quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Quadrinhos

folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA      ANGELI
ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE
LAERTE
DAIQUIRI      CACO GALHARDO
CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI
ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
ALLAN SIEBER
MALVADOS      ANDRÉ DAHMER
ANDRÉ DAHMER
GARFIELD      JIM DAVIS

Tv Paga

Estado de Minas - 29/08/2013

Caso encerrado?

Estreia hoje, às 19h, no canal ID, a série Justiça final, que levanta evidências para solucionar assassinatos que, apesar de não resolvidos, trazem indícios de autoria por parte de três criminosos já condenados. Para isso, o criminologista especializado em assassinos em série e professor da Universidade de Birmingham David Wilson (à esquerda, na foto) usa sua experiência no estudo desses crimes reais que provavelmente nunca seriam atribuídos a indivíduos já julgados e condenados.

Sumô tem praticantes
até mesmo no Brasil


Esporte originário do Japão, o sumô tem praticantes também no Brasil, você sabia? É o que mostra o Sala de notiícias hoje, às 14h35, no canal Futura. O programa acompanha a vida de três personagens que dedicam suas vidas ao esporte de formas diferentes. Eles falam sobre suas relações com o sumô e por que continuam a praticá-lo, mesmo tendo que enfrentar diversos preconceitos.

SescTV leva assinante
ao Teatro Amazonas


A arquitetura é um tema que volta e meia aparece na programação dos canais que difundem o conhecimento e as artes. Hoje, às 20h30, no Nat Geo, a série Obras incríveis vai revelar detalhes da construção da Ponte Baluarte, a ponte estaiada mais alta do mundo, erguida no México, mais precisamente na Sierra Madre Ocidental, a uma altura de 403 metros, com seus 1.124 metros de comprimento e sustentada por 152 tirantes. No SescTV, às 21h30, a série Coleções vai mostrar a maravilha arquitetônica do Teatro Amazonas, um dos pontos turísticos mais visitados de Manaus, construída no auge do Ciclo da Borracha no Norte do Brasil, nos anos 1890.

Matando a saudade do
grupo Inimigos do Rei


Quer música? Então, a pedida é, mais uma vez, o programa Zoombido, que Paulinho Moska apresenta toda quinta-feira, às 21h30, no Canal Brasil. Hoje ele recebe Luiz Guilherme e Luiz Nicolau, seus ex-companheiros do grupo Inimigos do Rei, autores de sucessos como Uma barata chamada Kafka e Adelaide. E obviamente eles vão cantar juntos e falar de suas influências musicais e muitas curiosidades dos tempos da banda.

Muitas alternativas na
programação de filmes


No pacotão de cinema, a dica é o Clube do filme, às 22h, na Cultura, hoje com a comédia dramática Grand Canyon, ansiedade de uma geração, de Lawrence Kasdan, com Danny Glover, Kevin Kline e Steve Martin. No Telecine Cult, a seleção dos premiados no Festival de Veneza continua com Adeus, meninos, de Louis Malle, também às 22h. Já o Telecine Pipoca emenda Pânico na floresta 4, às 20h15, e Pânico na floresta 5, às 22h. Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: É proibido fumar, no Canal Brasil; Diário de um banana 2: Rodrick é o cara, no Telecine Fun; A garota dos meus sonhos, no Glitz; O resgate, na HBO; A rede social, no Max Prime; e O massacre da serra elétrica, na MGM. Outras atrações da programação: Passageiros, às 22h30, no Megapix, e A marca, às 20h20, no Universal.

MARINA COLASANTI » Macacos me mordam‏


Estado de Minas: 29/08/2013 


Os cães que se preparem. Um outro animal avança na área da estimação disposto a tomar-lhes a primazia. É o macaco, antigo emparentado nosso. Está no Instagram, está nas folhas, um jogador de futebol tem o seu, um cantor pop também, breve será o favorito das misses.

 Um bicho estranho entrou na minha casa, me disse minha filha ao telefone semana passada. O invasor misterioso havia rasgado um saco plástico, roubado comida e deixado algumas cascas. Aventei a hipótese de um rato, porque era tranquilizadora, mas parecia pouco provável. No dia seguinte, nova pilhagem sorrateira. É um bicho maior, e só pode ter entrado pela janela, me disse a filha, agora bastante inquieta. O mistério se desfez quando o casal do andar de baixo avisou os porteiros: um macaco-prego havia se metido pelo basculante no seu apartamento.

Pois justamente os macacos-prego são os queridinhos da vez. Breve estarão nas ruas, não em cena de primitivismo selvagem, mas na coleira ou pela mão dos seus donos.

Sem saber, adiantei-me à moda. Menina recém-chegada ao Brasil, andava eu um dia pelo enorme jardim da casa da minha família quando vi um filhote mínimo e peludo nas mãos do jardineiro. Nem sabia que bicho fosse, e já estava seduzida. Um bebê de mico-estrela, me explicou o homem. Havia caído do ninho na ventania da noite anterior, estava até com o lábio superior rachado. Será que ele o daria para mim de presente?, pedi quase implorando. Não deu. Mas vendeu pelos pouquíssimos caraminguás da minha semanada. E eu o levei para casa, certa de que minha mãe faria uma cena ou me mandaria devolver. Nem uma coisa nem outra, recebeu-o com encantamento.

