segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

A inclusão social pelo consumo - Renato Janine Ribeiro

Valor Econômico - 27/01/2014

Os rolezinhos devem servir de alerta para um problema: estamos no limite da inclusão social pelo consumo


A sociedade brasileira projetou a realização social no conforto, no luxo, em bens de consumo prestigiosos. Há melhor símbolo disso do que a profusão de iPhones? Eles não se limitam a dar prazer. Eles nos realizam. Melhor dizendo: é o prazer que nos realiza. Mas esta visão do mundo, tão frequente no Brasil, não é nada óbvia. Um francês imbuído do valor da educação, um alemão formado na convicção do dever, um inglês convencido do valor ético do trabalho dificilmente enxergariam as coisas assim. Mas, aqui, é muito forte a ideia de que pelo prazer se vence. Basta ligar a rede Globo, qualquer dia deste mês, em torno das 23 horas, para ver isso, parte ao vivo, tudo em cores.

Volto a comentar os rolezinhos. Eles foram uma surpresa pelo timing e pela dimensão, mas prolongam algumas tendências de nossa sociedade que não deveriam nos surpreender. As manifestações de 2013 foram uma exceção, como as Diretas-Já em 1984 e o impeachment de Collor, em 1992, espaçados momentos em que a cidadania toma o espaço público para defender a coisa pública. O rolezinho é político, mas porque tem um significado político, não porque se expresse em termos políticos. Ele responde a uma nossa tendência, para o mal - e para o bem -, que é carnavalizar.

Na sua melhor versão, é Oswald de Andrade, no "Manifesto Antropófago", de 1929: "A alegria é a prova dos nove". Naquela época, dizia-se que o Brasil era fruto de "três raças tristes", o português, o negro e o indígena. Oswald rompia com esse mito de uma tristeza originária. Contestava a herança jesuítica e religiosa da colônia. Abria lugar para o carnaval, a festa, as paixões alegres.

Rolês mostram que a ideologia do shopping venceu

Mas o fato é que carnavalizamos. Não é só o Big Brother que propõe o sucesso pela exibição do corpo. É quase toda a mídia popular que, sempre que vai contrastar esforço e lazer, estudo e diversão, mente e corpo, opta decididamente pelo segundo termo. Nossa cultura é sobrecarregada de hedonismo.

Já observei aqui que prazer não é felicidade, ao contrário do que se ouve todos os dias. O prazer é breve, instantâneo, intenso; a felicidade é um estado simples e permanente, modesto. Só é feliz quem reduz sua demanda de prazeres. Mas nossa sociedade construiu um sistema em que o prazer é requerido o tempo todo, com sua consequência, apontada pelos filósofos desde a Antiguidade: os prazeres não levam à satisfação. Eles formam uma adição. Uma sociedade que valoriza a este ponto o consumo, seja na Miami de classe média, seja no rolezinho de periferia, tem dificuldades de ir além do prazer. Porque ser feliz é viver ao máximo o que se tem, não é buscar o máximo fora de si. Ser feliz não é depender do consumo. Mais que isso: ser feliz é não depender do consumo.

Mas é o consumo que tem marcado a inclusão social, no Brasil. A inclusão dos últimos anos foi em boa medida um aumento do poder de compra a crédito. Os pobres compram mais - o que é ótimo, porque eles tinham e ainda têm acesso limitado a vários dentre os bens que asseguram o conforto. Mas esse foi o eixo mais marcante da inclusão. Embora a educação esteja melhorando, a dupla do bem - que seriam o mix de educação e cultura, e o de saúde e atividade física - não desperta igual atenção nem gera resultados rápidos. Aliás, se fosse outra a prioridade dos governos petistas, eles se teriam defrontado com uma oposição ainda maior. Aumentar o poder aquisitivo injeta dinheiro na veia da economia. Já melhorar o que chamei dupla do bem exigiria mais investimentos públicos, isto é, mais impostos. Não seria fácil nem, talvez, politicamente possível.

Estamos no limite do que pode ser a inclusão social pelo consumo. Beira o ridículo negar a inclusão social promovida pelo PT. Foi substancial. Mas se deu pelo que nossa sociedade consumista mais valoriza. Melhorar radicalmente as escolas teria exigido mais verbas e protagonismo do poder público. O mesmo vale para a saúde, o transporte e a segurança públicos. O choque com as classes mais ricas teria sido forte, porque a exigência tributária teria aumentado. Basta ver como é difícil a Prefeitura de São Paulo arrecadar o necessário a fim de melhorar um pouco os ônibus, para se ter o tamanho do problema.

Com o consumo, o PT escolheu a via do possível. Dificilmente seus adversários teriam feito melhor. Mas a trilha do consumo significa: a ideologia que ganhou foi a do shopping center. Dizia-se há alguns anos que a ideologia dominante numa sociedade é a ideologia de sua classe dominante. Se for verdade, os rolês mostram que a ideologia da classe média, seu "way of life", seduziram os mais pobres. O que muitos deles querem é estar no mundo da classe média. Não querem romper com ela nem eliminá-la. Querem fazer parte dela, claro que com os ajustes necessários.

Se a classe média não gosta disso, é outra coisa (essa batalha, a "velha classe média" vai perder, e as chances do PSDB estão - como bem entendeu Aécio, mas não os jornalistas favoráveis ao partido - em conseguir ser o partido de todas as classes médias, não só da antiga). Mas a classe média, ou sua maioria consumista, poderia ficar contente. Porque isso significa que os movimentos dos jovens chamados rolezinhos não acreditam que um outro mundo seja possível. O problema é que a inclusão pelo consumo tem um alcance limitado, chega uma hora em que você tem de produzir e não só consumir, e a produção requer hoje competências cada vez maiores, que se chamam educação, cultura, ciência. O engraçado é que também elas podem dar (algum) prazer, mas nossa sociedade, independentemente da classe social, não sabe disso. Prefere o shopping.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na U
niversidade de São Paulo. 

