sábado, 26 de julho de 2014

ORELHA

ORELHA
Estado de Minas: 26/07/2014


Novas edições da obra trazem de volta quatro títulos de Cecília Meireles (Arquivo EM)
Novas edições da obra trazem de volta quatro títulos de Cecília Meireles

Duas vezes Cecília
Cecília Meireles ganha dois relançamentos da Global Editora. Um único volume reúne três livros lançados separadamente: Pequeno oratório de Santa Clara (1955), Romance de Santa Cecília (1957) e Oratório de Santa Maria Egipcíaca (1996). O trio ajuda a compreender aspectos pouco estudados da obra da escritora, como a espiritualidade. A apresentação é assinada pelo poeta e crítico literário Ricardo Vieira Lima. Já Metal rosicler, com 51 poemas breves, reúne elementos da natureza – água, terra, fogo e ar – para evocar a singular alquimia verbal da poeta tijucana. O lançamento original foi em 1960 e, como parte das obras de Cecília Meireles, o livro estava há tempos fora das livrarias.

Maquiavel reeditado
Lançado em 1985, o livro Introdução ao pensamento político de Maquiavel, de Lauro Escorel, ganha nova edição pela Editora FGV/Ouro sobre Azul. O ensaio é considerado uma das interpretações mais importantes das ideias do intelectual italiano feitas no Brasil. A introdução é assinada por Rafael Salatini, especialista em pensamento político moderno e contemporâneo.

Mengele “hermano”
Wakolda, livro de Lucía Puenzo, nome de destaque da literatura contemporânea em língua espanhola, vai ganhar tradução brasileira. Em julho, a Gryphus Editora lançará o romance no país com o título O médico alemão. A trama se inspira em Josef Mengele, o monstro nazista, e se passa na Argentina. A autora é também cineasta: dirigiu XXY, que levou o Grande Prêmio da Crítica em Cannes, em 2007; e O menino peixe, convidado para abrir a seção Panorama do Festival de Berlim em 2009. Puenzo adaptou O médico alemão para as telas. Em 2013, o longa participou da seleção oficial do Festival de Cannes.

Mexicanos na Serrote
Serrote, a revista de ensaios editada pelo Instituto Moreira Salles, terá edição especial lançada durante a 12ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa no dia 30. A publicação trará ensaios de dois mexicanos: Rubén Gallo (“O improvável Édipo stalinista”) e Juan Villoro (“Itinerários extraterritoriais”) – ambos propõem reflexões sobre a América Latina.

Nejar vem aí
A Editora Boitempo promete para agosto o romance de Carlos Nejar Matusalém de Flores, que conta histórias de uma pequena cidade por meio de signos de narrativas bíblicas e épicas. A orelha do livro é assinada por Antônio Torres.

Cidade Maravilhosa
Em 2015, o Rio de Janeiro vai completar 450 anos. Organizado por Maria Inez Turazzi, Rio 400+50 relembra as comemorações do quarto centenário da capital fluminense, em 1965, e propõe reflexões sobre a Cidade Maravilhosa a partir do questionamento de mitos que cercam a sua fundação. Em português e inglês, o livro é editado pela Casa da Palavra.

Bopp completo
Muita gente ainda acredita que Raul Bopp escreveu apenas um livro, Cobra Norato. A editora José Olympio/Record acaba de mandar para as prateleiras o volume de 392 páginas com a obra completa do poeta gaúcho. Em 1998, ele foi o último dos modernistas a ter seus textos reunidos. Revista e ampliada, a nova edição ganhou fortuna crítica e orelha assinada por Ferreira Gullar. A organização do volume é de Augusto Massi.

Fantasia jovem
Cada vez mais de olho na segmentação do mercado, a Editora Rocco lança no mês que vem o selo Fantástica, destinado a leitores jovens, fãs de literatura de fantasia, terror e ficção científica. A estreia será com os títulos Cemitérios de dragões, de Raphael Draccon e O reino das vozes que não se calam, de Carolina Munhóz e Sophia Abrahão. A proposta do selo é publicar tanto clássicos quanto novos sucessos e tendências, meio cult, meio pop. Entre os estrangeiros, estão programados lançamentos de Neil Gaiman, Eoin Colfer e Michael Scott, além de autores que compõem a coletânea de contos inéditos da série Doctor Who.

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 26/07/2014



 (Fox/ Divulgação)

Liberou geral


De hoje ao dia 3, a Rede Telecine vai abrir o sinal de seus seis canais para toda a base de assinantes das operadoras de TV por assinatura, com destaque para duas grandes estreias no período: Percy Jackson e o Mar de Monstros (foto), hoje, e Universidade Monstros, sábado que vem, ambos às 22h. No mesmo horário, hoje, a HBO estreia Terapia de risco, drama dirigido por Steven Soderbergh , com Channing Tatum e Rooney Mara. Também hoje, às 22h, o Futura exibe o longa Martha, de Rainer Werner Fassbinder.