Criamos o miquinho como se cria qualquer animal novo, comida especial, panos macios para envolvê-lo e cuidados de amor. Logo ele estabeleceu suas preferências, a nuca da minha mãe debaixo dos cabelos, o alto do armário do quarto dela, e a sala de jantar quando esquecíamos a porta aberta. Andava solto. Nunca lhe pusemos coleira ou o prendemos de qualquer modo. Na casa de tantos cômodos e janelas abertas, ele corria e saltava sem sentir o apelo do verde lá fora, como se esquecido de suas origens. E porque o lábio rachado deixava à mostra os dentinhos superiores, jamais se viu mico mais sorridente.

Naquele ano, pela única vez na minha vida, fui para o colégio interno. E na minha ausência, um bebê filho de uma prima mais velha acrescentou-se à família. Assim, sucedeu que em um dos raros fins de semana livres concedidos pelas freiras, ao chegar em casa eu não encontrasse meu mico. Por insistência da prima, que temia machucasse o bebê, havia sido dado.

Um macaco-prego custa bem mais que a semanada de uma menininha. Tem preço de grife. E vive bem mais que um mico. Nem pode ser pego no mato – ou retido num apartamento depois de entrar pela janela. Tem que ter nascido em cativeiro, ser provido de vacinas, documentação e carteira de identidade. Quase como um humano.

E é justo, porque quase humanas são suas mãos ágeis e frias, humano é o seu modo de abraçar e aconchegar a cabeça, humano, cheio de compreensão e palavras não ditas, o seu olhar. Conviver com um macaco é muito diferente de conviver com um cão, pois o macaco não é o melhor amigo do homem, é o seu mais próximo semelhante. Como bem sabia Tarzan.

Tereza Cruvinel - O destino do refugiado‏

A solução da crise diplomática com a Bolívia depende do destino que for dado ao refugiado senador Molina. Afora a palavra do Conare, os dois países firmaram tratado de extradição em 1942 


Estado de Minas: 29/08/2013 


A crise diplomática com a Bolívia, detonada pela desastrada fuga do senador Molina Pinto para o Brasil, com o auxílio de um trêfego diplomata brasileiro, não se encerra com a substituição do ministro das Relações Exteriores. Na primeira fala sobre o assunto, o presidente boliviano, Evo Morales, pediu a devolução do senador. Circularam rumores de que a presidente Dilma decidira por sua permanência no Brasil, mas essa não é uma decisão unilateral dela. Na posse do novo chanceler, Luiz Alberto Figueiredo, o embaixador da Bolívia no Brasil, Jerges Justiniano, lembrava que Molina era asilado na embaixada. “Aqui, é apenas um refugiado.” Isso é fato. Seu pedido de asilo terá que ser analisado pelo Comitê Nacional para Refugiados, o Conare. Por fim, Brasil e Bolívia têm um trato de extradição em vigor desde 1942.

O governo boliviano, como fazia ontem seu embaixador, insistirá no fato de que não há ditadura na Bolívia e que Molina não é um perseguido político. Os processos a que ele responde na Justiça são por corrupção. O país em que o Supremo Tribunal Federal (STF) dedica-se, há meses, a julgar um escândalo de corrupção vai protegê-lo rasgando um acordo bilateral?

Para alguns diplomatas, Morales, ontem, apenas declarou sua expectativa de que o Brasil devolva Molina, mas, num segundo momento, deverá invocar o acordo de extradição, por sinal, firmado por um dos grandes de nossa diplomacia, Oswaldo Aranha. Tal como o caso Batisti, este  poderá terminar no STF, que se veria julgando algo parecido com uma eventual concessão de asilo, por alguma embaixada, ao deputado Natan Donadon ou algum réu do mensalão, que depois fugiria do Brasil com apoio de diplomata da hipotética embaixada.

A resposta oficial à nota da chancelaria boliviana será a primeira tarefa do novo chanceler Figueiredo. Possivelmente, o Brasil dirá que o destino do refugiado será decidido depois do exame do caso pelas instâncias pertinentes, como o Conare, ganhando tempo para a decisão política – e isso vai demorar. A decisão é política, pois, a esta altura, o episódio também já foi tragado pelo campo magnético da disputa partidária.

No Congresso, senadores e deputados da oposição continuaram ontem louvando a iniciativa do embaixador Eduardo Saboia ao assumir o risco de dar fuga ao asilado para lhe garantir a liberdade, mesmo sem consultar os superiores. No Senado, silêncio absoluto sobre o papel do senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), presidente da Comissão de Relações Exteriores, ao buscar Molina em Corumbá em avião emprestado não se sabe por quem. Ele mesmo declarou ter se articulado com o encarregado de negócios Eduardo Saboia para a operação. Senadores da oposição já lhe deram apoio, e seu partido, o PMDB, fechou questão em sua defesa. Senadores do PT pensam em pedir esclarecimentos, mas a relação com o PMDB anda por demais tensa para fazerem isso. Ao contrário do presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Nelson Pellegrino (PT-BA) – que ontem foi à posse de Figueiredo e ao ato em que o ex-ministro Patriota lhe transmitiu o cargo –, Ferraço desapareceu de cena. Que seus pares não lhe cobrem o decoro, vá lá. Mas o silêncio é, no mínimo, uma omissão institucional.

A guerra médica

O governo e a presidente Dilma começam a ganhar a guerra da importação de médicos. E, para isso, estão contando muito mais com os erros dos adversários do programa, liderados pela corporação médica, do que pelos resultados, que ainda levarão algumas semanas para aparecer.

