quinta-feira, 25 de abril de 2013

A conquista do DNA

folha de são paulo


Terapia gênica lançada na Europa marca 60 anos da decifração da estrutura do DNA



REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Seis décadas depois que o americano James Watson e o britânico Francis Crick contaram vantagem num pub de Cambridge (Reino Unido), dizendo que tinham descoberto "o segredo da vida" ao decifrar a estrutura do DNA, a pesquisa sobre genética vive um momento ambíguo, no qual triunfos se misturam a uma lista de mistérios que ainda é um bocado comprida.
O aniversário de 60 anos da descoberta de Watson e Crick, publicada em 25 de abril num artigo na revista científica "Nature", acontece no ano em que o primeiro tratamento cujo objetivo é alterar o DNA do paciente chega ao mercado dos países desenvolvidos.
Trata-se do Glybera, que usa um gene humano, carregado por um vírus, para corrigir uma rara doença metabólica, a LPLD.
A doença impede que o organismo absorva corretamente certos tipos de gordura, o que causa problemas no pâncreas. No mercado europeu, onde foi aprovado, o tratamento deverá custar cerca de US$ 1 milhão por paciente.
"É uma coisa que só dá para fazer na Europa por enquanto, porque o sistema de saúde de lá absorve esse custo", explica Carlos Frederico Menck, biólogo do Instituto de Ciências Biomédicas da USP que estuda o uso de vírus como "entregadores" de genes terapêuticos.
Para ele, o tratamento representa um avanço porque o vírus, além de aparentemente não causar nenhum tipo de doença nem reações do sistema de defesa do organismo, não se integra diretamente ao DNA dos pacientes, o que minimiza o risco de bagunçar o genoma dos doentes e causar outros problemas.
Mais importante ainda, usando um sistema de cultivo em células de insetos, os criadores da terapia parecem ter resolvido outro velho problema da terapia genética: a quantidade de vetores virais necessária para se conseguir um efeito duradouro.
"Estou muito otimista em relação à perspectiva de que século 21 seja o século da terapia gênica, combinada com a terapia celular", diz ele. "Pode ser que eu ou você não vejamos isso, mas as coisas estão caminhando --ainda que numa velocidade que é naturalmente lenta."
É mais difícil, no entanto, pensar na aplicação generalizada desse tipo de terapia em doenças mais comuns, como o câncer, pondera Emmanuel Dias-Neto, do Laboratório de Genômica Médica do Hospital A.C. Camargo, "pelo menos no estágio atual".
"Em geral, para uma entrega eficiente da terapia, você tem de ter acesso às células-alvo. Se temos acesso, é preferível remover o tumor, e não tratá-lo", diz ele.
GENE? QUE GENE?
Apesar desses avanços práticos, entender como o conjunto do DNA funciona está cada vez mais complicado, em parte porque ele é muito mais complexo do que os pioneiros sonhavam. E uma das baixas é o próprio conceito de gene.
Ele seria o que "realmente importa" no genoma, um trecho de DNA que contém a receita para a produção das proteínas, principais responsáveis pelo funcionamento da célula (veja infográfico abaixo).
Mas o refinamento das análises do genoma mostrou que genes podem ter "múltiplas personalidades", e que outros elementos que nada têm a ver com proteínas são cruciais para regular o material genético.
"Nesse contexto, é possível afirmar que hoje nós não possuímos um conceito satisfatório de gene", diz Igor Schneider, biólogo da UFPA (Universidade Federal do Pará).
Alysson Muotri, brasileiro que é professor da Universidade da Califórnia em San Diego, é mais diplomático: "O conceito de gene muda o tempo todo. A versão simplificada do dogma é uma introdução ao problema".
A questão, porém, é saber se a quantidade real de interações entre os vários elementos do genoma, e entre eles e o ambiente, é tão complexa no caso da maioria das doenças que intervenções focadas no DNA estariam fadadas ao fracasso.
"Acho isso pessimista demais", diz Muotri. "Acredito que seremos capazes de entender a interação genoma-ambiente no futuro e produzir terapias efetivas." Para ele, a demora em avançar é natural quando se leva em conta a necessidade de comprovar com experimentos o papel de cada gene e como ele reage a variações ambientais. "A biologia experimental está só começando", afirma.
Emmanuel Dias-Neto, por sua vez, aponta avanços no que chama de "medicina de precisão", como saber que determinadas alterações genéticas no tumor de um paciente vão tornar o câncer mais ou menos resistente a certos medicamentos, além de prever o risco de metástase (o espalhamento do tumor).
Obter esse tipo de informação "a custos bem razoáveis" ficará mais fácil no futuro próximo, diz ele.
"Isso vai gerar um efeito bola de neve: o sequenciamento [leitura] rápido e barato do DNA gera informações em massa, que dão suporte para o conhecimento da doença e devem justificar a geração de dados de mais indivíduos, em uma roda viva que se retro-alimenta", afirma. "Legislação e currículo médico vão ter de correr atrás do prejuízo, pois nenhum dos dois está preparado para o que vem por aí."
BRINCANDO DE CRIADOR
Ainda sem aplicações médicas imediatas, outra área que tem ganhado força é a chamada biologia sintética. É mais do que uma versão um pouco mais complicada dos velhos organismos transgênicos: em vez de inserir um único gene de água-viva num embrião de coelho para fazê-lo brilhar no escuro, digamos, o plano é montar genomas customizados "do zero".
"Atualmente, o maior desafio desse campo é produzir a primeira célula bacteriana sintética", explica Igor Schneider, da UFPA. Esses organismos teriam aplicações econômicas, como a produção de plástico "verde" ou a limpeza de áreas poluídas.
Mas há quem fale em ir mais longe. George Church, da Universidade Harvard, diz que seria viável usar as técnicas da biologia sintética para alterar totalmente o genoma de um elefante moderno, digamos, para que ele se assemelhe ao de um mamute, ressuscitando espécies extintas.
"Esse campo levantará questões éticas", diz Schneider. "Em muitos países, é ilegal patentear material genético de seres vivos. Seria ilegal patentear genes de um organismo que você inventou?"
Editoria de Arte/Folhapress

