sexta-feira, 19 de abril de 2013

Análise: Cobertura foge da especulação e se recupera. Twitter, nem tanto


NELSON DE SÁ
Folha DE SÃO PAULO

Depois de quatro dias acumulando erros grosseiros na televisão e nos tabloides americanos, a cobertura reagiu, na madrugada e na manhã de sexta-feira.
Os canais de notícias CNN e MSNBC estão mais cautelosos, cortando analistas que se excedem em especulação; procurando se concentrar em entrevistas e relatos; e evitando mencionar perfis digitais, por exemplo, de Twitter e Amazon, sem confirmação prévia.

Repercussão da morte de suspeito em Boston

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Reprodução
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O site do jornal "Washington Post" destaca a perseguição em Boston
O maior cuidado com as fontes de onde saem as informações é efeito direto da capa do "New York Post" de quinta (18), que apontou dois inocentes como suspeitos --a partir de posts que viu no agregador social de notícias Reddit e no perfil de Twitter do grupo hacker Anonymous.
Na madrugada, a cobertura avançou lenta e cuidadosamente, com as primeiras informações, como a morte de um policial, sendo tratadas como locais. Mas logo vieram as perseguições, o noticiário cresceu e o "Boston Globe" postou serem os suspeitos do ataque à maratona.
Na MSNBC, o âncora Pete Williams, já muito elogiado nos últimos dias por ter evitado especulações, em contraste direto com John King, da CNN, apresentou em primeira mão informações como o fato de serem dois irmãos, a morte de um deles, seus nomes etc.
Enquanto isso, via Twitter ou Reddit, sobrava informação, inclusive de jornalistas, mas também especulação e irresponsabilidade.
Foi por lá que apareceram fotos de atiradores da polícia postados no alto de uma casa, entre incontáveis outras, e relatos e vídeos com os tiroteios da madrugada. Mas também foi lá que ganhou asas o falso perfil de um dos fugitivos, supostamente ameaçando matar policiais.
Pior, foi via Twitter que se disseminaram os links com o áudio ao vivo da polícia de Boston, que transformou a perseguição definitivamente em novela digital e expôs os policiais ao escrutínio on-line --e ao fugitivo. A polícia conseguiu tirar do ar boa parte dos links, no final da manhã.

Perseguição a suspeitos em Boston

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Matt Rourke/Associated Press
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Policial em veículo tático chega à região de busca do segundo suspeito de cometer os atentados durante a Maratona de Boston Leia mais

Israel, 65 anos de superação - Rafael Eldad

folha de são paulo


TENDÊNCIAS/DEBATES
Todos ficamos admirados quando consideramos as condições em que o país foi criado e as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta
No último dia 16, o Estado de Israel celebrou 65 anos de independência. Todos ficamos admirados quando consideramos as condições em que o país foi criado e as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta por sua sobrevivência.
Vemos hoje um país vibrante, democrático, desenvolvido, líder mundial em várias áreas, além de tantas outras conquistas.
É o país onde se originaram muitas religiões e muito de nossa civilização comum. Nosso país, que nasceu de um sonho, converteu-se em uma história de sucesso que jamais poderíamos imaginar. Podemos enumerar alguns desses sucessos.
A indústria israelense produz a maioria dos chips de computadores no mundo, e o sistema de saúde pública é um dos melhores, com a expectativa de vida entre as mais altas.
Poucos sabem, mas a Europa outorga a israelenses, mais do que a qualquer outro cidadão no mundo, bolsas de pesquisa, pela simples razão de que os cientistas israelenses são considerados excelentes, e os pesquisadores estão acima das publicações científicas no mundo.
Além disso, a produção agrícola por hectare é a mais alta do mundo, e o desenvolvimento da agricultura, da irrigação e da medicina de Israel dá alimentos e vida a milhões de pessoas.
Apesar das situações e das dificuldades que Israel atravessa, o país continua sendo um dos lugares mais seguros do mundo. Não muitos conhecem que o conflito entre Israel e os países árabes causa menos vítimas em comparação a qualquer outro conflito armado.
O Brasil participou e acompanhou de perto o berço da criação do Estado de Israel, quando o diplomata Oswaldo Aranha presidiu a Assembleia Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947.
Os dois países têm uma longa história de amizade. Desde a década de 1960, Israel contribui para o desenvolvimento da agricultura do semiárido brasileiro, por meio da difusão de técnicas de irrigação.
Também não podemos deixar de mencionar os laços que ligam o Estado judeu às comunidades judaicas do Brasil e de todo mundo. Vocês são grandes parceiros do nosso sucesso.
Olhando para trás, temos muito do que nos orgulhar. Vislumbrando o futuro, ainda temos muito a realizar. Juntos, podemos conquistar muito. Juntos, podemos vencer. E juntos vamos celebrar muitos dias que ainda estão por vir.
Trago de Israel para o Brasil a minha mensagem de amizade e um desejo profundo de cooperação.
Estamos muito felizes com esta data e desejamos que, em um futuro próximo, o país alcance tudo o que mais almeja e necessita, a fim de desfrutar aquilo a que todos no mundo têm direito: a paz.

