sexta-feira, 27 de setembro de 2013

O ficcionista da memória - Cadão Volpato

VALOR ECONÔMICO - 27/09/2013

O Aizomê é um restaurante japonês dos Jardins, em São Paulo. Pretende ser um estabelecimento mais parecido com os de Tóquio. Ou seja, mais autêntico. Como neles, não tem salmão, um peixe de rio que, na terra do sushi, é procurado pelos turistas, já que peixe nobre para os locais é o atum.


LULA / LULA
No Aizomê também não se usa muito shoyu, o molho em que os ocidentais adoram mergulhar o sushi. No Japão, onde sushi de classe é aquele comido com a mão, o shoyu é tratado com a mesma desconfiança que se deve usar no trato com a pimenta. Sushi, aliás, é quase um prato de luxo.

Tirando tudo isso, a sala reservada do Aizomê, onde foi marcado o almoço com o escritor gaúcho Michel Laub tem uma esquisitice bem pouco japonesa, algo impensável, por exemplo, num filme de Yasujiro Ozu (1903-1963), em que as cenas são filmadas com a câmera na altura do chão, para apanhar os personagens de pernas dobradas sobre o tatame. No Aizomê, há um pequeno fosso para deixar os pés imersos no conforto ocidental.

Mas isso é apenas um detalhe diante da variedade de pratos nada convencionais servidos durante a entrevista. Laub é um frequentador do Aizomê desde quando o chef-proprietário, Shin Koike, atendia em outro endereço, oferecendo pratos de arroz coroados com nacos de carne de porco ou boi, à maneira dos restaurantes de Tóquio. O negócio agora une a culinária japonesa a ostras, "magret" de pato, purê de mandioquinha, berinjela à milanesa com toque de azeite trufado, "foie gras" e "tiramisù" para finalizar. Verdadeiro encontro entre culturas gastronômicas do Oriente e do Ocidente - mas sem salmão.


Laub, autor de seis romances, todos editados pela Companhia das Letras, e um volume de contos que considera imaturo, chegou a São Paulo para entrar direto na redação da revista "Bravo!" em 1997. Chegou a diretor de redação da revista, da qual saiu em 2004. "A 'Bravo!' é muito simbólica de uma época", diz. Como tudo relacionado à cultura no Brasil, a revista tentou se ajustar ao mercado e acabou perdendo: foi fechada há poucos meses. Não que isso tenha algo a ver com Laub - há quase dez anos ele vem se transformado num escritor em tempo integral.

Seu último livro, "A Maçã Envenenada", mistura na mesma receita o suicídio do líder do Nirvana, Kurt Cobain, com o genocídio ocorrido em Ruanda no mesmo ano, 1994 - ou quase no mesmo dia -, mais a história pessoal de um narrador às voltas com o Exército e uma namorada de temperamento forte. A trama perpassa e une os temas com a naturalidade e a condução quase cirúrgica, de tão cristalina, que caracteriza os outros livros do autor.


Ana Paula Paiva/Valor / Ana Paula Paiva/Valor
Laub no Aizomê: "Sua prosa tem que capturar o tempo do leitor, perdido entre mil distrações"


Em geral, a impressão que se tem ao ler os livros de Laub é a de que se está diante de uma autobiografia estendida por seis volumes. Mas é uma longa autoficção (um termo da moda). Michel Laub está dentro dela assim como os seus pés no pequeno fosso do Aizomê: a outra metade do corpo fica do lado de fora. "Se você for reparar bem, meus livros se contradizem: um diz uma coisa e o outro diz outra. Mas não sou um cara de imaginação, de ficar buscando coisas muito distantes do meu universo."

Seus livros têm em comum uma narrativa em primeira pessoa e um tema que remete aos clássicos romances de formação, em que um jovem começa a aprender o que é a vida - ou ao menos o que é a vida dentro de um romance. Há sempre uma tragédia no aspecto mais amplo e um desenrolar desse acontecimento no âmbito mais pessoal. Em "Música Anterior" (2001), um juiz é assolado por dois dramas: o de ter condenado um homem pelo suposto abuso de uma criança numa festa e o da mulher que não pode ter filhos. Em "Longe da Água" (2004), dois amigos adolescentes vão surfar e apenas um sobrevive para contar a história. "Diário da Queda" (2011) trata dos efeitos do Holocausto em três gerações, mas recua ao universo adolescente ao narrar a história de uma culpa, a brutalidade cometida contra um colega não judeu numa escola judaica.
Em todos os livros de Laub a memória tem um papel fundamental. No caso do recente "A Maçã Envenenada", a história também possui elementos verdadeiros, embora o escritor invente a parte substancial das lembranças, recurso parecido com o utilizado nas outras obras. Algo assim: Laub de fato serviu o Exército, no CPOR, o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva; viveu um período em Londres; tocou guitarra numa banda e assim por diante. Mas nunca namorou uma garota chamada Valéria nem foi exatamente um fã do Nirvana. "Se os meus livros têm alguma influência de música, é muito mais daquela dos anos 80. O Ian Curtis, jovem suicida do Joy Division, é muito mais interessante para mim do que o Kurt Cobain."

A verdade é que ele já gostava da melancolia do rock dos 80 já aos 12 anos. Aos 21, quando o Nirvana apareceu com sua música energética, Laub já era um ouvinte tarimbado, menos aberto ao lado mais punk da banda de Cobain. "Eu gostava do Jesus and Mary Chain, por exemplo, que veio antes." Sentindo-se impossibilitado de dar voz a um narrador criança, como já fizera em "Diário da Queda", acabou empurrando o tempo para a frente, situando a história nos anos 90.

"Era uma história só sobre o Nirvana, que comecei a escrever antes do 'Diário'", conta. "Mas não funcionava, não achava o tom." Ele acabou entrando no prêmio Petrobras Cultural com a ideia de um livro de contos, entre os quais o núcleo original de "A Maçã" e o conto "Animais", que seria publicado na revista "Granta", com os melhores jovens autores de ficção do Brasil. Ganhou a bolsa, e no meio do processo "Maçã" foi se impondo como o romance que sempre desejara ser. Então o autor quis mudar o gênero e o título do livro, tendo que se haver com as normas do prêmio. Devolveu parte do dinheiro, e acabou ficando com cerca de 30% do total. O resultado é o romance renitente que deve o nome ao trecho de uma letra do

O suicídio, a memória, o papel das tragédias na vida pessoal, a adolescência, temas caros ao autor, tendem a encontrar seus momentos máximos e definitivos, como se fechassem ciclos. "A Maçã Envenenada" finaliza o suicídio como chave mestra da obra de Laub, assim como "Diário da Queda" foi o livro sobre memória que ele quis escrever para encerrar o tema. "Eu quero mudar", afirma Laub, com a mesma calma perfeitamente zen encaixada no pequeno fosso do Aizomê. "É um ciclo de romances que pretendo fechar com um último livro."

Será, afinal, uma trilogia, e esse último romance vai tratar dos anos 2000. Laub não fala a respeito, mas a grande tragédia daquela década foi o atentado às Torres Gêmeas, o que representaria, como tema, um dos grandes desafios do nosso tempo - algo que até os americanos ainda têm dificuldade de encarar. No mesmo pacote entra a obsessão muito moderna pela primeira pessoa. "Depois do próximo, nem eu sei o que vai acontecer. Talvez seja outro tipo de ficção em terceira pessoa. Talvez seja não ficção."

