segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Eu e você segundo David Foster Wallace - Caetano Galindo


Eu e você segundo David Foster Wallace 

Não é preciso se fazer de sério para dar conta de assuntos dolorosos
por Caetano Galindo: daqui:
Todo grande romance é uma tentativa de encontrar uma maneira de mostrar alguma coisa nova. As invenções técnicas e formais, as inovações temáticas, as constantes reinvenções do gênero romance... tudo serve, nos melhores casos, para um escritor dar a ver coisas que a tradição, até aquele momento, deixava de lado ou não conseguia elaborar plenamente. O romance cresce, acompanha, e até abre caminho.
Mas nem sempre. Mas nem todos.
Agora, frisando, todo grande romance é uma porta nova. Uma lente. Mas escrever um grande romance é coisa, claro, que depende de talento, depende da capacidade do autor. Só que depende, também (e cada vez mais eu me convenço disso), de uma decisão prévia, de como que um ato original de orgulho trágico, de soberba, de desejo de encarar aquele algo-novo. O sujeito precisa, antes de mais nada, querer grande. E precisa, para isso tudo não ser só orgulho vazio, ter uma leitura nova, assim, da vida, do universo, de tudo.
Excelentes romances já foram escritos sem essa pretensão. Péssimos romances já surgiram dessa mesma pretensão. Agora, quando esse diagnóstico novo, a coragem de tentar e a capacidade de dar cabo do projeto se juntam, o que acontece muda a literatura. Ah, muda. E muda os leitores.
Foi o que aconteceu em 1996, quando um carinha de 34 anos publicou um romance diferente de quase tudo, fruto de talvez dez anos de tentativas, abordagens variadas e todo tipo de desenvolvimento. Um sujeito tímido, de bandana, bermudão e óculos.
Quando David Foster Wallace publicou Graça Infinita ele era tudo menos um desconhecido. Já tinha publicado, em coautoria com um colega de universidade, um livro sobre rap (um dos primeiros tratados acadêmicos sobre o assunto) e, sozinho, um volume de contos e um romance filosófico-anárquico,que nada mais era que a sua monografia de conclusão do curso universitário de escrita criativa. (Ele se formou também em filosofia, e essa outra monografia viria a ser publicada depois da sua morte.
Mas pouca gente esperava do escritor nitidamente brilhante que já aparecia nesses primeiros textos o impacto de um livro como Graça Infinita. Aliás, pouca gente esperava de qualquer escritor, naquela altura do segundo tempo do jogo, um pancadão como aquele romance.
Sim, ele sempre escreveu (assim, no miúdo, no nível da frase, da invenção verbal) melhor que quase todo mundo. Sim, é verdade, ele já dava mostras de querer abraçar o mundo e, muito especialmente, a plena sensação de viver nos Estados Unidos dos anos 80/90. Sim, todo mundo esperava muito do rapaz.
Mas Graça Infinita tinha uma escala (1 079 páginas, com centenas de notas de rodapé), uma inventividade e uma abrangência que ninguém podia prever. Mesmo que essa abrangência e o seu impacto tenham vindo à tona meio devagar.
Porque assim de cara o que as pessoas viram, por assim dizer, foi a superfície reluzente do livro. O foguetório verbal, a infinidade de vozes e de personagens, a imaginação sem fim e, muito especialmente, aquele jeito meio bizarro de ele escrever uma prosa cheia de interrupções autoconscientes, cheia de apartes, bifurcações, dúvidas, ramificações múltiplas, correções e arrependimentos eternos, que parecia, para muitos críticos, representar bem demais o que poderia ser a “voz” interna da sua geração. O barulho do mundo que a gente interioriza e verbaliza quase sem querer. O som de uma geração criada num mundo entupido de informação, que encontrava ali o sujeito capaz de transformar aquele ruído permanente numa forma de arte, em prosa literária encantadora exatamente à medida que era incômoda, exatamente à medida que nos mostrava coisas que a gente não queria ver, de um jeito absolutamente delicioso.
Mas, com o passar do tempo (e inclusive com a publicação dos outros livros de contos de Wallace, que nunca mais terminou um romance), foi ficando cada vez mais claro para toda uma geração de leitores americanos, e para toda uma geração de escritores americanos, que Graça Infinita era muito mais do que isso...

