terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Maria Ester Maciel-Um mestre para sempre (Eduardo Coutinho)‏

Um mestre para sempre 
 
Maria Ester Maciel
memaciel.em@gmail.com
Estado de Minas: 11/02/2014


Foi com tristeza e perplexidade que recebi, no início deste mês, a notícia da trágica morte de Eduardo Coutinho – cineasta brasileiro de primeira grandeza, que, com seus documentários magníficos, mexeu com a cabeça e a sensibilidade de muita gente no Brasil e no mundo. Um cineasta que, já com 80 anos, estava em plena atividade criativa.

Não conheci Eduardo Coutinho pessoalmente, nem nunca troquei qualquer palavra com ele por carta, e-mail ou telefone. Mas sempre o tive como uma pessoa próxima e querida, graças ao que me proporcionou nos seus filmes em termos de emoção e reflexão. Desde o primeiro que vi, Cabra marcado para morrer (1984), não tive dúvidas de que se tratava de um dos maiores cineastas brasileiros de todos os tempos. O que se confirmou nos filmes posteriores, como Edifício Master (2002), Jogo de cena (2007) e As canções (2011) – que foram os que mais me tocaram, entre todos.

Como se sabe, Coutinho foi um mestre da entrevista. Esse recurso foi o mais usado em seus documentários, tendo adquirido nuances cada vez mais peculiares de filme para filme. Coutinho cultivava um interesse genuíno por tudo o que é humano, e tinha um jeito especial para se aproximar e conversar com pessoas as mais diversas. Diante de sua presença tranquila e confiável, os entrevistados – em geral, pessoas comuns, anônimas – tendiam a se soltar, ficando à vontade para falar de suas próprias vidas. Isso se vê claramente nesses três documentários que mencionei. Neles, as pessoas falam de suas experiências de vida, contam histórias, choram, riem, e até revelam segredos. Coutinho não as intimida; não se impõe a elas. Seu rosto quase não aparece na tela, sua voz é baixa, e suas palavras, comedidas. Para ele, as pessoas são o que importa, e não o diretor-entrevistador.

O mais interessante nos filmes de Coutinho é a maneira como ele consegue misturar realidade e ficção. Essa mistura define sobretudo o Jogo de cena, que tive a alegria de rever no último sábado à noite, no canal Arte 1. O documentário é feito com depoimentos de mulheres comuns – que atenderam a um anúncio de jornal para relatar, diante da câmera, algum episódio marcante de sua vida – e atrizes que contam, à sua maneira, a mesma história dos relatos. A alternância entre as voluntárias e as atrizes acaba por diluir os limites entre quem viveu e quem interpreta as experiências narradas. Verdadeiro e falso, realidade e ficção se embaralham de forma impressionante. E o que é mais notável: em muitas cenas, a interpretação se torna mais convincente do que o próprio depoimento.

Em As canções e Edifício Master, o recurso é diferente, embora com semelhanças. No primeiro, as pessoas falam sobre as canções que mais as tocaram na vida. No segundo, 37 moradores de um enorme prédio residencial de Copacabana contam suas histórias de vida e apresentam seus pequenos apartamentos ao diretor-entrevistador. Com esses relatos comoventes (alguns impactantes), o cineasta conta também a história do próprio edifício que dá nome ao filme.

Eduardo Coutinho certamente ficará na história e na memória de todas essas pessoas que trabalharam com ele. E, é claro, ficará também na história e na memória de quem assistiu aos filmes que nos deixou.

Descanse em paz, grande mestre.

TeVê

Estado de Minas: 11/02/2014

TV paga



 (Discovery /Divulgação)

Corra que a polícia vem aí


O Discovery estreia hoje, às 20h40, a série O fugitivo, que acompanha Joel Lambert (foto), ex-integrante das tropas especiais da Marinha nos Estados Unidos, em uma versão extrema da brincadeira esconde-esconde. Lambert tem como principal objetivo fugir das unidades de rastreamento de pessoas procuradas, formadas pela mais alta elite militar e de segurança pública. Os sete episódios foram gravados nos Estados Unidos, Polônia, África do Sul, Filipinas, Panamá e Coreia do Norte.

Arquitetura é o forte  hoje no canal Curta!


Novidades também no canal Curta!, começando com o documentário Caminho Niemeyer, de Zelito Viana, às 22h, focalizando especialmente as obras de Oscar Niemeyer na orla de Niterói. Às 23h, Veio: sertão esculpido na memória mostra os trabalhos do escultor sergipano Cícero dos Santos. E às 23h30 estreia a série Arquiteturas, abrindo com o Centre Georges Pompidou, complexo cultural de Paris.

A&E reconstitui caso  de triplo assassinato


O episódio de hoje de Investigação criminal, às 22h30, no canal A&E, vai reconstituir os assassinatos da gerente comercial Eliana Faria da Silva e de seu marido, Leandro Donizete de Oliveira, ocorridos em 2006, na cidade de Bragança Paulista. O filho do casal, de 5 anos, e uma funcionária da loja deles, Luciana Michele de Oliveira Dorta, conseguiram escapar dos assaltantes, mas a moça morreu no hospital. Os ladrões acabaram presos e condenados.

