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Desde a estréia do Ciência sem Fronteiras, em julho de 2011, a
rotina do físico Glaucius Oliva, 53 anos, é tomada por decisões cuja
complexidade se equipara ao gigantismo da iniciativa. Só nas contas do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) —
órgão que há dois anos ele preside —, o número de estudantes enviados às
melhores universidades do mundo deve se multiplicar por vinte até 2014.
Como uma das cabeças à frente do programa, Oliva já teve de lidar com
os tropeços iniciais e se lançou pessoalmente na costura de parcerias em
países onde a inovação é cultivada em grau máximo.
Doutor em biologia estrutural pela Universidade de Londres — área à qual ainda se dedica na USP de São Carlos —, ele considera decisiva a convivência com a nata da academia mundial. “Espero que essa geração mais globalizada dê uma boa chacoalhada nas universidades brasileiras", dispara na seguinte entrevista que deu a VEJA. Por que têm faltado candidatos às vagas oferecidas pelo Ciência sem Fronteiras? Isso se vê principalmente na pós-graduação, em que muitos dos estudantes de mestrado e doutorado vivem em uma zona de conforto. Eles não ambicionam nada de muito extraordinário, fora da curva, e vão sobrevivendo à base de um ou dois artigos publicados por ano em revistas de baixa relevância. Essa turma leva uma rotina estável, previsível, e não tem grandes incentivos para se mexer e estudar no exterior. Como esperar que, na volta ao Brasil, os talentos agora enviados às melhores universidades do mundo se sintam compelidos a produzir e a permanecer em ambientes como esse? Tenho a esperança de que eles dêem uma boa chacoalhada nas universidades brasileiras. A começar pela graduação, ainda apoiada em um modelo velho, fossilizado. Nem mesmo instituições mais conceituadas, como a USP, ficam de fora. Impomos aos alunos uma carga horária absurdamente elevada, baseada em um excesso de aulas expositivas maçantes. Basta olhar um pouco além de nossos próprios muros para perceber que a nata da academia mundial está caminhando justamente em direção oposta. Eles envolvem o aluno em projetos desafiantes, em leitura e discussões de altíssimo nível, no lugar de deixá-lo preso a uma sala de aula congelada no século XIX. Recentemente, vieram à tona casos de atraso no pagamento de bolsas a brasileiros bancados no exterior pelo Ciência sem Fronteiras. Não foi a primeira vez. Por que a recorrência do erro? Esses casos são raros diante do volume de bolsas distribuídas, mas inaceitáveis. Eles são produto dos labirintos burocráticos do setor público. Olhe como a coisa funciona. O dinheiro que atrasou era para dar um adicional àqueles estudantes que estão vivendo em cidades mais caras. Sendo uma verba extra, era preciso publicar uma portaria para poder alterar os valores no sistema e ainda submeter o caso ao crivo de uma instância jurídica. O trâmite acabou se arrastando por mais tempo do que deveria, e os alunos ficaram quatro meses sem ver a cor do dinheiro. Não podemos deixar que se repita, sob o risco de arranhar uma ótima iniciativa. Houve resistências ao programa por parte das universidades? Inicialmente, sim. Alguns coordenadores e professores questionavam: "Como assim? Vão levar embora nossos melhores cérebros?”. Eles não conseguiam olhar um passo adiante. Mas, conforme foram se familiarizando com o programa, acabaram se convencendo de que poderia ser bom para todos. Uma turma que até hoje reclama é a da área de humanas, que ficou de fora. Não se passa um dia em que eu não receba um e-mail de alguém contrariado querendo saber o motivo da exclusão. Explico a essas pessoas que as bolsas para humanidades não foram extintas, e até se expandiram, só não foi no mesmo volume que as demais. Com o Ciência sem Fronteiras, fizemos, sim, uma opção pelas áreas exatas e biomédicas. porque o país precisa contar com uma base de talentos aí para se tomar mais inovador e conseguir competir globalmente. Por que o Brasil ficou apenas na 58ª posição no último ranking mundial da inovação? Esse é, antes de tudo, o retrato de um atraso histórico em relação aos países mais desenvolvidos, que começaram a cultivar o saber séculos antes de o Brasil ver surgir sua primeira universidade. Até os anos 70, a ciência brasileira era inexpressiva no cenário internacional, uma aventura para uns poucos heróis que se lançavam na busca de conhecimento com pouco incentivo. Quando finalmente fincamos as bases para uma produção científica mais sólida, outros fatores emperraram os avanços. Um deles foi a falta de foco na escolha dos temas investigados. Esse é um fator que continua pesando contra a inovação? Já melhoramos muito. Para se ter uma ideia, naqueles tempos em que a ciência brasileira estava no chão, o bordão no meio acadêmico era: "Produza alguma coisa, não importa o que nem para quê". Nossa ciência sempre foi muito ofertista, regida por uma lógica segundo a qual primeiro você investiga um assunto, depois pergunta se alguém está interessado nele. Hoje, felizmente, há cada vez mais pesquisadores debruçados sobre problemas concretos, dedicados à ciência aplicável. Mas persistem, sim, núcleos universitários que se perdem em temas etéreos, alguns com a visão enviesada por suas próprias crenças e ainda aferrados a antigas bandeiras ideológicas. Quais bandeiras? É uma minoria, mas há gente na academia que ainda não vê com simpatia a aproximação com o setor privado. Eles repetem o mesmo velho bordão: “Vamos acabar colocando recursos públicos a serviço do capital’". Esses centros de resistência sustentados sobre o discurso ideológico contribuíram historicamente para manter as empresas distantes do mundo acadêmico e a inovação brasileira, por conseqüência, longe do topo. Se você conversar hoje com certas associações de docentes, talvez ainda escute conhecidos slogans anticapitalistas. Mas reafirmo: atualmente, eles já não traduzem mais a predisposição da maioria, que quer inovar. Nos países mais inovadores do mundo, a maior parcela dos investimentos em pesquisa e desenvolvimento vem do setor privado, e não do governo. Por que no Brasil é diferente? As empresas brasileiras se desenvolveram sob um protecionismo pesado, num ambiente em que a competição não era estimulada e não havia incentivo à inovação. Nenhum empresário em sã consciência colocaria dinheiro no desenvolvimento de novas tecnologias — algo que leva anos para se reverter em riqueza — sem confiar na solidez das instituições nem em uma moeda cujo valor era corroído a cada dia pela inflação. Mas isso vem mudando, e rapidamente. De onde vem essa sua convicção? Nos encontros com organizações como Fiesp e CNI, ouço a toda hora as cabeças mais empreendedoras do país falando da necessidade de inovar. E eles estão realmente pisando no acelerador. Entenderam que, no mundo de hoje, ninguém se toma competitivo sem ser inventivo. O Brasil é um caso único de país no mundo em que uma universidade — a Unicamp— está entre as instituições que lideram a produção de patentes. É o setor privado que deveria encabeçar o desenvolvimento de novas tecnologias. Cabe ao governo, de seu lado, garantir crédito, segurança jurídica e incentivos tributários à inovação — esta, aliás, uma iniciativa amplamente aceita pela Organização Mundial do Comércio. Por que a esmagadora maioria dos Ph.Ds. brasileiros prefere trabalhar em universidades e não no setor privado, como é tão comum nos países mais desenvolvidos? Por muito tempo, faltavam boas oportunidades nas empresas, mas também iniciativa por pane dos doutores brasileiros para quebrar o ciclo da inércia que os faz permanecer no universo acadêmico. Há, como já disse, uma acomodação na academia entre aqueles que ambicionam pouco e não veem sentido em ir além da zona de conforto. A própria universidade não os incentiva a sair. Quando recebem propostas de emprego de uma empresa, não é raro ouvirem de seus orientadores: “Vão roubar o meu doutor?’. Grandes pesquisadores às vezes se esquecem de que uma das funções primordiais da academia é justamente formar doutores de alto nível para elevar a produtividade da indústria. O princípio da meritocracia não deveria estar mais presente nas universidades brasileiras? A isonomia salarial é intrínseca ao serviço público. Um juiz que trabalha com presteza ganha o mesmo que aquele que só bate ponto na repartição, atravancando o Judiciário, e essa mesma lógica distorcida se replica na universidade pública. Na posição que ocupo, preciso lidar com a realidade encontrando caminhos para, dentro do sistema já estabelecido, tentar garantir o reconhecimento ao esforço e aos talentos individuais. O CNPq e a Capes já dispõem de bons mecanismos para aferir com objetividade o nível da produção dos grupos de pesquisa e contam com verbas para premiar os mais produtivos. O dinheiro vai para o bolso do pesquisador e para o seu laboratório. Agora, acho que cabe, sim, uma reflexão sobre aspectos da legislação brasileira que acabam sufocando o princípio da meritocracia. O senhor pode dar um exemplo? Se eu sou o chefe de um grupo de pesquisas na universidade, tenho uma vaga a ocupar e encontro um profissional que se encaixaria perfeitamente na função, não posso contratá-lo. A lei me impede. Ela exige o concurso público. Nos Estados Unidos, onde essas regras são muito mais flexíveis, você escolhe um professor de Princeton ou de Harvard e pode fazer a ele a proposta mais agressiva que estiver ao seu alcance. Todos sabem que a presença de um bom professor desencadeia um ciclo virtuoso, já que ele consegue atrair mais alunos, projetos e dinheiro para a universidade. Os bons cientistas brasileiros queixam-se do excesso de burocracia na universidade. O senhor engrossa o coro?
Sem dúvida. Olh, por exemplo,
como funciona o sistema de doação de dinheiro privado para as faculdades
públicas. Essas verbas precisam ser executadas segundo as normas do
serviço público. Ou seja, se eu quero comprar um equipamento que atende
às necessidades da minha pesquisa, preciso antes lançar uma licitação. E
ela deve sempre obedecer à regra do melhor preço, que, como se sabe,
nem sempre é o critério mais adequado para fazer uma escolha no meio
científico. Para piorar as coisas, o dinheiro doado às vezes leva até um
ano para ser disponibilizado, e é o próprio pesquisador que conduz todo
o processo, perdendo um tempo valioso de sua atividade intelectual.
Quase a metade das vagas oferecidas neste ano nas universidades públicas foi preenchida com estudantes beneficiados pela nova política de cotas. O senhor apoia a iniciativa? Acho que os efeitos dessa política podem ser positivos, sim, mas o governo deve observar atentamente as conseqüências dela para que a qualidade seja preservada acima de tudo. Os Estados Unidos adotaram no passado um sistema mais flexível, dando um empurrão àqueles alunos que não estavam no topo, mas que já apresentavam rendimento escolar compatível com os desafios do ensino superior. Eu me pergunto: será que era necessário estabelecer um número fixo de vagas para os cotistas? E deveria ser 50%? Ou 20%, 30%? Se as notas de ingresso forem baixas demais, o princípio da meritocracia ficará em xeque. Precisamos acompanhar os desdobramentos da iniciativa para evitar isso. Há um grupo que defende a extensão das cotas à pós-graduação. O senhor se inclui nele? De jeito nenhum. Essa é uma bandeira agitada por grupos de afrodescendentes que deixam de considerar algo essencial: depois de uma graduação, as diferenças na largada da vida acadêmica já deveriam ter sido sanadas há tempos. Se elas não foram, infelizmente, não é possível almejar um mestrado, muito menos um doutorado. Nesse olimpo deve estar gente verdadeiramente preparada para atuar na fronteira do conhecimento, com alta capacidade para inovar e gerar riqueza. |
segunda-feira, 25 de março de 2013
Entrevista - Glaucis Oliva
Revista Veja -
25/03/2013
Renato Janine Ribeiro - Otimismo moderado com o novo papa
Valor Econômico - 25/03/2013
Li com atenção muito do que foi escrito sobre o novo papa, de quem nada sabia até sua escolha. Contra ele, o que me impressionou foram os textos de Horacio Verbitsky, jornalista argentino que realizou farta pesquisa sobre a ditadura em seu país e que acusa Jorge Bergoglio de vínculos pouco inocentes com o regime militar. Mas não é por esta via que vejo o futuro da Igreja sob o papa Francisco.
A Igreja Católica é a organização com maior sabedoria prática que existe, elaborada ao longo de 17 séculos - desde que o imperador Constantino lhe deu a proeminência no Império Romano. Seu futuro passa menos pela biografia do novo pontífice, penso eu, do que pela história da Igreja; para não ir longe demais, me limitarei aos últimos 50 anos - o período em que a Igreja se reconciliou com o mundo moderno, que em 1864 Pio IX tinha fulminado no seu temível Syllabus.
