que mais atrapalham a auto-crítica dos tucanos são os amigos. De tanto querer confortá-los, os comentaristas e analistas da “grande imprensa” acabam por dificultar a reflexão que deveriam fazer. 

(Logo após a eleição, ainda sob o impacto dos números de Fernando Haddad, um jornal conservador carioca estampou em manchete que os resultados em Manaus e Belém “enchiam de ânimo” o PSDB. Para o bem do partido, tomara que não seja verdade.) 

O fato é que o ano termina, para ele, com a perspectiva de um mau desempenho na próxima eleição legislativa. Pior que o da última, que tinha sido ruim. 

Também como em 2010, o PSDB sai da eleição falando em “renovação”. Seus principais líderes, a começar por Fernando Henrique Cardoso, dizem-se convictos de que o partido precisa “sangue novo”. 

O problema é que os tucanos, pelo menos de uns anos para cá, revelam acreditar mais na conversa de renovação que na sua prática. Gostam de defendê-la, mas, na hora H, refugam. 

Há maior exemplo que o ocorrido em São Paulo, quando o partido abortou um processo de prévias partidárias – cujo conteúdo fundamental era a renovação pela base –, para insistir no que de mais antigo tinha a oferecer à cidade? 

Pensando bem, foi igualmente por não confiar na renovação que Serra tinha sido candidato a presidente em 2010. De tanto temer o risco de perder com algo novo – como seria a candidatura de Aécio –, o PSDB preferiu a falsa segurança do conhecido. 

Assim fazendo, deixou escapar a chance de construir um nome nacional para 2014. Que ainda não tem – pois o senador por Minas Gerais continua a ter pouca visibilidade junto à grande maioria do eleitorado. 

Enganam-se os mal informados que creditam o sucesso do PT ao que seria seu maquiavelismo. Os que, por ingenuidade ou má fé, dizem que o “lulopetismo” dá certo às custas de complôs bem tramados. 

A dificuldade do PSDB enfrentar seus dilemas é uma das razões do PT ser o que é.

Qualificação profissional (professor) - Frei Betto‏

Em nosso país, o professor é valorizado pelo número de pesquisas e publicações, e não pela experiência de trabalho 

Frei Betto 
Estado de Minas: 14/11/2012 

Tomara que o Congresso aprove a aplicação de 10% do PIB na educação. É pouco, mas bem melhor que os atuais 4,5%. Ainda não se descobriu outra via para desenvolver uma nação, aumentar o seu IDH e reduzir exclusão, miséria e violência, fora do investimento significativo em educação de qualidade.

O contingente de pessoas que trabalham em nosso país chega a 92,5 milhões, praticamente metade da população. Desses, 45,5% não têm carteira assinada ou trabalham por conta própria. E somente 771.409 têm mestrado ou doutorado. Os dados são do IBGE (Pnad 2011).

Apenas 12,5% dos que trabalham têm curso superior completo. Quase metade da mão de obra ocupada concluiu o ensino médio: 46,8%. O que significa que 53,2% de nossos trabalhadores não têm sequer nível médio. Nossas universidades abrigam hoje 6,6 milhões de estudantes (de um contingente de 27,3 milhões de jovens entre 18 e 25 anos!), dos quais 73,2% em faculdades particulares. E há apenas 1,2 milhão de estudantes em cursos técnicos.

Na Alemanha, quarta economia do mundo, a maioria dos alunos do ensino médio (60%) se encontra em cursos técnicos. A educação é profissionalizante, facilitada pela parceria entre escolas e empresas, onde os aprendizes fazem estágios. Isso se reflete na economia do país. Em agosto, o desemprego entre jovens alemães com menos de 25 anos atingia o índice de 8,1%. Nos demais países da Zona do Euro, 22,8%.

A renda familiar está associada ao nível de ensino. No Brasil, quem possui diploma universitário chega a ganhar 167% mais do quem concluiu apenas o ensino médio. Quem possui mestrado ou doutorado ganha, em média, 426% mais, comparado a quem tem apenas ensino médio. Não têm qualquer escolaridade ou frequentaram menos de 1 ano a escola 19,2 milhões de brasileiros. Em 2011, nossa média de escolaridade era de 7,3 anos. Para os que estão empregados, 8,4 anos de estudos.

Nos EUA, em 1960, haviam cursado o ensino médio 60% dos trabalhadores. Hoje, o índice chega a 90%. Porém, há um dado alentador: o grupo brasileiro com 11 anos de escolaridade cresceu em 22 milhões de pessoas de 2001 a 2011.
Não sabem ler nem escrever 12,9 milhões de brasileiros com mais de 7 anos de idade. E 20,4% da população acima de 15 anos são de analfabetos funcionais – assinam o nome, mas são incapazes de redigir uma carta ou interpretar um texto. Na população entre 15 e 64 anos, em cada três brasileiros apenas um consegue interpretar um texto e fazer operações aritméticas elementares. 

Em 2011, 22,6% das crianças de 4 a 5 anos estavam fora da escola. E, abaixo dessas idades, 1,3 milhão não encontrava vagas em creches. É animador constatar que 98,2% dos brasileiros entre 6 e 14 anos estudam. Mas um dado é alarmante: dos 27,3 milhões de jovens brasileiros entre 18 e 25 anos, 5,3 milhões se encontram fora da escola e sem trabalho. Dos jovens entre 15 e 17 anos, 40% não frequentam a escola (FGV 2009). Na parcela mais pobre, com renda per capita até R$77,75/mês, quase a metade se encontra fora da escola e do trabalho. De que vive essa gente? Por que fora da escola?

