sábado, 3 de janeiro de 2015

Repórter - Eduardo Almeida Reis

Numa padaria do Bairro de Coelho Neto, a vassourinha para limpar a privada estava em cima de uma torta que ainda seria confeitada


Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 03/01/2015





Na medida do possível, o telejornalismo procura acompanhar os fatos mais importantes que acontecem por aí. São Paulo, maior cidade de um país grande e bobo, tem milhares de fatos reportáveis todos os dias, alguns poucos louváveis e a maioria assustadora. São passeatas, quebradeiras, ônibus queimados, brigas de torcidas, chacinas, arrastões, assaltos a residências, namorados que matam namoradas, ex-maridos que matam ex-mulheres, esposas amantíssimas que atiram em seus maridos antes de esquartejá-los, filha universitária que mata pai e mãe a pauladas, traficantes que se guerreiam pelos pontos de vendas de drogas nas zonas Oeste, Sul, Norte e Leste, falsos cardeais rezando missas, falsos padres operando paróquias durante dois anos, o santo bispo Macedo inaugurando o Templo de Salomão, seu cunhado R. R. Soares ao vivo e em cores desencapetando encapetados, rebeliões de menores infratores, rebeliões de maiores engaiolados, desocupações de edifícios, desocupações de terrenos, água faltando numa infinidade de bairros, tudo quanto se possa imaginar sem contar o inimaginável

Pois muito bem: em todos esses lugares, a GloboNews nos mostra o jovem repórter Gabriel Prado, editor-executivo da Dialoog, agência de conteúdo, que foi professor do curso de jornalismo da UNIP/SP e repórter da Rádio Bandeirantes. A não ser que existam 20 cavalheiros com o mesmo físico e a mesma voz, Gabriel Prado tem o dom da ubiquidade, faculdade divina de estar concomitantemente presente em toda parte. O rapaz é bacharel em comunicação social/jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP e mestre em comunicação e semiótica da cultura pela PUC-SP, além de palestrante e consultor da Arima Associados.

Não faço a menor ideia do salário de um repórter do Grupo Globo com dois anos de casa, mas tenho a certeza de que Gabriel Prado merece ganhar 20 vezes mais. Até então, só Deus tinha o dom da ubiquidade. A tevê nos mostra que o jovem repórter deve ser deificado.

Depoimento

Priscila Souza foi fiscal do Procon-RJ durante oito anos. Um mês depois de sair do emprego, contou à coluna Gente Boa, do O Globo, alguma coisa do que viu nos seus anos de fiscalização. Ainda bem que os bares e restaurantes mineiros devem ser diferentes daqueles fiscalizados pela jovem no eixo Rio-Niterói, que são milhares e só meia dúzia pode ser frequentada sem risco de vida. Diz ela que a cozinha do Cervantes é muito limpinha, os ingredientes frescos, e que o restaurante de Roberta Sudbrack é um primor. Dos japoneses, salva-se o Via Farani e a rede Hortifruti é confiável.

Nos outros, as cozinhas são imundas, um árabe de Copacabana bota a comida para esfriar numa escada pela qual todo mundo circula. No frigorífico de um grande fornecedor regional, Priscila viu peças inteiras de carnes vencidas e com bichos, quando se convenceu de que não dava mais para continuar no Procon-RJ.

Antes, numa pizzaria tradicional da Lapa, tudo era tão engordurado que mal dava para andar, baratas e moscas em cima dos queijos, gordura velha usada nas frituras. Unhas imundas dos cozinheiros, queijos estragados em vários lugares, gatos residentes numa loja de grãos e temperos da Saara. Numa padaria do Bairro de Coelho Neto, a vassourinha para limpar a privada estava em cima de uma torta que ainda seria confeitada.

Ressalvados os bares e restaurantes mineiros, a imundície deve existir no Brasil inteiro. Quando andei pelo Norte do Mato Grosso, os pratos eram aeroportos de moscas e não havia neblina que as impedisse de pousar e decolar.

Durante séculos, almocei no Alemãozinho, Centro do Rio. Toda quarta-feira tinha o delicioso Labskaus, prato típico de Hamburgo feito por dona Maria, alemã baixinha, gordinha, mãe do Geraldo, o melhor tirador de chope da cidade. Pois muito bem: o Alemãozinho, minúsculo, era “ilimpável”. Cozinha ligada ao salão, que era uma salinha. Banheiro tão pequeno, dando para a salinha, que o bebedor de chopes não tinha como entrar: ficava do lado de fora mirando o vaso, nem sempre com sucesso. Mas é a tal história: com 18, 19, 20 anos, o herói resiste a quase tudo e passa o resto da vida sentindo saudades daquele tempo.