Explicar o Holocausto a uma criança - Alon Lavi

Estado de Minas: 27/01/2014


O termo “Shoah”, Holocausto, o rodeia quando você cresce em Israel. Desde a tenra idade você é exposto ao termo, como parte de uma memória coletiva nacional. Israelenses ouvem a palavra durante o Memorial Day, em cerimônias, no sistema de educação e na cultura em geral. Além disso, muitos indivíduos têm memórias particulares em suas famílias; como no meu caso, com dois avós que são sobreviventes do Holocausto. Não me lembro da primeira vez em que ouvi o termo Shoah, mas ele faz parte do meu vocabulário desde sempre. Hoje, criando meu próprio filho, que recebeu o nome de meu avô sobrevivente do Holocausto, começo a me perguntar: como respondê-lo quando ele me questionar sobre o Shoah ou seus antepassados?.

Continuo achando difícil descrever como pessoas foram executadas apenas por acreditarem em outra religião ou por ser diferentes. Como eu posso explicar que os judeus foram abatidos em campos de extermínio simplesmente por serem judeus? É possível explicar que outros seres humanos projetaram e construíram uma indústria, como as câmaras de gás, com o único propósito de matar judeus? Se eu não consigo entender o fato de que 6 milhões de judeus foram assassinados, como posso explicar isso para uma criança?

Talvez não devesse contar para o meu filho os detalhes da guerra, mas em vez disso ensinar-lhe os valores que podem impedir que tal coisa aconteça novamente. Vou precisar ensiná-lo a respeitar os outros, que aqueles que são diferentes não são ruins. Vou precisar ensinar-lhe a bondade e amor ao próximo.

Quanto mais penso sobre como eu vou ensinar isso para o meu filho, percebo como minha educação pelo sistema israelense ensinou-me a aceitar aqueles que são diferentes de mim. Fui exposto a pessoas que olhavam e pensavam de forma diferente. Em Israel, me ensinaram a tolerância. Isso porque lá você encontra diferentes religiões e minorias vivendo lado a lado.

O Brasil lembra o Holocausto a cada ano, em homenagem aos que morreram na guerra. Todos os anos, em 27 de janeiro, a comunidade judaica do Brasil, em conjunto com o presidente da República, ministros, senadores e deputados, participam de cerimônias do Dia Internacional do Holocausto, designado pela ONU. Mais importante ainda é o Brasil ensinar a seus cidadãos os valores mundanos da tolerância, da bondade e compreensão.

Essa infusão de valores na sociedade brasileira garante que tais atrocidades não irão acontecer novamente. Nós, indivíduos e países, devemos ensinar aos nossos filhos esses valores importantes. Vamos trabalhar juntos para criar um futuro melhor, pacífico e brilhante para todos nós.

TeVê

Estado de Minas: 27/01/2014 

TV paga

 (Universal Pictures/Divulgação)
 NOITE DE ESTRELA
Keira Knightley sempre se revelou bela e talentosa, mas em Anna Karenina (foto), que estreia hoje, às 22h, no Telecine Premium, sua beleza impressiona. Nessa nova adaptação do clássico de Tolstói ela atua ao lado de Jude Law e Aaron Taylor-Johnson. A trama, para quem não conhece, retrata a vida de uma aristocrata na Rússia do século 19. Anna é casada com o político Alexei e viaja para Moscou para salvar o casamento de seu irmão. Durante o caminho acaba se apaixonando pelo conde Vronsky e dá início a um romance turbulento. A direção é de Joe Wright.



Muitas alternativas na  programação de filmes
 Na mesma faixa das 22h, o assinante tem mais oito opções: O silêncio, no Max; Forças especiais, no Max Prime; Sete vidas, no Cinemax; Phil Spector, na HBO HD; Perfume – A história de um assassino, na MGM; O impossível, no Telecine Pipoca; Onde os fracos não têm vez, no Telecine Cult; e A cor púrpura, no TCM. Outras atrações da programação: Kick-Ass – Quebrando tudo, às 20h, no Universal; Quase irmãos, às 21h, no Comedy Central; e Sr. & Sra. Smith, às 22h30, na Fox.

Max Prime e +Globosat retomam dois seriados
O canal Max Prime estreia hoje, às 21h, a segunda temporada da série Banshee, sobre um ex-presidiário que assume a identidade de um xerife assassinado em um povoado dos Amish no estado da Pensilvânia e continua cometendo crimes com a falsa identidade. No +Globosat, às 23h, estreia a terceira temporada de The line, que mostra o drama dos moradores de uma pequena cidade na França ocupada pelos alemães durante a 2ª Guerra Mundial.

David Blaine é mesmo o maior ilusionista do mudo
Há mais de 10 anos, o norte-americano David Blaine impressiona o mundo com surpreendentes números de mágica e ilusionismo. Inicialmente apenas um habilidoso mágico, Blaine passou a seguir os passos de Harry Houdini, um dos maiores ilusionistas de todos os tempos, buscando façanhas que pareciam fisicamente impossíveis. É o que vai mostrar a série Real or magic?, que estreia hoje, às 20h40, no Discovery, com episódio especial de quase duas horas de duração.

Pacote sonoro tem pop, MPB e música erudita
A MTV vai mostrar hoje, às 19h, o making-of da gravação de Vira-lata, o novo CD do cantor Fiuk. Mas se o assinante gosta de música boa, a dica é o documentário A luz do Tom, às 22h, no Canal Brasil, com três vozes femininas narrando a trajetória do maestro Tom Jobim: a irmã Helena Jobim e as mulheres Thereza Hermanny e Ana Lontra Jobim. No canal Curta, às 22h30, a atração é Chico e as cidades, registro do show de Chico Buarque, gravado no Rio de Janeiro e em Buenos Aires, com as participações de Jamelão, Maria Bethânia, Oscar Niemeyer e a Velha Guarda da Mangueira. E no Arte 1, às 21h30, tem concerto da Orquestra Filarmônica de Los Angeles, sob a regência do maestro Gustavo Dudamel, tocando a Sinfonia nº 1 de Gustav Mahler e a estreia mundial de City noir, de John Adams.

