terça-feira, 27 de novembro de 2012

Hormônio à flor da pele - Thais Bilenky


Hormônio à flor da pele
Criados para evitar gravidez e suspender a menstruação, implantes hormonais são valorizados por efeitos colaterais como perda de peso, redução de celulite e ganho de músculos
Arquivo Pessoal
Thaís Rumpel, 17, diz que perdeu quatro quilos em quatro meses
Thaís Rumpel, 17, diz que perdeu quatro quilos em quatro meses
THAIS BILENKYDE SÃO PAULOImplantes hormonais usados para contracepção e supressão da menstruação sempre foram controversos. Agora, que têm sido procurados para fins estéticos, estão mais controversos ainda.
Mais de um milhão dessas drogas foram aplicadas no Brasil em 2011, segundo o endocrinologista Elsimar Coutinho, 82, precursor da técnica. Ele calcula que a procura tenha dobrado em dez anos. O aumento esperado para 2012 é de 20%.
"Primeiro, você desincha. Depois, dá uma secada, perde celulite, ganha músculo, seu corpo fica duro e a textura da pele, mais firme", descreve a modelo Talytha Pugliesi. Ela atribui o milagre ao implante à base de progesterona colocado há três anos.
Pugliesi, 30, viu a medida do seu quadril cair de 91 para 88 centímetros. De quebra, o canudo enfiado sob sua pele a livrou da menstruação.
'CHIP' FASHION
Outra adepta é a modelo Thaís Rumpel, 17. Ela foi orientada pela agência a ir à clínica do célebre ginecologista Malcolm Montgomery, pupilo de Coutinho.
A "new face" chegou ao consultório com 62 quilos. Recebeu um tubo de elcometrina (à base de progesterona). Quatro meses depois, estava quatro quilos mais leve.
"Muitas meninas põem o 'chip' e emagrecem. A metade das modelos usa. Com os hormônios desorganizados, eu engordava muito", diz ela, cuja medida de quadril pulou de 98 para 93 centímetros.
A agência não só indicou o tratamento à garota como adiantou os R$ 3.500 do custo, que a modelo terá de quitar depois de juntar dinheiro.
A diretora da agência Elo, Renata Rodrigues, confirma ser comum o envio de profissionais para colocação de implantes: "Se a modelo se queixa de ganho de peso ou menstruação, a gente faz o procedimento, leva ao doutor Malcolm, faz todos os exames".
VOZ DE TRAVESTI
O tratamento pode causar efeitos colaterais como perda de cabelo, alteração na libido e mudança na voz.
"Meu irmão fala que tenho voz de travesti", diz Pugliesi. O implante que ela usa tem testosterona.
A atriz e modelo Letícia Birkheuer, 34, aderiu ao método aos 23 anos, para se livrar das cólicas, diz. Depois de oito anos, tirou o implante para ter filho e há cinco meses o recolocou. Ela engravidou quatro meses após a retirada. Ganhou 22 quilos na gestação. Seis meses após o parto, voltou à forma.
Birkheuer diz que o implante a ajuda a manter os seus 65 quilos. "Até pelo fato de não inchar. E reduz muito a celulite, impressionante."
O implante é um tubinho de silicone com três centímetros de comprimento por um milímetro de diâmetro. Dentro há um mix de hormônios feito sob medida, segundo médicos que o prescrevem. É aplicado com uma espécie de injeção e anestesia local.
Elcometrina é o nome de um dos mais usados. À base de progesterona, bloqueia a menstruação, reduz TPM, cólicas, enxaquecas e risco de endometriose, diz Montgomery. Dura uns seis meses.
Segundo ele, ainda "acaba com o sobe e desce hormonal" e anula o efeito do estrogênio em alta, que retém líquido. "A angústia da fome diminui, os pacientes acabam perdendo peso", diz ele.
Mas a elcometrina reduz a libido. Por isso, é comum que o ginecologista associe testosterona à fórmula.
Outro implante popular é a gestrinona, também à base de progesterona. É esse o tal que promete reduzir celulite e aumentar massa muscular.
Mas causa acne e pode abrir o apetite, ao menos nos meses iniciais, de adaptação.
Há ainda implantes à base de estrogênio e testosterona, manipulados para atingir o interesse do paciente.
FALTAM ESTUDOS
Especialistas questionam esse uso de implantes. O Conselho Regional de Medicina de SP alerta para efeitos colaterais e a sociedade dos endocrinologistas diz não haver bons estudos sobre a eficácia.
"Tenho 500 trabalhos científicos publicados em revistas médicas de peso", rebate Elsimar Coutinho. Seu estudo mais recente foi publicado em setembro de 2006 na revista "Contraception".
Coutinho diz que a busca desses implantes para melhorar a estética é "surpreendente". Ele frisa que a terapia é parte de um programa de anticoncepcionais de efeito prolongado. "A pessoa valoriza mais o efeito colateral do que o resto, isso é comum."
Montgomery diz que só aplica implantes em pacientes com indicações médicas como puberdade precoce, menstruação volumosa, enxaqueca, cólica, endometriose, mioma ou menopausa.
As doses de hormônio dos implantes são menores que as de pílulas anticoncepcionais, porque não passam pelo sistema digestivo, diz Coutinho. Um implante anual tem cerca de 300 miligramas.
O cálculo da dose é individualizado. São considerados índice de massa corporal do paciente, idade, hábitos etc.
A entidade dos endocrinologistas aceita como uma vantagem do implante o hormônio não ser processado pelo fígado. Mas aponta que há o risco de ser preciso tirar o implante com urgência.
"Uma paciente usava implante com dose alta de estrogênio. Teve câncer de mama e não tinha como reduzir rapidamente a liberação do hormônio", diz a médica Dolores Pardini, da entidade. Coutinho e Montgomery dizem que tiram o tubo no ato.
O governo não aprova a comercialização de implantes de gestrinona e elcometrina e alguns tipos de testosterona. A venda é vetada, mas o material para fabricá-los, não. Médicos que receitam os implantes usam os manipulados na farmácia do centro de pesquisa criado pelo próprio Coutinho.
O custo de um implante varia de R$ 700 a R$ 3.000.