Brasil tem tradição de bons documentários


Dirigido por Eduardo Coutinho, cineasta morto semana passada, o documentário Jogo de cena é o destaque de hoje do canal Arte 1, às 21h30. Coutinho colocou um anúncio no jornal e recolheu dezenas de relatos de mulheres, interpretadas na tela pelas atrizes Fernanda Torres, Andrea Beltrão e Marília Pêra. No Canal Brasil, às 22h, Esse amor que nos consome, de Allan Ribeiro, mostra a luta de um grupo de dança contemporânea que ocupou um sobrado abandonado no Centro do Rio de Janeiro, enquanto o imóvel não é vendido pelos proprietários.

Atriz Jennifer Aniston  completa hoje 45 anos

Jennifer Aniston faz hoje 45 anos e para marcar a data o canal Megapix programou três de seus filmes: Separados pelo casamento (20h25), Quero ficar com Polly (22h30) e Caçador de recompensas (0h15). Na faixa das 22h, o assinante tem mais seis opções: As sessões, no Telecine Pipoca; Moneyball – O homem que mudou o jogo, na HBO; O corvo, na HBO 2; A ilha, no Max Prime; Domino – A caçadora de recompensas, no Studio Universal; e Uma lição de amor, no Glitz. Outras atrações do pacote de cinema: Guerra de casamentos, às 21h, no Comedy Central; Xeque-mate, às 22h30, no FX; e o clássico O sol é para todos, à meia-noite, na Cultura.

Abujamra vai provocar  o cantor brega Falcão

Por falar em Cultura, Antônio Abujamra entrevista o cantor cearense Falcão no programa Provocações, às 23h30. Falcão é conhecido do público como astro brega, e ele assume: “Tem dois tipos de brega, é igual colesterol: o bom e o ruim”. Para completar, explica a origem do sucesso I’m not dog no e a empatia com seu público, que, segundo ele, vai de crianças a velhos.


CARAS & BOCAS » Porção atriz
Simone Castro



Marília Gabriela vai participar de série na TV paga, depois de dar o ar da graça em Chiquititas (Fernando Torquatto/Divulgação -12/1/12)
Marília Gabriela vai participar de série na TV paga, depois de dar o ar da graça em Chiquititas

Acostumada aos papos sérios ou descontraídos como entrevistadora, Marília Gabriela vai participar da série As canalhas, no GNT (TV paga), na estreia da segunda temporada, em abril. Ela vai estrelar um dos episódios no papel de Celina. No elenco, entre outros, Virgínia Cavendish, Fernanda Rodrigues, Sérgio Marone, Márcia Cabrita, Eriberto Leão, Alessandra Maestrini, Rainer Cadete, Sílvia Buarque e Dhu Moraes. Marília volta à teledramaturgia quase cinco anos depois da última atuação, na série Cinquentinha (Globo), de Aguinaldo Silva. Na quarta-feira, ela fez participação especial em Chiquititas como ela mesma. É que recebeu, em seu programa no SBT/Alterosa, o De frente com Gabi, o astro português Tomás Ferraz, que não passa de um disfarce do barista Tobias, interpretado por Pedro Lemos. Também aos domingos, a apresentadora comanda o Marília Gabriela entrevista, no GNT.

JORNALISTA FALA SOBRE A DOAÇÃO DE MEDULA

No Retratos desta noite, às 21h30, na TV Horizonte (canal 19 UHF), a jornalista Flávia Freitas vai falar sobre a campanha “Quinta do bem” nas redes sociais. Depois de perder o irmão e a prima para a leucemia, ela se lançou na campanha com o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância da doação da medula óssea e o quanto é fundamental para quem sofre da doença.

PAULINHO DA VIOLA FALA  DO SEU TIME DO CORAÇÃO


O cantor e compositor Paulinho da Viola fala do início de temporada de seu time, o Vasco, no Campeonato Carioca, no Cartão verde, hoje, às 22h, ao vivo, na TV Cultura. Grande nome do samba brasileiro, o músico, que nasceu no Rio de Janeiro e traz o Vasco da Gama em seu coração, tem no currículo sucessos como Coração leviano, Dança da solidão e Foi um rio que passou em minha vida. Mas futebol também integra seu repertório. Ao lado do também vascaíno Marcelo Camelo, Paulinho gravou sua versão do hino do cruz-maltino. Ele vai comentar o terceiro lugar que o clube ocupa hoje no estadual carioca, atrás de Fluminense e Flamengo.