David Foster Wallace cometeu suicídio em 2008. Ninguém entende os motivos de um suicida. Ninguém. A única pessoa talvez capaz de entendê-los é morta pelo ato. Nem mesmo quase suicidas que quase morreram dão relatos muito racionais e organizados. Eu? Nem tento.
Mas no mundo literário há de sempre restar a sombra de que o projeto talvez impossível do romance com que ele vinha lidando (The Pale King) talvez tivesse alguma coisa a ver com isso tudo. Agora, que tipo de escritor pode se envolver tanto assim com um projeto de romance, a ponto de deixar fãs aloprados pelo mundo pensando se por acaso não foi o livro?
E, acima de tudo, o que esse tipo de envolvimento teria a ver com hamsters selvagens, a Estátua da Liberdade usando fralda, catapultas de lixo nuclear, teatro de bonecos, fascismo nas quadras de tênis, baratas asfixiadas, reconfiguração cartográfica, ONANismo, assassinos cadeirantes e outros temas bizarros de Graça Infinita?
O livro não é engraçado? O livro não é até meio bobo?
É... o livro é engraçado. É, você pode chamar de bobo. Mas os bobos, desde sempre, tiveram a função de dizer o que os críticos do rei não podiam declarar sem perder a cabeça.
Thomas Pynchon, o próprio James Joyce, Machado de Assis, muita gente vem mostrando há séculos que você não precisa se fazer de sério para dar conta dos assuntos mais profundos, e às vezes mais dolorosos. E eles vêm mostrando há séculos, também, que o maior papel do romance, e da literatura, afinal, pode ser precisamente o de meter o dedo nessas partes que doem, de apontar coisas que a gente não queria enxergar. E se fazer você rir primeiro é o método mais adequado, ora, então cai na gargalhada, querida... rola de rir, amigão.