Na tarde de ontem, o senador petista e ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PE) fez um discurso que a oposição não contestou, afirmando que o programa será vitorioso, já sendo apoiado pelas populações que serão beneficiadas. Condenando o festival de xenofobia em relação aos médicos cubanos, chamados de escravos por colegas brasileiros, recordou a declaração da jornalista Micheline Borges nas redes sociais: “Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas têm uma cara de empregada doméstica”. “Feliz será o dia”, disse Costa, “e eu tenho certeza de que não vai demorar, em que a maioria dos médicos do nosso Brasil serão filhos de empregadas domésticas, de pedreiros, filhos do povo. Aí, sim, começará uma grande mudança social em nosso pais.” O ex-ministro convidou seus colegas a baixar as armas e aceitar o debate sobre a MP no Congresso.

O senador foi declarado “persona non grata” pelo CRM de Pernambuco. O relator da MP do Programa Mais Médicos, deputado Rogério Carvalho (PT-SE), recebeu ontem um telegrama do CRM de São Paulo dando-lhe 30 dias para reassumir o posto de médico do estado, função da qual está licenciado sem remuneração para exercer o mandato, como garante a Constituição. “Estou indignado. Isso é retaliação, é cerceamento do mandato popular”, protestou ele. Essas bobagens estão contribuindo para isolar a classe médica e garantir apoio ao programa em que Dilma apostou, e com o qual acabará resgatando mais pontos da popularidade perdida.

Aécio na toca de Serra

Será finalmente hoje o encontro do presidente e presidenciável do PSDB, Aécio Neves, com os deputados estaduais paulistas. Na semana passada, diante de ações atribuídas ao ex-governador José Serra para desarticular o encontro, Aécio decidiu adiá-lo. Será sua incursão mais ousada à toca do concorrente interno. 

Sem medo de pensar [Hannah Arendt] - Carolina Braga

Sem medo de pensar

Hannah Arendt, filme de Margareth von Trotta sobre a filósofa alemã, conquista público que cresce a cada semana e desperta o interesse dos especialistas na obra da pensadora 



Carolina Braga

Estado de Minas: 29/08/2013 


Hannah Arendt, interpretada por Barbara Sukowa, luta com as armas da razão contra o consenso da comunidade judaica e da opinião pública internacional (Esfera Cultural/Divulgação)
Hannah Arendt, interpretada por Barbara Sukowa, luta com as armas da razão contra o consenso da comunidade judaica e da opinião pública internacional

Quem pensa que um filme sobre filosofia alemã pode funcionar como um sonífero é melhor reconsiderar a questão depois de experimentar uma sessão de Hannah Arendt, em cartaz em Belo Horizonte. O longa da diretora Margareth von Trotta sobre a pensadora alemã, conhecida por provocar reflexões políticas sobre a vida em sociedade, é um bom exemplo de que nem sempre a combinação entre a ciência do pensamento e a indústria de massa é antagônica. Há um meio-termo possível.

Em exibição desde o final de julho, o filme completará seis semanas em cartaz, com público crescente e ampliando o número de salas em relação à estreia. De acordo com a distribuidora Esfera Cultural, em todo o Brasil foram 94 mil espectadores. Somente no Cine Belas Artes, em Belo Horizonte, mais de 6 mil já conferiram o trabalho dirigido por Margarethe von Trotta. Claro que não se trata de um blockbuster, mas o aumento de público fora do padrão permite defender uma tese: se as ideias de Arendet despertam interesse para além dos muros das universidades é porque ganham novos contornos no encontro com outras plateias.

Hannan Arendt pode até nem ser tão popular assim fora da academia. Porém, as ideias dela sobre o bem, o mal, as origens do totalitarismo e, principalmente, a necessidade de pensamento nunca perdem relevância. Altamente biográfico, Hannah Arendt se passa na década de 1960, precisamente na ocasião do julgamento do nazista Adolf Eichmann, acusado de ser um dos arquitetos da solução final de extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra.

Às vésperas do julgamento no tribunal em Jerusalém, a professora (interpretada por Barbara Sukowa) se oferece para fazer a cobertura para a revista The New Yorker. Divididos em cinco partes, os artigos causaram grande alvoroço na mídia. “Enquanto todos estavam ali meio levados pela dimensão propagandística desse julgamento, sobretudo os judeus, ela lança uma perspectiva absolutamente nova”, explica o professor de filosofia da Uni-Rio, Rodrigo Ribeiro.

Ao contrário da voz corrente, Hannah não atribuiu a Eichmann o status de monstro. “Ela viu nele a encarnação máxima da ausência de pensamento. Quando alguém realiza algo por obediência a regras, está completamente desconectado do próprio mundo e é incapaz de pensar”, continua Rodrigo. À medida que a narrativa do filme destaca o peso do episódio de Eichmann no desenvolvimento da obra de Hannah Arendt, em forma de flashback, outras questões relacionadas à vida da pensadora são apresentadas. Foi a partir daquela experiência que Arednt formulou a célebre tese sobre a banalidade do mal.

Sem didatismos, o espectador vai conhecendo uma mulher forte, profundamente marcada pelas ideias do antigo mestre, o filósofo Martin Heidegger, sempre em busca de uma perspectiva diferente do convencional. “O filme é muito bom, mas como todo longa, não é capaz de alcançar toda a complexidade da obra de Arendt. Acredito que o filme é um convite para a leitura da obra de Arendt”, diz Ana Paula Repolês, autora do livro O sentido da política em Hannah Arendt.