ADVÉRBIO GANHA LUGA NA TELA DO CANAL FUTURA


Menos é um advérbio, portanto, invariável, mas quantas vezes não ouvimos alguém usando uma “concordância” com o gênero feminino? Produzida em parceria com o Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, a série Menas: o certo do errado, o errado do certo estreia este mês nos intervalos da programa do canal Futura (TV paga). O próprio título é uma provocação com o intuito de realçar a amplitude e a criatividade da língua. As 30 peças de animação apresentam de maneira simples e lúdica alguns dos “erros” linguísticos mais comuns no dia a dia do brasileiro e, em seguida, a maneira “correta” de falar segundo a norma culta. Neste mês, ainda, o telespectador também confere dicas de ciências exatas, na série de interprogramas Ciência em quadro, com princípios da matemática e da física por meio de diferentes modalidades esportivas. Mais: a série Jovens olhares traz histórias fictícias criadas por estudantes de um colégio do Rio de Janeiro a partir de temas que fazem parte do cotidiano, e Foto-grafias, uma sequência animada de imagens do fotógrafo Walter Firmo, que registrou ações educativas do canal em diferentes cidades do Brasil.

FIM DA LINHA

Acabou o The X factor nos Estados Unidos, depois de três temporadas. A versão importada do Reino Unido não teve a repercussão que Simon Cowell queria e na sexta-feira foi anunciado o seu cancelamento pela Fox (TV paga). Simon anunciou sua volta para a versão britânica do reality musical. “Tive um tempo fantástico ao longo dos últimos 12 anos, tanto no The X factor quanto no American idol. Além de ter a sorte de encontrar talentos incríveis nos shows, sempre tive uma recepção incrível do público americano (na maioria das vezes!)”, disse Cowell em comunicado oficial. Simon Crowell ainda completou: “No ano passado, por uma série de razões, tive que tomar a decisão de voltar para a versão britânica do The X factor em 2014. Então, por isso, estou de volta ao Reino Unido. Quero agradecer à Fox por ser um parceiro incrível, e também quero agradecer a todos que têm apoiado os meus shows. América, vou vê-la em breve!”, finalizou Simon.

VIVA
Com antecipação dos capítulos de Em família (Globo), a trama ganhou agilidade, especialmente nos últimos desfechos.

VAIA
Além do horizonte (Globo), que havia ganhado uma dinâmica maior, agora já enfrenta novamente uma certa lentidão.

Quem matou Santiago - Tereza Cruvinel‏

Quem matou Santiago 
 
Tereza Cruvinel
Estado de Minas: 11/02/2014


Estava escrito, desde o ano passado, que em algum momento teríamos um morto. Poderia ser um manifestante, um policial, um profissional da imprensa, como acabou acontecendo. É dolorosa a imagem captada pela TV Brasil, do corpo ferido do cinegrafista Santiago Andrade ao lado da câmera tombada. Foi um jovem trêfego que entregou para outro o rojão que o atingiu. Foram muitos, entretanto, os que armaram a mão detonadora. Destacam-se entre eles os que aplaudiram e incentivaram a delinquência política nas manifestações e os omissos do poder público, que temendo a crítica, não enfrentaram com a devida energia black blocs e assemelhados.

No crepitar da violência, sobra sempre para os inocentes. Santiago poderia ter outro nome e outra profissão: sua morte seria igualmente triste, seria igualmente um aviso de que o Brasil já se distanciou demais, como escrevi no domingo, do velho ideal do homem cordial. Agora, somos um povo com gosto de sangue na boca, seja no trânsito, no campo ou nas manifestações. Ainda que não atendesse por esse nome, já tivemos uma cultura da paz, que precisa ser resgatada. Mas como, se os jovens parecem não ter vínculos com o Brasil histórico, e agem como se tudo estivesse começando aqui e agora? Não foi para isso que muitos sacrificaram os melhores anos de suas vidas na luta pela democracia, para garantir que no futuro todos pudessem se manifestar? Mas não cobrindo o rosto e agredindo covardemente o próximo. Como disse Dom Orani Tempesta, o que se espera na democracia são manifestações “pacíficas, justas e fraternas”.

O próximo, neste caso, era um jornalista, o que eleva o fato à categoria dos crimes contra a liberdade de imprensa. Entidades patronais e sindicais se manifestaram ontem pedindo mais garantias para o exercício do jornalismo e a federalização destes crimes. A presidente Dilma mandou a Polícia Federal entrar nas investigações sobre a autoria. Tudo isso é devido a Santiago, embora não repare a dor de sua família. Nada disso evitará novos desatinos se os que governam não compreenderem que estamos cruzando uma fronteira perigosa. A reação dos black blocs é clara: disseram lamentar muito, mas convocaram novos protestos. Da mesma natureza.

Minas se move

Os movimentos eleitorais se intensificam esta semana em Minas, o segundo maior colégio eleitoral do país, que será decisivo para o resultado da eleição presidencial. Ontem pela manhã, o deputado e presidente do PSDB mineiro, Marcus Pestana, renunciou à pré-candidatura a governador em favor de Pimenta da Veiga. Unificado, o PSDB tentará agora recuperar o tempo perdido à espera de uma definição sobre o candidatura, inicialmente pleiteada por cinco aliados de Aécio Neves. Enquanto isso, o pré-candidato petista, ministro Fernando Pimentel, nadava de braçadas e fincava seu nome na dianteira nas pesquisas.

Agora é Pimentel que está com pressa para deixar o Ministério do Desenvolvimento e se jogar inteiramente na campanha pelo governo de Minas. Para isso, depende da escolha de seu substituo pela presidente Dilma. Seja como for, está marcada para sexta-feira, dia 14, uma pajelança eleitoral para ele, em que ninguém menos que Lula fará o lançamento oficial da candidatura.