Pasquale Cipro Neto

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Garrincha (também) não morreu
Pobre Garrincha! Ressuscita, volta ao mundo do futebol e (novamente) enfrenta percalços, humilhações etc.
Não sei exatamente de onde vem a tal brincadeira que se faz com o grande Elvis Presley. Refiro-me à famosa frase "Elvis não morreu", que, imagino, decorra de alguma visão de fãs que, por não se conformarem com a morte do ídolo ou por entenderem que a morte física não o tira do mundo, dizem (ou diziam, disseram) que "Elvis não morreu".
Pois bem. Garrincha é outro grande ídolo que também "não morreu". Não acredita? Pois leia este fragmento, publicado há algumas semanas por um site de notícias: "Bicampeão do mundo pela seleção brasileira em 1958 e 1962, Garrincha está proibido pela Fifa de ter seu nome associado ao estádio de Brasília durante a Copa das Confederações e a Copa de 2014".
Pobre Garrincha! Ressuscita, volta ao mundo do futebol e (de novo) enfrenta percalços, humilhações etc. O fato é que a Fifa não quer que o nome do estádio de Brasília seja "Garrincha" (ou "Mané Garrincha"), o que pode ser dito com algo mais ou menos semelhante a isto: "A Fifa não quer que, durante a Copa das Confederações e a Copa de 2014, o estádio de Brasília tenha o nome de Garrincha, bicampeão do mundo pela seleção brasileira em 1958 e 1962" (ou "A Fifa não quer que, durante a Copa das Confederações e a Copa de 2014, o nome do estádio de Brasília seja "Garrincha", bicampeão do mundo pela seleção brasileira em 1958 e 1962").
O caro leitor certamente percebeu que no texto sugerido houve alterações na ordem e no papel sintático dos termos que compunham o texto original. Nele, "Garrincha" é o sujeito de "está" e de "ter" (sempre ele, o coitado, pobre coitado do verbo "ter", que, como já afirmei aqui diversas vezes, virou cola-tudo, intragável panaceia das panaceias). No texto sugerido, "Garrincha" não é sujeito de nenhum verbo.
Posso estar enganado, mas parece-me que a febre pelo verbo "ter" torna quase impossível a percepção de que há outras formas de redação de textos e títulos noticiosos. Bem, no caso em questão, o grande Garrincha definitivamente não pode ser proibido de coisa alguma.
O pessoal que redige o que se lê nas telas da TV também gosta de caprichar. Dia desses, zapeando aqui e ali, dei com este título, supercriativo: "Amiga mata a melhor amiga". Incrédulo, tive a paciência de ficar alguns minutos diante da tela, esperando que alguém se desse conta do disparate. Depois de mais de cinco minutos, desisti. Chega-se à conclusão de que ou esse pessoal é desatento, ou é preguiçoso, ou se acha acima do bem e do mal. Se fiz, está feito; não há nada a corrigir.
Será que era tão difícil trocar o primeiro "amiga" por "mulher", "menina", "moça", "mocinha", "moçoila", "mocetona" etc., etc., etc.?
Termino citando outra vítima dos títulos jornalísticos, o possessivo "seu", que ora cria ambiguidade ora é empregado como simples tapa-buraco, ou seja, para preencher o espaço. Veja este título, publicado há algum tempo: "Hillary Clinton tem um coágulo entre seu cérebro e o crânio". Genial! Alguém pode explicar-me o que faz aí o pronome possessivo "seu"? Vejamos como ficaria o título sem o enxerido "seu": "Hillary Clinton tem um coágulo entre o cérebro e o crânio". Que tal? Simples, não?
Sei que a luta pode ser vã, inglória etc., mas não desisto, não desistirei. Vai aqui (mais uma vez) uma dica simples, bem simples: reler é fundamental. E vai outra dica (esta para o leitor): não limite sua leitura aos títulos. Aliás, deixe-os para lá, a menos que você goste de sofrer (e/ou de divertir-se). É isso.