Canal FX emenda quatro  filmes de Eddie Murphy


Ícone das comédias de Hollywood desde que surgiu na TV, no começo da década de 1980, Eddie Murphy estrela um especial no FX, que selecionou para hoje quatro de seus filmes mais populares: Um vampiro no Brooklyn (15h15), Sou espião (17h), O professor aloprado (18h45) e Norbit – Uma comédia de peso (20h30). No Megapx, o especial Viagem em família junta os longas A era do gelo 3 (20h10), Doze é demais 2 (22h) e O bom filho à casa torna (23h55). Na faixa das 22h, o assinante tem mais seis boas opções: Leo e Bia, no Canal Brasil; 2 perdidos numa noite suja, no Sony; Ratatouille, no Disney Channel; Frank e o robô, no Max HD; Fúria de titãs 2, na HBO 2; e Mamma mia!, no Telecine Touch. Outras atrações da programação: Bubble, às 20h, no Arte 1; e Noites calmas, às 22h10, no MGM HD.

History reprisa episódios de Os segredos da Bíblia

O canal Fox Life preparou para hoje uma maratona de oito episódios das séries Em busca da casa perfeita e Proprietários de primeira viagem, a partir das 17h30. No canal History, outra maratona, com três episódios em sequência da série investigativa Os segredos da Bíblia, começando às 21h. Já o NatGeo aposta nos fãs de automóveis, com SOS carros, às 17h30, e Restauradores de carros, às 18h15.

Surfistas garantem que  têm a vida que queriam

Estreia hoje, às 21h30, no canal Off, a série A vida que eu queria. Ao deixar para trás o mercado financeiro e as competições de surfe, os amigos Bruno Pesca e Marcelo Trekinho vão em busca da vida que sempre sonharam. Os dois primeiros destinos da viagem deles são Costa Rica e Gálapagos. A viagem continua depois no Chile e na França.

Programação de música vai da ópera ao sertanejo

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No pacotão musical, o primeiro destaque é a ópera O rapto do serralho, de Mozart, montada durante o Festival de Salzburgo, na Áustria, com direção de Adrian Marthaler e Desirée Rancatore, Javier Camarena e Tobias Moretti nos papéis principais, às 18h, no Film&Arts. No mesmo horário, a cantora Verônica Ferriani participa do programa Cultura livre, na TV Cultura. No Multishow, às 21h30, vai ao ar especial baseado no DVD O nosso tempo é hoje, de Luan Santana, ficando o show para sexta-feira, às 21h45, no canal Bis.


CARAS & BOCAS » Mágico do mal  - Simone Castro
Salazar (Marcos Tumura) e seus ninjas aterrorizam com assaltos e ninguém imagina quem são eles (Leonardo Nones/SBT)
Salazar (Marcos Tumura) e seus ninjas aterrorizam com assaltos e ninguém imagina quem são eles

O QG da Patrulha Salvadora recebe um aviso de invasão e todos ficam intrigados com uma planta misteriosa que foi deixada por um dos ninjas do grande vilão, o mágico Salazar (Marcos Tumura). No episódio de hoje de Patrulha salvadora, às 20h30, no SBT/Alterosa, os heróis analisam as imagens e descobrem que os ninjas, responsáveis por assaltos, não são mágicos, mas ilusionistas. Ao mesmo tempo, Luiza, interpretada por Bianca Paiva, convida os integrantes da Patrulha para conhecer seu pai, Salazar, e a “Fábrica de Mágica” dele. Será a primeira vez que todos ficarão diante do vilão, mas os heróis não sabem que ele é o responsável pelos crimes misteriosos que atormentam Kauzópolis. Enquanto isso, a editora-chefe do jornal Diário de Kauzópolis, Olívia (Noemi Gerbelli), terá um péssimo dia de trabalho. Já o fotógrafo Jurandir (Carlinhos Aguiar) será treinado para se tornar um paparazzo.

DEBATES AVALIAM RECOPA
DO GALO E O BRASILEIRÃO


O Bola na área deste sábado, às 12h30, na TV Alterosa, traz debates com análises sobre a conquista da Recopa pelo Atlético e também sobre a rodada do Campeonato Brasileiro. A apresentação do programa, que recebe convidados, é de Péricles de Souza.

DIAMANTE ROSA É TALISMÃ
DO MILIONÁRIO DE IMPÉRIO


No capítulo de Império (Globo) que vai ao ar na segunda-feira, José Alfredo (Alexandre Nero), em mais uma viagem ao seu cultuado Monte Roraima, desta vez acompanhado da filha, Maria Clara (Andréa Horta), cumpre também um ritual. Sozinho, ele entra em uma gruta e em um esconderijo revê seu amuleto: um diamante rosa bruto. Para ele, mais que o valor monetário, a pedra lhe dá sorte e todos os anos faz questão de admirar aquela raridade. O comendador está concentrado em seu lugar isolado quando ouve um barulho. É que a esposa, Maria Marta (Lília Cabral), que chegou de repente ao Monte, conseguiu seguir o marido quando ele saiu rumo à gruta, sem ser vista, e está prestes a descobrir seu segredo. Mas ela chuta uma pedra, o que o alerta. Ele logo guarda a pedra e murmura: “Melhor te deixar aqui bem guardada...Tu é só minha, ninguém pode saber que tu existes”.