Além de reeleger Dilma, o PT trabalha para desalojar os tucanos de São Paulo, onde estão há quase 20 anos, e de Minas, que governam há 12 ininterruptos. Já o PSDB tem o seu “cenário paraíso”, que seria a vitória de Aécio, sem perder nenhum dos dois estados. O confronto em São Paulo será pesado, por razões políticas, eleitorais e simbólicas, mas em Minas é que Aécio não pode perder mesmo. É lá que ele pretende alavancar uma diferença formidável sobre Dilma, arrastando 60% dos votos, para compensar o favoritismo dela no Nordeste. Por isso, ele cozinhou em fogo lento a disputa interna, até que restaram apenas Pestana – que muita gente dava como seu preferido no início do processo – e Pimenta, que nele ingressou tardiamente, quando se deslocou para Minas, no meio do ano passado, para coordenar a campanha de Aécio no estado. Em poucas semanas, virou candidato das cúpulas tucanas, embora Pestana tivesse mais apoio nas bases municipais. O próprio Pestana, entretanto, diz que não podiam esperar mais nem realizar processos mais democráticos, como prévias, por falta de tempo. Seu discurso de renúncia buscou sinalizar com o engajamento imediato na campanha de Pimenta, embora seus seguidores mais machucados com o desfecho ainda precisem ser mobilizados. “Retiro meu nome para apoiar com toda energia o nome de Pimenta da Veiga. Peço a cada companheiro que faça por ele como se fosse por mim.” O problema de Pimenta é o longo tempo fora do estado e mesmo da política, na disputa com um adversário que acaba de deixar um ministério poderoso e terá o apoio de Lula e Dilma.

CINEMA » Contador de histórias

CINEMA » Contador de histórias 
 
Cinco candidatos a Oscars têm a presença do narrador em off ou como personagem. Recurso de linguagem ajuda a esclarecer a trama, a mostrar um ponto de vista ou amarrar os fatos 
 
Gracie Santos
Estado de Minas: 11/02/2014


Jasmine (Cate Blanchett) é personagem central e narradora no filme de Allen (Imagem Filmes/Divulgação)
Jasmine (Cate Blanchett) é personagem central e narradora no filme de Allen

Cada vez mais presente na literatura contemporânea, a figura do narrador saltou para as telas de cinema e este ano ocupa espaço em pelo menos cinco filmes que concorrem a estatuetas do Oscar 2014: Álbum de família, Blue Jasmine, Gravidade, O lobo de Wall Street e Trapaça. Na primeira pessoa, como personagem principal; na terceira, como locutor imaginário, às vezes até como Deus, que conhece personagens e desfecho da trama; ou simples observador, que sabe apenas o que vê e ouve, o narrador pode se tornar personagem à parte, agradando a alguns e incomodando outros, principalmente quando se torna excessivamente didático.

A presença do recurso de linguagem em muitas produções que disputam troféus da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood este ano é apontada pelo crítico e escritor Rubens Ewald Filho como mera coincidência. Nada a ver com a tendência que vem sendo observada nos livros. “A maior característica dos filmes deste ano é que 90% deles estão baseados em fatos reais. E, no caso de Álbum de família, de John Wells, é autobiográfico, tem um pouco da história da família de Tracy Letts, autor da peça August: Osage county, sucesso na Broadway do qual o filme foi adaptado”, lembra o crítico. “O narrador surge como recurso tanto em filmes baseados em casos reais como em romances. É traço do cinema europeu, no qual há essa tradição literária, caso da França e da Inglaterra, por exemplo”, analisa Rubens.

Ele, particularmente, vem gostando cada vez mais da figura do narrador. “Tenho formação literária, leio muito, escrevo livros, escrevi novela. A crítica hoje rejeita qualquer forma de sentimento; um beijo que for sentimental, por exemplo, eles dizem que foi marketing. É preconceito, há casos em que é preciso ser didático”. Bom exemplo de narrativa didática é o capitão Nascimento, personagem de Wagner Moura em Tropa de elite (2007), de José Padilha. Criado exatamente para dar “liga” à trama, ele repete cena após cena o que o espectador acabou de ver, como se perguntasse: “Entendeu?”. “Tropa... é um filme particular, na medida em que estava lidando com uma situação da política. Não houve filme nos últimos anos que bateu contra o governo como ele. É único, já que os outros dependem do dinheiro público. Nesse caso, vejo o narrador didático até como necessidade”, afirma Rubens.

DESLOCAMENTOS O cineasta Beto Brant (O invasor, de 2001) conta que seu próximo filme provavelmente terá a figura de narrador em terceira pessoa. Não antecipa nada sobre a trama, mas diz que o livro do escritor e roteirista Marçal Aquino (leia entrevista) no qual será baseado (ainda inacabado) tem a figura desse narrador. A única vez em que utilizou esse mesmo recurso de linguagem foi no seu primeiro curta, Aurora (1987). Beto Brant defende que é fundamental, antes de escrever qualquer linha do roteiro, que o autor esteja ciente de que vai usar um narrador e qual papel ele terá.