O romance como gênero já vive uma crise adulta. Para Laub, o esgotamento nada tem de aflitivo. "O Coleridge diz que a ficção é uma suspensão voluntária da descrença. A dificuldade é fazer o leitor acreditar naquilo que você está escrevendo. Sua prosa tem que fazer isso, capturar o tempo do leitor, perdido entre mil distrações", observa. "Uma das formas é lidar com os fatores externos ao livro. Entre eles, está o autor. Há quem use o próprio nome. Nunca fiz isso, mas cada um encontra a sua maneira. No meu caso, escrever em primeira pessoa foi muito natural. Nunca pensei no que funcionaria melhor. Só sei narrar desse jeito."
O austríaco de origem holandesa Thomas Bernard (1931-1989) e o sul-africano de origem australiana J.M. Coetzee são nortes da escrita de Laub. Com eles, divide uma espécie de frieza deliberada, nem tão intelectual ou ácida. "O que tem de escritores imitando o Bernard! É muito fácil fazer isso. Quando comecei a escrever, um dos meus primeiros impulsos era ir por aí. No entanto, meus livros não saíram nem ácidos nem cômicos." Os romances de Laub seguem em linha reta, alternando os impulsos da memória e se deixando levar pela fragilidade das lembranças. Sua sintaxe é pura, sem sobressaltos, como se fosse a língua falada numa conversa entre pessoas tímidas. Seus temas é que são pesados. "Eu me considero uma pessoa bem mais leve e com muito mais humor do que em meus livros. Eles saem melancólicos, não tenho como fugir disso." Por isso tudo, depois de seis "autobiografias", é possível prever uma espécie de crise envolvendo a ficção de Laub.

De alguma forma, "Diário da Queda", o mais aclamado dos seus livros, rompeu alguns parâmetros e preparou a possível crise. Só depois de quatro romances, o escritor resolveu encarar as suas origens judaicas. "Diário" trata do tema da identidade como nenhum outro dos seus livros, mas deixa a religião de lado. Ali ele descobriu um jeito de unir a ficção ao ensaio. O romance já está sendo traduzido para 11 línguas, talvez porque, tirando suas evidentes qualidades, o Holocausto, segundo o próprio Laub acredita, seja um gênero, e para editoras que compram livros mesmo sem lê-los é um atrativo de mercado.



Sorte de Laub: no ano que vem ele terá uma vida mais confortável, graças a essas traduções. "Toda grana que vem do livro que você já escreveu parece de graça", brinca. "Se você ganhar um prêmio polpudo, parece até que não trabalhou nada. Mas para chegar aí escrevi cinco livros e ganhei muito pouco. E são dez anos de uma vida." No quesito prêmios, ele é um pouco mais pessimista. "Perco sempre, sou o rei da derrota. Prêmio é uma coisa muito aleatória. Tem que ter um sujeito ali que goste de você." Não que ele já não tenha sido premiado. Laub se refere aos grandes, como o Portugal Telecom e o Zaffari & Bourbon, dos quais foi finalista com "Diário da Queda". Era o livro de Laub, entre todos, que talvez merecesse os principais prêmios do ano.

Mas não há muito o que reclamar. A profissão das palavras chegou a Laub de maneira fortuita, e desde então ele tem vivido de escrever. Foi um dos alunos mais elogiados da clássica oficina do escritor Assis Brasil, ainda em Porto Alegre. Antes mesmo de terminar a faculdade, a mãe, que é brasileira, mas teve uma educação alemã, enviou alguns dos textos do filho para o jornalista Bob Fernandes, então editor da "Carta Capital". Veio o convite para trabalhar em São Paulo, mas Laub recusou. Outro editor, Wagner Carelli, trocou a "Carta" pela "Bravo!" e fez outro convite. Laub aceitou e foi trabalhar com Carelli e Reinaldo Azevedo, entre outros. "Uma escola e tanto", comenta. Para o garoto saído de um lar gaúcho de classe média alta, onde o pai, engenheiro nascido em Berlim, defendia a ética do trabalho e por isso não dava mesada, abriu-se um universo paralelo. "A vinda para São Paulo foi como a de um jogador de futebol que virasse profissional. Teria dinheiro. Passaria a ter uma vida boa."

Tudo isso é passado. Há dois anos e meio Laub trabalha em casa. O jornalismo corresponde a mais ou menos 20% dos seus ganhos. Ele dá aulas em oficinas, faz a maratona de feiras e festas literárias a que todo escritor está acostumado hoje em dia. "Não tenho medo de perder o emprego porque não tenho emprego."
Levado às últimas consequências, o jeito de unir a ficção ao ensaio pode mesmo conduzir Michel Laub à não ficção. Não à toa, ele anda às voltas com um catatau de quase mil páginas, "Longe da Árvore - Pais e Filhos em Busca da Identidade", de Andrew Solomon (Companhia das Letras), o mesmo autor de uma espécie de tratado sobre a depressão moderna, "O Demônio do Meio-Dia" (2001). A questão de gênero anda martelando na sua cabeça. "Você usa um instrumento, a palavra, que não precisa ser voltada só para a ficção. Eu gosto de escrever. E tenho gostado de escrever a minha coluna da 'Folha'. Coisa que eu não esperava - nunca quis ficar dando opinião. Achava até meio ridículo."

A coluna quinzenal da "Folha de S. Paulo" tem recebido respostas imediatas dos leitores, algo muito mais difícil no terreno câmera lenta da literatura. E aí vem uma confissão que seria eloquente e alarmante se não fosse dita em voz baixa pelo escritor: "Nem eu acredito tanto na coisa de sentar e escrever mais um romance. Às vezes, dá vontade de mergulhar num negócio grandioso como esse do 'Longe da Árvore', em que o autor fez mais de 300 entrevistas. A ficção é difícil. Tudo é dúvida. Tem que ter uma necessidade muito grande de fazer, porque o preço é alto."

Tudo isso está mais ou menos impresso em seus livros de ficção, com a liberdade que só um romancista de estilo é capaz de tomar. Um estilo bastante disfarçado nas narrativas pessoais e límpidas de Michel Laub. Tão bem escritas que escondem toda uma relojoaria.


Tv Paga

Estado de Minas: 27/09/2013 



 (Crave Films/Divulgação)

‘‘Teje’’ preso


Um dos grandes nomes de Hollywood na atualidade, Jake Gyllenhaal estrela o policial Marcados para morrer, que estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium. Ele é o tira careca aí da foto, ao lado de Michael Peña. Anna Kendrick também está no elenco. Na trama, dois policiais resolvem gravar a rotina nas ruas de Los Angeles para um curso. A câmera registra momentos familiares e cenas de tensão quando a dupla se envolve com traficantes.

Drama, ação e comédia no pacotão de cinema

Hoje é o Dia do Turismo, e para marcar a data o Telecine Touch anuncia o especial Mundo afora, com a exibição de três grandes sucessos em sequência: Nova York, eu te amo (20h), Falando grego (22h) e Austrália (23h50). No Canal Brasil, à 0h30, a Sessão interativa coloca em votação dois filmes de Nelson Pereira dos Santos para o internauta escolher: Fome de amor (1967) e O amuleto de Ogum (1974). Na faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: Wall-E, no Disney XD; Eu matei minha mãe, na Cultura; Nas montanhas dos gorilas, no Telecine Cult; Um beijo roubado, na MGM; A garota, na HBO; e O artista, na HBO 2. Outras atrações da programação: A maldição da libélula, às 21h, no Cinemax; Contagem regressiva, às 21h30, no Viva; As diabólicas, também às 21h30, no Arte 1; e Velozes & furiosos 4, às 22h30, no Universal Channel.

SescTV apresenta ópera  do maestro Villa-Lobos

Ainda falando de cinema, o programa Contraplano, às 22h, no SescTV, vai falar de memória e passado, com a participação do professor de artes plásticas Tadeu Chiarelli e o palhaço e dramaturgo Hugo Possolo, analisando trechos dos filmes Dois córregos, O passado, Diário de Sintra e O segredo dos seus olhos. No mesmo canal, às 20h, tem a série Mirada, com o documentário Poéticas políticas contemporâneas, sobre o teatro ibero-americano; e às 23h vai ao ar a ópera Magdalena, com música de Heitor Villa-Lobos e libreto de Frederick Brennan e Homer Curran.