Terapia hormonal pela chamada 'medicina antienvelhecimento' está proibida no país
DE SÃO PAULOEm outubro, o CFM (Conselho Federal de Medicina) vetou o uso de hormônios em terapias com o objetivo de prevenir ou reverter o envelhecimento. A medida não proíbe os implantes contraceptivos -mesmo se forem usados com fins estéticos-, mas aborda a questão da reposição de hormônios como a testosterona.
O texto da resolução, que tem força de lei, diz que as substâncias podem ser receitadas apenas quando houver um deficit comprovado no organismo do paciente ou no caso de o benefício ser cientificamente provado.
O documento também proíbe a prescrição de vitaminas e compostos antioxidantes para terapias da medicina antienvelhecimento.
Para os médicos que defendem o uso de implantes hormonais, a medida do Conselho não interfere na prática.
"'Anti-aging' é pura picaretagem. As pessoas envelhecem melhor quando fazem reposição hormonal, mas [o tratamento] não impede o envelhecimento", diz o ginecologista Malcolm Montgomery.
Elsimar Coutinho, também ginecologista, vai na mesma linha. "Meu tratamento não oferece juventude a ninguém. Oferece saúde e preservação da juventude, quer dizer, você envelhece mais devagar."

    Entidades médicas criticam uso de implante para fins estéticos
    DE SÃO PAULOO uso de implantes hormonais para fins estéticos não é recomendado pelo Conselho Regional de Medicina de São Paulo, informa a endocrinologista Ieda Therezinha Verreschi, membro da entidade.
    "O conselho não apoia o uso de hormônio em implante para melhorar o aspecto físico. [Esse tratamento] só aumenta a musculatura, 'desfeminiliza' e cria pelo. Fica um 'monstrinho' a criatura. É quase que uma medicação para uma fantasia", diz.
    A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia tem posição semelhante. "Não existem, até o momento, estudos com rigor científico que confiram credibilidade à prática", afirma Dolores Pardini, presidente eleita do departamento de endocrinologia feminina e andrologia.
    De acordo com Ieda Verreschi, a progesterona não ajuda a emagrecer, pelo contrário. "É um hormônio anabolizante, aumenta a massa muscular com a incorporação de aminoácidos no organismo. Misturar testosterona e/ou estrogênio piora. A maioria que usa engorda."
    Segundo a endocrinologista, a progesterona é também um anestésico central e pode ter efeito tranquilizante. "Mas é muito discreto e não é isso que vai melhorar a angústia, a TPM", acrescenta.
    Ela conta um caso de uma paciente que usava implante de progesterona para parar de menstruar e teve alterações no ritmo de sono, "cochilava durante o dia e ficava acordada durante a noite". "Ela precisou parar de dirigir e teve um ganho de peso imenso. É uma reposta individual, não dá para generalizar [os efeitos]."
    Sobre a promessa de acabar com a celulite, Verreschi afirma que não existe um tratamento hormonal com esse efeito. "A gordura revestindo o corpo feminino tende a fazer celulite. Não é botando progesterona ou testosterona que vai diminuir."
    REGISTRO VENCIDO
    A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) não aprova a comercialização de gestrinona, elcometrina e alguns tipos de testosterona em implantes.
    Segundo a assessoria de imprensa da agência, esses produtos tiveram registros, mas a documentação caducou há pelo menos dez anos.
    A Covisa (Coordenação de Vigilância em Saúde) de São Paulo, após ser procurada pela reportagem, localizou estabelecimentos que comercializam o produto irregularmente. Até o fechamento desta edição, um deles, cujo nome não foi informado, foi autuado, mas poderá recorrer.

      "Sem o implante, preciso malhar mais", diz Raica
      DE SÃO PAULO
      A modelo Raica Oliveira, 28, ex-namorada de Ronaldo, resolveu "dar um tempo" e tirar seu implante à base de progesterona, após oito anos. Mas já pensa em recolocar o tubinho. "Agora preciso malhar mais, está dando uma caída no bumbum e nas coxas. Se uso, fica tudo durinho."
      Raica implantou hormônios aos 19, com o objetivo de melhorar a pele. "Tinha um pouco de espinha. Meu rosto ficou como o de um bebê."
      Já a atriz Suzy Rêgo, 45, afirma ter procurado o tratamento para parar de menstruar. Usou implantes contraceptivos por 15 anos. Nesse período, deixou de ter sintomas de TPM. "Brincava que era um menino no corpo de menina. Sentia facilidade para ganhar massa muscular."
      Em 2007, tirou o implante para engravidar. Fez um tratamento de estimulação ovariana e teve gêmeos.
      Quando interrompeu o tratamento, viu seu corpo se transformar. No dia em que os gêmeos nasceram, em 2009, pesava 104 quilos. Chegou a usar manequim 48. "Não digo que a culpa é só dos hormônios. É ansiedade, conduta de vida." Hoje, manequim "43", ela não descarta a volta ao implante.
      TESTOSTERONA
      Os homens também aderiram ao "chip" da beleza.
      O autor de novelas Carlos Lombardi, 54, usa o seu há quase um ano, para compensar a redução na produção de testosterona.
      "Não deixei de ser o Clark Kent para virar o Superman, mas senti uma melhora de ânimo", diz ele.
      Lombardi, que malha de segunda a sexta, acha que o hormônio é bom coadjuvante na perda de peso. Mas os efeitos, diz, não são rápidos nem devastadores.
      "Meu cabelo continua se suicidando lentamente. Não é equivalente a uma plástica. Eu nem esperava por isso."