    Nenhum dia mais é dia de índio - Marcio Santilli [Tendências/Debates]

    folha de são paulo

    Nenhum dia mais é dia de índio
    O atual governo é o primeiro a renunciar à responsabilidade histórica e à obrigação constitucional de tutelar os direitos das minorias
    Com o fim da ditadura, o Dia do Índio foi adotado como ocasião oportuna para os governos apresentarem um balanço do que andam fazendo a respeito da questão indígena e, habitualmente, aproveitarem a visibilidade do assunto para anunciar demarcações de terras indígenas (TIs). Cumprimento, ainda que lento, da Constituição.
    Há também os que consideram a homenagem uma forma hipócrita de afagar aqueles a quem se negam direitos nos demais dias do ano: "Todo dia era dia de índio". Ou deveria ser, pois os indígenas são atores vivos do presente e do futuro, não apenas do passado.
    Em 2012, no entanto, a presidente Dilma preferiu não realizar qualquer cerimônia, muito menos anunciar alguma demarcação.
    Pouco depois, homologou sete TIs, num total de pouco mais de 900 mil hectares. E seguiu-se um ano duro para os índios, com os processos fundiários quase paralisados, nenhum investimento sério na gestão das terras demarcadas, imposição de obras impactantes sem consulta e com condicionantes fictícios.
    Nunca antes na história deste país, porém, havíamos assistido a uma semana do índio como esta de 2013, antecedida do envio da Força Nacional para aterrorizar aldeias dos índios mundurukus, que se opõem à transformação do rio Tapajós (PA) numa sequência de lagos mortos que inundariam parte das suas terras.
    Enquanto isso, o presidente da Câmara, Henrique Alves, anunciou a instalação de uma comissão para analisar uma proposta de emenda à Constituição visando travar, no Congresso, a demarcação de TIs. Uma emenda para descumprir o princípio constitucional.
    Após a ocupação do plenário da Câmara por manifestantes revoltados com a medida, Alves suspendeu a discussão do tema por seis meses.
    Vale destacar o esforço da Fundação Nacional do Índio (Funai), neste ano, para identificar as terras dos guarani-kaiowás, etnia mais numerosa do Brasil e que dispõe de menor extensão de áreas do que as destinadas aos assentados da reforma agrária no Mato Grosso do Sul.
    Já o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em vez de tomar a decisão política de oficializar essas terras, decisão que cabe a ele, e não à Funai, prefere receber ruralistas, acolher interesses contrariados e fragilizar a posição da órgão vinculado ao seu ministério.
    Em 28 meses de governo, ele delimitou apenas duas TIs, num total de 5.000 hectares. Até o momento, é o ministro mais omisso, desde o final da ditadura, no que se refere ao provimento de justiça.
    Pior ainda foi a atuação da Advocacia Geral da União (AGU), que, na esteira de escandalosos pareceres produzidos para atender a interesses escusos, também expediu uma portaria para generalizar restrições às demarcações.
    Em vista de intensos protestos, a AGU acabou suspendendo a norma, sem, no entanto, reconhecer e revogar o dano pretendido às TIs, que são bens da União.
    Também cabe um destaque positivo para a retirada de invasores da terra Marãiwatséde, dos xavantes (MT), para a qual foi decisiva a ação articulada de vários órgãos, por meio da Secretaria-Geral da Presidência. Mas não há como atender à demanda acumulada por uma secretaria sem estrutura executiva. Os pontos de apoio que restam aos índios dentro deste governo estão remando contra a corrente.
    Atravessamos conjunturas diversas e adversas para os direitos indígenas no período democrático mais recente. Mas o atual governo é o primeiro a renunciar à responsabilidade histórica e à obrigação constitucional de tutelar os direitos das minorias, cujo destino foi relegado às correlações locais de força e à sanha dos seus inimigos. Assim, nenhum dia mais será dia de índio.