COBRAS & LAGARTOS ENTRA
NO VALE A PENA VER DE NOVO


As armações de Foguinho (Lázaro Ramos) e as falcatruas de Leona (Carolina Dieckmann) estão de volta na reprise de Cobras & lagartos, no Vale a pena ver de novo (Globo). A trama, de João Emanuel Carneiro, estreia na segunda-feira, logo depois de Caras e bocas, em sua última semana. A história, que traz no elenco, entre outros, Francisco Cuoco, Carmo Dalla Vecchia e Cleo Pires, também gira em torno do romance de Bel (Mariana Ximenes) e Duda (Daniel de Oliveira), que passa por muitas provações.

SESSÃO DA TARDE

Café com aroma de mulher, que chega ao fim em 4 de agosto, no SBT/Alterosa, já tem substituta: Esmeralda, que entrará no ar segunda-feira, às 15h15. A trama é estrelada por Cláudio Lins, que vive Armando, e Bianca Castanho, que interpreta a personagem que dá título à trama, uma garota cega. Escrita por Delia Fiallo e dirigida por Jacques Lagoa, Luiz Antônio Piá e Henrique Martins, a novela tem como tema principal a troca de crianças que no futuro se apaixonam, e é uma adaptação brasileira de uma produção mexicana da Televisa que foi ao ar em 2000. No elenco, entre outros, Lucinha Lins, Paulo César Grande, Sônia Guedes e Manoelita Lustosa, atriz mineira que faleceu recentemente, no papel de Rosário, a parteira que fez a troca das crianças.

VIVA
Primeira fase de Império, ágil e com conteúdo, passa a bola para o restante do desenrolar da trama com sucesso.


VAIA
Ana Maria Braga chama Ariano Suassuna de “Adriano” e Ricardo Waddington de “Washington”. Feias derrapadas. 

Príncipe psicodélico - Biografia de Ronnie Von

Príncipe psicodélico 

Biografia de Ronnie Von apresenta momentos da vida do artista que ameaçou o reinado de Roberto Carlos e deixou o romantismo para arriscar estilo próprio 
 
Mariana Peixoto
Estado de Minas: 26/07/2014


Pose de galã que conquistou o público feminino em todo o Brasil  (Editora Planeta/Divulgação)
Pose de galã que conquistou o público feminino em todo o Brasil

Ele poderia ter sido piloto de avião. Economista, talvez. Ou simplesmente se deitado no berço esplêndido de onde viera. Mas não. Tornou-se cantor quase por acidente; bateu de frente com Roberto Carlos sem intenção; foi fundo na psicodelia, apesar de não ter experimentado drogas alucinógenas; conheceu o sucesso popular meio que por acaso. Também – e isso por muito querer – tornou-se uma “mãe de gravata” e desafiou a morte. Enfim, Ronnie Von nunca se deteve diante da vida e buscou fazer diferente. Aos 70 anos, completados no dia 17, Ronaldo Lindenberg von Schilgen Cintra Nogueira ganhou a biografia Ronnie Von – O príncipe que podia ser rei (Planeta), dos jornalistas Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel.

É mesmo um presentão. Recheado de fotos e com a discografia completa, a narrativa – resultado de 100 horas de conversa com Ronnie, além de entrevistas com 50 pessoas que convivem ou conviveram com ele – apresenta um retrato simpático do biografado. Por vezes recai mais num perfil, evitando polemizar ou aprofundar-se em assuntos mais difíceis. Mas carrega como maior mérito conseguir traduzir a trajetória de Ronnie Von, que nunca se deteve em um só aspecto.

Ronnie Von é hoje um senhor que conversa amenidades de toda sorte (e com conhecimento de causa) em programa diário que, a despeito de seu alcance limitado (o Todo seu é exibido pela TV Gazeta, disponível apenas em São Paulo), é referência no país (houve quem apostasse que ele seria o substituto de Hebe Camargo). Também tem seu lado empresário, mas o que interessa aqui são os diferentes matizes que compõem seu passado.

Apaixonado por Beatles e com um fraco pelo existencialismo, foi alçado ao posto de novo ídolo jovem na década de 1960 graças a uma versão para um lado B de Rubber soul, dos Beatles. Com a ajuda do pai, que nem em seus maiores pesadelos poderia imaginar um filho cantor, Ronnie criou a versão para Girl, de Lennon e McCartney (foi o primeiro a verter Beatles no Brasil). Meu bem foi a porta de entrada para o universo jovem. Em contraponto ao Rei Roberto, Ronnie – com seus cabelos longos e aquele rosto de parar o trânsito – tornou-se o Pequeno Príncipe. Não entrou para a Jovem Guarda – Roberto inclusive proibia que artistas que participassem de seu programa fossem ao dele –, mas conseguiu virar febre da juventude.