É nesse contingente dos “nem nem” (nem estudo nem trabalho) que estão os maiores os índices de criminalidade. Muitos abandonam a escola por desinteresse, devido à falta de pedagogia; por falta de recursos financeiros; por ingressarem no narcotráfico ou se tornarem dependentes químicos; e também por gravidez precoce. O número de moças (3,5 milhões) do grupo “nem nem” é quase o dobro do número de rapazes (1,8 milhão). E 50% dessas moças já são mães.
Morei cinco anos na Favela de Santa Maria, em Vitória. Constatei que as adolescentes deixam de ser molestadas a partir do momento em que engravidam. Moça solteira sem filho fica vulnerável ao assédio permanente, às vezes violento. Muitas engravidam por falta de educação sexual e orientação no uso de contraceptivos.

Na economia globalizada é imprescindível falar inglês. Apenas 0,5% da população brasileira domina o idioma de Shakespeare. A maioria, sem fluência. O Brasil enfrenta hoje – em plenas obras do PAC, da Copa e das Olimpíadas – o déficit de 150 mil engenheiros. Apenas 10% dos universitários cursam carreiras vinculadas às engenharias. Temos somente 6 engenheiros para cada 1 mil pessoas economicamente ativas. Nos EUA e no Japão a proporção é de 25/1 mil.
Falta no Brasil interação entre academia e empresa, teoria e prática. Nossos universitários não têm suficiente conhecimento técnico. Em nosso país, o professor é valorizado pelo número de pesquisas e publicações, e não pela experiência de trabalho. O mestre se apresenta como detentor do conhecimento e não como facilitador do aprendizado.

O preconceito a Paulo Freire fortalece o anacronismo de nossas universidades. E nossas empresas, que aspiram por mão de obra qualificada, ainda não despertaram para o seu papel de indutoras da educação.

Riso muda de canal - Carolina Braga

Humor feito especialmente para a internet se profissionaliza e ganha produtoras voltadas para o mercado na rede. Programas com linguagem própria alcançam milhões de espectadores 

Carolina Braga
Estado de Minas: 14/11/2012 

Daniel Curi, do Parafernalha, dirige vídeo para o YouTube com os atores Sílvio Mattos e Cezar Maracujá


A primeira sensação foi animadora para quem gosta de criar: liberou geral. Poder fazer e publicar vídeos de todo tipo transformou o YouTube na plataforma ideal para realizar a máxima de Andy Warhol. Afinal, no meio artístico, quem não quer seus 15 minutos de fama? Qualidade de acabamento não parecia algo a se levar em conta. Mas o tempo tem dado sinais de que o site evoluiu para se manter vivo. O amadorismo dos primeiros anos passou a dividir espaço com o profissionalismo e o nível das produções tem respondido a essa nova realidade.

Começam a surgir no Brasil as primeiras produtoras de vídeo especializadas em criar filmes de humor para a rede. O YouTube, claro, é a casa de todo mundo. A safra no ar tem se revelado interessante. Estão na rede apostas de linguagem e muita experimentação. Gostando ou não do gênero, é impossível não constatar diversidade e qualidade do que foi feito e pensando especificamente na lógica da web. 

“Calhou juntar a fome com a vontade de comer”. É assim que o ator Gregório Duvivier explica a criação da Porta dos Fundos. A produtora com sede no Rio de Janeiro é uma invenção dele, do também ator Fábio Porchat, de Antônio Tabet, criador do blog Kibeloco, e de Ian SBF. Como eles já adoravam fazer as coisas para a internet, alcançar um patamar profissional foi um passo natural. 

Oficialmente, a Porta dos Fundos foi fundada no início deste ano. “Ficamos seis meses filmando para conseguir estrear com uma frente de trabalhos prontos. Isso para não ficar no sufoco de ter que produzir para o dia seguinte”, detalha Gregório. Em 6 de agosto, o canal entrou no ar no YouTube e os números começaram a crescer. O vídeo inaugural, com cerca de 15 minutos, ultrapassou a marca de 1,3 milhão de visualizações. E tem sido assim.

Em apenas três meses, a Porta dos Fundos conquistou um público cativo na internet e tem aprimorado a própria linguagem. É – e tem que ser – um humor rápido. “Basicamente, fazemos o que a gente gosta. Somos o parâmetro para a linguagem, não temos muitas referências pensadas. Temos um humor estranho, esquisito”, reconhece Duvivier. Todas as segundas e quintas-feiras material novo entra na rede. Uma vez por mês é publicado um programa maior, de 15 minutos, com episódios inéditos. 

Os mais vistos satirizam relacionamentos amorosos, filmes eróticos e programas políticos. O campeão da Porta dos Fundos, com mais de 2 milhões de visualizações, é uma brincadeira com o modelo de atendimento de uma rede de comida fast food, a italiana Spoleto. O sucesso foi tanto que a empresa resolveu patrocinar outros episódios no mesmo formato. O conteúdo dos vídeos responde por boa parte do êxito alcançado, mas o profissionalismo da realização também contribui – e muito. 

“O set de filmagem, em geral, tem três ou quatro pessoas. Isso é minúsculo se comparado com o cinema ou a televisão. É pouca gente desempenhando várias funções. Parece difícil fazer assim, mas é mais fácil, tem menos gente para administrar”, comenta Gregório. Cada filme que entra no ar passa por todas as etapas da cadeia convencional do audiovisual: elaboração de roteiro, produção, edição e pós-produção. “Lógico que o YouTube vai continuar tendo de tudo, a diversidade é a alma do negócio. Por outro lado, é importante dar espaço para a profissionalização e a rentabilidade dos vídeos. O caminho é que as produções fiquem cada vez menos amadoras”, prevê o ator. 