      O Blog da Muriel e Amely


      QUADRINHOS
      O BLOG DA MURIEL
      Laerte
      AMELY
      Pryscila Vieira

      Mulher que constrói - Juliana Vines


      'WOMEN IN THE WORLD SUMMIT'
      JULIANA VINES
      DE SÃO PAULO
      Exemplo de psicóloga brasileira que ajuda mães adolescentes e seus filhos será apresentado em encontro internacional
      A próxima edição do "Women in the World Summit", encontro internacional criado dois anos atrás e que acontece no Brasil pela primeira vez, vai contar histórias inspiradoras de mulheres como a psicóloga brasileira Raquel Barros, 46.
      Depois de pensar que não poderia ter filhos, Raquel decidiu ajudar mães adolescentes sem condições de criar suas crianças. "No começo eu só queria me ajudar mesmo", brinca a psicóloga, que sempre quis ser mãe.
      Em 2000, fundou a Associação Lua Nova, que, em 12 anos, já acolheu 600 jovens e apoiou outras 4.000.
      Dois anos depois de criar a ONG, que tem sede em Sorocaba, no interior de São Paulo (a 87 km da capital), Raquel teve gêmeas e a associação engrenou de vez, segundo conta. "Os projetos de geração de renda começaram a dar certo e as pessoas passaram a levar a gente a sério", diz.
      Hoje, além de dar abrigo a cerca de 60 mães e filhos, a associação encabeça várias iniciativas paralelas, como a da Padaria Lua Crescente, que produz pães e biscoitos artesanais e oferece serviço de bufê. São as próprias mães atendidas pela entidade que fazem os produtos.
      "Ganhar autonomia financeira e deixar o abrigo faz parte do programa da Lua Nova", diz Raquel.
      As garotas -a maioria delas entre 14 e 20 anos- recebem ajuda psicológica e escolhem em quais projetos desejam trabalhar.
      A associação tem também um ateliê para formação de costureiras e criação de brinquedos de tecido.
      Em 2007, saiu do papel um projeto ainda mais ambicioso: a criação de uma empreiteira."Formamos grupos de dez mães. Elas têm aulas de construção civil e depois constroem as próprias casas, como parte do curso."
      Até agora foram construídas 26 casas, em terrenos comprados pela associação ou doados.
      A Lua Nova deu tão certo que hoje Raquel tenta levar a ideia para outros Estados. "Há uma demanda reprimida. Na sede não conseguimos atender mais de 20, 25 mães. Queremos firmar parcerias e expandir a ideia."
      No evento "Women in the World Summit" (cúpula sobre o papel da mulher no mundo), que acontece em São Paulo, no próximo dia 4, a psicóloga será entrevistada pela apresentadora Xuxa e contará um pouco da trajetória da associação.
      O encontro internacional foi criado pela jornalista Tina Brown, da revista americana "Newsweek". Ela também fundou uma associação homônima. O objetivo do evento é relatar histórias de mulheres de diversas culturas e origens que, de alguma forma, trabalham para mudar suas realidades.
      Da versão brasileira do encontro participarão Tina
      Brown, o publicitário e colunista da Folha Nizan Guanaes, a jornalista Glória Maria e a ex-secretária de Estado americana Condoleezza Rice.
      A estilista belga naturalizada americana Diane von Furstenberg, que participa ativamente das reuniões da "Women in the World", também virá ao Brasil. Além dela, está confirmada a presença de Jada Pinkett Smith (casada com o ator americano Will Smith), ativista contra o tráfico de pessoas.
      O "Women in the World Summit" será dia 4/12, às 15h, na Casa Fasano, em São Paulo, para 200 convidados.
      Informações no site http://womenintheworld.org (em inglês).

        Clique fatal - Denise Fraga


        VIDA REAL
        DENISE FRAGA - denise-fraga@uol.com.br
        Clique fatal
        Vejo as pessoas em momentos preciosos tingindo suas alegrias com esse desespero de postá-las
        Quando nasceram meus filhos, eu costumava dizer que todas as mães deveriam sair da maternidade com seus bebês nos braços e um superpoder de brinde: a câmera-piscadela.
        Seria um aparato, um chip qualquer acoplado ao olho, que, numa piscadela, eternizaria em fotos o milagre vertiginoso que é ver uma criança evoluir ao seu lado.
        Compramos nossa primeira câmera digital para garantir liberdade de cliques à tentativa de congelar a vida que corria em alta velocidade.
        Foi quando começou minha síndrome. Cada foto que eu tirava dos pequenos me renovava a esperança por outra ainda melhor.
        Diante de tanta exuberância, modelos brilhantes e inquietos, eu lutava na ilusão de poder capturar a plenitude. Resultado: milhares de fotos aprisionadas em um computador à espera de seleção. Algumas imagens incríveis, mas, agulhas no palheiro, raramente vistas.
        Com o tempo, eu fui me acalmando. Fiz uma lei própria de me permitir no máximo dois cliques por tema e aceitei que o trabalho de seleção ficará adiado para a minha aposentadoria.
        Hoje, meus filhos têm 15 e 13 anos, o superpoder da câmera-piscadela não é mais um sonho e já rola solto no mercado. Não é exatamente um aparato acoplado ao olho, mas temos nossos cliques disponíveis na ponta dos dedos. Nossos celulares e smartphones garantem vida eterna aos nossos melhores momentos e aumentam nossa angústia por capturá-los.
        É incrível o número de gente fotografando por aí. No outro dia fui a um casamento e parecia que os noivos tinham contratado uns 20 fotógrafos. O evento Facebook ainda catalisa essa ansiedade coletiva, pessoas na busca de suas biografias perfeitas. Não fotografou, não viveu.
        Vejo pessoas em momentos preciosos tingindo suas alegrias com o desespero de postá-las; me identifico, lembrando-me de meus bebês que me deixavam angustiada por não conseguir capturar a alegria que sentia em percebê-los. Porque é simplesmente impossível. Uma foto é uma frustração em si. Mata-se um pouco o que se clica.
        Amo fotografar, mas confesso que ando com certa gastura dos cliques. Porque uma pessoa é muito mais do que a melhor foto que se possa fazer dela. Cercados de imagens por todos os lados, vamos nos acostumando a ver a vida através dos cliques e à cada vez mais rara sensação de plenitude. Talvez estejamos vivendo todo esse excesso para finalmente aprender com os índios que as câmeras nos eternizam, mas também nos roubam a alma.

          Tensão pré-menstrual é lenda? - Juliana Cunha


          Pesquisa questiona a existência da irritação que antecede a menstruação; cientista que liderou estudo diz que mito do mau humor serve para menosprezar as mulheres
          JULIANA CUNHACOLABORAÇÃO PARA A FOLHANão há evidência científica de que a maioria das mulheres fique temperamental e irritadiça na fase que antecede o período menstrual.
          Pesquisadoras da Universidade de Toronto revisaram 47 estudos em língua inglesa que tentaram acompanhar alterações de humor femininas no ciclo menstrual.
          Resultado: apenas sete das pesquisas mostravam uma relação direta entre mau humor e período pré-menstrual.
          Coincidentemente, nenhum desses sete trabalhos que atestavam a existência da TPM tinha sido feito às cegas. Isto é: as participantes sabiam que o assunto pesquisado era TPM e podem ter sido sugestionadas.
          "Existe uma crença social de que as mulheres são instáveis, mal-humoradas e irracionais na semana que antecede a menstruação. Nossa pesquisa desconstrói essa tese. Descobrimos que a tensão pré-menstrual é um mito, algo que não acontece com a maioria das mulheres", afirma Gillian Einstein (isso mesmo, é o sobrenome dela), que é professora de psicologia e saúde pública e responsável pelo estudo.
          A pesquisa canadense foi feita por um grupo de cinco psicólogas e psiquiatras do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Saúde da Mulher e publicada em outubro deste ano pela revista acadêmica "Gender Medicine".
          As pesquisadoras consideram que a TPM seja uma espécie de lenda usada para diminuir as mulheres, mas não contestam a existência do transtorno disfórico pré-menstrual (TDPM) - doença que afeta 5% da população feminina e inclui sintomas como depressão, fadiga e insônia. Também não contestam as alterações físicas causadas pela menstruação, como cólica e inchaço. O foco do trabalho é só o humor.
          "Sabemos que existe uma queda hormonal nessa fase, mas isso não é suficiente para abalar a maior parte das mulheres. Poucas das entrevistadas que foram selecionadas de modo randômico e não sabiam o objetivo da pesquisa relataram ter TPM", explica Einstein à Folha.
          Para ela, a supervalorização da TPM encobre os reais motivos da irritação feminina: "Grande parte das mulheres vive em condições estressantes, com acúmulo de tarefas e falta de suporte social e econômico. É preciso ter uma visão mais crítica sobre a TPM, pensar em quem lucra com essa explicação simplista de que mulheres ficam mal de vez em quando porque essa é a natureza delas", conclui.
          A tese mais aceita pelos ginecologistas hoje é a de que a TPM é fruto de uma queda dos níveis hormonais. Ao se preparar para a menstruação, o corpo reduz a produção de estrogênio e progesterona, o que implica em redução na produção de serotonina e noradrenalina, neurotransmissores que controlam o humor.
          EXISTE, SIM
          A compulsão por doces que as mulheres sentem nesse período é uma das provas de que TPM de fato existe, diz a ginecologista Carolina Ambrogini, da Unifesp: "O açúcar forma triptofano, substância que serve como substituto momentâneo da serotonina".
          Segundo a médica, 80% das mulheres sofrem de algum sintoma no período pré-menstrual, como cólica e enxaqueca. Dessas, 40% têm alterações de humor.
          "Existe muito exagero em torno da TPM. As mulheres não ficam descontroladas, a maioria tem uma mudança de humor muito sutil. Mas daí a negar a existência dessa condição já é demais", opina.
          Para reduzir os efeitos no humor, a ginecologista recomenda que a mulher faça exercícios para produzir endorfina e durma menos: "Parece esquisito, mas a produção de melatonina, hormônio que regula o sono, usa serotonina. Dormir um pouco menos economiza serotonina".