A professora aposentada da UFMG Maria Thereza Calvet adota posição crítica em relação ao filme de Margarethe von Trotta. Para ela, apesar de ser uma produção benfeita, a escolha por se dedicar ao conceito de banalidade do mal e precisamente ao episódio do julgamento de Adolf Eichmann é infeliz. “Era a reportagem de um julgamento e ela mesma dizia que ninguém leu o livro. Foi acusada de dizer coisas que não disse”, explica. Segundo Maria Thereza Calvet, existem outros aspectos na obra da pensadora tão ou mais importantes do que a colaboração feita para a revista americana.

“Tenho a impressão de que a diretora conhece muito a obra dela. É impressionante a fidelidade como isso aparece no filme, a ponto de ser uma introdução ao pensamento arendtiano. O espectador, de fato, aprende alguma coisa”, ressalta o professor do Departamento de Filosofia da UFMG Helton Adverse. Escaldado por outras experiências nem tão interessantes assim, ele diz que saiu do cinema agradavelmente surpreendido. “A obra consegue de fato recapturar alguns pontos fundamentais do pensamento de Hannah Arendt, sobretudo uma parte importante na obra dela, na qual critica certas concepções do totalitarismo”, salienta.

Como destaca Helton Adverse, a cobertura do julgamento de Adolf Eichmann em Jerusalém é um dos pontos mais polêmicos e também mais fecundos da obra de Hannah Arendt. Para Rodrigo Ribeiro, o que inicialmente chamou a atenção foi o fato do quanto as narrativas sobre circunstâncias históricas são difíceis de ser retratadas na tela, ainda mais quando conceitos filosóficos estão envolvidos. “A maior virtude foi mostrar como uma circunstância histórica na vida de Hannah fez com que ela se confrontasse com o mundo e assim ter sido levada a pensar”, ressalta o professor.

“A grande atualidade da obra de Arendt é não só o diagnóstico da sociedade moderna, uma sociedade na qual a lógica do consumo, do supérfluo e do descartável está dominando todas as relações, fazendo com que os fins sempre se tornem novos meios, perdendo-se assim todos os valores e parâmetros, mas também a importância de o pensamento estar sempre vinculado aos acontecimentos. Indo contra a tradição do pensamento filosófico, Arendt ressalta a necessidade de a filosofia voltar-se para problemas que nos atinjam cotidianamente, de a filosofia não ser oposta à política, ao domínio dos assuntos humanos e da contingência”, analisa Ana Paula Repolês.

Para ela, a aproximação entre a filosofia e o cinema pode ser encarada como forma de resistência ao emprobecimento da cultura nas sociedades de massa. “Pois até a arte está se tornando bem de consumo, algo que é devorado para suprir necessidades do processo vital biológico. A filosofia no cinema pode se apresentar, então, como um mecanismo de instigação ao pensar, e não de apresentação de respostas claras e evidentes para um mundo onde não há mais certezas absolutas”, analisa.

Filme e livros
94 mil espectadores no Brasil já assistiram ao filme no Brasil
6.219 foi o público no Cine Belas Artes, em BH
18 livros da pensadora foram traduzidos no Brasil


Uma vida de resistência

Filha de família judia rica e intelectualizada, Hannah Arendt nasceu em 1906, em Hannover, na Alemanha. Entrou na faculdade em Berlim, em 1924, onde foi aluna de Heidegger, seu mestre e amante por um período. Em 1928, doutora-se em filosofia com tese sobre o conceito de amor em Santo Agostinho, orientada por Karl Jaspers. Em 1933, depois de ser temporariamente presa por causa do envolvimento com a resistência sionista ao nazismo, Hannah foge para Paris. Em 1941, refugiou-se nos Estados Unidos. Em 1951, obteve a cidadania americana e no mesmo ano publicou Origens do totalitarismo, um amplo estudo sobre o antissemitismo, nazismo e comunismo. Foi professora da New School for Social Research, em Nova York.

Em 1958, publica A condição humana e em 1961 viaja a Jerusalém, para fazer a cobertura do julgamento de Eichmann para a revista The New Yorker. As reportagens deram origem ao livro Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. Entre suas obras figuram clássicos como Entre o passado e o futuro, Homens em tempos sombrios e Sobre a revolução. Arendt morreu em Nova York, em dezembro de 1975.

OMS alerta que narguilé traz malefícios mais severos do que o cigarro


O Instituto Nacional de Câncer escolheu o cachimbo como tema do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado amanhã. Em pouco mais de uma hora, o consumo provoca a exposição a componentes tóxicos presentes em 100 cigarros

Isabela de Oliveira -
Estado de Minas: 28/08/2013 


Andreza está sem fumar há sete meses: 'O cigarro me proporcionava prazer, mas precisava parar' (Edílson Rodrigues/CB/D.A Press - 23/1/13)
Andreza está sem fumar há sete meses: "O cigarro me proporcionava prazer, mas precisava parar"

Fumar tabaco usando o tradicional cachimbo árabe é um costume centenário no Oriente e que recentemente chegou aos bares e cafés brasileiros, atraindo, principalmente, a atenção dos jovens. Com um aroma agradável, o narguilé consegue disfarçar malefícios que, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), são mais severos do que os do cigarro. Para se ter uma ideia, uma sessão média do produto equivale ao consumo de 100 cigarros. Normalmente compartilhada em confraternizações e encontros de amigos, a piteira do narguilé é outro ponto que chama a atenção dos especialistas. De boca em boca, ela aumenta as chances de transmissão de doenças graves, como a hepatite C.


Tamanhos estragos fizeram com que o narguilé se transformasse no alvo do Dia Nacional de Combate ao Fumo, celebrado amanhã. O Instituto Nacional de Câncer, responsável pelas atividades que acontecerão no país, em conjunto com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), constatou que o cachimbo já é usado por pelo menos 300 mil pessoas no Brasil.

