domingo, 13 de abril de 2014

MARTHA MEDEIROS - A dor do crescimento

Zero Hora 13/04/2014

Eu tentava descrever como era aquela dor, mas não encontrava jeito. Acontecia nas pernas, nas duas ao mesmo tempo. Não era fadiga muscular, não era um machucado, nem torção, nada tinha inflamado, eu não havia batido com elas numa mesa, nem tropeçado, não parecia nem mesmo dor, e sim um incômodo, um alerta interno. Eu podia caminhar, até correr, se quisesse. Mas não estava tudo bem, e quando eu vencia a vergonha de não conseguir explicar exatamente o que sentia e me queixava daquilo que nem parecia existir de tão aleatório alguém dizia: não esquenta, é a dor do crescimento.

Um diagnóstico poético demais para uma criança. Como assim, dor do crescimento? Eu crescia numa velocidade irritantemente lenta, tão poucos centímetros por ano, não acreditava que esse ganho ínfimo de estatura, imperceptível, pudesse originar dor. Dor vem do choque, vem do baque, deixa marca, tem motivo, não poderia nascer assim de um alongamento que ninguém conseguia enxergar a olho nu.

Reumatismo também não era, porque reumatismo era doença de avós. Tudo bem que eu já estivesse com quase 11 anos, mas não era assim tão velha.

“É dor do crescimento, menina, todo mundo tem, não te bobeia. Já já passa”.

Não passou. Apenas subiu das pernas para o coração e depois foi ainda mais para cima, alojando-se no cérebro. Abandonou os membros inferiores e passou a fazer turismo em duas regiões de mais prestígio. Essa transferência aconteceu logo que eu parei de alongar verticalmente e virei o que se chama por aí de gente grande e estabilizada.

Mas gente grande continua crescendo?

Pois é. Não me peça para explicar, porque sigo não encontrando um jeito de. Às vezes dói no peito, às vezes na cabeça, às vezes nos dois lugares ao mesmo tempo, mas não há nada sangrando, e também não é fadiga, mesmo já se tendo vivido bastante e cansativamente. Torção... Não, também não. De novo, ninguém esbarrou numa mesa, nenhuma parte do corpo ficou roxa, não é um arranhão, nem parece dor.

Então é o quê? Um esgotamento por fazer sempre as mesmas perguntas irrespondíveis, por se retorcer com questões que aparentam ter soluções simples, mas não têm, por não aceitar que seja difícil o que deveria ser fácil, por se flagrar tendo reações contundentes quando a vontade era de chorar baixinho, por tentar estabelecer uma forma de vida que organize o caos, mesmo sabendo que o caos está sempre atrás da porta rindo das nossas tentativas de controlá-lo. Nada fica roxo, mas turva a visão. Nada deixa cicatriz aparente, mas não fecha. Fica aberto, latente, insistentemente lembrando a existência daquilo que não se explica, sobre o qual pouco se conversa, mas que, de alguma forma, também faz a gente ganhar em estatura.

Ainda é a dor do crescimento, e não cessa.  

TeVê

TV paga

Estado de Minas: 13/04/2014


 (Gloob/Divulgação )


Infantil O canal Gloob estreia amanhã, às 20h30, a série O mundo de Mia (foto). Na animação, inédita no Brasil, Mia é uma menina de 12 anos que passa a viver em um colégio interno após a morte dos pais. A partir da herança – uma pulseira e um livro antigo sobre unicórnios –, a garota faz uma descoberta: ela é capaz de se transportar do mundo real para o paraíso de Centópia, tornar-se um elfo e conversar com unicórnios.

Documentários Novidade também no canal History, que estreia a minissérie Barrabás em dois episódios, que serão exibidos hoje e amanhã, às 22h. Como sugere o título, a produção relata a vida do personagem bíblico que tem sido lembrado como o grande pecador, cuja vida e liberdade foram dadas em troca da condenação de Jesus, morto crucificado. No NatGeo, o destaque é o especial Cidades para conhecer, às 21h15, levando o assinante a uma viagem passando por Hong Kong, Londres, Paris, São Paulo e Nova York.



Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br

Sexo, cigarro e uísque

Don Draper começa a se despedir do público. Hoje, nos Estados Unidos, e amanhã, às 21h, no Brasil, a HBO lança a primeira parte da sétima e última temporada de Mad men. Serão sete episódios neste ano, outros sete em 2015, e tchau. Um dos grandes personagens da TV na atualidade, o publicitário, envolto em mistérios e mentiras (até na sua própria identidade), conseguiu, apesar da falta de ética profissional e pessoal, suscitar paixões – e a interpretação de Jon Hamm contribuiu e muito para tal. Sem muito o que dizer, já que a série sempre se furtou a dar spoilers, o protagonista vive mais uma crise. É o início do fim, mas, se for como os seis anos anteriores, com muito estilo. Aproveitando o lançamento, o Netflix colocou no ar toda a sexta temporada.

Recorde – Ainda a HBO: o capítulo inicial da quarta temporada de Game of thrones, domingo passado, foi sem dúvida o melhor início de todos os anos da superprodução. Já foram confirmados mais dois anos da série, inspirada na saga fantástica de George R. R. Martin. O primeiro episódio bateu todos os recordes de audiência. Nos EUA, teve média de 6,6 milhões de telespectadores, a maior marca da TV americana.