Boas novidades para a criançada também
O Cartoon Network preparou uma programação especial – Volta às aulas com os Toonix – exibindo os melhores episódios de O incrível mundo de Gumball a partir de hoje, às 17h, além dos curtas Toonix, em vários horários. No Gloob, às 16h15, estreia a série inédita CJ a DJ, animação australiana sobre uma garotinha que sonha fazer sucesso nas pistas de dança.

CARAS & BOCAS » Garimpando craques




Karina Bacchi retorna em março ao SBT no comando de Menino de ouro  (Fábio Cerati/Divulgação)
Karina Bacchi retorna em março ao SBT no comando de Menino de ouro

As gravações da segunda temporada do reality show Menino de ouro, do SBT, já começaram. Karina Bacchi continua no comando da atração, com estreia prevista para março. “A expectativa para esta segunda temporada é ainda maior”, diz Karina. “Excelente a ideia de mostrar ainda mais de perto a realidade de cada competidor. Já sei que tanto eu quanto o público iremos nos envolver e nos emocionar muito.” Para quem não se lembra, o programa promove uma grande “peneirada” para descobrir um craque de bola. Mais de 5 mil garotos se inscreveram. Os testes de seleção estão sendo realizados em São Paulo, na Arena Barueri.


Trama de Chiquititas vai ter novos personagens
O SBT vai apresentar amanhã os atores que passam a integrar o elenco de Chiquititas. Os protagonistas da trama, Carol (Manoela do Monte) e Júnior (Guilherme Boury), vão dar as boas-vindas aos novos personagens, em encontro com a imprensa, seguido de um almoço, no Buffet Planeta Kids, no Bairro Pompeia, em São Paulo, às 11h.

Agenda vai à Mostra de Cinema de Tiradentes
O Agenda visitou a cidade de Tiradentes para fazer a cobertura d a 17ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que começou sexta-feira. A produção foi conferir a abertura do evento e apresentar os destaques da programação. Durante toda a semana o telespectador vai poder acompanhar reportagens gravadas no local mostrando as novidades do festival, quem passou por lá e os filmes exibidos. O Agenda vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 22h, na Rede Minas.

Um trio de belas cobras. Bonitas, mas venenosas
A próxima novela das nove da Globo, Em família, vai ter uma família que é um verdadeiro ninho de cobras. Assim é a casa de Shirley (Alice Wegmann), Mafalda (Simone Soares) e Martha (Marley Danckwardt). As duas primeiras estão dispostas a lutar por Laerte (Guilherme Leicam) e Viriato (Henrique Schafer).

Claudia Jimenez voltará a gravar na quinta-feira
A volta de Claudia Jimenez às gravações de Além do horizonte (Globo) está prevista para quinta-feira. No fim do ano, ela passou por uma cirurgia no coração para colocar um marca-passo. Até poder retomar o trabalho, a atriz está de repouso e fazendo sessões de fisioterapia respiratória em casa. Na trama, Claudia interpreta Zélia, uma das veteranas da Comunidade.

Syfy apoia Campus Party, no Anhembi paulistano
O canal Syfy (TV paga) participará da Campus Party 2014, de hoje a 2 de fevereiro, no Anhembi Parque, em São Paulo. Amanhã, às 14h30, haverá a palestra “Cinelab – Recursos, técnicas e efeitos especiais em cinema de ação”, com os especialistas em efeitos visuais Kapel Furman, Armando Fonseca e Raphael Borghi, explicando o uso de maquiagem de efeitos, efeitos visuais e especiais voltados para o cinema de ação.


Carrasco com ternura
Amor à vida entra em sua última semana já prometendo um final inesperado. Pelo menos é o que garante o autor, Walcyr Carrasco. Depois de escrever uma trama de 221 capítulos com mais de 90 personagens, Carrasco chega satisfeito ao final de sua 12ª novela, na sexta-feira. Envolta em polêmicas e críticas, a trama conseguiu recuperar a audiência do horário, perdida por sua antecessora, Salve Jorge, de Glória Perez. As maiores expectativas dizem respeito ao destino da vilã Aline (Vanessa Giácomo) e do casal formado pelo ex-vilão Félix (Mateus Solano) e Niko (Thiago Fragoso), que ganhou o carinho do público. “A palavra do final da trama é ternura”, resumiu Carrasco. “Fiquei muito satisfeito com o desfecho, que será algo que nunca houve em uma novela.” Será que rola o tão aguardado beijo gay?


VIVA
Mônica Iozzi avisa que vai fazer novela e série na Globo ainda em 2014. Pelo talento e simpatia, a ex-CQC merece. A novela seria Búu, que Daniel Ortiz está escrevendo para a faixa das 19h.


VAIA
Muita chata a marcação da mídia em cima de Neymar. Nem nos gramados o craque do Barcelona é tão perseguido assim pelos adversários. Resultado: sobra até para a namorada, Bruna Marquezine.

Ele se sente em casa (Luiz Carlos Lacerda) - Carolina Braga

Ele se sente em casa
 
Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, é presença garantida na Mostra de Tiradentes desde a primeira edição. Ele está lançando livro de poemas e se prepara para filmar em Minas


Carolina Braga *
Estado de Minas: 27/01/2014


Bigode vai filmar em Cataguases e Leopoldina argumento inédito de Lúcio Cardoso sobre o samba, com participação de Ney Matogrosso (Túlio Santos/EM/D.A Press)
Bigode vai filmar em Cataguases e Leopoldina argumento inédito de Lúcio Cardoso sobre o samba, com participação de Ney Matogrosso

Tiradentes – Você já é um personagem de Tiradentes? O diretor Luiz Carlos Lacerda, o Bigode, despista na hora de responder. Mas reconhece: “Lido bem com isso, porque personagem é resultado de um bom relacionamento com as pessoas”. Quem frequenta a Mostra de Cinema de Tiradentes também não tem dúvidas. O cineasta já ganhou lugar cativo em restaurante, com direito a placa “Cantinho do Bigode”. É tão de casa que até traz as próprias massas integrais a tiracolo para poder se esbaldar no molho.