Pneumologista do Hospital Anchieta e professor da Universidade de Brasília (UnB), Carlos Alberto de Assis Viega ressalta que a inalação do monóxido de carbono (CO), substância responsável por doenças cardiovasculares, é um dos principais problemas desse tipo de cachimbo. “A fumaça dele tem maior concentração de CO porque, além do tabaco, há o carvão”, explica o médico. Em termos de nicotina, há uma concentração um pouco maior do que a encontrada no cigarro. 

De acordo com um grupo de pesquisa na área da Universidade da Califórnia, o Tobacco-Related Disease Research Program, 45 a 60 minutos de consumo de narguilé expõem o fumante à mesma quantidade de nicotina encontrada em um maço de cigarro. “As pessoas acham que a água consegue filtrar a nicotina, mas estão erradas, pois essa substância não é solúvel em água”, esclarece Viegas. Outro equívoco cometido pelos usuários é acreditar que alguns produtos utilizados no narguilé são livres de nicotina.
“Se você ler a caixinha com uma lupa, verá que há, sim, nicotina. As essências ajudam a melhorar o paladar e fazem com que a pessoa trague com maior profundidade e intensidade, mas não existe tabaco para narguilé sem a nicotina”, alerta o pneumologista, que destaca ainda o risco da transmissão de doenças pela piteira, como herpes, hepatite C e tuberculose. Viegas chama também a atenção para outro hábito perigoso que envolve o uso do narguilé: a mistura de maconha, vodca, tabaco e essência no mesmo recipiente. “Esses jovens estão inalando três drogas. Isso está acontecendo com frequência e é muito mais grave.”

Exemplo familiar Dados da pesquisa Vigilância de Tabagismo em Escolares (Vigescola), do Ministério da Saúde, revelam que de 20% a 45% dos adolescentes de 13 a 15 anos já experimentaram cigarro e pelo menos 10% fumam. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), o exemplo vem de casa. Pais (52%), mães (44%) e irmãos (36%) dos alunos fumantes também são viciados em tabaco. “As crianças até conhecem os riscos, mas seguem o modelo de comportamento visto em casa. Entendem que aquilo é normal e, quando dão por si, também estão fumando”, analisa Márcio Gonçalves de Sousa, coordenador do Comitê de Controle do Tabagismo da SBC.
Sousa ressalta que a vaidade muitas vezes leva as adolescentes ao vício, já que um dos efeitos mais evidentes do tabaco é a perda de apetite. “O cigarro é estimulante e acelera o metabolismo. A indústria percebeu que, hoje, a bola da vez são as jovens. Por isso o lançamento de embalagens e latinhas coloridas e cigarros cada vez mais finos, que remetem à silhueta esbelta”, observa o médico, que também alerta para o fumo passivo. Segundo ele, há diariamente sete mortes relacionadas a essa situação no país.
“As partículas do cigarro ficam na roupa e no cabelo, e não apenas no ar. A criança é mais suscetível, pois possui o pulmão virgem, fazendo com que as células de defesa entrem em guerra com o corpo. Há ainda os componentes alérgicos relacionados à exposição crônica à fumaça, que tem 10 vezes mais nicotina”, explica Márcio.

Ainda mais viciante

Insônia, depressão, raiva e inquietação. Esses são sintomas típicos da síndrome de abstinência de nicotina. Para quem sofre com algum tipo de doença psiquiátrica e tenta largar o cigarro, eles são potencializados. Estudos indicam ainda que esses fumantes correm mais risco de recair no vício durante o período de abstinência, o que sinaliza que a nicotina, em um grupo especial de pacientes, pode ser ainda mais viciante.
Ao avaliar 270 pacientes com transtorno mental internados no Hospital das Clínicas de Marília, em São Paulo, Renata Marques de Oliveira constatou que a quantidade de tabagistas é maior do que a média nacional — 35,6% contra 17,6% — e que o vício em cigarro é mais comum entre pessoas com transtornos mais severos, como a esquizofrenia. O estudo mostrou ainda que 84,4% deles já tentaram livrar-se do tabagismo alguma vez na vida, mas a maioria (67,7%) não recebeu apoio profissional.
“As dificuldades em abandonar o cigarro estão envolvidas com processos ambientais e biológicos. Acontece também que esses pacientes têm mais dificuldade em encontrar tratamento, que não estão disponíveis para eles, e também têm dificuldades em marcar e manter o acompanhamento profissional”, explica Jennifer Tidey, professora de psiquiatria e comportamento humano do Centro de Estudos do Álcool e Outros Vícios da Brown University, nos Estados Unidos.
No Distrito Federal, a técnica em enfermagem Regiane Costa Martins dos Reis avaliou 100 fumantes durante um trabalho de pós-graduação. Desses, 20 não conseguiram largar o cigarro e todos tinham algum tipo de transtorno psiquiátrico, como depressão, ansiedade e esquizofrenia. A taxa de desistência dos esquizofrênico foi de 100%. “Entre eles, há uma frequência (do vício em cigarro) até três vezes maior do que a encontrada na população em geral. A primeira relação conhecida entre dependência do tabaco e esquizofrenia é que a nicotina ameniza alguns sintomas do transtorno, como lentificação psicomotora, prejuízo da concentração e falta de prazer nas atividades diárias”, explica.
A percepção de alívio e a redução dos efeitos colaterais dos medicamentos devem-se à redução de cerca de um terço da concentração das substâncias na corrente sanguínea. Reis explica que alguns remédios psiquiátricos são metabolizados pela mesma enzima hepática responsável pelo processamento do tabaco. “Quanto mais uma pessoa fuma, mais essa enzima é desviada para processar o tabaco. Assim, ela não desempenha adequadamente sua função em relação aos medicamentos”, explica.
Segundo Tidey, os processos orgânicos que fazem esses pacientes serem mais suscetíveis ao tabagismo ainda não são totalmente conhecidos. Pesquisas recentes mostram que esquizofrênicos têm níveis mais baixos de receptores nicotínicos B2 — canais iônicos na membrana plasmática de algumas células — em diversas regiões cerebrais. Essa diferença estaria diretamente associada à doença e reforçaria as sensações positivas do cigarro.
Andreza Xavier Nishiyama, de 30 anos, começou a fumar assim que pôde sustentar o vício, aos 11 anos. Na época, já trabalhava como empregada doméstica em São Paulo, onde nasceu. A mãe passava a maior parte do dia trabalhando para sustentar os três filhos e, segundo Andreza, a ausência a levou ao cigarro. “Sentia-me só, querendo conversar com alguém.”
Durante a adolescência, apareceu o quadro clínico de ansiedade. “O cigarro me proporcionava prazer, mas precisava parar não apenas por uma necessidade médica, também pelos meus três filhos e pelo meu marido, que não fuma”, disse. Ela entrou no início deste ano no programa antitabagismo da Secretaria de Saúde do Distrito Federal. Andreza, que chegou a gastar R$ 250 por mês com cigarro, está sem fumar há sete meses. (IO)