Fábio Porchat, do Porta dos Fundos, rosto também conhecido em programas de humor na televisão Fábio Porchat, do Porta dos Fundos, rosto também conhecido em programas de humor na televisão Porta dos Fundos/Divulgação


Em equipe


O surgimento de várias produtoras dedicadas a esse filão é um sinal. Celebridade na rede, o blogueiro Felipe Neto foi pioneiro na criação de uma empresa dedicada a fazer vídeos profissionais de humor para a internet. A Parafernalha surgiu em julho do ano passado, com uma equipe de seis funcionários. Atualmente, já são 20 pessoas envolvidas no processo de criação, divulgação e circulação dos filmes. Na hora da filmagem, a equipe é de cinema: tem produtor, diretor, fotógrafo e o responsável pelo áudio, além do elenco. 

Em pouco mais de um ano foram lançados 79 trabalhos. Juntos, contabilizam 80 bilhões de visualizações. “O Parafernalha é o terceiro maior canal do YouTube brasileiro”, informa Fellipe Lourenço, o braço direito de Neto na produtora. Foi convocado para entrar para o time somente para cuidar da gestão administrativa da produtora, já que o crescimento foi assustador. 

“As pessoas estão migrando da televisão”, garante o administrador. O formato para a web, no entanto, é diferente da telinha. Em geral, os vídeos desenvolvem a narrativa, com início, meio e fim, em um tempo muito reduzido se comparado aos outros padrões. “Funciona como um tiro curto, porque tem que fisgar o espectador rápido. As pessoas não têm paciência de ver programas de meia hora”, diz Lourenço.

Cotidiano

Na websérie Histórias da Ana, os episódios têm, no máximo, cinco minutos. Na criação da publicitária e atriz paulistana Ana Paula Dias e da mineira Fernanda Soares, formada em cinema, a personagem-título narra, com peculiar senso de humor, passagens da própria vida. “Conto as histórias da mesma forma que contaria se estivesse com você em um bar. A Fê experimenta a linguagem na edição”, explica. 

O primeiro vídeo foi publicado em 8 de março. “Nos surpreendemos: no primeiro dia, as pessoas já pediam o próximo”, lembra Ana. Assim tem sido feito. Entre as qualidades da série está justamente a agilidade da linguagem e o espaço para o improviso. “Tem um roteiro-base com as coisas que precisam ser ditas. Dentro disso, sempre convido atores como os quais gosto de trabalhar ou que tenham vontade de dividir a cena”, explica. 

Desde então, Ana Paula e Fernanda lançam dois episódios por mês. Para a atriz, Histórias da Ana difere das criações da Porta dos Fundos justamente pelo estilo de humor. E como na internet cabe de tudo, tem público para todos. Mesmo com a liberdade da rede, as criadoras não descartam possibilidades de experimentar outros meios. “Faço para poder trabalhar com essa linguagem. Está servindo para experimentar coisas como atriz”, comemora. 

Além de manter a produção de vídeos, a turma da Parafernalha pretende investir no modelo de criação voltada para a rede, já pensando em consultoria. O modelo que perseguem, inspirado em experiências americanas, transformaria a produtora em um centro de produção de conteúdo. Já na Porta dos Fundos, o sucesso tem despertado nos criadores a vontade de migrar para outras mídias. “Estamos começando a pensar em um longa-metragem. É um passo importante”, adianta Gregório Duvivier.

Saiba mais
Canais no Youtube


O formato de canais no YouTube foi estratégia do site para fazer frente à televisão. É um centro de transmissão que funciona 24 horas por dia, no qual os usuários podem assistir e compartilhar os vídeos. O espaço pode ser personalizado e oferece ao administrador acesso a dados que facilitam o desenho do público visitante. Mesmo que popularidade seja algo inquestionável na produção voltada para a internet, principalmente nos canais, os modelos de financiamento ainda rendem especulações. No momento, tanto a Parafernalha como a Porta dos Fundos têm parte da renda vinda de anúncios do Google e também de vídeos publicitários exibidos antes do filme.

Porta dos Fundos 

201.598 
inscritos

28.595.378 
exibições

Parafernalha

717.457 
inscritos

82.529.702 
exibições

Sucesso

O programa #4, da Porta dos Fundos, lançado segunda-feira, aparece na lista dos mais populares da semana. Foi visualizado mais de 1.696.660 vezes em cerca de 24 horas.

