Zero Hora - 06/11/2013
Que Gravidade é um filme divertido, ninguém duvida. Que seu diretor,
Alfonso Cuarón, é talentoso e sabe contar uma história, também não. Que,
visualmente falando, é um espetáculo extraordinário, também não. Enfim,
vale a pena assistir a Gravidade especialmente em sua versão IMAX-3D.
Mas daí a dizer que é um dos melhores filmes de ficção científica (FC)
de todos os tempos, ou que rivaliza com 2001 – Uma Odisseia no Espaço,
de Stanley Kubrick, vai uma distância astronômica.
Uma boa obra de FC, seja no cinema, seja na literatura, lança um
olhar especulativo sobre o nosso presente. Mesmo que seus personagens
sejam nuvens de pó de estrela inteligentes, formigas que leem
Shakespeare, ou androides em crise existencial, a FC de qualidade fala
do ser humano contemporâneo – explícita ou disfarçadamente – em conflito
com a tecnologia, com a natureza e com o seu lugar no universo.
Nos romances e contos de Robert Heinlein, Isaac Asimov, Roberto
Silverberg, Stanislaw Lem, Philip K. Dick, Ursula K. Le Guin e Arthur
Clarke, apenas para citar alguns dos mestres da FC, encontramos muito
mais que uma história divertida. Eles nos fazem refletir sobre as leis
da imensidão do cosmos e os momentos em que essas leis entram em
conflito com nossos pequenos desejos e realizações. Nos bons filmes de
FC, acontece a mesma coisa. Por isso, a série Guerra nas Estrelas nem é
FC: é um bom bang-bang. Talvez Gravidade possa ser colocado nessa mesma
categoria.
Já a gravidade representada por Kubrick em 2001 está em outro
patamar. Basta lembrar de duas cenas que mostram atividades cotidianas:
uma aeromoça carregando uma bandeja enquanto troca de nível na estação
espacial e um astronauta correndo na nave que ruma para Júpiter. São
imagens que desafiam nossa noção tradicional de espaço e nos desafiam a
imaginar a vida longe de nosso planeta. O desafio máximo de Gravidade é
especular quanto oxigênio cabe nas dobras de um traje espacial vestido
por Sandra Bullock.
Kubrick dialogava com os grandes temas da humanidade, que vão desde
as origens da tecnologia entre os hominídeos até o nascimento do ciúme
entre um casal de Nova York. Cuarón não tem essa pretensão. Ele quer
simplesmente nos encantar, ganhar fama e dinheiro.
Tá muito bom pra quase todo mundo. Mas, mesmo que ganhe bilhões de
dólares em todo mundo e fature alguns Oscar, Gravidade estará esquecido
em alguns anos, enquanto 2001 seguirá futuro adentro, desafiando seus
espectadores e pedindo que cada um de nós interprete à sua maneira a
cena final: chegamos à extinção do homem enquanto ente biológico, ou
estamos simplesmente atingindo um novo estágio de nossa existência? Só o
monolito sabe. E isso é grave.
quarta-feira, 6 de novembro de 2013
MARTHA MEDEIROS - Inspecionados
Zero Hora - 06/11/2013
Aqueles que viajam de avião com alguma frequência já se acostumaram com a situação humilhante de ter que tirar cintos e sapatos antes do embarque a fim de passar pelo detector de metais sem provocar desconfianças. Pior ainda que despir-se de alguns pertences é ter que ficar de pernas e braços abertos no meio do saguão, diante de estranhos, para que algum agente rastreie nosso corpo a fim de retirar as dúvidas que ficaram.
A mesma humilhação acontece nas portas giratórias de bancos, onde temos que abrir nossas bolsas a fim de provar que não carregamos nada além de carteiras, pentes e batons, e dá-lhe o vai e volta atrás da faixa até ter a entrada autorizada. Melhorou a segurança dos bancos? É bem verdade que não há mais saques à mão armada direto com o gerente. Agora, os marginais mandam aos ares os caixas eletrônicos, simples assim.
Mesmo sabendo que existe um motivo justificado para tratar a todos como suspeitos, é desconfortável passar por essas inspeções. Quando alguém desconfia de nós, automaticamente nos sentimos como se fôssemos mesmo criaturas do mal. A condição de investigado estimula em nós uma autocrítica delirante e nos faz encontrar razões para sentirmos alívio toda vez que “escapamos”. Percebo isso quando, no aeroporto, aguardo minha bagagem de mão passar pelo pequeno túnel do raio X. Por trás da franja de couro negro, vislumbro a bandeja que finalmente vem ao meu encontro, que bênção.
Porém, de repente, a esteira dá marcha a ré e o material retorna para dentro da cabine escura, alguma imagem não ficou bem nítida. Será que descobriram uma arma enrolada no cashmere? Segundos de alta tensão, começo a suar frio, fico preparando em silêncio o que direi em minha defesa, e então lá vem a bandeja de novo, aleluia. Agora é só recolher o que é meu e encontrar logo o portão de embarque antes que percebam o perigo de eu estar zanzando livremente entre a multidão.
O ofício de escrever também estimula investigações minuciosas. Elaboramos a narrativa de forma a garantir que as palavras traduzam nossos pensamentos com clareza, que estabeleçam uma conexão verdadeira com quem nos lê, mas há sempre um leitor que desconfia de que estamos escondendo alguma ideia proibida, que há no texto um sentido oculto, que estamos traficando um recado para algum destinatário, que há uma confissão enrolada no cashmere. O escritor é sempre um suspeito nato.
E assim vamos vivendo em constante estado de defesa, como se fôssemos culpados simplesmente por aparentar inocência. Fato é: ninguém acredita mais em aparência e tampouco que ainda haja inocentes. Assim sendo, todos nós somos autopsiados em vida por gente atrás de provas de que não viemos ao mundo a passeio.
FERNANDO BRANT » Era de madrugada
Estado de Minas: 06/11/2013
A lembrança da infância me visita e numa das imagens rememoradas me vejo olhando, da janela da cozinha, para o quintal enorme da casa em que morávamos em Diamantina. Era uma casa que tinha sido, provisoriamente, escola. Tanto que ainda restavam, em cada quarto dela, a inscrição sala 1, 2, ou 3. E os banheiros eram uma dúzia, a maioria trancados por minha mãe. Se os deixasse todos abertos, cada um dos filhos tomaria posse de um e seria impossível mantê-los limpos.
Mas a fotografia do menino de 9 anos olhando pela janela, provavelmente chovia lá fora, é acompanhada do cheiro da comida que se preparava e, principalmente, de uma canção que ele ouvia e que volta sempre à sua memória. O rádio estava certamente sintonizado na Rádio Nacional, que influenciava o Brasil dos anos 1950 com canções, programas de auditório, novelas para adultos e para crianças.
Guardo com carinho a trilha sonora original de Jerônimo, o herói do sertão, que Getúlio Macedo, autor em parceria com Lourival Faissal, me presenteou em uma festa de Natal de compositores. Bangue-bangue brasileiro pelo rádio, atiçando a imaginação, que maravilha que era.
Continuo desviando o caminho da lembrança. Não falei que a canção que sempre me vem à mente, em momentos os mais inesperados, é a marchinha Era de madrugada. Nos tempos anteriores à internet, procurei localizar o nome do autor e a versão completa, pois só me recordava de um trecho: “Era de madrugada, vinha raiando o dia, quando em minha porta bateu Maria; se não me dissesse seu nome eu não sabia, não conheci Maria”. Agora ficou fácil e posso ouvi-la em várias versões: acabei de escutar uma, de Maria Bethânia, de 1973. E pude saber que seu autor foi o Paquito, que, com parceiros, criou sambas e músicas carnavalescas que fizeram sucesso na época e se tornaram clássicos de nosso cancioneiro: O trem atrasou, Não me diga adeus, Jacarepaguá, Daqui não saio, Tomara que chova e Bigorrilho.
As canções que ouvimos, durante toda a nossa vida, grudam em nós e algumas se incorporam e ficam à espreita para reaparecer a qualquer tempo. Todos nós temos a nossa trilha sonora de vida. E nem sempre são as melhores canções que amamos. Basta o fato de terem sido tocadas num momento especial de nossa existência. Call me, por exemplo, me lembra o despertar do primeiro amor.
Recuerdos de Ypacaray fez parte de uma longa e decisiva viagem de ônibus que me conduziu de Diamantina para a minha nova cidade, Belo Horizonte. A melancolia de saber que estava perdendo uma convivência muito boa e me dirigindo a um rumo desconhecido casou muito bem com aquela triste melodia.