            Toda escola é igual - Rosely Sayão


            Toda escola é igual
            Tanto faz esta ou aquela, considerando que as instituições de ensino seguem um modelo ultrapassado
            Muitos pais estão fazendo uma verdadeira procissão a escolas procurando a melhor delas para matricular seu filho no próximo ano.
            Vários deles procuram a escola perfeita, outros procuram uma instituição que seja amigável para o filho que tem determinadas características de comportamento, de relacionamento ou de aprendizagem. Há ainda os que procuram um colégio "puxado" e também os que procuram uma educação com métodos "alternativos".
            Qual será a melhor escola para colocar o filho? Já que muitos pais estão nesta época envolvidos com tal questão, valem algumas reflexões a respeito de nossas escolas.
            Vamos começar a pensar nas instituições avaliadas como boas pela maioria dos pais. Vale a pena considerar os motivos de tal avaliação, os quais, aliás, são bem diferentes mesmo quando dizem respeito à mesma escola.
            Boas avaliações em exames nacionais e aprovação de muitos alunos em determinadas faculdades costumam ser índices que agradam a muitos pais. Espaço físico imponente e presença de tecnologia também. Há ainda a tradição familiar: os pais -ou um deles- estudaram na escola, assim como os avós, e conseguiram realização profissional e financeira.
            Há também os que ficam satisfeitos porque percebem que o colégio transmite um volume grande de conteúdo nas disciplinas ministradas e isso parece bom, mesmo que exija que o filho tenha de recorrer a aulas particulares para acompanhar o ritmo.
            Depois das bem avaliadas há as medianas e as consideradas "fracas". Por último, as públicas, pelo menos para a classe média.
            Por que os pais colocam seus filhos em escolas que consideram apenas medianas ou fracas? Em geral porque são as que conseguem pagar ou então porque acham que o filho não irá acompanhar uma escola mais forte.
            Pois está na hora de repensarmos essa questão. Das escolas mais bem avaliadas às consideradas mais fracas, todas seguem o mesmo padrão de ensino. Conhecemos bem a organização dessas instituições porque nós passamos por elas, assim como nossos pais e avós.
            E essa organização, por mais ultrapassada que seja, acaba por nos passar a ideia de segurança. Falsa segurança, é bom ressaltar. Sabe por quê, leitor?
            Porque essa ideia de escola não ensina o aluno a pensar, não contempla as diferenças entre eles, não oferece oportunidades para a conquista da autonomia, não promove a paz, a boa convivência, a liberdade, tampouco as relações democráticas.
            Esse modelo de ensino mata a sede de conhecimento, a curiosidade, a vontade de pesquisar e de questionar. Essa escola quer alunos medianos e obedientes, é isso.
            Então quer dizer que essa instituição é decadente? Sim, caro leitor, absolutamente decadente e ultrapassada. E por que, então, existe até hoje? Porque queremos que exista. Fazemos de tudo para manter esse modelo, até mesmo colocamos parte da responsabilidade dele nos pais! Queremos que essa organização permaneça porque nos parece conveniente, afinal.
            Se você acha que seu filho aprende bastante desse jeito, você não imagina o quanto ele poderia aprender em uma instituição que tivesse como centro o aluno e não as disciplinas do conhecimento organizadas de modo linear e em objetivos mensuráveis.
            Se você acha que seu filho não gosta de estudar, você não faz ideia de quanto prazer ele poderia ter em decifrar os enigmas do conhecimento em uma escola que não se interessasse tanto pelas respostas, e sim por boas perguntas.
            Considerando esse modelo que as instituições de ensino seguem, tanto faz esta ou aquela porque, no fundo, são todas iguais. São mais parecidas do que você imagina.
            Se você quiser pensar mais a esse respeito, vale muito a pena assistir ao filme "La Educacion Prohibida", disponível com legendas em português no endereçohttp://tinyurl.com/laeducacion

              Quadrinhos


              CHICLETE COM BANANA      ANGELI

              ANGELI
              PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

              LAERTE
              DAIQUIRI      CACO GALHARDO

              CACO GALHARDO
              NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES
              FERNANDO GONSALES
              MUNDO MONSTRO      ADÃO

              ADÃO
              BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
              ALLAN SIEBER
              MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

              ANDRÉ DAHMER
              GARFIELD      JIM DAVIS
              JIM DAVIS

              Charge


              CHARGE

              Estado de graça - Maria Esther Maciel‏


              Estadod e Minas: 27/11/2012 
              Fazia um frio ameno em Nova York quando saí do hotel para tomar o metrô em direção à residência de um casal de amigos americanos. Era o Thanksgiving Day, Dia de Ação de Graças, uma das datas mais celebradas nos Estados Unidos. Nesse dia, todos expressam sua gratidão pelo que receberam de bom no ano que termina. Uma festa do agradecimento. 