Hormônios
– Na quarta-feira, às 21h, o +Globosat estreia a segunda temporada de Puberty blues. A série australiana, baseada no livro de Kathy Lette e Gabrielle Carey, trata da vida sexual de adolescentes e seus conturbados relacionamentos com os pais no fim da década de 1970.

Policial – Estreia hoje, às 23h, no Universal Channel, a série Chicago P.D., produzida por Dick Wolf, criador da franquia Law & Order. A série é um spin-off de Chicago Fire, ou seja, deriva da atração original, repetindo personagens ou elementos da trama, e já tem a segunda temporada confirmada. A trama acompanha o cotidiano do Distrito 21 do Departamento de Polícia de Chicago.




DE OLHO NA TELINHA » Em total atividade
Simone Castro

Glória Menezes no papel de Violeta: vovó prafrentex do seriado Louco por elas  (Globo/Divulgação)
Glória Menezes no papel de Violeta: vovó prafrentex do seriado Louco por elas

Faltam avós no mercado da ficção. Pelo menos é o que dá conta notícia recentemente divulgada – e não comentada pela emissora – que afirma que atrizes da Globo, na faixa etária de 70 anos ou mais, estariam se recusando a assumir os papéis por julgar aparentar menos idade. Exceções? Fernanda Montenegro e Laura Cardoso. No entanto, o que se vê na telinha mostra que atrizes veteranas e do primeiro time do canal têm atendido perfeitamente à convocação.

Atualmente no ar como a maravilhosa dona Picucha, do seriado Doce de mãe (Globo), não é de hoje que Fernanda Montenegro vive avós meigas, como essa que a levou ganhar o Emmy de Melhor atriz no ano passado. Em Passione (2010), foi a matriarca Bete Gouveia e no remake de Saramandaia (2013) a adorável dona Candinha. Mas, Fernanda também encarnou uma peste, Bia Falcão, em Belíssima (2005).

A última personagem de Laura Cardoso foi a avó Veridiana, uma sábia, em Flor do Caribe (2013). Antes, apenas para situar as mais recentes, foi a Mariquita de Araguaia (2010), Glória, mãe de Lineu (Marco Nanini), em A grande família (2011), e Maria Doroteia, revelada como a ex-prostituta Dodô Tanajura em Gabriela (2012).

Quem disse que Glória Menezes não cumpre – e muito bem – sua cota de avós? Antes de reaparecer na telinha como a monja Pérola na maturidade, no último capítulo de Joia rara, ela participou do seriado Louco por elas (2012) no papel da vovó descolada e prafrentex Violeta. Ela vivia tudo o que tinha direito e só fazia o que lhe dava na telha. Até torcer pelo Fluminense, mostrando orgulho de integrar a torcida jovem. Ao longo da vitoriosa carreira, a atriz interpretou avós de todas as facetas. Sempre com sua total dedicação.

Atrizes em atividade que interpretam avós não são poucas. Nathalia Timberg foi Bernada, avó de Félix (Mateus Solano) em Amor à vida. Em Força de um desejo (1999), foi uma avó trambiqueira, que vivia de armações. Já em Insensato coração (2011), era uma empresária tão poderosa e arrojada quanto uma avó cheia de ternura.

Yoná Magalhães foi uma avó difícil, Glória, nos primeiros capítulos de Sangue bom (2013), que se deixou tocar pelo amor aos netos com os quais passou a conviver. Já em Cama de gato (2009), a personagem Adalgisa só sabia transmitir seus valores retorcidos para os netos. Eva Wilma, em Desejo proibido (2007), foi a avó manipuladora Cândida, que influenciava negativamente o neto. Em A indomada, a vilã Maria Altiva não era, evidentemente, uma avó que cheirasse. E como aprontou!

Nicette Bruno tem uma galeria de avós memoráveis. A última foi a Santinha de Joia rara. Em uma novela antes, Salve Jorge (2012), encarnou Leonor, alguém que tinha um coração imenso que abrigava os amigos, netos e os filhos do enteado. E viveu a excepcional avó Iná em A vida da gente (2011). Já Susana Vieira, a Pilar de Amor à vida, se derretia pelos netos. Na minissérie Lara com Z (2009), a atriz decadente não estava nem aí para a filha. Mas, perdia o ar durão quando se tratava da neta. Nas mãos de qualquer uma dessas atrizes, as avós, do bem e do mal, estão muito bem representadas.

PLATEIA

VIVA

Questão de família, série com Eduardo Moscovis no GNT (TV paga), dirigida por Sérgio Rezende.

VAIA
Uma pena que bom texto e ótimas interpretações sejam desperdiçados na arrastada Em família. 

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Polêmica mulher‏

EM DIA COM A PSICANÁLISE » Polêmica mulher 
 
Regina Teixeira da Costa
Estado de Minas: 13/04/2014




O que quer uma mulher? Esta pergunta feita e refeita por tantos estudiosos jamais foi respondida por nenhum deles, simplesmente porque o feminino é essencialmente enigmático. O feminino porta misterioso movimento, posto que não é tão exposto como é a posição viril. A virilidade é posição que pode ser assumida também por mulheres, e o é, como hoje vemos tantas vezes.