Painel - Vera Magalhães

folha de são paulo

Contra o relógio
Advogados dos réus e ministros do Supremo Tribunal Federal já consideram provável que o substituto de Carlos Ayres Britto na corte não julgue os embargos de declaração do mensalão. O prazo para contestações acaba na semana que vem. Ainda que Dilma Rousseff indique o escolhido nos próximos dias, ele terá de ser sabatinado pelo Senado. Joaquim Barbosa deve marcar a análise dos embargos imediatamente. Já as posses de ministros costumam demorar ao menos 20 dias.
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Recado 1 Apesar do protesto de ministros contra a PEC aprovada na CCJ que submete decisões do STF ao Congresso, magistrados entendem que a Câmara deu resposta a casos recentes em que o Judiciário avançou sobre prerrogativas do Legislativo.
Recado 2 Como exemplo, citam a decisão de Luiz Fux de forçar a apreciação de 3.000 vetos presidenciais, depois modificada pelo plenário,e a interpretação de que cabe ao Supremo a palavra final sobre cassações dos mandatos dos mensaleiros.
Goleada Do ministro do STF Ricardo Lewandowski, sobre os quatro gols marcados ontem por seu xará do Borussia Dortmund: "Com quatro gols tomados, o Real Madrid pode apresentar embargos infringentes''.
Cada um... Roberto Gurgel votou a favor do direito de Demóstenes Torres à vitaliciedade no Ministério Público. A relatora Claudia Chagas era contra a garantia por ele ter ingressado na promotoria de Goiás antes de 1988.
... na sua Luiz Moreira, desafeto do procurador-geral da República no CNMP, seguiu a relatora, mas foi vencido. Torres conseguiu o benefício.
Ficção Andréa Pinho, delegada responsável por apurar suposto elo de Lula com o mensalão, é comparada na PF a Helô, personagem de Giovanna Antonelli na novela "Salve Jorge". Além de jovem, é considerada "linha dura".
Pose... A despeito do discurso de alinhamento de Aécio Neves com Marina Silva, o PSDB festeja, nos bastidores, a aprovação do projeto que sufoca novos partidos.
... para foto Tucanos entendem que serão beneficiados com a emenda que recompõe a distribuição do tempo de TV, reduzindo a fatia destinada aos nanicos.
Telinha No radar de Aécio para 2014, o DEM será o partido que contará com o mais expressivo bônus no palanque eletrônico. Outras siglas aliadas do PSDB nas composições regionais, como PTB e PDT, serão turbinadas.
Presente Pelos cálculos tucanos, em São Paulo, a coligação que deve apoiar a reeleição de Geraldo Alckmin ganhará 1min48s em cada programa com a nova regra.
Liberou Apesar dos apelos do Planalto, o PMDB não obstruirá a CPI da Petrobras. Durante reunião da bancada, o líder Eduardo Cunha (RJ) disse que a adesão ao requerimento deve seguir "a consciência de cada deputado".
Blocão Edinho Silva, presidente do PT-SP, abriu tratativas com PMDB e PSD para 2014. Entusiasta de ampla aliança já no primeiro turno para o Bandeirantes, o petista visitou Michel Temer e estará com Gilberto Kassab.
Visitas à Folha José Carlos Dias, advogado e membro da Comissão Nacional da Verdade, visitou ontem a Folha, a convite do jornal, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Glenda Mezarob- ba, consultora da comissão.
Antonio Donato, secretário municipal de Governo de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava com Everaldo Gouveia, assessor de imprensa.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
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TIROTEIO
"A aprovação dessa proposta pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara representa uma ameaça à democracia."
DE JOAQUIM BARBOSA, presidente do Supremo Tribunal Federal, sobre proposta de emenda que submete decisões da corte ao Congresso.
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CONTRAPONTO
Trégua hospitalar
Durante audiência na Comissão de Assuntos Sociais do Senado, anteontem, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) foi inquirido diversas vezes sobre a disputa com Aloizio Mercadante (Educação) pela candidatura do PT ao governo paulista em 2014.
Mencionando recente internação do colega de Esplanada para tratar de dores abdominais, Casildo Maldaner (PMDB-SC) disse ao titular da pasta da Saúde:
--Quer dizer que o Mercadante esteve em suas mãos?
Padilha exibiu sorriso amarelo e respondeu:
--O que importa é que ele está plenamente recuperado.

    Terceiro policial é detido após morte de jornalistas em Minas

    folha de são paulo

    Repórteres investigavam ação de suposto grupo de extermínio
    DE BELO HORIZONTEMais um policial civil foi preso sob a suspeita de envolvimento em crimes ocorridos na região do Vale do Aço, em Minas Gerais, incluindo o assassinato de dois jornalistas entre março e este mês.
    Ao todo, estão sob investigação 16 casos com indícios de participação de policiais registrados nos últimos anos.
    O policial, que não teve o nome divulgado, é o terceiro detido desde a última sexta. Ele foi preso em caráter temporário anteontem em Ipatinga, e levado a Belo Horizonte.
    O comando da Polícia Civil não informou por quais desses 16 crimes ele é suspeito --afirmou que não pode revelar informações sobre a eventual participação dos suspeitos nem detalhes sobre as investigações, sob o risco de prejudicar a apuração.
    Boa parte dos crimes, supostamente cometidos por um grupo de extermínio, estava sendo investigada pelo repórter Rodrigo Neto de Faria, do jornal "Vale do Aço", assassinado em março passado. Ele havia recebido ameaças de morte.
    No começo deste mês, foi morto o repórter fotográfico Walgney Carvalho, que trabalhava com Faria na editoria de polícia do mesmo jornal de Ipatinga.
    Toda a cúpula da Polícia Civil na cidade e na regional do Vale do Aço foi substituída, por determinação do governo do Estado, depois de reunião com o comando das polícias. Um delegado-corregedor assumiu o comando regional da corporação.
    Outros policiais, civis e militares, estão sendo investigados, segundo a Corregedoria da Polícia Civil mineira.
    Novos pedidos de prisão devem ser feitos à Justiça. Os três policiais estão presos em Belo Horizonte, onde são tomados os depoimentos.
    A morte dos jornalistas mobilizou entidades como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e órgãos de governo como a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência.
    A Procuradoria-Geral de Justiça de Minas designou cinco promotores para acompanharem as investigações sobre as mortes dos jornalistas, com a ordem de que não se manifestem sobre as apurações fora dos autos.

      Feliciano pede à polícia que analise perfil de visitantes

      folha de são paulo 

      Objetivo, afirma pastor, é liberar acesso apenas de pessoas 'ordeiras' às sessões
      Presidente da Comissão de Direitos Humanos é novamente alvo de manifestantes, que realizaram 'beijaço gay'
      DE BRASÍLIAManifestantes promoveram ontem um "beijaço gay" e simularam dois casamentos homoafetivos em frente ao Congresso para pedir a saída do deputado Marco Feliciano (PSC-SP) do comando da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
      Quatro manifestantes foram detidos pela Polícia Legislativa após fixarem na janela do 15º andar do prédio da Câmara uma bandeira com o símbolo do movimento gay. Eles foram levados para prestar esclarecimentos e depois liberados.
      Feliciano também enfrentou protestos nos corredores da Câmara. Ele deixou ativistas contrários à sua permanência do lado de fora da comissão, mas um grupo de 60 evangélicos foi autorizado a permanecer.
      O deputado foi aplaudido ao entrar na comissão e alguns aliados fizeram discurso de desagravo com ataques aos ativistas. Feliciano recomendou aos seguranças que analisassem o perfil das pessoas que queriam assistir à sessão da comissão.
      "Não sei a religião dos que estão aqui. Eu pedi que a polícia dessa Casa observasse o perfil das pessoas. Pelo perfil, se conhece, se tem segurança de que as pessoas que estarão na comissão vão participar de maneira ordeira."
      As críticas foram rebatidas por Antônio José, servidor ligado a entidades rurais. "Isso aqui é uma grande farsa. Eu quase não consegui entrar." Ele foi retirado à força por três seguranças.
      Feliciano criticou, mais uma vez, os protestos. "Eu sinto que há um desejo de desestabilizar a nossa comissão." Para ele, o tom dos protestos, que chega a ter palavrões, não é democrático e "não faz parte do comportamento de pessoas de bem".
      Feliciano disse que tentou procurar os deputados ligados aos direitos humanos que abandonaram a comissão em protesto contra ele. "Não tem acordo. Eles dizem que são extremos."

