quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Enfim, terminou por DANIELA PINHEIRO‏


Revista Piauí Edição 76 >> Janeiro de 2013


Enfim, terminou

Do karaokê às margens do lago Paranoá ao “leilão silencioso” na boate paulistana: os advogados do mensalão dizem adeus a 2012
por DANIELA PINHEIRO
O e-mail de 41 linhas mencionava a quebra das garantias individuais, a im-prensa entusiasta do “direito penal do terror”, a “subleitura” da teoria do domínio do fato levada a cabo pelo Supremo Tribunal Federal (“Talvez por falta de domínio da teoria”, dizia o texto) e os “holofotes que coordenaram o tal mensalão”.
Também ressaltava ter sido 2012 um ano de muito trabalho para os criminalistas. Além daquele que fora o julgamento mais longo, mais polêmico e mais televisionado da história da Justiça, havia ocorrido de tudo um pouco no Brasil: “CPI, escândalos, confusões no Congresso Nacional, eleições.” Lá pelo final, tomava-se conhecimento do que tratava a mensagem: “O país está vivo, a sociedade pulsa e, com esse espírito, devemos celebrar a vida e muito mais!” Festa na casa do Kakay, 7 de dezembro, às 14 horas, R.S.V.P.
A centena de destinatários do e-mail do advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay – que livrou da cadeia o publicitário Duda Mendonça e sua sócia Zilmar Fernandes (acusação: evasão de divisas e lavagem de dinheiro) –, pareceu duvidar do fôlego do evento. Uma semana depois, houve nova comunicação pela internet: “Temos recebido algumas indagações se realmente a nossa confraternização começará às 14 horas. É que a festa lá em casa é como o julgamento do mensalão: não acaba nunca!”, escreveu o anfitrião.
Os primeiros convidados começaram a brotar na opulenta casa de 1 500 metros quadrados, com vista para o lago Paranoá e para a Praça dos Três Poderes, em Brasília, antes mesmo do horário marcado. Com a temperatura beirando os 35 graus, dezenas de garçons circulavam, equilibrando bandejas de caipirinha de frutas, espumante e vinho tinto italiano gelados, pelo ambiente ornado por obras de artistas como Sonia Ebling, Adriana Duque e Victor Brecheret.
Num canto da varanda, acomodado em um banquinho com violão em punho, o músico Di Brasil – a quem Kakay apresentou o ex-presidente Lula durante o governo e se transformou no cantor oficial dos churrascos na Granja do Torto e no Alvorada – dedilhava sucessos da MPB e anunciava que o microfone em breve seria aberto aos presentes.
Naqueles dias, os ministros do Supremo ainda discutiam a cassação dos mandatos de parlamentares envolvidos no caso. Dos 37 réus, doze haviam sido absolvidos e os outros 25 condenados a penas que, somadas, alcançavam 282 anos de prisão. Dez dias depois, o julgamento seria encerrado após quase cinco meses e 53 exaustivas sessões plenárias. A possibilidade de os réus irem para a cadeia ainda antes do Natal era aventada pelos pessimistas da corte.
Na festa de Kakay, um dos temas preferidos nas rodas de conversa era – sem surpresa – Joaquim Barbosa. “Taí a única coisa que ele acertou: que ninguém aguenta mais o mensalão”, falou o advogado Leonardo Isaac Yarochewsky (defensor de Simone Vasconcelos, ex-diretora financeira da empresa de Marcos Valério: doze anos, sete meses e vinte dias de prisão por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, corrupção ativa e evasão de divisas), copo de caipirinha na mão, comentando uma declaração recente do ministro.
Dizia-se que o julgamento fora uma feira de vaidades fermentada pela imprensa. Uma pessoa quis saber do advogado mineiro Marcelo Leonardo se foi pior do que ele imaginava (Marcos Valério: quarenta anos, um mês e seis dias de prisão por corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas). “Sim, muito pior”, disse, grave. “Essa coisa de ficar falando que os réus têm que entregar o passaporte para não fugir é só para dar manchete de jornal.”
Oito quilos mais magro, de óculos escuros, camiseta e calça pretas, ele falava com as duas mãos para trás. “Como se alguém que quisesse fugir não pudesse pegar um jatinho e ir para qualquer lugar ou mesmo embarcar com carteira de identidade na América do Sul.” E continuou, indignado: “Quarenta anos! Nunca houve uma pena dessa no Supremo nem para crime contra a vida!”
Foi apoiado pelo advogado goiano Pedro Paulo Guerra de Medeiros, que deu suporte jurídico ao tesoureiro petista Delúbio Soares (oito anos e onze meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa): “Se um cliente normal meu tomasse essa pena, eu falaria: ‘Fica tranquilo’, porque é óbvio que iam revisar e diminuir. Mas, nesse caso do mensalão, é tudo fora do padrão.” Segundo ele, a prisão pode fazer bem à imagem dos condenados. “Em seis meses, eles vão virar mártires. O PT não vai deixar a nação se esquecer daqueles que estão presos”, disse.
Porções generosas de croquetes, linguiça e carne no palito eram colocadas sobre as mesas. Di Brasil cantava Garota de Ipanema. Boa parte dos presentes era de mulheres jovens, de cabelo comprido e vestido curto, e homens jovens de cabelo curto e calça comprida.Eram estagiários, funcionários, amigos, parentes, conhecidos de Kakay somados a causídicos de renome na capital federal e parte do society brasiliense que têm negócios com o governo. Um ex-ministro de tribunal superior apareceu.
“O que está acontecendo na primeira instância já é um absurdo”, comentou Kakay. “Com base nessas decisões do Supremo – de ignorar a presunção de inocência, a necessidade de a acusação produzir prova –, o juiz lá do interior já está fazendo quase rito sumário. Isso sim é que é herança maldita.”
Falava-se da recente eleição para o conselho da Ordem dos Advogados do Brasil, destinos de férias, crimes de colarinho branco. Alguns convidados tinham apartamento em Paris, e por isso se solidarizaram ao tom de surpresa do relato de um jurisconsulto que descobriu tardiamente que no seu não havia só uma, “mas duas caves!”.
Às quatro da tarde, de bermuda, tênis e camiseta, o dono da casa tomou de assaltoo microfone. “Essa música fui eu que fiz, mas a estão usando indevidamente num processo aí”, falou, provocando gargalhadas. Era um sucesso antigo gravado por Caetano Veloso: “Você bem que podia perdoar/ e só mais uma vez me aceitar...”, soltou a voz. A audiência se desmanchava em palmas e assobios. Di Brasil sorria, compenetrado nas notas musicais.
Depois de meia dúzia de hits entoados com direito a emulação dos timbres dos solistas originais, Kakay liberou o microfone. Uma moça se aventurou no repertório de Lulu Santos, sem provocar o mesmo entusiasmo nos presentes. Foi a deixa para o anfitrião voltar com a mesma música minutos depois. “Agora/ que faço eu da vida sem você/ você não me ensinou a te perder...” Ouviu-se: “Essa aí só pode ser para o seu amigo Zé Dirceu!”
O almoço foi servido em réchauds de prata: carnes de porco e vaca, tutu de fei-jão, farofa e saladas.
Um palco havia sido montado no jardim, ao lado da piscina de raia olímpica, em frente a canteiros com lavandas trazidas da Provence. A segunda atração da tarde, um grupo de samba com trinta integrantes, começou a cantar Chico Buarque: “Hoje você é quem manda,/ falou, tá falado,/ não tem discussão...” No refrão, “Apesar de você,/ amanhã há de ser/ outro dia...”, Leonardo Yarochewsky segurou uma moça pelo braço e chamou a atenção para a letra da música, citada por ele durante a sustentação oral no STF.
De roupa trocada e banho tomado, Kakay assumiu a vaga do vocalista do grupo. “Essa aqui é uma de ontem que está introjetada para hoje”, disse, enigmático. E atacou com outra canção de Chico Buarque, Vai Passar: “Dormia/ a nossa pátria mãe tão distraída/ sem perceber que era subtraída/ em tenebrosas transações...”
Um conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil comentou: “Ih, essa daí deve ser homenagem ao Roberto Gurgel [procurador-geral da República]. Ele usou esse trecho quando pediu a prisão dos mensaleiros”, disse, em tom de fofoca.