Por que o tripé? - Alexandre Schwartsman


ALEXANDRE SCHWARTSMAN
Por que o tripé?
Perdemos duas pernas, ao fixar o câmbio e ao permitir que o gasto público subisse e inviabilizasse a meta fiscal
Qualquer analista que tenha mantido alguma conexão com a realidade já percebeu que o tripé econômico adotado a partir de 1999 não mais existe.
Fingir que a fixação da taxa de câmbio, a incapacidade de atingir a meta para o superavit primário
-apesar do volume extraordinário de receitas de dividendos- e a perda pelo terceiro ano consecutivo da meta de inflação (com mais duas perdas contratadas para 2013 e 2014) sejam apenas "pragmatismo" na operação do tripé revela um cinismo atroz, ou apenas a incapacidade de perceber que o ambiente econômico mudou, e não para melhor.
A própria relutância em reconhecer o abandono do esquema de política econômica já reflete certo desconforto. De fato, se houvesse uma alternativa superior, não veríamos tantos dos antigos opositores do tripé insistindo que ele está, sim, mantido.
Na verdade, a questão central quanto à escolha do modelo de política diz respeito ao regime cambial, isto é, se a taxa de câmbio se ajusta às forças de mercado ou se é, de alguma forma, administrada.
Países que adotam regimes de câmbio administrado em geral o fazem por duas razões: ou são economias com um grande volume de comércio internacional ou têm dificuldades em controlar a inflação.
Um exemplo do primeiro caso é a adoção do euro. As economias europeias, seja pela proximidade geográfica, seja pelo processo de integração no pós-guerra, caracterizam-se por intensa atividade comercial; sob tais circunstâncias, a taxa de câmbio fixa facilita as trocas, permitindo maior especialização e produtividade. Não por acaso, sempre que possível esses países tentaram manter taxas de câmbio fixas entre si, com fracassos espetaculares ao longo do caminho.
Já a Argentina de 1991 e o Equador de hoje representam os casos de países cuja incapacidade de lidar com o problema inflacionário acabou desaguando na "importação" da política monetária dos Estados Unidos, por meio da adoção do dólar.
O Brasil não se enquadra nessas alternativas. Do ponto de vista do comércio internacional, somos um país relativamente fechado e com um componente considerável de commodities em nossas exportações. Já no que diz respeito à inflação, nossa experiência de poucos anos atrás mostra que um Banco Central resoluto tem plena capacidade de mantê-la controlada.
Adicionalmente, nos últimos anos o país se livrou das dívidas em moeda estrangeira e, com isso, dos riscos financeiros associados à flutuação da moeda, isto é, da possibilidade de a depreciação cambial levar à quebra de empresas endividadas no exterior.
Por esses motivos, deve ficar claro que o regime de câmbio flutuante é o que melhor serve ao país. Em caso de choques, como alterações em preços de commodities, ou nas condições de financiamento externo, a taxa de câmbio se ajusta, isolando, em grande medida, os efeitos desses choques sobre atividade e preços domésticos.
A decorrência lógica de tal regime cambial é a necessidade do Banco Central de se dedicar ao controle inflacionário, no caso pela adoção de um sistema de metas para a inflação, uma vez que não se pode contar com a política monetária de outros países para resolver o problema.
Dados os dois primeiros componentes, segue-se que o Tesouro deve dar as condições para que o Banco Central exerça seu mandato, seja garantindo que a dívida pública se mantenha estável, sem o que nenhuma estratégia anti-inflacionária é crível, seja auxiliando o controle da demanda interna.
Isso dito, o tripé é também uma metáfora feliz, pois sem uma das pernas a estrutura toda se torna instável. No caso, perdemos duas, ao fixar a taxa de câmbio e ao permitir que o gasto público crescesse de forma a inviabilizar a meta fiscal, o que já comprometeria o controle inflacionário mesmo se o Banco Central estivesse comprometido com a sua meta.
Resta tentar segurar a inflação atuando diretamente sobre os preços. Nunca funcionou, nem para o imperador Diocleciano, mas é a estratégia que sobrou.

    Fim de semana em Diamantina - Fernando Brant‏


    Estado de Minas: 14/11/2012 
    Chovia, na estrada e na cidade. Voltar à terra em que passei parte importante da infância é sempre bom para mim. Ainda mais que a maioria das casas, das ruas e o cenário pouco mudaram, passados tantos anos. Essa é a vantagem de se viver em cidades tombadas pelo Patrimônio Histórico. O certo é que sempre que posso, e posso menos do que mereço, pego o carro e me dirijo às pedras capistranas de Diamantina.

    O motivo desta vez era o Diamantina Gourmet, festival gastronômico que se realiza ali por duas semanas. Os diamantinos são muito criativos, não gostam de copiar o que existe. Assim é que, ao contrário de muitas festividades desse tipo, em que se costuma chamar os grandes mestres da culinária para exibir seu saber na arte de cozinhar, ali se partiu de um outro princípio.

    Os mestres foram convidados, com antecedência, para ministrar cursos para os profissionais de lá. O intercâmbio trouxe o conhecimento de fora, que foi incorporado às habilidades próprias da gente do lugar. Os vários restaurantes do velho Tijuco podem agora nos presentear com o sabor e a riqueza da insuperável cozinha mineira, acrescida da ciência que se adquiriu nos cursos. O Clube da Esquina foi o homenageado da festa deste ano.

    Um dia, estava eu quieto em minha casa em Beagá, e fui acionado pela Mariana, da Pousada do Garimpo. Ela tinha escolhido uma música, San Vicente, minha e do Milton, para ser o tema do prato que ela queria oferecer aos convidados. Conversamos sobre a letra e, findo o telefonema, fiquei imaginando como ela resolveria em comida o que dissera em palavras a respeito de um tempo conturbado do nosso continente sul-americano. Ela me surpreendeu agradavelmente, juntamente com o chef Vandeca, com a compreensão do sentido mais profundo da canção: a integração entre os povos aqui do nosso lado da América, mensagem implícita, em meio à dor daquele tempo.

    Com a chuva e o frio me dediquei às melhores qualidades de Diamantina: bebida, comida, amizade e música. O meu prato ficou supimpa. Entrada: ceviche peruano agregado aos nossos surubim e abacate manteiga e insumos orgânicos. Prato principal: lombo ao vinho com virado de quinoa (originário do Peru, Colômbia e Chile) e couve mineira e batatas ao molho huncaina da Venezuela. Na sobremesa, quiseram se alimentar de nós. Fernando, Milton e Mercedes Sosa foi o nome que deram à combinação de doce de leite, queijo, compotas e pastelzinho.

