quarta-feira, 25 de março de 2015

Sete Vidas - Martha Medeiros

ZERO HORA 25/03/2015

Estreou recentemente a nova novela das 18h, Sete Vidas, que conta a história de um homem que, quando jovem, doava sêmen para se sustentar, e depois, adulto, descobre que tem sete filhos que não conhece.

Não estou assistindo, mas confio muito no taco da autora, a ótima Licia Manzo. Comecei a coluna usando esse gancho a fim de promover outro tipo de doação que também pode gerar seis, sete, várias outras vidas: a doação de órgãos. Faço questão de apoiar a campanha lançada pela Santa Casa.

Quando alguém morre, é uma vida a menos. É assim que analisamos a morte: como uma perda. Porém, a gente se esquece de que essa vida a menos pode gerar muitas vidas a mais. Basta que se doem o coração, as córneas, o pâncreas, o fígado, os rins e o que mais puder ser aproveitado.

Quem de nós não gostaria de ter serenidade e tolerância diante da morte? Pois é, porém nenhuma religião conseguiu até hoje confortar plenamente os parentes e amigos que enfrentam o desaparecimento súbito de uma pessoa querida. A ausência definitiva de alguém próximo é de uma brutalidade que encarcera a todos num luto sofrido. O tempo não cura, apenas ajuda a administrar a saudade.

Mas há paliativos. No momento em que é preciso superar uma dor extrema, a doação de órgãos pode tornar-se mais eficiente do que as missas encomendadas. É o verdadeiro ato de fé que manterá viva aquela pessoa entre nós.

Pense: o coração de alguém que morreu por causa de um aneurisma pode continuar batendo no peito de um estudante de Medicina, as córneas de quem viajou por lugares paradisíacos pode servir para um fotógrafo. É uma ressurreição possível, que sai das páginas da Bíblia para virar realidade entre nós.

Ninguém quer morrer, ninguém quer perder ninguém, ninguém quer nem mesmo tocar neste assunto, ainda mais estando tão atazanado com o trabalho e outros compromissos cotidianos. Temos tanta coisa a realizar, que necessitamos urgentemente da garantia de que viveremos por no mínimo cem anos. Mas, caso o destino resolva ser mais rápido no gatilho, é muito importante que tenhamos verbalizado para nossos familiares que somos favoráveis à ideia de sobreviver através do corpo de outra pessoa.



Anunciemos em alto e bom som: sou doador de órgãos. Deixemos a declaração por escrito, se preciso for. Não é um tema mórbido. Estamos falando de esperança, de renovação, de generosidade. De uma multiplicação milagrosa de fato: uma pessoa valendo por duas, três, sete.

Mais forte e perigosa

Estudo sobre a maconha comercializada no Colorado, EUA, revela que a droga está três vezes mais potente do que 30 anos atrás. Amostras indicaram contaminantes, como metais pesados


Bruna Sensêve
Estado de Minas: 25/03/2015 



Produtor observa vasos de maconha: cruzamento de cepas torna mais alto o nível de THC, substância responsável pela sensação de entorpecimento (Ivan Couronne/AFP - 23/10/14)
Produtor observa vasos de maconha: cruzamento de cepas torna mais alto o nível de THC, substância responsável pela sensação de entorpecimento