Pio XII, que reinou de 1939 a 1958, foi o Brejnev do catolicismo: engessou-o a mais não poder. Foi omisso com os nazistas. Em sua época, havia forte prevenção contra outras religiões. Mas ele foi sucedido por um dos melhores papas da história. João XXIII abriu o diálogo com as demais religiões, cristãs ou não. Adotou a missa nas diversas línguas, para os fiéis entenderem o que o culto significava. Não fosse ele, a Igreja teria desabado. Mas faz parte da Igreja Católica ser capaz, quando precisa, de ter o dirigente de que precisa.
Desde 1958 e deixando de lado o breve papa João Paulo I, tivemos três papas notáveis - e só um fracassado. Paulo VI, menos carismático que João XXIII, consolidou as reformas iniciadas por ele, o assim-chamado "aggiornamento". A partir de 1978, João Paulo II mudou o rumo da Igreja, esvaziando a Teologia da Libertação, desautorando o clero e os leigos de esquerda, agindo decididamente para a queda do comunismo - mas também criticou ditaduras de direita, como a brasileira. Foram três papas que marcaram época.
Já Bento XVI foi o fracasso. Representava a continuidade, colaborador que foi de João Paulo II. Mas não só carece de carisma como não gerou ações marcantes em seu pontificado. Infelizmente, para um dos papas mais intelectualizados que já houve, seu tempo talvez seja lembrado sobretudo pela questão da pedofilia. Esteve constantemente sob ataque e, se teve o mérito de não reagir de forma agressiva (mas como poderia o papa, hoje um líder espiritual sem poder temporal, agredir?), não enfrentou as questões que foram surgindo. Em vez de uma Igreja ativa, engajada, como tivemos de 1958 a 2005, vimos um Vaticano tímido, que mais se defendia do que propunha. Não espanta que tenha dado o passo, raríssimo na história, de renunciar. Não sei se foi docemente constrangido ou se a decisão foi apenas pessoal; mas sua retirada tem toda a lógica. A mesma lógica que tem sua sucessão por alguém que pode ter sido omisso em relação à ditadura argentina, mas cuja ação e retórica estão voltadas aos pobres.
Francisco assume a Santa Sé com uma agenda carregada. Em alguns temas, pouco terá a dizer. Não imagino a Igreja admitindo o aborto ou o casamento gay. Mas poderá aceitar as células-tronco, a ordenação de mulheres, o fim do celibato clerical. Pode reduzir a veemência contra a homossexualidade. A seu favor, a Igreja tem o fato de que o dossiê pedofilia está encaminhado. A mancha ficou com Bento XVI, mas se tornou inadmissível abafar casos de padres pedófilos. Contudo, a ênfase do pontificado poderá estar nos pobres. Essa foi a pauta principal do clero dito de esquerda, cobrindo muito da ação pastoral sob João XXIII e Paulo VI. Foi o que João Paulo II abafou, reduzindo por exemplo a ação das Comunidades Eclesiais de Base, que cumpriram destacado papel na América Latina. Uma retomada da questão pode sinalizar um novo giro na ação da Igreja, mas diferente das décadas de 1960 e 1970.
Isso, por várias razões. Mudou a pobreza. Mudou a esquerda. A pobreza é menor que no passado. Não foi só no Brasil que os percentuais de pobres e de miseráveis despencaram. O fenômeno é abrangente, quase mundial. Se a realidade da pobreza se modificou, o empenho em enfrentá-la também se ampliou. Mudou a direita. Hoje, seria difícil caracterizar a direita liberal pelo empenho em manter a pobreza. Não é contra a desigualdade social, mas não vê graça na pobreza, menos ainda na miséria. Remédios para a pobreza podem ser diferentes - maior ação do Estado, à esquerda, mais empreendedorismo, à direita - mas são mais numerosos do que no passado e granjeiam maior apoio político.
Também mudou a esquerda. Hoje, boa parte da América Latina tem governantes, eleitos, de esquerda. Excetuando a Venezuela, em nenhum caso os Estados Unidos apoiaram uma ação violenta para derrubá-los. E eles aprenderam, com o fracasso do golpe de 2002 em Caracas. Essa esquerda eleita, também, em que pese a retórica de Hugo Chávez, é bem menos radical do que a dos anos 1960. Dilma Rousseff afirma desejar que o Brasil se torne "um país de classe média". É uma proposta antimarxista. Não haveria nada que os rebeldes dos anos 1960 repudiassem mais, porque considerariam esse projeto uma forma - talvez eficaz - de conter revoltas radicais.
O que pode fazer o papa, neste quadro? Bento XVI era uma figura anacrônica. Já um papa de país empobrecido, sorridente, que a seu modo procurou sepultar os fantasmas da ditadura sanguinária que assolou a Argentina, pode ter por meta acalmar a agenda "de costumes" da Igreja e retomar a agenda "social" - leia-se, de combate à miséria. Nada disso seria uma revolução. Mas poderia distender os espíritos, o que Ratzinger não soube fazer.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.
Li com atenção muito do que foi escrito sobre o novo papa, de quem nada sabia até sua escolha. Contra ele, o que me impressionou foram os textos de Horacio Verbitsky, jornalista argentino que realizou farta pesquisa sobre a ditadura em seu país e que acusa Jorge Bergoglio de vínculos pouco inocentes com o regime militar. Mas não é por esta via que vejo o futuro da Igreja sob o papa Francisco.
A Igreja Católica é a organização com maior sabedoria prática que existe, elaborada ao longo de 17 séculos - desde que o imperador Constantino lhe deu a proeminência no Império Romano. Seu futuro passa menos pela biografia do novo pontífice, penso eu, do que pela história da Igreja; para não ir longe demais, me limitarei aos últimos 50 anos - o período em que a Igreja se reconciliou com o mundo moderno, que em 1864 Pio IX tinha fulminado no seu temível Syllabus.
Pio XII, que reinou de 1939 a 1958, foi o Brejnev do catolicismo: engessou-o a mais não poder. Foi omisso com os nazistas. Em sua época, havia forte prevenção contra outras religiões. Mas ele foi sucedido por um dos melhores papas da história. João XXIII abriu o diálogo com as demais religiões, cristãs ou não. Adotou a missa nas diversas línguas, para os fiéis entenderem o que o culto significava. Não fosse ele, a Igreja teria desabado. Mas faz parte da Igreja Católica ser capaz, quando precisa, de ter o dirigente de que precisa.
Desde 1958 e deixando de lado o breve papa João Paulo I, tivemos três papas notáveis - e só um fracassado. Paulo VI, menos carismático que João XXIII, consolidou as reformas iniciadas por ele, o assim-chamado "aggiornamento". A partir de 1978, João Paulo II mudou o rumo da Igreja, esvaziando a Teologia da Libertação, desautorando o clero e os leigos de esquerda, agindo decididamente para a queda do comunismo - mas também criticou ditaduras de direita, como a brasileira. Foram três papas que marcaram época.
Já Bento XVI foi o fracasso. Representava a continuidade, colaborador que foi de João Paulo II. Mas não só carece de carisma como não gerou ações marcantes em seu pontificado. Infelizmente, para um dos papas mais intelectualizados que já houve, seu tempo talvez seja lembrado sobretudo pela questão da pedofilia. Esteve constantemente sob ataque e, se teve o mérito de não reagir de forma agressiva (mas como poderia o papa, hoje um líder espiritual sem poder temporal, agredir?), não enfrentou as questões que foram surgindo. Em vez de uma Igreja ativa, engajada, como tivemos de 1958 a 2005, vimos um Vaticano tímido, que mais se defendia do que propunha. Não espanta que tenha dado o passo, raríssimo na história, de renunciar. Não sei se foi docemente constrangido ou se a decisão foi apenas pessoal; mas sua retirada tem toda a lógica. A mesma lógica que tem sua sucessão por alguém que pode ter sido omisso em relação à ditadura argentina, mas cuja ação e retórica estão voltadas aos pobres.
Francisco assume a Santa Sé com uma agenda carregada. Em alguns temas, pouco terá a dizer. Não imagino a Igreja admitindo o aborto ou o casamento gay. Mas poderá aceitar as células-tronco, a ordenação de mulheres, o fim do celibato clerical. Pode reduzir a veemência contra a homossexualidade. A seu favor, a Igreja tem o fato de que o dossiê pedofilia está encaminhado. A mancha ficou com Bento XVI, mas se tornou inadmissível abafar casos de padres pedófilos. Contudo, a ênfase do pontificado poderá estar nos pobres. Essa foi a pauta principal do clero dito de esquerda, cobrindo muito da ação pastoral sob João XXIII e Paulo VI. Foi o que João Paulo II abafou, reduzindo por exemplo a ação das Comunidades Eclesiais de Base, que cumpriram destacado papel na América Latina. Uma retomada da questão pode sinalizar um novo giro na ação da Igreja, mas diferente das décadas de 1960 e 1970.
Isso, por várias razões. Mudou a pobreza. Mudou a esquerda. A pobreza é menor que no passado. Não foi só no Brasil que os percentuais de pobres e de miseráveis despencaram. O fenômeno é abrangente, quase mundial. Se a realidade da pobreza se modificou, o empenho em enfrentá-la também se ampliou. Mudou a direita. Hoje, seria difícil caracterizar a direita liberal pelo empenho em manter a pobreza. Não é contra a desigualdade social, mas não vê graça na pobreza, menos ainda na miséria. Remédios para a pobreza podem ser diferentes - maior ação do Estado, à esquerda, mais empreendedorismo, à direita - mas são mais numerosos do que no passado e granjeiam maior apoio político.
Também mudou a esquerda. Hoje, boa parte da América Latina tem governantes, eleitos, de esquerda. Excetuando a Venezuela, em nenhum caso os Estados Unidos apoiaram uma ação violenta para derrubá-los. E eles aprenderam, com o fracasso do golpe de 2002 em Caracas. Essa esquerda eleita, também, em que pese a retórica de Hugo Chávez, é bem menos radical do que a dos anos 1960. Dilma Rousseff afirma desejar que o Brasil se torne "um país de classe média". É uma proposta antimarxista. Não haveria nada que os rebeldes dos anos 1960 repudiassem mais, porque considerariam esse projeto uma forma - talvez eficaz - de conter revoltas radicais.
O que pode fazer o papa, neste quadro? Bento XVI era uma figura anacrônica. Já um papa de país empobrecido, sorridente, que a seu modo procurou sepultar os fantasmas da ditadura sanguinária que assolou a Argentina, pode ter por meta acalmar a agenda "de costumes" da Igreja e retomar a agenda "social" - leia-se, de combate à miséria. Nada disso seria uma revolução. Mas poderia distender os espíritos, o que Ratzinger não soube fazer.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.
Quadrinhos
folha de são paulo
CHICLETE COM BANANA ANGELI
PIRATAS DO TIETÊ LAERTE
DAIQUIRI CACO GALHARDO
NÍQUEL NÁUSEA FERNANDO GONSALES
MUNDO MONSTRO ADÃO ITURRUSGARAI
BIFALAND, A CIDADE MALDITA ALLAN SIEBER
MALVADOS ANDRÉ DAHMER
GARFIELD JIM DAVIS
Pesquisadores tentam reverter extinção de espécies de animais
folha de são paulo
GINA KOLATA
DO "NEW YORK TIMES"
DO "NEW YORK TIMES"
Até pouco tempo atrás, a seta da seleção natural parecia avançar em só uma direção. Uma espécie se formava, crescia e depois se extinguia. E, uma vez extinta, não podia mais retornar.
Agora, cientistas dizem enxergar outra possibilidade. "Talvez não possamos adiar a morte, mas possamos revertê-la", disse o geneticista George Church, da Escola Médica de Harvard.
Até hoje, só uma espécie extinta foi ressuscitada, e o filhote que nasceu, em 2003, viveu por apenas alguns minutos. Era um íbex dos Pireneus, animal semelhante a uma cabra, que vagava pelos penhascos entre a Espanha e França até que o último indivíduo morreu, em 1999.
O método empregado foi a clonagem. Foram usadas células congeladas do último dos animais para tentar criar um exemplar novo.
Numa conferência em Washington, neste mês, cientistas australianos falaram sobre a tentativa de ressuscitar a rã "incubadora" (Rheobatrachus silus), sumida há cerca de um quarto de século.
Até agora, o chamado Projeto Lazarus só criou embriões que logo morreram.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
MÉTODOS
Apesar de os esforços serem iniciais, cientistas já estão pensando em maneiras de trazer muitas espécies de volta, como o mamute-lanoso, um cavalo de 70 mil anos atrás que vivia no Canadá e o pombo-passageiro.
Mas é preciso ter cautela, dizem pesquisadores. Ross MacPhee, curador de mamíferos no Museu Americano de História Natural, em Nova York, disse que, embora fascinante do ponto de vista científico, trazer as espécies extintas de volta requer mais reflexão. "Quem vai fazer isso, e quais são as regras?"