    RAFAEL ELDAD
    TENDÊNCIAS/DEBATES
    Israel, 65 anos de superação
    Todos ficamos admirados quando consideramos as condições em que o país foi criado e as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta
    No último dia 16, o Estado de Israel celebrou 65 anos de independência. Todos ficamos admirados quando consideramos as condições em que o país foi criado e as dificuldades que enfrentou e ainda enfrenta por sua sobrevivência.
    Vemos hoje um país vibrante, democrático, desenvolvido, líder mundial em várias áreas, além de tantas outras conquistas.
    É o país onde se originaram muitas religiões e muito de nossa civilização comum. Nosso país, que nasceu de um sonho, converteu-se em uma história de sucesso que jamais poderíamos imaginar. Podemos enumerar alguns desses sucessos.
    A indústria israelense produz a maioria dos chips de computadores no mundo, e o sistema de saúde pública é um dos melhores, com a expectativa de vida entre as mais altas.
    Poucos sabem, mas a Europa outorga a israelenses, mais do que a qualquer outro cidadão no mundo, bolsas de pesquisa, pela simples razão de que os cientistas israelenses são considerados excelentes, e os pesquisadores estão acima das publicações científicas no mundo.
    Além disso, a produção agrícola por hectare é a mais alta do mundo, e o desenvolvimento da agricultura, da irrigação e da medicina de Israel dá alimentos e vida a milhões de pessoas.
    Apesar das situações e das dificuldades que Israel atravessa, o país continua sendo um dos lugares mais seguros do mundo. Não muitos conhecem que o conflito entre Israel e os países árabes causa menos vítimas em comparação a qualquer outro conflito armado.
    O Brasil participou e acompanhou de perto o berço da criação do Estado de Israel, quando o diplomata Oswaldo Aranha presidiu a Assembleia Geral da ONU, em 29 de novembro de 1947.
    Os dois países têm uma longa história de amizade. Desde a década de 1960, Israel contribui para o desenvolvimento da agricultura do semiárido brasileiro, por meio da difusão de técnicas de irrigação.
    Também não podemos deixar de mencionar os laços que ligam o Estado judeu às comunidades judaicas do Brasil e de todo mundo. Vocês são grandes parceiros do nosso sucesso.
    Olhando para trás, temos muito do que nos orgulhar. Vislumbrando o futuro, ainda temos muito a realizar. Juntos, podemos conquistar muito. Juntos, podemos vencer. E juntos vamos celebrar muitos dias que ainda estão por vir.
    Trago de Israel para o Brasil a minha mensagem de amizade e um desejo profundo de cooperação.
    Estamos muito felizes com esta data e desejamos que, em um futuro próximo, o país alcance tudo o que mais almeja e necessita, a fim de desfrutar aquilo a que todos no mundo têm direito: a paz.