Quando anda pelas ruas, sempre de chinelo e bermuda, é saudado o tempo inteiro. Pela bibliotecária, pelo artesão, pelo garçom e por ex-alunos. Afinal, quem não conhece o Bigode? A oficina de realização em curta digital é a única que existe desde a primeira edição do festival, há 17 anos. Sob a orientação do cineasta já foram realizados filmes de tudo quanto é gênero na cidade. Isso sem falar da geração de técnicos e profissionais espalhados por aí que tiveram com ele o primeiro contato com o cinema.

O que muita gente desconhece é uma faceta até então guardada a sete chaves e que o cineasta descortina por aqui este ano. Bigode é poeta há longa data. No pacote de lançamentos desta edição da Mostra de Cinema de Tiradentes, em meio a DVDs e livros sobre vertentes da sétima arte, o carioca com o coração em Minas apresenta Os sais da lembrança, primeiro livro de poesias em 30 anos. A obra foi publicada no fim de 2013, depois de passada a resistência inicial do autor.

“A dúvida era se eu ia retrabalhar um tipo de expressão do qual estava afastado há tanto tempo. Perguntava-me: será que as ideias não estão explícitas no cinema? Não será um apêndice desnecessário?. Depois achei que não, e me deu um pique”, conta. Os sais da lembrança tem 30 poemas. A série que dá nome ao livro foi dedicada ao amigo Ney Latorraca, mas há também homenagens a Lúcio Cardoso (1913-1968), João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Cláudio Murilo e outros.

Neto e bisneto de poetas, Bigode sempre deixou explícito seu interesse por essa forma de expressão. Como escritor bissexto, participou de várias antologias. Escreveu inclusive para o Suplemento Literário de Minas Gerais, a convite de Murilo Rubião (1916-1991). A relação entre cinema e poesia é transparente em sua trajetória. Levou a poesia de Cecília Meireles (1901-1964) para as telas em O sereno desespero e com O homem e sua hora tratou da obra de Mário Faustino (1930-1962). Sem falar da criação de Lúcio Cardoso, presente desde o longa de estreia, Mãos vazias. Mas a experiência agora é outra.

Em Os sais da lembrança há uma passionalidade latente em cada página. Os textos foram escritos entre a década de 1960 e os dias de hoje. “Acho que me deu oportunidade de rever um Bigode do passado, do qual não tinha um distanciamento crítico e um olhar que só é possível com o tempo”, afirma. Vencida a resistência inicial, Bigode assegura que gostou tanto de “ser poeta” que já prepara novo livro para o ano que vem. Serão cerca de 25 poemas eróticos.

No cinema, a novidade é a filmagem de Introdução à música do samba, argumento de Lúcio Cardoso que ficou perdido por cerca de 30 anos. O roteiro, do próprio Bigode, está pronto e Ney Latorraca foi escalado como protagonista. Pela primeira vez, o cineasta vai rodar um filme em Minas. Cataguases e Leopoldina foram as cidades escolhidas como locações.

“Mineiro tem esse lance de não ter o mar e de não ter o horizonte, ele é cheio de montanhas e mistérios. Essa coisa da introspecção faz as pessoas pensarem sobre o que esta atrás daquele morro. Isso desenvolve uma capacidade criativa muito grande, na literatura e no cinema. Acho que estimula essa coisa do pensamento. A praia é muito óbvia”, divaga, sem deixar de reafirmar sua paixão por Minas e pelos mineiros.

* A repórter viajou a convite da Mostra de Cinema de Tiradentes



AURORA
Começa hoje a mostra queridinha dos críticos em Tiradentes, a Aurora, dedicada a jovens realizadores em início de carreira. O documentário A vizinhança do tigre, do mineiro Affonso Uchoa, será o primeiro dos sete concorrentes a ser exibido. Trata-se do principal evento competitivo da Mostra de Cinema de Tiradentes. O vencedor leva o Prêmio Itamaraty, no valor de R$ 50 mil.



HOJE NA MOSTRA

Cine Teatro Sesi

. 11h – Debate sobre Passarinho lá de Nova Iorque
. 12h15 – Debate sobre Amor, plástico e barulho
. 15h – Perspectivas para o audiovisual brasileiro em 2014: foco na indústria
. 17h – Oportunidades para o cinema brasileiro na Europa

CINE TENDA
. 16h30 – Sessão de curtas
. 18h – Sessão de curtas
. 19h30 – Mostra Aurora –  A vizinhança do tigre, de Affonso Uchoa
. 22h30 – Sessão de curtas – Mostra Foco

TENDA BAR SHOW
. 0h30 – Show Transmissor

Os efeitos do tempo

Carolina Braga
Publicação: 27/01/2014 04:00
Em uma edição em que a discussão sobre processos pontua os debates, a sessão de estreia da Mostra de Cinema de Tiradentes, no Cine Praça, foi exemplar. O documentário Cidade de Deus, dez anos depois mostra o que ocorreu com a vida de alguns dos atores que participaram do longa que consagrou Fernando Meirelles. Fica claro o quanto o processo de construção de uma carreira artística, depois do sucesso nacional e internacional do filme, não foi igual para todos. Nem o resultado.

A praça do Largo das Forras estava lotada como há muito não se via na cidade. Dirigido por Cavi Borges e Luciano Vidigal, o filme promove o reencontro da plateia com Leandro Firmino, o Zé Pequeno – com alguns quilos a mais –, Alexandre Rodrigues, o Buscapé, e tantos outros personagens. Eles falam sobre a relação com a fama, a crueldade da realidade e o que fizeram com o dinheiro que ganharam com o filme. Entre os que conseguiram dar prosseguimento à carreira estão Débora Rodrigues e Leandro Dantas, hoje rostos conhecidos das novelas.

