domingo, 7 de abril de 2013

Suprema Corte dos EUA está defasada no debate sobre casamento gay‏

UOL


Justin Sullivan/Getty Images/AFP
Apoiador do casamento gay leva cartaz durante manifestação na Califórnia
Apoiador do casamento gay leva cartaz durante manifestação na Califórnia

Maureen Dowd

Eu estou preocupada com a Suprema Corte.

Eu estou preocupada com a forma como os ministros podem discutir apropriadamente o casamento de mesmo sexo quando alguns nem mesmo parecem perceber que a maioria dos americanos agora usa a palavra "gay" em vez de "homossexual"; quando o ministro-chefe John Roberts pensa que os gays estão apenas preocupados com o casamento como um "rótulo" desejável; e quando o ministro Samuel Alito compara o casamento gay a celulares.

Os Nove estão de volta ruminando em seus aposentos da srta. Havisham, desconcertantemente desconectados. Em seu zelo para assustar as pessoas sobre o "possível efeito pernicioso" da adoção por pais gays, o ministro Antonin Scalia não parece plenamente ciente de que gays e lésbicas podem ter seus próprios filhos biológicos.

Max Mutchnick, que criou e escreveu a série "Will & Grace" com David Kohan, também está preocupado. Sua série marcante se tornou um marco cultural durante os procedimentos legais de contestação da Proposta 8. Quando estive na Califórnia cobrindo aquele julgamento em 2010, eu passei algum tempo em Los Angeles com Max, seu marido, Erik Hyman, um advogado de entretenimento, e Evan e Rose, as encantadoras filhas gêmeas deles, que foram dadas à luz por uma mãe de aluguel. (Em um feito biológico incrível, ambos os homens fertilizaram os óvulos, de modo que uma filha parece com Erik e a outra com Max.)

Erik me disse na época que fazer os votos diante de um rabino e da família deles (duas semanas antes da aprovação da Proposta 8) fez com que ele se sentisse diferente. "Agora eu estou de fato casado", ele disse, "e me deixa maluco quando o outro lado fala na 'santidade do casamento'. Eu estou comprometido com meu cônjuge. Nós somos fiéis um ao outro. Nós estamos criando meninas gêmeas juntos. É profundamente ofensivo ouvir alguém dizer que o que estamos fazendo é roubar a 'santidade' do que eles estão fazendo, como se minha própria existência fosse profana".

No domingo, em uma pausa em meio a levar Evan e Rose a um parque em West Hollywood e uma montagem teatral de "A Bela e a Fera" no Pantages, Max me enviou um e-mail sobre quão desanimado se sentiu após os argumentos da semana passada na Suprema Corte. "Eu sou igual aos outros pais neste parque: óculos, boné, o 'New York Times' dobrado no quarto, ignorando minhas filhas brincando trajando Ralph Lauren. Mas a diferença é que todo dia eu abro o jornal e leio sobre o fato de que sou uma espécie de coisa vulgar, segundo muita gente. É muito estranho conviver com isso. Eu estou cansado disso."

Eu pedi ao Max para elaborar. Foi isto o que ele escreveu:

Um dos meus episódios favoritos de "Will & Grace" foi "Homo for the Holidays", a história de Jack assumindo para sua mãe. A turma descobre que Jack não é o garoto propaganda "assumido e orgulhoso" que finge ser, mas, na verdade, vinha dizendo para sua mãe que Grace era sua ex-namorada. Will confronta seu melhor amigo a respeito de sua mentira e pergunta a Jack: "Você ainda não se cansou?"

Eu acredito que se você for um homossexual de certa idade ou nascido no bloco errado (dos Estados Unidos), seus primeiros passos estão inseparavelmente mesclados com a mentira. Isso torna a jornada da vida muito mais pesada. Como Jack, eu acabei me cansando de mentir e assumi para todos. Mas agora eu me vejo cansado de dizer a verdade.

Eu estou cansada de ser um membro do último grupo na América sujeito a discriminação oficial. Se o movimento dos direitos civis gays fosse uma comédia musical, ela seria intitulada "A Funny Thing Happened on the Way to the Supreme Court" (uma menção à peça e filme "A Funny Thing Happened on the Way to the Forum", "Um Escravo das Arábias em Roma").