      Bebê gerada após seleção genética doa medula à irmã

      folha de são paulo

      MARIANA VERSOLATO
      DE SÃO PAULO

      Maria Vitória, 6, nasceu com talassemia major, uma doença hereditária que prejudica a produção de glóbulos vermelhos. A cada três semanas, tinha que receber "sanguinho", termo usado por seus pais para se referir às transfusões frequentes.
      Há um ano e dois meses, ela ganhou a irmã que tanto pediu aos pais e que poderia ajudá-la a se ver livre da doença por meio de uma doação de células-tronco.
      Maria Clara, a irmã mais nova, foi gerada a partir de um embrião selecionado em um tratamento de fertilização in vitro feito pelos pais.
      A seleção buscou embriões sem a talassemia major e compatíveis para um transplante de células-tronco. O procedimento trazia uma chance de até 90% de cura para Maria Vitória.
      Por isso, quando a mais nova nasceu, as células-tronco de seu cordão umbilical foram colhidas e congeladas.
      Marcelo Justo/Folhapress
      Maria Vitória, 6, e a irmã mais nova, Maria Clara, no Hospital Sírio-Libanês
      Maria Vitória, 6, e a irmã mais nova, Maria Clara, no Hospital Sírio-Libanês
      Mas, como o número de células-tronco do cordão não era suficiente para o transplante, considerando o peso da mais velha, foi preciso esperar até que a caçula crescesse um pouco mais para que também fossem retiradas as células-tronco de sua medula óssea por uma punção no osso ilíaco, na bacia.
      Há 22 dias, o transplante finalmente foi feito. E, nesta semana, apresentou resultados: a medula óssea de Maria Vitória teve "pega", ou seja, passou a produzir suas células de maneira saudável.
      Antes de receber o transplante, ela foi submetida a uma forte quimioterapia para "destruir" sua medula óssea doente. As células doadas pela irmã repovoaram sua medula para que ela funcionasse de maneira normal.
      A químio causou reações indesejadas, como náuseas e queda de cabelo, mas seu efeito mais grave (e discutido com os pais) é a infertilidade.
      Segundo o médico responsável pelo transplante de Maria Vitória, Vanderson Rocha, do Sírio-Libanês, a chance de a menina ter filhos no futuro é pequena porque 95% dos pacientes submetidos a esse procedimento ficam inférteis.
      Esse foi o primeiro caso na América Latina de seleção de embriões livres de doenças genéticas e compatíveis para um transplante.
      O geneticista Ciro Martinhago foi o responsável pela seleção dos embriões. Segundo ele, o caso abre brecha para que outras doenças também possam ser tratadas dessa maneira, como a leucemia. Depois do nascimento de Maria Clara, Martinhago já usou o método em outros 20 casos, a maioria para talassemia major e anemia falciforme.
      Para o médico, o importante é ter a certeza de que a família quer mais um filho, independentemente da ajuda que ele possa oferecer a um irmão doente.
      "Não pode haver o desejo de ter o filho para curar o irmão. A criança não pode se sentir usada dessa maneira. Os pais que atendo me dizem que, se não for possível fazer a seleção, vão querer ter o filho de qualquer jeito."
      CURA POSSÍVEL
      O médico Vanderson Rocha afirma que Maria Vitória será acompanhada de perto por um bom tempo e só será possível falar em cura definitiva daqui a um ano.
      Editoria de Arte/Folhapress
      Os pais das meninas, porém, já comemoram.
      "Sempre pensei que, se houvesse uma chance de cura para a Maria Vitória, eu não ficaria de braços cruzados. Não consigo descrever a sensação de meta cumprida", diz a biomédica Jênyce Reginato da Cunha, 36, mãe das meninas.
      A rotina de transfusões começou quando a filha tinha cinco meses. A mãe conta que a menina sempre considerou o procedimento "normal", mas, há um ano, começou a reclamar e a não querer mais se submeter às picadas.
      Antes do transplante, ela já vinha apresentando excesso de ferro no fígado, uma consequência das transfusões que pode causar cirrose e insuficiência cardíaca.
      Hoje, Maria Vitória terá alta do Hospital Sírio-Libanês, onde fez o transplante e morou durante um mês.
      Cansada da rotina do hospital e com saudade da casa da família, em Cerquilho (SP), deixará para trás um quarto todo decorado com adesivos e pôsteres da novela "Carrossel" --especialmente da personagem Maria Joaquina, interpretada pela atriz Larissa Manoela, que ela sonha em conhecer.