Eduardo Almeida Reis-Comerciais‏

A televisão pode ser imbecilizada pelos telespectadores, porque precisa de audiência para ter comerciais e vai baixando de nível em busca de ibope


Eduardo Almeida Reis

Estado de Minas: 29/08/2013 



Certos comerciais televisivos me deixam apoplético, como aquele de margarina produzida pela Unilever, salvo engano a mesma multinacional que andou misturando soda cáustica em seus sucos de frutas. É o comercial em que aparecem diversas almofadas em forma de coração e uma senhora atesta que a margarina resolveu seu problema de colesterol em 15 dias. Depoimento de uma única pessoa? Houve supervisão médica?

Conar é pouco. No meu entendimento de philosopho, não é comercial para o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária: é caso de polícia. Para início de conversa, como disse Istvan Wessel, margarina não é coisa que entre numa cozinha. Mas entra, porque as multinacionais têm dinheiro e força publicitária, enquanto os produtores de manteigas de primeira qualidade lutam para sobreviver produzindo leite nos trópicos.

A propósito do “depoimento” da tal senhora veiculado no comercial, ainda que fosse verdade e sem qualquer peso estatístico, porque um só, contraponho fato ocorrido com o meu colesterol ruim, que, de repente e sem aviso prévio, baixou para níveis inferiores aos mínimos considerados normais.

Margarina só funciona em certos atos sexuais, que me permito não explicar porque sou cavalheiro puro de sentimentos e intenções. Mas sei de um amigo que, hospedado no sítio de um cavalheiro poseur, que permitia o uso da tal margarina em sua casa, numa grave emergência noturna recorreu ao pote da geladeira como lubrificante. Mais grave que isso: em baixo-relevo, na margarina do pote, ficou impressa a marca do crime. E o dono do sítio, idiota que tomava o café da manhã metido num robe de seda, com um lenço de foulard enrolado no pescoço, passou pelo dissabor de destampar o pote com o baixo-relevo impresso na gordura vegetal interesterificada envasada em plástico.

Aqui em casa margarina sempre deu demissão por justa causa. Bem que as comadres tentaram comprar o veneno que faz tudo para imitar a manteiga, coitadas, porque são influenciáveis pelos comerciais televisivos. Jamais insistiram na compra, porque avisadas de que só comeriam a margarina depois de sumariamente despedidas e já tinham percebido que pode existir patrão igual, mas melhor está para ser inventado. Por derradeiro, uma constatação: se existe o verbo envasar, meter em vaso, vasilha ou qualquer embalagem, é tempo de inventar o enpotar, meter em pote.

Problemas & soluções

Descoberto o Bóson de Higgs, explicada a locução afogar o ganso, esclarecido o problema de quem nasceu primeiro – o ovo ou a galinha – é chegada a hora de tentar explicar gravíssimo problema que assola o Piscinão de Ramos: a televisão imbecilizou os telespectadores ou foi imbecilizada por eles?

Enquanto o mundo discute a descriminalização das drogas pesadas, inevitável porque não há país, com exceção de Cingapura, capaz de acabar com elas, é tempo de alguém pensar na veiculação da violência através das tevês. É pueril o argumento de que a tevê transmite porque a violência existe. As idas ao vaso matinal também existem e ninguém as filma em cores para exibir na tevê cidadãos obrando gostosa e abundantemente.

A televisão pode ser imbecilizada pelos telespectadores, porque precisa de audiência para ter comerciais e vai baixando de nível em busca de ibope. O telespectador infante é imbecilizado pelo que assiste na tevê: claro que é. Se o programa é imbecil, imbeciliza a criança. Se violento, acentua a ferocidade do jovem, de resto fartamente demonstrada pelos pelotões infanto-juvenis durante a Segunda Grande Guerra e hoje pelos “dimenores” brasileiros.