Confira os bastidores  do festival Rock in Rio


E se o assunto é música, uma boa dica é a série O som do vinil, às 21h30, no Canal Brasil, hoje com Charles Gavin falando do disco Sweet Lucy, que o trombonista Raul de Souza gravou em 1977. Já à meia-noite, Marcelo Nova é o convidado de José Mojica Marins em O estranho mundo de Zé do Caixão. E no Multishow, às 18h30, vai ao ar um especial com Luisa Micheletti e Mari Cabral mostrando o que rolou nos bastidores do Rock in Rio.

History traça o perfil do  pai do Homem-Aranha


“Um grande poder sempre vem acompanhado de uma grande responsabilidade.” Essa é uma frase dita repetidamente por Ben a seu sobrinho Peter Parker nas histórias do Homem-Aranha, um dos mais emblemáticos personagens da Editora Marvel. De lá também saíram outros ícones pop, como Hulk, X-Men, Quarteto Fantástico e o Homem de Ferro. Tudo cria do genial Stan Lee, que é personagem de um especial que o canal History agendou para hoje, às 16h45. Uma lenda dos quadrinhos, Stan Lee completa 91 anos em 28 de dezembro. 

CARAS & BOCAS » Fuga pelo picadeiro

Estado de Minas: 27/09/2013 



Mundo, Gaia e Toni viram palhaços para fugir da polícia (Raphael Dias/TV Globo)
Mundo, Gaia e Toni viram palhaços para fugir da polícia

Domingos Montagner matou a saudade de seu trabalho como palhaço na gravação da novela Joia rara, da Globo. É que em cena que vai ao ar hoje, seu personagem, Mundo, foge da polícia com Gaia (Ana Cecília Costa) e Toni (Thiago Lacerda). O líder dos operários é acusado injustamente de tentar matar Ernest (José de Abreu) durante um protesto na Fundição Hauser. Para não ser preso, eles correm para o cabaré, onde conseguem ajuda para montar o disfarce, terminando no palco do teatro. O número improvisado faz tanto sucesso que arranca risadas e aplausos da plateia. Em tempo: nos próximos capítulos, Amélia (Bianca Bin) e seus amigos do cortiço vão acabar na prisão, acusados de envolvimento com o Partido Comunista.

Miss Brasil revela como
é ser coroada a mais bela


Marina Mantega recebe hoje a Miss Brasil 2012, Gabriela Markus, no quadro “Papo de cozinha”, do programa Dia dia, às 8h, na Bandeirantes. No bate-papo, Gabriela fala da emoção de ter sido coroada a mulher mais bonita do país e conta as expectativas para o desfile de amanhã, em Belo Horizonte. A Band vai transmitir o Miss Brasil 2013 ao vivo, a partir das 22h15.

Zeca Camargo garante que
aprendeu a rir de si mesmo


O apresentador do Fantástico Zeca Camargo vai hoje ao Programa do Jô, na Globo, para divulgar o livro que ele acaba de lançar em versão digital, 50, eu?, sobre sua chegada aos 50 anos. “Nada muda de um dia para o outro quando você completa 50 anos”, diz. Zeca afirma que aprendeu a rir de si mesmo e que se livrou, recentemente, de 30% de seus pertences, como CDs, livros e roupas. Subindo o nível, o professor de filosofia Clóvis de Barros Filho vem a seguir, ocupando dois blocos com uma entrevista na qual fala de felicidade, alegria e angústia.

Gugu Liberato vai voltar ao
SBT. Ao menos no Teleton


Ninguém confirma, mas a imprensa paulista anda noticiando que Gugu Liberato está prestes a voltar ao SBT. Desde que ele deixou a Record, em junho, os boatos foram ficando cada vez mais fortes. O apresentador iria comandar uma atração nas noites de sábado. A presença de Gugu é dada como certa no Teleton, a maratona televisiva em prol da AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), em 25 e 26 de outubro.

Caleidoscópio dá uma geral
nas repúblicas de Ouro Preto


O programa Caleidoscópio, da TV Horizonte (canal 19 UHF), anuncia para hoje, às 17h, um debate sobre as repúblicas da cidade histórica de Ouro Preto. O apresentador Elias Santos vai levantar questões sobre os modelos de convivência nas repúblicas estudantis e os desafios que os jovens enfrentam ao saírem da casa dos pais.

 (Raphael Dias/TV Globo)

Casamento
dos sonhos


O último capítulo de Saramandaia, hoje, na Globo, promete muitas surpresas, mas uma cena já marcou esta reta final da novela: o casamento do lobisomem com a quenga. A cafetina Risoleta (Debora Bloch) subiu ao altar com o professor Aristóbulo (Gabriel Braga Nunes), e a cena do beijo (foto) ficou bem no estilo clássico, a noiva exuberante com um lindo vestido de renda bordada e grandes flores no cabelo e ele elegante como sempre. Dá vontade de ficar grudado diante da telinha esta noite.

VIVA
Apresentado por Sabrina Parlatore, o programa Update é uma das boas produções do canal Glitz (TV paga). Hoje à noite, a entrevistada será a atriz Ceo Pires. Confira às 19h30.

VAIA
Hoje tem reprise do Pânico na Band, o que justifica a condenação de o programa colocar Sabrina Sato em situações constrangedoras, como na entrevista com Justin Timberlake. 

Hora da verdade Autobiografia de Max Cavalera .‏

Autobiografia de Max Cavalera revela momentos marcantes da trajetória do Sepultura e mergulha nos problemas e superações vividos pelo vocalista e guitarrista mineiro


Ailton Magioli


Estado de Minas: 27/09/2013 



Cavalera durante apresentação no Rock in Rio Lisboa, com a banda Soufly: reconhecimento internacional (Hugo Correia/Reuters - 30/5/10)
Cavalera durante apresentação no Rock in Rio Lisboa, com a banda Soufly: reconhecimento internacional


“Toda a verdade sobre a maior lenda do heavy metal brasileiro”. É dessa forma pomposa que o livro My bloody roots, de Max Cavalera, que está sendo lançado no Brasil pela Agir, é apresentado aos leitores. Mas a promessa é para valer: não faltam boas histórias e revelações. Tradutor da autobiografia do cantor e guitarrista mineiro criador do Sepultura, o jornalista Roberto Muggiati diz que o livro dá ao leitor e admirador do músico a possibilidade de enxergar “dois lados de uma mesma palheta”.

“O Max Cavalera que hoje sobe ao palco com o Soulfly mantém o vigor dos dias do Sepultura”, garante o jornalista. “Por outro lado, o adolescente que encontrou na música uma forma de aliviar a ausência do pai viria a enfrentar ainda muitos eventos trágicos, que o transformariam ao longo dos anos”, analisa.

Dos excessos da vida de um astro do rock até o afastamento da bebida (provavelmente um de seus maiores inimigos) e o refúgio na vida em família, o Max Cavalera da autobiografia é outro. “Aí talvez esteja uma das grandes revelações do livro: muitos daqueles que veem Max sobre o palco talvez não compreendam a importância que – por mais paradoxal que isso pareça – a família e Deus têm em sua vida”, garante o tradutor Muggiati, especialista em música popular internacional, autor dos livros Rock: o grito e o mito, Blues: da lama à fama e New jazz – De volta para o futuro.

Escrito por vários motivos, segundo o próprio autor, My bloody roots tem por objetivo principal relatar “a verdade sobre o Sepultura, a minha amada primeira banda, e a razão pela qual a deixei, que não foram integralmente reveladas até agora, tampouco a verdade sobre a minha luta contra o álcool e as drogas analgésicas”. Para Max Cavalera, portanto, “chegou a hora de esclarecer as coisas”.

O livro apresenta ao público um Max contemplativo e de certa forma nostálgico, passando a limpo não só sua carreira, mas toda a vida. “Pela primeira vez, Max discorre abertamente sobre seu problema com o álcool, narrando os episódios que o levaram ao fundo do poço e sua posterior recuperação. O livro leva os fãs a conhecerem o ser humano por trás do artista, a motivação que o levou a certas decisões, seus anseios e temores, a importância da família em tudo o que faz”, diz o tradutor.