        Cartunista e deputado do PSOL participam de protesto em SP

        folha de são paulo


        DE SÃO PAULOO cartunista Laerte Coutinho e o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) participam hoje, em São Paulo, de um protesto contra a atuação do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) na presidência da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.
        O ato será realizado na praça Roosevelt (região central), às 19h, e está sendo organizado pela ONG Conectas e pelos grupos Existe Amor em SP e Pedra no Sapato.
        Para se contraporem a Feliciano, que é acusado de racismo e homofobia e alvo de protestos para que deixe o cargo, os manifestantes vão instituir uma "comissão extraordinária" na praça.
        A sessão do colegiado alternativo será aberta ao público e conduzida por Laerte, com participação de Jean Wyllys e de militantes dos movimentos negro e LGBT.
        "Queremos mostrar para que servem as comissões e discutir o que significa perdê-las para um grupo de radicais fundamentalistas", diz Laerte, que convidou os cartunistas daFolha a fazer um "beijaço" na seção de quadrinhos do jornal.
        A pedido dele, Angeli, Caco Galhardo, Fernando Gonsales, Adão Iturrusgarai, Allan Sieber e André Dahmer publicam hoje tiras sobre o tema, algumas delas com beijos entre os cartunistas.

          Janio de Freitas

          folha de são paulo

          Aliado e opositor
          Eduardo Campos não faz crítica, como diz: a mera atribuição de erro ou insucesso é oposição
          Aspirante à sucessão presidencial e governador pernambucano, Eduardo Campos apresentará hoje na TV, se não mudar na última hora o programa gravado, sua lista do que considera os erros desastrosos de Dilma Rousseff. Pelos quais, no entanto, ele é corresponsável.
          Se o PSB, conduzido por Eduardo Campos, se fez sócio dos êxitos do governo federal, não tem como fugir da condição de sócio do que sejam os erros e insucessos do governo em que tem até ministério e integra a "base aliada" no Congresso. Não há conversa farsesca que anule essa obviedade.
          Eduardo Campos não faz crítica, como diz. Poderia e talvez devesse fazê-la se, como caberia mesmo a um aliado, examinasse a natureza do erro, como e por que ocorre. A mera atribuição de erro ou insucesso não é crítica, é oposição. "O Brasil caminha para a crise", como já disse Eduardo Campos a empresários do Sul, é uma advertência grave demais, sobretudo partindo do governador de Estado com a importância de Pernambuco, para que passe sem a exposição de embasamento sério, seja convincente ou não.
          Do joguinho de aliado e opositor, de sugar proveito dos dois lados, o que resulta é simples: embuste como aliado e embuste como oposição, ou, vá lá, "crítico".
          A mesma evidência ressalta deste ridículo: "Nós não temos um projeto de poder, nós temos um projeto de país". Até em nome do pudor alheio, se não puder ser do próprio, quem deixa lá o seu governo e sai pelo país em óbvia pré-campanha pelo poder --na qual ainda não ofereceu nem uma só ideia nova para o país-- deve apresentar um engodo melhorzinho.
          PROTESTO
          Em São Paulo e ao menos em nove Estados mais, médicos e dentistas não farão atendimento hoje a clientes de planos de saúde, com exceção para emergências. Protestam contra as remunerações degradantes que os planos lhes fazem, enquanto se situam entre os mais caros e mais restritivos do mundo para os segurados.
          Uma rádio "tocou" ontem o comentário de que essa situação imoral se deve à regulamentação imposta às seguradoras pelo governo, o que as obriga a descontar em cima dos médicos. A imoralidade do comentário neoliberal não é menor do que a da situação. Os lucros dos planos de saúde são gigantescos. E as intervenções e auditorias têm provado que os casos contrários se devem a má administração, roubalheira, ou, quase sempre, aos dois fatores.
          O ministro Alexandre Padilha ativou a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para aumentar o rigor e as multas por obstáculos ou recusa de planos ao atendimento de necessidades de segurados. É um passo. Mas o sistema, em que só uma de suas três partes é beneficiada (as seguradoras, em detrimento dos segurados e dos que prestam os serviços), precisa é de revisão geral, para estabelecer algum equilíbrio e respeito a direitos. Inclusive os da assistência pública, que supre deficiências e omissões da assistência privada.