Porque depois da morte de Wallace a biblioteca dele foi doada para uma universidade. E entre seus livros, em geral anotadíssimos, apareceram romances e mais romances, poesia, filosofia e... livros de autoajuda! Ora, como é que pode um cara tão inteligente ler esse tipo de coisa? E as pessoas correram direto com uma explicação profissional: ele estava fazendo pesquisa.
Pode ser. Pode bem ser.
Mas ele era um sujeito angustiado. Angustiado para se entender, para entender os outros, para entender como cada um de nós pode tentar entender os outros, como cada um pode entender como os outros tentam entender os outros, e nós e (aaargh!) assim por diante.
Se há algo de quintessencialmente wallaceano são essas espirais, esses corredores de espelhos, esses caminhos circulares que levam para dentro depois de passar por dezenas de lugares, centenas. Mas, ao mesmo tempo, talvez o segundo tema mais profundamente típico da sua obra seja o paradoxo, o beco sem saída do claustrofóbico em crise preso na minúscula solitária do hospício e que só pode sair dali quando parar de gritar.
E lidar com esses dois processos, com a tentativa constante e o seu resultado frustrante, precisou, para ele, de livros, e de livros de tudo quanto era tipo. Não só lidos, mas escritos.
Ele praticamente reinventou a escrita de não ficção com ensaios imensos que não parecem nada que você tenha lido antes. Ele escreveu alguns dos contos mais originais, mais imaginativos, mais longos, densos e brilhantes que você pode ler em inglês. Ele escreveu um clássico sob forma de discurso de formatura! Ele foi o cara que conseguiu fazer o final “e era tudo apenas um sonho” virar uma pancada formal totalmente inédita! Ele escreveu um conto lindo sobre cocô, meu!
Mas o mais impressionante dessa abundância, dessa fertilidade aparentemente sem fim, dessa honestidade e desse total comprometimento com o “humano”, com a “empatia”, a “compassividade”, com as tentativas de entender a solidão, o amor, as faltas, os vícios, é que tudo está inaugurado e profundamente desenvolvido em um só livro. Graça Infinita tem mais de mil páginas, mas se você para e decide tentar avaliar a quantidade de coisas que ele estava tentando realizar, abarcar ali, percebe que o livro até parece pequeno.
Porque entre as muitas coisas que aquele sujeito queria fazer, que ele achava importante fazer, entre as muitíssimas coisas que o moviam e que eram fundamentalmente iguais às que moveram Dickens, Tolstói, Proust, Mann e companhia limitada, havia algo que pertencia exclusivissimamente a esse mundo dos Estados Unidos no fim do (saudoso?) século XX (e não se iluda: é o nosso mundo).
Porque ao mesmo tempo que Shakespeare, Homero, Terêncio e Cervantes fazem sentido precisamente porque escreviam sobre gente que não era fundamentalmente estranha a mim, a você, nós hoje passeamos por um mundo que joga coisas bem diversas na nossa cara. E a gente, por isso, anda meio diferente.
E exatamente como Wallace resolveu encarar o problema do excesso de informação simultânea na prosa mais veloz e onívora que você já leu (já se disse que não foi à toa que ele encontrou seu público especialmente na geração pós-internet), ele também precisou resolver um outro, digamos, probleminha do nosso mundo cínico, inteligente, letrado e sofisticado: Por que a gente precisa falar coisas como “humano”, três parágrafos atrás, entre aspas? Por que a gente deixou uma parcela tão imensamente importante do projeto de entender a nossa vida e a vida dos outros para algo tão barato como a literatura de autoajuda? O que foi que deu errado? Esse não era o grande papel da grande literatura? Onde foi que a ironia elegante do modernismo se transformou na ironia comercializada/institucionalizada e cool dos anos 80?
Por que que é tão difícil abraçar o Roy Tony?
E bem-vindos à Organização das Nações da América do Norte (ONAN) no Ano da Fralda Geriátrica Depend, na cidade semificcional de Enfield, subúrbio de Boston (existiu uma Enfield, no mundo real, mas hoje ela está embaixo de um lago...). Bem-vindos à companhia da família Incandenza (a família mais disfuncional da história); ao grupo dos internos da Casa Ennet de Recuperação de Drogas e Álcool (sic); a um mundo regido pelos Transtornos Obsessivos do presidente Johnny Gentle (a Voz de Veludo); à mente genial e enlouquecida de James Orin Incandenza, Sipróprio, como seus filhos o chamavam, criador da potencial arma terrorista/solipsista que é o filme Graça Infinita.
Sintam-se (quero ver...) à vontade.

A estagnação dos políticos - Renato Janine Ribeiro

VALOR ECONÔMICO - 10/11/2014

Um abismo separa o modo de vida dos políticos e o dos jovens. Não espanta que não entre sangue novo na política 

 
Uma pergunta: se nas empresas a renovação dos quadros seguisse o mesmo ritmo da política - devagar, quase parando - o que seria delas? E a mesma pergunta vale para as universidades, as artes, um pouco tudo. Da boca para fora, dois terços de brasileiros disseram a sucessivas pesquisas que queriam "mudanças". Na hora do vamos ver, deixaram quase tudo como estava. José Roberto de Toledo mostrou que, dos 27 governadores eleitos, apenas quatro representam algum tipo de renovação. Mesmo entre os deputados novos, boa parte é Filho ou Neto. Várias famílias mandam na política há gerações.


Num mundo que muda a uma velocidade surpreendente, em que a palavra "inovação" assume vários sentidos mas em todos eles constitui prioridade, das empresas à política e à vida pessoal, como entender que nossa vida eleitoral seja um forte baluarte contra o novo? Porque isso é um enorme problema para nós. A baixa renovação política - não só dos governantes, mas das lideranças e mesmo quadros - torna difícil o país se adaptar a ideias novas, a projetos diferentes, em suma, lidar com um mundo em transformação.

Olhemos as fotos. Os políticos são, na grande maioria, homens. Mesmo tendo uma mulher na chefia do Estado, como Dilma Rousseff, seus colaboradores são quase todos do sexo masculino. Vestem terno e gravata. Seu descompasso visual é enorme com o país que representam. Podem variar na qualidade e estética do corte, mas as cores que predominarão em seus costumes serão as escuras. Na galeria do poder, quem destoa são os artistas ou gente da cultura - ou deixando o terno de lado, como Gilberto Gil, ou usando-o mas com cores berrantes, alegres, no paletó ou na camisa.