O sucesso mundial do Sepultura, que nasceu na Belo Horizonte dos anos 1980, não foi mero acaso, de acordo com Muggiati. “Se num primeiro momento a falta de técnica – quando ainda eram adolescentes aprendendo a tocar seus instrumentos – era compensada pelo vigor e pela rapidez essenciais ao death metal, a chegada de Andreas Kisser para o lugar de Jairo Guedes ajudou a colocar óleo numa máquina que já vinha bem engrenada”.

Talvez o diferencial do Sepultura tenha sido a ambição de seus integrantes de buscar sempre a superação, a inovação, o inusitado. “Cada novo álbum deixava evidente o amadurecimento da banda, na parte técnica e na composição. Não bastavam novas canções tão boas quanto as precedentes, eles buscavam sempre oferecer aos fãs algo diferente, que os instigasse e envolvesse. Quem sabe o que viria depois de Roots caso a banda permanecesse unida?”, pergunta Muggiati.

Silêncio e caos

O jornalista lembra que entre o silêncio de João Gilberto, o pai da bossa nova, e o caos do Sepultura, há uma série de artistas brasileiros reverenciados no exterior, por seu talento e criatividade. “De Sérgio Mendes à turma da Tropicália; de Tom Jobim a Jorge Benjor, passando mais recentemente pelo Cansei de Ser Sexy, muitos foram os brasileiros que, com um grau maior ou menor de reconhecimento, caíram no gosto do público estrangeiro”.

No caso do Sepultura, a autobiografia de Max deixa claro que muito do sucesso internacional da banda vem do esforço e da obstinação de seus integrantes. “Num tempo sem internet – a MTV havia acabado de nascer e a transmissão de informações ocorria basicamente por meio de fanzines – chegar aonde o Sepultura chegou foi uma empreitada grandiosa”, admite o tradutor.

“Além do talento inegável e da força de suas composições, o elo da banda com os fãs era algo muito forte. O Sepultura sempre colocou a música acima de tudo: eram fãs do metal tocando para outros fãs. Além disto, é bom lembrar que o nicho do metal é bastante receptivo a bandas que fogem do eixo EUA-Inglaterra. Vejam, por exemplo, a quantidade de artistas vindos de locais como Alemanha, Escandinávia e países do Leste europeu. O Sepultura soube explorar muito bem essa receptividade”, acrescenta.

Notório por suas inúmeras colaborações com outros artistas, em mais uma demonstração do respeito que conquistou ao longo dos anos, Max Cavalera trabalhou com alguns de seus maiores ídolos. De Tom Araya (Slayer) e Jello Biafra (Dead Kennedys) a artistas importantes de sua geração, como Mike Patton (Faith No More) e Rex Brown (Pantera), passando por muitos de seus admiradores, como Dave Grohl (no projeto Probot) e Sean Lennon, entre outros que comparecem em My bloody roots. O prefácio do livro é assinado por Dave Grohl, do Foo Fighters e ex-Nirvana.

O cantor

Numa passagem significativa do livro, Max pergunta a Lemmy Kilmister se o Sepultura poderia incluir Orgasmatron, do Motörhead, em seu show, pedido que lhe é negado porque, segundo o vocalista da banda inglesa, a voz de Max “vem da garganta, e não do estômago”. É justamente esse modo de cantar, na opinião de Roberto Muggiati, que dá a Max “o vigor para rivalizar com a força das guitarras, baixo e bateria, atropelando como uma locomotiva sem freios tudo o que encontra pela frente. Esse modo de cantar se encaixa perfeitamente com o tom de suas composições, incorporando a brutalidade das letras e a fúria da música”.

Autobiografia de Max Cavalera revela momentos marcantes da trajetória do Sepultura e mergulha nos problemas e superações vividos pelo vocalista (Agir/Reprodução)
Autobiografia de Max Cavalera revela momentos marcantes da trajetória do Sepultura e mergulha nos problemas e superações vividos pelo vocalista
MY BLOODY ROOTS

. De Max Cavalera, tradução de Roberto Muggiati
. Editora Agir, 208 páginas, R$ 39,90







Três perguntas para...

Roberto Muggiati
escritor e tradutor

A saída de Max Cavalera do Sepultura foi cercada de muito falatório, afinal envolvia inclusive relações familiares. Em que o livro contribui para esclarecer o episódio?

O livro conta pela primeira vez a versão nua e crua de Max sobre os desentendimentos que acabaram levando ao seu desligamento do grupo. Fica a impressão de que hoje, mais de 15 anos depois da separação, todos os envolvidos parecem arrependidos – não do que fizeram, mas sim da maneira como a coisa se desenrolou. Max, particularmente, atravessava um período muito difícil depois da morte de seu enteado e reconhece no livro que a banda deveria ter dado um tempo para depois retomar as atividades de cabeça fria.
    
E a entrada em cena no Soulfly, o que a banda acrescenta na trajetória de Max?

O Soulfly representa um novo leque de possibilidades na carreira de Max, libertando-o de qualquer amarra. Musicalmente, não há nada que não possa ser feito pela banda. Ou, melhor dizendo, bandas, já que a formação do Soulfly está em constante rotação. Dado o caráter altamente inventivo e exploratório de Max, o Soulfly parece lhe propiciar maior liberdade para experimentações. Não que isso necessariamente fosse impossível de acontecer no Sepultura, mas certamente seria mais difícil, pelo grau de importância que a banda atingiu, levando-a a assumir cada vez menos riscos.
    
Até que ponto o Sepultura resiste sem o seu principal vocalista?

Entre mortos e feridos, o Sepultura sem Max conseguiu o mais difícil: manter-se relevante. A banda não perdeu somente seu vocalista, mas também seu principal compositor e a força motriz que a levava adiante. Podemos apenas especular até onde o Sepultura com Max poderia ter chegado, mas, passados 17 anos, é inegável que o grupo ainda tem seu espaço no mundo do metal em particular e da música em geral. Há que se dizer também que a banda acertou ao escolher Derrick Green para assumir os vocais – não para substituir Max, mas sim para escrever capítulos totalmente novos na história da banda, em álbuns bem construídos, como Roorback, Dante XXI e A-Lex. Nem mesmo a saída de Iggor Cavalera, em 2006, conseguiu abalar sua trajetória e ainda hoje, em 2013, o Sepultura é respeitado como um dos grandes nomes do metal – como pôde testemunhar o público que assistiu às duas apresentações da banda no Rock in Rio (uma no palco principal, com Les Tambours du Bronx, outra no palco secundário, fazendo uma improvável parceria com Zé Ramalho).

CARLOS HERCULANO LOPES » Por falar em Sabino‏

Estado de Minas: 27/09/2013 



Antecipando as homenagens programadas para outubro, em Belo Horizonte, pelos 90 anos de Fernando Sabino, segundo anunciou Ana Clara Brant em matéria publicada no Estado de Minas, estive no Sesc Contagem na companhia de Bernardo Sabino, grande divulgador da obra do pai, e do jornalista Humberto Werneck. Durante uma feira de livros, participamos de debate cujo tema era a vida e a obra do autor de Encontro marcado. Em algumas ocasiões, tive o privilégio de estar com ele, boa-praça e contador de histórias.

Certa vez, na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo, dividimos mesa com o escritor Roberto Drummond. Antes de começar a palestra, que reuniu plateia atenta, da qual faziam parte o jornalista Luiz Fernando Emediato, o cineasta Paulo Thiago e Marcelo Andrade, coordenador do evento e então secretário de Cultura de Viçosa, Roberto, tão mineiro quanto Sabino, chamou-me de lado. Segurou meu braço, deu um sorriso maroto e disse, propondo um pacto: “Você fala primeiro, depois entro na conversa. Se deixarmos o Fernando pegar o microfone no início, estamos perdidos”.