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A lembrança da infância me visita e numa das imagens rememoradas me vejo olhando, da janela da cozinha, para o quintal enorme da casa em que morávamos em Diamantina. Era uma casa que tinha sido, provisoriamente, escola. Tanto que ainda restavam, em cada quarto dela, a inscrição sala 1, 2, ou 3. E os banheiros eram uma dúzia, a maioria trancados por minha mãe. Se os deixasse todos abertos, cada um dos filhos tomaria posse de um e seria impossível mantê-los limpos.
Mas a fotografia do menino de 9 anos olhando pela janela, provavelmente chovia lá fora, é acompanhada do cheiro da comida que se preparava e, principalmente, de uma canção que ele ouvia e que volta sempre à sua memória. O rádio estava certamente sintonizado na Rádio Nacional, que influenciava o Brasil dos anos 1950 com canções, programas de auditório, novelas para adultos e para crianças.
Guardo com carinho a trilha sonora original de Jerônimo, o herói do sertão, que Getúlio Macedo, autor em parceria com Lourival Faissal, me presenteou em uma festa de Natal de compositores. Bangue-bangue brasileiro pelo rádio, atiçando a imaginação, que maravilha que era.
Continuo desviando o caminho da lembrança. Não falei que a canção que sempre me vem à mente, em momentos os mais inesperados, é a marchinha Era de madrugada. Nos tempos anteriores à internet, procurei localizar o nome do autor e a versão completa, pois só me recordava de um trecho: “Era de madrugada, vinha raiando o dia, quando em minha porta bateu Maria; se não me dissesse seu nome eu não sabia, não conheci Maria”. Agora ficou fácil e posso ouvi-la em várias versões: acabei de escutar uma, de Maria Bethânia, de 1973. E pude saber que seu autor foi o Paquito, que, com parceiros, criou sambas e músicas carnavalescas que fizeram sucesso na época e se tornaram clássicos de nosso cancioneiro: O trem atrasou, Não me diga adeus, Jacarepaguá, Daqui não saio, Tomara que chova e Bigorrilho.
As canções que ouvimos, durante toda a nossa vida, grudam em nós e algumas se incorporam e ficam à espreita para reaparecer a qualquer tempo. Todos nós temos a nossa trilha sonora de vida. E nem sempre são as melhores canções que amamos. Basta o fato de terem sido tocadas num momento especial de nossa existência. Call me, por exemplo, me lembra o despertar do primeiro amor.
Recuerdos de Ypacaray fez parte de uma longa e decisiva viagem de ônibus que me conduziu de Diamantina para a minha nova cidade, Belo Horizonte. A melancolia de saber que estava perdendo uma convivência muito boa e me dirigindo a um rumo desconhecido casou muito bem com aquela triste melodia.
Frei Betto - Acre de Chico Mendes
Ressaltar a vida e os ideais de Chico
Mendes, assassinado há 25 anos, deveria ser um dever cívico obrigatório
em todas as nossas escolas ´
Frei Betto
Estado de Minas: 06/11/2013
Frei Betto
Estado de Minas: 06/11/2013
Há 25 anos
assassinaram Chico Mendes (1944-1988). Pagou com a vida a defesa da
Amazônia, a integração entre o homem e a natureza, a criação de reservas
extrativistas que, hoje, evitam que a floresta reine como santuário
intocável ou sofra derrubadas vítima da ambição do capital. Por
enquanto, da parte do governo federal e dos ambientalistas, não há sinal
de nenhuma homenagem ou comemoração (= fazer memória) do martírio de
Chico Mendes.
Para celebrar a data, retornei ao Acre na última semana de outubro. Conheci Chico Mendes no início da década de 1980, quando ainda a esquerda encarava a questão ecológica com preconceito, sem compreender sua ilimitada força política, na medida em que supera partidarismos e agrega pessoas de todas as classes sociais, inclusive crianças. Estive em seu velório em Xapuri, na véspera do Natal de 1988.
Acompanhei de perto o surgimento da luta da nova geração de acreanos, como Chico Mendes, Marina Silva e os irmãos Jorge e Tião Viana, para livrar o estado do latifúndio, dos pistoleiros, das madeireiras irresponsáveis, da caça predatória, da rota do narcotráfico. Em meados da década de 1970, ali estive com frequência, a convite do bispo Moacyr Grecchi, para assessorar as Comunidades Eclesiais de Base, sementeiras de movimentos sociais que, transformados em força política, modificaram o perfil do estado.
Nessa visita recente, conversei com o governador Tião Viana, proferi palestras na universidade federal e, no dia seguinte, para o secretariado dos governos estadual e municipal, e visitei, em Xapuri, o memorial de Chico Mendes e o Seringal Cachoeira.
Com área de 164.221 km², o Acre abriga 4,2% da Amazônia brasileira e conta, hoje, com quase 800 mil habitantes (350 mil na capital, Rio Branco). As terras indígenas compreendem 16% do território, onde vivem 15 etnias com cerca de 13 mil pessoas. São consideradas áreas protegidas 32% das terras do estado, embora o desmatamento afete 13% da área total do Acre, devido sobretudo à abertura de pasto para o gado.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Acre, calculado em 0,559 (2010), cresceu 218% nos últimos 10 anos. Já não é o estado dominado por máfias, como a do ex-deputado federal Hildebrando Pascoal, que mandava retalhar seus inimigos com serra elétrica, nem por pistoleiros a serviço de grileiros, como os que assassinaram Chico Mendes.
Enquanto a média nacional de crianças de 6 a 14 anos na escola é de 84,1% (2011), no Acre chega a 92,2%, embora falte ampliar o regime de tempo integral. A taxa de mortalidade infantil caiu de 31,3 (2000) em cada mil nascidos vivos para 13,9 (2011), aproximando-se da média nacional (13,5).
O Acre é um estado com potencial de riquezas pouco exploradas pelo Brasil. Além de produzir o mais resistente látex (utilizado, em especial, na fabricação de preservativos), e também castanha, madeira certificada e múltiplas frutas, como o açaí, hoje consumido em larga escala pelos europeus, o estado possui ampla possibilidade de turismo ambiental, que não é devidamente incentivado, ao contrário do que faz a Costa Rica. Em nosso país, o turismo ainda engatinha atrelado ao carnaval e ao litoral.
O Acre permanece isolado do resto do Brasil. Seus produtos, para saírem por nossos portos, precisam viajar 3,5 mil km até o Atlântico. Cuidasse melhor o governo da BR-317, a rodovia transoceânica, também conhecida como Rodovia do Pacífico, que liga os dois oceanos que banham a América do Sul, a distância entre Rio Branco e o litoral peruano seria encurtada para 1,5 mil km.
Em tempos de expansão de pastos Amazônia adentro, com a derrubada de árvores seculares, e a atividade predatória de mineradoras e garimpeiros, ressaltar a vida e os ideais de Chico Mendes deveria ser um dever cívico obrigatório em todas as nossas escolas.
Para celebrar a data, retornei ao Acre na última semana de outubro. Conheci Chico Mendes no início da década de 1980, quando ainda a esquerda encarava a questão ecológica com preconceito, sem compreender sua ilimitada força política, na medida em que supera partidarismos e agrega pessoas de todas as classes sociais, inclusive crianças. Estive em seu velório em Xapuri, na véspera do Natal de 1988.
Acompanhei de perto o surgimento da luta da nova geração de acreanos, como Chico Mendes, Marina Silva e os irmãos Jorge e Tião Viana, para livrar o estado do latifúndio, dos pistoleiros, das madeireiras irresponsáveis, da caça predatória, da rota do narcotráfico. Em meados da década de 1970, ali estive com frequência, a convite do bispo Moacyr Grecchi, para assessorar as Comunidades Eclesiais de Base, sementeiras de movimentos sociais que, transformados em força política, modificaram o perfil do estado.
Nessa visita recente, conversei com o governador Tião Viana, proferi palestras na universidade federal e, no dia seguinte, para o secretariado dos governos estadual e municipal, e visitei, em Xapuri, o memorial de Chico Mendes e o Seringal Cachoeira.
Com área de 164.221 km², o Acre abriga 4,2% da Amazônia brasileira e conta, hoje, com quase 800 mil habitantes (350 mil na capital, Rio Branco). As terras indígenas compreendem 16% do território, onde vivem 15 etnias com cerca de 13 mil pessoas. São consideradas áreas protegidas 32% das terras do estado, embora o desmatamento afete 13% da área total do Acre, devido sobretudo à abertura de pasto para o gado.
O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Acre, calculado em 0,559 (2010), cresceu 218% nos últimos 10 anos. Já não é o estado dominado por máfias, como a do ex-deputado federal Hildebrando Pascoal, que mandava retalhar seus inimigos com serra elétrica, nem por pistoleiros a serviço de grileiros, como os que assassinaram Chico Mendes.