Lembra-se daquela criança que chora desesperada e toma um tiro no pé? É Felipe Paulino, hoje com 18 anos e mensageiro em um hotel no Leblon. Há outros que não conseguiram estabelecer uma carreira e acabaram envolvidos com as drogas e o crime. Relativamente curto, com 75 minutos, o documentário mistura cenas do filme e dos personagens 10 anos depois.

 “O filme mostra o questionamento que a arte traz. A realidade é dura e poucas pessoas aproveitaram a oportunidade”, comentou o engenheiro Nélio Muzzi. “É uma retrospectiva muito interessante. A vida é feita de escolhas e é triste ver que alguns se perderam no meio do caminho”, lamentou a telefonista Rosemary Tomaz. “Foi legal ver como estão, ver o que fizeram com o dinheiro. Os atores e os personagens tinham vidas parecidas na ficção e na realidade”, disse o engenheiro Ramón Fraga Rezende.

A previsão é que o documentário chegue aos cinemas brasileiros entre junho e julho, dependendo da carreira internacional. Pelo menos 20 festivais estrangeiros já demonstraram interesse em exibir o filme.

ALMEIDA REIS-Notas messiânicas‏

Notas messiânicas 

Em sentido figurado, messias é o indivíduo aceito como líder, capaz de propiciar um estado ou condição desejável numa sociedade 

 
Estado de Minas: 27/01/2014




Quando todos anseiam por nova ordem social de paz, de justiça e de liberdade, o redentor prometido por Deus aos judeus chama-se Messias. Os cristãos veem o Messias na pessoa de Jesus Cristo. Até 2014 os judeus esperam pelo seu e o Messias dos cristãos, mesmo com as melhores intenções, não tem funcionado. A julgar pelo ódio que os xiitas têm dos sunitas, e vice-versa ao contrário, sou levado a crer que o Messias do islã ainda é esperado. Aqui na Terra tivemos um, cujo nome agora me escapa. Moralizou Cingapura, que em termos territoriais é um ovinho, mas concentra 8 mil empresas de alta expressão e faz força para existir como país civilizado. Exemplos: introdução e/ou porte de drogas significam pena de morte. Pichação, chamada “arte de rua” pelos imbecis, é punida com 500 chibatadas. Em sentido figurado, messias é o indivíduo aceito como líder, capaz de propiciar um estado ou condição desejável numa sociedade. É o reformador social, o salvador. Vem do latim messías,ae, este do grego messías,ou, do aramaico mexihá, “ungido, consagrado”
.
Enquanto philosopho, entendo que o Messias pode chamar-se Joaquim. Ou, se quiserem, Joaquim Benedito Barbosa Gomes, nascido em Paracatu (MG), no dia 7 de outubro de 1954. Sua biografia é das melhores de que temos notícia neste país. Seu preparo intelectual é inegável, bem como sua honestidade. Dir-se-á que não tem prática de política partidária. É defeito? Se for, vocês podem continuar votando na turma que aí está. Com raras exceções, é gente que sabe tudo de política, mais precisamente da moderna política brasileira, que tem sido sinônimo de corrupção, de ladroeira, de incompetência deslavada, o que significa dizer atrevida, petulante, descarada, sem-vergonha. Em outubro Joaquim Barbosa faz 60 anos. Doa a quem doer – e vai doer – é boa idade para consertar este país grande e bobo.

Curiosidades

Tenho certas curiosidades que não chegam a ser patológicas nem configuram bisbilhotice, mas são difíceis de explicar. Uma delas é saber quanto ganham aqueles sujeitos que vivem aparecendo nos programas de tevê, com ênfase para a GloboNews, o SporTV e o GNT, que são os canais mais vistos aqui em casa. Um deles aparece em todos os canais opinando sobre os mais diversos assuntos, não é cavalheiro bem-acabado, veste-se mal à beça e é capaz de participar de debates sobre mecânica quântica ou neurociência, porque não tem noção de limites. O comparecimento a um desses programas implica deslocamento, maquilagem, gasto de tempo diante das câmeras (certos programas duram hora e meia, duas horas) e outras complicações que prejudicam um dia de trabalho normal. Sei que os cavalheiros e as damas não são funcionários dos canais, portanto, se recebem alguma coisa (quanto?) deve ser como pessoas jurídicas. O tal sujeito que se veste mal e tem visual que não ajuda acha que é muito engraçado. Considerando que existem diversos tipos de humor, vai ver que é craque em humor sem graça. E tem – di-lo o Google – diversos livros publicados, blog etc.

Onisciência e onipresença são características dos deuses do monoteísmo nas doutrinas religiosas que defendem a existência de uma única divindade. Portanto, o fulaninho propende para a deidade, mas deve ganhar uns cobres por programa, porque precisa comer e comprar aquelas roupas horríveis. Os participantes “fixos” dos tais programas aparecem, grosso modo, oito vezes por mês, estudam os assuntos pautados, pesquisam nas áreas em que são especializados – cinema, medicina, informática, economia etc. – levam tabelas, vídeos, desenhos que são projetados nas telinhas dos estúdios. Deslocamento, comparecimento e trabalho de pesquisa envolvem, digamos, quatro horas por programa, 12 horas por semana, 48 horas/mês. Vaidade, desejo de aparecer, de mostrar a cara, não explicam nem justificam esse gasto de tempo expressivo sem remuneração. Minha curiosidade é a seguinte: quanto ganham por programa? Afinal, o Estúdio-i da GloboNews vem de inteirar cinco anos de exibição regular de segunda a sexta.