 Não deu outra: assim que Fernando Sabino, o grande astro do encontro, começou a falar, o encantamento foi geral. Contou sobre os primeiros tempos em Belo Horizonte. Discorreu sobre os amores clandestinos, vividos na juventude. Deu detalhes da amizade com Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resende, Paulo Mendes Campos e Hélio Pellegrino. Revelou como começou a escrever. Lembrou as dezenas de viagens que fez mundo afora, muitas delas documentadas em livros. Enfim, naquela fria noite de São Paulo, o escritor falou sobre a vida.

Se conto tudo isso é para dizer também que, terminado aquele evento, saímos para jantar. Já não me lembro do restaurante. Entre um chope e outro, Paulo Thiago, mineiro de Aimorés, virou-se para mim (eu estava sentado ao lado de Fernando Sabino) e disse: “Há mais de 30 anos tenho vontade de fazer um filme baseado no poema “Caso do vestido”, de Carlos Drummond de Andrade, e gostaria que você escrevesse o argumento. Li alguns de seus livros, queria fazer essa parceria com você”.

Nem é preciso dizer do susto que tomei. Imagine, logo eu, um modesto escrevinhador de quimeras, para também lembrar Roberto Drummond, mexer no texto do poeta maior?. “Não posso fazer isso, Paulo, gostaria, mas não posso” – foi a minha primeira reação. Fernando Sabino, que até aquele instante ouvia a conversa em silêncio, voltou-se para mim, sorriu e disse: “Pode sim, Herculano. Além do mais, você vai ganhar um dinheirinho, o que não faz mal a ninguém”. Em seguida, propôs um brinde.

Encorajado pelo mestre, tive a audácia de transformar “Caso do vestido”, um dos mais belos poemas de Carlos Drummond de Andrade, no meu quarto romance, O vestido. Publicado pela Geração Editorial, de Luiz Fernando Emediato, o livro, sob as bençãos de Fernando Sabino, acabou sendo filmado por Paulo Thiago, tendo no elenco estrelas do primeiro time como Gabriela Duarte e Ana Beatriz Nogueira.

Se no Sesc Contagem acabei não contando essa história, ela vai agora como pequena homenagem aos 90 anos de Sabino. À altura de seu merecimento, eles serão bem lembrados em Minas.


>> carloslopes.mg@diariosassociados.com.br

Pode to be? - Ruy Castro

Pode to be?

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RIO DE JANEIRO - 
O Google, sempre ele. Como foi que nos viramos por 4.000 anos sem os seus serviços? Não contente em ser o maior banco de dados já criado pelo homem, com informações sobre absolutamente tudo e também com conversa fiada e palpite errado sobre quase idem, em breve ele nos dará a possibilidade de nos entendermos de viva voz com o resto do mundo, e vice-versa.
A turismo por, digamos, Alemanha, Rússia ou China, e diante de alguém que insista em usar o dialeto local, bastará a você falar num smartphone. O aparelho processará a sua frase e a traduzirá vocalmente para o interlocutor. Este a ouvirá e, sacando do seu (dele) próprio smartphone, a responderá. Então será a sua vez de ouvir a resposta em português ou algo parecido. Depois disso, o que acontecerá entre você e o dito interlocutor será só da conta de vocês --ou de seus smartphones.
Tal maravilha não facilitará a vida apenas dos monoglotas do circuito Elizabeth Arden, em cuja divisão de acesso atuamos, mas permitirá que persas se comuniquem com bolivianos, búlgaros com zulus e malaios com esquimós. Será o fim das fronteiras linguísticas e, espera-se, o início de uma nova era de relações comerciais, culturais, talvez até amorosas.
Ou não. O que tantos terão a falar entre si? E tudo dependerá da competência do Google. Há tempos ele já oferece serviços de tradução de texto em 71 línguas --e qualquer usuário sabe que o resultado não é muito melhor do que o dos comerciais estrelando Joel Santana, em que ele pergunta, "Pode to be?".
Nada de surpreendente nisso. Enquanto não converterem a língua falada em matemática, ela continuará a ser um intransferível privilégio humano. Um dia, o Google provavelmente conseguirá traduzir um texto de Sousândrade, Joyce ou Guimarães Rosa. Mas não understanderá bulhufas se um dos interlocutores for o querido Joel.
ruy castro
Ruy Castro, escritor e jornalista, já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda. Escreve às segundas, quartas, sextas e sábados na Página A2 da versão impressa.

Uma nova abordagem contra o câncer‏ - Bruna Sensêve

Cientistas propõem que tumores sejam classificados de acordo com o material genético em vez da condição celular


Bruna Sensêve


Estado de Minas: 27/09/2013 


De forma semelhante ao Projeto Genoma Humano (PGH), que consistiu em um esforço internacional para mapear o código genético humano e identificar todos os seus componentes, a comunidade científica mundial se une para a construção do Atlas Genômico do Câncer (TCGA, em inglês). Na primeira empreitada, finalizada em 2003, centenas de laboratórios e institutos de saúde debruçaram-se sobre a tarefa de sequenciar os genes que codificam as proteínas do corpo humano e as sequências de DNA deles, um a um. Na nova, cientistas de renomadas instituições de pesquisa fornecem mapas tumorais moleculares sem precedentes e sugerem uma nova classificação para os tipos de câncer baseada nas informações genéticas dos tumores em vez da origem celular, como é feito atualmente.

Em dois artigos publicados hoje na revista científica Nature Genetics, a equipe do projeto do Atlas Genômico do Câncer apresenta números grandiosos. O time é composto por mais de 250 colaboradores, distribuídos por quase 30 instituições. Os resultados estão baseados na análise integrada de 1.930 arquivos de dados, para os quais foram utilizadas seis tecnologias biomoleculares. O projeto TCGA foi iniciado em 2006 com o objetivo de coletar e montar o perfil de mais de 10 mil amostras de tumores de pelo menos 20 tipos de câncer. A vasta coleta de amostras, depositadas e descritas em múltiplas plataformas técnicas, produziu os dados para um atlas cada vez mais completo das alterações moleculares do problema.

A doença pode ter centenas de formas, dependendo da localização, da célula de origem e do espectro de alterações genômicas que promovem a oncogênese – alterações cromossômicas, celulares e ou genéticas que culminam no desenvolvimento de um câncer – e afetam a resposta terapêutica. Ainda que hoje já tenham sido identificadas muitas informações genéticas com impacto direto na constituição das características fisiológicas de um organismo (fenótipo), grande parte da complexa “paisagem molecular” de tumores permanece incompleta para a maioria das linhagens do mal. Essas análises das alterações genômicas em vários tipos de tumores, no entanto, levaram a duas observações fundamentais.

Em primeiro lugar, tumores originários do mesmo órgão ou tecido variam substancialmente quanto às suas alterações genômicas. Nessa direção, foi observado que, ao mesmo tempo, padrões semelhantes de alteração genômica são vistos em tumores de diferentes tecidos de origem. O oncologista e coordenador do Centro de Pesquisa Clínica do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), Felipe Cruz, ressalta que essa é a principal descoberta do trabalho. “Eles observaram que, independentemente do local, alguns cânceres têm patrimônio genético semelhante e se diferem por alguns aspectos pontuais.” Isto é, cânceres de mesma origem celular, como os diversos subtipos de tumores mamários, não têm necessariamente alterações genéticas parecidas. 

Por outro lado, alterações similares foram descritas em tumores derivados de tecidos e órgãos distintos. “O que eles propõem éque, em vez de utilizar a classificação habitual, como câncer de pulmão, de mama ou de próstata, essa divisão seja feita com base no material genético desses tumores.” Cruz acredita que, no futuro, quando for possível a análise do patrimônio genético de cada tumor, o tratamento também poderá ser revertido em drogas-alvo moleculares com base na configuração genética do tumor. “Hoje, a gente trata o câncer de mama de uma forma e o câncer de pulmão de outra.”