Por que falta sangue novo na política

Um século atrás, qualquer foto de homens da classe média para cima, num lugar público, os apresentaria de terno e chapéu. Podia haver um abismo entre representantes e representados, mas o código de vestimenta, excluídos os pobres, era parecido. Hoje, não é mais. Vejo isso nas universidades. Reitores e dirigentes usam terno. Professores, exceto na área de direito, não. Até parece que os que mandam na universidade se vestem para as instâncias de poder externas a ela, não para as instâncias de produção do saber que nela existem.

Já li a historinha que se segue narrada de várias formas. Um profissional de recursos humanos recebe um candidato, encaminhado pelo pai, que tem amizade com algum diretor. O rapaz se sente mal no terno que veste, está tenso, não cabe no lugar nem no emprego. Mas, a certa altura, o entrevistador tem um "insight" e pergunta ao jovem o que ele gosta mesmo de fazer. Os olhos brilham e o rapaz conta. Adora ouvir "heavy metal" enquanto lida com o computador. Em suma, ele é um gênio da informática ou do "design", e veste roupas confortáveis, às vezes desengonçadas, tem "piercings" e tatuagens. Foge completamente ao padrão de quem trabalha na empresa. Mas é um gênio - que o entrevistador contrata, para uma jornada ou local de trabalho que não é nada usual.

Essa historinha tem muitas versões, pode ser verdadeira ou não, mas deve ter acontecido mil vezes. Porém, sempre é contada como exceção, como surpresa. Está na hora de torná-la mais frequente. Está na hora de compreender que os costumes mudaram!

Imaginem isso na política. Os candidatos se curvam a um modelo que já está pronto. Quem quer isso? A grande maioria não quer. Nas eleições deste ano, só vi espírito jovem no PSOL - o partido supostamente radical de esquerda. Recomendo, no YouTube, o clipe "Política não é para os engravatados", da vereadora Fernanda Melchionna, de Porto Alegre. Ela discute o projeto de lei de um colega, regulamentando as vestimentas das vereadoras (!!), e ironiza a exigência de usarem gravatas.

O exemplo que dei pode não parecer feliz para os empresários, que na maioria vestem terno e gravata. Mas quis ilustrar o abismo que há na política, entre representantes e representados, não só em ideias e projetos políticos, mas principalmente no modo de ser. Nossos eleitos têm pouco a ver com o sangue novo que pulsa na sociedade. Durante muitos anos, a política recebia transfusão de sangue de figuras inesperadas, heroicas até, mas que ela vampirizava. Lembro Mário Juruna, o cacique xavante que ia ver os ministros da ditadura de gravador em punho, para depois denunciar promessas não cumpridas. Morreu pobre e esquecido, em 2002. De lá para cá, cada vez menos sangue novo chega à política. As manifestações pelo impeachment de Collor, em 1992, consagraram apenas o presidente da UNE, Lindbergh Farias, hoje senador pelo Rio. Este ano, só o PSOL parece que lançou a candidatura de participantes das manifestações de 2013. A maior parte não se elegeu.

A política é pouco atraente para quem sente latejar a criatividade. Isso me preocupa. Sei que a demanda por mudanças é muito vaga. Mas há um descontentamento difuso em nossa sociedade. Os políticos preferem dizer, contra tudo o que se conhece de protestos deste gênero desde 1968, que ninguém sabe a que se devem nossas manifestações (o que é mentira). As eleições ignoraram o mal-estar de 2013. Mas ele permanece inteiro. A modorra e a pasmaceira venceram a curto prazo, porém permanece a insatisfação. Mal surgem novos líderes na política. Um partido que raras vezes mencionei nesta coluna, o PSOL, é o único que discute esta questão. Ele pode ter mais futuro do que parece em nossas análises realistas, que triangulam a política entre PT, PSDB e o que ainda não sabemos se é Rede ou PSB. Porque é cada vez menos provável um jovem cheio de vida e de ideias ingressar na política como ela é. E nesta eleição pioramos. O descontentamento é o maior em trinta anos de democracia, os protagonistas os menos empolgantes.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo. E-mail: rjanine@usp.br