Impedir a veiculação de certos programas seria censura censurável. Que, aliás, já existe nos programas impróprios para menores de 12, de 14, de 18 anos com o “recomendado para” e a idade, ou o “L” de livre. Talvez fosse o caso de incluir todos os programas imbecis e/ou violentos na categoria “recomendável para maiores de 100 anos”, que são poucos e não têm tempo a perder com tolices.

O mundo é uma bola

29 de agosto de 1526: Solimão I, o Magnífico, derrota Luís II da Hungria na Batalha de Mohács. Claro que Sua Majestade o Grande Sultão Imperial, Comandante dos Fiéis e Sucessor do Profeta do Universo não se chamava Solimão, porque tinha nome irreproduzível em turco otomano, que podia ser traduzido para Sulaymãn ou, em turco moderno, Süleymãn, quase sempre Kanuni Sultan Süleyman. Foi o décimo sultão do Império Otomano e o de mais longo reinado, que começou em 1520 até sua morte em 1566.

Aleksandra Lisowska, filha de um sacerdote ortodoxo russo, conhecida como Roxelana, foi incluída em seu harém e se tornou a favorita para surpresa de seus súditos e da comunidade internacional, que ainda não conheciam os peitinhos das ativistas do Grupo Femen. Por causa de Roxane, o Magnífico mandou matar seu próprio filho Mustafá.

Em 1825, Portugal reconhece a independência do Brasil. Em 1852, início da construção da primeira ferrovia brasileira, a Estrada de Ferro Mauá. Em 1966, os Beatles realizaram seu último show oficial em São Francisco, Califórnia. Em 1978, inicia-se o III Governo Constitucional da Portugal com o término do II Governo Constitucional de Portugal.
Hoje, t’esconjuro, é o Dia Nacional de Combate ao Fumo.

Ruminanças

“Às vezes um charuto é apenas um charuto” (Sigmund S. Freud, 1856-1939). 

Rédeas curtas na política externa‏

Com a troca de comando nas Relações Exteriores, Dilma ditará os rumos da diplomacia. Ela conversa amanhã com o presidente da Bolívia, que pede a "devolução" de senador fugitivo 


Paulo de Tarso Lyra, João Valadares e Karla Correia


Estado de Minas: 29/08/2013 


Evo Morales, presidente da Bolívia:
Evo Morales, presidente da Bolívia: "Estamos à espera de uma resposta oficial pelas vias diplomáticas. Esta será a base do que faremos no futuro"

Brasília – Depois de deixar claro que é a responsável pela última palavra no debate econômico e iniciar um diálogo mais próximo com a base aliada para abafar a crise com o Congresso, a presidente Dilma Rousseff avocou a autoridade de chefe de Estado para ditar as normas da política externa brasileira. Ao empossar o novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo – escolhido pela competência nas negociações durante a Cop15 em Copenhagen, na Dinamarca, em 2009, e na Rio+20, na capital fluminense, no ano passado –, Dilma repetiu que o governo não coloca a vida dos outros em perigo, numa crítica explícita à atitude tomada pelo ex-encarregado de negócios na Bolívia Eduardo Saboia, que trouxe ao Brasil o senador Roger Pinto Molina sem salvo-conduto de seu país, depois de ele permanecer 15 meses asilado na embaixada.


O discurso duro da presidente – o segundo em menos de 24 horas – mostra o grau de insatisfação com a quebra de hierarquia no Itamaraty. Dilma lembrou que o multilateralismo é a única forma eficiente e perene de produzir consensos. “Foi assim que viemos conquistando o respeito do mundo. Foi assim que alcançamos grandes vitórias recentes de nossa diplomacia. Foi assim com a eleição de nosso companheiro José Graziano para a FAO, na eleição do ex-ministro Paulo Vanucchi para a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, e agora, mais recentemente, com a eleição do embaixador Roberto Azevêdo, para o cargo de diretor-geral da Organização Mundial de Comércio”, citando todas as vitórias internacionais obtidas durante o seu governo.


Dilma deu uma amenizada ao elogiar a atuação do ex-chanceler Antonio Patriota, que ocupará o cargo de embaixador do Brasil na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. “Meu governo não pode e não quer prescindir de sua experiência, de seu conhecimento e do respeito que desfruta como diplomata”, afirmou ela.
A presidente decidiu ligar no meio da tarde para o presidente da Bolívia, Evo Morales, para explicar o que aconteceu. Eles conversaram por cinco minutos e decidiram que vão discutir mais detalhadamente o caso durante a reunião da Unasul, em Paramaribo, capital do Suriname, amanhã. Mais cedo, Evo foi duro ao afirmar que o Brasil tem de entregar Roger Pinto às autoridades bolivianas. “Se houvesse um caso similar na Bolívia, eu deixaria esse corrupto na fronteira,” afirmou.

 “Estamos à espera de uma resposta oficial (do Brasil) pelas vias diplomáticas. Esta será a base do que faremos no futuro”, prosseguiu.
Pedido de refúgio Dilma, no entanto, está pouco disposta a ceder a pressões. Pela legislação brasileira, processos de extradição ficam suspensos até que seja votado o pedido de refúgio, como o protocolado por Roger Pinto no Conselho Nacional de Refugiados (Conare). “O pedido de concessão de refúgio pressupõe uma série de condicionantes, como perseguição política, religiosa e racial. É mais complexo que um pedido de asilo. Para ser concedido, as condicionantes têm de estar presentes no caso”, afirmou o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.

A presidente tem agido de outras maneiras para amenizar as queixas dos bolivianos. Além de ter demitido Patriota, ela foi célere em nomear um novo substituto para o cargo de encarregado de negócios na embaixada da Bolívia. Na noite de terça-feira, escolheu João Luiz Pereira Pinto, diretor do departamento da América do Sul.