A opinião é compartilhada por Chris Sander, principal autor de um dos artigos e cientista do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, em Nova York. Segundo ele, os fenômenos de heterogeneidade em tumores de mesma origem e a semelhança genética em tipos diferentes representam um desafio clínico e uma oportunidade para projetar novos protocolos terapêuticos com base nas características genômicas tumoral. 

Em seu trabalho, Sander desenvolve, com o auxílio de um algoritmo, uma nova abordagem que integra vários tipos de alterações genéticas e é independente do tecido tumoral de origem, promovendo uma classificação hierárquica de 3.299 tumores de 12 tipos de câncer. “A análise identifica uma relação inversa marcante entre o número de alterações recorrentes nas cópias genéticas e o número de mutações somáticas, subdividindo os tumores em duas classes principais: uma com mutações somáticas e outra com alterações no número de cópias”, define. 

A equipe liderada por Sander também identificou padrões específicos de assinaturas oncogenéticas que caracterizam cerda de 30 subclasses de tumores. “Essas assinaturas são associadas a vias oncogênicas distintas e podem ser usadas para designar alvos terapeuticamente acionáveis entre os tipos de tumores e a fração de pacientes que pode se beneficiar desses agentes terapêuticos específicos”, diz Sander quanto à possibilidade do avanço na medicina personalizada para o tratamento do câncer.

O segundo estudo, liderado por Rameen Beroukhim, do Instituto Broad, em Boston, focou na análise de como um tipo específico de alteração genética, já conhecida por uma relação com a formação do câncer, pode atuar para favorecer o surgimento da doença. Conhecida como alterações somáticas do número de cópias genéticas (SCNAs, em inglês), esse tipo de mutação afeta a maior porção do genoma de cânceres do que qualquer outro tipo de alteração genética. Ela exerce papéis fundamentais na ativação da oncogênese e na inativação de mecanismos naturais do organismo para a supressão do tumor.

“Uma compreensão dos efeitos biológicos das SCNAs levou a avanços substanciais em diagnóstico e terapêutica do câncer conhecidos hoje”, avalia Beroukhim. Segundo ele, o principal desafio na compreensão das SCNAs é distinguir os processos que servem de estopim e contribuem para a oncogênese e a consequente progressão do câncer. A equipe liderada por ele caracterizou alterações padrão em 4.934 tipos primários da doença e observou uma duplicação genômica associada com taxas mais elevadas de SCNAs em 37% das amostras.


Antidepressivos contra tumor

Uma abordagem bioinformática voltada para o reaproveitamento de medicamentos resultou na identificação de uma classe de antidepressivos como novo potencial tratamento para o câncer de pulmão de pequenas células (CPPC). Os resultados foram publicados na revista científica Cancer Discovery, da Associação Americana para Pesquisa do Câncer. As duas drogas têm aprovação da agência de vigilância sanitária dos Estados Unidos, a Food and Drug Administration (FDA), para o tratamento de sintomas de depressão e foram testadas em células e modelos animais da doença contra o CPPC.

Esse câncer é um subtipo mortal de câncer de pulmão com origem neuroendócrina. Os pacientes diagnosticados com o mal têm um prognóstico sombrio, já que não há terapia direcionada e aprovada para a doença. Os antidepressivos testados foram a imipramina, que modula a atividade de certos hormônios causadores de distúrbios de humor, e a prometazina, um sedativo e antipsicótico.

Os dois medicamentos também foram eficazes em camundongos portadores de CPPC que se tornaram resistentes à cisplatina, medicamento de quimioterapia. “Diferentemente da maioria das terapias-alvo, que são muitas vezes específicas para uma única molécula ou via molecular, as drogas que identificamos visam a vários receptores-alvo na superfície de células cancerígenas, o que pode tornar difícil a elas (às células) desenvolver resistência”, detalha Julien Sage, professor associado de pediatria e genética na Escola de Medicina da Universidade de Stanford e autor do estudo. 

Os cientistas realizaram novas experiências e descobriram como as drogas agiam no CPPC, principalmente induzindo mecanismos de morte celular nas células cancerígenas. Como a imipramina também foi eficaz em um modelo animal de tumores neuroendócrinos pancreáticos, os pesquisadores esperam que os resultados possam ser estendidos para uma série de outros tipos de tumores neuroendócrinos. (BS)

Eduardo Almeida Reis - Síndicos‏

Há casos de edifícios nos quais nenhum condômino escapa: não há eleição, mas mandatos anuais rotativos


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 27/09/2013

Na revista Piauí, matéria sobre síndicos me deixou na mesma: continuo sem entender que alguém se candidate a síndico de um prédio somente pela isenção condominial, que muitas vezes oscila de R$ 150 a R$ 400. É vender-se por uma ninharia, salvo quando a bagunça é tão grande que pede intervenção de um abnegado. Há casos de edifícios nos quais nenhum condômino escapa: não há eleição, mas mandatos anuais rotativos. Ainda assim, o síndico da vez pode inventar qualquer desculpa e empurrar a chatura para o próximo. Em rigor, bom mesmo é o síndico profissional, que tem estrutura emocional e contábil para viver da administração de prédios alheios. No Rio de Janeiro da década de 1950 havia um assim, cavalheiro tão feio que levou o médico-legista Thales de Oliveira Dias a constatar: “Aquele sujeito não foi parido, foi obrado”. Acabo de descobrir que médico-legista tem hífen e de me lembrar da nota máxima que obtive no vestibular do Catete, prova oral, quando o professor Hélio Gomes perguntou se o sujeito, querendo, pode ficar maluco? Respondi que sim e vi que tinha dito uma besteira, diante da reação do mestre: “Ah é? Como?” Expliquei: 

“Comprando um carro velho”. Hélio Gomes soltou uma gargalhada, que atraiu o diretor da faculdade, que passava pelo corredor. A partir de então, falamos de tudo menos de medicina legal: tirei 10. No terreno dos síndicos tenho visto e sabido de casos espantosos, de gente que disputa o cargo aparentemente pela isenção condominial. Deve ter mutreta escondida. Não é possível que um sujeito lute por um cargo chatíssimo em troco de R$ 400 mensais – e há quem lute. De repente, sobra um agradinho da conservadora de elevadores, da empresa que limpa as caixas de água, da firma que pinta as fachadas do prédio. Só pode ser.


Escrever

Atribuída ao jornalista J. B. Oliveira, circula na internet uma lista com 20 dicas para escrever bem. Fui pesquisar no Google e descobri que J. B. Oliveira existe, escreve livros, preside a Sociedade Amigos da Cidade (de São Paulo), ministra cursos de oratória, de neurolinguística prática, faz palestras, é risonho vice-presidente de Assuntos Jurídicos do SINCMC, Sindicato dos Cerimonialistas e Mestres de Cerimônias, tem programas de rádio e pode ser acompanhado nas redes sociais. Penitencio-me de ter alcançado idade provecta sem conhecer o ilustre patrício. Até pesquisar no Google, só sabia da existência de J. B.


 Oliveira Sobrinho, o Boni da Rede Globo. Serão parentes? Estabelecido o fato de que o cavalheiro existe julgo desonesta a transcrição de suas 20 dicas, pelo seguinte: ao transcrevê-las, sevandijo J. B. Oliveira. E o substantivo sevandija, de dois gêneros, significa parasito, pessoa que vive à custa alheia. Sabandija, em castelhano, é pessoa desprezível, verme, réptil ou inseto imundo. Para não perder o trabalho que tive encaminhando o e-mail de um amigo e leitor com as 20 dicas de J. B. Oliveira, trabalho que consiste em remeter o e-mail recebido para outro endereço eletrônico, em que consigo copiar para colar aqui neste arquivo, limito-me à dica 12: “Não abuse das exclamações! Nunca!!! Jamais!!! Seu texto ficará intragável!!! Não se esqueça!!!”