Supondo que os humanos sejam capazes de ressuscitar espécies extintas, será que deveriam fazê-lo?
A clonagem real requer uma célula intacta de uma espécie extinta. Especula-se que possa haver células congeladas intactas de espécies como o mamute-lanoso no permafrost (solo congelado), no Ártico.
George Church, no entanto, disse que ele e a maioria dos cientistas creem que o máximo que pode ser encontrado, como já aconteceu, são fragmentos de DNA.
Mas novas tecnologias sugerem outro método, que só requer algum material genético. A ideia é comparar o DNA da espécie extinta ao de uma espécie atual relacionada e substituir pedaços do código genético do bicho de hoje por fragmentos do DNA do animal extinto, inseridos em células da espécie existente. Essas células híbridas seriam usadas para a clonagem.
Depois de algum tempo, o animal resultante teria DNA suficiente da espécie extinta para assemelhar-se a ela.
Outra possibilidade cogitada é a seleção artificial de animais domésticos atuais para obter uma raça com fenótipo semelhante ao de um ancestral selvagem extinto.
Isso poderia funcionar com o auroque, por exemplo, uma raça antiga de gado selvagem. Acredita-se que a maioria de seus genes distintivos ainda exista espalhada entre as variedades de gado de hoje. Cientistas poderiam reproduzir essas variedades, selecionando descendentes com cada vez mais material genético do auroque.
Teoricamente, seria possível fazer a seleção de humanos para trazer de volta o neandertal, afirmou Hank Greely, diretor do Centro de Direito e Biociências da Universidade Stanford.
Segundo ele, de 2% a 3% do DNA humano parece ser feito de relíquias do DNA neandertalense. Mas Greely acrescentou que, evidentemente, "é inviável fazer uma seleção de 500 gerações humanas, sem falar que seria uma péssima ideia".
JUSTIÇA
Existem muitos argumentos contra alterar o caráter permanente da extinção, até para fins legais.
"Suponhamos que uma empresa queira construir no último pedacinho de terra habitado por uma ave ameaçada. Ela poderia dizer: 'Vou pagar pelo congelamento de células da ave. E, agora, vamos à construção de nosso campo de golfe'", afirma Greely.
Por outro lado, ressuscitar espécies pode ser uma questão de justiça. Tome-se o caso dos pombos-passageiros. "Acabamos com eles. Não deveríamos trazê-los de volta?"
Em última análise, o que seduz Greely e outros cientistas na ideia de trazer espécies extintas de volta à vida é que isso seria assombroso.
"Seria o máximo ver um mamute-lanoso, um tigre-dentes-de-sabre ou uma preguiça-gigante. Não estamos falando em 'Parque dos Dinossauros', mas em Parque do Pleistoceno, 100 mil ou 200 mil anos atrás. Há muitíssimos animais bacanas que deixaram de existir nos últimos 200 mil anos."
Tradução de CLARA ALLAIN
Mozilla completa 15 anos de existência e mira 'duopólio' de Google e Apple nos celulares
folha de são paulo
COLABORAÇÃO PARA A FOLHANa entrevista concedida à Folha, a executiva Mitchell Baker, fundadora e presidente da Fundação Mozilla, empresa ícone do software livre, questiona a natureza de projetos que dizem ter código aberto, fala da relação da instituição com projetos semelhantes, da competição entre eles e os motivos que levam desenvolvedores a escolher uma companhia sem fins lucrativos para trabalhar. Veja os principais momentos.
(BRUNO ROMANI)
CONCORRÊNCIA
Uma de nossas filosofias é que a competição é uma coisa boa: dá poder de escolha aos consumidores e incentiva os participantes [do mercado] a fazer o seu melhor. Somos também muito focados na interoperabilidade entre diferentes produtos ou entre diferentes versões de produtos. O lado ruim da competição é que cada empresa constrói sua própria coluna vertical. Em um cenário desses, se você escolher um único aspecto da coluna, um dispositivo, por exemplo, tudo relacionado a ela já foi decidido por você. E você não pode mudar isso. Se existem muitas empresas com esse modelo, o sistema fica travado. Esse tipo de competição fragmentária é muito difícil.
PROJETOS "ABERTOS"
Código aberto pode significar coisas diferentes. Na definição mais limitada, técnica e legalista, significa que o software está disponível sob uma licença que foi aprovada como de código aberto. Quase sempre, "aberto" e "código aberto" significam algo maior, que inclui o método de produção -do qual a Mozilla é uma forte defensora, e o Android, não. Nosso método de desenvolvimento é totalmente aberto. Isso não acontece apenas no sentido de você poder ir à internet e ler o que acontece. Você pode participar das discussões, desenvolver lideranças e criar o trabalho que acabamos compartilhando. Ficamos gratos por isso, porque diferentes perspectivas são necessárias para a criação de uma plataforma forte. Então, quando olhamos para outros projetos de código aberto, vemos só licenciamento. Nossa relação com esses projetos é...[pausa longa] de respeito sobre o fato de que, em algum momento, o código deles pode estar disponível sob uma licença aberta.
ATRAIR MÃO-DE-OBRA
A filosofia de design é importante. O produto que você está construindo é importante. Muitos desenvolvedores são atraídos por um produto e o seu impacto -querem trabalhar em um projeto que as pessoas estão usando para valer. Vimos bastante isso no Firefox. É importante também o que você quer dizer com "aberto". Licenciamento aberto é uma coisa, e desenvolvimento aberto é outra. Se o que mais empolga o mercado é a parte fechada do que você faz, isso pode ser desencorajador [para quem cria]. Desenvolvedores se interessam pela maneira que um projeto funciona. Alguns gostam de estruturas organizacionais. Outros preferem liberdade total. Algumas coisas que fazemos no Firefox têm partes altamente estruturadas. Onde podemos oferecer espontaneidade? Nas extensões do Firefox há uma forma de agradar quem quer trabalhar separadamente e fazendo seus próprios horários. O que mais atrai? Liderança, a tecnologia central dos seus projetos e as oportunidades de negócios. No nosso caso, o fato de não termos fins lucrativos atrai. Você pode ter código aberto e ser financiado por investidores, que esperam retorno. As pessoas que nos apoiam esperam retorno, mas não monetário. Elas querem mais abertura, interoperabilidade e segurança para os usuários.
MUNDO MÓVEL
A estrutura da indústria móvel é problemática para diversos participantes. Existem pessoas de todos os lados tentando inovar, criando a terceira ou quartas camadas da experiência. Você tem Apple, Google... Além disso, existem novos participantes, alguns mais fechados em termos de inter-operabilidade. O Ubuntu utiliza o kernel do Linux, mas tem uma tecnologia e metodologia de aplicativos específica, então é uma mistura. A indústria está sob pressão enorme, e os desenvolvedores estão lutando contra duas plataformas que têm muito código específico. Em tempos difíceis, as mudanças estão na periferia da indústria.
O movimento "open source" consegue reunir centenas de programadores de todos os lugares do planeta que, insatisfeitos com as atuais e caras opções, se juntam para criar alternativas e projetos públicos, muitas vezes sem fins lucrativos.
Um dos grandes marcos desse mundo é o domínio que a Microsoft tinha sobre os navegadores antes de a bolha da internet explodir, cenário mudado pelo surgimento do Firefox, da Mozilla.
Foi tal pontapé que permite, hoje, que empresas com poucos recursos se mantenham usando software livre e que governos usem tecnologia de ponta gratuita.
Mas, apesar de diversos pontos positivos, projetos baseados em código aberto enfrentam problemas. Um deles é o abandono por parte de seus criadores, desestimulados com a falta de incentivo financeiro: existe muita mão-de-obra, mas pouco dinheiro e investimento, já que as fundações dependem principalmente de doações e contribuições de entusiastas.
E quem sofre é o usuário.
Usar código aberto significa, normalmente, baixar sem adquirir serviços ou suporte.
Assim, sistemas que usam código fechado possuem melhor atendimento dedicado ao consumidor final, além de oferecer as tradicionais garantias de uso e correções de defeitos que possam surgir.
Outro ponto delicado do código aberto é que, livre para tantas modificações e intervenções de terceiros, acabam sendo criadas muitas versões de um mesmo produto. E, com isso, o projeto final corre o risco perder o foco inicial e tornar um concorrente de si mesmo, causando confusão ao usuário.
BRUNO ROMANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
No dia 31 de março de 1998, um grupo de funcionários da Netscape Corporation, então uma gigante dos navegadores de internet, passou a desenvolver um pacote de programas cujo código fonte, principal pilar de um software, podia ser acessado por qualquer um.
- Nem todo projeto de código aberto é mesmo aberto, diz fundadora da Mozilla
- Análise: Código aberto deu liberdade ao usuário, mas tem problemas
O projeto recebeu o nome de Mozilla, uma brincadeira com as palavras "Mosaic" (um dos primeiros navegadores de web) e "killer" (matador).
Era o início de uma nova forma de pensar a tecnologia, que ainda hoje gera debates acalorados entre os ativistas do software livre.
Ao completar 15 anos, aquilo que se tornou uma empresa sem fins lucrativos ainda se esforça para levar software sem restrições e sem cobranças por parte de grandes empresas da tecnologia a um número maior de pessoas.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Há dez anos, nove entre cada dez internautas do mundo navegavam pela rede usando o Internet Explorer. Era o auge da Microsoft nesse mercado. Seu principal concorrente, o Netscape, estava esmagado.
Parecia ser a supremacia definitiva do IE quando a AOL comprou a Netscape Corporation e decidiu acabar com o projeto Mozilla, que acabou virando uma fundação independente e criando o Firefox.
A raposinha começou a ganhar adeptos e abriu as portas para uma nova geração de programas do tipo, como o Chrome e o Safari. No último mês de fevereiro, segundo a consultoria NetApplications, o mercado de navegadores para computadores tradicionais ainda mostrava o Internet Explorer (55,82%) à frente, seguido pelo Firefox (20,12%). Já segundo a StatCounter, o líder é o Chrome (37,1%), com o IE atrás (29,8%).
Hoje em dia, a Mozilla se concentra naquilo que considera um duopólio de plataformas fechadas: o mercado de sistemas operacionais móveis, dividido entre o iOS, da Apple, e o Android, do Google.
Para isso, trabalha no Firefox, uma plataforma aberta para smartphones baratos. Huawei, LG, Sony e ZTE são alguns dos fabricantes que devem lançar aparelhos equipados com ele.
E, como já fez com os navegadores, a raposa pode liderar uma nova geração de sistemas operacionais móveis, concorrendo com nomes como Sailfish, Tizen e Ubuntu.
Para o consumidor final, projetos de código aberto são importantes: eles garantem que mais pessoas acessem programas e aplicativos sem botar a mão no bolso.
ENTREVISTA
Nem todos os projetos de código aberto são abertos
Para Mitchell Baker, fundadora e presidente da Mozilla, a diferença está em como os programas são desenvolvidos
(BRUNO ROMANI)
Uma de nossas filosofias é que a competição é uma coisa boa: dá poder de escolha aos consumidores e incentiva os participantes [do mercado] a fazer o seu melhor. Somos também muito focados na interoperabilidade entre diferentes produtos ou entre diferentes versões de produtos. O lado ruim da competição é que cada empresa constrói sua própria coluna vertical. Em um cenário desses, se você escolher um único aspecto da coluna, um dispositivo, por exemplo, tudo relacionado a ela já foi decidido por você. E você não pode mudar isso. Se existem muitas empresas com esse modelo, o sistema fica travado. Esse tipo de competição fragmentária é muito difícil.
PROJETOS "ABERTOS"
Código aberto pode significar coisas diferentes. Na definição mais limitada, técnica e legalista, significa que o software está disponível sob uma licença que foi aprovada como de código aberto. Quase sempre, "aberto" e "código aberto" significam algo maior, que inclui o método de produção -do qual a Mozilla é uma forte defensora, e o Android, não. Nosso método de desenvolvimento é totalmente aberto. Isso não acontece apenas no sentido de você poder ir à internet e ler o que acontece. Você pode participar das discussões, desenvolver lideranças e criar o trabalho que acabamos compartilhando. Ficamos gratos por isso, porque diferentes perspectivas são necessárias para a criação de uma plataforma forte. Então, quando olhamos para outros projetos de código aberto, vemos só licenciamento. Nossa relação com esses projetos é...[pausa longa] de respeito sobre o fato de que, em algum momento, o código deles pode estar disponível sob uma licença aberta.