      Luiz Carlos Mendonça de Barros

      folha de são paulo

      Mudando de assunto
      A recuperação do G7 ocorreu ou não? Sim, mas está seguindo um roteiro diferente do previsto
      No encontro de hoje, volto minha atenção para o cenário econômico internacional, deixando de lado as mazelas da economia brasileira neste início de outono.
      O ambiente internacional continua dominado pela insegurança dos investidores em relação ao futuro e --reflexo disso-- pela ocorrência de flutuações violentas de preços em mercados importantes.
      Dou alguns exemplos recentes: entre janeiro e abril deste ano, o preço do ouro caiu mais de 17%, o índice Nikkei, da Bolsa de Valores de Tóquio, valorizou-se em quase 13% e a moeda japonesa perdeu mais de 15% de seu valor.
      Como reflexo desses movimentos, tivemos uma nova corrida aos títulos de juros de qualidade nas economias mais importantes do mundo. Um exemplo dessa busca por maior segurança ocorreu nos Estados Unidos, com os juros dos títulos de dez anos do governo recuando de 2,20% ao ano para 1,70%.
      Na Europa, mesmo os países que se encontram no olho do furacão da crise do euro têm colocado junto a investidores seus títulos de dívida a taxas cadentes e muito abaixo das que prevaleceram ao longo do ano passado.
      Compondo esse quadro de aversão ao risco, as Bolsas de Valores do mundo emergente têm amargado um período de queda das cotações e fuga de investidores. O índice Bovespa já caiu mais de 12% nestes primeiros quatro meses do ano.
      A pergunta que se coloca nesta altura é a seguinte: e a recuperação tão falada --inclusive por mim neste espaço da Folha-- das economias do chamado G7, com a redução dos riscos sistêmicos dos mercados, ocorreu ou não? Minha resposta é um sonoro SIM, mas com uma qualificação: ela está ocorrendo embora seguindo um roteiro diferente do inicialmente previsto.
      Nos EUA, a recuperação se consolida, mas a uma velocidade bem mais baixa do que a estimada anteriormente, em razão da redução do deficit fiscal aprovada pelo Congresso no ano passado. Chamado de sequestro de receitas fiscais, ele está obrigando o governo Obama a diminuir compulsoriamente suas despesas e, com isso, reduzir o deficit fiscal em cerca de 2% do PIB neste ano.
      Com isso, os EUA estão fortalecendo sua situação econômica futura, à custa de uma redução pequena do crescimento econômico atual. Uma combinação virtuosa e de difícil implantação em uma democracia de massas nos dias de hoje.
      Essa combinação de crescimento menor com ajuste fiscal de longo prazo está permitindo que o Fed --o banco central americano-- mantenha por mais tempo sua política de expansão monetária, financiando de certa forma o ajuste fiscal de longo prazo que está ocorrendo.
      Como essa compreensão do complexo cenário americano é de difícil entendimento, nos mercados prevalece a impressão de que a recuperação da maior economia do mundo é frágil, abrindo espaço para as especulações com a incerteza do futuro.
      O outro polo importante da recuperação da economia global --a China-- também tem sofrido com as análises superficiais dos mercados financeiros. O novo gigante da economia asiática vem passando também por um ajuste estrutural de longo prazo ao transformar o crescimento do consumo interno na grande força --junto com o investimento na infraestrutura econômica do país-- de seu crescimento econômico. A meta dos novos governantes é dobrar, até 2020, a renda média per capita da população e, com isso, alavancar o consumo.
      Se isso acontecer, a China exportadora de produtos industriais baratos vai definitivamente deixar de existir, como ocorreu com outros países asiáticos no passado, e em seu lugar vamos ter o maior mercado consumidor do globo.
      Mas nos últimos meses essa transição de modelo tem sido responsável por dados econômicos mais fracos e usada como argumento para questionar a recuperação econômica no país de Mao.
      Finalmente, na Europa a recuperação econômica ainda não apareceu no horizonte, fazendo do Velho Continente o elemento mais importante na saída da crise econômica iniciada em 2008.
      O modelo de um ajuste fiscal violento, sem a ajuda de uma expansão monetária agressiva como a perseguida pelo Fed nos Estados Unidos, está por trás do atraso europeu.