              Já falei desses amigos aqui, recentemente. Ele é maestro; ela, cantora lírica. Moram numa casa de quatro andares, nas cercanias da Universidade de Nova York. O relógio marcava exatamente 18h02 quando toquei a campainha. Martha e Henry receberam-me de braços abertos e conduziram-me ao segundo andar, onde fui apresentada a uma simpática italiana, que estava hospedada com eles. Logo depois, chegou um senhor calvo e bonachão, cheio de sacolas, dizendo que tinha feito algumas tortas para a sobremesa. Apresentou-se como Jimmy. Segundo Martha, ele é um especialista em cenários de ópera e foi quem decorou a casa para o casal.

              De fato, o andar em que estive – onde ficam a cozinha e uma enorme sala com dois ambientes – se assemelha bastante a um espaço cenográfico. Muitos objetos, muitos quadros, tapetes e panos de várias cores, estampas e texturas. Os móveis são antigos e devem ter sido adquiridos em antiquários. Quem olha para a parede do fundo, à esquerda, vê dois violinos dependurados ao lado de um grande quadro de natureza-morta e uma cortina bordada. Dois pianos ocupam o primeiro ambiente do salão. Um deles foi todo coberto de pinturas com motivos renascentistas. “Os quadros foram pintados pela Martha”, contou o maestro, orgulhoso dos talentos da esposa. Uma cristaleira cheia de antiguidades completa o cenário do fundo. Já a mesa de jantar estava cuidadosamente preparada para a ocasião, com flores e velas. Da cozinha vinha um delicioso aroma de especiarias. 

              Logo, me convidaram para ver o jardim daquele andar. “Temos quatro jardins na casa”, explicou Henry. “Cada um corresponde a uma estação do ano, em homenagem a Vivaldi”, acrescentou. Em seguida, me chamou para ver seus “filhos”: dois gatos muito peludos, chamados Cassandra e Odisseu. Disse-me ainda que eram três até o ano passado, quando o mais velho, Perseu, teve um ataque cardíaco e morreu.

              O jantar foi um exagero. Há muito tempo eu não via tanta comida, em variedade e quantidade. Como Henry tinha feito todos os pratos, ele queria que experimentássemos tudo. Na hora da sobremesa, foi outro excesso. Havia quatro tipos de tortas e Jimmy fez questão que provássemos todas. Aí veio a hora do brinde de agradecimento. Henry pediu que cada um apresentasse seu maior motivo de agradecimento do ano. Todos já tinham bebido bastante vinho nesse momento. Quando chegou minha vez de agradecer, criei coragem e relatei que tinha sobrevivido a um grave problema de saúde no início do ano e estava feliz por continuar viva. Henry, então, falou algo no ouvido da mulher e levantou-se, dizendo: “Em homenagem à nossa amiga brasileira, Martha vai cantar para ela.” 

              Ele se sentou ao piano; ela se colocou de pé, ao lado dele. E fizeram um belíssimo concerto, deixando-me em estado de graça. 

              Ao sair da casa deles, tive certeza de que tinha todos os motivos do mundo para celebrar a vida.

              Tereza Cruvinel - Tremor federativo‏

              Algo vai mal quando 24 unidades federativas partem para o confronto com outros dois estados por causa de recursos, aprovando no Congresso uma lei que afeta contratos em vigor 

              Estado de Minas: 27/11/2012 
              Não por acaso os constituintes de 1988 incluíram o sistema federativo entre as cláusulas pétreas da Constituição: aquelas que nem o Congresso pode modificar e que só podem ser alteradas pelo poder originário do povo, por meio de plebiscito ou referendo. As autoridades da República também podem responder por crime de responsabilidade se atentarem contra o regime federativo. Essas balizas foram criadas porque a Federação dos estados, base da nacionalidade, embora tão real, é delicada como um cristal. O momento não chega a ser de crise, mas é de estremecimentos federativos. A passeata de ontem no Rio de Janeiro, reunindo 200 mil pessoas contra o projeto de lei dos royalties, sob o lema “Veta, Dilma”, teve na vanguarda o governador Sérgio Cabral (PMDB), o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e os senadores Francisco Dornelles (PP) e Lindbergh Farias (PT). Foi uma expressão desse tremor. Há outros temas na agenda contribuindo para aumentá-lo.

              Algo vai mal quando 24 unidades federativas partem para o confronto com outros dois estados por causa de recursos, aprovando no Congresso uma lei que afeta contratos em vigor. Algo vai mal quando o Executivo deixa um assunto dessa gravidade tramitar ao laissez faire, só entrando em cena quando a correlação de forças para a votação já fora criada. O rolo compressor estava montado, há tempos, para a votação, na Câmara, do projeto aprovado pelo Senado, justamente a Casa que deve zelar pelo equilíbrio federativo. 

              Uma outra questão que joga água nesse moinho é a da repartição das receitas do Fundo de Participação dos Estados (FPE). O relator, senador Walter Pinheiro (PT-BA), tenta pactuar um texto satisfatório, mas seu trabalho é quase solitário. O tempo está passando e o Supremo deu prazo ao Congresso para aprovar a matéria até o fim do ano, sob pena de não haver redistribuição dos recursos no ano que vem. Sempre que não faz sua tarefa, o Congresso permite a judicialização do assunto. E, com isso, o poder do Supremo vai se espraiando.

              O projeto de renovação antecipada das concessões do setor elétrico, para forçar a baixa das tarifas, embora necessário, enfrenta resistências de Minas e de São Paulo, que se queixam da forma impositiva com que foi apresentado. Não menos grave é a questão das dívidas, que vêm sendo renegociadas, mas ainda enfrenta pendências, especialmente com os dois estados mais ricos. E há ainda a proposta da União para unificar as alíquotas do ICMS, que alimentam a guerra fiscal entre governos e governadores. A unificação, também necessária, exige esforço de negociação.

              A Federação está sendo tratada com descuido, diz o senador Aécio Neves: “O Palácio do Planalto trata as questões federativas com negligência, seja por imperícia política ou por cálculo fiscal, para manter a concentração de recursos nos cofres da União”. 

              Sérgio Miranda
              O mundo fica pior cada vez que perdemos um dos nossos melhores. Sérgio Miranda foi um homem público exemplar, um intelectual de resultados e um ser humano excepcional. As convicções políticas o guiaram desde os 15 anos, quando começou a militar no movimento estudantil em Fortaleza e entrou para o PCdoB. Foi preso em Ibiúna em 1968 e expulso do curso de matemática da UFCE. Vieram anos de clandestinidade. Viu companheiros, como Helenira Resende e Robson Gurgel, partirem sem volta para o Araguaia. Viu serem trucidados pela ditadura dirigentes como Pedro Pomar e Angelo Arroyo. 