Kakay emendou mais um clássico. “Gente, tem uma música aqui que se eu cantar o Joaquim morre”, brincou. No gargarejo, uma fila de mulheres magras o incentivou em coro: “Canta, canta!” E ele foi deVou Festejar, sucesso na voz de Beth Carvalho: “Chora!/ não vou ligar./ Chegou a hora,/ vais me pagar.” A estrofe foi cantada em uníssono: “Você pagou com traição/ a quem sempre/ lhe deu a mão/ Mas chora!...”
A performance se prolongou por quase meia hora. “Como será o amanhã/ responda quem puder,/ o que irá me acontecer?/ O meu destino será como Deus quiser”, cantava. Ao meu lado, um jovem advogado substituiu “Deus” por “Joaquim”.
Às dez e meia da noite, quando os convidados já falavam alto como em um show de rock, teve início uma nova rodada de aperitivos. Anunciou-se que seria a vez de um grupo de música sertaneja e metade da festa começou a se despedir. Uma turma de incansáveis, soube-se depois, esbaldou-se até as três da manhã.
nata da advocacia paulista fez forfait no karaokê de Kakay. Mas, dali a quatro dias, tiverama sua despedida particular. Era o sexto jantar de confraternização do Instituto de Defesa do Direito de Defesa, o iIDDD, uma entidade criada para dar suporte jurídico gratuito à população.
Às dez da noite, o Lions Nightclub, no Centro de São Paulo, cuja decoração combina animais empalhados pendurados no teto, colunas marmorizadas, espelhos rococós e sofás de couro capitonê, estava lotado. A boate, que às sextas-feiras se transforma em um disputado templo gay da noite paulistana, havia sido fechada para o evento, ao qual se tinha acesso mediante a compra de um convite por 280 reais, com direito a jantar do bufê Charlô e consumação livre de caipirinha, cerveja e uísque.
Com o intuito de arrecadar fundos, o instituto promovia um leilão de obras de arte. Esse ano, a novidade era o “leilão silencioso”. Em vez de lances dados aos gritos, como nas edições passadas, os advogados escreveriam seus nomes e propostas financeiras em uma prancheta colocada discretamente ao lado da obra.
“A fórmula do leilão tradicional ficou desgastada. Eram sempre as mesmas pessoas que compravam, apareciam e faziam o barulho”, contou Flávia Rahal (cliente: Delúbio Soares), ex-presidente do instituto.
Seriam colocados à venda cinco quadros e um par de abotoaduras do joalheiro Ara Vartanian. Lances mínimos acima de 1 500 reais. Também seria sorteado um jantar para duas pessoas em um restaurante italiano da moda.
Ao lado de uma gravura de Tomie Ohtake e uma foto de Eduardo Muylaert, chamava atenção, por seu colorido e proporções épicas, a pintura de um tucano de bico gigante embrenhado entre frutas tropicais, cujo lance inicial era de 3 mil reais.
Sentado num sofá de couro, copo com gelo na mão, o criminalista Antônio Cláudio Mariz de Oliveira (Ayanna Tenório, vice-presidente do Banco Rural: absolvida) fazia comparações entre a nova e a velha guarda do direito envolvidas com o julgamento do mensalão. “Os advogados mais velhos sofreram mais com a derrota do que os jovens advogados que estavam nesse caso”, disse. “Muitos paradigmas mudaram com esse julgamento: não precisar mais de prova, ignorar a presunção de inocência... Para nós, a old school, presenciar isso é muito pesado”, comentou.
Aproximou-se, ignorando o teor da conversa, o ex-ministro da Justiça José Carlos Dias (Kátia Rabello, presidente do Banco Rural: dezesseis anos e oito meses por lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, formação de quadrilha e evasão de divisas). “Olha um aí que ficou mal”, apontou Mariz. “Foi minha pior derrota! Foi a pior da minha vida!”, disse Dias. “Eu ainda estou meio passado. A defesa era boa, mas ela não foi compreendida”, lamentou.
Mariz continuou: “Hoje, os jovens advogados ganham dinheiro muito rápido, gostam demais dos holofotes da mídia... Quantos colegas que não víamos se levantar no plenário do Supremo para ir ao banheiro bem na hora que os fotógrafos chegavam? É assim que se aparece na foto”, disse.
Dias avistou um amigo e deixou o grupo. “O advogado tinha um perfil humanista, boêmio, intelectual, meio porra-louca”, afirmou Mariz. “Agora, eles são meio... meio... não sei...”, disse procurando uma palavra. Quando lhe sugeriram “janotas”, ele concordou imediatamente.
A maioria dos homens usava terno e as mulheres, vestidos tubinho em cores escuras. Miniporções de escondidinho de carne seca e ravióli de espinafre eram distribuídas aos convidados, que equilibravam garfo, faca e pratinho no ar com habilidade.
No bar, garçons tatuados e com piercings distribuíam drinques coloridos. O clima era de boate, a iluminação de shopping center e a trilha sonora de bar-zinho da moda.
Kakay, que viera de Brasília especialmente para o evento, encarava o quadro do tucano: “Esse aqui nem o Serra compra”, disse ele, o único a usar tênis na festa paulistana.
Pierpaolo Bottini (deputado Professor Luizinho: absolvido) recebia parabéns de um grupo de jovens pela defesa no stf. Alberto Toron (deputado João Paulo Cunha: nove anos e quatro meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato) também era cumprimentado pela “campanha honesta” para a presidência da OAB paulista, apesar de também tê-la perdido.
José Luís Oliveira Lima (ex-ministro José Dirceu: dez anos e dez meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa) dava explicações sobre outro cliente. O médico Roger Abdelmassih, acusado de estupro de mais de cinquenta pacientes, estava foragido e corria o rumor que havia sido visto na véspera em uma padaria paulista. “É mais fácil você ver uma assombração do que o Roger naquele lugar”, afirmou, categórico.
A seu lado, Roberto Pagliuso (Anderson Adauto: absolvido) comentava como filhos de criminalistas costumam ter uma visão particular do trabalho dos pais. Perguntam todo o tempo por que defendem criminosos ou fazem con-siderações complicadas de explicar. “A minha filha via uma condenação no mensalão e ficava falando ‘quem mandou fazer coisa errada!’”, disse. “É difícil explicar que a coisa não foi assim.”
Theodomiro Dias Neto (cliente: Kátia Rabello) contou que a filha – de tanto ouvir sobre o mensalão – quis batizar o cachorro que ganhou de aniversário de “Dirceu”.
Em outro grupinho o assunto era – surpresa outra vez – Joaquim Barbosa. De como estava pleinde soi-même, de como acha que pode ser presidente da República, de como parou de trocar tanto de cadeira e se levantar devido a dores nas costas durante as sessões do julgamento.
“O Celso de Mello já me disse que o Joaquim nem é o primeiro negro do Supremo!”, contou um advogado que não trabalhou no caso. “Que inclusive já houve outros dois negros e um deles passou até pela presidência. Para você ver o marketing do Joaquim”, comentou, ao que os demais concordaram balançando a cabeça. Referia-se aos ministros Pedro Augusto Lessa e Hermenegildo Rodrigues de Barros, que integraram o tribunal no começo do século passado.
Às onze da noite, liam-se poucos nomes nas listas presas às pranchetas para arrematar as obras de arte. O tucano continuava com apenas um interessado.
Ausência notada foi a do fundador do instituto, Márcio Thomaz Bastos (JoséRoberto Salgado, vice-presidente do Banco Rural: dezesseis anos e oito meses de prisão por lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, formação de quadrilha e evasão de divisas). “Estou com uma virose, febre e, pior, proibido de beber até o Natal”, disse-me num torpedo, dias depois.
Arnaldo Malheiros Filho (cliente: Delúbio Soares) estava há semanas em retiro parisiense, de onde voltaria apenas em meados de janeiro. E Luiz Fernando Pacheco (ex-deputado José Genoíno: seis anos e onze meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha) estava fora da cidade.
À meia-noite, o leilão foi encerrado. “Um fracasso! Arrecadamos quase nada”, comentou um dos organizadores do evento. “Essa coisa de ser silenciosa não adianta. Eles só doam se der para aparecer.”
No ano anterior, uma fotografia de Muylaert, cotada a 300 reais, havia alcançado 7 mil reais num duelo demorado e ruidoso entre dois advogados de réus do mensalão. Achavam que a figura retratada lembrava a ministra Laurita Vaz, do Superior Tribunal de Justiça, e ambos queriam ter o prazer de presentear o outro com o mimo.