Em sua primeira entrevista como ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo afirmou que atendimento ao pedido de Evo Morales é um assunto da presidente Dilma Rousseff. “Quem conduz essa questão é a Dilma e, portanto, será feito o que ela determinar.”
O embaixador da Bolívia no Brasil, Jerjes Justiniano Talavera, afirmou, durante a solenidade de transmissão do cargo, que ainda aguarda uma resposta oficial do governo brasileiro. Mas minimizou os desdobramentos do episódio. “Nossas relações diplomáticas são excelentes e não serão afetadas por esse incidente”, assegurou.

Discursos enfatizam a hierarquia




Brasília – Em um claro recado aos diplomatas durante solenidade de transmissão do cargo, ontem à tarde, o novo ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, mostrou que não vai admitir atitudes unilaterais, como a do encarregado de negócios da representação brasileira – agora afastado –, Eduardo Saboia, que se responsabilizou pela fuga do senador boliviano Roger Pinto Molina da embaixada do Brasil em La Paz. “O princípio da hierarquia não exclui o debate de ideias e a consideração da pluralidade de ideias. Queremos um Itamaraty arejado. Mas isso não significa a exclusão do respeito à institucionalidade”, declarou Figueiredo. “Não estaremos no bom caminho se permitirmos que se percam aspectos essenciais de nossa cultura internacional como o princípio da hierarquia”, afirmou.
Antes de Figueiredo, Antonio Patriota, demitido justamente em função do episódio envolvendo o boliviano, também abordou o tema. “É imprescindível o respeito à hierarquia e às cadeias de comando. Sem isso, correríamos o risco de desencadear processos de consequências imprevisíveis”, afirmou. Após a cerimônia, questionado se a declaração significava um recado direto de que Eduardo Saboia seria punido com rigor, o novo ministro preferiu uma resposta genérica. “É fundamental para o funcionário público (o respeito à hierarquia). Não significa nada. Significa que o Itamaraty como instituição do Estado brasileiro tem que se pautar por certas normas. A hierarquia e o respeito às normas dos superiores é fundamental. Foi isso que quis dizer”, comentou. (JV)

Clovis Rossi

folha de são paulo

Os sírios são mero detalhe


 
DE SÃO PAULO
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Os sírios, seu bem-estar, suas vidas, são, desgraçadamente, mero detalhe nos jogos de guerra desenhados desde os ataques, supostamente com arma química, do dia 21.
É a conclusão inescapável a que se chega ao ouvir os argumentos que vertem os EUA, entre outros países ocidentais, para explicar a iminência de um ataque à Síria.
Trata-se, na essência, de fazer respeitar um "sinal vermelho" publicamente erguido pelo presidente Barack Obama, que seria não utilizar armas químicas.
Ora, acompanhemos o raciocínio de Anthony Cordsman, analista do Centro para Estudos Estratégicos Internacionais de Washington:
"Qualquer um que de fato tenha visto ferimentos provocados por artilharia convencional --ou feridas mal curadas de armas pequenas-- percebe que armas químicas não causam ferimentos mais horríveis".
Logo, conclui Cordsman, "o caso para intervenção [na Síria] não pode ser baseado em armas químicas. Tem que se basear em dois fatores: se serve aos interesses estratégicos norte-americanos e se atende às necessidades humanitárias mais amplas do povo sírio".
Exceto pela parte dos "interesses estratégicos norte-americanos", que eu não tenho por que defender, é uma linha de raciocínio similar à que foi exposta aqui: as necessidades humanitárias do povo sírio estão sendo atacadas por armas convencionais, já faz dois anos e meio, o que causou mais de 100 mil mortes, sem que o Ocidente ameaçasse atacar ou interferir.
Fica claro, a meu ver, que um eventual ataque à Síria não defende a população síria; emite, isto sim, uma mensagem ao regime Assad e a outros países possuidores de arsenal químico de que esse é o limite que não pode ser ultrapassado, por mais que se matem inocentes com outros tipos de armas.
O que está havendo na Síria é uma "denúncia do presente estado da lei internacional", escreve para o "New York Times" Ian Hurd, professor de ciência política na universidade Northwestern.
Refere-se ao fato de que as Nações Unidas aprovaram, em 2005, uma norma que permitiria, ela sim, proteger a população síria da matança. Chama-se "Responsabilidade de Proteger" (ou R2P, no jargão diplomático). Na sua essência, a norma estabelece que, se um dado governo não quer ou não consegue proteger seus cidadãos, a ONU tem, então, o direito e a responsabilidade de protegê-los.
Não é preciso ser especialista em coisa alguma para perceber que o caso da Síria se enquadra perfeitamente na R2P.
Acontece, no entanto, que é preciso uma autorização do Conselho de Segurança da ONU para pôr o mecanismo em prática. Como se sabe, a Rússia tem vetado qualquer resolução a favor de uma intervenção na Síria, o que paralisa a instituição global e caracteriza a falência da "lei internacional" apontada pelo professor Hurd.
É bom lembrar que a R2P surgiu depois do massacre em Ruanda, ocorrido às vistas da ONU. O massacre na Síria só demonstra que o processo civilizatório então desenhado caiu no vazio, e a barbárie se impõe.
crossi@uol.com.br
Clóvis Rossi
Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às terças, quintas e domingos no caderno "Mundo". É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo" e "O Que é Jornalismo". Escreve às terças, quintas e domingos na versão impressa do caderno "Mundo" e às sextas no site.