Enquanto a média nacional de crianças de 6 a 14 anos na escola é de 84,1% (2011), no Acre chega a 92,2%, embora falte ampliar o regime de tempo integral. A taxa de mortalidade infantil caiu de 31,3 (2000) em cada mil nascidos vivos para 13,9 (2011), aproximando-se da média nacional (13,5).
O Acre é um estado com potencial de riquezas pouco exploradas pelo Brasil. Além de produzir o mais resistente látex (utilizado, em especial, na fabricação de preservativos), e também castanha, madeira certificada e múltiplas frutas, como o açaí, hoje consumido em larga escala pelos europeus, o estado possui ampla possibilidade de turismo ambiental, que não é devidamente incentivado, ao contrário do que faz a Costa Rica. Em nosso país, o turismo ainda engatinha atrelado ao carnaval e ao litoral.
O Acre permanece isolado do resto do Brasil. Seus produtos, para saírem por nossos portos, precisam viajar 3,5 mil km até o Atlântico. Cuidasse melhor o governo da BR-317, a rodovia transoceânica, também conhecida como Rodovia do Pacífico, que liga os dois oceanos que banham a América do Sul, a distância entre Rio Branco e o litoral peruano seria encurtada para 1,5 mil km.
Em tempos de expansão de pastos Amazônia adentro, com a derrubada de árvores seculares, e a atividade predatória de mineradoras e garimpeiros, ressaltar a vida e os ideais de Chico Mendes deveria ser um dever cívico obrigatório em todas as nossas escolas.
Eduardo Almeida Reis-Férias II
Me recuso a comprar automóvel anunciado como ideal para fugir dos tiros de metralhadora disparados de um helicóptero
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 06/11/2013
Como lhes contei na edição da última segunda-feira, passei dias hospedado numa UTI, sigla de unidade de terapia intensiva, de bom hospital juiz-forano. Sempre supus que UTI fosse um conjunto de leitos dispostos lado a lado, em sala imensa, cada um ocupado por dama ou cavalheiro agonizante.
Enganei-me. A UTI que me hospedou é composta de um conjunto de salas, cada qual com aproximadamente 25m2, um leito e uma infinidade de máquinas fixas e outra infinidade de máquinas móveis, que circulam de sala em sala, sem olvidar a infinidade de médicos, enfermeiros e técnicos trabalhando 24 horas por dia, de segunda a segunda, inclusivamente aos sábados e domingos.
Hospedagem que deve custar uma fortuna. Não sei, porque tudo correu por conta dos planos de saúde: tenho dois. Por baixo, cada leito de UTI não pode custar menos que R$ 5 mil/dia. Isso, evidentemente, nos hospitais normais, porque há UTIs em dois hospitais paulistas, preferidas pelos bandidos especializados no desvio de dinheiro público, que devem custar muito mais. É certo que as duas também cuidam de brasileiros honestos, mas se notabilizaram pelos ladrões que têm hospedado geralmente com sucesso clínico. Amanhã tem mais.
Pilosidades
Mr. King Camp Gillette (1855–1932) inventou a lâmina de barbear no tempo em que os homens sérios usavam navalhas suecas, se possível da marca Três Coroas. Sou do tempo das navalhas e não me ajeitei com elas, preferindo aderir ao invento do americano nascido em Fond du Lac, Wisconsin, para esticar as canelas aos 77 anos em Chicago, Illinois.
De duas, uma: ou as suas lâminas eram muito caras ou muito pobres os meus primos, porque me lembro da maioria deles amolando as lâminas para a Gillette durar. O “amolador” era um cálice de vidro, desses usados para beber cachaça. Rodando a Gillette blue blade por dentro do cálice o primo achava que a lâmina durava meses.
A exemplo de tantas outras coisas, a lâmina de barbear mudou muito, surgiu a concorrência e o sábio philosopho, depois de um período em que exibiu indecorosos cavanhaque e bigode, aderiu ao rosto barbeado com o Bic de três lâminas. Gosto muito dos produtos de Marcel Bich, italiano que fundou a empresa Bic depois de eliminar o agá de seu nome, porque em inglês soava como bitch – cadela, vagabunda, puta.
Influenciável pela propaganda, pedi à secretária que me comprasse um pacote da Gillette, junto com os cinco da Bic, todos com três lâminas. Levo muito a sério o trabalho de todas as agências de propaganda, tanto assim que sou incapaz de comprar uma picape anunciada na tevê com as seguintes credenciais: “O mundo ainda vai maltratar muito esta camionete”. Prefiro comprar veículo de outro fabricante, que não seja anunciado por sua aptidão para ser maltratado. Como também me recuso a comprar automóvel anunciado como ideal para fugir dos tiros de metralhadora disparados de um helicóptero.
Isto posto e com pureza de alma, como sempre, posso contar ao pacientíssimo leitor que experimentei o Gillette de três lâminas e constatei que não é pior do que o Bic: é mil vezes pior. Opinião pessoal, direito meu: comprei, paguei, usei, opinei.
Derrapagens
Dia desses, encaminhei bilhete a ilustre escritor, que acumula as funções de magistrado, começando com “Presado doutor”. E o Windows 7 não sublinhou de vermelho o adjetivo e substantivo masculino presado, o que se explica: é o mesmo que apresador, que ou o que apresa. O certo é que não me lembro de ter incorrido no presado em lugar de prezado. Fiquei preocupado.
Dois dias depois embarquei numa “viajem de primeiríssima classe”, repassando e-mail que me foi mandado por um dos maiores cultores da língua portuguesa. Repassei seu e-mail sobre o voo Tailândia-Hong Kong numa empresa asiática em Airbus A-380: um luxo só, mas o substantivo viagem é com gê.
Donde se conclui que, em português, há que desconfiar. Não por acaso, Abgar Renault dizia escrever com alguma correção porque era muito desconfiado.
O mundo é uma bola
6 de novembro de 1430: coroação de Henrique IV, de Inglaterra. Depois do V, do VI e do VII, os ingleses conheceriam Henrique VIII, aquele que tinha mania de mandar matar suas mulheres na Torre de Londres sob acusação de adultério, sinal de que era vocacionado para receber pares de chifres em sua testa real.
Em 1797, o tzar Paulo I assume o poder na Rússia depois da morte de sua mãe, a imperatriz Catarina, a Grande. Em 1817, o futuro Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal se casa com Leopoldina, aliás Caroline Josepha Leopoldine Franziska Ferdinanda von Habsburg-Lothringen, nascida em Viena, Áustria.
Em 1844, a República Dominicana, que produz bons charutos, se torna independente do Haiti, que continua sendo o Haiti. Em 1913, prisão de Gandhi quando liderava marcha de mineiros indianos na África do Sul. Deve datar daí seu relacionamento homoafetivo com um alemão, que a bisbilhotice biográfica internacional andou citando recentemente.
Hoje é o Dia Nacional do Riso e o Dia Nacional do Amigo da Marinha do Brasil.
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas : 06/11/2013
Como lhes contei na edição da última segunda-feira, passei dias hospedado numa UTI, sigla de unidade de terapia intensiva, de bom hospital juiz-forano. Sempre supus que UTI fosse um conjunto de leitos dispostos lado a lado, em sala imensa, cada um ocupado por dama ou cavalheiro agonizante.
Enganei-me. A UTI que me hospedou é composta de um conjunto de salas, cada qual com aproximadamente 25m2, um leito e uma infinidade de máquinas fixas e outra infinidade de máquinas móveis, que circulam de sala em sala, sem olvidar a infinidade de médicos, enfermeiros e técnicos trabalhando 24 horas por dia, de segunda a segunda, inclusivamente aos sábados e domingos.
Hospedagem que deve custar uma fortuna. Não sei, porque tudo correu por conta dos planos de saúde: tenho dois. Por baixo, cada leito de UTI não pode custar menos que R$ 5 mil/dia. Isso, evidentemente, nos hospitais normais, porque há UTIs em dois hospitais paulistas, preferidas pelos bandidos especializados no desvio de dinheiro público, que devem custar muito mais. É certo que as duas também cuidam de brasileiros honestos, mas se notabilizaram pelos ladrões que têm hospedado geralmente com sucesso clínico. Amanhã tem mais.
Pilosidades
Mr. King Camp Gillette (1855–1932) inventou a lâmina de barbear no tempo em que os homens sérios usavam navalhas suecas, se possível da marca Três Coroas. Sou do tempo das navalhas e não me ajeitei com elas, preferindo aderir ao invento do americano nascido em Fond du Lac, Wisconsin, para esticar as canelas aos 77 anos em Chicago, Illinois.