Demografia (I): envelhecimento mundial

VALOR ECONÔMICO


Por Fabio Giambiagi
Ao longo de 2013, pretendo compartilhar com os leitores alguns ensinamentos que fui colhendo ao longo dos anos nos quais me dediquei às questões demográficas, em função do estreito vínculo que existe entre essa área do conhecimento e a Previdência Social, a cerca da qual venho escrevendo há 20 anos. Independentemente da controvérsia que afeta o debate referente à reforma da Previdência, a demografia é interessante em si e combina desde modelos matemáticos ligados às projeções de longo prazo, até os assuntos da alma humana, como os que dizem respeito ao casamento e como isso afeta a dinâmica das despesas previdenciárias por meio do pagamento de pensões. Tudo isso passando por curiosidades diversas, como o fato de que nascem mais meninos do que meninas.
Deixando de lado um pouco o esforço de catequese no qual me envolvi nas páginas deste mesmo jornal durante um longo tempo, relacionado com a defesa - reconheço que com escasso sucesso - de propostas de reforma das regras de aposentadoria, a intenção, mais amena, desta série de doze artigos é apenas a de dividir com o público parte do que fui aprendendo nessa travessia intelectual.
O meu "roteiro" para essa "viagem" pela demografia que aqui iniciamos envolve tratar de um tema por mês. Depois deste "capítulo", em fevereiro pretendo abordar a mudança do perfil demográfico da sociedade brasileira. Na sequência, o objetivo é tratar dos seguintes assuntos, até dezembro: a intensidade das revisões da projeção populacional até 2050; um "raio-x" das principais novidades trazidas pelo Censo de 2010; a maior frequência de nascimento de bebês do sexo masculino; a natureza de "ondas" do processo de envelhecimento por faixa etária; a perspectiva de redução da População Economicamente Ativa (PEA); a relação entre as tendências populacionais e a economia; o encolhimento quantitativo da população jovem; a magnitude do fenômeno dos "super-idosos"; o peso das mulheres na população idosa; e o aumento da expectativa de sobrevida.
Um dia, em matéria de demografia, o Japão será aqui. Cedo ou tarde, teremos que pensar nisso
O início desta série se dá com o tema de hoje, que é a natureza universal do fenômeno do envelhecimento demográfico. O Brasil é um país onde a população está envelhecendo e essa é uma característica que, de um modo geral, tem sido observada na grande maioria dos países do mundo. Com exceção de algumas situações anômalas onde possa ter havido alguma ação excepcional que tenha modificado o "script" descrito a seguir - como, por exemplo, guerras que afetem um grupo populacional mais do que outro- o que se verifica na evolução do mundo no pós-guerra e se pode projetar para o futuro é a combinação sucessiva dos seguintes elementos:
1) inicialmente, verificaram-se taxas de natalidade altas e crescentes, em um contexto em que ainda se morria relativamente cedo, em média, com isso, reduzindo a idade média da população; e 2) com o passar dos anos, os avanços da medicina foram elevando a longevidade, enquanto que a educação e os métodos anticoncepcionais reduziram a fecundidade, com o que a idade média e mediana da população passaram a aumentar.
A grande diferença entre os países é apenas o "timing" do processo. Nos países desenvolvidos, essa história começou antes e hoje se trata de sociedades demograficamente maduras, enquanto que nos países menos desenvolvidos, as taxas de fecundidade e de mortalidade são maiores, o que torna esses fenômenos menos intensos. A tendência, porém, é a mesma.
A tabela que acompanha este artigo, extraída do meu livro com Paulo Tafner ("Demografia - A ameaça invisível", Editora Campus, Tabela 9.2) publicado há três anos e baseada nas projeções da Divisão de População da ONU, mostra o caráter universal dessas tendências. Note-se que em 2010 em todos os continentes a idade mediana era maior que em 1970. Note-se também a tendência à convergência: ainda no ano 2000, a idade mediana da América do Norte era 10 anos maior que na América do Sul, enquanto em 2050 projeta-se que seja a mesma.
Seria bom que alguém em Brasília se ocupasse desses desafios, ao invés de ficar pensando apenas na micropolítica do cotidiano. Um dia, em matéria de demografia, o Japão será aqui. Cedo ou tarde, teremos que pensar nisso.
Fabio Giambiagi, economista, coorganizador do livro "Economia Brasileira Contemporânea: 1945/2010" (Editora Campus), escreve mensalmente às quartas-feiras. fgiambia@terra.com.br.