Churrascos - Eduardo Almeida Reis

A Lapônia é uma região da Escandinávia, que abrange territórios de quatro países: Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia


Estado de Minas: 10/11/2014



Quando vi a chamada para um programa de TV com a repórter Glória Maria na Lapônia, a jornalista usando véu para se proteger da nuvem de mosquitos a 100 metros de uma várzea coberta de gelo, me lembrei do churrasco de rena que comi em Brasília. Rena ou caribu, como aprendemos ao consultar o Houaiss, é um mamífero da família dos cervídeos (Rangifer tarandus), encontrado no Norte da Europa, Ásia e América do Norte, onde habita a tundra ártica, com galhadas presentes nos dois sexos e cascos largos e planos, adaptados para a locomoção na neve.

A Lapônia é uma região da Escandinávia, que abrange territórios de quatro países: Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia, na Península de Kola. Cerca de 70 mil lapões vivem numa área de 390 mil quilômetros quadrados, com noruegueses, suecos, finlandeses e russos.

Deu-se que o embaixador da Finlândia no Brasil, falando português, frequentava a casa de velho e querido amigo meu à beira do Lago Norte, em Brasília. Residência frequentada também por diversos políticos de uma safra mil vezes melhor que a atual. Brasileiros que bebiam. Um deles, cadeirante, tomava uma caixa (12 garrafas) de vinho branco numa única tarde.
Escusado é dizer que os relatórios do embaixador, escritos em finlandês, língua da família uraliana, ramo fino-ugriano, sub-ramo fino-permiano, grupo fino-volgaico, subgrupo fínico ou balto-fínico, falada na República da Finlândia, onde é língua oficial, devem ter sido deliciosos, porque baseados nas conversas dos trêbados que mandavam neste país grande e bobo.
Numa dessas tardes, o embaixador quis ter a gentileza de levar uma peça de carne de rena, descongelada, e todos tivemos oportunidade de provar do churrasco de caribu, que desceu muito bem. Adepto dos churrascos de carne vermelha, devo confessar que o melhor que comi foi preparado pelo sogro do compositor Gutemberg Guarabyra, Nestor Jost, presidente do Banco do Brasil, na fazenda de Candinha e Joaquim Guilherme da Silveira.

Pormenor: carne comprada no açougue da cidade mineira de Além Paraíba, terra de Zuenir Ventura, o Vô Zu, da Academia Brasileira de Letras. Perguntei ao doutor Jost sobre o segredo de seu churrasco e ele me disse que selava a carne para conservar os sucos e só a salgava na hora de servir.


Leitor

Segunda-feira, 13 de outubro, descobri que o professor Carlos Alberto Di Franco é meu leitor. Doutor em comunicação pela Universidade de Navarra e diretor do Departamento de Comunicação do Instituto Internacional de Ciências Sociais, Di Franco escreveu: “Impressiona-me o espaço destinado à violência nos meios de comunicação, sobretudo no telejornalismo. Catástrofes, tragédias e agressões, recorrentes como chuvas de verão, compõem uma pauta sombria e perturbadora. A violência não é uma invenção da mídia. Mas sua espetacularização é um efeito colateral que deve ser evitado”.
Com o respeito devido ao ilustre professor, é coisa que venho escrevendo aqui e alhures há muitos e muitos anos. Não contente com divulgar e esmiuçar os crimes, o telejornalismo brasileiro deu para exumá-los em busca de ibope. Mesmo solucionados pela polícia, o telejornalismo os retira do esquecimento inventando depoimentos e suspeitas sem cabimento. Entre muitos outros, o indecoroso procedimento tem sido repetido com aquele crime do menino paulista que matou os pais, policiais militares, a avó e uma tia-avó, foi ao colégio e voltou para casa, onde se suicidou.
Na escola, diversas vezes disse aos coleguinhas que planejava matar uma porção de gente. Seus colegas depuseram no inquérito policial, mas a rede de TV já “reabriu” o crime várias vezes. É desrespeitar o telespectador.