De duas, uma: ou as suas lâminas eram muito caras ou muito pobres os meus primos, porque me lembro da maioria deles amolando as lâminas para a Gillette durar. O “amolador” era um cálice de vidro, desses usados para beber cachaça. Rodando a Gillette blue blade por dentro do cálice o primo achava que a lâmina durava meses.
A exemplo de tantas outras coisas, a lâmina de barbear mudou muito, surgiu a concorrência e o sábio philosopho, depois de um período em que exibiu indecorosos cavanhaque e bigode, aderiu ao rosto barbeado com o Bic de três lâminas. Gosto muito dos produtos de Marcel Bich, italiano que fundou a empresa Bic depois de eliminar o agá de seu nome, porque em inglês soava como bitch – cadela, vagabunda, puta.
Influenciável pela propaganda, pedi à secretária que me comprasse um pacote da Gillette, junto com os cinco da Bic, todos com três lâminas. Levo muito a sério o trabalho de todas as agências de propaganda, tanto assim que sou incapaz de comprar uma picape anunciada na tevê com as seguintes credenciais: “O mundo ainda vai maltratar muito esta camionete”. Prefiro comprar veículo de outro fabricante, que não seja anunciado por sua aptidão para ser maltratado. Como também me recuso a comprar automóvel anunciado como ideal para fugir dos tiros de metralhadora disparados de um helicóptero.
Isto posto e com pureza de alma, como sempre, posso contar ao pacientíssimo leitor que experimentei o Gillette de três lâminas e constatei que não é pior do que o Bic: é mil vezes pior. Opinião pessoal, direito meu: comprei, paguei, usei, opinei.
Derrapagens
Dia desses, encaminhei bilhete a ilustre escritor, que acumula as funções de magistrado, começando com “Presado doutor”. E o Windows 7 não sublinhou de vermelho o adjetivo e substantivo masculino presado, o que se explica: é o mesmo que apresador, que ou o que apresa. O certo é que não me lembro de ter incorrido no presado em lugar de prezado. Fiquei preocupado.
Dois dias depois embarquei numa “viajem de primeiríssima classe”, repassando e-mail que me foi mandado por um dos maiores cultores da língua portuguesa. Repassei seu e-mail sobre o voo Tailândia-Hong Kong numa empresa asiática em Airbus A-380: um luxo só, mas o substantivo viagem é com gê.
Donde se conclui que, em português, há que desconfiar. Não por acaso, Abgar Renault dizia escrever com alguma correção porque era muito desconfiado.
O mundo é uma bola
6 de novembro de 1430: coroação de Henrique IV, de Inglaterra. Depois do V, do VI e do VII, os ingleses conheceriam Henrique VIII, aquele que tinha mania de mandar matar suas mulheres na Torre de Londres sob acusação de adultério, sinal de que era vocacionado para receber pares de chifres em sua testa real.
Em 1797, o tzar Paulo I assume o poder na Rússia depois da morte de sua mãe, a imperatriz Catarina, a Grande. Em 1817, o futuro Pedro I do Brasil e Pedro IV de Portugal se casa com Leopoldina, aliás Caroline Josepha Leopoldine Franziska Ferdinanda von Habsburg-Lothringen, nascida em Viena, Áustria.
Em 1844, a República Dominicana, que produz bons charutos, se torna independente do Haiti, que continua sendo o Haiti. Em 1913, prisão de Gandhi quando liderava marcha de mineiros indianos na África do Sul. Deve datar daí seu relacionamento homoafetivo com um alemão, que a bisbilhotice biográfica internacional andou citando recentemente.
Hoje é o Dia Nacional do Riso e o Dia Nacional do Amigo da Marinha do Brasil.
Tv Paga
Estado de Minas: 06/11/2013
Fada madrinha
O estilista Randy Fenoli está de volta ao Home & Health. Desta vez ele vem motorizado e com a missão de socorrer noivas desesperadas na nova série Operação vestido de noiva (foto), que estreia hoje, às 20h. Fenoli deixa para trás seu estúdio em Nova York e o luxo das passarelas e embarca em um caminhão que será seu local de trabalho durante a viagem, mas o mais curioso é o kit de primeiros socorros que ele leva: dezenas de vestidos, aviamentos, acessórios, croquis e ideias para reanimar noivas em perigo. Mas antes mesmo disso, às 19h, Fenoli apresenta outra atração, O vestido ideal: madrinhas. Ainda no canal, a série de especiais sobre a adolescência tem continuidade hoje com Guia de sobrevivência, às 21h.
Jovens amish contrariam
suas tradições religiosas
Novidade também no TLC, que estreia, às 22h, a série Mundo amish: rompendo as regras, Los Angeles. Com título rebuscado e pra lá de estranho, a produção acompanha a rotina de quatro jovens amish e um menonita que vão explorar o mundo fora dos limites de suas comunidades, que seguem rígidos preceitos religiosos, correndo o risco de serem rejeitados completamente por causa da decisão que tomaram de viver longe de suas tradições. E olhe que, apesar do nome, Los Angeles não é terra de anjo algum.
Canal Brasil valoriza a
Velha Guarda da Portela
Com uma trajetória de 60 anos no samba, Noca da Portela é uma das figuras mais emblemáticas da escola de samba de Oswaldo Cruz, bem perto de Madureira. Na edição de hoje de Enciclopédia do samba, às 18h45, no Canal Brasil, ele canta sucessos como Coração vadio, Virada, Não me venha com indireta e Peregrino.
Transposição do Velho
Chico ainda é polêmica
O Canal Futura exibe de hoje a sexta-feira, às 17h, no Jornal Futura, a série “Veredas do Velho Chico”. A equipe do jornalismo da emissora acompanhou no sertão nordestino as mudanças provocadas pelas obras no Rio São Francisco nas comunidades que dependem de suas águas. Foram visitados cinco municípios de Pernambuco para mostrar as consequências da construção de barragens e, como as populações locais têm sido atingidas pela polêmica transposição das águas. A primeira reportagem mostra a rotina dos pescadores artesanais de Petrolândia, local mais afetado pela construção da barragem de Itaparica, na década de 1980.
Viva resgata a série de
comédia Os normais
Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres vão matar a saudade dos fãs do divertido, neurótico e irreverente casal Rui e Vani, com a reprise da série Os normais pelo canal Viva, toda quarta-feira, às 20h30. Um dos seriados de humor de maior sucesso na TV brasileira, tem texto de Alexandre Machado e Fernanda Young e direção de José Alvarenga Jr. Rendeu até dois filmes, que tiveram relativo sucesso também no cinema.
Muitas alternativas na
programação de filmes
No pacotão de filmes, o destaque de hoje é Ervas daninhas, do francês Alain Resnais, às 21h30, no Arte 1. Na faixa das 22h, o assinante tem pelo menos oito opções: Lara, no Canal Brasil; 12 horas até o amanhecer, no ID; Anjo da guarda, no Max Prime; Guerreiros do amanhã, no Space; Um homem misterioso, no Studio Universal; Kill Bill vol.1, no Sony Spin; O exótico Hotel Marigold, no Telecine Touch; e Lincoln, no Telecine Pipoca. Outras atrações: Duro de matar 4.0, às 22h30, no FX; O exterminador do futuro: a salvação, às 22h45, no Universal; Golpe baixo, às 23h, no Comedy Central; e Indiana Jones e os caçadores da arca perdida, às 23h55, no Megapix.
O estilista Randy Fenoli está de volta ao Home & Health. Desta vez ele vem motorizado e com a missão de socorrer noivas desesperadas na nova série Operação vestido de noiva (foto), que estreia hoje, às 20h. Fenoli deixa para trás seu estúdio em Nova York e o luxo das passarelas e embarca em um caminhão que será seu local de trabalho durante a viagem, mas o mais curioso é o kit de primeiros socorros que ele leva: dezenas de vestidos, aviamentos, acessórios, croquis e ideias para reanimar noivas em perigo. Mas antes mesmo disso, às 19h, Fenoli apresenta outra atração, O vestido ideal: madrinhas. Ainda no canal, a série de especiais sobre a adolescência tem continuidade hoje com Guia de sobrevivência, às 21h.
Jovens amish contrariam
suas tradições religiosas
Novidade também no TLC, que estreia, às 22h, a série Mundo amish: rompendo as regras, Los Angeles. Com título rebuscado e pra lá de estranho, a produção acompanha a rotina de quatro jovens amish e um menonita que vão explorar o mundo fora dos limites de suas comunidades, que seguem rígidos preceitos religiosos, correndo o risco de serem rejeitados completamente por causa da decisão que tomaram de viver longe de suas tradições. E olhe que, apesar do nome, Los Angeles não é terra de anjo algum.