      Minha história - Amina Tyler, 19

      folha de são paulo

      Meu corpo me pertence
      Garota da Tunísia atrai a ira de conservadores após mostrar seios nus em defesa de direitos das mulheres no mundo árabe e é apoiada por feministas de vários países, principalmente ligadas ao grupo Femen
      DIOGO BERCITODE JERUSALÉM
      RESUMO
      A tunisiana Amina Tyler, 19, divulgou em março imagens suas com os seios desnudos. Em seu corpo, a garota escreveu "Foda-se sua moralidade" e "Meu corpo é minha propriedade, e não é a honra de ninguém". Ameaçada de morte por conservadores no seu país, ela diz ter sido sequestrada pela própria família --e fugiu na semana passada.
      -
      No meio tempo, mobilizou as feministas do grupo Femen em vários países por sua causa. Ela pode ser sentenciada a seis meses de prisão.
      Quando era mais nova, meu sonho era o mesmo das outras garotas. Queria me casar com o homem certo, comprar uma casa, ter família.
      As coisas começaram a mudar há três anos. Passei a ler sobre feminismo, na internet. Meu sonho é convencer as mulheres de que são livres.
      Na escola, descobriram que sou agnóstica e feminista. Todos ficaram contra mim. Não era diferente do que eu vivia dentro da minha família. Tentavam me convencer a mudar minhas convicções.
      Foi duro para uma parte de mim. Mas a outra parte não ligava. Você ouve e joga no lixo. Minhas opiniões são a única coisa certa para mim.
      O melhor exemplo de feminismo é o Femen [grupo de origem ucraniana que realiza protestos topless pelo mundo]. Tudo o que é radical me serve.
      Fizemos manifestações pacíficas na Tunísia e nada mudou. Agora os islamitas [que controlam o governo do país árabe] pensam que estamos assustadas, que não somos fortes.
      Os extremistas não querem ver o corpo da mulher. Dizem que é pornografia. Eles têm medo de que uma garota abra um livro. Mostrar meus seios é horrível para eles, e eu quero provocá-los. Quero mostrar o que não querem ver.
      Um dia, espero que alguma coisa mude. As mulheres vão estar convencidas de que são livres. Vão poder fumar seus cigarros, fazer o que quiserem e ser felizes.
      A história das fotos que tirei é bem engraçada, por isso estou rindo [enquanto conto]. Eu estava hesitante quando escrevi "Foda-se sua moralidade". Não esperava que fosse ter esse impacto.
      Então, conversando com meus amigos, tive a ideia de fazer as outras fotos. Pensei por duas semanas até chegar ao slogan "Meu corpo é minha propriedade, e não é a honra de ninguém".
      Muitas pessoas ficaram contra mim. Disseram que eu merecia ser apedrejada.
      Minha família não se importava com o fato de que eu não uso o hijab [véu]. Isso não era um problema. O problema, para eles, foram as minhas fotos na internet. Ver meu topless foi inaceitável.
      Minha tia me ligou um dia pela manhã e perguntou: "É você nessas fotografias?". Depois disso, todo o mundo começou a me telefonar.
      Fugi da minha família e fui para a casa de amigos, mas eles me encontraram em um café. Meu primo me pegou. Eles foram tão violentos. Alguns me bateram.
      Em casa, tentaram me exorcizar mais de cinco vezes, mesmo sabendo que não sou muçulmana. Também me fizeram repetir trechos do Corão todos os dias.
      Quebraram meu celular. Tomaram meu laptop. Fizeram de tudo para me esconder do mundo por um mês.
      Fiquei primeiro na casa da minha avó. Depois, na casa dos meus pais. Então fomos para a casa de parentes, em um vilarejo no interior.
      Nesse tempo, fizeram um teste de virgindade em mim. Não sei o porquê. Foi horrível. Minha família também me deu remédios para eu dormir o dia todo. Mas fui forte.
      Nunca em toda a minha vida tomei remédios. Só durante esse mês. Agora querem dizer que sou louca.
      Eles estão pensando apenas na própria reputação. Eu esperava que minha família se voltasse contra mim, mas não desse modo.
      Não fiquei assustada, porque não tinha dúvidas de que muitas pessoas ao redor do mundo me apoiavam. Vi fotos de brasileiras de topless segurando cartazes com os dizeres:"Liberte Amina". É isso que me fortalece.
      Fugi da minha família há uma semana. Todos estavam ocupados fazendo alguma outra coisa, então aproveitei a oportunidade e corri, de pijama. Mesmo se estivesse pelada, teria fugido.
      Mudei meu cabelo para ninguém me reconhecer, especialmente os islamitas.
      Na época do Ben Ali [ditador tunisiano derrubado do poder em 2011], as mulheres estavam melhores que agora.
      Ele era um ditador na política, mas não impunha uma ditadura sobre as mulheres. A situação está horrível. As mulheres usam burca, coisa que não usavam antes.
      Estou tentando organizar um protesto topless. Queremos, o Femen e eu, algo que envolva outras mulheres tunisianas. Depois, vou direto para o aeroporto. Quero ir para a França. A polícia já está me procurando aqui.
      Tenho de partir porque nenhuma escola na Tunísia vai me aceitar. Estou reunindo os documentos. Minha família queimou meu passaporte.