O mundo é uma bola

27 de janeiro de 1668: Gregório de Matos é incumbido de representar a Bahia nas cortes de Lisboa. Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador em 1636, foi advogado e poeta do Brasil Colônia e é considerado o maior poeta barroco do Brasil e o mais importante poeta satírico da língua portuguesa no período colonial. De família abastada – empreiteiros e altos funcionários – Gregório tinha nacionalidade portuguesa. Estudou no Colégio dos Jesuítas, na Bahia, e na Universidade de Coimbra. Em 1663 foi nomeado juiz de fora em Alcácer do Sal, quando precisou atestar que era “puro de sangue”, nos conformes das regras jurídicas da época. Acabo de descobrir que Alcácer do Sal fica no Alentejo, mas é um Alentejo muito próximo de Lisboa. A cidade é um pouco mais velha que Belo Horizonte: foi fundada pelos fenícios no ano 1000. E Gregório, coitado, morreu no Recife aos 59 anos. Em 1763, a capital do Brasil Colônia é transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, deixando os soteropolitanos furiosos até hoje. Hoje é o Dia do Orador.

Ruminanças

“A leitura engrandece a alma” (Voltaire, 1694-1778). 

Alternativas às cobaias vivas‏

Alternativas às cobaias vivas 
 
Células criadas em laboratório, pele reconstituída e testes via computador são algumas tentativas de cientistas para substituir a pesquisa com animais 
 
Juliana Cipriani
Estado de Minas: 27/01/2014



As dificuldades são muitas e o investimento é pouco, segundo cientistas, mas existe horizonte no Brasil para as pesquisas com métodos alternativos ao uso de cobaias vivas. Ainda em baixo número, grupos de pesquisadores desenvolvem testes de medicamentos usando sistemas in vitro, peles reconstituídas, sistemas computadorizados e até humanos, esses últimos em estágios mais avançados e seguros de avaliação de reações. As metodologias não eliminam totalmente o uso de animais de laboratório, mas são um caminho em busca do que a ciência chama de os três Rs da experimentação animal (replace, reduce e refine): substituição, redução e refinamento.

Dados disponíveis no site da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam alguns exemplos do que já têm sido praticado no Brasil, apesar de o país ainda não ter um órgão para validar as pesquisas alternativas. Foi na Fiocruz, em 1997, que a bióloga Cátia Inês Costa começou a substituir a forma tradicional de pesquisa para avaliar a potência das vacinas contra a hepatite B. A cientista foi substituindo aos poucos os testes de inoculação da vacina em camundongos por ensaios in vitro até que, em 2002, relatou não precisar mais de animais. Segundo a pesquisadora, com isso, evitou-se o sacrifício de cerca de 4 mil camundongos por ano.

Há quase 10 anos, um grupo do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) adotou como prioridade estudar essas alternativas. Uma das descobertas é que o sangue humano conservado em meios específicos também serve para detectar a contaminação de medicamentos por vírus e substâncias tóxicas, o que sugere a dispensa de testes em coelhos no futuro. Quem atesta é o biólogo pesquisador do INCQS/Fiocruz Octavio Presgrave, um dos principais estudiosos na área de métodos alternativos de pesquisa no Brasil.

No Laboratório de Biologia da Pele no Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), as cientistas Silvya Stuchi e Silvia Berlanga de Moraes Barros se dedicam há pelo menos uma década ao desenvolvimento de modelos in vitro de pele artificial para estudar a segurança de fármacos e cosméticos. As variações do modelo trazem o estudo da fisiopatologia do melanoma cutâneo, da pele com colágeno alterado, simulando a pele de pacientes diabéticos, epiderme imunocompetente e desenvolvimento de fotoprotetores. A ideia dos modelos biomédicos, segundo Sílvia Berlanga, é que, apesar de serem usadas células isoladas, formando uma monocamada, a pele reconstituída tem vários componentes, fazendo com que se assemelhe mais à célula humana. “Temos modelos de pele dermoequivalente para verificar a eficácia de tratamento para melanoma (câncer de pele). A gente faz tudo in vitro, sem uso de animal, desenvolvemos o tumor e avaliamos substâncias quimioterápicas para esse tipo de câncer. Pode-se fazer pele também para estudar componentes de reações de sensibilização cutânea”, afirma a cientista.

Também é possível estudar substâncias de fotoproteção solar ou pesquisar a toxidade de substâncias aplicadas na pele. A cientista esclarece que é possível conhecer de outra forma como as substâncias vão atuar, mas em algum momento será preciso avaliar o produto em humanos, se forem cosméticos, ou em animais, se fármacos. “Os modelos in vitro conseguem eliminar etapas, mas é preciso continuar trabalhando com animais. A substituição hoje não é total, isso a opinião pública tem que saber”, afirma Silvia Berlanga. Segundo a pesquisadora, esses testes são necessários para saber como funcionam as substâncias nos organismos inteiros.

RODA SEM FIM O professor chefe do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Carlos Roberto Zanetti, trabalhou nos últimos 12 anos com métodos alternativos, mas descobriu que, até para isso, precisava usar animais. “Aí percebi que a roda não tem fim e parei”, conta. Antes de desistir, o cientista conseguiu adaptar uma técnica de cultura celular para substituir os camundongos nas pesquisas de diagnóstico de raiva. Isso é feito quando alguém é agredido por um mamífero e ele está disponível. Nesse caso, injeta-se uma mistura no cérebro do camundongo para ver se ele vai desenvolver a doença. Zanetti descobriu que é possível inocular o conteúdo em células.

“São células isoladas adquiridas comercialmente. Não precisa mais matar um animal para isso, elas estão disponíveis para comprar nos bancos de células da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e há ainda o catálogo americano de culturas celulares (ATCC). Muitos laboratórios não fazem por acomodação, já têm um biotério e acham mais fácil manter o camundongo do que fazer cultivo de célula”, diz. Além de não sacrificar uma vida, Zanetti ressalta que, nas células, o resultado é possível em 48 horas, enquanto no camundongo é preciso esperar 72 horas e o resultado pode levar até 15 dias para sair.


três perguntas para...