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Nina Horta

FOLHA DE SÃO PAULO

Faxina de Ano-Novo
Nada mais é necessário além de uma panela, uma cuia, uma colher de pau; o resto é gula
Parece que é a faxina que vai construir o ano que se segue. Simplesmente saber onde estão as coisas já é um bom começo.
Começamos pelo aparador. Uns três molhos de pimenta que não emplacaram ou acabaram. Um moedor de sal grosso que não funciona, uns funghi, umas chufas, um caril. Tudo que estava pela metade e velho, fora. E lé com lé, cré com cré. Juntar o que tem parentesco. Temperos brasileiros, temperos indianos, surpresas, vontade de cozinhar.
Acabamos cozinhando, pegamos costelinhas na geladeira e fizemos na crock pot. Crock pot é aquela panela que cozinha sozinha, elétrica, calor mínimo. Você põe tudo lá, sai para trabalhar e quando volta está pronto, sem perigo de queimar. O resultado é o de sempre. Gosto de sopa. A panela vende o sonho da comida que se faz sozinha. Vou desencanar e guardar embaixo da escada.
Dezenas de gavetas e coisas que vão se acumulando o ano inteiro. Tudo imaginável, para quem gosta de tralhas. Muitas facas, abridores, moedor de pimenta, moedor de noz moscada, medidores sem fim, colheres de pau. E colherinhas de café faltando e outras sobrando e porta-guardanapos de prata e de conchas e porta-talheres mexicanos, lindos, de pedras coloridas.
Algumas coisas que não jogamos fora vão sumindo sozinhas, como as panelas e garfos de fondue. Brilhavam novos e úteis, hoje se escondem. Alguém se lembra de uns baldinhos de gelo de cristal que não serviam para nada e tinham duas orelhas? Sumiram também. Outras coisas continuam, que ninguém pode viver sem elas, como um triturador de sementes de papoula, uma maquininha de fazer späetzle e um minidefumador -kkkkkkk, como diriam no Facebook. Restos de Natal, velas pela metade, pinhas, dourados. Pense nos apagões, deixe aí.
Em uma das gavetas apareceu uma coleção de santos antigos de papel, de primeira comunhão, de tudo. Jogar fora nem morta, minha filha diz que vai fazer um quadrinho de vidro. Acho que vai ser um quadro de quilômetros.
A batedeira Sunbeam antiga que me conhecia tão bem, éramos uma só coisa, um dia morreu. Foi substituída por aquela moderna, quase profissional, que toma um espaço enorme na cozinha pequena. Minha vida é temer que os acessórios se percam, e uso a batedeira manual da Viking, forte e poderosa. Mas a Sunbeam está lá esperando o dia da ressurreição dos mortos.
O que faz um ser humano desejar ter manteigueiras de vidro, louça da Clarice Cliff, restos de jogos de jantar, coisas sem fim da feira escandinava? Panelas, panelas de todos os jeitos, facas mil, livros à mancheia... Um nó na capacidade prática de fazer o cálculo de quantos objetos são necessários vida afora.
Muitas vezes, quando demorava um tempo para ir a Paraty, quando chegava na casinha, só uma cama, nada de mesa de cabeceira, nem de lâmpada, nada de TV, ficava desacorçoada, assim não dá, que vida louca! No dia seguinte, a manhã esplendorosa, o cheiro de mato e de mar e adeus reclamações. A realização chegava plena, nada mais é necessário além de uma panela, uma cuia, uma colher de pau, um colchão e um mosquiteiro, o resto é gula.

    Entrevista Albert Fishlow

    FOLHA DE SÃO PAULO

    Governo precisa ter paciência e não lançar medidas em excesso
    Economista sugere que governo se concentre no crescimento a partir de 2014 e dê tempo para empresas se acostumarem a novo clima
    MARIANA CARNEIRODE SÃO PAULOCom as lentes de quem já viu planos econômicos, milagres e recessões no Brasil, o brasilianista Albert Fishlow tem apenas uma recomendação ao país em 2013: que cultive a paciência.
    Nesta entrevista à Folha, ele observou que, apesar do noticiário econômico coalhado de dificuldades, a qualidade de vida no país melhorou: "O governo deveria se concentrar nisso em vez de focar os resultados do PIB trimestre a trimestre".
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    Folha - Por que o Brasil parou de crescer?
    Albert Fishlow - O Brasil tem uma taxa de investimento de 18% do PIB, enquanto outros países, até latino-americanos, têm taxas de 24%, sem falar na China (45%) e na Índia (35%). É muito difícil ter crescimento contínuo com investimento limitado. Além disso, o setor privado vive uma grande incerteza sobre a regulação do governo em alguns segmentos. Toda semana o governo anuncia medidas e isso não ajuda a aumentar os investimentos. Há intervenção, mas falta estratégia de médio prazo.
    A crise externa explicaria parte da desaceleração?
    A crise afetou os preços dos produtos exportados. Mas não se alteraram a ponto de prejudicar muito o Brasil. Alguns produtos primários perderam, mas os preços dos agrícolas aumentaram, o que compensou outras perdas.
    Por que a redução dos juros não surtiu efeito?
    Todo mundo esperava uma reação maior. Mas é preciso lembrar que grandes empresas já acessavam o mercado externo e obtinham recursos a juros baixos. Para elas, não houve grande mudança. O BNDES é responsável por 35% dos recursos para investimentos no país e também já oferecia juros mais baixos. A posição do governo, de imaginar que a queda dos juros poderia inspirar uma reação dos investimentos, foi um engano. Os juros não explicam a decisão de investir.
    Então por que os investimentos não reagem?
    Há que considerar outros fatores. Quase toda semana sai uma medida [do governo] e isso não é bom. É preciso paciência para esperar que o novo clima inspire as empresas, e essa reação leva tempo. Não é preciso tomar decisões toda semana, de olho no crescimento a cada trimestre. O governo diz "o próximo trimestre será melhor" e "vamos crescer 4%", mas o que se vê é outra história.
    Esse otimismo é excessivo?
    Depois de tantas expectativas frustradas, cria-se um clima de ainda mais incerteza. Os empresários ficam esperando mais e mais medidas, seguindo a lógica de que é melhor esperar e ver o que virá. Os dados de renda estão positivos e indicam uma melhora das condições de vida dos brasileiros. O governo deveria se concentrar nisso em vez de focar os resultados do PIB trimestre a trimestre. É melhor considerar as políticas necessárias para o crescimento em 2014 do que focar no curtíssimo prazo.
    O Brasil está fadado ao voo de galinha (sobe e cai)?
    As estimativas de crescimento de 5% ao ano como mínimo foram exageradas. Tomou-se como base o ciclo de recuperação pós-crise 2008/2009. Não se observou que a taxa de investimento continuava baixa. Além disso, em vez de enfatizar as exportações, que dariam mais competitividade às empresas brasileiras, optou-se por rejeitar as importações. Elas são úteis para limitar os preços dos insumos e ampliar a capacidade de investimento.
    O Brasil pode crescer mais?
    O país pode crescer de 4,5% a 5% ao ano se aumentar a taxa de investimento para 25% do PIB. Para isso, o governo precisa parar de falar de superavit primário e reconhecer que tem um deficit nominal de 2,5% do PIB. É preciso que o governo comece a poupar, reduza gastos da Previdência e aumente investimentos em saúde e educação.
    Analistas veem risco de a inflação acelerar, ao mesmo tempo em que o governo tenta reativar o crescimento. O sr. teme que o governo deixe a inflação de lado?
    A política do Banco Central até aqui é muito positiva. A redução dos juros foi necessária, não fazia sentido o Brasil ter juros mais elevados do que outros países neste momento. Mas em 2013 o BC tem que parar de baixar a taxa até que haja uma reação ao movimento feito no passado. Reduzir mais os juros não vai estimular mais a atividade e não vai alterar a decisão de investimento das empresas. Vai simplesmente criar mais incertezas sobre o que ocorrerá em 2014. É preciso parar de acumular medidas e dar tempo para que as regras estabelecidas sejam absorvidas.
    O governo está afobado?
    Eu tenho grande respeito pela presidente e pela capacidade de sua equipe. E espero que todos comecem a entender que a paciência também pode produzir efeitos tanto quanto outras medidas.
    É possível crescer 4% em 2013?
    O Brasil terá um ano melhor. O governo sempre está com 4%, mas eu acho que se der algo em torno de 3,5% está bom. Na segunda metade do ano haverá indicação mais clara de que o crescimento está voltando. Se houver decisões necessárias para o investimento crescer e redução das despesas do governo, o país poderá construir as bases do crescimento contínuo.