“O narrador em terceira pessoa é independente, testemunhal”, explica, acrescentando que o filme narrado pelo próprio personagem está dentro do ponto de vista de quem está vivendo a trama, enquanto a terceira pessoa se mostra unipresente (“ele pode acompanhar o ator, vai com ele aonde ele for”). “Mas existem filmes com esse foco narrativo na primeira pessoa em que ela se desloca”, analisa, lembrando que em seu filme mais recente, Eu receberia as piores notícias de seus lindos lábios, a narrativa é feita pelo fotógrafo, apesar de não ter locução em off. “Não quer dizer que porque ele não existe a história não acompanhe o que ele vivencia, então, ele passa a ser narrador”, conclui, ensinando que num mesmo filme esse foco na narrativa pode se deslocar para outros personagens.

VISUAIS E ORAIS Professor de roteiro e jornalista, o mineiro Paulo Vilara usa um esquema simples em suas aulas para “candidatos” a roteiristas. Para começar, aborda a existência das narrativas e narradores visuais e orais. “Visualmente, um filme pode ser narrado sob o ponto de vista do diretor (câmera mostra a história como quem está de fora) e/ou sob o ponto de vista de um ou mais personagens”. E avisa: “Quando o ponto de vista é o de um personagem, a câmera é subjetiva.” No caso dos narradores orais há a figura do locutor imaginário (na terceira pessoa). “Nesse caso, ele pode ser onisciente, sabe de tudo, é uma espécie de Deus. Exemplo? “Soberba, de 1942, de Orson Welles. Ele próprio vai narrando e demonstra saber até o que o personagem pensa”. Já o narrador imaginário observador é o que sabe apenas o que vê e ouve. “Em Cidadão Kane (1941), o próprio Welles faz o papel. Recurso muito usado, o narrador como personagem na primeira está presente, lembra Vilara, em O homem que não estava lá (2001), dos irmãos Joel e Ethan Coen, e também em Memórias póstumas de Brás Cuba(1985), de Júlio Bressane, baseado em livro de Machado de Assis. “Nesse caso, o narrador conta a história mesmo depois de morto”, diz, lembrando que existem ainda narradores como personagens secundários, “que falam pouco ou quase nada durante a trama.”

SALVA-VIDAS

Recurso de linguagem, o narrador pode surgir para elucidar textos aparentemente confusos. Foi assim com Blade runner, o caçador de androides (1982), de Ridley Scott, que ganhou narração em off do ator Harrison Ford depois de pronto. A versão original foi considerada obscura pelos produtores e não funcionou nas sessões prévias nos EUA. O clima ficou tenso e Scott aceitou o narrador para “salvar” o filme, que mais tarde se tornaria cult.

O NARRADOR EM...

>> Álbum de família – No drama do diretor John Wells, a narradora, contadora de história aparentemente imparcial, é a personagem de Julia Roberts, Bárbara. A possibilidade da fala deslocada da situação que ela vive  dá a ela, às vezes, distanciamento para enxergar o que ocorreu com a família Weston, subjugada pela mãe Violet (Meryl Streep).

>> Blue Jasmine – Woody Allen ama narradores, muitas vezes é ele próprio quem faz o papel. Em Blue Jasmine, o papel é da personagem-título (Cate Blanchett), mulher forte, orgulhosa, egocêntrica, egoísta, sensível, mas também louca. Ela se vale também da memória, em flashbacks. Recorda o passado para mostrar o que a fez chegar onde está.

>> Gravidade – A aventura estelar de Alfonso Cuaron é contada pela doutora Ryan Stone, personagem de Sandra Bullock, de maneira contida, de modo a não deixar perceber se foram encontradas anotações, gravações ou se ela sobreviveu para contar o que enfrentou.


Em O lobo de Wall Street, personagem de Leonardo Di Caprio engana a plateia quando narra algumas cenas (Paris Filmes/divulgação)
Em O lobo de Wall Street, personagem de Leonardo Di Caprio engana a plateia quando narra algumas cenas

>>  O lobo de Wall Street – Filme de Martin Scorsese contado na primeira pessoa por Jordan Belfort (Leonardo Di Caprio), golpista e corretor da bolsa de valores que publicou livro sobre sua vida. No longa, muitas vezes o personagem se “confunde” e distorce o ocorrido. Numa segunda chance, o espectador conhece a história real.

>> Trapaça – O longa de David O. Russell tem narração off quase como personagem a mais. O casal central, Irving Rosenfeld (Christian Bale) e lady Edith Greensly (Amy Adams) comenta situações e até faz troça. Os dois mantêm praticamente um diálogo em off.


Três perguntas para... Marçal Aquino, escritor e roteirista

No caso de Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, o fotógrafo é o narrador... Quando você acha a presença dessa figura imprescindível numa trama?
No caso do filme Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios, não sentimos necessidade do uso do off. De toda forma, cabe ao personagem Cauby narrar a história, ou seja, a trama e os demais personagens são "apresentados" por ele. No livro era assim e resolvemos manter.