    Até domingo você pode ir até lá, curtir Diamantina e comer outras delícias como a esfiha de carne moída e ora-pro-nóbis. Recomendo essas e outras alegrias diamantinas.

    P.S.: Diante de minha queixa, a Copasa veio à minha casa e resolveu todas as questões expostas por mim na semana passada. Eles estão alertas e eu satisfeito.

    CIÊNCIA » Os mecanismos da empatia - Paloma Oliveto‏

    Pesquisa indica área cerebral relacionada à capacidade de perceber o que os outros estão sentindo. Descoberta pode permitir criação de tratamentos para esquizofrenia e psicopatia 

    Paloma Oliveto
    Estado de Minas: 14/11/2012 

    É comum espectadores chorarem durante um filme triste, mesmo sabendo que se trata apenas de ficção. O mecanismo é o mesmo que está por trás da angústia que um brasileiro sente ao ver fotografias de crianças feridas na guerra civil síria, apesar de viver a mais de 10 mil quilômetros de Damasco. Essa habilidade de se identificar com o outro e ser sensível aos sentimentos alheios é a empatia, um fenômeno estudado por filosofias, religiões e, mais recentemente, pela medicina. Lesões em determinadas regiões do cérebro podem explicar por que alguns indivíduos têm mais dificuldade em se colocar no lugar dos demais, algo que pode levar a comportamentos antissociais.

    “Muitas evidências que temos a partir da neuroimagem sugerem que observar uma pessoa com dor, ou outro tipo de sentimento ativa em quem está vendo regiões do cérebro chamadas córtex insular anterior e córtex cingulado anterior. Mas até agora não tínhamos certeza sobre o papel que elas desempenham na empatia, nem se eram ‘necessárias’ para a percepção da dor alheia”, diz Patrick R. Hof, coautor de um estudo sobre o tema, publicado na revista Brain. A pesquisa, que avaliou pessoas saudáveis e com lesões cerebrais de diferentes tipos concluiu que a área mais ligada ao processo de empatia é o córtex insular anterior. 

    Neurologista do Hospital Mount Sinai, nos Estados Unidos, Hof afirma que o conhecimento das áreas exatas implicadas nesse processo pode ajudar a desenvolver tratamentos para pacientes que sofrem de doenças neuropsiquiátricas caracterizadas por déficits da interação social. “Agora que sabemos quais são os mecanismos cerebrais associados à empatia, podemos traduzir essas descobertas para tratar problemas como o autismo e a demência frontotemporal”, acredita. 

    Imagens Na pesquisa que permitiu conhecer melhor o funcionamento do processo de empatia, voluntários sem nenhum tipo de lesão e pacientes com danos cerebrais diversos foram expostos a imagens que sugeriam situações dolorosas ou sem sofrimento, mas em cenários idênticos. Um dos painéis, por exemplo, mostrava à direita a mão de uma mulher com dois dedos imprensados em uma gaveta. À esquerda aparecia a mesma mão, porém, apenas fechando a gaveta, sem se machucar. Apertando um botão, os participantes diziam se cada uma das imagens representavam ou não cenas de dor, em um espaço de tempo de quatro microssegundos. “Quando comparamos o grupo de controle às pessoas com algum tipo de lesão cerebral, verificamos que os participantes com problemas especificamente no córtex insular anterior demoravam mais para avaliar o estado emocional da pessoa com dor e sentir empatia por ela”, conta o neuropsiquiatra Xiaosi Gu, que trabalhou com os pesquisadores americanos realizando os mesmos testes no Hospital Tiantan, em Pequim. 

    O médico afirma que o déficit de empatia constatado em pessoas com lesões no córtex insular anterior são muito semelhantes aos observados em pacientes com distúrbio de conduta, esquizofrenia e transtorno da personalidade (borderline), entre outros. “Isso sugere que, por trás de muitas condições mentais, pode haver problemas nos circuitos de neurônios localizados nessa região”, afirma. “A rede cerebral envolvida nas funções sociais, geralmente chamada de ‘cérebro social’, é complexa e formada por diversas áreas, por isso a importância de delimitar qual está, basicamente, ligada à empatia e à falta dela”, diz. De acordo com ele, o córtex insular anterior está implicado em outos processos sociais, como o discurso verbal, a autoconsciência e a tomada de decisões complexas. “Um estudo com ressonância magnética funcional do qual participei há pouco tempo indicou que é nesse local do cérebro que cognição e emoções são integradas”, exemplifica.
    Para Patrick R. Hof, encontrar os circuitos exatos relacionados à empatia é o primeiro passo na busca de tratamentos mais eficazes que estimulem essa habilidade em uma série de condições neurológicas e psiquiátricas. “Não é que eles não se importem com os outros; eles têm dificuldade em reconhecer a dor e o desconforto alheios. Acredito que terapia cognitiva e comportamental pode ser importante para compensar os déficits de empatia nesses pacientes. Mas nossas descobertas também abrem caminho para novas possibilidades. Um estudo que se concentre nos mecanismos celulares e moleculares envolvidos no circuito de neurônios do córtex insular anterior poderá desenvolver, por exemplo, novos fármacos que consigam regular distúrbios nessa região. Isso vai favorecer muito os pacientes”, aposta. 