 
O cantor com a primeira mulher, Aretusa, em 1969 (Editora Planeta/Divulgação)
O cantor com a primeira mulher, Aretusa, em 1969

Os então recém-formados Mutantes se tornaram sua banda de apoio e, na virada dos 1960 para os 1970, no auge da popularidade, Ronnie gravou três álbuns que só foram compreendidos 30 anos mais tarde. A chamada fase psicodélica, que gerou os LPs reeditados recentemente Ronnie Von (1968), A misteriosa luta do reino de parassempre contra o império de nunca mais (1969) e Máquina voadora (1970), fez dele objeto de culto mundo afora. Na segunda metade dos anos 1970 se reconciliou com o público mais popular. Virou figura fácil dos programas de auditório comandados por Silvio Santos e voltou a fazer muitos shows com seu viés de cantor romântico.

Até que pouco antes da virada dos anos 1980, passou pelos maiores percalços da vida – fim conturbado do primeiro casamento e diagnóstico de uma doença rara, que lhe tirou os movimentos e o levou a ser desenganado pelos médicos. Ronnie Von sobreviveu a tudo, criou os filhos (até hoje ganha presente no Dia das Mães) e deu outro foco tanto à carreira quanto à vida pessoal. É o produtor Arnaldo Saccomani, que trabalhou a seu lado durante anos, quem o melhor o resume: “Você vê que ele sempre buscou a diferenciação. Buscou ser uma pessoa distante da Jovem Guarda. Às vezes de maneira correta, às vezes de maneira errada, não importa. O que importa é que ele nunca foi na mesmice”.

RONNIE VON – O PRÍNCIPE QUE PODIA SER REI
De Antonio Guerreiro e Luiz Cesar PimentelEditora Planeta, 120 páginas, R$ 34,90


Trecho

“Quando, em 15 de outubro de 1996, Ronnie estreou O pequeno mundo de Ronnie Von na mesma Record, Roberto Carlos sentiu o seu castelo estremecer. Nos bastidores, alguns pauzinhos foram movidos e os convidados do Jovem Guarda ficaram impedidos de entrar no mundo de Ronnie. Mas, apesar disso e da gritante carência de recursos, o programa decolou. Decolou tanto que apenas dois meses depois, segundo conta quem estava no estúdio, o Rei teria colocado uma foto do Príncipe na sua frente e cantado, com a ajuda dos pulmões e do fígado, a música "querem acabar comigo/ isso eu não vou deixar”.

ENTREVISTA

Antonio Guerreiro e Luiz Cesar Pimentel
Biógrafos de Ronnie Von


“Ronnie não vetou nada”



O título do livro tem um tom de provocação. “Podia”, mas não se tornou rei. Por que Ronnie Von, de certa forma, ficou sentado à beira do caminho?

Antônio Guerreiro – Porque o Roberto, em condução de carreira, cercou-se de pessoas mais adequadas àquilo que ele próprio almejava. Ronnie foi alçado àquela posição e era menos ambicioso (musicalmente) que o Roberto. Era mais um cara de bom gosto e termômetro para aquilo que o povo gosta do que um compositor de hits. Tanto que seus grandes hits caíram no colo – A praça, Cachoeira, Tranquei a vida. E, mais a mais, na comparação, ele é príncipe de nascença; o Roberto é rei por formação. 


Com a filha Alessandra: o pai mais mãe do Brasil (Editora Planeta/Divulgação)
Com a filha Alessandra: o pai mais mãe do Brasil

O fracasso comercial da fase psicodélica acabou definindo o aspecto irregular da carreira de Ronnie Von depois disso?
Luiz Cesar Pimentel – Não só acredito como tenho convicção de que afetou o restante da carreira. Pense na trajetória – ele foi alçado ao posto de o artista mais popular do país ao gravar um tipo de música que não lhe agradava. Aí resolve que “chega de tudo” e grava o som que existia na sua cabeça, que ele define como a mistura do erudito com popular (rock). Em formato de uma música, seria Eleanor Rigby. Quando faz isso e dá com os burros n’água em aceitação, ele lava as mãos, se exime de responsabilidade e fica confortável no “agora eu gravo o que me disserem para gravar e que vai fazer sucesso”.

A fase psicodélica, subestimada na época e valorizada somente 30 anos mais tarde, ainda tem um quê de segredo bem guardado para o chamado grande público. Por que não se detiveram mais sobre essa fase?
LCP – Porque ela não tem uma relevância maior na história da vida dele do que, por exemplo, a doença incurável, que ele superou. Ou a multiformação como aviador, economista, enólogo, botânico. Ou os altos e baixos da carreira. Essa fase psicodélica é brilhante, mas para um nicho, que são aqueles que enxergam a música por microscópio. Mas se colocada em contexto do grande público, tem mais o sentido de libertação que ele precisava naquele momento do que da produção musical brilhante e pouquíssimo reconhecida à ocasião – e durante 30 anos.