O narrador ajuda o roteirista a contar a história, facilita as coisas? Até que ponto ele tem poder sobre a trama?
A função dele, sem dúvida, é ajudar a contar a história. Isso pode ser feito criativamente e até de forma poética, dependendo do que se propõe. É só tomar cuidado para não ser óbvio ou over. Há um exemplo maravilhoso de diálogos em off no filme novo do Scorsese, O lobo de Wall Street. Ficou divertidíssimo. Muitas vezes, o narrador, presente de forma marcante, não é confiável. Quando Leonardo Di Caprio comenta "para o público" que, apesar de muito drogado, conseguiu voltar pra casa com seu carrão sem cometer nenhum desastre, acompanhamos isso nas cenas. Só que era uma impressão subjetiva do personagem, que, ao ser despertado pela polícia no dia seguinte, descobre seu carro totalmente destruído na frente de casa. Existem recursos, muitos, depende apenas de usá-los bem.

Você prefere filmes com ou sem narrador? O fato de tantos filmes estarem usando narradores atualmente representa tendência?
Não tenho preferência. Acho que a escolha sempre é feita levando-se em conta o que se pretende contar e como. Não creio que seja uma tendência atual, ainda que o filme que mais me agradou ultimamente, A grande beleza, do Paolo Sorrentino (candidato ao Oscar de filme em língua estrangeira), use o narrador de forma direta e com offs. 

Edgard Scandurra e Nasi deixam os rancores de lado e recriam o Ira!‏

Amigos, amigos, negócios à parte 

 
Edgard Scandurra e Nasi deixam os rancores de lado e recriam o Ira! depois de sete anos. Banda tem sua reestreia marcada para maio, em São Paulo, durante a Virada Cultural 
 
Mariana Peixoto
Estado de Minas: 11/02/2014


Nasi (E) adianta que o novo  Ira! tem compromisso com a história da banda e vai incorporar antigos sucessos. Em carreira solo, Scandurra criou projeto de música eletrônica e gravou com Arnaldo Antunes   e Karina Buhr (Montagem sobre fotos de Kelsen Fernandes/Divulgação e SescTV/Divulgação)
Nasi (E) adianta que o novo Ira! tem compromisso com a história da banda e vai incorporar antigos sucessos. Em carreira solo, Scandurra criou projeto de música eletrônica e gravou com Arnaldo Antunes e Karina Buhr

Há quase sete anos, a roupa suja do Ira! foi lavada publicamente. Agressões na imprensa trouxeram à tona, de maneira passional, antigos rancores dos integrantes da banda, que culminaram num racha familiar – Nasi e seu irmão, Airton Valadão Júnior, então empresário do grupo. Da pior forma possível, a banda, que tem uma inegável importância no rock Brasil, anunciou seu fim em 2007. Nada como a passagem do tempo para arrefecer os ânimos. Cabeças do Ira!, Nasi e Edgard Scandurra se reencontraram em palco pela primeira vez em 30 de outubro. Nesta semana, voltam a se reunir para começar os ensaios do retorno do Ira!. O baixista Ricardo Gaspa e o baterista André Jung não vão participar da nova (velha) empreitada.

O primeiro show será em 17 de maio, na Virada Cultural de São Paulo. O vocalista e o guitarrista estarão acompanhados de Daniel Scandurra (filho de Edgard, no baixo), Johnny Boy (violão e teclados, da banda de Nasi) e Evaristo Pádua (bateria, outro que toca com o grupo do vocalista). Depois dessa primeira apresentação, a vontade é ir longe. “Estimamos uma turnê do tamanho da do Acústico (2004), o que deve cobrir uns 200 shows durante um ano e meio”, afirma Nasi, que hoje detém os direitos do nome Ira!. O repertório, por ora, não terá novidades. “O que posso dizer é que vai passar por todos os nossos discos, das músicas que foram sucesso em rádio e aquelas que são mais representativas da banda.”

O vocalista não fecha questão sobre o que essa turnê poderá gerar. “A gente vai continuar com nossa carreira solo. Em agosto, inclusive, faço a gravação de um DVD que devo lançar ano que vem. Mas digo para você, não descarto um novo disco. Esta história está me surpreendendo, o Edgard já está com umas ideias de música”, continua Nasi. Ambos nascidos em 1962, como diz a música do álbum Clandestino (1990), tanto ele quando Scandurra completaram 52 anos – o vocalista em janeiro, o guitarrista na semana passada.

O reencontro começou a ser ensaiado no ano passado. Nasi procurou Scandurra se oferecendo para cantar em show beneficente que o guitarrista estava promovendo em São Paulo para arrecadar fundos para bolsistas da escola Novo Ângulo Novo Esquema, destinada a crianças com dificuldade de aprendizagem (Lucas, filho de Scandurra, é aluno da Nane). “Após seis anos, dois amigos se encontram por uma boa causa”, dizia o flyer que rodou as redes sociais da época. Juntos, emendaram um hit no outro: Dias de luta, Envelheço na cidade, Tarde vazia, entre outras.