Canal Brasil valoriza a
Velha Guarda da Portela
Com uma trajetória de 60 anos no samba, Noca da Portela é uma das figuras mais emblemáticas da escola de samba de Oswaldo Cruz, bem perto de Madureira. Na edição de hoje de Enciclopédia do samba, às 18h45, no Canal Brasil, ele canta sucessos como Coração vadio, Virada, Não me venha com indireta e Peregrino.
Transposição do Velho
Chico ainda é polêmica
O Canal Futura exibe de hoje a sexta-feira, às 17h, no Jornal Futura, a série “Veredas do Velho Chico”. A equipe do jornalismo da emissora acompanhou no sertão nordestino as mudanças provocadas pelas obras no Rio São Francisco nas comunidades que dependem de suas águas. Foram visitados cinco municípios de Pernambuco para mostrar as consequências da construção de barragens e, como as populações locais têm sido atingidas pela polêmica transposição das águas. A primeira reportagem mostra a rotina dos pescadores artesanais de Petrolândia, local mais afetado pela construção da barragem de Itaparica, na década de 1980.
Viva resgata a série de
comédia Os normais
Luiz Fernando Guimarães e Fernanda Torres vão matar a saudade dos fãs do divertido, neurótico e irreverente casal Rui e Vani, com a reprise da série Os normais pelo canal Viva, toda quarta-feira, às 20h30. Um dos seriados de humor de maior sucesso na TV brasileira, tem texto de Alexandre Machado e Fernanda Young e direção de José Alvarenga Jr. Rendeu até dois filmes, que tiveram relativo sucesso também no cinema.
Muitas alternativas na
programação de filmes
No pacotão de filmes, o destaque de hoje é Ervas daninhas, do francês Alain Resnais, às 21h30, no Arte 1. Na faixa das 22h, o assinante tem pelo menos oito opções: Lara, no Canal Brasil; 12 horas até o amanhecer, no ID; Anjo da guarda, no Max Prime; Guerreiros do amanhã, no Space; Um homem misterioso, no Studio Universal; Kill Bill vol.1, no Sony Spin; O exótico Hotel Marigold, no Telecine Touch; e Lincoln, no Telecine Pipoca. Outras atrações: Duro de matar 4.0, às 22h30, no FX; O exterminador do futuro: a salvação, às 22h45, no Universal; Golpe baixo, às 23h, no Comedy Central; e Indiana Jones e os caçadores da arca perdida, às 23h55, no Megapix.
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CARAS & BOCAS »
Proposta diferente
Simone Castro
Lili, primeira protagonista de Juliana Paiva, se lança na aventura atrás de uma pista para encontrar o pai |
OK, muitas imagens e o clima, especialmente na ambientação, tomadas e abertura, remetem ao seriado Lost. Mas será que a dupla de autores Marcos Bernstein e Carlos Gregório terá fôlego suficiente para manter o pique de aventura e suspense da novela Além do horizonte (Globo), que estreou anteontem, no horário das 19h? Ao site oficial da novela, eles confirmam serem os dois ingredientes que moverão a trama, mas enumeram outras fontes de inspiração, como Indiana Jones, Goonies, Horizonte perdido. Uma coisa parece certa: estreantes como titulares, Marcos e Carlos trazem para o horário uma nova proposta que deixa de lado a dobradinha romance e comédia, normalmente explorada para atrair o público, e encaram outra pegada, e assim a novela ganha ares de thriller.
O primeiro capítulo ganhou em suspense, o que deixou no telespectador um gostinho de quero mais. Do sapo que assustou a mocinha, logo no dia do seu noivado – ele não viraria um príncipe? –, no Rio de Janeiro, ao homem, perseguido na Floresta Amazônica e que pode ter sido atacado por um monstro, a terrível “besta”, como a chamaram os moradores de um povoado, e que apareceu morto, com a cara toda marcada. Obra da natureza ou armação de homens fora da lei? O fato é que pessoas saíram em busca da felicidade e desapareceram. A tarefa de encontrá-las é que conduzirá a trama nos próximos capítulos.
Juliana Paiva vive sua primeira protagonista, Lili. Depois de ganhar notoriedade como a Fatinha, de Malhação, a atriz agora interpreta uma jovem mimada, decidida e que acredita ser a dona do mundo. É daquelas para amar ou odiar, vamos ver. Ela quer encontrar o pai, que foi dado como morto mas deixou uma carta que dá pistas de que pode apenas estar desaparecido. Parentes de outras pessoas, entre elas de William, personagem de Thiago Rodrigues, o galã da vez, também tiveram o mesmo destino. É o que juntará a galera. No mais, em termos de elenco, figuras para lá de batidas, como Flávia Alessandra e Alexandre Borges. Mas uma presença pode roubar a cena: o menino JP Rufino, que interpreta o esperto Nilson. Apostas estão no ar.
MARÍLIA PÊRA NÃO PENSA
EM PARAR DE ATUAR
A atriz Marília Pêra é a convidada do Damas da TV hoje, às 21h, no canal Viva (TV paga). Criada em coxias de teatros, ela começou a carreira aos quatro anos na peça Medeia, de Eurípedes, e nunca mais parou de atuar. Aos 70 anos, Marília não pensa em parar e muito menos em diminuir o ritmo dos compromissos profissionais: “Em cena, quando fico correndo para lá e para cá e o bailarino me leva lá em cima, penso que tenho 20 anos. Não conheço uma pessoa de 70 que trabalhe o que eu trabalho. Tem que cuidar da saúde. Tudo que eu fazia quando eu tinha onze, doze anos, continuo fazendo.” Na TV, o primeiro papel da atriz foi na novela Rosinha do sobrado, em 1965. Atualmente, ela pode ser vista como a Darlene, em Pé na cova, e no próprio Viva na reprise da minissérie O primo Basílio.
CULTURA MOSTRA SÉRIE
SOBRE NOMES DA DANÇA
Estreia, na madrugada de amanhã, à 0h15, na TV Cultura, a temporada 2013 da série Figuras da dança, uma produção da São Paulo Companhia de Dança. Os documentários são resultado de um minucioso trabalho de pesquisa e abordam as vidas dos personagens através de materiais iconográficos e registros audiovisuais, esboçando ainda um contexto histórico que permite traçar um mapa da dança no país. No primeiro programa, o público confere a trajetória de Hugo Travers, argentino radicado no Brasil que dedicou sua vida à dança.
COFRES PÚBLICOS
A atriz Deborah Secco foi condenada pela Justiça a devolver aos cofres públicos R$ 158.191. Ela e sua família foram denunciadas há mais de três anos por desvio de verbas públicas, em ação de enriquecimento ilícito e improbidade administrativa. A mãe, o irmão, a irmã e a produtora Luz Produções Artísticas Ltda., que pertence à família de Deborah, terão que restituir R$ 446.455. O advogado da atriz, Mauro Roberto Gomes de Mattos, disse ao site UOL que vai recorrer da decisão. “A sentença que saiu condena a Deborah, pessoa física, em R$158.191, e a empresa dela, a Luz Produções Artísticas Ltda., em R$163.700. Improbidade administrativa pressupõe participação da Deborah com agentes públicos, mas isso não ocorreu. No presente caso não existe nenhum envolvimento dela com o agente público. Ela é acusada na qualidade de filha do Ricardo Tindó Ribeiro Secco de ter recebido mesada do pai, que tinha negócios com o Estado. É acusada de improbidade familiar", explicou o advogado. A ação na Justiça envolve ONGs cujos interesses eram representados pelo pai da atriz. Na sentença, o juiz Alexandre de Carvalho Mesquita, da 3ª Vara de Fazenda Pública, suspende os direitos políticos dos envolvidos, os obriga a pagar multa de R$ 5 mil e os proíbe de contratar com o poder público ou receber incentivos fiscais.
VIVA
Mais uma vez, Mateus Solano e Bárbara Paz dominaram um capítulo de Amor à vida (Globo).
VAIA
Ritmo de Joia rara (Globo) começa a ficar muito lento, o que pode tirar atenção do telespectador.
TDAH na vida adulta
Cerca de 70% das crianças portadoras do
transtorno do déficit de atenção com hiperatividade seguem tendo
prejuízos quando maiores. Doença é marcada principalmente por
preconceito e falta de conhecimento
Lilian Monteiro*
Estado de Minas: 06/11/2013
Curitiba – Instabilidade profissional, rendimento abaixo da capacidade intelectual, falta de foco e atenção, dificuldade de seguir rotinas, tédio, dificuldade de planejar e executar tarefas propostas e frequente alteração de humor. Esses são alguns sintomas do adulto com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), um mal neurobiológico reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a vida. Muitos desconhecem que o TDAH, bastante falado, discutido e tratado em crianças, pode persistir em homens e mulheres. O assunto foi debatido recentemente, durante o 31º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Curitiba.