Mulheres frequentemente sustentam postura fálica e pretendem deter mais poder que os homens, disputando e agindo como que pretendendo se igualar até mesmo subjetiva e sexualmente a eles. Enganosa posição.

Se a igualdade civil foi por nós conquistada, e essa luta valiosa nos deu os direitos que temos hoje, podemos afirmar que valeu a pena. Mas a igualdade civil não nos torna iguais aos homens. A menos que mulheres ajam por identificação, imitando a forma de ser masculina. Isso sim, as igualaria ao homem. Mas seria vantajoso desejar tal posição, se tanto criticamos o machismo?

Um aparte me permite dizer que o machismo é ainda em grande escala sustentado por mulheres. Mães criam seus filhos dando a eles maiores prerrogativas que às filhas. Ainda há as que não ensinam os filhos a participar nas tarefas e nos cuidados do lar, ou que desejam que eles provem sua masculinidade (haveria aqui também a tentativa de garantir que o filho não seja homossexual) conquistando todas, e ainda afirmam que aquelas, as que foram seduzidas, são mulheres fáceis. Incrível ainda existir no mundo mulheres assim, mas é muito comum.

Tudo o que podemos dizer sobre o desejo da mulher é que ela quer ser desejada. E, para ser desejada, precisa ser feminina e portar atributos dessa posição. Pois, que homem desejaria uma mulher masculina, viril, daquelas que batem o porrete na mesa? Nem mesmo os homens querem mais ser assim!

Há um tempo, um rapaz me falava que as mulheres se enfeitavam, colocavam roupas insinuantes e penduricalhos pelo corpo, como  brincos, colares e pulseiras cujo objetivo seria o de provocar os homens e se tornarem mais desejáveis, chamando a atenção.

Achei interessante a colocação, e pertinente, porque as mulheres de fato querem causar o desejo do homem e ser causa do desejo dele. E podem até, na relação, em determinados momentos, permitir ser tomadas como objeto de desejo. Isso é muito prazeroso.

O que não é bom é que a mulher esteja todo o tempo ou exclusivamente em lugar de objeto. Ser objetificada e ficar restrita a esse lugar. Isso não!

Mulheres são sujeitos desejantes e podem transitar entre posições de sujeito e objeto, sem por isso se sentirem rebaixadas. Quando dava aulas na universidade, ensinava a minhas alunas que se seus namorados e maridos comparassem os pratos preparados por elas com os das mães e aludissem à superioridade destas, que não se ofendessem tanto. Mãe ocupa o lugar sagrado. Mulheres nem tanto. E é isso que permite aos homens o acesso sexual a elas. Que então se alegrassem e dessem à mãe o direito de prevalecer no lugar sacralizado e proibido sexualmente para o acesso filial.

Quando falo de ficar todo o tempo em lugar de objeto, pretendo me aproximar cuidadosamente da polêmica da última semana acerca do estupro. Em nenhuma circunstância podemos aceitar que uma mulher deva ser culpada por esse crime. Nada justifica a violência pela força desse ato injustificável, ignóbil e repulsivo.

Penso igualmente que as mulheres devem repensar seu lugar e não confundir o anseio de ser desejada com uma oferta que transforma seu corpo em objeto-oferta, erotizando-o excessivamente. E sabemos bem que, no Brasil, há excessivo apelo sexualizando corpos femininos. Exemplo: a Adidas teve de recolher camisetas da Copa porque traziam convidativas imagens dos bumbuns das brasileiras como cartão-convite na paisagem carioca.

Devemos repudiar o abuso e a violência e, ao mesmo tempo, incentivar posturas que igualmente recusem o rebaixamento das mulheres a meros objetos sexuais. Causar o desejo não se reduz ao erótico ou ao apelo sexual. Trata-se de outra coisa...  

Tereza Cruvinel - Os ventos no radar‏

Os ventos no radar 

Começa a ficar claro que haverá segundo turno na disputa presidencial. A outra variável diz respeito à competitividade de cada candidato da oposição 

 
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 13/04/2014


O que acontece no Brasil neste momento é uma forte ventania política, a poucos meses da eleição presidencial, decorrente de uma mistura de elementos que são reais, mas estariam sendo tratados de outro modo se não houvesse uma disputa em curso. E isso vale tanto para as denúncias envolvendo a Petrobras, que podem se agravar depois das diligências da Polícia Federal na sexta-feira, como para o cartel paulista, que teve a prisão de alguns envolvidos pedida no mesmo dia. Vale também para os pontos negativos da economia e as apostas do mercado, ditadas pelas perspectivas eleitorais. Se a presidente-candidata Dilma cai, a bolsa sobe, e vice-versa. Os ventos de agora afetarão a campanha com intensidade que ainda não pode ser medida, mas alguns rumos da campanha já começam a ganhar contornos claros.