        Moisés naím

        folha de são paulo

        Cinco cenas de uma democracia
        Nos 14 anos da Presidência de Chávez, a Assembleia nunca votou contra suas iniciativas na Venezuela
        Cena 1: No domingo passado, Carmen sentiu-se esgotada, mas muito satisfeita. Esgotada porque 15 horas de viagem de ônibus são muitas para uma pessoa de 78 anos. E satisfeita por ter votado para eleger o próximo presidente da Venezuela.
        Para fazê-lo, ela teve que se deslocar de Miami, onde vive há três anos, até Nova Orleans, a cidade mais próxima onde podem votar os venezuelanos residentes na Flórida. A longa viagem se deve ao fato de Hugo Chávez ter decidido fechar o consulado venezuelano em Miami.
        Assim, os 20 mil venezuelanos que ali vivem (muitos deles partidários da oposição) tiveram que optar entre não votar ou ir até Nova Orleans. Milhares deles embarcaram em ônibus ou foram de avião ou em seus carros para votar.
        O fizeram na eleição presidencial de outubro e novamente na de domingo passado. A TV mostrou jovens, casais com bebês e idosos, todos fazendo o que fosse preciso.
        Cena 2: William Dávila é deputado da oposição na Assembleia Nacional da Venezuela. Nas eleições de 2010, a oposição obteve a maioria dos votos (52%), mas o governo mudou as regras e, apesar de ter conseguido menos votos, obteve o maior número de deputados, desse modo se assegurando do controle da Assembleia.
        Nos 14 anos da Presidência de Chávez, a Assembleia nunca votou contra as iniciativas dele e, com frequência, lhe deu poderes absolutos que lhe permitiam governar por decreto e sem consulta.
        Em 16 de abril, o deputado Dávila estava denunciando na Assembleia milhares de irregularidades documentadas que ocorreram nas eleições, quando vários deputados do governo se aproximaram dele e o agrediram no rosto com um objeto pesado. Ele precisou de 14 pontos.
        Cena 3: Na campanha eleitoral recente, Nicolás Maduro teve cobertura maciça e desproporcional da mídia, enquanto a visibilidade e as mensagens de seu rival, Henrique Capriles, foram fortemente limitadas pelo governo.
        Uma das mensagens mais enfáticas de apoio a Maduro foi a de Lula. Depois de ressalvar que não é correto interferir nos assuntos internos de outro país, Lula explicou por que admira Nicolás Maduro e por que os venezuelanos devem apoiá-lo.
        Cena 4: O tenente Diosdado Cabello participou do golpe militar de 1992 liderado por Hugo Chávez. Posteriormente, e graças ao êxito político de Chávez, ele alcançou os mais altos cargos no governo. Agora é presidente da Assembleia Nacional.
        Na segunda-feira passada, quando um deputado da oposição pediu a palavra, Cabello lhe perguntou: "O sr. aceita que Nicolás Maduro é o presidente legitimamente aceito?" O deputado tentou responder, mas Cabello o interrompeu: "Me diga, sim ou não? Não vou dar a palavra a nenhum deputado que não aceite aqui que Maduro será o presidente". A oposição pediu a recontagem dos votos, conforme previsto na lei. O governo rejeita.
        Cena 5: O Brasil reconheceu imediatamente a vitória de Maduro, e Dilma Rousseff está em Caracas hoje para assistir à sua posse como presidente da Venezuela até 2019. A sra. Carmen não está festejando.
        @moisesnaim

          Cadeirante off-road - Jairo Marques

          folha de são paulo



          Feira para pessoas com deficiência traz cadeira de rodas 'off-road'