    Psicopatia Desvendar as redes neurais implicadas diretamente com a empatia poderá ajudar a tratar até mesmo uma condição para a qual, atualmente, não há intervenções disponíveis: a psicopatia. De acordo com Michael Koenigs, psiquiatra da Universidade de Wisconsin que há muitos anos investiga esse misterioso distúrbio, nos psicopatas, as estruturas do cérebro que regulam o comportamento social e emocional — incluindo a habilidade de reconhecer a dor de outras pessoas — estão em descompasso. 

    Recentemente, Koenings realizou exames de imagem no cérebro de prisioneiros que cometeram crimes semelhantes. Vinte deles eram considerados psicopatas, a partir de avaliações psicológicas e entrevistas. O psiquiatra conta que nesses detentos as redes neuronais se comportam de maneira diferente não só das de cidadãos comuns, mas também quando comparadas às de presidiários que cometeram crimes tão cruéis quanto eles. “O aprofundamento dos estudos da relação entre empatia, impulsividade e disfunção cerebral é fascinante, pois pode ser a resposta para problemas que ainda não compreendemos. Sou otimista quanto à possibilidade de, pelo menos no caso dos psicopatas, encontrarmos um tratamento no futuro, graças aos testes neurológicos que têm sido realizados nas últimas décadas”, conta.

    Controle os carboidratos e coma de tudo - Carolina Cotta‏

    No Dia Mundial do Diabetes, lembrado hoje, especialistas falam da importância de o paciente aprender a dosar porção diária que pode ingerir. Há falta de informação sobre a dieta a ser seguida 

    Carolina Cotta
    Estado de Minas: 14/11/2012 


    É bem provável que você conheça um diabético. Dados da Internacional Diabetes Federation (IDF) estimam a existência de 12 milhões de portadores da doença apenas entre nós, brasileiros. É possível também que já tenha ouvido essa pessoa dizer que ela nunca pode ingerir açúcar, embora a veja exagerando em pães e massas. Fato é que comendo açúcar ou pão o portador do diabetes está consumindo carboidrato, fonte de energia para o funcionamento do organismo. Pensando nesses erros  que interferem no curso da doença, na data em que se celebra o Dia Mundial do Diabetes, o Estado de Minas traz orientações sobre a alimentação para que as pessoas diabéticas possam conviver melhor com a doença.

    Todos os alimentos são convertidos em açúcar quando entram na corrente sanguínea, sendo o carboidrato o principal. Com ajuda da insulina, um hormônio, o açúcar é transformado em energia para as células. Segundo o endocrinologista Rodrigo Lamounier, diretor do Departamento de Atividade Física da Sociedade Brasileira de Diabetes, não existe proibição na alimentação, mesmo para o portador da doença. “Dieta para diabético é coisa fora de moda”, frisa Lamounier. Hoje é cada vez mais comum a técnica da contagem de carboidratos, em que o paciente aprende a calcular quanto pode comer para, a partir daí, fazer suas escolhas. Afinal, o mais importante é a quantidade e não a fonte de carboidrato.
    Para a contagem dessa importante fonte de energia, encontrada em massas, grãos e frutas, o paciente precisa aprender a ler rótulos e consultar tabelas personalizadas. Segundo a enfermeira Glauciane Lilian Carvalho Mendes, especialista em educação em diabetes, basta observar os tamanhos das porções e os carboidratos correspondentes à quantidade ingerida dos alimentos. Se 200ml de leite desnatado têm 10g de carboidrato e o paciente tomou 100ml da bebida, isso significa que ele consumiu 5g da porção que lhe é permitida. O método pode ser adotado por qualquer diabético, independentemente do tipo de diabetes e de tratamento que ele segue, com medicamentos orais ou insulina.

    O paciente tem uma meta de carboidratos fixa para cada refeição e deve consultar a lista de substituição ou equivalentes, respeitando o total de gramas previamente definido. “O paciente tem a liberdade de escolher o tipo e a quantidade de alimentos que vai consumir, contabilizando os gramas de carboidratos ingeridos e calculando a dose de insulina certa”, explica a enfermeira. É assim que um diabético, desde que seguindo o método corretamente, pode comer o tão sonhado pedaço de bolo de chocolate sem que prejudique o controle de sua glicose. Hoje já se sabe que o mais importante é o equilíbrio e não a proibição na alimentação.

    LIBERDADE COM ERROS Mesmo com tamanha liberdade, os diabéticos ainda erram na alimentação. Segundo Glauciane – que com a educação em diabetes visa reduzir o impacto da doença na vida das pessoas, implementando estratégias que facilitem seu controle e reduzam complicações –, os principais erros ainda ocorrem por falta de informação. Os mais comuns ainda passam pelas ideias de que pessoas com diabetes devem comer “alimentos dietéticos”, seguir uma “dieta com várias restrições” e “nunca ingerir açúcar”. Mas a alimentação de quem tem diabetes segue os mesmos padrões das recomendações nutricionais para a população em geral, tendo como guia a pirâmide alimentar.

    É preciso escolher bem os alimentos no dia a dia, priorizando os naturais, como vegetais, frutas secas, cereais integrais e laticínios desnatados. É bom evitar frituras e alimentos ricos em gorduras. Outra indicação é a ingestão de, no mínimo, dois litros de água por dia e a adoção de horários regulares de refeição para evitar a hipoglicemia, a baixa de glicose no sangue. O controle da alimentação e o uso correto da medicação podem garantir vida longa a esses pacientes. “O diabetes mal controlado é responsável por muitos problemas graves. Mas quem cuida bem da doença pode ter uma vida completamente normal”, acrescenta Rodrigo Lamounier.