Uma variável importante é a da ocorrência ou não de segundo turno. Embora as pesquisas ainda indiquem a possibilidade de Dilma Rousseff se reeleger no primeiro turno, uma avaliação realista sugere que tal hipótese vai se tornando mais remota, embora tenha aparecido até na última pesquisa Datafolha, que registrou queda de 6 pontos nas preferências eleitorais pela presidente. Graças ao fato de seus adversários terem se mantido estacionados, Dilma preservou uma dianteira de 12 pontos sobre a soma deles. Uma vantagem pouco segura, pois, em algum momento, eles vão crescer. O quanto é que não se pode saber hoje. "Nem o PT se ilude com a possibilidade de vitória em primeiro turno, embora não admita isso", diz o senador do PSB do DF Rodrigo Rollemberg, escudeiro do candidato Eduardo Campos. A alta probabilidade do segundo turno é alimentada pelas quedas de Dilma e pela existência, neste ano, de dois candidatos de oposição competitivos, diferentemente do que ocorreu em 2006 e 2010. Nessas eleições, Lula e Dilma, respectivamente, embora favoritos o tempo todo, não levaram de primeira. Como a situação dela hoje é mais desfavorável, maiores são as chances de que isso se repita.

Havendo segundo turno, a outra equação importante, principalmente para a oposição, é sobre as vantagens de um e de outro candidato no enfrentamento final. A favor do senador mineiro Aécio Neves pesa o fato de o PSDB ser muito mais estruturado nacionalmente que o PSB, ter mais capilaridade e dispor de pelo menos duas grandes máquinas, os governos de Minas Gerais e de São Paulo, estados em que são hegemônicos há bom tempo e que congregam os dois maiores colégios eleitorais do país. Para os aliados de Campos, entretanto, ele é o candidato com mais chances de derrotar a presidente. Os socialistas mencionam pesquisas que apontariam diferentes capacidades de transferência de votos de um candidato para o outro. Se Aécio chegar lá, pode herdar parte do eleitorado de Eduardo Campos, mas uma boa parcela deles, identificada com a esquerda, refluirá para a candidatura petista. Aliás, como fez em 2010 boa parte dos 20 milhões de eleitores que votaram em Marina Silva no primeiro turno. "Eduardo é o mais competitivo no segundo turno porque receberia praticamente 100% dos votos dados a Aécio no primeiro turno", diz o senador Rollemberg. Essa equação certamente permeará os discursos de campanha e poderá influir no resultado do primeiro turno.

O voto útil é um apelo ao eleitor para votar no candidato que, mesmo não sendo o de sua primeira preferência, tem mais chances de derrotar o adversário principal. O PSB dá sinais de que fará esse tipo de apelo na reta final do primeiro turno.

Tudo isso, entretanto, parte do pressuposto de que a candidata do PT, para o que der e vier, será mesmo Dilma. Mas essa é a equação que ainda não tem resposta. As variáveis são o desempenho dela nos próximos meses e a disposição de Lula e do PT para, se for preciso, impor uma substituição que será desgastante e que pode deixar sequela.

Marina e Eduardo
Será intenso hoje o desembarque de filiados do PSB e da Rede em Brasília para a festa de amanhã de lançamento pré-oficial da chapa Eduardo Campos-Marina Silva. "Vamos dar a largada, depois de superada a fase de ajustes, e, depois, ganhar a estrada. Juntos ou separados, eles visitarão as 150 maiores cidades brasileiras até junho", informa o deputado Beto Albuquerque, do PSB. "Este rito será um momento importante. O Brasil perceberá mais nitidamente que eles se uniram para formar uma chapa ímpar, pelo peso e representatividade de cada um", diz o ex-prefeito de Manaus Serafim Correa.

Livros, cultura e política
A Esplanada estará ocupada nos próximos dias pelos pavilhões da 2ª Bienal do Livro de Brasília, que vence o teste da sobrevivência com esta segunda edição, o que muito devemos ao dinamismo de seu idealizador, Nilson Rodrigues, afora o apoio do governo do Distrito Federal. Num ano eleitoral e no cinquentenário do golpe de 1964, não poderia faltar o acento político, afora a presença de grandes nomes nacionais e internacionais da literatura e de outras áreas. A abertura, anteontem, com uma homenagem ao escritor uruguaio Eduardo Galeano, foi sinal disso. Com ele, algumas gerações aprenderam muito sobre as veias abertas e as dores seculares da América Latina. Outro homenageado será Ariano Suassuna, que revelou ao Brasil o sentido do sertão nordestino e a riqueza de sua cultura. Afora saraus, lançamentos de livros, peças de teatro e projeções de filmes, a programação inclui debates sobre os 50 anos do golpe e outras questões políticas. A série "Narrativas guerrilheiras", em que atuo como mediadora, começa hoje, com Alfredo Sirkis, às 20h.