Palavras

Roldão Simas Filho continua sendo o grande ombudsman da imprensa brasileira, sem limitar sua análise crítica aos jornais e revistas. No conto “O colocador de pronomes, de Monteiro Lobato, acho que publicado em 1924, Roldão pescou uma porção de palavras que talvez tivessem curso há 90 anos e hoje são ininteligíveis para todos nós. Da lista, ponho em itálico as palavras que conheço e entendi. Alcaçar, alfeites, apóstrofe, arreveso, avariose, bofé!, bordalenga, caraminholas, cartel (desafio?), chalaça, chatinar, chusma, cinca (erro), Colubrina, costaneiras, empós, escabichar, esfalfa, esfoguetear, esguelar, espapaçar, espúrcia, expungir, férula, filia-los-eis, flamivomos, gafaria, gálica, galicigrafo, garabulha, glicígrafos, gorja, ingranzéu, ingresia, lazeria, logratório, lucilação, maráus, mirífico, morrinha, moxinifada, paredro, patranha, pitecofonema, podriqueira, pronominuria, pronomorreia, rezingar, rezinguento, rumas (pilhas?), sarrafaçal, séca, sarrafaçal, sesquipedalice, severizar, soporosa, sordice, tarelo, Trabuco, vassuncê, vulgacho. Séca no sentido de maçada, chatice, é muito comum em Portugal. Cevado no Eça e noutros escritores lusitanos identifiquei o lexema. Acabei acertando honestamente 22 das 63 palavras, sem recorrer aos dicionários, porque vivo delas, mas estou com Roldão: atualmente, a esmagadora maioria é desconhecida. Na primeira leitura, entendi expungir, mas deixei passar sem itálico, mesmo tendo a quase certeza de que o verbo significa apagar, eliminar, livrar, como acabo de confirmar.


O mundo é uma bola
27 de setembro de 489: Odoacro ataca Teodorico na Batalha de Verona e volta a levar uma coça, sem que nos interesse saber quem foram Teodorico e Odoacro. Em 1066, Guilherme e seus exércitos partem da foz do Rio Somme na conquista normanda da Inglaterra. Com eles seguiram os conquistadores que se anglicizaram como Dayrell, séculos antes da vinda para o Brasil. Em 1480, a Inquisição começa a atuar em Sevilha, Espanha. Em 1540, autorizado pelo papa Paulo III, o basco Inácio de Loyola funda a ordem religiosa Companhia de Jesus. Em 1950, invenção da secretária-eletrônica. Em 1998, repito, há 15 aninhos, fundação do Google. Hoje é o Dia do Cantor, do Idoso, da Doação de Órgãos e das Festividades de Cosme e Damião.


Ruminanças

“O boteco é ressoante como uma concha marinha. Todas as vozes brasileiras passam por ele” (Nelson Rodrigues, 1912-1980).


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Síndico padrão FIFA - Renato Terra (Revista Piauí)

Sua reunião de condomínio nunca mais será a mesma

A denúncia veio pelo interfone: “Sérgio, meu vizinho está fumando maconha.” “Pois não. Pode me passar seu RG, dona Maria?”, respondeu o síndico. Diante da estupefação da moradora, justificou-se: “Para ligar para a Polícia Federal, tenho que identificar o autor da denúncia. Não vi nenhum consumo de drogas, não posso dar meu RG. Pode me passar o seu?”, insistiu. O caso foi deixado de lado.

Sérgio Craveiro citou esse exemplo para mostrar à plateia que os problemas pessoais dos moradores não devem ser assumidos pelo síndico. “Cansei de ficar sem dormir por causa de problemas que não eram meus”, prosseguiu. “Nesses casos, temos que ser apenas mediadores.”

Craveiro falava para uma audiência de dez pessoas reunidas numa sala comercial no Centro de São Paulo. Elas haviam desembolsado 650 reais para participar do Curso de Síndico Profissional e Administração de Condomínios. Tinham abdicado de um fim de semana em julho para assistir às aulas das oito da manhã às seis da tarde de sábado e domingo.

Mas era por um bom motivo. Assim que todos se acomodaram na sala de aula, após ganhar um bloquinho, uma caneta e um pacote de Club Social, o professor explicou que havia criado o curso para ensinar como ganhar dinheiro com o ofício de síndico. Um bom síndico profissional, prosseguiu, pode faturar até 9 mil reais por condomínio que administra – basta que cada morador contribua com uma taxa de 25 a 40 reais. Craveiro é atualmente síndico de onze condomínios.

 Na plateia, metade dos alunos já atuava como síndico e recebia apenas isenção da taxa condominial – que variava de 100 a 500 reais. “Eu apenas assino cheques”, brincou Paulo Henrique Corrêa, um analista autônomo do mercado financeiro. Como muitos ali, assumiu a função de síndico porque ninguém mais quis.
 
s principais problemas do síndico, ensinou Craveiro, podem se resumir na fórmula dos “quatro cês”: cachorro, cano, criança e carro. O segredo da gestão eficiente está na boa relação com o zelador e com a administradora terceirizada, que lida com contratos, notas fiscais e outras questões operacionais fora do condomínio.

Craveiro frisou a importância de todosconhecerem a convenção do condomínio e as leis federais que regulamentam a função do síndico. “Todo mundo que faz obra no apartamento, por exemplo, tem que ter o laudo de um engenheiro responsável, inclusive se for pintar a parede”, afirmou, para pasmo da audiência. “Mas ninguém faz isso”, protestou um aluno. “O prédio pode cair por causa de uma obra malfeita, e o síndico é responsabilizado civil e criminalmente”, ressaltou. “Se todo mundo colocar mármore no piso, acaba comprometendo a estrutura do prédio”, atestou Leandro Cabrelli, um jovem de 26 anos que veio de Ribeirão Preto especialmente para o curso.

O professor causou espécie quando contou que as reuniões de condomínio comandadas por ele – ou assembleias gerais ordinárias, como ele prefere chamar – duram no máximo quarenta minutos. E ensinou a receita da concisão: é preciso enviar com antecedência a todos os moradores um edital de convocação com os temas da pauta. “A cada reunião devem ser tratados no máximo quatro assuntos, e tópicos de fora da pauta devem ser barrados.”
 
érgio Craveiro tem 39 anos, sobrancelhas espessas e cabelos levemente grisalhos cortados bem rentes. Fala alto e é direto e pragmático, o que já lhe rendeu fama de grosseiro. Cita de cabeça uma penca de leis, códigos e procedimentos jurídicos de uso prático para os síndicos. “Quando um morador vem gritando, eu não respondo, espero que ele se acalme. Em seguida, pergunto se leu a convenção do condomínio. Eu não invento regra nenhuma, apenas sigo”, explicou. “Mas quando a pessoa fala baixo, chega a arrepiar. É nesses que vocês têm que prestar atenção.”

Aos 15 anos, por causa de uma briga com o pai, Craveiro decidiu correr atrás de independência financeira e foi trabalhar como office boy. Em 1992, aos 18 anos, numa reunião de condomínio, deparou-se com um dilema que definiria o rumo de sua vida: ninguém queria ser síndico. Seu pai pediu a palavra e lançou seu nome. Craveiro lembra a reação dos presentes: “Mas o Serginho? Ele é muito jovem!” Como ninguém mais se apresentasse, o rapaz começou a administrar seu primeiro prédio, recebendo três salários mínimos pela função. Nos meses seguintes, já acumulava a gestão de mais dois prédios vizinhos. Formou-se em administração de empresas e fez mestrado em Chicago.
Craveiro não é o síndico do prédio onde mora, em Santos, mas administra as despesas domésticas e adora conversar sobre questões condominiais em família. Suas filhas, de 8 e 6 anos, entendem do assunto e estão prestes a se tornar síndicas mirins. Ele atende telefonemas e responde a e-mails de manhã, de noite e de madrugada. “Mas se alguém me liga na hora da novela, dou uma desculpa”, confessou.

O celular de Craveiro não tocou nem uma vez sequer durante o curso. Quando alguém liga com algum pedido, ele pede que a solicitação seja encaminhada por escrito. “É sempre bom deixar tudo registrado. A pessoa que te pede ajuda hoje pode te processar lá na frente.” Fez uma pausa e completou com um bordão que repetiu várias vezes no fim de semana: “O mundo é mau.”  
  