            Adeus a Gutenberg? - Aldo Pereira - Tendências/debates

            folha de são paulo

            ALDO PEREIRA
            TENDÊNCIAS/DEBATES
            Adeus a Gutenberg?
            A revolução de Gutenberg como que antecipou o vendaval internético que hoje desfolha jornais e revistas e os confina ao acesso pago
            Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg (c. 1398-1468) não inventou a imprensa. Técnica de carimbar escritos em papel já existia na China cinco séculos antes de Gutenberg nascer. Em seu tempo, europeus tinham aprendido também a fabricar papel, outra milenar invenção chinesa, como sucedâneo de papiro e pergaminho.
            Gutenberg tampouco inventou tipos móveis de metal: coreanos já os usavam no século 8. E a prensa de sua oficina era a mesma que, fazia séculos, espremia uvas para fabrico de vinho.
            Donde então provém a glória de Gutenberg? Não apenas de ter integrado esses elementos num sistema eficiente. Também da inteligente transposição de técnicas de ourivesaria para artes gráficas: com martelo, punção, buril e cinzel gravou no ferro os primeiros moldes para fundição de tipos ("carimbos de letras"). Ou seja, de ter inventado a produção em série dos tipos até então entalhados na madeira um a um.
            Com ponto de fusão relativamente baixo, sua liga de chumbo, antimônio e estanho (talvez na proporção 70/20/10) conferia aos tipos dureza suficiente para não se deformarem quando premidos contra o papel. Mas era também suficientemente dúctil para assumir forma precisa na fundição. Noutras proporções, essa requintada "receita" metalúrgica subsistiria em vários processos de fundição de tipos (inclusive linotipo) até o século 20.
            O que muito favoreceu o sistema Gutenberg foi o livro já ter evoluído, na época, do formato "volumen" para o códex, isto é, do rolo contínuo para a pilha de folhas costurada na margem.
            Além de viabilizar a impressão, essa mudança trouxe ao leitor meio prático de fazer buscas na Bíblia, em breviários e noutras obras religiosas que predominavam no mercado livreiro. O códex matou o "volumen" como o disco do computador mataria a fita e como o CD desbancaria cassetes de áudio e vídeo. Códex era já, em termos, o livro de hoje.
            Ao baratear a produção de livros, panfletos e outros impressos, Gutenberg democratizou o saber, afrouxou o privilégio aristocrático e clerical de acesso a ideias e fatos.
            Quanto Gutenberg teria vislumbrado do futuro cultural, econômico e político de seu sistema, não se sabe. A acuidade de sua visão técnica contrastava com a miopia comercial. Morreu falido, arruinado por contrato leonino firmado com certo agiota que o financiara.
            A revolução de Gutenberg como que antecipou o vendaval internético que hoje desfolha jornais e revistas e os confina a refúgios de acesso pago. Ao mesmo tempo, o e-book (Kindle, Nook, Kobo etc., afora improvisações de outras engenhocas eletrônicas) leva à pergunta: hora do adeus às variantes do sistema Gutenberg de carimbar papel?
            Talvez, mas até certo ponto.
            Muita gente tem referido precedentes análogos: cinema não matou teatro, televisão não matou cinema nem rádio, discos e iPod não mataram o show. Começa a ganhar foco certo consenso de que, passado algum empurra-empurra de acomodação, uma seleção de jornais, revistas e decerto livros de papel continuará a ser impressa por prazo indeterminado. Por quê?
            Porque a maior parte da confraria anônima de leitores sempre incluirá aquele que, mesmo sem repelir engenhocas, abre um livro novo e cheiroso com a expectativa juvenil de quem abre de par em par uma janela para o mundo das ideias, do sonho, da poesia e do saber, mundo de todos os mundos, reais e imaginários. Fetiche? Ah, volúpia do pecado inocente!
            Seu lugar continua seu, caro Gutenberg --basta chegar um pouquinho para lá.


              RENATO OPICE BLUM
              TENDÊNCIAS/DEBATES
              Por um mergulho seguro na rede
              Não podemos admitir que a proposta de proteção de dados na internet se arraste no Legislativo, como foi com a lei de crimes eletrônicos
              Os debates sobre a proteção eficaz de dados pessoais no Brasil precisam ser retomados. Embora diversos países, inclusive nossos vizinhos da América do Sul, há anos já possuam legislação que trata da matéria, o Brasil ainda parece engatinhar quando qualquer tema relacionado à internet vem à baila.
              Recentemente, o Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor, capitaneou a consolidação de proposta a ser levada e inserida nos necessários debates do Congresso. Falta, no entanto, celeridade na tramitação do tema.
              Ao que tudo indica, o texto sugerido tem clara inspiração nas diretivas europeias existentes sobre a temática, o que é excelente, por serem regras já utilizadas amplamente no cenário internacional.
              O projeto estabelece, entre outros, o direito do cidadão a ser informado sobre a existência de seus dados pessoais em qualquer banco de dados e autorizar ou não sua permanência e uso. Além disso, fixa sanções administrativas em caso de infração.
              Outro ponto a destacar na proposta é a possibilidade de formulação futura de um código de boas práticas pelas empresas responsáveis pelo tratamento de dados. Essa previsão sugere que um conjunto de regras adicionais, debatido por quem tem a experiência do dia a dia, independentemente dos trâmites legislativos, possa auxiliar na atualização permanente do assunto.
              O texto também propõe a criação de uma autoridade de garantia, cujos detalhes serão especificados na regulamentação da lei. Parece que a ideia inicial é que esse órgão analise as medidas preventivas mínimas de segurança, devendo ser informado a respeito de eventuais acessos indevidos, perda ou difusão acidental de dados pessoais.
              Por evidente, a proposta de instituição de regras aliadas às ferramentas garantidoras de seu cumprimento demonstra notória evolução, já que o país tem a sofrível tradição de, primeiro, criar direitos/deveres, para depois, em segundo e muitas vezes tardio momento, estudar as forma de cumprimento, fiscalização e atualização.
              O projeto está bem elaborado; no entanto o encaminhamento da temática precisa de agilidade, dada a indiscutível adesão em massa dos brasileiros aos canais da internet.
              O governo é, inclusive, um dos maiores representantes da nação nesse mergulho de cabeça na rede. Nesse sentido, considerando que muitas informações altamente sigilosas relacionadas a um indivíduo são manipuladas pelo poder público, parece-nos lógico e transparente que este, prioritariamente, impulsione a celeridade dos debates e contribua para o deslinde da questão.
              Não podemos admitir que a proposta de proteção de dados se arraste durante anos nas casas legislativas, como ocorreu com a lei de crimes eletrônicos.
              O fato social em torno da matéria --evidente insegurança no tocante à manipulação de dados pessoais-- é incontestável. A importância que a sociedade dá ao tema também é patente. Portanto só falta mesmo a norma efetiva para que a matéria venha à luz no mundo do direito.
              Logo, sendo impossível conceber qualquer retrocesso tecnológico (o cidadão de hoje não aceitaria menos), conclui-se que a fixação de regras claras sobre a manutenção de banco de dados, compartilhamento de informações, sigilo e responsabilização em caso de desconformidade é o alicerce mínimo para que se possa prosseguir, de forma saudável, nessa imersão tecnológica que tanto fascina a nação brasileira.