O mundo é uma bola

10 de novembro de 1871: Henry Stanley encontra o explorador britânico David Livingstone em Ujiji, atual Tanzânia. O episódio deve ser curtido com calma, porque resultou numa das perguntas mais idiotas da história da civilização. Resumindo: a serviço de seu jornal, Stanley partiu para a África à procura de Livingstone, que andava sumido. Ao encontrar um europeu depois de meses de procura, fez a pergunta cretina: “Doctor Livingstone, I presume?”. Queria o quê? Encontrar o ministro Dias Toffoli?
Em 1928, começa a ser publicada a revista O Cruzeiro pelos Diários Associados, de Assis Chateaubriand. Em 1937, instauração no Brasil do Estado Novo (ditadura Vargas). Em 1945, fundação do Partido Libertador, que não tinha a mais remota ligação moral e intelectual com o PL recente.
Em 2009, um apagão deixou boa parte do Brasil no escuro. Temos tido apagões apesar da admirável gestão de Edison Lobão no Ministério de Minas e Energia, maranhense nascido para brilhar pelo bem do Brasil. Em 1483, nasceu o teólogo alemão Martin Luther (ou Luder), que foi sacerdote católico agostiniano e figura central da Reforma Protestante. Antissemita, escreveu que a sinagoga era “uma prostituta incorrigível e uma devassa maléfica”. Casou-se com a ex-freira Catarina von Bora e teve seis filhos. Hoje é o Dia do Trigo.


Ruminanças

“Não há ninguém mais bobo do que um esquerdista sincero. Ele não sabe nada. Apenas aceita o que meia dúzia de imbecis lhe dão para dizer” (Nelson Rodrigues, 1912–1980).

Capital das letras

Circuito Literário Praça da Liberdade e Bienal do Livro de Minas trazem vários autores de destaque a BH. Agendas incluem debates, sessões de autógrafos, saraus e performances

Carlos Herculano Lopes
Estado de Minas : 10/11/2014 




Gonçalo Tavares vai ministrar oficina a candidatos a escritor (Carol Reis/divulgação)
Gonçalo Tavares vai ministrar oficina a candidatos a escritor


Esta semana, a literatura vai comandar a agenda cultural de BH. A capital recebe dois eventos de peso, que oferecerão ao público programação diversificada e a oportunidade de ouvir autores do país e do exterior. Quarta-feira começa o Circuito Literário Praça da Liberdade. Na sexta-feira será aberta a Bienal do Livro de Minas, no Expominas.

A curadoria do Circuito está a cargo de Dagmar Braga, especialista em literatura brasileira; Maria Esther Maciel, professora de teoria literária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG); do educador Renato Negrão, professor de arte; e de Fabíola Farias, coordenadora de promoção da leitura da Fundação Municipal de Cultura. Até domingo, o evento vai oferecer oficinas com autores experientes, saraus, mesas de debate, performances, esquetes teatrais e festival de contação de histórias. A vasta agenda inclui também programação para a criançada, shows e leituras dramáticas.

Estão previstas 15 atividades diárias e a participação de 70 autores, entre contistas, romancistas, poetas e quadrinistas. Cristiana Kumaira, gerente-executiva do Circuito da Praça da Liberdade, afirma que o evento confirma a vocação literária do estado. “É a comunhão das artes em torno da literatura”, resume.

 A curadora Fabíola Farias explica que a ideia é oferecer algo que extrapole o desenho mais comercial, próprio de feiras convencionais. “Queremos fazer a cidade se encontrar em torno da literatura e do livro. Pensamos numa programação que aproxime leitores dos autores e vice-versa”, diz ela.

Entre os convidados estrangeiros estão o angolano José Eduardo Agualusa e Gonçalo Tavares, nascido na África e criado em Portugal. Quarta-feira, a dupla participa da mesa “Diálogos literários em língua portuguesa”, com mediação de José Eduardo Gonçalves. Elogiado por José Saramago, Gonçalo ministra a oficina “Escrita, leitura e imaginação” na quinta-feira. Inscrições podem ser feitas pelo e-mail casaeconomiacriativa@sebraemg.com.br.

BRASIL Vários autores brasileiros participarão do Circuito. Entre eles estão o pernambucano Marcelino Freire, curador da Balada Literária de São Paulo; Rogério Pereira, editor do jornal literário Rascunho, de Curitiba; o paulista José Anzanello Carrascoza; o paranaense Cristovão Tezza, autor do premiado O filho eterno; o poeta carioca Eucanaã Ferraz; e a desenhista e romancista carioca Elvira Vigna.