Presidente da Confederação Nacional dos Síndicos, Craveiro briga pela regulamentação da profissão, ainda não reconhecida. Isso não impediu que ele conferisse aos alunos um diploma e uma carteirinha de síndico profissional. Quem levou um pen drive também voltou para casa com modelos de contratos, atas de reunião, respostas-padrão para e-mails indesejados e planilhas para calcular a folha de pagamento dos funcionários. O professor ficaria à disposição para resolver dúvidas dos alunos nos dois meses seguintes. E se alguém ligar depois disso? “Não tem problema”, disse, com um sorriso. “Minha vida é falar de condomínio.”

Um foguete sem rumo

Depois de afirmar que Brasil decolou, revista britânica agora questiona se economia do país está desgovernada


Estado de Minas: 27/09/2013 




Brasília – Desgovernado. Assim a revista britânica The Economist retrata o Brasil na sua edição desta semana para a América Latina. Na capa, um avião representado pelo Cristo Redentor aparece sem direção e vem acompanhado da pergunta Has Brazil blown it? (O Brasil se perdeu?, em livre tradução) – o mesmo Cristo já havia simbolizado o país na publicação, em 2009, mas com outra conotação: a de um foguete rumo ao alto e avante. A reportagem especial de 14 páginas é assinada pela correspondente Helen Joyce.

“Na década de 2000, o Brasil decolou e, mesmo com a crise econômica mundial, cresceu 7,5% em 2010. No entanto, tem parado recentemente. Desde 2011, o país conseguiu apenas uma expansão anual de 2%. Seus cidadãos estão descontentes – em julho, eles foram às ruas para protestar contra o alto custo de vida, os serviços públicos deficientes e a corrupção dos políticos”, diz a reportagem. “Pode Dilma Rousseff, a presidente do Brasil, reiniciar os motores?”, indaga. “Será que a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos oferecerão ajuda para a recuperação do Brasil ou simplesmente trarão mais dívida?”

Em seminário na cidade de Sinope (MT), a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, comentou ontem o especial da Economist. Ela disse que o mundo está em crise e que o Brasil está dentro desse contexto, além de ressaltar que os principais parceiros comerciais do país estão em dificuldade para recuperar a pujança e o desenvolvimento do setor produtivo. “A Europa está nessa condição, a China começou a se recuperar e os Estados Unidos também. Mas os problemas ainda são graves”, comentou. Procurado, o Ministério da Fazenda não quis se manifestar.


 Bancos resistem às turbulências

Listados entre os mais rentáveis do mundo, os bancos no Brasil têm se mostrado, com base nos seus resultados, resistentes. Nem mesmo a perda de R$ 94,6 bilhões em ativos no primeiro semestre do ano impôs prejuízo a eles. Segundo o Banco Central, a crise de marcação a mercado – que teve seu auge entre abril e junho, quando os títulos públicos perderam valor e o dólar disparou frente o real – foi a principal responsável por esse estrago bilionário. Ainda assim, de acordo com a autoridade monetária, o lucro líquido do sistema cresceu moderadamente: ficou em R$ 59,7 bilhões no acumulado dos 12 meses encerrados em junho.

Anthero Meirelles, diretor de Fiscalização do BC, explica que, além da marcação a mercado de alguns títulos – quando um papel é contabilizado no patrimônio pelo valor de negociação, seja para mais ou para menos –, as instituições financeiras foram obrigadas a dar garantias maiores em operações na bolsa, por causa das fortes mudanças nos juros e no dólar. “Isso impacta diretamente no sistema. Mas, como tem sido mostrado, ele resistiu bem, enfrentou o teste de estresse real com muita segurança e folga”, argumentou o executivo. 

Palavras que perderam o sentido - Michel Laub


-"Suposto": adotada pela imprensa depois de episódios como o da Escola Base, em que seus donos foram injustamente acusados de molestar crianças. Devem achar que é um salvo-conduto contra processos em reportagens levianas, que continuam sendo publicadas sem pudor. É também uma peça recorrente de comédia, em frases como: "As imagens mostram o momento em que, diante de nove testemunhas, o suposto assassino desferiu os tiros contra a vítima".
-"Lógica": o termo café com leite do momento, dispensável em 95% dos casos. "Não podemos cair na lógica de ganhar eleições a qualquer custo", como declarou uma ex-deputada, em uma tentativa de soar mais contemporânea do que é, significa, apenas: "Não podemos ganhar eleições a qualquer custo".
-"Elite" (ou "classe média"): termo que nasceu na economia, na política e na cultura e se transferiu para a moral, com elasticidade suficiente para definir apenas
inimigos.
-"Republicanismo": em sua versão moderna, fez o sentido contrário de "elite". Deveria se limitar à esfera moral, como obrigação básica de separar público e privado em um governo, e virou
das poucas categorias políticas que poderiam diferenciar --bom dia, Papai Noel-- os partidos brasileiros.
-"Pseudointelectual": é raro que alguém irreverente diga a palavra irreverente. Que um humorista refinado declare fazer humor refinado. E não lembro de alguma vez ter ouvido "pseudointelectual" da boca de um intelectual, o que torna a expressão e suas variações ("metido a intelectual", "intelectualoide") uma espécie de espelho: diz mais de quem a usa que do objeto que pretende desqualificar.
-"Gonzo": herança do jornalismo praticado por Hunter Thompson e seus pares, virou o gênero em que recém-formados se fingem de mendigo por uma tarde ou viram "nosso enviado especial" a um clube de suingue.
-"Bom gosto": tem o efeito de toda expressão kitsch, dos jargões de enologia aos nomes de prédio em inglês, ao sugerir o oposto da sofisticação que tenta imitar.
-"Técnico": no STF, é o juiz que decide do modo como gostaríamos.
-"Renovação": é como o banco chama a tunga mensal referente a uma linha de empréstimo que não pedi, não aceitei, não usei e jamais conseguirei cancelar.
-"Outsider": termo que só vale se usado espontaneamente, pelos outros e não pelo artista em questão, o que é raro de acontecer desde pelo menos os anos 1960.
-"Debate": ainda existe quando alguém é capaz de mudar de opinião ao ouvir o argumento divergente --algo que se tornou igualmente raro, senão impossível.
-"Verdade": defender moderação no seu uso não significa igualar todos por baixo, porque sempre há escolhas certas e erradas, apenas ajuda a baixar o tom de superioridade moral dominante por aí.
-"Ironia": costumava ser sinal de inteligência, mas virou ofensa no vocabulário da patrulha literal.
-"Relativista": xingamento proferido por quem tem tantas certezas, sobre assuntos que vão da guerra na Síria à qualidade uniforme e deplorável da literatura brasileira, tudo com argumentos tão sólidos e nos quais ninguém havia pensado antes, que qualquer oração adversativa é rotulada como covardia, compadrio ou fascismo.
-"Hitler": o último que vi sendo comparado a ele (é um por semana) foi um ex-presidente do Corinthians. Mas o título também vale para vereadores que proíbem bisnagas de ketchup na feira, síndicos que manipulam votações em assembleias ordinárias de condomínio, tuiteiros que apagam tuítes.
-"Censura": outro clichê clássico da linguagem saturada, ainda mais surreal em uma época em que todos dizem o que querem o tempo todo. Eu ia complementar a frase com "em todos os lugares", mas aí está a última reserva de sanidade para quem se dispõe a opinar em público. Como é bom nunca ter permitido comentários no meu blog. Como é bom não responder a analfabetos. Como é bom que minha interação básica nas redes sociais seja para curtir fotografias de cachorros.
(Fabio Braga/Folhapress)
Michel Laub é escritor e jornalista. Publicou cinco romances, entre eles "Diário da Queda" (Companhia das Letras, 2011). Escreve a cada duas semanas, sempre às sextas-feiras, na versão impressa da "Ilustrada"