    Cirurgia ou stent?

    A cirurgia com implantes de ponte (safena, mamária ou radial) é melhor que a angioplastia com stent medicamentoso no tratamento da doença cardíaca em pacientes diabéticos. A conclusão é do estudo Future Revascularization Evaluation in Patients with Diabetes Melitus: Optimal Managemment of Miltivessel Disease (Futuro da Evolução da Revascularização em Pacientes com Diabetes Melitus:  Gestão Ideal da Doença), que acaba de ser publicado no News England Journal of Medicine. 

    Por cinco anos, 140 centros cardiológicos nas Américas e na Europa, entre eles o Incor, de São Paulo, acompanharam a evolução de 1.900 pacientes diabéticos cardíacos com obstrução em três artérias coronárias principais, as vias de acesso do sangue com oxigênio e nutrientes até o músculo cardíaco. Tal situação caracteriza o estágio avançado da doença coronária, fase em que é preciso intervir diretamente na obstrução para garantir a vida do paciente.

    Em comparação com a angioplastia com stent medicamentoso, os pacientes diabéticos cardíacos submetidos à cirurgia morreram menos, tanto por causas diversas (11% no grupo de cirurgia contra 16% no de angioplastia com stent medicamentoso), quanto por motivos cardíacos (7% contra 11%). Também tiveram menos infarto na evolução da doença (6% contra 14%) e necessitaram menos de novas intervenções (5% contra 13%).

    Segundo o cardiologista Whady Hueb, coordenador do Freedom no Incor, a indicação de angioplastia com stent para esses pacientes deve ser criteriosa. “Para diabéticos com múltiplas obstruções nas artérias, baixa comorbidade e idade não muito avançada, o indicado é a cirurgia. No caso de apenas uma obstrução ou obstruções de baixo impacto, comorbidades importantes e idade avançada, a angioplastia com stent pode ser cogitada”, afirma.

    Estima-se que 75% dos diabéticos brasileiros desenvolverão doença cardíaca coronária em algum momento da vida, sendo que parte significativa deles terá necessidade de passar por intervenção invasiva no coração. Para Roberto Kalil, diretor da Divisão de Cardiologia Clínica do Incor, o estudo sobre a doença certamente contribuirá para orientar a conduta médica no assunto. (CC)

    (Pediatria) Os pais agradecem - Jefferson da Fonseca Coutinho‏

     Por idealismo, grupo de estudantes ignora problemas como remuneração baixa e escolhe pediatria como especialidade. Número de candidatos à titulação caiu mais de 50% em 10 anos 

    Jefferson da Fonseca Coutinho
    Estado de Minas: 14/11/2012 
    No corredor que dá para a sala de aula de medicina, os alunos de direito distribuem mensagens em papel picado. Tarefa de filosofia câmpus adentro. O recado diz: “Não é tanto o que fazemos, mas o motivo pelo qual fazemos que determina a bondade ou a malícia”. Quem assina é Santo Agostinho. Lhaiza Emanuele Marques de Souza, de 19, e Laura Alvares Marton Rangel, de 23, recebem seus bilhetes de letra miúda. Mostram-se tocadas. As duas são estudantes do primeiro ano de medicina. Raras, tão cedo já estão decididas pela pediatria. Sabem bem das agruras da especialidade – má remuneração, carga horária de trabalho sem igual e hospitais de portas fechadas para a vocação. Em Minas, nos últimos 10 anos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o número de candidatos à titulação pediátrica caiu mais de 50%. Lhaiza e Laura, idealistas, querem ajudar a aumentar o número de profissionais no estado. Hoje, há um pediatra para cada 2.720 crianças em todo o estado.

    Laura e Lhaiza entendem que estão em questão outros valores além de salários e benefícios com a carreira. “Quando entrei para o curso não pensava em pediatria. Lá fora, há uma aversão à especialidade. Como se você, pediatra, deixasse de ter vida própria para cuidar do filho dos outros”, conta Laura. A estudante diz que na universidade passou a ter outra visão da especialidade. Diz-se tocada pela paixão dos professores, pediatras bem-sucedidos, que ensinam uma profissão “muito além do dinheiro”. Lhaiza, vinda de Ubaporanga, no Vale do Rio Doce, está igualmente feliz com o curso. Especialmente depois de vencer quase 100 candidados pela vaga na primeira turma da PUC Minas. Acaba de assistir ao primeiro parto no Hospital Regional de Betim, na Grande BH. “Acompanhei o exame clínico do bebê. A gente não pode visar só o financeiro. É preciso acreditar que você pode fazer a diferença”, emociona-se. No bolso de Lhaiza, o papel recebido das mãos do estudante de direito: “O dinheiro é a essência alienada do trabalho e da existência do homem; a essência domina-o e ele adora”. Um tal Karl Marx.

    Daniela de Cássia Sampaio Miranda, de 19, mora na Região da Pampulha. Até o câmpus da medicina, na região metropolitana, são cerca de 4 horas diárias – somadas ida e volta – pelo sonho de formar-se pediatra. Com outras 8 horas em sala de aula, o resto é para mais estudo, alimentação, sono e, quando é possível, um pouco de lazer. A estudante, sorrindo, comenta que, pela boa formação, serão mais pelo menos oito anos assim. Tanto esforço e dedicação pelo propósito de “ajudar as crianças”. “Sinto que posso ser mais útil para a sociedade como pediatra”, diz. A opção pela especialidade, segundo Daniela, foi também influência do bom atendimento recebido, guardado na memória. “Minha pediatra, doutora Vânia, sempre foi muito boa comigo. Gostava demais de ser atendida por ela”, relembra. Outro que venceu 97 candidatos pela vaga de medicina, já pensando em pediatria, foi Jhonson Tizzo Godoy, de 20, vindo de Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Foram 15 vestibulares e uma iniciação em biotecnologia. Para o estudante, que quer cuidar de crianças com câncer, a falta de pediatras é uma motivação a mais. “A medicina já é um sacerdócio e a pediatria é ainda mais que isso”, considera.