BRASIL LEGAL » Aprovados, com louvor‏

BRASIL LEGAL » Aprovados, com louvor Documentários para a GloboNews e quadros para o Fantástico, da Rede Globo, assinados pelos diretores Luiz Bolognesi e Laís Bodanzky, mostram que a escola pública pode dar certo



Gracie Santos
Estado de Minas: 13/04/2014


Diretor e roteirista do Educação.doc Luiz Bolognesi durante as filmagens do documentário que mostra escolas públicas de sucesso no Brasil     (Fotos: Buriti Filmes/divulgação)
Diretor e roteirista do Educação.doc Luiz Bolognesi durante as filmagens do documentário que mostra escolas públicas de sucesso no Brasil


Não existe uma saída para as escolas públicas no Brasil. Existem várias. Não há mágica ou fórmulas, mas é possível ter ensino público de qualidade ainda que em regiões distantes ou violentas. É o que mostra a série de documentários assinada pelos cineastas Luiz Bolognesi (Uma história de amor e fúria) e Laís Bodanzky (Bicho de sete cabeças). Educação.doc tem roteiro e direção dele, codireção dela.

Os programas de 25 minutos que estão sendo exibidos aos domingos, às 20h30, pela GloboNews (TV paga – o segundo vai ao ar hoje), e os inserts de 6min a 8min mostrados no Fantástico, da Globo (foram exibidos quatro e ainda serão mostrados dois), reproduzem a realidade (privilegiada) de oito escolas do Piauí, Ceará, Bahia, Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo.

Em cena, experiências que deram certo a partir do trabalho coletivo de alunos, professores e comunidade. Com depoimentos importantes de diretores, autoridades, pensadores da educação e formuladores de políticas públicas. Num dos casos, o da Escola Municipal Presidente Campos Salles, em Heliópolis (SP), os muros foram derrubados numa demonstração de segurança contra a violência vizinha. Interessante também é a participação de pessoas do meio artístico (o rapper Emicida, o artista plástico Vick Muniz e a atriz Camila Pitanga, entre outros), personagens da sociedade brasileira que estudaram em escolas públicas, como o próprio diretor Luiz Bolognesi.

Com ritmo embalado por trilha do Barbatuques (grupo brasileiro de percussão corporal criado em 1995 pelo músico paulistano Fernando Barba), os documentários, que segundo Bolognesi já foram assistidos por 30 milhões de pessoas, têm boa cadência e linguagem acessível. A ideia “é fazer o Brasil inteiro ver que é possível mudar o paradigma da escola ruim. E que isso faça as pessoas pensarem: ‘quero uma escola assim para o meu filho.’ É preciso participar porque se esperarmos pelo poder público, nunca vamos ter isso. Podemos sensibilizar o país para buscar uma escola melhor”, afirma Bolognesi.

Estratégia
Para se aproximar do grande público, eles não abriram mão da complexidade da informação. “Não diluímos em água, a forma é didática mas tem ritmo. Essa foi a estratégia para falar com milhões de pessoas”, explica o diretor, que fugiu da pegada de denúncia. “Meu sentimento era de outra ordem, iluminar experiências que deram certo, mostrar o que fez as coisas funcionarem (e o audiovisual tem esse poder de colocar luz sobre as coisas). Em vez das celebridades do Big brother, queríamos mostrar que com essas crianças dessas escolas você pode discutir o que quiser. Porque elas leem, estudam, têm professores brilhantes de escolas com diretores excepcionais, escolhidos por concurso e competência, e não indicados por políticos.”

Bolognesi não se esquece de que o nível das escolas brasileiras ainda é muito baixo. Mas, avisa: “A boa notícia é que, o que era uma água parada, faz uns 10 anos que está se mexendo. Se as pessoas não se movimentam e partem sempre do princípio de que tudo é uma porcaria e não fazem sua parte, as coisas não mudam nunca. Resolvemos focar no outro lado, mostrar que no mesmo lugar pobre, na mesma favela violenta podem haver escolas funcionando, passando valores, com competência, com alunos aprendendo português e matemática, medalhistas em química”.

O processo de criação
Foram seis meses de pesquisas para a realização dos filmes. Eles partiram de escolas com bons resultados do IDEB, em áreas pobres, com IDH baixo, e saíram a campo para descobrir como uma escola em área pobre pode dar resultado. “Fizemos primeiro uma viagem precursora, para conhecer os lugares. Depois, saímos para identificar os personagens e, num terceiro momento, partirmos para as entrevistas. Decidimos, também, ouvir depoimentos de pensadores como Tião Rocha e Maria do Pilar Lacerda, entre outros, pessoas que estão envolvidas nas políticas públicas, nos últimos anos, além de protagonistas de nossa história que saíram das escolas públicas, gente que pode comprovar que elas podem dar certo”, conta Bolognesi.

“A resposta para as perguntas que fizemos está nos filmes. Não tem mágica nenhuma, mas muito trabalho”, afirma o diretor, defendendo que “precisamos ter jovens mais capacitados para ser professores, investir na carreira do educador, selecionar diretores por seu mérito técnico e competência e não por meio de indicações políticas. Percebemos que em todas as escolas que funcionam não houve escolhas por apadrinhamento. São necessários testes de seleção, deve-se levar em conta a convivência deles com a comunidade”. Ele convida: “Vamos revolucionar as rede pública e, quem sabe um dia, a gente não vai querer tirar nossos filhos da escola particular para colocar numa pública?”.