              Conheci-o na CPI dos Anões do Orçamento, em 1993. Havia chegado à Câmara como suplente de Célio de Castro e logo se destacou pela combatividade e pela aplicação aos temas de seu maior interesse na esfera do Estado: a dívida pública, os direitos sociais e previdenciários, as questões orçamentárias, as telecomunicações. Logo apareceria nas listas dos mais influentes. Tinha causas, não interesses. Ajudei modestamente na divulgação de alguns, destacando a parceria com ele e Walter Pinheiro para impedir, no governo FH, que os recursos do Fust fossem apropriados pelas teles.

              No início do governo Lula, votou contra a reforma previdenciária e foi punido com uma suspensão pelo PCdoB. O PT fez o mesmo com seus dissidentes. Esse ato de força desnecessário contra quem dedicara 43 anos à legenda comunista dividiu sua vida. Saiu do partido, entrou para o PDT, mas não se elegeu em 2006 nem em 2010. A perda do mandato certamente cortou-lhe parte do oxigênio que nutria seu DNA político. 

              Combatente, Sérgio era também um homem culto e sensível, amante das artes e da literatura, especialmente da poesia. Por sua partida, tomo emprestada a primeira estrofe de Funeral blues, de Auden, poema de que ele muito gostava: “Detenham os relógios/calem o telefone/joguem um osso ao cão para que não ladre mais/façam silêncio os pianos/e o tambor sancione o féretro/que sai com seu cortejo atrás”.

              Europa 
              Em Portugal, a crise europeia produz uma onda de privatizações que faz lembrar os tempos áureos do neoliberalismo. O embaixador Francisco Ribeiro Telles, em conversa com jornalistas brasileiros, diz que não havia saída para o déficit nas contas públicas e a falta de recursos para investimentos. O governo já privatizou 11 grandes hospitais do Estado. A TAP será vendida e os portugueses torcem para que o vencedor da licitação seja o brasileiro José Efromovich, dono da Avianca. Mas as privatizações incluem ainda empresas de água, energia, transportes e até mesmo um dos canais da RTP, a histórica TV pública de Portugal.

              Madagascar na Paulista


              Azaleias dão lugar a pândanos africanos na avenida símbolo da cidade; 'estrangeirização' dos canteiros da via é criticada por ambientalistas
              Jorge Araujo/Folhapress
              Plantas africanas no canteiro central da avenida Paulista
              Plantas africanas no canteiro central da avenida Paulista
              OLÍVIA FLORÊNCIACOLABORAÇÃO PARA A FOLHA
              Nos canteiros centrais da avenida Paulista, saem azaleias que secaram e entram plantas ornamentais originárias da ilha de Madagascar, na África.
              As 47 jardineiras da avenida, símbolo paulistano, agora têm três pândanos cada uma. A árvore africana, com folhas que se formam em espiral, pode chegar a até dez metros de altura.
              O projeto é uma parceria entre a Prefeitura de São Paulo e o HCor (Hospital do Coração), que vai bancar tanto o plantio como a manutenção. Os canteiros laterais também terão novas espécies.
              A intenção é que ainda sejam plantadas no canteiro central palmeiras-triângulo, espécie também originária do país africano. As duas espécies exóticas já são produzidas e vendidas no Brasil.
              O paisagista responsável, Marcelo Queiroz, diz que a escolha das plantas foi determinada pelo espaço.
              Segundo ele, por causa do metrô, as raízes das plantas não têm para onde crescer e, caso fosse escolhida uma espécie grande, ela poderia ter uma raiz que estragaria o asfalto ou desceria aos túneis.
              "Uma opção seria a bromélia, mas seu uso é proibido por causa da água que ela acumula, podendo causar a reprodução do mosquito da dengue", explica Queiroz.
              Para o paisagista, um diferencial do projeto é o fato de que, dessa vez, consta no plano o cuidado diário das plantas, que custará cerca de R$ 250 mil por mês.
              CRÍTICAS
              Márcia Hirota, diretora de gestão do conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, afirma que o ideal é que essa arborização fosse realizada com espécies brasileiras, adaptadas para um espaço pequeno.
              "A Mata Atlântica tem uma diversidade imensa de espécies, daria para transformar esses espaços com opções nativas. Trazer espécies que não são daqui choca", diz.
              Segundo o engenheiro agrônomo e consultor ambiental Geza Arbotz, o Jardim Botânico de São Paulo e o Instituto Agrônomo de Campinas oferecem opções de plantas de pequeno porte que poderiam ter fim decorativo.
              Mas o engenheiro pondera: "Falta pesquisa. Temos poucas plantas com o ciclo [de reprodução] dominado. Mesmo assim, há opções para todos os gostos na flora brasileira. Não é fácil encontrar nos viveiros, mas é possível".
              Para Arbotz, há na escolha o peso da moda. "A maioria das plantas que usamos no paisagismo Brasil são estrangeiras. Tem aqui também uma questão de gosto", afirma.
              ALTERNATIVAS
              O botânico Ricardo Cardim criticou a iniciativa em seu blog, o Árvores de São Paulo. Na postagem, classificou o fato de as espécies serem africanas como "um absurdo".
              "Em vez de uma palmeira-triângulo, por exemplo, poderia ser usada a palmeira-jerivá [espécie brasileira]", diz o especialista à Folha.
              Outra opção, afirma, é a clusia, arbusto nativo da serra da Cantareira. "Poderiam colocar também espécies frutíferas de pequeno porte, como a lântana. Isso tudo resulta de uma situação de pouca pesquisa."
              Queiroz, paisagista responsável, diz que espécies brasileiras também serão usadas. Segundo ele, foi pedida uma autorização da prefeitura para plantar ipês (roxos, amarelos e brancos), pau-brasil e pau-ferro nos canteiros laterais.

              Poeta da canção - Ailton Magioli‏

              Documentário mostra a trajetória do letrista Murilo Antunes, autor de clássicos românticos como Nascente e Besame. Parceiros e músicos da nova cena de Minas participam do longa 

              Ailton Magioli
              Estado de Minas: 27/11/2012 
              Ao som de Era menino, na voz de Beto Guedes, e a caminho de Pedra Azul, no Vale do Jequitinhonha, onde passou a infância, Murilo Antunes, de 60 anos, lembra que não faz ou escreve poesia quando quer. “Acho que é quando ela quer”, poetiza o letrista do Clube da Esquina, que lança hoje à noite, no Usiminas Belas Artes, em sessão para convidados, o longa-metragem Como se a vida fosse música. 

              Relato da rica trajetória do mineiro de Montes Claros que encontrou em Belo Horizonte o ambiente ideal para desenvolver sua carreira artística, o documentário, com direção de cena de Fernando Batista (Noir Filmes), chega ao mercado em formato de DVD, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Há possibilidade de a trilha sonora sair em CD caso Murilo consiga captar mais recursos.