      FRASE
      "O setor privado vive uma incerteza sobre a regulação em alguns segmentos. Toda semana o governo anuncia medidas e isso não ajuda a aumentar os investimentos"

        RAIO-X: ALBERT FISHLOW
        Idade
        77 anos
        Atuação
        É professor emérito na Universidade de Columbia (EUA); lecionou em Berkeley e em Yale e foi secretário-assistente de Estado para América Latina em 1975-1976; o seu mais recente livro é "O Novo Brasil" (2011)

          MOISÉS MENDES - A bermuda do Cachoeira

          Zero Hora 09/01/2013

          É um acinte o que o Carlinhos Cachoeira fez na Bahia. O bicheiro condenado a 39 anos de cadeia por formação de quadrilha, peculato e violação de sigilo, pode corromper políticos e empreiteiras e estar aí, curtindo o sol baiano num resort com diária de R$ 2 mil, porque assim é no Brasil. Mas não poderia usar aquela bermuda floral.

          Poderia até sair da cadeia, casar-se e passar a lua de mel bronzeado, comendo siri e sempre falando ao celular nas fotos. Mas deveria ter escolhido uma bermuda mais discreta.

          Mafiosos, em qualquer lugar, têm bons advogados e assessores de estilo. Não foi à toa que Cachoeira apareceu ao lado da mulher para ser fotografado com a bermuda escandalosamente colorida na Península de Maraú. Ele quis nos afrontar.

          Cachoeira não terá nunca o bom gosto dos chefões italianos, os capos que inspiraram os homens a se vestir bem. Um capo legítimo nunca usaria uma bermuda como aquela do Cachoeira.

          Os bandidos italianos só usam grife. No ano passado, houve uma rebelião num presídio em que a administradora proibiu roupas de marca. Foi na cadeia de Ucciardone, em Palermo, famosa por acolher mafiosos.

          Acredite: os presos ricos de Ucciardone vestiam Versace, Valentino, Armani, Gucci. A cadeia ficou tão afamada, que passou a se chamar Grande Hotel. Ali foi feita até a festa de casamento milionária da filha de um mafioso.

          Depois da proibição, a mulher de um preso, barrada na porta com uma mala de jeans Trussardi, disse que preferia ver o marido andando nu pelas celas a submetê-lo ao vexame de usar calças vagabundas. Mas a diretora foi dura. Os presos de Ucciardone deixaram até de usar roupas de cama Navigare.

          A máfia brasileira, principalmente essa que corrompe em Brasília, tem muito o que aprender para chegar perto do estilo de um bandido fino italiano.

          Quem nasceu para ganhar muito dinheiro a qualquer custo, para corromper quem bem entende, pagar bons advogados, ser condenado e ganhar alvarás de soltura a qualquer momento, mas mesmo assim ainda usa bermudas terrivelmente florais, nunca será um capo legítimo.

          Por isso, um bicheiro será no máximo um Cachoeira. Nunca será um Carlinhos Cataratas do Iguaçu. Há uma chinelagem explícita na corrupção brasileira.

          Os mafiosos italianos têm roupas e também nomes de grife e ficam mais chiques se vão morar em Nova York. Pronuncie em voz alta o nome deste capo ítalo-greco-americano: Vincent Vinny Gorgeous Basciano.

          Os corruptos do Brasil não precisam se esforçar para ser deliberadamente bagaceiros, nos gestos, nas palavras (as falas captadas nos grampos são reveladoras) e nas bermudas.

          Cachoeira poderia ser fino se tivesse feito um estágio em Ucciardone. Mas foi parar por um tempo logo no Presídio da Papuda. Até os nomes das nossas cadeias não ajudam.

          MARTHA MEDEIROS - Ideia de jerico

          Zero Hora - 09/01/2013

          Semanas atrás, Zero Hora publicou uma matéria sobre um recém-lançado dicionário de palavras mortas, a exemplo de “boco-moco” e “sirigaita”. Em 1997, escrevi uma crônica intitulada Grande África que tratava desse mesmo assunto divertido.

          Adoro vocabulário vintage, e eu incluiria a expressão “ideia de jerico” entre as que sobreviveram, mesmo cheirando a naftalina. Pelo menos foi ela que me veio à cabeça quando soube que tem alguém tentando promover um projeto de lei popular que decretaria visibilidade zero para cigarros e bebidas, em qualquer mídia, em qualquer lugar – restrição absoluta, tanto visual quanto auditiva. Seria como se bebida e cigarro tivessem deixado de existir.

          Ideia de jerico.

          Se for uma proposta xiita como parece, revistas de viagens teriam que ter algumas fotos vetadas: não poderiam, por exemplo, mostrar imagens da La Bodeguita del Medio, em Havana, com suas garrafas de rum nas prateleiras. Aliás, os livros de Hemingway, Bukowski e outros beberrões teriam que deixar de ser reeditados ou sofrer censura, pois poderiam ser cúmplices da tal “visibilidade” – a simples menção de uma palavra como uísque poderia estimular o vício do leitor.

          Quadros representando a Santa Ceia teriam que ser retirados das igrejas e dos sacrossantos lares, pois é sabido que Jesus não tomava Coca-Cola. Aliás, a missa também teria que se adaptar ao projeto de lei. Repartir o pão, tudo bem, mas vinho, sem chance.

          Na hipótese de recebermos uma mostra de quadros impressionistas, o Absinto, de Degas, ficaria proibido de ser exposto. A imagem de Rita Hayworth como Gilda só circularia no mercado negro. O filme Sobre Café e Cigarros, de Jim Jarmusch, e Obrigada por Fumar, de Jason Reitman, seriam retirados das locadoras. A série Mad Man sofreria sanções inimagináveis.

          Capas de livros. Camisetas. Cartazes de filmes. Fotos de moda. Textos de teatro. Biografias. Tudo o que fizesse menção ao tabagismo ou ao álcool, fogueira neles. Inquisição, o Retorno.

          Sem falar na música popular brasileira. Cálice, de Chico Buarque, Chuva, Suor e Cerveja, de Caetano Veloso, e Brasil, de Cazuza, nunca mais tocariam nas rádios, assim como uma série de canções de Nana Caymmi, Zeca Baleiro, Luiz Gonzaga, Maria Bethânia, Ney Matogrosso – até Roberto Carlos já falou em cigarro em uma de suas letras, acredite. E todas as duplas sertanejas seriam banidas da face da terra. O que, pensando bem... deixa pra lá.

          O politicamente correto tem um pé na boa intenção e outro pé na repressão à liberdade. Costumo ser defensora acirrada da ética, mas não contem comigo para dar trela aos excessivamente bonzinhos, que pretendem higienizar o universo com medidas estapafúrdias que, espero, nunca serão levadas a sério. Se começarem a restringir a arte e a livre expressão, zzzzzzzzz, o tédio dominará o mundo e colocará todos para dormir mais cedo.