ATRAIR MÃO-DE-OBRA
A filosofia de design é importante. O produto que você está construindo é importante. Muitos desenvolvedores são atraídos por um produto e o seu impacto -querem trabalhar em um projeto que as pessoas estão usando para valer. Vimos bastante isso no Firefox. É importante também o que você quer dizer com "aberto". Licenciamento aberto é uma coisa, e desenvolvimento aberto é outra. Se o que mais empolga o mercado é a parte fechada do que você faz, isso pode ser desencorajador [para quem cria]. Desenvolvedores se interessam pela maneira que um projeto funciona. Alguns gostam de estruturas organizacionais. Outros preferem liberdade total. Algumas coisas que fazemos no Firefox têm partes altamente estruturadas. Onde podemos oferecer espontaneidade? Nas extensões do Firefox há uma forma de agradar quem quer trabalhar separadamente e fazendo seus próprios horários. O que mais atrai? Liderança, a tecnologia central dos seus projetos e as oportunidades de negócios. No nosso caso, o fato de não termos fins lucrativos atrai. Você pode ter código aberto e ser financiado por investidores, que esperam retorno. As pessoas que nos apoiam esperam retorno, mas não monetário. Elas querem mais abertura, interoperabilidade e segurança para os usuários.
MUNDO MÓVEL
A estrutura da indústria móvel é problemática para diversos participantes. Existem pessoas de todos os lados tentando inovar, criando a terceira ou quartas camadas da experiência. Você tem Apple, Google... Além disso, existem novos participantes, alguns mais fechados em termos de inter-operabilidade. O Ubuntu utiliza o kernel do Linux, mas tem uma tecnologia e metodologia de aplicativos específica, então é uma mistura. A indústria está sob pressão enorme, e os desenvolvedores estão lutando contra duas plataformas que têm muito código específico. Em tempos difíceis, as mudanças estão na periferia da indústria.
RAIO-X FUNDAÇÃO MOZILLA
Origem Em 31 de março de 1998, a Netscape criou um projeto, batizado Mozilla, para criar uma versão de código aberto do seu navegador de internet
Sede Mountain View, Califórnia
Receita US$ 163 milhões, em 2011
Membros 40 mil pessoas, incluindo funcionários e voluntários, colaboram com seus projetos
Principais produtos Firefox (navegador), Thunderbird (cliente de e-mail) e Firefox OS (plataforma móvel)
ANÁLISE
Código aberto deu liberdade ao usuário, mas tem problemas
ANDREWS FERREIRA GUEDISESPECIAL PARA A FOLHAO código aberto é o resultado da inquietação de desenvolvedores, algo que propiciou liberdade de escolha a pessoas e empresas. É uma das mais importantes contribuições sociais que a área da tecnologia já recebeu dos seus profissionais até hoje.O movimento "open source" consegue reunir centenas de programadores de todos os lugares do planeta que, insatisfeitos com as atuais e caras opções, se juntam para criar alternativas e projetos públicos, muitas vezes sem fins lucrativos.
Um dos grandes marcos desse mundo é o domínio que a Microsoft tinha sobre os navegadores antes de a bolha da internet explodir, cenário mudado pelo surgimento do Firefox, da Mozilla.
Foi tal pontapé que permite, hoje, que empresas com poucos recursos se mantenham usando software livre e que governos usem tecnologia de ponta gratuita.
Mas, apesar de diversos pontos positivos, projetos baseados em código aberto enfrentam problemas. Um deles é o abandono por parte de seus criadores, desestimulados com a falta de incentivo financeiro: existe muita mão-de-obra, mas pouco dinheiro e investimento, já que as fundações dependem principalmente de doações e contribuições de entusiastas.
E quem sofre é o usuário.
Usar código aberto significa, normalmente, baixar sem adquirir serviços ou suporte.
Assim, sistemas que usam código fechado possuem melhor atendimento dedicado ao consumidor final, além de oferecer as tradicionais garantias de uso e correções de defeitos que possam surgir.
Outro ponto delicado do código aberto é que, livre para tantas modificações e intervenções de terceiros, acabam sendo criadas muitas versões de um mesmo produto. E, com isso, o projeto final corre o risco perder o foco inicial e tornar um concorrente de si mesmo, causando confusão ao usuário.
ANDREWS FERREIRA GUEDIS é desenvolvedor que colabora com a Folha
Colégio estimula alunos a melhorar a Wikipédia
folha de são paulo
MÁRCIO DINIZCOLABORAÇÃO PARA A FOLHAAlunos do 9º ano do ensino fundamental do colégio I.L. Peretz, na zona sul de São Paulo, têm trabalhado para melhorar a qualidade e criar verbetes relacionados a obras literárias na Wikipédia, enciclopédia digital que tem 25 milhões de artigos publicados em 285 idiomas -772 mil deles em português.
A iniciativa partiu do professor Jorge Makssoudian, que procurou no Brasil os representantes da Wikimedia Foundation, responsável pelo site colaborativo, para oferecer a parceria.
O projeto é semelhante ao Wikipédia na Universidade, lançado pela fundação em 2011 e que tem a participação de instituições como USP, UFRJ e FGV, entre outras.
"Eu pensei em um projeto que unisse tecnologia com algo que os alunos costumam usar no dia a dia, mas que também servisse como ferramenta para trabalharmos questões gramaticais", diz.
De acordo com o professor, inicialmente são trabalhados apenas os verbetes sobre os livros que os alunos já leram.
O primeiro é sobre "A Volta ao Mundo em 80 dias", do escritor francês Júlio Verne.
A ideia, segundo Makssoudian, é "tornar a enciclopédia digital um ambiente mais confiável e com textos mais bem escritos". A filosofia é: em vez de reclamar, faça algo para melhorar o que lê.
"É legal poder participar, entender como ela é formada [a Wikipédia], como as pessoas produzem [o conteúdo] e como ele é publicado. Isso estimula a gente a fazer também", diz Grabiela Ejchel, 13.
O projeto também prevê levar tecnologia à biblioteca. Cada livro que tiver seu verbete editado na Wikipédia vai ganhar um QR Code, espécie de "código de barras" que pode ser lido por tablets e celulares e leva o leitor direto para uma página na internet.
Apesar de o programa não ser projeto oficial da Wikimedia Foundation, Oona Castro, responsável no Brasil pelas parcerias da fundação, diz que a iniciativa é bem-vinda.
"Queremos muito aprender com essa experiência, nova para nós, já que até hoje estivemos focados em atividades com universidades."
"Nosso papel é basicamente o de fomentar processos junto com a comunidade. Neste sentido, fizemos apenas a ponte entre o professor e voluntários da comunidade que já vinham planejando atividades em escolas de ensino médio em São Paulo", diz.
Além de corrigir verbetes, professor usa o site para ensinar gramática
Responsável no Brasil pelos projetos da Wikimedia Foundation, Oona Castro afirma que a iniciativa é bem-vinda
A iniciativa partiu do professor Jorge Makssoudian, que procurou no Brasil os representantes da Wikimedia Foundation, responsável pelo site colaborativo, para oferecer a parceria.
O projeto é semelhante ao Wikipédia na Universidade, lançado pela fundação em 2011 e que tem a participação de instituições como USP, UFRJ e FGV, entre outras.
"Eu pensei em um projeto que unisse tecnologia com algo que os alunos costumam usar no dia a dia, mas que também servisse como ferramenta para trabalharmos questões gramaticais", diz.
De acordo com o professor, inicialmente são trabalhados apenas os verbetes sobre os livros que os alunos já leram.
O primeiro é sobre "A Volta ao Mundo em 80 dias", do escritor francês Júlio Verne.
A ideia, segundo Makssoudian, é "tornar a enciclopédia digital um ambiente mais confiável e com textos mais bem escritos". A filosofia é: em vez de reclamar, faça algo para melhorar o que lê.
"É legal poder participar, entender como ela é formada [a Wikipédia], como as pessoas produzem [o conteúdo] e como ele é publicado. Isso estimula a gente a fazer também", diz Grabiela Ejchel, 13.
O projeto também prevê levar tecnologia à biblioteca. Cada livro que tiver seu verbete editado na Wikipédia vai ganhar um QR Code, espécie de "código de barras" que pode ser lido por tablets e celulares e leva o leitor direto para uma página na internet.
Apesar de o programa não ser projeto oficial da Wikimedia Foundation, Oona Castro, responsável no Brasil pelas parcerias da fundação, diz que a iniciativa é bem-vinda.
"Queremos muito aprender com essa experiência, nova para nós, já que até hoje estivemos focados em atividades com universidades."
"Nosso papel é basicamente o de fomentar processos junto com a comunidade. Neste sentido, fizemos apenas a ponte entre o professor e voluntários da comunidade que já vinham planejando atividades em escolas de ensino médio em São Paulo", diz.
Luli Radfahrer
folha de são paulo
O fim do smartphone
Há duas décadas um celular era considerado excentricidade nerd. Hoje quem não tem um deles é exótico. Misto de computador de bolso e máquina de entretenimento, o smartphone é de longe o dispositivo eletrônico mais popular, pouco importa a renda de seu usuário.
Na África, onde alguns modelos são vendidos por cerca de US$ 10, há países com mais celulares do que privadas. Para aproveitar o canal de comunicação, governos e ONGs os utilizam para transmitir informações diversas, como medidas para a prevenção contra a Aids e malária, previsão do tempo, técnicas de plantio e preços de mercado para a agricultura. Por questões de segurança, há uma grande quantidade de transações financeiras feitas através deles, para evitar o transporte de dinheiro.
Mesmo assim a farra do smartphone dá sinais de estar chegando a seu final. O crescimento no mercado de aparelhos de ponta deve diminuir para 10% a 15% nos próximos dois anos, contra 50% a 100% do passado.
Na China, que deve se tornar o maior mercado de smartphones do mundo, com 170 milhões de unidades vendidas, novas marcas como Xiaomi têm especificações parecidas com as do Galaxy S3, da Samsung, e do iPhone 5, da Apple, vendidos à metade do preço.
O problema com os smartphones é que eles são, como os PCs de antigamente, genéricos demais. À medida que o software e o uso se especializam, o aparelho como o conhecemos não consegue mais dar conta das demandas. Por mais que a ficção científica continue a mostrá-los daqui a um século, dificilmente se carregará um retângulo de vidro no bolso nos próximos anos.
Poucos fabricantes parecem se dar conta dessa estagnação. Restrito a uma tela e um teclado, o usuário de hoje ainda se comporta como um zumbi, andando cego, curvado sobre sua telinha brilhante. Os modelos mais novos prometem pouco mais do que telas maiores, teclados mais eficientes, conexão e processamento mais rápido e baterias mais longevas. A falta de criatividade é tamanha que um dos maiores sucessos nos lançamentos deste ano foi um aparelho à prova d'água. Não há mais o fascínio provocado pelo StarTAC, o N95 ou o primeiro iPhone.
O resultado é um tédio, que leva a uma deterioração na demanda. Para que comprar todo ano um telefone que faz o mesmo milhão de coisas que meu tablet faz?
Novos protótipos tentam reavivar o mercado antes que seja tarde. Apple e Samsung apostam em versões do telefone no relógio de pulso, incorporando ao telefone pedômetros e monitores de atividade e saúde. Microsoft e Google apostam em óculos com informações contextuais e camadas de realidade aumentada. Uma coisa é certa: a caixinha multifuncional está com os dias contados.
A tecnologia digital está finalmente chegando ao estágio em que aprende com seu usuário, em vez de demandar dele um aprendizado. Assistentes virtuais como Siri e Google Now logo eliminarão a necessidade de texto nos celulares, facilitando seu uso em óculos, brincos, tiaras e braceletes. É o primeiro passo na direção de seu desaparecimento, sua transformação em serviços como o são as operadoras de telefonia.
Um dia tais itens estarão por toda parte, realizando praticamente qualquer tarefa cotidiana. Antes que esse dia chegue talvez seja bom considerar a queixa que há 160 anos Henry David Thoreau fazia em seu livro "Walden", lamentando que as pessoas tinham se tornado ferramentas de suas ferramentas.
Luli Radfahrer é professor-doutor de Comunicação Digital da ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP há 19 anos. Trabalha com internet desde 1994 e já foi diretor de algumas das maiores agências de publicidade do país. Hoje é consultor em inovação digital, com clientes no Brasil, EUA, Europa e Oriente Médio. Autor do livro "Enciclopédia da Nuvem", em que analisa 550 ferramentas e serviços digitais para empresas. Mantém o blog www.luli.com.br, em que discute e analisa as principais tendências da tecnologia. Escreve a cada duas semanas na versão impressa de "Tec" e no site da Folha.
Milagre da Copa do Mundo no Brasil parece se transformar em pesadelo
folha de são paulo
O Mundial envolve uma infraestrutura fantástica. É evidente que um país prestes a receber tamanho acontecimento precisa de um plano de investimentos à altura.
Qualquer nação que sedia a Copa deveria estar preocupada em oferecer a melhor estrutura possível a seus visitantes internacionais -especialmente o país do futebol.
