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Cena de Chacrinha, o musical, que encerra
temporada no próximo domingo no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro e
segue em março para São Paulo
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A ideia de transformar Stepan
Nercessian no Velho Guerreiro partiu de Fernanda Montenegro. “Nunca
imaginei fazer o Chacrinha, mas a Fernanda tem uma visão que nós mesmos
não temos de nós”, diz o ator, que encerra neste domingo a temporada de
Chacrinha, o musical, no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro.
Chacrinha,
o musical é dirigido por Andrucha Waddington, genro de Fernandona, com
produção da Aventura Entretenimento. Quando a produção estava em busca
do ator que interpretasse Abelardo Barbasa (1917-1988), a diva do teatro
brasileiro atalhou o processo. “Vocês não têm que procurar. Quem tem
que fazer é o Stepan!”
Redescoberta Nercessian
havia trabalhado com Waddington no longa Os penetras, que ele
classifica como ponto inicial de sua “redescoberta”. O ator se desligou
da Globo há quatro anos e falhou na tentativa de se reeleger para a
Câmara dos Deputados no ano passado. “Tenho muitos convites de uma nova
geração de cinema e televisão. Se continuar assim, até a TV Globo vai me
descobrir”, ironiza.
Quando aceitou o papel de Chacrinha, o ator
de 61 anos, que soma 45 de carreira, com dezenas de novelas e filmes no
currículo, pôs fim a um jejum de 10 anos do palco. Foi no camarim do
Teatro João Caetano que ele recebeu o Estado de Minas para uma
entrevista. “Quando pedi minha demissão da TV Globo, me disseram que as
portas sempre estariam abertas, mas, quando voltei, quem disse isso já
não estava mais lá. Da próxima vez, vou pedir para me darem a cópia da
chave”, brinca.
O êxito de Chacrinha, o musical no Rio de
Janeiro, onde o espetáculo foi visto por aproximadamente 80 mil pessoas,
motivou a produção a seguir para São Paulo, no mês que vem, com uma
temporada de quatro meses já agendada. Ainda não está definido se haverá
um calendário da peça em outras cidades do país.
“Chacrinha é um
personagem riquíssimo, daqueles que qualquer artista procura”, diz o
ator. Para Nercessian, “ninguém conseguiu copiar Chacrinha. Os programas
podem ter elementos do Chacrinha, mas não têm a essência dele, que era
formada pela verdade, pelos riscos enfrentados de frente com a direção
da emissora, com o público, com a censura.” Descrevendo o Velho
Guerreiro, seu intérprete no teatro diz: “Ele não se preservava,
entregava-se. Ele era afetuoso. Toda aquela alegria era afeto. Chacrinha
tinha uma irreverência tropicalista, que encantava as crianças com
fantasias de índio, de noiva, de palhaço. Depois dele não aconteceu mais
ninguém. Com todo o respeito a quem tem seus programas, se o Chacrinha
nunca tivesse existido e estreasse hoje, seria um fenômeno de audiência.
Absolutamente novo e genial”.
Para compor a personagem, Stepan
recorreu especialmente ao texto de Pedro Bial e Rodrigo Nogueira,
“compreendendo qual a história que a peça estava contando” e somente a
poucos dias da estreia assistiu a alguns vídeos. “Aos poucos, vi onde
faltava um gesto. Foi entrando naturalmente. Não fiz nada de fora para
dentro.” O espetáculo tem dois atos. No primeiro, o ator Léo Bahia ( The
book of mormon e Ópera do malandro) revive os tempos de Abelardo
Barbosa em Surubim (Pernambuco), onde nasceu.
No segundo ato, o
espetáculo se transforma em um verdadeiro Cassino do Chacrinha, com
direito a chacretes, bacalhau jogado para a plateia e, com sorte,
participações de famosos presentes no teatro.
Stepan fez duas
participações como jurado no programa do Chacrinha, com quem tinha um
contato profissional e de admiração. “Ele era carismático por essência.
Parecia estar sendo transmitido ao vivo o tempo todo”, descreve. E foi,
na opinião do ator, “um marco” na história da comunicação no Brasil.
“Ele quebrou a formalidade de quem fazia TV e da própria televisão. Sem
ele, ficaríamos anos naquele modelo americano, que também não muda e é
aquela m...”.
Por isso, no que depender de Stepan Nercessian,
Chacrinha, assim como diz a letra da canção de Gilberto Gil, continuará
balançando a pança e comandando a massa.
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Stepan Nercessian caracterizado como Abelardo Barbosa, o Chacrinha |
Ex-deputado e ator cita ‘extrema preocupação’ com o paísO
papo fica sério quando Stepan Nercessian fala de política. “Vejo o que
estamos passando com extrema preocupação”, afirma. “Não temos nada em
torno de que estejamos todos unidos para valer, como foi na transição
para a democracia, onde surgiram valores. Inclusive o próprio PT. Havia
união das pessoas com o objetivo comum de salvar a nação. Isso tinha um
peso, uma força muito grande. Hoje, não vejo nada parecido. O país está
refém de algo perigosíssismo, que é a divisão social. Essa farsa do PT
de dizer que, se o partido perdesse a eleição (presidencial de outubro
passado), os pobres estariam derrotados, isso é uma grande mentira”,
afirma.
O ator, que se elegeu duas vezes vereador no Rio de
Janeiro, em 2004 e 2008, conquistou em 2010 um mandato de deputado
federal pelo PPS. No ano passado, não conseguiu se reeleger.
Recentemente, causou polêmica ao tuitar que a presidente Dilma Rousseff
só tem uma saída: entregar o ex-presidente Lula.
“Do ponto de
vista biográfico, do operário que chegou à Presidência da República,
Lula é uma das coisas mais bonitas, mas é também o maior canalha deste
país. Se existe uma quadrilha, Lula é o chefe. E os membros desse grupo
estão com medo de entregar o chefe”, disparou. “Como ele tem parte com o
diabo, nada acontece com ele. É capaz de conseguir voltar em 2018 como o
salvador da pátria.”
Nercessian critica também o papel das redes
sociais. “Elas se esgotam em si mesmas. É tendência dos ignorantes
acreditar muito mais nas redes sociais”, detona. Ele aponta “uma
confusão muito grande entre conhecimento e informação” nos dias atuais.
“A juventude recorre ao Google, pega uma ideia e fala que aquilo é
conhecimento. Não é. Conhecimento se adquire pelos caminhos
tradicionais, na escola, no diálogo com o professor, por meio da leitura
e do estudo”, afirma.