          Alexandre Schwartsman

          FOLHA DE SÃO PAULO

          Operação Chacrinha
          Não sei a quem o governo quer enganar; qualquer analista experiente consegue identificar a macumba fiscal
          É chato, eu sei, e já me desculpo aos 18 leitores por voltar ao tema, mas, como o governo insiste em repetir os mesmos erros, tenho que comentá-los. Em nome dos 18, aproveito para deixar meu apelo por erros novos, por favor.
          Feito o pedido, ao trabalho. Soubemos na semana passada, mesmo antes da divulgação oficial dos números de dezembro, que naquele mês o governo lançou mão não de uma, mas de várias manobras contábeis para garantir, formalmente, o cumprimento da meta fiscal, cerca de R$ 140 bilhões (3,1% do PIB), definida pelo próprio Executivo.
          Pelo que foi noticiado, a Caixa Econômica Federal e o BNDES anteciparam dividendos para o Tesouro, num valor próximo de R$ 7 bilhões (devidamente financiados... pelo Tesouro!).
          Além disso, o governo teria sacado também cerca de R$ 12 bilhões do Fundo Soberano (parte em ações da Petrobras, vendidas... ao BNDES!).
          Caso o raro leitor tenha ficado confuso, não se apoquente: isso foi feito para confundir (não para explicar) e, no final das contas, não faz a menor diferença, pois são todas transações entre os diversos bolsos de um mesmo governo, com o intuito de obscurecer o óbvio, a saber, que, apesar das promessas, o governo ficou muito longe da meta.
          Há duas ordens de consequências. A mais óbvia é que, apesar da Operação Chacrinha, não há como fugir do fato de que a política fiscal foi bem mais expansionista do que normalmente presumido, em particular pelo Banco Central, que, ainda em dezembro, baseava suas projeções na suposição de que o superavit primário atingiria "em torno de 3,1% do PIB".
          Talvez ainda haja alguém no governo que vá defender essa posição como uma estratégia anticíclica, isto é, uma política mais expansiva em anos de baixo crescimento, a ser compensada por uma política mais restritiva em anos de crescimento mais forte.
          Exceto, é claro, que tal compensação nunca ocorre, senão como explicar o crescimento persistente das despesas federais, de 14% do PIB em 1997 para mais de 18% do PIB ano passado?
          No curto prazo, isso significa inflação mais alta, ainda mais dado o descaso do Banco Central. Não é por acidente, portanto, que a inflação permaneça teimosamente há três anos acima da meta e deva continuar assim até onde a vista alcança.
          A médio e longo prazo, porém, além da questão inflacionária, também o crescimento é afetado. O gasto adicional não foi direcionado ao investimento, que continua insuficiente, mas à despesa corrente.
          Além de tal gasto tipicamente não se traduzir em elevação do potencial de crescimento do país, ele sofre o inconveniente de ser praticamente impossível de ser reduzido, sugerindo que, para fazer espaço no Orçamento dos próximos anos, o investimento federal se tornará ainda mais escasso.
          Por fim, a contrapartida do gasto mais alto são tributos mais pesados, cujo impacto sobre o crescimento não é apenas óbvio mas principalmente negativo.
          Já a segunda ordem de consequências é mais sutil, embora não menos importante. Ao longo dos últimos anos, o governo tem abusado de manobras contábeis como as empregadas no fim do ano passado, de dividendos extraordinários de empresas estatais à aquisição das reservas de petróleo pela Petrobras (em troca de ações, não de dinheiro), passando pelas operações com o BNDES e outras feitiçarias.
          Não sei, sinceramente, a quem o governo quer enganar. Talvez a si próprio, pois qualquer analista com um tanto de experiência consegue identificar a macumba fiscal, ainda que alguns, talvez por dever de ofício, omitam-se valentemente da tarefa de denunciá-la.
          De qualquer forma, isso só serve para acrescer à perda de credibilidade das instituições. Não bastasse o Banco Central fazer letra morta do regime de metas para a inflação, temos agora o Tesouro cuidadosamente rasgando a Lei de Responsabilidade Fiscal.
          Estamos, é verdade, ainda longe do ponto em que isso se tornará um problema patológico, mas já na estrada que leva para lá.

            Quadrinhos

            FOLHA DE SÃO PAULO

            CHICLETE COM BANANA      ANGELI

            ANGELI
            PIRATAS DO TIETÊ      LAERTE

            LAERTE
            DAIQUIRI      CACO GALHARDO

            CACO GALHARDO
            NÍQUEL NÁUSEA      FERNANDO GONSALES

            FERNANDO GONSALES
            MUNDO MONSTRO      ADÃO ITURRUSGARAI

            ADÃO ITURRUSGARAI
            BIFALAND, A CIDADE MALDITA      ALLAN SIEBER
            ALLAN SIEBER
            MALVADOS      ANDRÉ DAHMER

            ANDRÉ DAHMER
            GARFIELD      JIM DAVIS

            JIM DAVIS

            Haddad pede 'trégua' a grupos sem-teto

            FOLHA DE SÃO PAULO

            Em reunião com líderes do movimento, prefeito pede ponderação e diz que administração está aberta ao diálogo
            Em oito dias, petista enfrenta duas invasões no centro, uma delas no prédio prometido para o Instituto Lula
            DE SÃO PAULO
            O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), se reuniu ontem com dirigentes de movimentos de sem-teto e pediu trégua nas ocupações de edifícios na cidade.
            Haddad assumiu na semana passada e já assistiu a um protesto de sem-teto e duas invasões de prédios desocupados na região central.
            As ocupações foram na madrugada de anteontem. Um dos prédios, na cracolândia, está prometido pela prefeitura para o Instituto Lula, que pretende construir ali um memorial à democracia.
            Segundo a prefeitura, pelo menos 20 prédios estão ocupados na cidade.
            Haddad não usou a palavra trégua, mas deixou claro que o diálogo com a prefeitura está aberto, não havendo necessidade de pressão.
            "Eu pedi a ponderação do movimento, porque o diálogo está aberto. Estamos sob uma nova administração. Primeiro movimento organizado que eu recebo é o movimento de habitação. Quero crer que eles vão saber reconhecer esse gesto simbólico como uma porta aberta permanentemente", disse.
            Os líderes dos sem-teto não se comprometeram a suspender as ocupações, mas disseram que não estão colocando Haddad "na parede".
            "As ocupações vão continuar ocorrendo. As áreas que não cumprem a função social da propriedade nós temos que fazer com que cumpram", afirmou Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, dirigente da CMP (Central de Movimentos Populares).
            Para o prefeito, sua promessa de campanha de construir 55 mil casas populares na cidade em quatro anos de mandato e a garantia que os movimentos de moradia têm de que a prefeitura está trabalhando para isso "vai pacificar os espíritos".
            PROPOSTA VETADA
            Por outro lado, Haddad rejeitou uma das principais reivindicações dos líderes que participaram da reunião.
            Eles queriam que 25 mil das 55 mil casas prometidas para a atual gestão fossem destinadas aos sem-teto.
            Haddad afirmou que não vai "segmentar" a promessa que fez durante a campanha.
            "Tenho de usar os instrumentos disponíveis e procurar atender, da melhor maneira possível, a população organizada, mas também aqueles que estão desorganizados", afirmou Haddad.
            Ele disse, no entanto, que vai ajudar os grupos a buscar recursos no governo federal para a construção de casas populares no programa chamado Minha Casa Minha Vida - Entidades, destinado a cooperativas e associações de moradores.