Por vezes, a leitura recai mais para um perfil, com passagens rápidas por aspectos importantes da vida dele: a criação dos filhos, a separação das ex-mulheres etc. Qual foi a participação de Ronnie Von no que diz respeito aos aspectos mais pessoais de sua trajetória?
LCP – Nenhuma. O Ronnie abriu completamente a vida para o livro e não vetou nada. Por um cuidado que todo biografado merece, não entramos em questão de valor patrimonial, até porque isso não interfere no retrato que se traça com a biografia. Sobre algumas passagens pessoais serem mais enxutas, é natural, pois é um cara que vive a figura pública Ronnie Von há meio século, sempre em evidência. Enquanto o Ronaldo Nogueira ocupa menor parte disso, com conquistas e derrotas bem menos relevantes. Mas as todas relevantes estão ali.

ARNALDO VIANA » A culpa da penosa‏

Estado de Minas: 26/07/2014 




Novembro de 2014. O cidadão paulistano chega a Muzambinho, deixa o carro no estacionamento e a mala no hotel. Sai para almoçar. Isso daqui a três meses. Não, não é devaneio de negão. As cenas a seguir podem se tornar plausíveis. Pois, então, o moço sai da hospedaria e se dirige a um restaurante. Está no Sul das Minas Gerais e em terra de mineiro uma das boas pedidas é galinha gorda com quiabo e angu. Senta-se à mesa e passa a folhear o cardápio à espera do garçom.

– Boa-tarde, cavalheiro, qual é a pedida?
– O prato que eu quero não está no cardápio, mas é possível sair galinha com quiabo. Um quiabo verdinho e um angu meio mole.
– Psssssssssst! Pelo amor de Deus, não pronuncie essa palavra aqui. Nem aqui nem em lugar algum desta cidade.
– Que palavra, amigo?
– Essa, o nome da ave.
– Por quê?
– Prefiro não falar. E como o senhor está insistindo muito, peço ao senhor que deixe esta casa imediatamente. Não vamos atendê-lo.

Saiu sem delongas. Voltou ao hotel, pediu um sanduíche de filé à copa, comeu e deitou-se para descansar um pouco. Não conseguiu nem cerrar os olhos, intrigado com a fúria do garçom. Pensou em conversar com o recepcionista do hotel. Só pensou. Era melhor sair, resolver o que o levara a Muzambinho sem tocar no assunto. E assim o fez. No dia seguinte, bem cedo, pegou o carro e tomou estrada. Mas não estava satisfeito. Alguma coisa o incentivava a tirar aquela história a limpo. Parou em um boteco à beira da estrada. O dono estava ao balcão e não havia clientes. Pediu um refrigerante, um pão com linguiça e iniciou a conversa:

– Escute aqui, amigo, o que está acontecendo em Muzambinho?
– Acontecendo? Como assim?
– Quase fui expulso da cidade porque falei em galinha.
– Ah, meu caro, isso é uma história longa. Começou em 2010. Um decreto municipal proibiu a criação de penosas dentro da área urbana. A lei ficou mofando na gaveta e este ano, logo depois da Copa, o município resolveu botá-la para fora.
– Meu Deus! Por quê?
– A vigilância sanitária da cidade resolveu fazer valer a lei sob a alegação de que o mau cheiro e a proliferação de moscas incomodavam e traziam riscos à saúde.
– Mosca? Por acaso alguma mosca passa impune e serelepe diante do bico de uma galinha?
– Pois é! Botaram a culpa nas galinhas, quando o certo seria desenvolver uma política sanitária eficiente. O povo teve prazo até 16 de outubro passado (na verdade o próximo) para se desfazer das aves. Um deus nos acuda na cidade. É como naquela história do homem que pegou a mulher com o amante no sofá da sala e vendeu o sofá.
– E quem não se desfizesse da criação?
– Pagaria multa. E muita gente pagou. Precisava ver, moço, a confusão. Tinha galinha com 15, 20 anos de casa, mãe de dezenas de ninhadas, apegada à dona, que teve de ser descartada. Viu aquele filme A fuga das galinhas? Como nem todos conseguiram vender as aves a tempo, teve galinha fugindo na calada da noite até com pintinhos sob a asa para não ser decapitada. A população está revoltada. Acabou aquela comodidade do ovinho fresco caipira, do franguinho assado aos domingos, com tutu e arroz de forno…
– Pombo pode, pardal pode, galinha não?
 – Sim! Acabou. Até as hortas verdinhas, estercadas pelas galinhas, secaram.
– Que coisa! Deixo aqui, por seu intermédio, minha solidariedade ao povo de Muzambinho.

Comentário do Negão: Todo mundo preocupado com a volta do Dunga à Seleção. Bobagem! Isso não muda em nada a sua, a minha, a nossa vida. Vocês precisam ficar de olho é na galera que vai voltar às cadeiras legislativas em outubro. Vade retro!