Iane Kestelman, presidente da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), apontou o preconceito contra pacientes de TDAH e a falta de políticas públicas para o problema. Carlos Alberto Iglesias Salgado, mestre em psiquiatria, especialista em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisador associado do Programa de Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade da Federal do Rio Grande do Sul (ProDAH/UFRGS), atribui a falta de divulgação e debate desse diagnóstico em adultos às questões colocadas por Kestelman.
"Primeiro, por desconhecimento de muitas coisas, não só do TDAH. E também por ser objeto de um certo preconceito, de que era um transtorno que se resolvia naturalmente ao longo da infância para a adolescência. Agora percebe-se, por meio da estatística e de dados epidemiológicos, que até 70% das crianças portadoras dos vários subtítulos de déficit de atenção vão seguir tendo prejuízo na vida adulta", diz Salgado. O médico reforça que esse transtorno não surge tardiamente.
"Trata-se tipicamente de uma doença longitudinal, que acompanha o indivíduo quase desde sempre. Seja essa percepção a partir de 4, 8, 10, 15 anos. Provavelmente, bem revisada, o médico vai localizar a sintomatologia mais antigamente. Então, se o indivíduo tem alguma suspeita, está cada vez mais fácil de verificar. Ele pode procurar a ABDA, que tem um site bastante confiável, e vai encontrar formas de apurar sua impressão, por exemplo, respondendo um questionário organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de boa qualidade, que pode dar pistas iniciais do TDAH", acrescenta.
Antônio Alvim Soares, psiquiatra do Núcleo de Investigação dos Transtornos da Impulsividade e Atenção do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Nitida/UFMG), também presente no congresso em Curitiba e mediador de uma das mesas sobre o TDAH, reforça que o transtorno é superprevalente, já que 5% da população adulta mundial apresenta TDAH. Nas crianças, a média é de 7% a 10%. Normalmente, a incidência do transtorno é de três homens para cada mulher ou ainda três homens por cada duas mulheres. "A menor taxa em mulheres é porque nela há predomínio da forma desatenta. Um incômodo em que, por não trazer problemas de comportamento, a busca por ajuda é menor. Diferentemente dos homens que apresentam sintomas combinados: hiperatividade e desatenção", comenta Soares.
Para Carlos Salgado, o adulto que deseja verificar se tem o diagnóstico certamente terá de revisar sua biografia, em que vai encontrar evidências desde a infância. "Ou seja, ele pode avaliar se tinha um jeito peculiar mais impulsivo, mais inquieto e desatento do que seria esperado da sua turma de contemporâneos, de seus irmãos e, muitas vezes, como ressaltamos na conferência, levando em consideração o pai, muito provavelmente portador, a mãe, ou várias gerações de familiares, já que a hereditariedade do transtorno é elevada."
O pesquisador da UFRGS chama a atenção sobre a chance de haver um diagnóstico exagerado em qualquer condição clínica. Ser inquieto não é sinônimo de doença. Mas se tiver prejuízo em atividades, provavelmente há uma condição clínica significativa. O sofrimento no adulto, como em qualquer outra fase, tem de ser tratado com terapia e remédio, indica o médico. "O recurso psicoterápico bem dirigido – as chamadas terapias cognitivas comportamentais – é capaz de ajudar muito o indivíduo a usar recursos compensatórios. Ele não vai deixar de ser desatento, mas vai usar com mais habilidade e convicção o agendamento, o despertar do relógio ou do telefone como forma de se manter ordenado. Vai criar uma disciplina. E, claro, o benefício da medicação adequada é enorme. O indivíduo tem um salto de qualidade de vida muito grande, sem dúvida."
INCIDÊNCIA É importante ressaltar que o TDAH não está ligado a fatores culturais ou conflitos psicológicos, mas a pequenas alterações na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento e do controle da atenção. O psiquiatra mineiro Antônio Alvim Soares explica que o mal engloba três esferas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. No entanto, ele enfatiza que é considerado transtorno somente se "causar prejuízo na vida da pessoa. No caso do adulto, crise nos relacionamentos, risco aumentado de acidentes de carro, gravidez indesejada, dificuldade de se manter no trabalho, e maiores chances de contração de doenças sexualmente transmissíveis, pela falta de cuidado consigo mesmo." Ele lembra ainda que o diagnóstico básico leva em conta o prejuízo em dois ambientes (escola/trabalho e em casa).
De acordo com o DSM-5 (manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria), os sintomas vão estar presentes antes dos 12 anos de idade. A partir dessa idade praticamente não há relatos. "O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento com influência genética e ambiental. O diagnóstico não é fácil porque exige uma avaliação multidisciplinar. No caso dos adultos, o problema é que as pessoas se acostumam com algumas coisas. Como o fato de ser desatento, por exemplo. E tem ainda o viés da memória, já que a mãe não vai acompanhar um homem de 30 anos ao consultório", pontua Soares.
Outro obstáculo observado pelo médico mineiro na hora do diagnóstico são as comorbidades, que são a presença de dois ou mais diagnósticos distintos. "Diferentemente da maioria dos quadros de medicina, em que o paciente pode apresentar sintomas similares para várias patologias, no TDAH há uma regra. Trinta por cento dos pacientes apresentam um quadro puro, ou seja, só têm esse transtorno. Os demais vão se encaixar no transtorno desafiador opositivo (TDO), em que a criança que não assume erros ou irrita os outros, por exemplo; no transtorno de conduta, caracterizado por hábitos antissociais e pequenos furtos; e o transtorno de identidade, marcado pela dificuldade de aprendizado e a dislexia", esclarece Antônio Alvim Soares.
ANSIEDADE Em adultos, Soares explica que quadros de ansiedade e depressão causam maior prejuízo ao longo da vida. "A maioria dos adultos, quando busca ajuda, é pela ansiedade, não por um possível diagnóstico de TDAH. No entanto, a ansiedade faz parte da vida, é a resposta para algum perigo. Agora, se for recorrente, procure o médico. Os sintomas de TDAH ocorrem com frequência e intensidade maiores."
O psiquiatra ainda destaca que o TDAH tem controle, não cura. "É como usar óculos para a miopia. Não cura, mas controla e vive-se bem. É importante dizer ainda que a resposta ao tratamento medicamentoso é alta, cerca de 70%. Mas não invalida a necessidade de tratamentos não farmacológicos, como a terapia cognitiva comportamental, terapia ocupacional e fonoaudiologia". Ele reforça ainda que o diagnóstico é clínico e que no adulto os sintomas são diferentes por causa da maturação cerebral. "O TDAH é um transtorno psiquátrico bem validado, com base neurobiológica comprovado por estudo de neuroimagem e genética. Não é inventado e não é simplesmente um jeito diferente de ser." Por outro lado, Antônio Soares assegura: "O tratamento oferece melhora da qualidade de vida, autoestima e desempenho ocupacional".
* A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
Como lidar com o problema
1 - Estresse e alteração de humor: pratique exercícios porque alivia o estresse, melhora o humor, acalma a mente e ajuda a gastar o excesso de energia. Durma bastante, já que poucas horas de sono aumentam os sintomas, diminuindo a capacidade de manter o foco durante o dia. Evite cafeína e exercícios até uma hora antes de dormir; mantenha uma rotina à noite. Alimente-se de maneira correta. Comer bem ajuda a diminuir a distração, a hiperatividade e os níveis de estresse. Coma pequenas porções durante o dia e procure ingerir pouco açúcar, menos carboidrato e mais proteínas, o que pode ajudar a reduzir os sintomas.
2 - Como se organizar e evitar a desordem diária: crie espaço e verifique diariamente o que você usará e o que deverá ficar guardado. Defina lugares para chaves, contas e outros itens que se perdem facilmente. Jogue fora tudo o que não for necessário. Crie o hábito de usar agenda, faça listas e anote tudo o que for importante, como tarefas, compromissos e projetos. Planejamento é condição necessária para o bom desempenho das pessoas com TDAH. Para evitar o esquecimento, procrastinação e desordem, faça o que tiver que ser feito na hora, evitando deixar para depois. Estabeleça um sistema de arquivamento. Use divisores, separe pelo tipo de documento (receitas, contas, fichas de inscrição, etc.) e faça etiquetas.