                Tv Paga

                Estado de Minas - 25/04/2013

                Sessão de terapia

                Charlie Sheen está de volta ao canal TBS, com a estreia da nova temporada de Tratamento de choque (foto), às 21h30. Baseada no filme homônimo com Jack Nicholson e Adam Sandler, a sitcom conta com Sheen no papel de Charlie Goodson, um ex-jogador de beisebol cujos sérios problemas de irritabilidade curiosamente o levaram a se transformar em um especialista no controle da raiva. Estão confirmadas este ano as participações de Lindsay Lohan, Cee Lo Green e Slash, entre outros convidados.

                Telecine compara as  duas versões de Alfie


                Esta noite tem sessão Adrenalina em dose dupla no Telecine Action, com os filmes Ninja, às 20h20, e Herói, às 22h. O Telecine Touch faz algo um pouco diferente em Cinema em dois tempos, com duas versões de uma mesma história: Alfie – Como conquistar as mulheres, com Michael Caine, às 22h, e Alfie – O sedutor, com Jude Law, à meia-noite. Outro destaque de hoje é o Clube do filme, às 22h, na Cultura com A lista de Adrian Messegner de John Huston, com Tony Curtis, Kirk Douglas, Burt Lancaster, Robert Mitchum e Frank Sinatra.

                Muita ação e comédia  no pacotão de cinema


                Na concorrida faixa das 22h, o assinante tem mais 10 opções: Entre irmãos, no Glitz; Nanny McPhee – A babá encantada, no Telecine Fun; Terror na água, no Telecine Pipoca; Identidade, no FX; Este é o meu garoto, na HBO HD; J. Edgar, na HBO 2; Othello, no Max; Entre quatro paredes, no Sony; Inimigo íntimo, no AXN; e Scarface, no TCM. Outras atrações da programação: Os reis da rua, às 22h30, no Megapix; e A mulher de preto, às 22h40, no Max HD.

                Devotos de San Genaro se reúnem em Nápoles


                O canal History apresenta, às 18h15, episódio de Em busca do tesouro sagrado sobre a relíquia de San Genaro (ou São Januário, se preferirem). Duas vezes ao ano, os cristãos se reúnem em frente à Catedral de Santa Clara, em Nápoles, para presenciar a liquefação do sangue do padroeiro da cidade. Logo depois, todos saem em procissão pelas ruas da cidade. Assim que o milagre ocorre, os fieis comemoram, mas, caso não aconteça, é sinal de tristes acontecimentos futuros.

                Jovens índios mostram  que são feras do skate


                Em cartaz às 23h, no canal Off, o documentário Skateboard nation retrata a ascensão do skate como um esporte popular em reservas indígenas nos Estados Unidos. Jovens nativos levam a prática e a cultura do skate a um elevado nível de comportamento em suas comunidades, ajudando a conectar crianças ao esporte e a formar atletas. Curioso, não?

                Já no SescTV, o povo  focalizado é o indiano


                A colônia indiana é tema de hoje da série Coleções, às 21h30, no SescTV. O programa mostra o cotidiano, os costumes, a cultura e a religiosidade de indianos que emigraram para o Brasil. Baseados principalmente em São Paulo, eles contam suas experiências e falam das relações e diferenças culturais com os brasileiros.

                Marina Colasanti - Da execração à moda‏



                marinacolasanti.s@gmail.com


                Estado de Minas: 25/04/2013 

                O garçom se aproximou da minha mesa. Era jovem, um tipo comum, que não teria chamado a atenção, não fossem as sobrancelhas feitas. Feitas é dizer pouco. Os dois arcos exatos eram uma obra-prima de pinça ou cera, impecáveis como curvas de Niemeyer ou traços de pincel chinês. Bastava aquela precisão para dar ao rapaz um quê de diva dos anos 20, difusa lembrança das sobrancelhas da Garbo. No entanto, ele era absolutamente viril.

                Ao longo do almoço, reparei que todos os garçons daquele a quilo chique – como se o acostamento dessas duas palavras fosse possível – ostentavam sobrancelhas depiladas. Assim as usava também o ajudante de cozinha, que fez rápida aparição junto a uma das portas. Uma palavra de ordem havia passado de boca em boca como rastilho de pólvora, ligando todos aqueles homens numa espécie de filiação. E os imaginei comentando o desenho da sobrancelha de um e outro, trocando endereço de profissionais e salões. Entre eles, qualquer sobrancelha hirsuta haveria de parecer um despropósito.

                Em que momento, em que ponto do percurso, o que era até então execrado se transforma em moda? Ainda ontem, sobrancelhas depiladas constituíam uma espécie de crachá gay, impensável para o universo macho. É provável que tenham mudado de status juntamente com os cabelos descorados, os penteados escultóreos, os cremes de beleza masculinos, trazidos todos pelo novo padrão andrógino de beleza viril. Mas o processo foi lento e muitas das suas etapas passaram despercebidas.

                Quando meu irmão ainda não havia chegado à adolescência e à explosão hormonal, raspou os braços com gilete porque tinha ouvido dizer que isso espessava os pelos. Sua loura penugem o constrangia, queria-se cabeludo como um homem primitivo, ou apenas como um homem. Não podia imaginar a conversa que tive recentemente com a minha depiladora, em que me detalhava as reações dos seus clientes masculinos frente aos suplícios quase medievais da cera quente. Nem podia, aquele menino que olhava fascinado enquanto o pai afiava a navalha na tira de couro, prever que no futuro tantos viriam a trocar a navalha pelo raio laser, eliminando a barba definitivamente.

