terça-feira, 19 de maio de 2015

"Cobras" de ontem, experts de hoje

Os primeiros smarts nasceram nos anos 1990, as lojas virtuais, em 2003. A combinação dos dois fez surgirem os desenvolvedores, e eles mudaram o jogo para sempre


Mirelle Pinheiro
Estado de Minas: 19/05/2015



 (Leandro Mello/CB/D.A Press)
Brasília – Em dezembro de 1997, chegava às prateleiras das principais operadoras norte-americanas e europeias, o celular – quase nada smart – 6110, da finlandesa Nokia. Com ele, um joguinho incrivelmente popular desde os anos 1970, que, pela primeira vez, estava ao alcance do bolso. Snake e suas variações (Blockade, Surround etc.), o famoso jogo da cobrinha, era monocromático, tinha apenas quatro comandos e uma capacidade quase infinita de viciar. Mais do que entretenimento de fila de banco, o minúsculo software, embutido num aparelho celular, representava o início de uma era em que parece inconcebível existir um telefone que apenas faça e receba ligações.

“As inovações trazidas por aparelhos lançados há duas décadas possibilitaram a criação de aplicativos mais interessantes, por causa dos recursos que traziam embarcados. Também ampliaram a base de usuários potenciais. Hoje, por exemplo, temos, no mundo, mais usuários de smartphones do que de computadores tradicionais”, avalia o professor de Inteligência Artificial do Centro Universitário de Brasília (UniCeub) Paulo Rogério Foina, nesta segunda reportagem sobre aplicativos.

Em uma manhã de 1994, o mercado norte-americano acordou com o protótipo de um dispositivo que pode clamar a paternidade – nessa mesma fila há versões suecas e japonesas – dos atuais smartphones: o Simon Personal Communicator, da IBM. Ele vendeu 50 mil unidades nos Estados Unidos, até fevereiro de 1995, quando deixou de ser fabricado, tinha tela sensível ao toque e acesso rápido a e-mails, numa época em que a internet engatinhava. Custava de US$ 599 a US$ 1 mil.

Naquela época, os aplicativos eram um recheio ainda simplório de hardwares não muito mais avançados. Mais do que a velocidade de processamento e as inúmeras funcionalidades de hoje, a principal diferença estava na produção. A indústria entendia o software como propriedade de quem vendia o dispositivo, e não de terceiros. Assim, as primeiras aplicações desenvolvidas para celulares acessavam e-mails, aparelhos de fax, calendários, agendas e blocos de anotações, mas nada muito além disso, até porque a produção era restrita.

Independentes Com lojas virtuais de aplicativos ao alcance de dois cliques nos dias de hoje, recuperar o mercado de uma década atrás ajuda a entender a evolução de todo o processo. O predecessor das atuais stores surgiu há 12 anos, mais de cinco antes da App Store, que acabou popularizando o mercado. Em 2003, foi ao ar a norte-americana Handango, uma das primeiras lojas com pequenos softwares para embrionários smartphones e PDAs (personal digital assistants). Fundada pelo texano Randy Eisenman, a Handango também contava com um programa, o Handango InHand, que tornou possível procurar e instalar apps, gratuitos ou pagos, games, temas e ringtones nos aparelhos, sem a necessidade de conectá-los a computadores.

 No ano de lançamento, o InHand trouxe prateleiras virtuais para smartphones que usavam o sistema operacional Symbian, como alguns modelos da Sony Ericsson, Motorola e Nokia. Posteriormente, passou a funcionar em dispositivos que rodavam BlackBerry, Windows Mobile, Palm OS e Android, e reuniu cerca de 50 mil aplicativos em seu catálogo. Além do sistema de buscas de apps, o InHand também permitia aos usuários descrevê-los e avaliá-los.

Iniciava-se ali a era em que os programas não mais eram propriedade das empresas de hardware, e sim de desenvolvedores independentes, uma mudança que acabou consolidada, de vez, com a App Store, a partir de julho de 2008. “Foi, sem dúvida, a grande revolução. Uma loja virtual para o iPhone, com apenas 500 aplicativos, quase todos desenvolvidos por pessoas sem nenhum vinculo empregatício”, destaca o professor de desenvolvimento de sistemas, Michel Carmo Lopes, da Universidade Católica de Brasília (UCB).