            Cai portaria que manda subprefeito andar 5 km
            Prefeitura extingue a exigência de vistoriar pessoalmente ruas da cidade todos os dias
            EVANDRO SPINELLIDE SÃO PAULONos últimos dois anos, os subprefeitos tinham uma missão diária: percorrer, com suas equipes, cinco quilômetros de ruas em suas áreas, anotar problemas, como árvore caída e boca de lobo entupida, e mandar resolvê-los.
            Era norma oficial, com portaria publicada no "Diário Oficial" da cidade e tudo.
            Para comprovar o cumprimento da regra, eles tinham de publicar no site da subprefeitura relatórios semanais sobre as ruas percorridas, os problemas encontrados e as soluções adotadas.
            "Essa rigidez da norma fixa e burocrática lembra a disciplina militar", diz Fernando Azevedo, cientista político ligado à UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
            Não é à toa: na maior parte dos últimos dois anos, 30 dos 31 subprefeitos paulistanos eram coronéis aposentados da Polícia Militar.
            Uma das primeiras medidas de Fernando Haddad (PT) na prefeitura foi exonerar os militares. Ontem, foi-se embora o último resquício deles: subprefeitos não precisam mais percorrer os cinco quilômetros diários.
            Portaria do secretário das Subprefeituras, Chico Macena, revogou o ato. Segundo a prefeitura, não há necessidade de regulamentar atividades de vistoria porque isso já faz parte da atribuições do subprefeito. E eles continuam obrigados a fazer vistorias e dar publicidade a isso.
            Azevedo diz que a revogação da portaria não acarreta prejuízo à cidade, mas é preciso acompanhar as subprefeituras para saber se os problemas serão resolvidos. Para ele, a promessa de Haddad de dar mais autonomia às subprefeituras é positiva.

              Inglês para prostitutas segue onda masoquista - Sandra Kiefer‏

              DE OLHO NA COPA » Aula de inglês atrai 80 prostitutas em BH 


              Sandra Kiefer
              Estado de Minas: 09/01/2013 
              Recém-chegada à atividade, Bruna não abre mão do dicionário



              To whip é chicotear, na tradução simples do inglês para o português. Na onda do maior best-seller dos últimos tempos, Cinquenta tons de cinza, este é um dos termos obrigatórios a ser ensinados no curso básico de inglês para prostitutas, com vistas à Copa do Mundo de 2014, previsto para começar em fevereiro na sede da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig). Apesar de já contar com 80 candidatas inscritas, a data ainda não é certa em função da seleção de professores, que devem estar preparados para adaptar ao idioma tupiniquim todos os tipos de fetiches, segundo explica Cida Vieira, presidente da entidade, que está localizada na Rua Guaicurus, 268, ao lado do Hotel Brilhante, um dos pontos de maior rotatividade de clientes do Centro de Belo Horizonte, região onde está sendo erguido o maior hotel voltado para o Mundial do ano que vem.

              Para dar aula na Aprosmig, o(a) professor(a) deve estar preparado(a) para oferecer um pequeno dicionário dos termos em voga entre as meninas da Guaicurus, tais como pedolatria (loucura por pés), banho de neve (pingar vela sobre o corpo do cliente) e variações de submissão. “A modalidade de escravo é muito requisitada. Os clientes pedem que a gente pise no pescoço deles e eles adoram”, conta Cida Vieira, que ainda não leu a trilogia famosa. “Não tive tempo, mas já me contaram do que se trata”, diz ela, que oferece o programa com fetiche a R$ 150, cinco vezes mais em relação ao trivial de R$ 30, com duração de 20 minutos. 

               “Só sei falar money, good morning e good evening em inglês. Vou ser uma das alunas do curso”, admite a presidente da entidade, vacilando na pronúncia do boa-noite. Para Cida Vieira, assim como todos os setores da economia estão se movimentando para a Copa do Mundo de 2014, não poderia ser diferente com as profissionais do sexo. “O inglês é importante não só para a Copa, mas também para a vida. Todos os dias atendemos aqui italianos. Também já recebi canadenses. Na nossa profissão, o diálogo é essencial”, conta. 

              “Quem tem boca vai a Roma”, reza o antigo ditado. E vai também à Espanha, Estados Unidos, Austrália e Portugal. “Permita-me unas copas?”, arrisca um portunhol a loura Patrícia, de 47 anos, natural do Rio Grande do Sul, mas que trabalha na Guaicurus desde os 18. Já conheceu parte do mundo com o dinheiro arrecadado nos programas e sabe “se virar” em diversas línguas. “Sei falar bem o português de Portugal, porque morei dois anos por lá. Arrebentei ganhando R$ 100 mil em um bingo e fui ficando. 

              NOVATA Do alto de sua experiência, Patrícia pretende se aposentar no ano da Copa no Brasil. “Vai ser muita encheção de saco, vai dar muita polícia”, questiona. Já a colega Bruna, de 18 anos, está entusiasmada com os novos mundos que podem se abrir com a chegada do Mundial. “Os estrangeiros devem ser mais educados que os brasileiros, devem tratar a gente melhor”, confessa a menina, que ainda não completou um mês na nova carreira. Com segundo grau completo, ela conta que gosta de estudar e tem facilidade de aprender. Entrou nesta vida porque tem duas filhas para sustentar, uma de 2 anos e outra de 8 meses. “Meu sonho é conhecer um japonês e me apaixonar”, revela.

              Velha de guerra, Daniela já se inscreveu no curso de inglês oferecido pela entidade de classe. Com os cabelos longos e negros, pele cor de canela, ela se comunica por meio da internet com um irmão na Itália, um amigo nos EUA e quatro amigos virtuais na Turquia. De certa forma, sabe trocar palavras em turco, que vai traduzindo pela ferramenta de tradução do Google. Ti voglio bene, comprova ela, tímida, mostrando na prática o que disse a ela recentemente a sobrinha de 2 anos, que mora na Itália.

              Aguardar por resgate adequado é mais seguro para o paciente

              FOLHA DE SÃO PAULO

              ANÁLISE
              FLORENTINO CARDOSOESPECIAL PARA A FOLHAA decisão de que a remoção e a condução de vítimas graves ao hospital seja feita pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) -e não mais por policiais do Estado- certamente visa à proteção dos pacientes.
              Não é possível avaliar, ainda, como ou quanto isso impactará os já frequentes chamados ao Samu. No entanto, deve-se destacar que em muitas ocasiões, aguardar alguns minutos a mais para garantir o manuseio adequado de vítimas pode ser o melhor para a segurança dessa pessoa.
              Caso contrário, a remoção ou eventuais manobras de reanimação por pessoal não qualificado pode agravar ainda mais o quadro existente.
              Um exemplo infelizmente comum é a queda de altura elevada, como uma laje. A boa vontade de uma pessoa não qualificada pode causar dano ainda maior do que o acidente, como uma lesão raquimedular irreversível.
              Porém, se esse mesmo acidentado tiver médico ou pessoal capacitado para o atendimento pré-hospitalar, utilizará equipamentos de segurança, como coletes, prancha, imobilização e outros suportes de vida para remoção adequada, aumentando as chances de desfecho favorável.
              Assim, queremos que o Samu possa se reorganizar rapidamente para suprir a mais esta demanda com a mesma rapidez, eficiência e precisão.