                Sou de um tempo em que tatuagem era coisa de cais de porto. Marinheiros, marginais ou prostitutas marcavam em desenhos debaixo da pele sua condição de excluídos. Era uma forma mais profunda de grafite, um protesto, uma agressão ao olhar do outro. Quando minha filha mais velha disse que queria fazer uma tatuagem, respondi que teria que esperar os 18 anos, ficasse claro que a responsabilidade era dela. Aos 18, tatuou-se abaixo da nuca. Quando a mais moça disse que queria se tatuar, respondi a mesma coisa. Chegando ao 18, já gostava tanto da beleza da sua pele que nunca se tatuou. Agora, passam por mim jovens tão estampados, que se viessem nus eu os acreditaria vestidos. A continuar assim, o protesto será não se tatuar.

                Foi elegante fumar, tornou-se uma quase abominação. Foi elegante tomar uísque, estamos tomando vinho. Era deselegante falar da intimidade, o próprio conceito de intimidade foi pulverizado. Amar ainda se usa, mas não é indispensável. Quem tem muitos anos de estrada sabe, nada é definitivo. Mas nem a experiência da estrada nos diz quando, exatamente, isto ou aquilo se põe em rota para a mudança.

                Tereza Cruvinel - Questões do acórdão‏

                O acórdão da Ação Penal 470, vulgo mensalão, interessa a toda a sociedade, pelo impacto que terá sobre o ordenamento jurídico e as inflexões adotadas em matéria de julgar e condenar 


                Tereza Cruvinel

                Estado de Minas:
                25/04/2013 


                Os advogados de defesa estão lendo avidamente, em busca de brechas para os embargos declinatórios que poderão apresentar até 2 de maio, as 8 mil páginas do acórdão do STF sobre a Ação Penal 470, vulgo mensalão. A peça, a rigor, interessa a toda a sociedade, pelo impacto que terá sobre o ordenamento jurídico, a inflexão contrária à tendência mundial de fortalecer as garantias fundamentais e as alterações nos conceitos e regras até então vigentes em matéria de julgar e condenar. Isso explica boa parte das mais de mil supressões que os ministros fizeram, como lhes garante o regimento. Talvez, por exemplo, o ministro Luiz Fux tenha achado que foi longe demais na inflexão ao dizer que aos réus compete provar a inocência, trecho suprimido.

                Apreciados os embargos declaratórios, e na outra fase os infringentes, teremos, como dizem eles, a coisa julgada, segundo balizas que, em princípio, deverão ser adotadas por todas as instâncias. A coisa julgada é que nos dirá, por exemplo, se para condenar por corrupção passiva bastará o recebimento de “vantagem indevida”, dispensando-se a apresentação da prova como ato de ofício, a contrapartida ilícita pelo suborno. No caso dos deputados condenados por tal crime, o ato de ofício seria o voto a favor do governo, mas o STF não examinou os votos ao ponto de estabelecer uma relação direta e indiscutível entre eles e o recebimento de recursos proporcionados pelo PT, que alega ter dado ajuda de campanha, por meio de Marcos Valério. Nesses termos, ocupar função pública trará enormes riscos. Uma carona, uma gentileza, qualquer coisa poderá ser qualificada, quiçá por um adversário, como vantagem indevida.


                Será também sabido se a teoria do domínio do fato prevalecerá em sua acepção brasileira, criticada pelo próprio autor, de que o ocupante do topo da hierarquia deve ser responsável pelos ilícitos cometidos nos estamentos inferiores. O meio jurídico, até em obsequioso silêncio, talvez comece agora a debater essas questões de fundo. Em artigo publicado anteontem pelo jornal Valor Econômico, o professor doutor de direito da USP Altamiro Veludo Salvador Neto diz que uma primeira leitura do acórdão já sugere polêmica no que diz respeito à exigência de individualização das condutas. Isso significa provar quem fez o quê, problema enfrentado agora, diz ele, no julgamento dos policiais que participaram do massacre do Carandiru. “Não parece muito simples aceitar, sem divergir, responsabilizações penais fundamentadas em meros indícios, que não descrevam a conduta especificamente praticada por cada um dos imputados ou que entendam ser suficiente a ocupação de um cargo para daí extraírem as razões de julgar”, afirma ele.


                O objetivo da proposta de emenda constitucional do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI) aprovada ontem pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara é exatamente o de estabelecer um sistema de freios e contrapesos entre o Legislativo (que escreveu originalmente a Constituição e tem poder para mudá-la, exceto nas cláusulas pétreas) e o Judiciário, que tem poder para interpretá-la. Ela prevê que o Congresso aprove, em 90 dias, as propostas de súmulas vinculantes (extensão das decisões do STF a todas as instâncias). Passado esse prazo, estariam valendo. Se rejeitadas, vão à consulta popular, o poder originário. E também amplia, de oito para nove, o número de votos necessários no tribunal para a declaração de inconstitucionalidade de emendas à Carta. Uma proposta certamente polêmica, mas de alta relevância e ousadia para estes tempos de fricção entre os dois poderes.

                Ela e eles

                O projeto que impede a apropriação, por novos partidos, do tempo de tevê e da parcela do Fundo Partidário proporcionais aos deputados que trocaram de sigla está unindo os adversários da presidente Dilma. Para ela, a consequência pode vir no segundo turno. O presidenciável Aécio Neves carrega no bolso uma pesquisa recente, feita nacionalmente para consumo do PSDB, na qual Dilma teria hoje 52% de preferência eleitoral (inferior à aprovação de seu governo); Marina Silva teria 18%; ele, Aécio, 15%; e Eduardo Campos, do PSB, apenas 3%. Mas, somadas, as oposições teriam algo em torno de 48%. Diferença irrisória se estiverem todos juntos.