Carlos Roberto Zanetti,
pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina


1 - O que é possível fazer para reduzir as pesquisas com animais?
Vejo meu papel como professor de introduzir essa questão na formação dos cientistas. Quando eles estão trabalhando determinado problema com bichos, que procurem outra forma. Esse dogma de que tem que usar animais está envolvido com a indústria farmacêutica, que, como todos sabem, não é nenhum primor de ética. Aqui na universidade falo disso.

2 - Há espaço para desenvolvê-las no Brasil?
É um movimento muito inicial ainda. O primeiro congresso de métodos alternativos no Brasil foi em Niterói (RJ). Lá, os trabalhos eram simples e chamou a atenção o fato que no Brasil isso está despontando. Tivemos exposição de empresas alemãs investindo nesse tipo de tecnologia. Na toxicologia há um avanço maior porque a indústria não quer associar seu nome a coisas ruins. As de cosméticos, principalmente, abandonaram, pois está havendo um movimento mundial para proibir testes de cosméticos em animais. Os que controlam a pesquisa clássica não enxergam ainda que poderiam ser vanguardistas. Infelizmente a ciência é dominada por mentes rígidas.

3 - O conceito nas universidades precisa ser mudado?
O que vejo é que, para os pesquisadores, é uma questão difícil, eles aprenderam a vida inteira assim. Como professor, acho que tem que semear uma ideia nova. Em um dia era impossível pensar que o homem podia ir à Lua. Se hoje ele tem um cérebro que lhe permite ir, por que não pode fazer pesquisa de outra forma? É aos poucos que tem que se pensar, pois o modelo animal não é uma réplica absoluta. 


Alguns caminhos

» Técnicas físico-químicas - algumas substâncias que só podiam ser testadas em animais podem ser ensaiadas com métodos químicos. O estudo de potência de insulina, por exemplo, que era testado em camundongos e coelhos, já pode usar cromatografia líquida de alta resolução (HPLC).
» Modelos matemáticos ou computacionais - usa-se um banco de dados baseado em resultados de estudos já feitos que pode predizer reações do organismo.
» Organismos inferiores - essa prática é polêmica, pois propõe o uso de pulgas-d’água e larvas de camarão na substituição de animais.
» Estágios iniciais de espécies protegidas - como os testes em ovos de galinha em que se usa o estágio embrionário. Pode substituir o teste de irritação ocular em coelhos.
» Em humanos - não se destina a estudar a toxidade, mas a ausência dela. Os testes só são feitos depois de as substâncias passarem por uma bateria de experimentos, envolvendo os métodos in vitro e animais. É uma questão ainda polêmica.
» Pele reconstituída - usa fragmentos de pele humana para teste de cosméticos ou fármacos.

Fonte: Estudo sobre alternativas ao uso de animal, de Octavio Presgrave 


Metabolismos são totalmente diferentes



 Na opinião do professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) Thales de Astrogildo e Tréz, nada é impossível no mundo científico. “Meu posicionamento é que, do ponto de vista biológico, obter dados de outra espécie para usar na nossa é inconcebível. O que ocorre no rato, em termos de metabolismo e fisiologia, não é nada parecido com o que ocorre no ser humano. No geral, o homem tem um metabolismo próprio, então os dados obtidos em outras espécies é irrelevante”, afirma.

O biólogo diz fomentar o questionamento sobre o uso de animais nos programas de graduação e pós-graduação em que trabalha. “Isso deve ser problematizado desde cedo na formação do cientista”, acrescenta. A barreira, segundo ele, é financeira. Cabe aos governos e fundações incentivar pesquisas que promovam a substituição ou redução do uso de animais nas experiências científicas. “No mundo afora vemos vários editais de fundos que promovem pesquisa sem animais para áreas como mal de Parkinson, diabetes e câncer. No Brasil, tivemos um recente e para trabalhar com testes de toxidade dérmica, o que é muito básico. Não se estão priorizando aqui pesquisas sem animais para doenças que atingem a nossa espécie”, critica Thales.

Segundo o professor, além da modelagem in vitro, existe a in silico, que é um sistema computacional de bioinformática que incorpora todo o conhecimento sobre a toxidade de elementos adquiridos em estudos. Por fim, o cientista defende o teste com humanos, o que já ocorre na fase clínica de desenvolvimento de medicamentos. “São eles que de fato revelam o que ocorre com uma pessoa. O desejável são os testes em humanos. Estou falando de pesquisa responsável, com corpo de pesquisadores, grupo que avalia protocolo e que não causa sofrimento”, disse. Ele ressalta ainda que tudo isso deve ser feito com consentimento esclarecido do voluntário e com um comitê de ética acompanhando todo o trabalho a ser desenvolvido. 

Nova terapia contra as pedras nos rins‏

Nova terapia contra as pedras nos rins 
 
Cientistas norte-americanos desenvolvem ultrassom capaz de conduzir cristais pelo corpo até o ponto de eliminação natural 
 
Bruna Sensêve
Estado de Minas: 27/01/2014


“Um homem foi ferrado por uma arraia numa pescaria aqui perto. Disseram que ele chorou uma tarde e uma noite pedindo aos companheiros que o matassem porque a dor era insuportável. Comentei o caso com Felipe, ele não ficou impressionado como eu esperava. Disse apenas que isso ou era fita ou exagero ou lenda porque não existe dor insuportável”, conta o menino Lucas no romance Sombras de reis barbudos, do autor goiano José J. Veiga. O personagem Felipe pode estar certo quanto ao homem ferrado. Porém, pelo menos de acordo com a medicina e as pessoas que já passaram por uma cólica renal, existe, sim, dor insuportável. No minuto em que é diagnosticado, o sofrimento causado por pedra nos rins – como os cálculos renais são popularmente conhecidos – deve ser interrompido, tamanha a agonia.