Pazes feitas, Nasi contemporiza sobre a turbulência de outros tempos. Além da produção musical (ver abaixo), em 2012 ele não deixou pedra sobre pedra com sua biografia, A ira de Nasi. Sobre o guitarrista, assumiu ter roubado uma namorada dele (o que teria gerado toda a tensão entre os dois). No final da banda, os dois já não se falavam, tampouco dividiam camarim. Hoje, Nasi não pensa duas vezes antes de dizer: “Quando nos encontramos, deixamos tudo para trás. Se não fosse assim, não teria clima. Nosso trabalho é maior do que os problemas que temos um com o outro. Cada um tem sua visão, suas razões. Agora, vamos viver um novo capítulo”, finaliza.

Vida pós-Ira!

Nasi


Desde 2006, Nasi lançou dois álbuns: Vivo na cena (2010), que registra no formato canções de outras bandas de que ele fez parte (Irmãos do Blues e Voluntários da Pátria), e Perigoso (2012), este com repertório que mistura regravações – Dois animais na selva suja da rua, de Taiguara, Tudo bem, das Garotas Suecas – e músicas autorais. Causou muito barulho também com sua biografia, A ira de Nasi (2012). No dia 21, ele toca em BH, no Circus Rock Bar.

Edgard Scandurra

Um dos guitarristas mais respeitados do rock nacional, Edgard Scandurra é também dos mais prolíficos. Fora do Ira!, enveredou numa série de projetos, além de manter carreira solo. Lançou um DVD em 2009, Ao vivo, com registro de suas músicas com e sem o Ira! – com o projeto Benzina, mantém um pé na música eletrônica. Gravou com Arnaldo Antunes, seu parceiro há duas décadas, Karina Buhr e Bárbara Eugênia. Atualmente, integra os projetos Pequeno Cidadão, este para crianças, e Les Provocateurs, tributo à canção francesa.

Entre tapas e beijos

Black Sabbath

Fosse cinco anos atrás, ninguém acreditaria que Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler se reuniram para disco e turnê – que passou por BH em outubro. Em 2009, o vocalista e o guitarrista brigaram que nem cão e gato pelos direitos de utilizar o nome da banda. Ao longo da história, a banda teve inúmeras formações (e somente Iommi ficou como integrante efetivo durante as mudanças). Também não custa lembrar que no final dos anos 1970, Ozzy foi demitido da banda devido ao abuso de álcool e drogas.

Soundgarden
Atração do Lollapalooza em abril, o veterano grupo de Seattle chega a 2014 completando 30 anos de formação. Mas, vale dizer, durante boa parte desse tempo a banda ficou separada. Separou-se em 1997 devido a brigas internas e cada integrante foi para um lado. O vocalista Chris Cornell formou o Audioslave, que lançou três álbuns e teve repercussão no início da década passada. Foi mais bem-sucedido do que em sua carreira solo. O retorno do Soundgarden ocorreu em 2010 e rendeu um álbum, King animal (2010).

RPM
O RPM continua na ativa e cantando Olhar 43. Pois olhando para trás, parece impossível que Paulo Ricardo, Luiz Schiavon, Paulo Pagni e Fernando Deluqui consigam tocar juntos. Formado em 1983, o quarteto se separou, pela primeira vez, quatro anos mais tarde, ao final da turnê de Rádio pirata ao vivo. Depois disso, houve três álbuns de estúdio (em 1988, 1993 e 2011), muitas brigas, idas e vindas e lavação de roupa suja em público.

Mutantes
Quando foi anunciado, em 2006, que os Mutantes iriam voltar com Arnaldo e Sérgio Baptista, Dinho Leme e Zélia Duncan no lugar de Rita Lee, os fãs de primeira hora da mais cultuada banda brasileira torceram o nariz. A reunião rendeu CD, DVD e uma bem-sucedida turnê. Zélia, com carreira estabelecida, foi a primeira a cair fora terminada a temporada. Arnaldo veio logo a seguir. Com Sérgio comandando o barco, os novos Mutantes fizeram jus ao nome. Entraram na trilha da novela homônima; ganharam nova formação com uma dezena de integrantes. Em dezembro, Sérgio Dias se reuniu a Túlio Mourão, Antônio Pedro e Rui Mota para fazer show do álbum Tudo foi feito pelo sol (1974), da fase progressiva do grupo. 

Carro, tevê e computador, as ameaças à boa forma‏

Carro, tevê e computador, as ameaças à boa forma Estudo canadense feito em 17 países, com mais de 150 mil adultos, indica que, ao mesmo tempo em que adquirem mais bens, habitantes de nações pobres estão engordando 
 
Bruna Sensêve e Paloma Oliveto
Estado de Minas: 11/02/2014


O motivo da barriga e dos quilos sobressalentes pode estar no clique do controle remoto ou nas teclas do computador. O desenvolvimento econômico da população levou ao incremento das horas de “descanso” com longos períodos passados em pleno sedentarismo frente à televisão e/ou navegando por redes sociais. O impacto desse comportamento pode ser percebido na propagação das epidemias de obesidade e diabetes tipo 2 em países de baixa e média rendas, que, em breve, poderão enfrentar os mesmos graves problemas de saúde das nações mais abastadas. Os resultados são de um estudo internacional publicado no Jornal da Associação Médica Canadense, que analisou mais de 150 mil adultos em 107 mil famílias de 17 países.