Sugestão do Negão:
Não deixem de ler amanhã neste caderno a história de Hilda Furacão. A verdadeira, não a personagem da ficção de Roberto Drummond e da minissérie. O repórter Ivan Drummond a encontrou solitária em um asilo e traz à tona o que resta de memória na mulher que curtiu uma vida de luxo, glamour e de miséria ao lado do marido, o craque de futebol Paulo Valentim, que morreu em 1984. 

Eduardo Almeida Reis-Divinas tetas‏

Divinas tetas 

Despaisagem é tudo que discrepa do natural, como por exemplo: bem... deixa isso pra lá. 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 26/07/2014



Laura Lima, sócia da galeria A Divina Carioca, fez uma despaisagem na Praia do Arpoador, em Ipanema, cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Ensina a respeitada artista que despaisagem “é a ideia de deslocar a vaca, que estava na montanha, para uma praia urbana, onde ela não estaria”. A PM foi chamada, mas Laura tinha todas as autorizações para botar a vaca Mimosa na areia. Foto colorida da Mimosa foi estampada numa coluna de jornal carioca feita por cinco belas jornalistas, que ocupa uma página inteira do respeitável diário lido pelo philosopho há mais de 50 anos.

Em rigor, despaisagem não se limita aos bovinos deslocados do seu hábitat. Em muitos parlamentos brasileiros, político honesto é despaisagem. Mulher bonita é despaisagem em certos ministérios. Despaisagem é tudo que discrepa do natural, como por exemplo : bem... deixa isso pra lá.

A coluna das cinco jornalistas estampou foto da Mimosa com a seguinte manchete: “Vaca de divinas tetas no Arpoador” e o philosopho, que manja de bovinos, identificou animal da raça schwitz, em português, suíço, cinza escuro. Procurando na foto, colorida e nítida, as divinas tetas da Mimosa, o mesmíssimo philosopho encontrou escroto róseo, saco musculocutâneo que contém os testículos e os epidídimos. Tudo bem: poderia ser vaca de uma só teta deformada por qualquer doença que tivesse eliminado as outras três, não fosse o fato de o bovino fotografado no Arpoador transportar sob a barriga, à frente das imaginárias tetas divinas, um pênis, órgão genital masculino dos vertebrados superiores que, nos mamíferos, é geralmente constituído por dois corpos cavernosos e um tubo central, por onde passa a uretra, tendo na sua extremidade a glande peniana, onde termina o meato urinário. Donde se conclui que é melhor não concluir nada e deixar como está para ver como é que fica.


Arte
O americano Jeff Koons, conhecido como “o mais famoso, caro e controverso artista da atualidade”, vendeu sua escultura Balloon dog por US$ 58,4 milhões, recorde obtido por artista vivo. Jeff nasceu em 1955 e tem oito filhos com duas mulheres, Cicciolina (de 1991 a 1998) e Justine Wheeler Koons.

Cicciolina, mãe de Ludwig Maximillian Koons, como o leitor deve estar lembrado é o nome artístico da Ilona Staller, nascida em 1951, ativista política, ex-atriz pornô, cantora e escritora húngara naturalizada italiana. A escultura de 58,4 milhões de dólares lembra sete melancias espichadas, metálicas, esverdeadas e deve ter cinco metros de altura. Play-doh, escultura recém-terminada pelo artista, tem 3,3 metros de altura e foi comprada há 20 anos por um imbecil, colecionador em Los Angeles, que desde então esperava imbecilmente pela conclusão da obra.

Outro escultor americano, Richard Serra, nasceu em 1939 e é considerado “um dos artistas mais importantes do pós-guerra”. É irmão de Tony Serra e foi casado com Clara Weyergraf, morta em 1981. Como ninguém sabe quem é Tony Serra, informo que J. Tony Serra, nascido em 1934, is an American civil rights lawyer, activist and tax resister from San Francisco.

Richard, o brother escultor, trabalha com chapas de aço imensas, pesadíssimas, que requerem guindastes gigantescos e devem ser inamovíveis per omnia saecula saeculorum. Só uma coisa é certa: Amílcar de Castro (1920-2002), nascido Amílcar Augusto Pereira de Castro, não fosse pairosopolitano dos contrafortes da Mantiqueira, mas cidadão norte-americano, seria decerto o autor das esculturas mais valorizadas do planeta, porque dava de mil a zero em Richard Serra e de um milhão a zero no ex-marido de Cicciolina.


O mundo é uma bola

26 de julho: faltam 158 dias para acabar o ano e 138 dias para o mineiro tomar o rumo das deliciosas praias fluminenses, capixabas e baianas de numeroso pernilongo, abundante colchonete e imensa fila para comprar água mineral. O que é de gosto regala a vida, já diziam nossos avós.

Em 1139, Afonso, então conde portucalense, é aclamado rei de Portugal e proclama a independência em relação ao Reinu de Llión, que, como aprendi agora, existiu de 910 a 1230. Foi um dos antigos reinos ibéricos surgidos no período da reconquista cristã, quando foi independente de 910 a 1037, sob o domínio da casa Leonesa, de 1065 a 1072, sob o domínio da casa de Navarra, e de 1157 a 1230, sob o domínio da casa de Borgonha.