Brasília – Em 1º de janeiro de 2014, tornou-se possível comprar maconha legalmente no Colorado, nos Estados Unidos. Além de permitir o consumo recreativo da planta, o estado norte-americano também regulamentou como ela pode ser produzida, medida ainda não adotada pela maioria dos que liberaram o uso. Esse diferencial foi crucial para que cientistas tivessem maior liberdade para estudar a composição do produto que chega aos usuários, e os primeiros resultados dessas análises foram apresentados durante o 249º Encontro Nacional e Exposição da Sociedade Americana de Química, em Denver, Colorado. Entre as principais descobertas feitas está o fato de o entorpecente vendido hoje ser três vezes mais forte que o comercializado cerca de 30 anos atrás.
Segundo Andy LaFrate, presidente e diretor de pesquisa do Charas Scientific, um dos oito laboratórios certificados para fazer os testes de potência da maconha vendida no estado, o objetivo é compor um retrato fiel da composição da droga atual a partir de três fatores principais: presença de contaminantes; quantidade de canabidiol (CBD), substância que tem efeito terapêutico; e o índice de tetrahidrocanabinol (THC), responsável pelo efeito entorpecente da planta.
Há três décadas, explica o especialista, os níveis de THC estavam bem abaixo dos 10%. Essa taxa triplicou em algumas cepas, porque os produtores têm feito cruzamentos ao longo dos anos para atender às demandas dos usuários. “Tem sido surpreendente o quão forte um monte de maconha é. Vimos valores de potência perto de 30% para o THC, o que é enorme”, diz.
A substância é encontrada em todas as partes da planta, especialmente nas flores, ainda que a concentração dependa de uma série de fatores, como o tipo de solo, o clima e a época de colheita, entre outros. Esse não é o único alucinógeno presente na maconha, mas, definitivamente, o mais potente. Algumas variações da maconha, como o haxixe e o skank, têm uma concentração ainda maior do THC, causando efeitos mais prejudiciais à saúde.
Redução A presença do canabidiol, por sua vez, tem seguido a presença oposta. Normalmente, a substância constitui grande parte da planta, alcançando mais de 40% de seus extratos totais. No entanto, LaFrate conta que muitas das amostras testadas em seu laboratório têm pouco ou nenhum CBD. Retirada do caule e das folhas, a substância não é psicoativa nem tóxica e, no início deste ano, teve o uso terapêutico liberado no Brasil pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) — leia Saiba mais.
Estudos consistentes feitos ao redor do mundo demonstraram o potencial da substância em diminuir a frequência de crises convulsivas entre pacientes com doenças neurológicas graves que não respondem a tratamentos convencionais. Outras pesquisas apontam que ela também pode ajudar pessoas com doenças como Parkinson, esquizofrenia, insônia e ansiedade.
Outro fator pesquisado foi a diferença entre os tipos de planta, que não parece ser grande. “Um pode ter folhas verdes, outro, roxas. A quantidade absoluta de canabinoides também pode mudar. Mas a proporção de THC para outros canabinoides não está mudando muito”, diz LaFrate. Isso significa que há uma diferença muito pequena em como as variedades fazem a pessoa se sentir, mesmo que alguns usuários afirmem que um tipo costuma trazer mais relaxamento, enquanto um segundo os deixa mais alertas.
Para Felix Kessler, professor do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal e vice-diretor do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o aumento da porcentagem de tetrahidrocanabinol preocupa. “Uma coisa era a planta que tínhamos com 3% de THC. Hoje, esse índice chega a 6%, 10% ou 15%. É uma droga muito mais alucinógena e potente. Estudos recentes mostram que traz o triplo de chances de psicotizar (quadro grave de perda de noção da realidade).” Ele explica que, do ponto de vista médico, esse aumento drástico torna a substância outra droga. “Os efeitos são diferentes, e as chances de o indivíduo se tornar dependente muito maiores.”
Fungos e micróbios O estado do Colorado ainda não exige dos produtores testes de contaminação, mas alguns apresentaram amostras voluntariamente para esse tipo de exame. As análises coletaram resultados surpreendentes tanto para os agricultores quanto para os pesquisadores. Foram encontrados elementos biológicos, como micróbios patogênicos, e químicos, solventes e metais pesados, por exemplo. Além disso, botões de maconha que pareciam perfeitos apresentaram uma cobertura de fungos e micro-organismos muitas vezes prejudiciais à saúde.
Os cientistas garantem que a contaminação não é necessariamente uma causa de alarme, mas o resultado mostra a necessidade de estabelecer níveis seguros. “Não deixa de ser um produto natural, então, vai ter crescimento microbiano, não interessa o que você fizer. Mas devemos nos questionar qual limite é seguro e com quais contaminantes realmente precisamos nos preocupar”, defende LaFrate.

Saiba mais
Liberação no Brasil
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso terapêutico do canabidiol no Brasil em 14 de janeiro deste ano. O composto deixará de fazer parte da lista de substâncias proibidas pela agência e passará para a categoria C1, de uso terapêutico permitido, mas sujeito a controle. A mudança na classificação do canabidiol foi aprovada por unanimidade pela diretoria da agência, em reunião realizada em Brasília. Segundo o órgão, a decisão abre caminho para uma pesquisa mais ampla, com vistas a desenvolver medicamentos com essa substância no país. Apesar da exclusão do canabidiol da lista de substâncias proibidas no Brasil, o processo para importar produtos à base do composto em associação a outras substâncias derivadas da maconha permanece o mesmo e exige autorização especial. A liberação do canabidiol é uma reivindicação de familiares de crianças e adolescentes que têm crises repetidas de convulsão.