Mais e mais pessoas acham errado odiar os gays. O apoio ao casamento de mesmo sexo atualmente supera a oposição. Segundo Rick Santorum, isso tudo se deve a "Will & Grace". (Obrigado, querido. As vendas de DVDs estão em alta!) Mas, se os mocinhos estão do meu lado, por que me sinto tão esgotado? Eu vivo em um lugar onde todos os homens são criados iguais, mas, por algum motivo, eu não sou merecedor dos mesmos direitos. Será que minha lição deve ser: eu não sou um homem? É como se a Suprema Corte estivesse OK com essa noção. A Suprema Corte está falando parte da mesma linguagem que era usada antes de Stonewall.

O ministro Alito levantou a questão sobre se não seria cedo demais para permitir o casamento entre gays. É melhor continuar fazendo o que é errado até que as pessoas aceitem e estejam prontas para fazer o que é certo? Scalia usa a palavra "homossexual" da forma como George Wallace usava a palavra "negro". Há um tom nisso. É humilhante e doloroso. Eu não acho que estou sendo extremamente sensível, apenas vigilante. Eu já tive que ser vigilante por temer que as pessoas pudessem descobrir o que eu sou. Agora tenho que ser vigilante por temor de ser descriminado pelo que sou. Naquela época, como agora, é uma defesa contra o perigo.

Não é de se estranhar que eu esteja cansada. Eu estou comprometida a travar esta batalha até que a guerra seja vencida. Eu devo isso à minha criança gay interior e às minhas filhas. Como disse o dr. King, "o arco do universo moral é longo, mas ele se curva para a justiça". É o segmento longo do arco que me incomoda.
 
Tradutor: George El Khouri Andolfato

Lavem as mãos, por favor - Claudia Collucci

folha de são paulo

O Ministério da Saúde e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) lançaram anteontem (dia 1° de abril) um programa que objetiva prevenir e reduzir a incidência de erros que colocam em risco a saúde e a vida de pacientes.
Não são poucos os relatos de problemas evitáveis que acontecem dentro dos hospitais, como quedas, administração incorreta de medicamentos e erros em procedimentos cirúrgicos (como operar um órgão errado).
Um estudo da Fiocruz apontou que de cada dez pacientes atendidos em unidades hospitalares pelo menos um sofre de algum tipo de evento adverso. E em 66% das vezes são problemas evitáveis.
O programa do ministério torna obrigatório que todos os hospitais do país montem equipes específicas para aplicar e fiscalizar regras sanitárias e protocolos de atendimento e que notifiquem mensalmente a Anvisa sobre eventos adversos associados à assistência.
Segundo o ministério, estão previstas sanções aos hospitais --até mesmo suspensão do alvará de funcionamento-- que não se adequarem às novas ações.
No papel, tudo parece fácil e lindo. A realidade, porém, é bem mais complexa. Para começar, quem vai fiscalizar o cumprimento dessas ações? As vigilâncias sanitárias?
Mais de dez anos se passaram desde que começou a valer a lei federal que obriga os hospitais a instituir comissões de controle de infecção hospitalar. E ainda hoje muitas delas só existem no papel.
Na verdade, é muito difícil mudar hábitos enraizados e fazer com que os profissionais dentro do hospital trabalhem em equipe e sigam protocolos. A cultura hospitalar, em geral, ainda é a de esconder o erro. Com isso, a chance de os problemas se repetirem e nunca serem corrigidos é imensa.
E não é um problema só nosso. No mês passado, durante conferência de jornalismo de saúde em Boston, Lucian Leape, professor adjunto do Departamento de Políticas de Saúde e Gestão da Universidade de Harvard, enumerou quatro principais problemas que atravancam a implantação de medidas que visam reduzir erros evitáveis dentro dos hospitais:
1 - resistência dos médicos em relação ao trabalho em equipe
2 - dificuldade de mudar os sistemas de saúde
3 - a cultura geral é "disfuncional". "Nós tratamos uns aos outros mal", disse Leape
4 - falta de liderança do gestor para comprar a briga e fazer com que as medidas de segurança funcionem de fato
O médico lembrou que, ainda hoje, a prática de lavar as mãos precisa ser constantemente reforçada porque muitos profissionais se esquecem disso. E todo mundo está cansado de saber que essa é a principal medida para reduzir as infecções hospitalares.
Além do "esquecimento", que também atinge nossos profissionais de saúde, no Brasil ainda há uma realidade ainda mais perversa. Há três anos, o Cremesp e o Ministério Público Estadual fizeram um levantamento em 65 hospitais públicos e 93 hospitais privados e constataram que em 28,1% dessas instituições não havia, nas áreas mais críticas, uma simples pia para lavar as mãos e o papel para enxugá-las.
Isso me lembrou um episódio que vivenciei anos atrás na Santa Casa de Ribeirão Preto. Meu pai tinha infartado e estava na UTI em observação. Na entrada da unidade, tinha uma pia, mas não havia sabão. Reclamei com a equipe que estava de plantão, e a resposta foi: "não adianta colocar porque as visitas levam embora". Inconformada, fui até a farmácia, comprei um sabonete e deixei na pia. No dia seguinte, nem sinal do sabonete.
Avener Prado/Folhapress
Cláudia Collucci é repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde. É autora dos livros "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de "Experimentos e Experimentações". Escreve às quartas, no site.