No entanto, por aqui a falta de preocupação é tanta que chega a parecer que as estruturas viária e aeroportuária atuais são suficientes para suportar a chegada de milhares de estrangeiros. O problema é que estamos longe disso, e o jeitinho brasileiro não vai ser o bastante desta vez.
O governo conta com sorte e reza brava para, em São Paulo, por exemplo, não chover nos dias de jogos, pois, se isso acontecer, a situação ficará mais caótica, já que mais da metade dos semáforos da cidade não é a prova d'água.
O governo direciona bilhões à construção de monumentais estádios em regiões distantes da rota comercial e que terão pouca ou nenhuma utilidade após a Copa.
O país carece de soluções nos sistema de saúde, educação e segurança, além de ter altos custos de produção, lucros exorbitantes e impostos -infindáveis impostos.
O dinheiro público, de todos nós, seria muito mais bem empregado para sanar esses problemas do que na construção de estádios. Tanto mais porque cada estádio tem um custo para a sociedade que pode ultrapassar R$ 1,5 bilhão.
O milagre da Copa parece se transformar em pesadelo à medida que o tempo passa. Sendo assim, acreditar que a população terá uma melhora de vida propiciada pelos investimentos do governo é mais difícil que acreditar em conquista invicta do hexa.
ANÁLISE
SAMY DANAESPECIAL PARA A FOLHAEm 2014, graças a esforços de antigos companheiros governantes, o Brasil será palco de um dos principais e mais badalados eventos do planeta: a Copa do Mundo.O Mundial envolve uma infraestrutura fantástica. É evidente que um país prestes a receber tamanho acontecimento precisa de um plano de investimentos à altura.
Qualquer nação que sedia a Copa deveria estar preocupada em oferecer a melhor estrutura possível a seus visitantes internacionais -especialmente o país do futebol.
No entanto, por aqui a falta de preocupação é tanta que chega a parecer que as estruturas viária e aeroportuária atuais são suficientes para suportar a chegada de milhares de estrangeiros. O problema é que estamos longe disso, e o jeitinho brasileiro não vai ser o bastante desta vez.
O governo conta com sorte e reza brava para, em São Paulo, por exemplo, não chover nos dias de jogos, pois, se isso acontecer, a situação ficará mais caótica, já que mais da metade dos semáforos da cidade não é a prova d'água.
O governo direciona bilhões à construção de monumentais estádios em regiões distantes da rota comercial e que terão pouca ou nenhuma utilidade após a Copa.
O país carece de soluções nos sistema de saúde, educação e segurança, além de ter altos custos de produção, lucros exorbitantes e impostos -infindáveis impostos.
O dinheiro público, de todos nós, seria muito mais bem empregado para sanar esses problemas do que na construção de estádios. Tanto mais porque cada estádio tem um custo para a sociedade que pode ultrapassar R$ 1,5 bilhão.
O milagre da Copa parece se transformar em pesadelo à medida que o tempo passa. Sendo assim, acreditar que a população terá uma melhora de vida propiciada pelos investimentos do governo é mais difícil que acreditar em conquista invicta do hexa.
SAMY DANA é Ph.D em business, professor da FGV e coordenador do núcleo de cultura e criatividade GV Cult
Luiz Carlos Bresser-Pereira
folha de são paulo
A crise financeira da zona do euro foi relativamente superada, mas a crise econômica continua profunda. A crise financeira soberana do euro de 2010 decorreu da crise bancária global de 2008 que levou os Estados a se endividarem para socorrer os bancos.
Ela foi superada quando o presidente do Banco Central Europeu garantiu que compraria no mercado secundário os títulos da dívida soberana dos países.
Entretanto a crise econômica da zona do euro continua sem solução. A economia da Europa como um todo está estagnada, porque as taxas de câmbio implícitas ou internas dos países do Sul se apreciaram em relação às dos países do Norte e as suas empresas deixaram de ser competitivas.
O conceito de taxa de câmbio interna é relativo ao valor e não ao preço de mercado da taxa de câmbio. O valor da taxa de câmbio não decorre das variações na oferta e na procura de moeda estrangeira, que fazem com que a taxa de câmbio de mercado flutue em torno do seu valor, mas é o valor que deve ter a taxa de câmbio para tornar competitivas as empresas existentes no país. O valor da taxa de câmbio depende da relação entre aumento da produtividade e dos salários em um país (o "custo unitário do trabalho") em relação aos demais países.
Em 2003 o então premiê da Alemanha, Gerhard Schröeder, através da iniciativa Agenda 2010, promoveu a flexibilização das leis trabalhistas e, ao mesmo tempo, celebrou um acordo entre empresas e sindicatos segundo o qual os salários deixariam de ser aumentados proporcionalmente à produtividade, em troca de segurança no emprego.
Como os países do Sul não fizeram o mesmo, seu custo unitário do trabalho subiu em relação à Alemanha, a taxa de câmbio interna se apreciou, as empresas perderam competitividade e se endividaram, as famílias também se endividaram, e isso se traduziu em grandes deficit em conta corrente, não obstante as contas públicas continuassem equilibradas (exceto na Grécia).
Para resolver a crise econômica é preciso reequilibrar os custos unitários do trabalho, ou seja, reduzir salários. A forma normal de fazer isso seria cada país recuperar sua capacidade de depreciar a taxa de câmbio -uma solução que distribui por toda a sociedade o custo do ajustamento necessário e o faz em um instante-, mas que exige uma reforma monetária que, de forma planejada, descontinue o euro.
Como os europeus não têm coragem para fazer isso, uma alternativa seria uma inflação que reduzisse os salários reais ao mesmo tempo em que os países do Norte da Europa aumentassem seus salários, mas a Alemanha não aceita perder competitividade em relação à China e aos Estados Unidos. A terceira alternativa é a que está sendo adotada: é a "austeridade", ou seja, a redução dos salários através da recessão e do desemprego. É uma solução desumana cujo peso cai sobre os assalariados e as pequenas empresas. É a solução contra a qual os cidadãos europeus, perplexos, protestam nas ruas e nas eleições, mas, afinal, é a solução possível enquanto não perderem o respeito quase religioso que desenvolveram em relação à sua moeda única.
A perplexidade europeia
Para resolver a crise é preciso reequilibrar os custos unitários do trabalho, ou seja, reduzir salários
Ela foi superada quando o presidente do Banco Central Europeu garantiu que compraria no mercado secundário os títulos da dívida soberana dos países.
Entretanto a crise econômica da zona do euro continua sem solução. A economia da Europa como um todo está estagnada, porque as taxas de câmbio implícitas ou internas dos países do Sul se apreciaram em relação às dos países do Norte e as suas empresas deixaram de ser competitivas.
O conceito de taxa de câmbio interna é relativo ao valor e não ao preço de mercado da taxa de câmbio. O valor da taxa de câmbio não decorre das variações na oferta e na procura de moeda estrangeira, que fazem com que a taxa de câmbio de mercado flutue em torno do seu valor, mas é o valor que deve ter a taxa de câmbio para tornar competitivas as empresas existentes no país. O valor da taxa de câmbio depende da relação entre aumento da produtividade e dos salários em um país (o "custo unitário do trabalho") em relação aos demais países.
Em 2003 o então premiê da Alemanha, Gerhard Schröeder, através da iniciativa Agenda 2010, promoveu a flexibilização das leis trabalhistas e, ao mesmo tempo, celebrou um acordo entre empresas e sindicatos segundo o qual os salários deixariam de ser aumentados proporcionalmente à produtividade, em troca de segurança no emprego.
Como os países do Sul não fizeram o mesmo, seu custo unitário do trabalho subiu em relação à Alemanha, a taxa de câmbio interna se apreciou, as empresas perderam competitividade e se endividaram, as famílias também se endividaram, e isso se traduziu em grandes deficit em conta corrente, não obstante as contas públicas continuassem equilibradas (exceto na Grécia).
Para resolver a crise econômica é preciso reequilibrar os custos unitários do trabalho, ou seja, reduzir salários. A forma normal de fazer isso seria cada país recuperar sua capacidade de depreciar a taxa de câmbio -uma solução que distribui por toda a sociedade o custo do ajustamento necessário e o faz em um instante-, mas que exige uma reforma monetária que, de forma planejada, descontinue o euro.
Como os europeus não têm coragem para fazer isso, uma alternativa seria uma inflação que reduzisse os salários reais ao mesmo tempo em que os países do Norte da Europa aumentassem seus salários, mas a Alemanha não aceita perder competitividade em relação à China e aos Estados Unidos. A terceira alternativa é a que está sendo adotada: é a "austeridade", ou seja, a redução dos salários através da recessão e do desemprego. É uma solução desumana cujo peso cai sobre os assalariados e as pequenas empresas. É a solução contra a qual os cidadãos europeus, perplexos, protestam nas ruas e nas eleições, mas, afinal, é a solução possível enquanto não perderem o respeito quase religioso que desenvolveram em relação à sua moeda única.
Entrevista da 2ª: Roberto Azevêdo
folha de são paulo
LUCIANA COELHODE WASHINGTONParalisada há cinco anos pelos impasses na rodada Doha de liberalização do comércio global, a Organização Mundial do Comércio escolhe agora um novo diretor-geral que terá como missão recobrar a relevância de uma instituição essencial ao crescimento econômico mundial.
O brasileiro Roberto Azevêdo, lançado pelo governo no fim do ano passado, desponta como um dos favoritos entre os nove candidatos à sucessão de Pascal Lamy -nos próximos dois meses eles disputarão o voto dos 159 países-membros.
À frente da missão do Brasil na OMC desde 2008, o embaixador se tornou respeitado e querido em Genebra, onde fica a sede da organização.
Seu nome, porém, é menos conhecido nos centros de decisão, onde a tendência é ligá-lo à política comercial do Brasil -protecionista para observadores estrangeiros.
Para apresentar suas ideias e dissociar seu nome de Brasília, Azevêdo, 55, embarcou numa corrida maluca: desde janeiro, visitou 46 países.
Na semana passada, passou 48 horas em Washington, onde se encontrou com o equivalente a ministro do Comércio Exterior, e com representantes da Casa Branca, do Congresso e do setor privado.
Parou também para conversar com a Folha, antes de voltar a Genebra e voar para Doha e Durban, onde o périplo segue até o meio de abril.
"Estou satisfeito e estou tranquilo", afirmou.
"Não esperava [que corresse tão bem]. Quando a campanha começa, há muita incerteza", disse.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Folha - Como foram as conversas com o governo americano?
Roberto Azevêdo - Mantemos contato há um tempo, a ideia era vir, fazer um gesto, conversar. E a conversa foi ótima.
Nos encontros que o sr. tem mantido, que preocupações são levantadas sobre a OMC?
Quando apresento minhas prioridades, [digo] que as negociações estão bloqueadas há muito tempo, que é preciso uma solução para a rodada Doha, porque aí você desbloqueia não só ela, mas a organização, e abre espaço para coisas que acabaram fora da agenda. Todos, de modo geral, coincidem que esse é o maior problema e deveria ser a prioridade do próximo diretor. Muitos estão preocupados com que os países passem a optar por negociações bilaterais ou plurilaterais em detrimento do sistema multilateral. As duas coisas sempre existiram juntas, mas hoje só uma vertente caminha.
Há preocupação com a perda de relevância da OMC?
Sem dúvida. Há preocupação com a perda de interesse pelo multilateral, e com o fato de a OMC ter regras do início dos anos 80. É um sistema defasado 30 anos.
Doha empacou por uma resistência grande entre dois grupos. O que pode mudar?
Nos anos imediatos ao impasse havia a crise. Ninguém sabia quantificá-la, nem sabia as consequências. Hoje a crise está embutida nos cálculos. Ninguém acha que amanhã estaremos bem, mas na maior parte dos casos achamos que o pior já passou, que agora haverá uma recuperação lenta e gradual.
Acho também que, nos momentos após o impasse, houve muitas tentativas de fazer o pacote que estava na mesa de negociação funcionar. Não deu. Hoje ninguém mais espera que o outro lado pegue o que esteja na mesa. Partimos de uma situação em que todos já conhecem as sensibilidades e impossibilidades, e haverá disposição de trabalhar de forma mais criativa, sem perder tempo tentando convencer o outro.
Concordar em discordar?
E encontrar o que podemos fazer dentro da discordância. Todos querem o acordo. A OMC está paralisada há muito tempo. Se a gente ficar mais cinco, dez anos com o sistema paralisado, a organização talvez perca a relevância de forma irreversível, porque o mundo vai criar mecanismos de negociação ao largo do sistema multilateral. [Por isso,] as pessoas estão mais dispostas, só não sabem como sair do impasse.
Espera-se do próximo diretor-geral a fórmula mágica?