Os dados assustam. Os indivíduos que têm os três equipamentos estudados – televisão, computador e carro – apresentam também 9cm a mais na cintura. A posse de bens materiais, especialmente os eletrônicos, que, até então, são vistos como sinônimo de boa situação econômica, mudará de lado nos próximos anos. De acordo com os dados recolhidos pelo grupo liderado por Scott Lear, da Faculdade de Ciências da Saúde, da Universidade Simon Fraser, a prevalência da obesidade aumentou de 3,4% em famílias com nenhum dos dispositivos estudados para 14,5% nos lares com os três aparelhos. A prevalência de diabetes também cresceu, de 4,7 % para 11,7%, respectivamente.

“Com o aumento da captação de conveniências modernas, países de renda baixa e média podem ver as mesmas taxas de obesidade e diabetes como as dos de alta renda. Elas são o resultado de se sentar demais, de menos atividade física e do aumento do consumo de calorias”, conclui Lear. “Isso pode ter consequências potencialmente devastadoras para a saúde social desses países.” A mesma relação não existia nos países desenvolvidos, sugerindo que os efeitos nocivos dessas máquinas na saúde já se refletem em taxas elevadas de obesidade e diabetes.

Panorama  Os países de alta renda investigados foram Suécia e Emirados Árabes. O Brasil está incluído no grupo de país de renda média-alta, com a Argentina, o Chile, a Malásia, a Polônia, a África do Sul e a Turquia. Entre os de renda média-baixa, estão China, Colômbia e Irã. Os países considerados de baixa renda pesquisados foram Bangladesh, Índia, Paquistão e Zimbábue. Os participantes foram questionados quanto a prática de atividade física, o tempo que ficam sentados, a dieta seguida, se tinham diabetes e se eram proprietários de carro, televisor e computador.

As televisões foram o dispositivo mais comum. Quase 80% dos entrevistados tinham pelo menos uma, seguida por 34% que tinham um computador e 32%, um automóvel. Em países de baixa renda, possuir todos os três dispositivos foi associado a uma redução de 31% na atividade física e a um aumento de 21% no período sentado. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, 87,2% dos domicílios brasileiros tinham televisores. Dez anos depois, esse número subiu para 95,1%, superando o rádio que, em 2000, estava presente em 87,9% das casas e, em 2010, em 81,4%. Os computadores também não ficam para trás. Os micros são encontrados em 27,7% mais domicílios brasileiros em 2010 que 10 anos antes. Do total de residências, 30,7% tinham acesso à internet em 2010.

Nessa mesma direção, a mais recente pesquisa sobre obesidade no Brasil, referente aos dados de 2012 coletados pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), mostra que 51% da população tem excesso de peso. Pela primeira vez, o índice de sobrepeso atingiu mais da metade dos brasileiros. A mesma pesquisa referente ao ano anterior já apontava a epidemia se formando, indicando 48,5% da população com excesso de peso. O índice de obesidade também se agravou nesse período. Em 2012, 17,4% dos brasileiros são obesos, contra 15,8% no ano passado.

Risco de diabetes 

A combinação entre uma dieta pouco saudável e a falta de exercícios físicos é apontada por Maria Angélica de Lima Oliveira, de 54 anos, como desencadeadora da diabetes tipo 2, doença que ela precisa controlar com medicamentos de uso contínuo. Até os 40 anos, a servidora pública frequentava academia, mas, depois do casamento, se tornou sedentária. “Quando engravidei, aos 43 anos, fiz todos os exames. Aí, apareceu o diabetes”, conta. A glicemia da servidora, contudo, voltou a níveis normais após o nascimento de Bruna. Ela nem se lembrava mais do problema quando ele ressurgiu, há seis anos.

“Minha taxa de triglicerídeos estava altíssima, mas fui deixando e não tratei”, confessa. Salgadinhos, frituras, sanduíches, maionese, doce, pão e macarrão têm grande parcela de culpa no diagnóstico, acredita Maria Angélica. “Antigamente, a gente comia coisas mais saudáveis. Hoje, com a facilidade da comida industrializada, não é mais assim”, reconhece. O endocrinologista Mário Carra, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica, explica que existe uma relação direta entre mais de duas horas em frente ao computador, televisão ou videogame com o aumento de peso.

“Ao ter mais acesso a esses dispositivos, há uma condição de vida melhor, mas não significa necessariamente que o grau de informação é melhor. A tendência é o aumento de peso”, garante Carra. Isso porque as pessoas costumam diminuir a mobilidade física e o padrão alimenta, e tendem a utilizar esses dispositivos comendo ou bebendo, sem dar atenção à qualidade ou à quantidade. “Um trabalho feito pelo Instituto Estadual de Diabetes e Endocrinologia do Rio de Janeiro há alguns anos contabilizou a economia de calorias com o controle remoto e telefone sem fio. São poucas, mas, ao somar tudo no fim do ano, dá uma quantidade considerável.” (BS e PO)