          JAIRO MARQUES
          DE SÃO PAULO



          Enquanto a Prefeitura de São Paulo exibiu uma cidade acessível e sustentável, e o governo do Estado mostrou um projeto de transporte totalmente inclusivo, a iniciativa privada apostou na realidade urbana; criou, entre outras invenções, uma cadeira de rodas "off-road".
          Com suspensão eletrônica inspirada na Ferrari para superar calçadas esburacadas e obstáculos em vias públicas, a cadeira high-tech e outros equipamentos para pessoas com deficiência foram apresentados na Reatech, maior feira de reabilitação do país, aberta ontem na capital.
          A "Strix" foi testada em Parati (RJ), cidade histórica conhecida pelas ruas de pedra.
          "Quando eu ia para o trabalho [em São José dos Campos, SP], sempre via um cadeirante parado na porta de casa. Perguntei a ele porque não saía e ele respondeu que era impossível devido à qualidade das calçadas. Isso mexeu comigo", disse o engenheiro Breno Horta, um dos três idealizadores do projeto.
          Com o sistema eletrônico, a cadeira vai se moldando ao relevo e evita que o cadeirante fique parado no buraco e tenha seu corpo projetado para a frente, caindo no chão.
          A "Strix" teve apoio de R$ 1,4 milhão da Finep (Agência Brasileira da Inovação), levou dois anos para ficar pronta e deve estar no mercado até o segundo semestre, com preço equivalente ao de cadeiras importadas, avaliadas de R$ 8 mil a R$ 12 mil.
          "Todo cadeirante tem receio ir para a rua com medo de cair em buracos. É uma invenção útil", diz o esportista Evandro Bonocchi, tetraplégico.
          Editoria de Arte/Folhapress
          CIDADE IDEAL
          A prefeitura paulistana levou à Reatech estandes que simulavam uma cidade ideal.
          Os custos da instalação de 400 m² não haviam sido fechados até ontem, mas envolveram uma réplica do Masp, de uma área verde, de um rio limpo e de outras estruturas urbanas que estariam preparada a atender a todos os públicos de forma sustentável.
          "Sou otimista para fazermos uma cidade assim. Está na hora de uma virada na realidade das pessoas com deficiência", diz a secretária municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida, Marianne Pinotti.
          Ela anunciou na feira a criação de uma "central de libras"(língua brasileira de sinais), que deverá ter cerca de 50 postos na cidade.
          Por meio da central, uma pessoa surda que fale a língua brasileira de sinais poderá encontrar um intérprete que irá apoiá-lo em atividades pontuais, como registrar um boletim de ocorrência ou marcar uma consulta médica.
          O governo de São Paulo está representado na feira com duas estruturas: uma institucional e outra exibindo réplicas de vários meios de transporte públicos que permitem acesso a todos, como vagões de metrô, balsas, ônibus.

          Cadeirante off-road

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          Zé Carlos Barreta/Folhapress
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          Sistema instalado em cadeira de rodas funciona como motor para auxiliar cadeirante em subidas e rampas


          ACESSIBILIDADE
          Aeroportos de SP terão carro que facilita embarque de cadeirantes
          DE SÃO PAULO - Drama recorrente na vida de pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida no Brasil, a falta de estrutura segura de embarque e desembarque em aviões começa a ser amenizada em seis aeroportos regionais de São Paulo a partir de hoje.
          Sete ambulifits, carros adaptados com elevador que sobem à altura das aeronaves e facilitam a entrada e saída de cadeirantes ou de qualquer pessoa que tenha dificuldades de usar escadas, vão estar disponíveis em Presidente Prudente, Marília, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Araçatuba e Bauru.
          "Chega de ver pessoas sendo carregadas no colo ou de forma pouco segura. É uma demanda de muitos anos que agora vamos começar a resolver", afirma Linamara Rizzo Battistella, secretaria estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência de São Paulo.
          A medida vai custar cerca de R$ 1,5 milhão, bancados pelo governo estadual. O primeiro dos carros adaptados com elevador será entregue hoje no aeroporto de Presidente Prudente (a 558 km da capital). Uma equipe será treinada para operar o equipamento e para atender passageiros cadeirantes.
          A Embraer e a Universidade Federal de São Carlos têm um projeto a adaptação de aeronaves para que cadeirantes usem a própria cadeira durante os voos.