              “Agora facilita, porque os custos ficam mais baixos”, comemora o letrista. Os registros musicais do filme foram feitos em estúdio, pois nas locações usou-se playback. Integrante do seleto time de letristas do Clube da Esquina, ao lado de Márcio Borges, Ronaldo Bastos e Fernando Brant, Murilo é autor de cerca de 250 letras de canções gravadas, entre as quais se destacam pérolas como Nascente e Besame, da parceria com Flávio Venturini. 

              É dele também a letra de Viva Zapátria, a parceria com Sirlan que rendeu aos autores uma passagem pela Censura Federal na década de 1970. A canção disputou a atenção do júri do 7º Festival Internacional da Canção (FIC), em 1972, no qual sagrou-se vencedora Fio maravilha, de Jorge Ben Jor. A canção que batiza o documentário sobre a trajetória do letrista é parceria com Nelson Angelo. Autor de dois livros de poemas – O gavião e a serpente, de 1979, e Nossamúsica, de 1990 –, Murilo Antunes também integrou duas coletâneas de prosa, Éramos felizes e sabíamos e Amor na zona.

              A atividade de letrista é mais de bastidores, conta Murilo. Isso se deve ao próprio ofício, justifica, salientando que autores de letras deixam o posto de popstar para os cantores. “O nosso trabalho de escrita é mesmo mais introspectivo”, explica. Entretanto, nesse DVD ele está o tempo inteiro em cena. À exceção de Vinicius de Moraes (Vinicius – O filme, de Miguel Faria Jr.) e Humberto Teixeira (O homem que engarrafava nuvens, de Lírio Ferreira), nenhum outro letrista virou filme no Brasil. Há também o documentário Palavra encantada, de Helena Solberg, sobre relação da poesia e a música por meio do trabalho de compositores como Chico Buarque e Paulo César Pinheiro, entre outros.

              Satisfeito com o resultado de Como se a vida fosse música, Murilo já tem reunião agendada no Canal Brasil para negociar a exibição do filme, além de planejar inscrevê-lo em festivais de cinema. “Estou feliz com o resultado pelo trabalho imenso que deu e pela generosidade dos parceiros. Sem a disponibilidade deles seria impossível fazer o filme, que teria preço exorbitante”, ressalta o letrista. Nesse documentário ele conseguiu reunir gente como João Bosco e Milton Nascimento em torno de sua música.

              Atualmente, além da estreia da parceria com o pianista Andre Mehmari, Murilo Antunes está escrevendo letras para melodias inéditas do cantor e compositor Sérgio Santos.

              No palco


              Para driblar as dificuldades para exibir o filme, Murilo Antunes anuncia a criação de pocket show com a participação de seu filho, João Antunes (guitarra), Flávio Henrique (teclado) e Vitor Santana (voz e violão). A estreia foi marcada para 13 de dezembro, no Feitiço Mineiro, em Brasília. Em seguida, ele pretende se apresentar em bares e teatros. “Enquanto meus companheiros de cena interpretam as músicas, vou declamar poemas meus, de Manoel de Barros e de Vinicius de Moraes”, informa.

              MURILO ANTUNES: COMO SE A VIDA FOSSE MÚSICA

              Exibição do filme para convidados, hoje, às 21h30, no Belas Artes, Rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes. Na quinta-feira haverá sessão aberta ao público, no mesmo local e horário. O DVD será vendido a R$ 40. 

              As canções
              Besame 
              (com Flávio Venturini), com João Bosco

              Ciranda, Pierrot e Solidão 
              (com Flávio Venturini), com Flávio Venturini

              Era menino 
              (com Tavinho Moura e Beto Guedes), com Beto Guedes e Rodrigo Borges

              Era uma vez por toda vida 
              (com Flávio Henrique), com Paulinho Pedra Azul, Flávio Henrique e Murilo Antunes

              Findo amor 
              (com Tavinho Moura), com Susana Travassos

              Nascente 
              (com Flávio Venturini), com Paula Santoro

              Nem nada 
              (com Beto Lopes), com Vander Lee

              O trem tá feio 
              (com Tavinho Moura), com Mônica Salmaso

              Quadros modernos 
              (com Toninho Horta), com Cobra Coral

              Rosário de Mariá 
              (com Tavinho Moura), com Tavinho Moura

              Saudade eu canto assim 
              (Tavinho Moura), com Tavinho Moura

              Tesouro da juventude 
              (com Tavinho Moura), com Flávio Venturini e Tavinho Moura

              Vero 
              (com Natan Marques), com Mariana Nunes e Vítor Santana

              Viva Zapátria 
              (com Sirlan), com Sirlan e Pablo Castro

              Viver, viver 
              (com Lô e Márcio Borges), com Milton Nascimento e Lô Borges

              Muito prazer 
              Ângela Faria
              Publicação: 27/11/2012 04:00
              Em Como se a vida fosse música, Murilo Antunes e Ronaldo Bastos afirmam que a letra de uma canção é apenas coadjuvante da melodia. Ao bom verso, diz Ronaldo, cabe o papel de honrar dignamente esse papel. Será? Há controvérsias...

              O documentário de Murilo Antunes joga luz sobre o letrista e seu ofício. Até hoje, Nascente é trilha sonora de namorados, Besame tem embalado muita dor de cotovelo por aí. Viva Zapátria faz a gente chorar pela triste América mãe. Se foi amordaçada pelos generais nos anos de chumbo, é marcada 
              pela cruel desigualdade social neste século 21. Nada fica datado no cancioneiro muriliano. 

              Nossas palmas sempre aclamaram os donos da voz. Esse novo filme, mineiro da gema, tem o mérito de apresentar o rosto (e a verve) de quem põe as palavras em nossa boca. Muito prazer, Murilo Antunes. Que lindo poema você dedica a BH. Que showzaço você oferece para mostrar suas canções, reunindo gente das antigas como João Bosco, Toninho Horta, Tavinho Moura e Sirlan à nova geração.

              Que venham documentários sobre Fernando Brant, Ronaldo Bastos, Márcio Borges, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro e tantos outros mestres da palavra. 

              Brasil e suas vozes - João Paulo‏

              Disco do grupo vocal Calíope reúne obras escritas por Villa-Lobos para diferentes formações. Repertório vai de temas do canto orfeônico à peça criada sobre o poema José, de Drummond 

              João Paulo
              Estado de Minas: 27/11/2012 
              A obra de Heitor Villa-Lobos (1887-1959) é ampla e variada, se espalhando por mais de 50 anos em diversos formatos e instrumentações. Além disso, o compositor foi mestre em escrever para orquestra, instrumentos solistas (violão, piano e violoncelo) e vozes. Para completar, inventava instrumentações, mesclava erudito e popular, pesquisava fontes populares que iam da música indígena à africana, em diálogo sempre digno com a tradição europeia. Uma das mais ambiciosas áreas de sua produção é a obra para coro a capela, ainda pouco conhecida e valorizada.