    Encanto do mestre Em sala de aula, o professor Eduardo Carlos Tavares, de 63, aposentado pela Universidade Federal de Minas Gerais e professor da PUC Minas. Médico desde 1974, o pediatra não esconde o carinho pelos 59 alunos. Menos ainda o amor pela especialidade com a qual faz história e educou a família. “Quantro entrei para a medicina a única certeza que eu tinha era a de que não seria pediatra. No último ano, a pediatria, em três meses, foi indiscutivelmente a melhor parte do curso. Encantei-me pelas crianças e pelos meus professores”, diz. A profissão em baixa, segundo o veterano, se deve a dois fatores: “O primeiro, é o da especialização, como já acorreu com a clínica médica, quando os médicos buscaram outras áreas de atuação em busca de novas oportunidades”. O segundo, diz o professor, é, de fato, a remuneração. “Não há, na pediatria, valor agregado com exames, como ocorre com o oftamologista e com o cardiologista, por exemplo”, explica. Além disso, o doutor professor avalia que os convênios, como estão, contribuem ainda mais para a baixa remuneração do pediatra.
    O retrato da vocação

    No Hospital Sofia Feldman (HSF), maior maternidade de Minas Gerais – responsável por mais de 100 mil nascimentos em 30 anos, com cerca de 800 partos por mês –, a doutora Juliana Cantarelli, de 34 anos, fala da paixão pela pediatria por amor às crianças. Com jornada semanal de 54 horas, Juliana, entre pequenos – alguns com pouco mais de 1kg – no centro de tratamento intensivo (CTI) ou na unidade de cuidados intermediários (UCI), é retrato da vocação. Para a médica, o pediatra não é um profissional qualquer. “Você tem que se dedicar, estar disponível. É uma tristeza que a pessoa trabalhe por dinheiro e esqueça o próximo”, diz.

    Mãe do Matheus, de 2, e do João Pedro, de 4, Juliana conta que se decidiu pela neonatologia quando – logo no início da carreira – viu morrer um recém-nascido com 7 dias, tomado por infecção. “É paixão. Quem escolhe a pediatria não escolhe pela criança apenas, escolhe a família. Vejo com entusiasmo a estrutura familiar se formando”, sorri. A maior recompensa do pediatra, segundo Juliana, não é a remuneração. “É a satisfação de ver as crianças saudáveis, se desenvolvendo... é a alegria das mães”. Mães como Karen Lopes dos Santos, de 20, há 76 dias no hospital, de plantão pela saúde do filho Kaio, prematuro, nascido com 28 semanas e 1,1kg. 

    De olhos iluminados, Karen, de Belo Vale, a 82 quilômetros de Belo Horizonte, comemora a recuperação de Kaio. Com o quadro agravado por pneumonia, o mocinho viveu dias difíceis no CTI. Saudável, com 40 semanas e 2,490kg, o bebê acaba de chegar à UCI e a jovem mamãe não vê a hora de ir para casa. Satisfação que a doutora Juliana não esconde ao ver a jovem mãe, feliz, embalar o rebento. Na UTI, bela e miúda, Ana Cláudia, nascida com 1,3kg e 31 semanas, espera a sorte do belo-valense Kaio.


    SAIBA MAIS: sintomas diferentes

    A especialidade pediatria surgiu em 1722, na Suíça. Théodore Zwinger, médico, demonstrou que os sinais e sintomas das doenças nas crianças são diferentes dos que se observam nos adultos. Os médicos, então, passaram a acentuar a necessidade de conhecer as peculiaridades das reações do organismo infantil. Com a introdução da metodologia científica na produção de conhecimentos, a pediatria delimitou-se como ramo da medicina especializado no ser humano em crescimento e desenvolvimento. 


    TRÊS PERGUINTAS PARA...
    PAULO POGGIALI, Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria

    1) Por que os jovens médicos devem continuar optando pela pediatria?
    Primeiro porque devem, no envolvimento que se deseja seja intenso com todas as matérias ministradas nas escolas de medicina, deixar acontecer a vocação. Mas também porque praticar a pediatria, com toda a sua abrangência e complexidade, com consequente exigência na formação universitária e na especialização, mas com emoção e o natural reconhecimento e respeito com que os pais e as próprias crianças retribuem, permite ser verdadeiramente médico.

    2) Como o senhor vê o futuro da pediatria? 
    Vejo com confiança e tranquilidade. Sou muito otimista, porque percebo que a população, em todas as faixas sociais, entende ser o pediatra o profissional realmente preparado para a atenção à infância e adolescência. E os gestores de saúde pública e suplementar percebem a pressão resultante deste entendimento.

    3) A insegurança dos pais, que acaba exigindo muito do pediatra (atendimento a qualquer hora, telefones, e-mails...), ajuda a afugentar os profissionais da área? 
    Não! O pediatra gosta do que faz, interage com grande satisfação com os pais de seus pacientes. O pediatra é o verdadeiro "médico da família". Interage com pais, avós e crianças com alegria e habitualmente com emoção.