Não existe fórmula mágica, mas há maneiras de retomar a negociação se houver interesse em sair do impasse e uma liderança capaz de fazer a negociação ocorrer de modo construtivo, em que os dois lados acreditem que o outro quer a solução. Sem facilitador, isso levará dez anos.
Os países desenvolvidos querem mais acesso aos mercados em desenvolvimento...
E os países em desenvolvimento querem mais acesso aos mercados dos desenvolvidos, mas em outras áreas. Há discordância sobre o que se pode fazer na área de bens industriais e na agricultura.
Isso é o coração do comércio internacional. Onde daria para comer pelas beiradas?
Tem várias coisas, e eu não posso falar. O impasse se dá em certas áreas de bens industriais. Tem maneiras de fazer. E tem de [agir] no impasse, ou não adianta nada, descobrir o que dá para fazer e vender isso em todos os países, sem reduzir a ambição.
Como chefe da missão brasileira, o sr. levou o debate do câmbio à OMC. Como diretor-geral, levaria também?
O diretor-geral pode propor, mas os membros decidem. Ele até pode sugerir coisas, mas raramente vai ter uma ideia aceita por todos. Se ele sai muito propositivo, logo vai criar um problemão com metade dos membros.
Houve discussão sobre matar Doha e começar outra rodada.
Não é politicamente viável. Hoje, 90% dos problemas na OMC vêm do medo dos países em desenvolvimento de que se abandone a rodada. E para começar de novo, começaria em que base? Mais fácil ajustar o que está lá.
Qual papel o avanço na liberalização do comércio internacional tem no pós-crise?
Evitar andar para trás. A OMC foi importante para evitar que medidas protecionistas fossem adotadas de forma desenfreada. O aumento foi mais modesto do que se temia, e o comércio continuou crescendo. Muita gente -e eu também- credita isso à OMC.
A segunda coisa é criar espaço para ir liberando o comércio progressivamente. Só que isso não vem da noite para o dia. O mundo desenvolvido levou meio século para baixar tarifas, e ainda há picos tarifários e setores mais protegidos. O processo é lento, mas não pode perder o sentido. A relevância maior do sistema é essa.
O Brasil é destacado como protecionista, embora não seja o único a tomar medidas questionáveis. O sr. viu resistência, ouviu reclamações?
Reclamação propriamente, não. Claro que para vários países daria mais conforto o candidato ser de um país percebido como livre-cambista. Em Genebra, as pessoas me conhecem, sabem como atuo. Mas nas capitais a tendência é associar a pessoa ao país, e cada um faz o julgamento de como ele vê aquele país, se tem política comercial parecida com a dele ou não.
Na campanha, a ideia é dar a imagem do candidato como ele é, porque, quando eleito, vai pautar sua atuação com base nos princípios da OMC, independentemente da política de seu país. Ele tem que ser absolutamente imparcial.
Se for visto como alguém que empurra uma determinada agenda, perderá a efetividade rapidamente.
Uma ressalva à sua candidatura que se repete: o sr. nunca teve cargo ministerial, ao contrário de quase todos os rivais.
É uma crítica sem substância. Um argumento que ouço muito, de que os ministros falam com chefes de Estado, é conversa.
Vai me dizer que um candidato vai ligar para a presidente Dilma Rousseff e ela vai atender o telefone? Ela vai atender o diretor da OMC, se a OMC estiver fazendo algo relevante.
CARGO
Embaixador do Brasil na OMC (desde 2008), 55 anos
POSTOS A ANTERIORES
Subsecretário de Assuntos Econômicos e Comerciais do Itamaraty (2006-08); diretor do Departamento Econômico (2005-06)
FORMAÇÃO
Engenharia Elétrica (UnB) e diplomacia no Instituto Rio Branco (Azevêdo entrou para o Itamaraty em 1984)
Tarefa da OMC será evitar retrocessos no comércio global
Candidato do Brasil à chefia do organismo em crise diz que é hora de retomar negociações ou perda de relevância será irreversível
O brasileiro Roberto Azevêdo, lançado pelo governo no fim do ano passado, desponta como um dos favoritos entre os nove candidatos à sucessão de Pascal Lamy -nos próximos dois meses eles disputarão o voto dos 159 países-membros.
À frente da missão do Brasil na OMC desde 2008, o embaixador se tornou respeitado e querido em Genebra, onde fica a sede da organização.
Seu nome, porém, é menos conhecido nos centros de decisão, onde a tendência é ligá-lo à política comercial do Brasil -protecionista para observadores estrangeiros.
Para apresentar suas ideias e dissociar seu nome de Brasília, Azevêdo, 55, embarcou numa corrida maluca: desde janeiro, visitou 46 países.
Na semana passada, passou 48 horas em Washington, onde se encontrou com o equivalente a ministro do Comércio Exterior, e com representantes da Casa Branca, do Congresso e do setor privado.
Parou também para conversar com a Folha, antes de voltar a Genebra e voar para Doha e Durban, onde o périplo segue até o meio de abril.
"Estou satisfeito e estou tranquilo", afirmou.
"Não esperava [que corresse tão bem]. Quando a campanha começa, há muita incerteza", disse.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Roberto Azevêdo - Mantemos contato há um tempo, a ideia era vir, fazer um gesto, conversar. E a conversa foi ótima.
Nos encontros que o sr. tem mantido, que preocupações são levantadas sobre a OMC?
Quando apresento minhas prioridades, [digo] que as negociações estão bloqueadas há muito tempo, que é preciso uma solução para a rodada Doha, porque aí você desbloqueia não só ela, mas a organização, e abre espaço para coisas que acabaram fora da agenda. Todos, de modo geral, coincidem que esse é o maior problema e deveria ser a prioridade do próximo diretor. Muitos estão preocupados com que os países passem a optar por negociações bilaterais ou plurilaterais em detrimento do sistema multilateral. As duas coisas sempre existiram juntas, mas hoje só uma vertente caminha.
Há preocupação com a perda de relevância da OMC?
Sem dúvida. Há preocupação com a perda de interesse pelo multilateral, e com o fato de a OMC ter regras do início dos anos 80. É um sistema defasado 30 anos.
Doha empacou por uma resistência grande entre dois grupos. O que pode mudar?
Nos anos imediatos ao impasse havia a crise. Ninguém sabia quantificá-la, nem sabia as consequências. Hoje a crise está embutida nos cálculos. Ninguém acha que amanhã estaremos bem, mas na maior parte dos casos achamos que o pior já passou, que agora haverá uma recuperação lenta e gradual.
Acho também que, nos momentos após o impasse, houve muitas tentativas de fazer o pacote que estava na mesa de negociação funcionar. Não deu. Hoje ninguém mais espera que o outro lado pegue o que esteja na mesa. Partimos de uma situação em que todos já conhecem as sensibilidades e impossibilidades, e haverá disposição de trabalhar de forma mais criativa, sem perder tempo tentando convencer o outro.
Concordar em discordar?
E encontrar o que podemos fazer dentro da discordância. Todos querem o acordo. A OMC está paralisada há muito tempo. Se a gente ficar mais cinco, dez anos com o sistema paralisado, a organização talvez perca a relevância de forma irreversível, porque o mundo vai criar mecanismos de negociação ao largo do sistema multilateral. [Por isso,] as pessoas estão mais dispostas, só não sabem como sair do impasse.
Espera-se do próximo diretor-geral a fórmula mágica?
Não existe fórmula mágica, mas há maneiras de retomar a negociação se houver interesse em sair do impasse e uma liderança capaz de fazer a negociação ocorrer de modo construtivo, em que os dois lados acreditem que o outro quer a solução. Sem facilitador, isso levará dez anos.
Os países desenvolvidos querem mais acesso aos mercados em desenvolvimento...
E os países em desenvolvimento querem mais acesso aos mercados dos desenvolvidos, mas em outras áreas. Há discordância sobre o que se pode fazer na área de bens industriais e na agricultura.
Isso é o coração do comércio internacional. Onde daria para comer pelas beiradas?
Tem várias coisas, e eu não posso falar. O impasse se dá em certas áreas de bens industriais. Tem maneiras de fazer. E tem de [agir] no impasse, ou não adianta nada, descobrir o que dá para fazer e vender isso em todos os países, sem reduzir a ambição.
Como chefe da missão brasileira, o sr. levou o debate do câmbio à OMC. Como diretor-geral, levaria também?
O diretor-geral pode propor, mas os membros decidem. Ele até pode sugerir coisas, mas raramente vai ter uma ideia aceita por todos. Se ele sai muito propositivo, logo vai criar um problemão com metade dos membros.
Houve discussão sobre matar Doha e começar outra rodada.
Não é politicamente viável. Hoje, 90% dos problemas na OMC vêm do medo dos países em desenvolvimento de que se abandone a rodada. E para começar de novo, começaria em que base? Mais fácil ajustar o que está lá.
Qual papel o avanço na liberalização do comércio internacional tem no pós-crise?
Evitar andar para trás. A OMC foi importante para evitar que medidas protecionistas fossem adotadas de forma desenfreada. O aumento foi mais modesto do que se temia, e o comércio continuou crescendo. Muita gente -e eu também- credita isso à OMC.
A segunda coisa é criar espaço para ir liberando o comércio progressivamente. Só que isso não vem da noite para o dia. O mundo desenvolvido levou meio século para baixar tarifas, e ainda há picos tarifários e setores mais protegidos. O processo é lento, mas não pode perder o sentido. A relevância maior do sistema é essa.
O Brasil é destacado como protecionista, embora não seja o único a tomar medidas questionáveis. O sr. viu resistência, ouviu reclamações?
Reclamação propriamente, não. Claro que para vários países daria mais conforto o candidato ser de um país percebido como livre-cambista. Em Genebra, as pessoas me conhecem, sabem como atuo. Mas nas capitais a tendência é associar a pessoa ao país, e cada um faz o julgamento de como ele vê aquele país, se tem política comercial parecida com a dele ou não.
Na campanha, a ideia é dar a imagem do candidato como ele é, porque, quando eleito, vai pautar sua atuação com base nos princípios da OMC, independentemente da política de seu país. Ele tem que ser absolutamente imparcial.
Se for visto como alguém que empurra uma determinada agenda, perderá a efetividade rapidamente.
Uma ressalva à sua candidatura que se repete: o sr. nunca teve cargo ministerial, ao contrário de quase todos os rivais.
É uma crítica sem substância. Um argumento que ouço muito, de que os ministros falam com chefes de Estado, é conversa.
Vai me dizer que um candidato vai ligar para a presidente Dilma Rousseff e ela vai atender o telefone? Ela vai atender o diretor da OMC, se a OMC estiver fazendo algo relevante.
FRASES
"A OMC está paralisada há muito tempo. Se a gente ficar mais dez anos com o sistema paralisado, talvez perca a relevância de forma irreversível, porque o mundo vai criar mecanismos de negociação ao largo do sistema multilateral"
"O argumento de que ministros falam com chefes de Estado é conversa. Vai me dizer que um candidato vai ligar para a presidente Dilma e ela vai atender o telefone? Vai atender o diretor da OMC, se a OMC estiver fazendo algo relevante"
RAIO-X ROBERTO AZEVEDO
Embaixador do Brasil na OMC (desde 2008), 55 anos
POSTOS A ANTERIORES
Subsecretário de Assuntos Econômicos e Comerciais do Itamaraty (2006-08); diretor do Departamento Econômico (2005-06)
FORMAÇÃO
Engenharia Elétrica (UnB) e diplomacia no Instituto Rio Branco (Azevêdo entrou para o Itamaraty em 1984)
sAIBA MAIS
Escolhido para OMC assumirá em setembro
DE WASHINGTON
A votação na OMC ocorre por meio de consultas sigilosas aos 159 países-membros, que apontarão seus favoritos a uma comissão de três membros (do Canadá, do Paquistão e da Suécia) designada pelo secretariado da organização.
Até 9 de abril, quatro dos nove candidatos serão eliminados, e depois, três, até o resultado sair no fim de maio. Além do Brasil, lançaram nomes Indonésia, México, Costa Rica, Gana, Quênia, Coreia do Sul, Jordânia e Nova Zelândia. O novo diretor-geral substituirá o francês Pascal Lamy.
Tv Paga
Estado de Minas: 25/03/2013
Coisas do coração
A semana começa efetivamente com mais uma estreia na programação. O destaque de hoje é Paixão bandida, nova série do grupo Afroreggae, que narra histórias reais vividas por quatro mulheres – Dani, Viviane, Renata e Bia – que se apaixonaram por homens envolvidos com o crime na cidade do Rio de Janeiro. A atração vai ao ar às 22h30, no GNT. Antes disso, às 22h, o programa GNT fashion dá uma geral no que rolou na São Paulo Fashion Week.