A inauguração da App Store também serviu para criar dezenas de milhares de empregos em torno desta nova indústria. Segundo balanço da Apple, em apenas seis anos, o desenvolvimento do iOS ajudou a fomentar 627 mil postos de trabalho somente nos Estados Unidos e as vendas relacionadas às ofertas dos produtos que integram a plataforma passam das dezenas de bilhões de dólares. Há sete anos, nada disso existia.

“Com essa jogada, a tradicional empresa, que sempre foi conhecida por ser resguardada e pelos produtos ‘fechados’, observou um nicho no mercado que poderia mudar o mundo, o que de fato ocorreu”, acrescenta Lopes.

Do Simon a Jobs

Como o mercado de aparelhos móveis mudou adicalmente em um espaço de tempo tão curto

 (IBM/Reprodução)

Modelo: Simon Personal Communicator
Fabricante: IBM
Ano de lançamento: 1994
Com tela sensível ao toque, o Simon Personal Communicator era capaz de acessar e enviar e-mails e fax, além de conter aplicativos básicos como agenda, calendário, bloco de notas, calculadora e relógio.
Vendeu 50 mil unidades e deixou de ser fabricado em 1995.

Modelo: Hagenuk MT-2000
Fabricante: Hagenuk
Ano de lançamento: 1994
Embora não seja considerado, de fato, um smartphone – não havia conexão à internet, por exemplo –, o Hagenuk MT-2000 inovou o universo dos mobiles e trouxe o primeiro jogo disponível a um aparelho móvel: uma versão especialmente produzida do tradicional Tetris. Também foi o primeiro modelo a apresentar antena interna. Pena que, em uso extremo, a bateria só
durava uma hora.

Modelo: Nokia 9000 Communicator
Fabricante: Nokia
Ano de lançamento: 1996
Com dois teclados – um alfanumérico, para ligações, e um estilo QWERTY, para navegação – e memória de 8MB, o Nokia 9000 Communicator rodava com sistema operacional GEOS 3.0. Além do acesso a e-mails e faxes, também tinha calendário, bloco de notas, calculadora, calendário, leitura e edição de arquivos
de texto e inovações no serviço de SMS.
 (Ericson/Reprodução)

Modelo: Ericsson R380
Fabricante: Ericsson
Ano de lançamento: 2000
Com o Ericsson R380 surgiu o título smartphone. O aparelho foi o primeiro a rodar um sistema operacional e uma interface considerados modernos, ambos da Symbian. Embora não permitisse que usuários fizessem o download de softwares, o modelo sincronizava com produtos da Microsoft, acessava internet e tinha games e aplicativos básicos. Desenvolvido na Suécia, o Ericsson R380 custava US$ 700.

Modelo: Kyocera QCP 6035
Fabricante: Kyocera
Ano de lançamento: 2001
Rodando o sistema operacional Palm OS, podia ser usado como celular e como uma espécie de palmtop, bastando abrir ou fechar o flip. Com aplicativos de escritório e conexão (lenta) à internet, foi o primeiro smartphone a desembarcar no Brasil. Por aqui, quem quisesse o brinquedo tinha de desembolsar R$ 2,8 mil à época.
 (BlackBerry/Reprodução)

Modelo: BlackBerry 6210
Fabricante: RIM
Ano de lançamento: 2003
Modelo que inovou ao trazer o BlackBerry Messenger, um upgrade no serviço de trocas de mensagens instantâneas e — por que não? – o pai do WhatsApp. O 6210 também foi um dos primeiros smartphones a fazer sucesso com pacote GSM/GPRS, tecnologia que aumenta transferência de dados e deixa a conexão mais veloz.
 (Reprodução da Internet)

Modelo: iPhone
Fabricante: Apple
Ano de lançamento: 2007
O iPhone de Steve Jobs mudou o modo como o mundo enxergava os smartphones. O modelo trouxe o sistema operacional iOS – veloz e potente –, e cerca de 500 aplicativos para que os usuários pudessem instalá-los ou desinstalá-los livremente, tela sensível ao toque e, o mais imporante, uma revolução em hardware que obrigou a concorrência a investir pesadamente no setor.