Mesmo com poderosos analgésicos, o alívio total somente acontecerá quando a pedra for eliminada. Normalmente, os cálculos menores causam as angústias mais intensas, por serem leves e se movimentar com maior facilidade. Em geral, são eliminados espontaneamente pelo ureter, que liga o rim à bexiga, o que pode demorar. Dispositivo desenvolvido pela equipe de pesquisadores da Universidade de Washington (EUA) pode ser capaz de acelerar o processo. Um ultrassom modificado em laboratório consegue mover os cálculos no interior do corpo, guiando a eliminação por meios naturais. “Desenvolvemos um ultrassom de baixa potência que pode mover pequenas pedras para reduzir a dor, os custos e o tempo de tratamento”, resume Michael Bailey, um dos engenheiros do projeto e integrante do Laboratório de Física Aplicada da universidade.

Os pesquisadores conduzem o primeiro estudo clínico com o aparelho em 15 voluntários. O trabalho tem alguns fatos curiosos. Parte do financiamento, por exemplo, vem do Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica Espacial norte-americano, interessado no projeto porque os astronautas têm um risco aumentando de pedras nos rins durante as viagens espaciais. A condição é extremamente comum também na superfície terrestre. Calcula-se que uma a cada 10 pessoas passará por uma crise na vida.

 O calor excessivo e o clima seco fazem com que a pessoa perca água por outras vias, como a transpiração. E a reposição e a hidratação podem não ser feitas da forma adequada. A urina é muito rica em solutos ou cristais que precisam ser eliminados para manter o equilíbrio interno do organismo. Esses cristais podem estar em concentração excessiva, causando uma precipitação e levando à formação de cálculos. O baixo volume urinário ocasionado pela pequena ingestão de líquidos também contribui para o problema.

A dor começa quando o cálculo, que está dentro do rim, se move. Iniciada nas costas, tende a mudar de lugar, fazendo o caminho que a expelirá naturalmente. Esse é o caso clássico de cálculo renal. Os aparelhos de ultrassom de ondas de choque já são usados para tratar pedras maiores (de 0,8cm a 1cm) com a técnica conhecida como litotripsia. O dispositivo envia pulsos curtos de alta energia que quebram as pedras, tornando o processo natural possível.

O sucesso da eliminação natural, no entanto, depende do local e da trajetória do cálculo. Estudos tentaram até virar os pacientes de ponta-cabeça ou bater na região lombar, o que, na linguagem técnica, seria chamado de inversão e percussão, respectivamente. O objetivo era sacudir pequenas pedras, movendo-as da parte inferior do rim para o meio. No primeiro caso, as chances de eliminação natural são de 35%. Probabilidade que sobe para 80% na situação seguinte.

Menos invasivo A proposta da equipe de Bailey é mais delicada e direcionada. Pulsos emitidos pelo aparelho de ultrassom modificado, um pouco mais fortes do que o utilizado para a imagem de fetos em gestantes, seriam suficientes para empurrar o cristal e orientá-lo até a saída. Os protótipos foram testados em modelos artificiais do órgão construídos em látex e nos rins de animais vivos. Esperam-se bons resultados com os voluntários humanos.

Os pesquisadores imaginam outras aplicações para o ultrassom, como reposicionar uma pedra antes ou durante a cirurgia e até mesmo deslocar uma grande pedra que obstrui o ureter para aliviar a dor do paciente e evitar o procedimento de emergência. Segundo Bailey, uma vez que a equipe confirme os resultados em humanos, o projeto estará pronto para buscar a liberação da agência sanitária dos EUA e ser levado ao mercado.

O chefe do Departamento de Endourologia da Sociedade Brasileira de Urologia, Ernesto Reggio, acredita que o trabalho é mais uma evolução na busca pelo tratamento menos invasivo. Ele conta que, hoje, uma técnica de cirurgia na mesma linha é muito usada. Um aparelho endoscópico bem fininho, chamado ureteroscópio, é guiado até o cálculo e o retira íntegro ou fragmentado.

O médico alerta que uma complicação muito comum permanece sem resolução. O cálculo pode ficar preso no ureter e desenvolver uma reação inflamatória. A partir desse ponto, ele não migraria mais. “Não sei como eles podem solucionar isso. Talvez, seja uma limitação para essa técnica. Eles estão querendo tornar o tratamento ainda mais minimamente invasivo, ou seja, não vai precisar nem operar ou quebrar a pedra.”

É alta a chance de reincidência  

Mesmo com a promessa dos cientistas do Laboratório de Física Aplicada da Universidade de Washington (EUA) do surgimento de uma técnica que melhore o tratamento do cálculo renal, o objetivo deve ser sempre evitar o problema. Não só pela dor agressiva, mas porque as chances de reincidência estão entre 80% e 100%. Após a eliminação e a recuperação, é extremamente importante que o paciente busque saber as causas que levaram à formação da pedra. A recorrência é alta, especialmente naqueles que têm histórico familiar, cerca de 70% dos indivíduos acometidos com a crise.

“Existem alguns distúrbios no metabolismo e uma predisposição genética que fazem com que esses cristais se precipitem de uma maneira mais fácil na urina. Tem-se que investigar a razão para evitar que se formem mais cálculos. Tive pacientes que já tiraram mais de 10. Às vezes, medidas simples evitam as novas formações”, orienta Daniel Rinaldi dos Santos, presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Para quem já enfrente ou o problema, a orientação é que urine pelo menos dois litros por dia, o que demanda uma ingestão de água ainda maior. Não valem refrigerantes ou qualquer bebida industrializada, pois têm alto teor de sódio, que ajuda na formação das pedras.

 No caso dos indivíduos que nunca tiveram o problema, valem os mesmos cuidados. A necessidade de ingestão de água depende de cada organismo. Mas a dica é checar a coloração da urina. “Se você está com uma urina muito escura, é porque está tomando pouca água. Se tem chance de formar cálculo, essa urina mais escura vai ter mais cristais para essa formação.”