Muitas novidades na tela do Vh1 esta noite
No canal Vh1, às 21h, estreia a nona temporada de That metal show, aquele talk show em que Eddie Trunk, Jim Florentine e Don Jamieson testam seus conhecimentos musicais e recebem grandes nomes do rock pesado. Na sequência, às 22h, estreia a série 1st look, com Maria Sansone e Pedro Andrade mostrando os melhores lugares para comer, jogar e desfrutar a vida. A emissora abre ainda os blocos 10 clipes 10, às 17h; e Vh1 moods, às 18h. Já o canal Bio apresenta, às 17h, o especial As mulheres dos Beatles, falando das musas que inspiraram o quarteto de Liverpool, de Cynthia Lennon a Yoko Ono, Linda McCartney e Pattie Boyd.
Música é também a dica do Canal Brasil
No Canal Brasil, a cantora, atriz e percussionista Karina Buhr é a entrevistada de Lázaro Ramos no programa Espelho, às 21h30. Às 22h, a faixa É tudo verdade exibe o documentário Futuro do pretérito: Tropicalismo now!, em que os diretores Ninho Moraes e Francisco César Filho tentam mostrar a Tropicália por um novo ângulo. No mesmo horário, o SescTV apresenta um especial da série Instrumental Sesc Brasil com o trio de jazz Marginals, formado por Marcelo Cabral (contrabaixo); Thiago França (sax e flauta) e Tony Gordon (bateria).
Desenho narra uma aventura medieval
Coprodução franco-italiana, a animação Gawayn, um clássico conto de fadas medieval, estreia hoje, às 17h45, no canal Gloob. O aprendiz de cavaleiro William, guiado por seu mestre, sir Roderick, tem que desfazer uma terrível maldição: salvar a princesa Gwendolyn, que foi transformada em miniatura, das garras do malvado Duque de Amaraxos.
Boas opções entre os documentários
Outra novidade de hoje é o documentário Baffin babes – 80 days in the Arctic, às 23h, no canal Off, com o registro da aventura de quatro jovens escandinavas em uma expedição por mais de 1.200 quilômetros de caminhada pelo Ártico, com temperaturas abaixo de 40 graus negativos, ursos- polares e outras condições extremas. No Discovery Channel, às 21h30, será exibido o último episódio da série Catástrofes aéreas, com o relato do desastre com uma aeronave russa que caiu no Rio Volga e entre as vítimas estava todo um time de hóquei local. À meia-noite, na Cultura, a atração é Os cadernos secretos de Nuremberg, sobre o famoso julgamento dos criminosos de guerra nazistas.
Perdeu no sábado? Veja hoje a reprise
No pacotão de filmes os destaques são as reprises de À beira do abismo e de Sherlock Holmes: o jogo de sombras, que estrearam no fim de semana e voltam hoje respectivamente às 20h10, no Telecine Premium, e às 22h, na HBO2. Na concorrida faixa das 22h o assinante tem mais seis opções: Tempos de violência, na MGM; Divorces!, no Glitz; A praia, no FX; O sócio, no Telecine Fun; Ela quer tudo, no Telecine Cult; e Tempo de despertar, no TCM. Outras atrações da programação: Quem quer ser um milionário?, às 21h, no Cinemax; O último grande herói, às 21h, no Comedy Central; e Biutiful, às 23h35, no Max.
A semana começa efetivamente com mais uma estreia na programação. O destaque de hoje é Paixão bandida, nova série do grupo Afroreggae, que narra histórias reais vividas por quatro mulheres – Dani, Viviane, Renata e Bia – que se apaixonaram por homens envolvidos com o crime na cidade do Rio de Janeiro. A atração vai ao ar às 22h30, no GNT. Antes disso, às 22h, o programa GNT fashion dá uma geral no que rolou na São Paulo Fashion Week.
Muitas novidades na tela do Vh1 esta noite
No canal Vh1, às 21h, estreia a nona temporada de That metal show, aquele talk show em que Eddie Trunk, Jim Florentine e Don Jamieson testam seus conhecimentos musicais e recebem grandes nomes do rock pesado. Na sequência, às 22h, estreia a série 1st look, com Maria Sansone e Pedro Andrade mostrando os melhores lugares para comer, jogar e desfrutar a vida. A emissora abre ainda os blocos 10 clipes 10, às 17h; e Vh1 moods, às 18h. Já o canal Bio apresenta, às 17h, o especial As mulheres dos Beatles, falando das musas que inspiraram o quarteto de Liverpool, de Cynthia Lennon a Yoko Ono, Linda McCartney e Pattie Boyd.
Música é também a dica do Canal Brasil
No Canal Brasil, a cantora, atriz e percussionista Karina Buhr é a entrevistada de Lázaro Ramos no programa Espelho, às 21h30. Às 22h, a faixa É tudo verdade exibe o documentário Futuro do pretérito: Tropicalismo now!, em que os diretores Ninho Moraes e Francisco César Filho tentam mostrar a Tropicália por um novo ângulo. No mesmo horário, o SescTV apresenta um especial da série Instrumental Sesc Brasil com o trio de jazz Marginals, formado por Marcelo Cabral (contrabaixo); Thiago França (sax e flauta) e Tony Gordon (bateria).
Desenho narra uma aventura medieval
Coprodução franco-italiana, a animação Gawayn, um clássico conto de fadas medieval, estreia hoje, às 17h45, no canal Gloob. O aprendiz de cavaleiro William, guiado por seu mestre, sir Roderick, tem que desfazer uma terrível maldição: salvar a princesa Gwendolyn, que foi transformada em miniatura, das garras do malvado Duque de Amaraxos.
Boas opções entre os documentários
Outra novidade de hoje é o documentário Baffin babes – 80 days in the Arctic, às 23h, no canal Off, com o registro da aventura de quatro jovens escandinavas em uma expedição por mais de 1.200 quilômetros de caminhada pelo Ártico, com temperaturas abaixo de 40 graus negativos, ursos- polares e outras condições extremas. No Discovery Channel, às 21h30, será exibido o último episódio da série Catástrofes aéreas, com o relato do desastre com uma aeronave russa que caiu no Rio Volga e entre as vítimas estava todo um time de hóquei local. À meia-noite, na Cultura, a atração é Os cadernos secretos de Nuremberg, sobre o famoso julgamento dos criminosos de guerra nazistas.
Perdeu no sábado? Veja hoje a reprise
No pacotão de filmes os destaques são as reprises de À beira do abismo e de Sherlock Holmes: o jogo de sombras, que estrearam no fim de semana e voltam hoje respectivamente às 20h10, no Telecine Premium, e às 22h, na HBO2. Na concorrida faixa das 22h o assinante tem mais seis opções: Tempos de violência, na MGM; Divorces!, no Glitz; A praia, no FX; O sócio, no Telecine Fun; Ela quer tudo, no Telecine Cult; e Tempo de despertar, no TCM. Outras atrações da programação: Quem quer ser um milionário?, às 21h, no Cinemax; O último grande herói, às 21h, no Comedy Central; e Biutiful, às 23h35, no Max.
Mistura original (Quentin Tarantino)-Ana Clara Brant
Praticamente autodidata, diretor
norte-americano Quentin Tarantino celebra 50 anos com carreira de
sucesso. Seus filmes mesclam linguagens e gêneros e, ainda assim, são
únicos
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 25/03/2013
Durante aula ministrada no Festival de Cannes, em 2007, o diretor Quentin Tarantino deu a receita para se tornar um cineasta de sucesso: “Pegue uma câmera, arranje um equipamento, ainda que velho, e saia filmando. É a melhor escola de cinema que você pode ter. Você aprende a fazer. E aprende a filmar assim”. Prestes a completar 50 anos, depois de amanhã, Tarantino tem muito a celebrar. Ganhou recentemente o Oscar e o Globo de Ouro de melhor roteiro original por seu mais novo trabalho, Django livre, que chegou a ser indicado pela Academia de Hollywood como melhor filme. Não levou, mas provocou rebuliço, assim como todas as produções do cineasta.
“Sem dúvida, ele chega ao cinquentenário de vida como um diretor de proa e um dos principais nomes do cinema norte-americano. Não tem mais a ver com aquele cinema independente e barato, do começo da carreira; hoje está muito mais ligado ao cinema de grande orçamento, o que não é ruim. Ele é herdeiro de Godard (cineasta franco-suíço), que já tinha essa coisa de misturar várias artes, porém sem tanta sofisticação conceitual. Além de que, Tarantino é quase um autodidata e tem o cinema como referência primeira e quase única. Seus filmes têm a proeza de serem uma espécie de colagem de diversos filmes antigos e de várias vertentes, e ele ainda consegue ser original”, destaca o professor e crítico de cinema Rafael Ciccarini.
A grande virada na carreira veio em 1994, com Pulp fiction, que revolucionou a linguagem do cinema e foi um divisor de águas para Quentin Tarantino. Muitos críticos até consideram esse o filme mais importante do diretor. A produção apresenta uma ordem cronológica invertida, roteiro complexo com personagens verborrágicos, humor mordaz e muita menção à cultura pop e diálogos afinados, em que gângsteres conversam sobre sanduíche, televisão e massagem nos pés. Algumas dessas características se tornaram marcas registradas de Tarantino e se fizeram presentes em outros projetos.
Parte de sua obra pode ser conferida no Centro Cultural UFMG, onde está sendo realizada a Mostra Quentin Tarantino. Uma das curadoras, a estudante do curso de cinema de animação da universidade Carolina Macedo Campos acredita que o trabalho autoral do diretor seja um de seus principais méritos e que ele consegue ser único. Isso talvez explique um pouco do fascínio que exerce. “Sem falar na maneira como aborda um tema muito recorrente em seus longas, a violência. O sarcasmo como Tarantino mostra isso é como se ele dialogasse com o próprio público sobre a violência; mesmo com todo aquele exagero, ele faz você rir, em vez de ficar chocado”, opina.
MUNDO PARALELO A violência nas produções do diretor não incomoda Rafael Ciccarini; ele não a vê como algo nocivo, porque ela faz parte do mundo paralelo criado pelo cineasta. “Não acredito que ele incite a violência; Tarantino não desrespeita o mundo real porque o mundo dele é particular, não colado à realidade e é quase uma recriação de um universo permeado pelo cinema”, analisa.
O crítico diz que existe certo endeusamento e idolatria exagerados em torno de Quentin Tarantino, mas deve-se reconhecer que ele tem grande talento e vitalidade. “Ele se tornou figura cult do cinema. É um cineasta muito interessante, mas, como qualquer um, tem suas limitações. Gostar dele é ser descolado. É praticamente impossível você ser um cinéfilo e não admirar o trabalho dele”, frisa.
SAIBA MAIS
Fama rápida
O diretor, roteirista, ator e produtor de cinema norte-americano Quentin Jerome Tarantino nasceu em Knoxville, Tennessee, em 27 de março de 1963. Alcançou a fama rapidamente no início da década de 1990 por seus roteiros não lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência, que trouxeram vida nova ao padrão de filmes norte-americanos. É o mais famoso dos jovens diretores por trás da revolução de filmes independentes dos anos 1990, tornando-se conhecido pela sua verborragia, seu conhecimento enciclopédico de filmes, tanto populares, quanto os considerados “cinema de arte”. Dentre seus principais filmes como diretor estão Cães de aluguel, Pulp fiction, Jackie Brown, Kill Bill 1 e 2, Bastardos inglórios, e, o mais recente, Django livre.
Mostra Quentin Tarantino
No Centro Cultural UFMG, Praça da Estação, Avenida Santos Dumont, 174, esquina com Rua da Bahia. Amanhã, será exibido Kill Bill vol. 2; e, na quinta, Bastardos inglórios. As sessões, com entrada franca, têm início às 19h. Informações: (31) 3409-8284 e 3409-8290.
Feijoada à Tarantino
Publicação: 25/03/2013 04:00
Se um filme de Quentin Tarantino está prestes a estrear, o alvoroço entre os fãs é grande. A publicitária Carolina Cunha, de 28 anos, baixa o trailer, assiste às entrevistas com o elenco, lê todas as críticas relacionadas ao novo longa, compra antecipadamente as entradas e faz questão de ir à pré-estreia. “Sou muito fã. É o meu diretor favorito. Sei de cor várias falas e já vi todos os filmes dele, que, aliás, não me canso de rever”, avisa. Tudo começou quando, aos 14 anos, ela se deparou com Assassinos por natureza, que tem direção de Oliver Stone e roteiro de Tarantino. Dali para frente, a admiração cresceu. Para Carolina, o diferencial do cineasta norte-americano é que, além de ele se preocupar com todo o processo que envolve uma produção – roteiro, trilha, direção e inclusive atuando em alguns –, ele é apaixonado por cinema e faz questão de não esconder isso. “A impressão que me dá é que toda vez que Tarantino faz um filme ele quer nos mostrar: ‘Nossa, como amo cinema’. Eu o vejo como uma espécie de Clint Eastwood. Enquanto estiver vivo não vai parar de produzir. Acredito que ele sempre terá alguma coisa nova para apresentar, porque é extremamente criativo”, comenta.