3- Administre seu tempo e não perca compromissos: use um relógio que esteja sempre à vista e com o horário certo. Quando começar uma tarefa, diga em voz alta ou anote o horário, além de marcar uma quantidade de tempo para executá-la. Defina as suas tarefas mais importantes do dia e depois as de menor importância. Crie uma curta rotina diária e defina o tempo para ela. Dê mais tempo do que você julga necessário. Por exemplo, se você acha que para realizar determinada tarefa, ou encontrar alguém em outro lugar, você levará por volta de 30 minutos, adicione 15 minutos. Anote os horários de seus compromissos com 15 minutos (ou o tempo que você julgar necessário) de antecedência e use alarmes para que você chegue na hora certa. Aprenda a dizer não. Verifique sempre sua agenda para ver se você realmente pode aceitar um compromisso, tarefa ou trabalho extra, de maneira que isso não
o prejudique.
* Fonte: www.tdah.org.br
Personagem da notícia
Carlos Felipe Marrafa, de 30 anos, técnico em tecnologia da informação
Estou muito bem
"Descobri que tinha TDAH aos 17 anos. A coordenadora da minha escola na época levantou a hipótese e conversou com minha mãe. Eu era um menino inteligente, mas muito desligado. Não conseguia prestar atenção e não me concentrava. Alertados, procuramos informações na internet, compramos livros, pesquisamos o tratamento e, por fim, buscamos ajuda. Passei por alguns psiquiatras, mas dispensei todos por não me adaptar. Aos 24 anos, me acertei com um médico e iniciei o tratamento com remédio e terapia. Desde então conheci outro mundo. Ainda tenho dificuldades de concentração. Na escola é mais fácil, são só quatro horas diárias. Já no trabalho, em que fico de oito a 10 horas por dia, tenho mais cuidado, mas estou indo muito bem. Consigo organizar meus pensamentos e minhas relações melhoraram em todas as áreas. Tenho planos e sonhos que, agora, tenho certeza de que vou realizá-los. Recomendo a todos com TDAH de não desistir porque o tratamento tem resultado para vivermos melhor.”
Lilian Monteiro*
Estado de Minas: 06/11/2013
Curitiba – Instabilidade profissional, rendimento abaixo da capacidade intelectual, falta de foco e atenção, dificuldade de seguir rotinas, tédio, dificuldade de planejar e executar tarefas propostas e frequente alteração de humor. Esses são alguns sintomas do adulto com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), um mal neurobiológico reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a vida. Muitos desconhecem que o TDAH, bastante falado, discutido e tratado em crianças, pode persistir em homens e mulheres. O assunto foi debatido recentemente, durante o 31º Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Curitiba.
Iane Kestelman, presidente da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), apontou o preconceito contra pacientes de TDAH e a falta de políticas públicas para o problema. Carlos Alberto Iglesias Salgado, mestre em psiquiatria, especialista em dependência química pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e pesquisador associado do Programa de Transtornos de Déficit de Atenção/Hiperatividade da Federal do Rio Grande do Sul (ProDAH/UFRGS), atribui a falta de divulgação e debate desse diagnóstico em adultos às questões colocadas por Kestelman.
"Primeiro, por desconhecimento de muitas coisas, não só do TDAH. E também por ser objeto de um certo preconceito, de que era um transtorno que se resolvia naturalmente ao longo da infância para a adolescência. Agora percebe-se, por meio da estatística e de dados epidemiológicos, que até 70% das crianças portadoras dos vários subtítulos de déficit de atenção vão seguir tendo prejuízo na vida adulta", diz Salgado. O médico reforça que esse transtorno não surge tardiamente.
"Trata-se tipicamente de uma doença longitudinal, que acompanha o indivíduo quase desde sempre. Seja essa percepção a partir de 4, 8, 10, 15 anos. Provavelmente, bem revisada, o médico vai localizar a sintomatologia mais antigamente. Então, se o indivíduo tem alguma suspeita, está cada vez mais fácil de verificar. Ele pode procurar a ABDA, que tem um site bastante confiável, e vai encontrar formas de apurar sua impressão, por exemplo, respondendo um questionário organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de boa qualidade, que pode dar pistas iniciais do TDAH", acrescenta.
Antônio Alvim Soares, psiquiatra do Núcleo de Investigação dos Transtornos da Impulsividade e Atenção do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (Nitida/UFMG), também presente no congresso em Curitiba e mediador de uma das mesas sobre o TDAH, reforça que o transtorno é superprevalente, já que 5% da população adulta mundial apresenta TDAH. Nas crianças, a média é de 7% a 10%. Normalmente, a incidência do transtorno é de três homens para cada mulher ou ainda três homens por cada duas mulheres. "A menor taxa em mulheres é porque nela há predomínio da forma desatenta. Um incômodo em que, por não trazer problemas de comportamento, a busca por ajuda é menor. Diferentemente dos homens que apresentam sintomas combinados: hiperatividade e desatenção", comenta Soares.
Para Carlos Salgado, o adulto que deseja verificar se tem o diagnóstico certamente terá de revisar sua biografia, em que vai encontrar evidências desde a infância. "Ou seja, ele pode avaliar se tinha um jeito peculiar mais impulsivo, mais inquieto e desatento do que seria esperado da sua turma de contemporâneos, de seus irmãos e, muitas vezes, como ressaltamos na conferência, levando em consideração o pai, muito provavelmente portador, a mãe, ou várias gerações de familiares, já que a hereditariedade do transtorno é elevada."
O pesquisador da UFRGS chama a atenção sobre a chance de haver um diagnóstico exagerado em qualquer condição clínica. Ser inquieto não é sinônimo de doença. Mas se tiver prejuízo em atividades, provavelmente há uma condição clínica significativa. O sofrimento no adulto, como em qualquer outra fase, tem de ser tratado com terapia e remédio, indica o médico. "O recurso psicoterápico bem dirigido – as chamadas terapias cognitivas comportamentais – é capaz de ajudar muito o indivíduo a usar recursos compensatórios. Ele não vai deixar de ser desatento, mas vai usar com mais habilidade e convicção o agendamento, o despertar do relógio ou do telefone como forma de se manter ordenado. Vai criar uma disciplina. E, claro, o benefício da medicação adequada é enorme. O indivíduo tem um salto de qualidade de vida muito grande, sem dúvida."
INCIDÊNCIA É importante ressaltar que o TDAH não está ligado a fatores culturais ou conflitos psicológicos, mas a pequenas alterações na região frontal do cérebro, responsável pela inibição do comportamento e do controle da atenção. O psiquiatra mineiro Antônio Alvim Soares explica que o mal engloba três esferas: desatenção, hiperatividade e impulsividade. No entanto, ele enfatiza que é considerado transtorno somente se "causar prejuízo na vida da pessoa. No caso do adulto, crise nos relacionamentos, risco aumentado de acidentes de carro, gravidez indesejada, dificuldade de se manter no trabalho, e maiores chances de contração de doenças sexualmente transmissíveis, pela falta de cuidado consigo mesmo." Ele lembra ainda que o diagnóstico básico leva em conta o prejuízo em dois ambientes (escola/trabalho e em casa).
De acordo com o DSM-5 (manual diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria), os sintomas vão estar presentes antes dos 12 anos de idade. A partir dessa idade praticamente não há relatos. "O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento com influência genética e ambiental. O diagnóstico não é fácil porque exige uma avaliação multidisciplinar. No caso dos adultos, o problema é que as pessoas se acostumam com algumas coisas. Como o fato de ser desatento, por exemplo. E tem ainda o viés da memória, já que a mãe não vai acompanhar um homem de 30 anos ao consultório", pontua Soares.
Outro obstáculo observado pelo médico mineiro na hora do diagnóstico são as comorbidades, que são a presença de dois ou mais diagnósticos distintos. "Diferentemente da maioria dos quadros de medicina, em que o paciente pode apresentar sintomas similares para várias patologias, no TDAH há uma regra. Trinta por cento dos pacientes apresentam um quadro puro, ou seja, só têm esse transtorno. Os demais vão se encaixar no transtorno desafiador opositivo (TDO), em que a criança que não assume erros ou irrita os outros, por exemplo; no transtorno de conduta, caracterizado por hábitos antissociais e pequenos furtos; e o transtorno de identidade, marcado pela dificuldade de aprendizado e a dislexia", esclarece Antônio Alvim Soares.
ANSIEDADE Em adultos, Soares explica que quadros de ansiedade e depressão causam maior prejuízo ao longo da vida. "A maioria dos adultos, quando busca ajuda, é pela ansiedade, não por um possível diagnóstico de TDAH. No entanto, a ansiedade faz parte da vida, é a resposta para algum perigo. Agora, se for recorrente, procure o médico. Os sintomas de TDAH ocorrem com frequência e intensidade maiores."