Depois da exibição na GloboNews, a série de documentários será distribuída em DVDs encartados em um livro para 50 mil escolas da rede pública em todo o Brasil, ao longo de três anos, com o objetivo de inspirar novas iniciativas na educação.

Por que ver os documentários

Ponto forte do Educação.doc, além de roteiro redondo e trilha que potencializa a força das ações e das falas, são os depoimentos. Exemplo: a história narrada pelo educador Tião Rocha (veja box) sobre um aluno, Álvaro, que o ensinou a enxergar o papel do professor e hoje é seu “anjo da guarda” (“aparece sempre que me distancio do caminho que devo seguir”) é comovente. Entre outras coisas, Rocha revela que “indicava para os alunos da 7ª série os mesmos livros que passava para os da faculdade. Os da 7ª liam tudo e buscavam mais. “Havia rodas de bate-papo e discussão nos sábados e domingos, enquanto na faculdade os livros indicados ficavam pela metade.” E sempre que Rocha se lembrava que ia dar aula para o Álvaro no dia seguinte, ia para casa estudar, pois sabia que seria sabatinado. Há desde uma aluna do Piauí ao especialista Yves de la Taille falando sobre ética, e fala importante do rapper Emicida, contando que viveu o apartheid em sua sala de aula: “A professora punha os brancos assentados na frente e os negros atrás”. Episódio de destaque é também o que discute a escola do futuro. Muitos concordam que o educador vai perder o papel de informador para ser aquele que ajuda a filtrar o excesso de informações e a direcionar para o que o aluno quiser.


Bom exemplo




Alunos da Escola Municipal de Caimbongo (Ibitiara), na Chapada Diamantina (BA), região pobre do interior que está chamando a atenção dos especialistas pela surpreendente qualidade do ensino em 20 municípios. Lá, a educação vem melhorando ano a ano. A explicação: conseguiram que mudanças na política não interrompam projetos na educação.

Bom trabalho




Responsável por um dos depoimentos mais emocionantes do Educação.doc, Tião Rocha é educador, antropólogo e folclorista brasileiro, autor de obras de desenvolvimento cultural e comunitário, além de membro de várias organizações de fomento a iniciativas na área. Fundador e presidente do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), organização não-governamental sem fins lucrativos criada em 1984, em Belo Horizonte, que trabalha com educação popular e com desenvolvimento comunitário a partir da cultura.


Ensino  brasileiro

180 mil
escolas públicas

20 mil
escolas privadas

2 milhões
professores

44 milhões
alunos

Mais da metade das brasileiras desconhece a endometriose‏

Mais da metade das brasileiras desconhece a endometriose
 
Pesquisa revela falta de informação das mulheres em grande parte das capitais do país sobre doença que é uma das principais causas de infertilidade na população feminina


Augusto Pio
Estado de Minas: 13/04/2014


Ela afeta mais de 170 milhões de mulheres em todo o mundo, causa dor, sangramento irregular e é também uma das principais causas da infertilidade e perda de qualidade de vida entre a população feminina. No Brasil, são cerca de 6 milhões de mulheres sofrendo com a endometriose, sendo que 53% desconhecem a doença. O dado alarmante vem de pesquisa realizada este ano pela Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva (SBE), com apoio da Bayer. O levantamento foi feito com 10 mil mulheres, com idade acima de 18 anos, em Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador.

A pesquisa revelou que, em Porto Alegre, 68% das mulheres não sabem o que é a endometriose, enquanto, em Manaus, o número subiu para 82%. Em São Paulo e Brasília, 52% disseram nunca ter ouvido falar da doença. Em Recife, 72% das mulheres afirmaram já ter ouvido falar sobre o assunto; em Curitiba e Salvador, o percentual de conhecimento foi de 64%, e no Rio de Janeiro, de 54%. E reforça também que as mulheres ainda não estão bem informadas sobre a endometriose, o que acaba dificultando a detecção e tratamento da doença. Na capital mineira, apenas 27% das mulheres abordadas responderam conhecer a doença.

O ginecologista Benito Ceccato, professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais, explica que o endométrio é a membrana que reveste a cavidade uterina, “cuja função é receber o ovo fecundado. A placenta vai ser formada no endométrio e será a conexão do bebê com a mãe, fornecendo os nutrientes necessários para o desenvolvimento fetal. Todo mês, o endométrio prepara-se para receber o óvulo fecundado e, caso não ocorra a gravidez, ele descama junto do sangue (menstruação)”. “Assim, a endometriose é a presença de tecido similar ao endométrio fora da cavidade uterina, que também responde às variações hormonais, podendo descamar e sangrar durante o período menstrual”, diz.

O especialista esclarece que a endometriose pode ocorrer, teoricamente, em qualquer parte do organismo, sendo descritos casos raros de localização, por exemplo, na cicatriz umbilical, septo nasal e na pleura. “As localizações mais comuns são a cavidade peritoneal (peritônio é a membrana que recobre os órgãos do abdômen), os ovários, os ligamentos uterinos e intestinos. Os tipos, portanto, estão relacionados com sua localização: peritoneal, ovariana, profunda (quando acomete os ligamentos uterinos e o intestino terminal) e de outras localizações. Ressalte-se que a endometriose pode aparecer em mais de uma localização na mesma paciente.”