Em 1520, por alvará régio de dom Manuel I, de Portugal, é fundada a Santa Casa da Misericórdia da Vila de Torres Vedras, na sequência da fundação da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Ainda outro dia, tivemos notícia do flibusteiro provedor da Santa Casa do Rio de Janeiro, que ficou milionário vendendo imóveis pertencentes à instituição de caridade.

Em 1788, Nova York torna-se o 11º estado norte-americano depois de ratificar a constituição do país. A cidade de Nova York é um dos destinos turísticos dos mineiros, que se dividem entre o litoral brasileiro, NY e Miami, não raras vezes viajando em jatinhos sem escalas, o que é chique a valer. Hoje é o Dia do Arqueólogo, do Moedeiro e dos Avós. Aguardo telefonema dos netos.


Ruminanças

“Perder tempo com Dunga, Marin e Del Nero é desrespeitar os leitores e os telespectadores.” (R. Manso Neto)

Tratando a dor - Paulo Timóteo Fonseca

Tratando a dor 
 
Apesar de todo o avanço da medicina e muitos estudos em andamento, em termos de analgésicos, estamos ainda na era hipocrática 
 
Paulo Timóteo Fonseca
Médico
Estado de Minas: 26/07/2014


A dor é o principal sintoma que leva alguém a procurar ajuda médica. Os médicos são familiarizados com a dor, pois ela representa um sinal de advertência, de ameaça ou denunciando uma injúria ao corpo já instalada. De acordo com a Cecil Medicine (24ª edição), nos EUA, uma em cada quatro pessoas sofreu alguma espécie de dor nos 30 dias anteriores e 10% sentiram dor todos os dias. Entre os vários tipos, a dor lombar baixa ou lombalgia é a mais comum, seguida da cefaleia e das artralgias (dores nas articulações). De acordo com a Associação Internacional para Estudo da Dor, ela é definida como “uma sensação não prazerosa e experiência emocional associada com atual ou potencial dano tecidual ou descrita em termos de cada lesão”.

A dor é uma experiência complexa, que pode ser influenciada por múltiplos fatores e emoções como medo, ansiedade, memória e cognição. Não há qualquer exame que possa indicar a sua intensidade ou mesmo se ela é verdadeira. Há estudos promissores de imagem que refletem o metabolismo cerebral.Várias classificações são propostas para descrever os estados dolorosos, mas de uma maneira simplificada podemos dividi-las em aguda ou crônica, neuropática (periférica ou central) ou nociceptiva (somática, visceral ou mista).

A dor é o resultado da ativação de receptores centrais e periféricos por um estimulo mecânico, térmico ou hormonal. O ácido araquidônico da membrana celular pela ação de enzimas cyclooxigenases é convertido em hormônios oxigenados (prostaglandina, tromboxane, leucotriene, lipoxin e epoxylin). Os analgésicos atuam inibindo essas reações.

Os analgésicos são divididos em três grandes grupos, a saber: 1– Não opioides ou antipiréticos analgésicos (aspirina, paracetamol e anti-inflamatórios não esteróides (Aine) como ibuprofeno, naproxeno, diclofenaco, nimesulida, celecoxibe), que têm ação periférica e central pela inibição de enzimas. 2– Agonistas opioides e drogas antagonistas, que agem sobre receptores opioides periféricos ou centrais como a morfina, oxycodone, codeína, meperidina, fentanila e metadona, entre outros. 3– Drogas adjuvantes que atuam em certas circunstâncias ou potencializam opioides (antidepressivos como a amitriptilina e venlafaxina, anticonvulsivantes como a fenitoína, carbamazepina e gabapentina, estimulantes como a cafeína, corticoides como dexametasona e predinisona, anti-histamínicos como hydroxysine, entre outras).

No tratamento da dor, os casos mais difíceis são conduzidos por especialistas, mas na prática médica do dia a dia não há aquele médico que não receite analgésico. O objetivo do tratamento é diagnosticar a causa da dor e minimizar o sofrimento. Quando possível, a cura da doença implica na cessação da dor. Ainda hoje, a aspirina é o medicamento mais utilizado em todo mundo no alívio da dor. A seguir, temos os anti-inflamatórios não esteroides e os analgésicos antipiréticos como o paracetamol e o acetaminofen.

Os analgésicos utilizados nos nossos dias são tão antigos quanto a medicina e resultam de extrações vegetais. Hipocrates, médico grego, no século IV a.C., já utilizava o pó amargo extraído da casca do salgueiro (Salix alba), fonte natural da salicina, precursora da aspirina, para tratar a dor e a febre. Também empregava o ópio extraído dos frutos da papoula (gênero Papaver), cujos principais alcaloides são a morfina e a codeína e acredita-se que as propriedades analgésicas eram desconhecidas, mas o utilizavam como narcótico.