'Ainda sonho em ser desenhista', diz ciclista que perdeu braço na Paulista

folha de são paulo

CHICO FELITTI
DE SÃO PAULO

Ele não perdeu o equilíbrio. Menos de um mês depois de ter o braço direito decepado ao ser derrubado da bicicleta por um carro, na avenida Paulista, o operador de rapel para limpeza de prédios David Santos de Sousa, 21, já ensaia algumas voltas na "bike".
Ele não quer mais falar sobre o acidente nem sobre o jovem que o atropelou, o universitário Alex Siwek, 21, que, após o ocorrido, jogou o braço de David em um córrego. Siwek foi preso, mas a Justiça concedeu uma liminar libertando-o.
Agora, David prefere fazer planos, como retomar as aulas do terceiro ano do ensino médio, que cursa em uma escola pública em Pedreira, na zona sul, colocar a prótese do braço e praticar esportes de novo. E promete: "Ainda vou voltar a andar de 'bike'".

Acidente com ciclista na avenida Paulista

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Christian von Ameln/Folhapress
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David Santos, que perdeu um braço quando andava de bicicleta na avenida Paulista, São Paulo
sãopaulo - O que achou do apoio que recebeu de cicloativistas da cidade?
David Santos de Sousa - Foi muito bom, ainda que eu não tenha visto tudo, já que estava no hospital. O apoio ajudou a não me sentir sozinho.
São Paulo não é uma cidade para ciclistas?
Tem muita violência, e não só contra os ciclistas. Mas acho que seja possível andar de bicicleta aqui, sim.
Voltaria a andar em SP de bicicleta?
Sim. Já consegui me equilibrar na bicicleta do meu irmão. Mas, para quem pedalava sem os braços [apoiados], será tranquilo. Não estou com medo.
Como se distrai após o acidente?
Vou ao centro de Diadema, ao shopping e até o campo para ver os meninos jogar bola. Ainda estou sem praticar esportes, mas andar de bicicleta é meu foco.
Uma empresa de Sorocaba ofereceu uma prótese de graça. A promessa foi cumprida?
Sim. Já testei a prótese, mostrei como são os movimentos que eu tenho de fazer usando o braço esquerdo. Em dois meses faremos o teste com o direito.
Você perdeu o emprego de limpador de vidros. Vive como?
Minha mãe, que era doméstica, pediu demissão para cuidar de mim. O pessoal que se mobilizou [pela internet] arrecadou algum dinheiro.
Mas a comoção que seu caso criou deve ter trazido oportunidades.
Tem até oferta de emprego. A Caloi pediu para eu participar de passeatas de bicicleta em outros Estados. Não é um emprego para sempre, mas eu topei.
O sonho de ser desenhista resiste?
Sim, inclusive um desenhista de games famoso e que não quer dizer o nome ligou para me oferecer algumas aulas. Ainda tenho muito a aprender. Se der, quero fazer faculdade de engenharia.

Braço de plástico é colocado na avenida Paulista

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Edson Lopes Jr./Folhapress
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Braço de plástico é colocado em poste da av. Paulista em protesto de ciclistas Leia mais