O especialista ressalta que as causas definitivas da endometriose ainda são pouco definidas. “Fatores genéticos e imunológicos estão relacionados com a gênese da doença. É sabido, também, que mulheres que postergam a gravidez, com perfil empreendedor, têm maior propensão à doença. Os sintomas estão mais relacionados com o período menstrual. O mais clássico é a dismenorreia (desconforto e cólicas menstruais) intensa e progressiva (piora com o passar do tempo).” Quando a doença surge em órgãos como a bexiga, pode haver sangramento ao urinar (hematúria), e quando a endometriose atinge o septo nasal, sangramento nessa região (epistaxe).

Ceccato salienta que os sintomas intensos da endometriose pioram muito a qualidade de vida das mulheres acometidas pela doença, que sofrem durante o período menstrual não apenas com as cólicas e o desconforto, mas também com sintomas psicológicos associados, que podem comprometer o relacionamento familiar e social. “As mulheres no período reprodutivo estão propensas à doença. Há fatores genéticos e imunológicos bem definidos que predispõem o desenvolvimento dela, assim como fatores comportamentais, como a postergação da gravidez.”

Um mal assintomático  - Augusto Pio




A médica Rivia Mara diz que a incidência de endometriose na população feminina é variável, pois em muitas mulheres os sintomas não aparecem (Leandro Couri/EM/D.A Press)
A médica Rivia Mara diz que a incidência de endometriose na população feminina é variável, pois em muitas mulheres os sintomas não aparecem


Rivia Mara Lamaita, presidente do Comitê de Reprodução Humana da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais, diz que a incidência de endometriose na população feminina é variável, devido à presença de uma grande porcentagem de mulheres que são assintomáticas e às limitações dos exames de imagem para evidenciar um diagnóstico preciso da doença. “É uma afecção ginecológica comum, presente na mulher principalmente durante seu período reprodutivo, podendo ser encontrada também entre adolescentes. As estimativas da doença dependem da população que está sendo avaliada.”

Segundo a médica, observa-se uma prevalência da doença em achados acidentais cirúrgicos em torno de 1,6 casos por 1 mil pacientes. Em mulheres assintomáticas, o problema está presente em entre 2% e 22% delas; entre 20% e 50% em pacientes que não conseguem engravidar espontaneamente; e nas portadoras de dor pélvica, a prevalência fica entre 40% e 50%.”

A médica esclarece que as principais consequências da doença são a dismenorreia incapacitante (dores tão fortes, que a mulher acaba se afastando das atividades diárias, como trabalho, vida social, academia), que habitualmente leva a paciente ao uso excessivo de analgésicos para controle do quadro ou ao pronto-atendimento para medicações intravenosas, e também o insucesso de tentativas de um casal com desejo de engravidar. “A dor pélvica cíclica ou acíclica, associada ao quadro de dispareunia (dor que aparece nos órgãos genitais durante ou logo após as relações sexuais) ou à mudança do hábito intestinal ou à dor ao evacuar, limitam e atrapalham a qualidade de vida da mulher, que se depara com limitações sociais durante esse período. Muitas vezes, há uma demora no diagnóstico da endometriose e a paciente vai experimentando um estresse enorme frente à falta de controle do quadro. A progressão da doença também pode alterar o funcionamento de outros órgãos e até obstruções quando comprometem o intestino ou bexiga. “

TERAPIA INDIVIDUAL Rivia ressalta que não há uma terapia curativa para a endometriose e o tratamento deve ser individualizado e voltado para as queixas relevantes de cada paciente. “Os sintomas de dor pélvica são tratados com analgésicos potentes e anti-inflamatórios, e a supressão hormonal na mulher auxilia muito no controle da endometriose. Podem ser usados contraceptivos combinados ou somente com progestágenos. Em casos mais graves, até bloqueios mais intensos com análogos do GnRH (hormônio estimulante de gonadotrofinas). Há casos que somente se beneficiarão com intervenções cirúrgicas.”

O inventário da cavidade pélvica, um exame bem minucioso feito por videolaparoscopia, é um dos melhores para obter um diagnóstico preciso para endometriose. “Durante essa intervenção, ao mesmo tempo que é feito o diagnóstico, é possível realizar a retirada dos focos comprometedores da endometriose e, assim, amenizar a doença e melhorar seus sintomas. Depois desse tratamento, as pacientes inférteis sem comprometimento tubário e sem outros fatores de infertilidade associados podem melhorar sua chance de engravidar, tanto de forma espontânea como com auxílio de um especialista.”

Eduardo Almeida Reis - Revisão‏

Revisão 
 
Depois de muitos anos sem grandes alterações nas lentes dos meus óculos, noto que passei a enxergar mal 
 
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 13/04/2014



Dia desses transcrevi como ruminança uma frase de um gênio alemão: “Todos, só porque falam, creem poder falar da língua também” (Goethe, 1749-1832). Relendo a matéria inteira, cerca de 850 palavras, senti que alguma coisa não soava bem na ruminança goethiana. Pensei que fosse o sublinhado vermelho em creem, invenção do maldito Acordo Ortográfico, que o corretor de textos do Word sempre muda para crêem.