Muitos devem estar se perguntando: e a dipirona, princípio ativo das mais vendidas marcas de analgésicos brasileiros? Na fonte citada acima, essa droga não recebeu sequer menção, por estar banida das farmácias nos EUA e parte da Europa pelo risco de discrasia sanguínea, embora esteja mostrado que esse efeito colateral seja raro. Apesar de todo o avanço da medicina e muitos estudos em andamento, em termos de analgésicos, estamos ainda na era hipocrática.

Brasil/África e a segurança alimentar - Evaldo Vilela

Brasil/África e a segurança alimentar
Evaldo Vilela
Coodenador do Projeto InovaDefesa, professor da UFV, diretor de CT&I da Fapemig

Geraldo Callegaro
Coodenador do Projeto InovaDefesa, professor da UFV, diretor de CT&I da Fapemig e membro da Academia Brasileira de Ciências e do Fórum do Futuro

Geraldo M. Callegaro
Ph.D. em economia agrícola, bolsista do CNPq
Estado de Minas: 26/07/2014


O desenvolvimento da agricultura africana não é uma opção, mas uma inexorável etapa da estratégia de segurança alimentar mundial. Análises da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) apontam para um forte crescimento da demanda por alimentos, como resultado do aumento da população e de sua longevidade, do incremento da renda na Ásia, na África e na América Latina. O grande potencial para produção de alimentos no mundo encontra-se, além do Brasil, nas terras agricultáveis africanas, que representam cerca de 60% do seu continente e ainda não foram incorporadas ao sistema produtivo.

Nesse cenário, o papel desenhado para a África deverá passar, necessariamente, pela adoção de tecnologias para a agricultura tropical desenvolvida pelo Brasil. Isso em função não apenas de similaridades geoclimáticas, mas também pela experiência empresarial e diplomática para a mobilização conjunta de recursos humanos e financeiros entre Brasil e países africanos, iniciada pela Embrapa para o desenvolvimento das savanas da África. Assim, está aberta uma auspiciosa agenda de convergências, a começar pelo fato de que a África necessita estruturar um eficiente e efetivo sistema de defesa agropecuária, para assegurar a sanidade dos produtos de origem animal e vegetal, com sensível melhoria da qualidade e segurança dos alimentos e matérias-primas comercializados nos mercados interno e internacional.

Com suas fartas reservas de recursos naturais, a cooperação em defesa agropecuária com a África surge como uma excelente oportunidade para assegurar a presença brasileira, com uma parceria indutora da inclusão social e do desenvolvimento sustentável, em um continente com imenso potencial produtivo que ainda é grande importador de alimentos para satisfazer uma demanda crescente.

Depois de mais de 40 anos da independência, os países africanos, incluindo os de língua portuguesa, carecem de efetivos e eficientes serviços de sanidade vegetal e animal. Moçambique, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe poderão se valer de cooperação com o Brasil, onde a sanidade dos produtos animais e vegetais – defesa agropecuária – está adiantada e tende a melhorar ainda mais. Vale enfatizar a exitosa experiência do Projeto Inovação Tecnológica para a Defesa Agropecuária – InovaDefesa –, financiado pelo Fundo Setorial do Agronegócio/MCTI e CNPq e executado pela Universidade Federal de Viçosa, em parceria com a Embrapa, o Ministério da Agricultura e instituições públicas e privadas. Nesse sentido, a agricultura brasileira suporta um ambicioso horizonte de relações institucionais, comerciais e científicas, que deve ser levado a cabo mediante acordos entre governos, para capacitar profissionais e criar infraestruturas para a agropecuária. O potencial é evidente, como constatado no documento Intercâmbio comercial do agronegócio, por principais mercados de destino, preparado pelo Projeto InovaDefesa.

O governo de Moçambique, por exemplo, no Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Setor Agrário, 2010-2019, definiu como prioridade elevar a qualidade dos produtos agropecuários por meio de tecnologias e serviços como sementes melhoradas, certificação e vigilância sanitária, com prevenção e controle de doenças de plantas e animais. Metrologia e tecnologias da informação são desafios e oportunidades para cooperação. Os países de língua portuguesa da África podem contar com os excelentes resultados do Projeto InovaDefesa (www.inovadefesa.com.br) que têm contribuído para uma nova consciência da defesa agropecuária aqui no Brasil, com promoção da capacitação, inclusive em nível mestrado; disseminação de conhecimentos, tecnologias e intercâmbio de experiências por meio da Rede de Inovação Tecnológica para Defesa Agropecuária (RITDA), com mais de 7 mil participantes; preparação do diretório de profissionais e de inovações tecnológicas em defesa agropecuária; e criação da Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária (SBDA).

A cooperação é preponderante para o fortalecimento dos serviços de apoio da sanidade animal e vegetal de países em vias de desenvolvimento. Ao mesmo tempo, pode atender ao apelo do presidente Obama, quando da sua visita ao Brasil, em 2010, ao enfatizar a importância da participação efetiva das regiões tropicais no aumento da oferta necessária para fazer frente à crise alimentar anunciada. O sucesso da agricultura tropical praticada no Brasil é o nosso passaporte. Essa agenda não pode esperar.