A curadora Fabíola Farias reforça que autores mineiros – consagrados e da nova geração – ganham destaque no Circuito. “Será uma ótima oportunidade para eles conversarem sobre sua obra com o leitor”, diz. Entre eles estão Olavo Romano, presidente da Academia Mineira de Letras; Marilda Castanha, ilustradora e autora de livros infantojuvenis; o contista Francisco Morais Mendes; o crítico literário Sérgio Alcides; o contista e romancista Luiz Giffoni; e Ana Martins Marques, uma das revelações da poesia mineira contemporânea.

A programação inclui exposição sobre os 60 anos da Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa, que será aberta amanhã, às 19h; mostra sobre Augusto dos Anjos; e exibição de filmes baseados na obra de Fernando Sabino, com sessões na quinta-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil.

O poeta carioca Chacal, expoente do movimento Nuvem Cigana, participará de sarau no Memorial Minas Gerais Vale, às 11h e às 13h de sábado. No mesmo dia, às 19h, o compositor pernambucano Lirinha e o cineasta Erick Rocha fazem performance na Praça da Liberdade. Domingo, o Circuito será encerrado com outra performance: Chuva de poesia, de Guilherme Mansur, na Praça da Liberdade.

CIRCUITO LITERÁRIO

QUARTA-FEIRA

14h30 – Abertura oficial. Mesa “Augusto dos Anjos, 100 anos de morte e vida nordestina”.
Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa (Praça da Liberdade, 21)
17h – Cortejo de abertura. Praça da Liberdade
19h – Debate com a escritora Ana Maria Machado. Academia Mineira de Letras (Rua da Bahia, 1.466)
19h30 – Mesa “Diálogos literários em língua portuguesa”, com José Eduardo Agualusa e Gonçalo Tavares. Sesc Palladium
(Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro)
20h30 – Sarau Vira Lata (MG) convida Allan Jonnes, do Sarau Debaixo (SE). Praça da Liberdade

QUINTA-FEIRA

10h – Mesa “A criança quer o livro infantil?”, com Nilma Lacerda e Marilda Castanha. Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa
15h – Mesa “Literatura e cultura popular”, com Olavo Romano e Ricardo Azevedo. Biblioteca Pública Estadual Luiz de Bessa
17h – Mesa “Literatura de fantasia”, com Com Bráulio Tavares e Raphael Draccon. Biblioteca Pública Luiz de Bessa
19h –“A vida escrita”, com Cristovão Tezza, Eneida Maria de Sousa e Francisco de Morais Mendes.
Centro Cultural Banco do Brasil (Praça da Liberdade, 450)
19h30 – Palestra “A literatura dos viajantes”, com Marcus Vinícius Freitas. Espaço do Conhecimento UFMG (Praça da Liberdade)
20h30 – Sarau Comum (MG) e Paz/Sarau Tagarela (RJ). Praça da Liberdade

3 Programação completa: www.circuitoculturalliberdade.com.br


Dez dias de Bienal


O escritor e educador mineiro Rubem Alves, que morreu em julho, aos 80 anos, será homenageado pela Bienal do Livro de Minas. De sexta-feira até o dia 23, o evento espera atrair 250 mil pessoas ao Expominas. Estão confirmados 160 expositores.
A abertura ficará a cargo do romancista e crítico literário Silviano Santiago, que conversará com o escritor João Paulo Cuenca, curador do projeto Café Literário. Ao longo de 10 dias, a Bienal receberá autores de destaque, como Lira Neto e Paulo César Araújo (biógrafos de Getúlio Vargas e Roberto Carlos, respectivamente), Edney Silvestre (romancista e jornalista), Pedro Bandeira (autor de best-sellers infantojuvenis) e a jornalista Miriam Leitão, entre outros. O projeto Conexão Jovem convidou escritores queridos do público teen, como Carina Rissi, Isabela Freitas, Carolina Munhóz e Pedro Gabriel. A Bienal é promoção cultural do Estado de Minas, que montou o espaço Universo das Palavras. Programação completa: www.bienaldolivrominas.com.br.