Exposição moderada à luz solar reduz a pressão arterial e diminui risco de doenças
FLÁVIA MILHORANCE
flavia.milhorance@oglobo.com.br
O sol é como vinho, usado com moderação faz
bem à saúde. Num verão com dias seguidos de
altíssimas temperaturas, poucas nuvens e sol
inclemente, pelo menos uma notícia que não
nos faça fugir e buscar o ar-condicionado. Se
por um lado a exposição aos raios ultravioleta
aumenta o risco de câncer de pele, por outro,
traz benefícios que vão além da absorção de vitamina
D. Um novo estudo britânico mostra
que ela pode reduzir as chances de doenças cardiovasculares.
Cientistas defendem o equilíbrio:
sem exageros, o sol pode ser muito bom
para a saúde.
A informação é do “Journal of Investigative
Dermatology”, periódico do mesmo grupo da
revista “Nature”, que publicou em sua edição
desta semana uma pesquisa relacionando a exposição
ao sol à redução da pressão arterial, diminuindo,
assim, o risco de ataque cardíaco e
acidente
vascular cerebral (AVC). Segundo o
trabalho, a exposição aos raios solares eleva a
produção de um composto — o óxido nítrico —
já produzido pelo organismo e que influenciaria
o processo.
ÓXIDO NÍTRICO ESTÁ LIGADO AO VIAGRA
As doenças cardiovasculares, geralmente associadas
ao aumento da pressão sanguínea, respondem
por 30% das mortes anuais do mundo.
Há anos, pesquisadores notam que a pressão
arterial varia de acordo com a estação do ano e a
latitude. Tanto a pressão sistólica quanto a diastólica
são maiores nos meses de inverno e menores
no verão. Ou seja, o risco de doenças cardiovasculares
aumenta na estação mais fria e
em países longe da linha do equador. Muitos
atribuíam esta variação às mudanças de temperatura,
mas o estudo sugere que a exposição ao
sol pode ser a resposta.
Durante o experimento, a pele de 24 pessoas
saudáveis foi exposta a doses de luz ultravioleta
(UV). Em uma das sessões, os raios UVA foram
bloqueados, e os voluntários foram expostos
apenas ao calor de lâmpadas.
Os resultados da pesquisa realizada pelas universidades
de Southampton e Edimburgo, ambas
no Reino Unido, mostraram que a exposição
ao UVA dilata os vasos sanguíneos, diminui
significativamente a pressão arterial e altera os
níveis de óxido nítrico, sem modificar os níveis
de vitamina D. Produzido naturalmente pelo
corpo, o óxido nítrico é responsável pelo relaxamento
da musculatura vascular — o Viagra é
baseado nos processos bioquímicos dele — e
defende o corpo da ameaça de bactérias.
— Sabemos que o óxido nítrico está presente
em abundância na pele, e está envolvido na regulação
da pressão sanguínea. Quando expostas
à luz do sol, pequenas quantidades desta
substância são transferidas da pele para a circulação,
reduzindo o tônus dos vasos sanguíneos;
como a pressão arterial cai, o mesmo ocorre
com o risco de ataque cardíaco e acidente
vascular cerebral — comentou Martin Feelisch,
professor de Medicina Experimental e Biologia
Integrativa da Universidade de Southampton,
defensor dos benefícios do sol para a saúde.
Segundo ele, pode ser um momento oportuno
para reavaliar os riscos e os benefícios da luz solar
para a saúde humana. Evitar o excesso de exposição
é essencial para prevenir o câncer de
pele, mas evitar totalmente esta exposição pode
aumentar o risco de doenças cardiovasculares.
Segundo Feelisch, vivemos uma epidemia de
deficiência de vitamina D, muito devido à falta
de exposição ao sol. Isso principalmente em países
temperados, mas também em tropicais, como
o Brasil. Ela é importante, por exemplo, para
o sistema imune e a saúde óssea. Até agora, ele
afirma, os complementos à base desta vitamina
não têm surtido efeito. Por outro lado, um a cada
três cânceres diagnosticados no mundo é de
pele, o que representa mais de 2 milhões com
câncer não melanoma e outros 132 mil com o
melanoma, segundo a OMS.