                A força humana e a dos lobbies

                Há projetos que parecem banais, mas fazem diferença na vida das pessoas. Se mexem com o lucro, enfrentam a força dos lobbies no Congresso e encalham. É o caso de projeto que o hoje ministro Marcelo Crivella apresentou como senador, reduzindo de 50kg para 30kg o peso de fardos como cimento, grãos e outros produtos que precisam ser carregados no ombro por operários ou estivadores. O resultado é uma epidemia de doenças de coluna, onerosas para o SUS no tratamento (20% dos atendimentos médicos) e para o INSS na concessão de auxílio-saúde.


                Nas viagens internacionais, malas já não podem pesar mais que 30kg. Aprovado no Senado, o projeto passou a ser combatido pela CNI e pelas construtoras. Claro, o burro de carga humano renderá menos. O relator, deputado Antônio Balhmann (PSB-CE), pediu vistas. Sem qualquer pressa.

                Eduardo Almeida Reis - Fascínio‏

                Na primeira redação em que trabalhei, a máquina era a disponível, manual, mas havia algumas da marca Royal 


                Eduardo Almeida Reis

                Estado de Minas: 25/04/2013 

                Minha Remington (relativamente) portátil virou peça de museu. Basta dizer que foi presente do meu pai quando fiz 12 anos. Presente que não me agradou, porque o pedido era de moto Harley Davidson azul, à venda na Mesbla na Rua do Passeio, no Rio de Janeiro, onde foi comprada a máquina de escrever. O leitor precisava ter visto o fascínio que a Remington exerceu sobre os meus netos, dia desses, quando descobriram que “aquilo” escreve. No princípio mal se viam as letras, porque a fita, velha de mais de 14 anos, está ressecada na parte exposta. Depois, começaram a aparecer palavras pretas ou vermelhas, quando o avô se lembrou da alavanquinha que muda do preto para o vermelho. E o neto menor descobriu que o teclado não tem o algarismo 1. “Tenta o L minúsculo”, sugeriu o avô: funcionou! E dizer que foi com aquela máquina, no ano de mil novecentos e muito antigamente, que tudo começou. Não me lembro quando comprei a segunda máquina, usada, elétrica, mas tenho foto do jovem philosopho, já casado, ainda escrevendo na Remington, publicada quando fui entrevistado pelo finado Diário Carioca. Virou quadro.

                No trabalho, a partir dos 18 anos, a vítima era uma Royal não portátil, que só faltava soltar fumaça na velocidade em que era teclada. Havia, é certo, a fumaça dos charutos permitidos naquele tempo, mesmo nos recintos fechados com ar-condicionado central. Lá estive no trabalho depois que me demiti (a pedido) e todos os funcionários do departamento tinham IBM 82-C ou IBM 96-6, com o seguinte detalhe: a maioria não sabia escrever uma palavra. Na primeira redação em que trabalhei, a máquina era a disponível, manual, mas havia algumas da marca Royal, com as quais sempre me dei bem. Matérias caprichadas, exigindo consulta a livros e anotações, eram escritas numa Royal levada para a mesa da “sala da televisão”, geralmente vazia, porque a tevê brasileira gatinhava. E havia os gritos: “Paralisar é com esse ou com zê?”, respondidos pelos mais informados. Na história do jornalismo pátrio ficou famosa a consulta de um foca, aos berros, na redação de um vespertino. Alta madrugada, pois os vespertinos só rodavam dia claro e circulavam no final da manhã, o rapaz gritou: “Diletantismo! O que é diletantismo?”. Seu chefe de redação, professor de português que só escrevia a lápis, sem tirar os olhos do papel em que redigia, gritou de lá: “É o sujeito dar sem ser veado”. Excelente mestre!, hoje nome de rua. Existe melhor explicação para diletantismo?


                Preocupante
                Amanheço cantando tangos, boleros, sambas e árias de óperas. Ao dealbar da aurora e mesmo dealbado o dia, a leitora pode me encontrar cantarolando enquanto preparo o café e o desjejum, depois dos inevitáveis remedinhos, que são poucos. Aceso o primeiro charuto, a cantoria vai de grota por ser incompatível com ato de fumar. Não que prejudique a voz: Enrico Caruso, em seus contratos, exigia o direito de fumar charutos nos camarins. O baixo Italo Tajo só deixava o charuto na hora de entrar em cena. O cantarolar, que originou o título “Preocupante” deste belo suelto, foi o seguinte: no dia em que componho estas bem traçadas amanheci cantando “Toda una vida, me estaría contigo, no me importa en que forma, ni como, ni donde, pelo junto a ti”. Ao calçar as botinas que ganhei do acadêmico Olavo Romano, macias, caríssimas, feitas sob medida numa loja dr. Scholl de BH – faz frio e as botinas me esquentam as patas –, prossegui: “No me cansaría de decirte siempre, pero siempre, siempre, que eres em mi vida ansiedad, angustia y desesperación”. Onde a preocupação despertada pela cantoria? É fácil de explicar. Primeiro, porque nunca foi música do meu especial aprazimento e acertei a letra inteirinha, como confirmei mais tarde no abençoado Google. Depois, porque esse negócio de estar toda uma vida contigo, Freud explica, deve indicar uma vida muito rápida, curtíssima, a partir do dia da cantoria. Sem falar da imbecilidade de passar toda uma vida ao lado de alguém que representa ansiedade, angústia, desesperação. 

                Quadrinhos

                folha de são paulo

                CHICLETE COM BANANA      ANGELI
                ANGELI
                PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
                LAERTE
                DAIQUIRI      CACO GALHARDO
                CACO GALHARDO
                NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
                FERNANDO GONSALES
                MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
                ADÃO ITURRUSGARAI
                BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
                ALLAN SIEBER
                MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
                ANDRÉ DAHMER
                GARFIELD      JIM DAVIS
                JIM DAVIS