Dia seguinte, depois de noite bem dormida, voltei às 850 palavras, retoquei algumas frases e a ruminança continuava saltando aos olhos, sem que o cavalheiro que a transcreveu soubesse por quê. Frase de Goethe, tradução de Paulo Rónai, revisão de Marco Antonio Varella Alliz, Umberto Figueiredo Pinto e Henrique Tarnapolsky, trinca de craques dos bons tempos da Editora Nova Fronteira, e algo soava mal.

Qualquer sujeito que não fosse o autor da transcrição descobriria o erro numa primeira leitura. Transcrevi “Todos, só porque falam, creem poder fala da língua também” e não me dava conta de “fala” em lugar de “falar”. Nada melhor neste suelto do que transcrever frase do próprio Goethe sobre erro tipográfico: “Cada vez que vejo um erro tipográfico, penso que algo novo foi inventado”.

Obesidade
Em São Paulo, a greve dos agentes penitenciários; no Rio, o tiroteio em favelas já ocupadas pelas UPPs. Através desses episódios vimos na tevê um fenômeno que tenho comentado aqui: a obesidade das senhoras das chamadas classes menos favorecidas. Os grevistas do presídio de Hortolândia, SP, permitiram que parentes levassem para os presos alimentos e produtos de higiene no dia normalmente marcado para visitas.

Parentes de presos em Hortolândia não são milionários listados pela revista Forbes. Até pelo contrário, devem ser mães, irmãs, esposas e filhas que nunca nadaram em ouro. E quase todas, seguramente mais que 70% delas, imensamente gordas, beirando a obesidade mórbida.

Considerando que os alimentos custam dinheiro, a parentela dos presos deve comer o dia inteiro selecionando os alimentos mais engordativos. Na favela de Manguinhos, onde bandidos trocaram tiros com a polícia e queimaram os contêineres que abrigavam uma UPP, a situação é parecida. Dia seguinte, ao sol do meio-dia, um repórter bordejou a favela metido em colete à prova de balas e tentou entrevistar duas brasileiras, uma que passava por ali, outra que estava sentada numa espécie de banquinho. Imensas, as duas, transbordantes de gorduras, quadros dolorosos de obesidade.

Manguinhos é região plana, mas nas favelas dos morros ainda sem teleféricos os quadros de obesidade são parecidos. Como é possível que uma senhora com excesso de peso da ordem de 80, 100 quilos consiga subir as ladeiras daqueles morros?

Oftalmologia
Oculística, oftalmiatria, oftalmologia, sabemos todos, é especialidade médica que se dedica ao estudo e tratamento das doenças e erros de refração apresentados pelo olho. Depois de muitos anos sem grandes alterações nas lentes dos meus óculos, noto que passei a enxergar mal. Culpei as lentes, uma de resina, outra de vidro, e marquei consulta num oculista recomendado.

Enquanto isso, divertem-me as leituras que faço na tela do computador, como esta: “Tetas grandes impulsionam compra de smartphone, diz pesquisa. Estudo afirma que penetração de smartphones cresceu 101% no Brasil em 2013”. Que diabo teriam as tetas com a penetração dos smarthphones?

Smart é elegante, inteligente, vivo, esperto, donde se conclui que smartphone deve ser celular inteligente. Por que, diabo, o telefoninho dependeria de inteligência para penetrar nas tetas, quando é sabido que diversas senhoras têm sido flagradas, ao entrar nos presídios para visitar seus maridos e senhores com dois ou três celulares escondidos nas genitálias das respectivas anatomias, e um cavalheiro, em Manaus (AM), foi flagrado transportando dois telefoninhos para um apenado que não era seu namorado, mas pagaria R$ 300 pela missão, digamos sem trocadilho, hercúlea. Hércules, semideus da mitologia grega, célebre pela sua força, escapou da missão porque foi semideus anterior à telefonia celular.

No dia em que escrevo, ando às voltas com uma conta de R$ 143 referente ao consumo de março de 2014 do número que tive em Belo Horizonte (031) até janeiro de 2013, substituído por dois chips (032) há exatos 15 meses. Não acredito que uma operadora de telefonia celular tente roubar R$ 143 de um cliente. A remessa da conta para o endereço juiz-forano só pode ter sido um erro, e é triste constatar que uma empresa gigantesca possa cometer tais errores. Volto à oftalmiatria para informar ao assustadíssimo leitor que o smartphone não penetrou nas tetas, mas nas telas grandes, provando que é hora de voltar ao oculista.

O mundo é uma bola
13 de abril de 1204: o cerco de Constantinopla pelas tropas da Quarta Cruzada termina com a conquista e o saque da cidade, coisa feia para os cruzados que diziam fazer uma guerra santa. Em 1598, o rei Henrique IV, da França, pelo Edito de Nantes confere liberdade de religião aos huguenotes. Você, leitor do EM, conhece os huguenotes? Já me hospedei na fazenda de uma huguenote, senhora finíssima. Hoje é o Dia Internacional do Beijo.

Ruminanças
“Porque, em suma, que mal pode fazer um beijo?” (António Nobre, 1867-1900).