              Há muitos motivos para isso, desde a inscrição das peças no projeto político do Canto Orfeônico (o que dá uma impressão de didatismo e certo autoritarismo), até o uso de elementos tratados com desprezo por parte dos especialistas. O disco Vozes do Brasil, do grupo vocal Calíope, com regência de Julio Moretzsohn é um passo importante para mudar esse panorama. Em 17 peças, são apresentadas as principais características da música vocal de Villa-Lobos, com direito a surpresas, como a versão do compositor para o poema José, de Carlos Drummond de Andrade.

              Quem examinar a lista de obras de Villa-Lobos vai perceber que o compositor sempre teve o coral a capela entre suas possibilidades. São pelos menos 200 obras, que vão de uma Ave Maria, de 1914, à peça Bendita sabedoria, composta um ano antes da morte do maestro. Além da dispersão no tempo, há vários jogos de vozes nos arranjos do compositor, que chegou a escrever um de seus mais importantes temas, a Bachiana brasileira nº 9, para orquestra de vozes, ainda que tenha ficado mais conhecida em sua versão orquestral.

              A seleção de peças do disco do Calíope percorre todas as facetas do trabalho com música vocal de Villa-Lobos. A começar pelas músicas que fazem parte o ciclo de canções do Canto Orfeônico (Villa-Lobos chegou a produzir duas coleções, uma para alunos e outro para o Orfeão dos Professores), que se inspiram nas várias manifestações da cultura brasileira. Assim, há canções de temática afrobrasileira, como Xangô, Jequibau e Estrela é lua nova (que ganha um solo belíssimo de Lina Mendes); caipira ou sertaneja, com Bazzum, Remeiros de São Francisco e Papae Curumiassú; e indígena em Duas lendas ameríndias.

              Prelúdio e fuga Outros temas curiosos trazem elementos da cultura portuguesa, como Vira; e nordestina, em As costureiras, que o compositor descreve como “embolada”. Nesta peça, o coral se divide entre o fundo, que evoca o barulho das máquinas, e as vozes que entoam uma melodia triste, um canto de trabalho melancólico. O disco traz ainda o arranjo original para a Bachiana nº 9, na verdade um prelúdio de fuga criativo e grandioso.

              As duas peças mais raras do disco têm como texto poemas de Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade. Do poeta pernambucano, Villa-Lobos transforma em música Invocação em defesa da pátria, de 1943, escrito no clima nacionalista da entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, arranjada para vozes femininas. No entanto, o ponto alto fica para a belíssima versão do célebre José, para coral de vozes masculinas, que recheia ainda de mais angústia o longo poema de Drummond.

              O trabalho merece ainda destaque pela qualidade das informações do encarte e pelo cuidado em reproduzir todas as letras, o que é um elemento fundamental para a fruição das peças em sua inteireza. 

              Canto Orfeônico

              Durante o Estado Novo varguista (1937-1945), Villa-Lobos desenvolveu projeto de ensino musical a partir do canto coral. Para isso, criou o Curso de Pedagogia de Música e Canto Orfeônico, dando origem ao Orfeão de Professores. A proposta didática chegou a milhares de estudantes, com canções originais do maestro e peças arranjadas a partir da cultura popular brasileira.

              Sexo e erotismo - Francisco Daudt


              Sexo e erotismo
              Nossa espécie arrumou sofisticações para o impulso sexual, e a maior delas é o amor
              Está bem que nosso primeiro e mais basal motor para viver é o impulso sexual (o gene egoísta quer reprodução, por isso nos ilude com a isca dos prazeres), como qualquer outro vivente sexuado. Mas a nossa espécie, em sua complexidade, arrumou sofisticações para a coisa, e a maior delas é o amor.
              Os campeões de pensar o amor continuam sendo os gregos clássicos, de 2.400 anos atrás. Eles reconheciam três formas distintas de amor: Eros, Filia e Ágape.
              Eros fala do desejo se expressando nos sentidos, como excitação, e no cérebro, como embriaguez. No coração e nos genitais, ambos pulsantes, na pele que se arrepia, na visão que se turva, na face que enrubesce, no equilíbrio que se perde, na voz que falta, na paixão que arrebata, no animal que irrompe, no ímpeto de tomar, na lassidão de se entregar. A um tempo telúrico e delicado, tectônico e sutil, a mais evidente força da natureza em nós. Ainda estão para inventar prazer maior que o da excitação romântica. Nada se compara à felicidade sexual que faz ver passarinhos verdes, e que só acontece quando a chave e a fechadura certas se encontram, coisa rara. Assim é Eros.
              Filia é a amizade, o encontro das almas, o porto seguro, a confiança aliada ao respeito. A consideração (que é ter o outro dentro de si), o bem querer e querer o bem. O lugar da intimidade emprestada com gosto, da compreensão, da compaixão (que é o sofrimento partilhado), do acolhimento da alegria e da tristeza, da saúde e da doença, da riqueza e da pobreza pelos tempos afora. Qualquer semelhança com os votos do casamento é totalmente intencional, pois não há um que perdure sem que a filia tenha crescido entre os dois.
              Ágape é a camaradagem, a ligação dos companheiros, seja da boa mesa, seja da torcida pelo esporte. É a liga entre correligionários, do partido ou da religião mesmo, que às vezes se confundem. São os contendores do frescobol, o esporte sem contenda, voltados que estão para construir beleza em suas jogadas, um escada do outro. Os colegas de turma, que almoçam nos aniversários redondos de formatura e se atiram bolinhas de pão. Sócios do mesmo clube, os seguidores do mesmo Twitter, do Facebook, parceiros do baralho na pracinha. Aqueles que se reúnem para tirar um carro do atoleiro e depois não se encontram mais. Dão passagem no trânsito, lugar para os mais velhos. Colegas de excursão. Colegas.
              Os vários tipos de amor se entrelaçam, ou, pelo menos, não são categorias estanques, e é bom que seja assim. Eros surgindo na Filia, Filia no Eros, Ágape passeando entre eles...
              A pornografia é curiosa. Em sua origem significa "registro da prostituição". É, como a outra, comercializável. E pode, como a outra, ser ou não plena de Eros. Carlos Zéfiro da minha adolescência continha Eros, sedução. Os filmes de hoje, que já começam na aeróbica, têm pouco Eros. Ou o fetiche voyeurista é seu próprio Eros?
              Mas meu interesse é perceber como a espécie trouxe complexidade ao comando genético que leva à reprodução, e o leque de possibilidades que nosso desejo contempla.