                Veto a socorro de vítimas de crimes abre crise com PMs
                Decisão do Estado é vista como 'desgaste' para imagem da corporação; agora, Samu é que deve ser acionado
                Associação de PMs ameaça ir à Justiça; objetivo da pasta é evitar alteração na cena do crime e acobertamentos
                DE SÃO PAULOA decisão do novo secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira, de proibir que policiais militares socorram vítimas com ferimentos graves abriu uma crise entre os PMs. A resolução, antecipada pela Folha, passou a valer ontem.
                Uma das intenções da resolução é evitar que policiais alterem a cena de um crime, de modo a acobertá-lo.
                Representante dos PMs na Assembleia, o major reformado Olímpio Gomes, e a associação dos PMs portadores de deficiência dizem que vão tentar revogar a norma.
                "A mensagem que o governo dá é a de que não confia na polícia", diz o major, deputado estadual pelo PDT.
                Segundo ele, o governo Geraldo Alckmin (PSDB), para combater maus policiais, põe sob suspeita toda a PM -há casos de mortes de vítimas socorridos por policiais em que os PMs são investigados.
                Olímpio irá propor um projeto que anule a norma. Alckmin, porém, tem maioria na Casa. Já a associação ameaça ir à Justiça. "A decisão é absurda, parece que foi tomada por quem desconhece a atividade policial", diz a entidade.
                PMs, sob a condição de anonimato, disseram ser treinados para prestar socorro e que a medida prejudica a imagem deles junto à população.
                Agora, o policial passa a ser obrigado a informar ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), mesmo que tenha participado da ocorrência. Isso vale para crimes como homicídio, tentativa de homicídio e lesão corporal grave.
                SUSPEITA
                Além de preservar a cena do crime, a iniciativa pretende assegurar o atendimento às vítimas por profissionais habilitados, como médicos e socorristas. A medida é elogiada por especialistas.
                Para o comandante da PM na capital, coronel Marcos Chaves a medida dará maior transparência à ação policial.
                "Hoje, quando há confronto, o policial já é visto com suspeita. Não se sabe se ele socorreu mesmo, se alterou a cena do crime. Com a proibição, a suspeita contra o PM vai cair."
                Sob a condição de anonimato, dois comandantes de batalhões da PM disseram temer que o número de vítimas aumente porque o socorro poderá demorar mais do que hoje.
                Um deles disse que em cidades menores o Samu não é tão eficiente e os PMs serão obrigados a descumprir a regra.
                Ex-comandante da PM entre 2009 e 2012 e vereador do PSD, Álvaro Camillo revelou o mesmo temor, embora apoie o atendimento por especialistas.
                "O que preocupa é um policial deixar de socorrer, ficar em dúvida, e uma vida se perder."
                O Samu diz que atende 96% dos casos em até dez minutos e que a nova demanda não será problema.
                Capitão reformado da PM e vereador pelo PTB, Conte Lopes diz que, com a medida, parece que "só o PM erra".
                Para o criminalista Leopoldo Louveira, se a vítima morrer, o policial e o Estado podem ser responsabilizados por omissão de socorro.
                Não fica claro na norma se o policial, mediante orientação telefônica do Samu enquanto a ambulância não chega, poderá intervir para ajudar um ferido.

                  Cada Estado define regras para atuação dos policiais
                  DE SÃO PAULONão existe uma norma única sobre o atendimento de vítimas no Brasil. Cabe a cada Estado definir como isso deve ser realizado.
                  No Rio, por exemplo, a norma é acionar os bombeiros, mas o policial tem autonomia para atender a vítima se o socorro não puder chegar.
                  Na Bahia, a orientação é para que os policiais militares prestem socorro aos feridos, mesmo que eles tenham sido alvo de ações da própria polícia.
                  Minas também permite a atuação dos policiais.
                  Já no Rio Grande do Sul, a ordem é que seja chamado o Samu. No Paraná, segundo a PM, policiais só atuam no socorro em casos "muito excepcionais".

                    Médicos afirmam que decisão é correta
                    DE SÃO PAULOA proibição de que a polícia socorra vítimas de crimes é apoiada por médicos. Para eles, mesmo que o atendimento demore mais, é preferível e mais seguro que isso seja feito por especialistas.
                    Para Frederico Arnaud, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Emergência, pessoas feridas precisam de atendimento médico e de remoção adequada.
                    Tanto o Samu como o resgate dos Bombeiros contam com profissionais da área médica.
                    "Existe diferença entre transporte e atendimento. Não é só colocar a pessoa no carro e levar para o hospital. Isso precisa ser feito com orientação médica", afirma.
                    Segundo Arnaud, o profissional do Samu pode orientar por telefone quem estiver próximo da vítima sobre o que pode ser feito enquanto a ambulância não chega.
                    Antonio Onimaru, secretário-geral da Sbait (Sociedade Brasileira de Atendimento Integrado ao Traumatizado), diz que as ambulâncias do serviço podem levar os feridos para hospitais adequados a cada situação.
                    "O atendimento da PM se resume a colocar o ferido na viatura e levar para o hospital mais próximo. Depois, o hospital não tem estrutura para o caso e é preciso remover", diz Luiz Carlos Wilke, coordenador do Samu de São Paulo.
                    Segundo ele, com 140 ambulâncias e 100 bases (38 móveis), o serviço tem estrutura para atender os casos que a PM deixará de socorrer.

                      FERNANDO BRANT » Saudades do Vera Cruz‏

                      O descaso dos vários administradores levaram à ruína um meio de transporte seguro e eficiente 

                      Estado de Minas: 09/01/2013 
                      fernandobrant@hotmail.com

                      Recebo, por e-mail, um filme antigo do governo chamado Condenado pelo progresso. Uma insossa cantilena, com imagens de uma ferrovia quase abandonada, querendo justificar que o desenvolvimento do país não combinava com as estradas de ferro. Quanta mentira já se usou para justificar o injustificável.

                      O descaso dos vários administradores levou à ruína um meio de transporte seguro e eficiente transformado em perigoso e antieconômico. Objetivo da peroração oficial era levar os brasileiros, da época, a concordar com a sentença de morte para mais de 4 mil quilômetros ferroviários.

                      Houve um tempo em que eu e meus amigos só viajávamos de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro no confortável Vera Cruz. Deixávamos as bagagens na cabine e íamos para o carro-restaurante, onde comíamos e bebíamos a alegria e a amizade.
                      Eram os primeiros anos do regime militar e algumas vezes cheguei a discordar de burocratas da empresa estatal que comandava aquele transporte. Queriam me convencer da inviabilidade econômica do trem. Boas eram as rodovias, que não traziam prejuízo. “Mas como não?”, argumentava. Por acaso elas dão lucro? Pois todas elas eram construídas pelo Estado, custavam caro e necessitavam de constante manutenção. Fortunas do tesouro justificáveis pelo serviço que prestavam. Mas, em termos de dinheiro direto, não davam retorno.

                      Eram tempos autoritários e estatizantes e nem se cogitava, em nossas terras brasis, aventar a hipótese de privatizações, de transferir a estrutura cara para a iniciativa privada. Tempos de Brasil grande e grandes obras feitas com o dinheiro de todos nós. Havia privatização sim, mas dos lucros para as grandes empreiteiras contratadas para realizar os sonhos imperiais dos generais.
                      Modernizar as ferrovias, dando-lhes condições de competir com os transportes rodoviários, não passava pela cabeça dos poderosos da época. O Brasil potência que eles imaginavam não comportava essas ninharias, essas pequenas coisas que fazem a vida da gente comum. Acabaram com os pequenos ramais em todo o nosso território e passaram a investir em projetos faraônicos, como a Ferrovia do Aço, que gastou o que a nação não tinha e com promessa de inauguração sempre adiada e jamais cumprida. Ficaram os esqueletos. E a Transamazônica, que desastre!

                      O fascínio pelo Brasil potência parece ter renascido. Nem vou falar da transposição do São Francisco, cada vez mais cara e que parece nunca vai ficar pronta e produzir o que se promete e muitos duvidam que virá.

                      O delírio do milagre de pastel de vento que foram os governos militares volta na forma de um trem-bala perdido que prometem atirar em nossas cabeças, projeto que não anda a não ser no que se refere ao aumento do orçamento estimado. Entre esse e trens urbanos para as metrópoles, a escolha racional é indiscutível. Tenho muita saudade do Vera Cruz e nenhuma da Ferrovia do Aço.