 O mundo é uma bola


3 de janeiro de 1496: Leonardo da Vinci testa a máquina voadora que construiu e não avoou. Em 1521, Martinho Lutero é excomungado pelo papa Leão X. Em 1534, o parlamento inglês nomeia o rei Henrique VIII chefe da Igreja Anglicana. Henrique VIII parecia vocacionado para ser chifrado por suas mulheres, tanto assim que mandou decapitar várias delas. Em louvor dos Ricardões, devemos todos convir em que deve ser emocionante namorar a mulher de um rei.

Em 1558, Mem de Sá toma posse do cargo de governador-geral do Estado do Brasil. Por incrível que pareça, era homem de bem, guerreiro valente, irmão do grande poeta Sá de Miranda. Em 1889, início da “crise de loucura” que acomete Nietzsche até morrer em 1900. Que se pode esperar de um filólogo, filósofo, crítico cultural, poeta e compositor?

Ruminanças

“Os ladrões da Petrobras conseguiram desmoralizar os pequenos corruptos dos 500 anos de história do Brasil” (R. Manso Neto). 

ARNALDO VIANA » Seja feliz, 2015!

Estado de Minas: 03/01/2015




2015 acaba de chegar. Tem em mãos malas de recheio incógnito, bolsas de conteúdo advinhável, ou nem tanto. Está aí aos olhos de quem o vê. Toma lugar no mundo. Limpa o suor do rosto. A transição com 2014 não foi fácil. Um se foi, xingado daqui, elogiado de lá. Levou na bagagem realizações e decepções. O outro chegou, sob desconfiança e esperança. Os anos são assim: chegam cheios de expectativa e se vão com as constatações. Há quem o quis bom e o teve ruim. Há quem o esperava sem ilusões e o teve gratificante.

2015 está aí, sentado, esperando decisões. Ele não tem as rédeas do planeta, das sociedades, das regras, das normas, das ações. Está apenas de passagem, por 365 dias. Mesmo sabendo-o assim, inepto, a humanidade deposita nele desejos, sonhos. A humanidade? Não é sensato generalizar. Há quem o receba naturalmente, apenas como uma passagem de tempo, sem condicioná-lo à vivência. Então, se 2014 foi aquilo, se 2015 vai ser isso, depende dos olhos de quem o vê.

Se 2015, assim como 2014 e os 2013 anos anteriores, não tem poder de decisão, quem o tem? O homem, sim, o tem. É o dono da bola. É quem cria, desfaz, transforma, resolve, muda, destrói. Uma voz solta na multidão diz que só há um jeito de a humanidade se despedir de 2015, daqui a 362 dias, com um sorriso nos lábios: fazendo dele um ano feliz. Então, é assim, em vez de se esperar do novo ano a felicidade, o que se deve fazer é torná-lo feliz, como prega a voz das ruas? Pode ser. Mas é preciso que haja consenso, consentimento de 7 bilhões de seres, ou pelo menos da maioria.

2015, fato é, está de passagem. Esperando atitudes, para o bem ou para o mal. Quem vai resolver caminhar por um lado ou por outro é a humanidade, notadamente ignorante para uma convivência pacífica e quase suficientemente sábia para se transformar e chegar feliz a 2016. A questão é que o homem suspira, duvida de si: “Ah, mas há tanto a fazer...” A voz das praças e das esquinas prega o que não faz. Espera o milagre em vez de realizá-lo

É assim. A voz dos botecos, das padarias, das farmácias, dos supermercados, dos shoppings, dos ônibus, dos restaurantes, dos táxis, dos escritórios, das fábricas e dos gabinetes diz e se contradiz sobre o novo ano e suas responsabilidades. Mas 2015 avisa que não adianta se valer de mantras, banhos de ervas, benzeções, orações, pé esquerdo ou pé direito, sementinhas, bicho que cisca para trás ou pra frente se não houver aquiescência a uma mudança que leve à paz e a uma sociedade que compartilhe somente o que cria, gera e produz de melhor. Talvez seja esse o princípio do caminho da felicidade. Será? Quanto às realizações pessoais, isso, como diz um velho pescador, um simplório barranqueiro, “é de acordo com a faculdade de cada um”. A faculdade de pensar, claro. Por aí!

Parabéns do Negão: À Prefeitura de BH, que não deu ouvidos ao presidente daquela ONG, que diz ser o macaco símbolo de racismo e ao Ministério Público, que endossou a bobagem. O zoológico manteve a votação popular e o público batizou o filho de Imbi e Lou Lou. O nome do moleque é Jahari, “forte e poderoso”, como dizem os irmãos de África. Que vivam todos, homens e macacos, sem medo um do outro!