O psiquiatra ainda destaca que o TDAH tem controle, não cura. "É como usar óculos para a miopia. Não cura, mas controla e vive-se bem. É importante dizer ainda que a resposta ao tratamento medicamentoso é alta, cerca de 70%. Mas não invalida a necessidade de tratamentos não farmacológicos, como a terapia cognitiva comportamental, terapia ocupacional e fonoaudiologia". Ele reforça ainda que o diagnóstico é clínico e que no adulto os sintomas são diferentes por causa da maturação cerebral. "O TDAH é um transtorno psiquátrico bem validado, com base neurobiológica comprovado por estudo de neuroimagem e genética. Não é inventado e não é simplesmente um jeito diferente de ser." Por outro lado, Antônio Soares assegura: "O tratamento oferece melhora da qualidade de vida, autoestima e desempenho ocupacional".
* A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
Como lidar com o problema
1 - Estresse e alteração de humor: pratique exercícios porque alivia o estresse, melhora o humor, acalma a mente e ajuda a gastar o excesso de energia. Durma bastante, já que poucas horas de sono aumentam os sintomas, diminuindo a capacidade de manter o foco durante o dia. Evite cafeína e exercícios até uma hora antes de dormir; mantenha uma rotina à noite. Alimente-se de maneira correta. Comer bem ajuda a diminuir a distração, a hiperatividade e os níveis de estresse. Coma pequenas porções durante o dia e procure ingerir pouco açúcar, menos carboidrato e mais proteínas, o que pode ajudar a reduzir os sintomas.
2 - Como se organizar e evitar a desordem diária: crie espaço e verifique diariamente o que você usará e o que deverá ficar guardado. Defina lugares para chaves, contas e outros itens que se perdem facilmente. Jogue fora tudo o que não for necessário. Crie o hábito de usar agenda, faça listas e anote tudo o que for importante, como tarefas, compromissos e projetos. Planejamento é condição necessária para o bom desempenho das pessoas com TDAH. Para evitar o esquecimento, procrastinação e desordem, faça o que tiver que ser feito na hora, evitando deixar para depois. Estabeleça um sistema de arquivamento. Use divisores, separe pelo tipo de documento (receitas, contas, fichas de inscrição, etc.) e faça etiquetas.
3- Administre seu tempo e não perca compromissos: use um relógio que esteja sempre à vista e com o horário certo. Quando começar uma tarefa, diga em voz alta ou anote o horário, além de marcar uma quantidade de tempo para executá-la. Defina as suas tarefas mais importantes do dia e depois as de menor importância. Crie uma curta rotina diária e defina o tempo para ela. Dê mais tempo do que você julga necessário. Por exemplo, se você acha que para realizar determinada tarefa, ou encontrar alguém em outro lugar, você levará por volta de 30 minutos, adicione 15 minutos. Anote os horários de seus compromissos com 15 minutos (ou o tempo que você julgar necessário) de antecedência e use alarmes para que você chegue na hora certa. Aprenda a dizer não. Verifique sempre sua agenda para ver se você realmente pode aceitar um compromisso, tarefa ou trabalho extra, de maneira que isso não
o prejudique.
* Fonte: www.tdah.org.br
Personagem da notícia
Carlos Felipe Marrafa, de 30 anos, técnico em tecnologia da informação
Estou muito bem
"Descobri que tinha TDAH aos 17 anos. A coordenadora da minha escola na época levantou a hipótese e conversou com minha mãe. Eu era um menino inteligente, mas muito desligado. Não conseguia prestar atenção e não me concentrava. Alertados, procuramos informações na internet, compramos livros, pesquisamos o tratamento e, por fim, buscamos ajuda. Passei por alguns psiquiatras, mas dispensei todos por não me adaptar. Aos 24 anos, me acertei com um médico e iniciei o tratamento com remédio e terapia. Desde então conheci outro mundo. Ainda tenho dificuldades de concentração. Na escola é mais fácil, são só quatro horas diárias. Já no trabalho, em que fico de oito a 10 horas por dia, tenho mais cuidado, mas estou indo muito bem. Consigo organizar meus pensamentos e minhas relações melhoraram em todas as áreas. Tenho planos e sonhos que, agora, tenho certeza de que vou realizá-los. Recomendo a todos com TDAH de não desistir porque o tratamento tem resultado para vivermos melhor.”
BIOGRAFIAS » Roberto deixa Procure Saber
Estado de Minas: 06/11/2013
São Paulo - Depois de ser atacado por Caetano Veloso no fim de semana, o cantor Roberto Carlos deixou ontem o grupo Procure Saber, que defende a proibição de biografias não autorizadas. Por volta das 22h. o empresário dele, Dody Sirena,enviou e-mail aos demais integrantes do grupo, entre eles Chico Buarque, Gilberto Gil e Milton Nascimento, informando da decisão. Mais cedo, o sócio de Dody na empresa DC-SET, produtora do Rei o empresário Cicão Chies, anunciou ao Procure Saber que deixaria a vice-presidência do grupo.
A equipe do cantor já estava insatisfeita com a forma como a ex-mulher de Caetano, Paula Lavigne, que preside a entidade, conduziu a questão das biografias, considerada "truculenta" na definição de um integrante do grupo. No domingo, Caetano escreveu em coluna de jornal, que Roberto Carlos só apareceu “quando da mudança de tom”, referindo-se à reportagem exibida pelo Fantástico quando o Rei foi mais ameno em relação a mudança depois que mudou de tom na questão das biografias.
Na mensagem, de tom cordial, Dody compara o grupo a uma seleção de futebol, em que os jogadores se encontram, mas depois retornam a seus times. Ele diz, ainda, que os advogados de Roberto vão continuar atuando na questão das biografias, falando em seu nome. E garante que outros assuntos podem voltar a unir Roberto com os outros artistas do Procure Saber no futuro, como o direito autoral, as questões trabalhistas e as plataformas digitais. "Caminhamos bastante e divergimos algumas vezes. Sabemos que, no futuro, tudo isso será um grande exemplo de movimento coletivo", escreveu Dody.
As razões que levaram o Rei a se desligar estão relacionadas às discordâncias geradas pela forma com que foi conduzido o debate sobre as biografias não autorizadas. Desde o início de outubro, artistas do Procure Saber vêm se manifestando publicamente contrários à mudança no Código Civil, cujo artigo 20 permite que biografados proíbam a publicação de biografias na Justiça em casos que “lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais”.
Em determinado trecho do texto que redigiu, Dody diz: "Não é bem assim o nosso jeito de trabalhar, somos mais discretos, afinal defendemos também a privacidade no sentido profissional".
São Paulo - Depois de ser atacado por Caetano Veloso no fim de semana, o cantor Roberto Carlos deixou ontem o grupo Procure Saber, que defende a proibição de biografias não autorizadas. Por volta das 22h. o empresário dele, Dody Sirena,enviou e-mail aos demais integrantes do grupo, entre eles Chico Buarque, Gilberto Gil e Milton Nascimento, informando da decisão. Mais cedo, o sócio de Dody na empresa DC-SET, produtora do Rei o empresário Cicão Chies, anunciou ao Procure Saber que deixaria a vice-presidência do grupo.
A equipe do cantor já estava insatisfeita com a forma como a ex-mulher de Caetano, Paula Lavigne, que preside a entidade, conduziu a questão das biografias, considerada "truculenta" na definição de um integrante do grupo. No domingo, Caetano escreveu em coluna de jornal, que Roberto Carlos só apareceu “quando da mudança de tom”, referindo-se à reportagem exibida pelo Fantástico quando o Rei foi mais ameno em relação a mudança depois que mudou de tom na questão das biografias.
Na mensagem, de tom cordial, Dody compara o grupo a uma seleção de futebol, em que os jogadores se encontram, mas depois retornam a seus times. Ele diz, ainda, que os advogados de Roberto vão continuar atuando na questão das biografias, falando em seu nome. E garante que outros assuntos podem voltar a unir Roberto com os outros artistas do Procure Saber no futuro, como o direito autoral, as questões trabalhistas e as plataformas digitais. "Caminhamos bastante e divergimos algumas vezes. Sabemos que, no futuro, tudo isso será um grande exemplo de movimento coletivo", escreveu Dody.
As razões que levaram o Rei a se desligar estão relacionadas às discordâncias geradas pela forma com que foi conduzido o debate sobre as biografias não autorizadas. Desde o início de outubro, artistas do Procure Saber vêm se manifestando publicamente contrários à mudança no Código Civil, cujo artigo 20 permite que biografados proíbam a publicação de biografias na Justiça em casos que “lhe atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais”.
Em determinado trecho do texto que redigiu, Dody diz: "Não é bem assim o nosso jeito de trabalhar, somos mais discretos, afinal defendemos também a privacidade no sentido profissional".
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