O videomaker e músico Pedro Vasconcelos Costa, de 26, que além de admirador passou a estudar a obra do diretor, considera que o fato de Tarantino ter trabalhado em uma locadora e ter entrado em contato com todo tipo de cinema deve tê-lo influenciado a criar sua miscelânea, e de um jeito bem natural e interessante. “Dentro dessa feijoada que faz, Tarantino pega elementos de todos os gêneros e produz uma coisa única e com estética própria. E olha que a chance de dar errado é gigantesca, mas ele faz isso como se estivesse tricotando, como se fosse algo trivial”, ressalta. Baterista e vocalista de uma banda em que os integrantes são grandes fãs de Tarantino, por isso mesmo deram o nome de Cães de Aluguel ao grupo, Pedro acredita que seu ídolo ainda tem muito a contribuir para a indústria cinematográfica e que nunca vai deixar de ser original. “Ele é genial, para mim, está no começo da carreira, ainda está brincando de fazer cinema”, resume.
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 25/03/2013
Durante aula ministrada no Festival de Cannes, em 2007, o diretor Quentin Tarantino deu a receita para se tornar um cineasta de sucesso: “Pegue uma câmera, arranje um equipamento, ainda que velho, e saia filmando. É a melhor escola de cinema que você pode ter. Você aprende a fazer. E aprende a filmar assim”. Prestes a completar 50 anos, depois de amanhã, Tarantino tem muito a celebrar. Ganhou recentemente o Oscar e o Globo de Ouro de melhor roteiro original por seu mais novo trabalho, Django livre, que chegou a ser indicado pela Academia de Hollywood como melhor filme. Não levou, mas provocou rebuliço, assim como todas as produções do cineasta.
“Sem dúvida, ele chega ao cinquentenário de vida como um diretor de proa e um dos principais nomes do cinema norte-americano. Não tem mais a ver com aquele cinema independente e barato, do começo da carreira; hoje está muito mais ligado ao cinema de grande orçamento, o que não é ruim. Ele é herdeiro de Godard (cineasta franco-suíço), que já tinha essa coisa de misturar várias artes, porém sem tanta sofisticação conceitual. Além de que, Tarantino é quase um autodidata e tem o cinema como referência primeira e quase única. Seus filmes têm a proeza de serem uma espécie de colagem de diversos filmes antigos e de várias vertentes, e ele ainda consegue ser original”, destaca o professor e crítico de cinema Rafael Ciccarini.
A grande virada na carreira veio em 1994, com Pulp fiction, que revolucionou a linguagem do cinema e foi um divisor de águas para Quentin Tarantino. Muitos críticos até consideram esse o filme mais importante do diretor. A produção apresenta uma ordem cronológica invertida, roteiro complexo com personagens verborrágicos, humor mordaz e muita menção à cultura pop e diálogos afinados, em que gângsteres conversam sobre sanduíche, televisão e massagem nos pés. Algumas dessas características se tornaram marcas registradas de Tarantino e se fizeram presentes em outros projetos.
Parte de sua obra pode ser conferida no Centro Cultural UFMG, onde está sendo realizada a Mostra Quentin Tarantino. Uma das curadoras, a estudante do curso de cinema de animação da universidade Carolina Macedo Campos acredita que o trabalho autoral do diretor seja um de seus principais méritos e que ele consegue ser único. Isso talvez explique um pouco do fascínio que exerce. “Sem falar na maneira como aborda um tema muito recorrente em seus longas, a violência. O sarcasmo como Tarantino mostra isso é como se ele dialogasse com o próprio público sobre a violência; mesmo com todo aquele exagero, ele faz você rir, em vez de ficar chocado”, opina.
MUNDO PARALELO A violência nas produções do diretor não incomoda Rafael Ciccarini; ele não a vê como algo nocivo, porque ela faz parte do mundo paralelo criado pelo cineasta. “Não acredito que ele incite a violência; Tarantino não desrespeita o mundo real porque o mundo dele é particular, não colado à realidade e é quase uma recriação de um universo permeado pelo cinema”, analisa.
O crítico diz que existe certo endeusamento e idolatria exagerados em torno de Quentin Tarantino, mas deve-se reconhecer que ele tem grande talento e vitalidade. “Ele se tornou figura cult do cinema. É um cineasta muito interessante, mas, como qualquer um, tem suas limitações. Gostar dele é ser descolado. É praticamente impossível você ser um cinéfilo e não admirar o trabalho dele”, frisa.
SAIBA MAIS
Fama rápida
O diretor, roteirista, ator e produtor de cinema norte-americano Quentin Jerome Tarantino nasceu em Knoxville, Tennessee, em 27 de março de 1963. Alcançou a fama rapidamente no início da década de 1990 por seus roteiros não lineares, diálogos memoráveis e o uso de violência, que trouxeram vida nova ao padrão de filmes norte-americanos. É o mais famoso dos jovens diretores por trás da revolução de filmes independentes dos anos 1990, tornando-se conhecido pela sua verborragia, seu conhecimento enciclopédico de filmes, tanto populares, quanto os considerados “cinema de arte”. Dentre seus principais filmes como diretor estão Cães de aluguel, Pulp fiction, Jackie Brown, Kill Bill 1 e 2, Bastardos inglórios, e, o mais recente, Django livre.
Mostra Quentin Tarantino
No Centro Cultural UFMG, Praça da Estação, Avenida Santos Dumont, 174, esquina com Rua da Bahia. Amanhã, será exibido Kill Bill vol. 2; e, na quinta, Bastardos inglórios. As sessões, com entrada franca, têm início às 19h. Informações: (31) 3409-8284 e 3409-8290.
Feijoada à Tarantino
Publicação: 25/03/2013 04:00
Se um filme de Quentin Tarantino está prestes a estrear, o alvoroço entre os fãs é grande. A publicitária Carolina Cunha, de 28 anos, baixa o trailer, assiste às entrevistas com o elenco, lê todas as críticas relacionadas ao novo longa, compra antecipadamente as entradas e faz questão de ir à pré-estreia. “Sou muito fã. É o meu diretor favorito. Sei de cor várias falas e já vi todos os filmes dele, que, aliás, não me canso de rever”, avisa. Tudo começou quando, aos 14 anos, ela se deparou com Assassinos por natureza, que tem direção de Oliver Stone e roteiro de Tarantino. Dali para frente, a admiração cresceu. Para Carolina, o diferencial do cineasta norte-americano é que, além de ele se preocupar com todo o processo que envolve uma produção – roteiro, trilha, direção e inclusive atuando em alguns –, ele é apaixonado por cinema e faz questão de não esconder isso. “A impressão que me dá é que toda vez que Tarantino faz um filme ele quer nos mostrar: ‘Nossa, como amo cinema’. Eu o vejo como uma espécie de Clint Eastwood. Enquanto estiver vivo não vai parar de produzir. Acredito que ele sempre terá alguma coisa nova para apresentar, porque é extremamente criativo”, comenta.
O videomaker e músico Pedro Vasconcelos Costa, de 26, que além de admirador passou a estudar a obra do diretor, considera que o fato de Tarantino ter trabalhado em uma locadora e ter entrado em contato com todo tipo de cinema deve tê-lo influenciado a criar sua miscelânea, e de um jeito bem natural e interessante. “Dentro dessa feijoada que faz, Tarantino pega elementos de todos os gêneros e produz uma coisa única e com estética própria. E olha que a chance de dar errado é gigantesca, mas ele faz isso como se estivesse tricotando, como se fosse algo trivial”, ressalta. Baterista e vocalista de uma banda em que os integrantes são grandes fãs de Tarantino, por isso mesmo deram o nome de Cães de Aluguel ao grupo, Pedro acredita que seu ídolo ainda tem muito a contribuir para a indústria cinematográfica e que nunca vai deixar de ser original. “Ele é genial, para mim, está no começo da carreira, ainda está brincando de fazer cinema”, resume.
Painel - Vera Magalhães
folha de são paulo
Questão de tempo
Caberá a FHC o apelo em favor da unidade no PSDB em evento que marcará hoje o lançamento informal da candidatura presidencial de Aécio Neves para os tucanos paulistas. O ex-presidente tratará inclusive de afagar José Serra, ausente da noite, pedindo "consideração" ao ex-governador. A pacificação, contudo, está longe do desfecho. Geraldo Alckmin, que já admite Aécio no comando da sigla, voltou a defender que a definição do candidato só ocorra "no final do ano".
UPP O senador tucano esteve no final de semana com empresários de São Paulo que apoiam a ONG Afro Reggae, reconhecida pelo trabalho de mediação de conflitos em comunidades do Rio.
Trem das Gerais Aécio levará comitiva mineira ao congresso do PSDB-SP. Deputados de outros Estados também devem acompanhá-lo.
Bandeira Estrela da abertura olímpica de 2012, Marina Silva critica o impasse na Aldeia Maracanã. A ex-ministra diz que os índios foram usados na apresentação brasileira em Londres, mas não terão espaço na revitalização do Rio para 2016.
Parto O governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), cunhou uma frase com jeito de slogan eleitoral no tradicional cozido de Jarbas Vasconcelos no sábado: "O novo não nasce sem dor".
Rampa Campos enfrentou protesto liderado por skatistas ontem no Recife Novo.
Mantra Liderada pelo prefeito Luciano Duque (PT), a claque que recepcionará Dilma e Campos hoje em Serra Talhada (PE) preparou faixas e cartazes sublinhando expressões como "gratidão e lealdade" à presidente.
Quarteto O PT-SP apresentará hoje à direção nacional os ministros Alexandre Padilha (Saúde), Aloizio Mercadante (Educação), Guido Mantega (Fazenda) e José Eduardo Cardozo (Justiça) como opções a governador.
Onde pega Petistas pedem atenção redobrada aos movimentos do PMDB. Entendem que a cúpula estadual da sigla se distanciou de Michel Temer após a saída de Wagner Rossi do Ministério da Agricultura e já ensaia flerte com os tucanos.
Para depois Pressionado por nove partidos, Henrique Alves (PMDB-RN) se comprometeu a postergar o debate acerca do fim das coligações proporcionais para a fase final da votação da reforma política, pautada para o dia 9 na Câmara.
Discutindo Peemedebistas se reuniram com o alto comando da Caixa Econômica Federal na residência oficial da Câmara. Discutiram o plano do Planalto de ceder nova vice-presidência do banco ao PSD, operação que é vista como estratégica para desidratar Geddel Vieira Lima na direção da instituição.
... a relação Após a conversa, ficou definido que o PMDB deverá manter seu espaço na cúpula da Caixa, mas se empenhará para afinar o discurso com o vice de Ativos de Terceiros, Marcos Vasconcelos, próximo do PT, que participou do encontro.
Imersão Recém-empossado, o ministro Manoel Dias (Trabalho) marcou sua estreia em evento da CUT. Após visitar, amanhã, a Força Sindical e a UGT, irá na quarta-feira à escola de formação cutista em Belo Horizonte.
Toga justa 1 Francisco Falcão, corregedor do CNJ, deu prazo de 90 dias para que 15 Tribunais de Justiça abram concurso para o cargo de titular de cartório extrajudicial. A obrigatoriedade está prevista na Constituição.
Toga justa 2 Desembargadores que descumprirem a regra estarão sujeitos a processo disciplinar, segundo o ultimato dado pelo ministro.
Em todas Barros Munhoz (PSDB) é o favorito para assumir a liderança de Geraldo Alckmin na Assembleia. Com trânsito no PT, o tucano já foi líder de José Serra. O martelo será batido amanhã.
TIROTEIO
O PT criou o Bolsa Turismo, com duas modalidades: presidente usando dinheiro público e ex-presidente recorrendo a PPPs.
DO SENADOR ÁLVARO DIAS (PSDB-PR), sobre o financiamento das recentes viagens de Dilma Rousseff a Roma e de Lula a países da África.
CONTRAPONTO
Made in China
Fotografado com camisa polo da badalada marca Lacoste, o presidente da Embratur, Flávio Dino (PC do B), foi provocado por blogueiro adversário no Maranhão, que escreveu:
-Um comunista que gosta de grife!
Ao ser informado do comentário, Dino, pré-candidato a governador do Estado, respondeu:
-Ele não sabe que é uma "Lacoste" de origem chinesa, prova irrefutável de que sou mesmo comunista.
com FÁBIO ZAMBELI e ANDRÉIA SADI
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