quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Democracia e Código Penal



 Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, Luiz Flávio Gomes e Luiza Nagib Eluf

TENDÊNCIAS/DEBATES

Democracia e Código Penal

O projeto não é a lei pronta. Ele tem de ser discutido. Mas não há como concordar com quem afirma que a sua tramitação é arbitrária ou antidemocrática

O Código Penal brasileiro de 1940 foi feito em plena ditadura (Estado Novo). Suas reformas foram também realizadas em épocas de ditadura: 1969 e 1984. Comissões de reforma constituídas após 1988, integradas por juristas como Miguel Reale Júnior, Juarez Tavares e René Ariel Dotti, malograram.

Este fracasso ajuda a explicar porque a sociedade brasileira de 2012 continua regida principalmente por uma lei penal de 1940.

A esperança de uma reforma penal democrática ressurgiu com a proposta do senador Pedro Taques de criar uma comissão de juristas para elaborar um anteprojeto de novo Código Penal.
Isso foi feito: juízes, promotores de justiça, defensores públicos, professores, advogados, procuradores da república e consultores legislativos a compuseram.

A comissão, em trabalho incansável e aberto, transmitido pela TV Senado e divulgado pelos meios de comunicação, terminou suas atividades em sete meses.

Realizou audiências públicas e seminários em várias capitais do Brasil, recebeu mais de 6.000 sugestões de cidadãos brasileiros e dezenas de notas e comunicados das mais diversas instituições da sociedade civil. Ao leitor da Folha, essa explicação nem seria necessária: este jornal noticiou, meses a fio, todas as discussões e deliberações a que se chegou.

O anteprojeto se transformou no projeto de lei 236/2012. Foi constituída uma comissão de senadores para examiná-lo, sob a presidência do senador Eunício Oliveira, que também preside a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Abriu-se oportunidade para recebimento de sugestões e críticas, foram realizadas novas audiências públicas e, estamos confiantes, o mais amplo espaço será dado para esta importante discussão.

As críticas que o projeto tem recebido são legítimas e naturais. A comissão de juristas entendeu que era seu dever oferecer soluções para questões muito controvertidas, imprimindo a elas um caráter liberal.
Os exames críticos não são de idêntico teor. Ao revés, tendem a ser mutuamente excludentes. Para alguns, há penas demais no anteprojeto; para outros, de menos. Feito por um colegiado, com diversas visões penalísticas, estas valorações distintas eram esperadas.

Um projeto não é a lei pronta. É instrumento para sua discussão. Somos pelo mais abrangente, aberto e transparente debate, pois só isto convém à democracia.

Não se pode concordar com afirmações, porém, de que a tramitação do novo código é arbitrária ou ofende valores democráticos, como defendeu texto publicado nesta seção no dia 4/10 ("Por um Código Penal democrático", de Miguel Reale Júnior, Renato de Mello Jorge Silveira, Roberto Livianu e Fernando Figueiredo Bartoletti).

Tais assertivas desvalorizam o Senado Federal e seu modo de funcionamento, bem como o princípio da soberania popular, que é lastro do Estado democrático de Direito: "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente...". Os parlamentares que estão analisando o projeto estão legitimados a tanto pelo voto popular.

Ao pretender que o Senado abra mão de seu papel constitucional e nem sequer examine o projeto, o que se almeja, na verdade, é alijar autoritariamente a cidadania brasileira da discussão. Isto não pode ser: não há democracia sem representação popular. O Congresso Nacional é que deve ser o árbitro das tensões suscitadas pela reforma penal.

O projeto bate forte na corrupção, corrige insuficiências da atual parte geral -como o falho conceito de dolo eventual- e oferece soluções avançadas em temas como crimes de trânsito, terrorismo, crime cibernéticos, crimes contra direitos humanos e outros.

Da reforma de 1984 para cá, mais de um milhão de pessoas foram assassinadas intencionalmente no Brasil, o 20º país mais violento do mundo. Está na hora de aprimorar a lei penal. Para isso, convidamos toda a comunidade brasileira a participar.


LUIZ CARLOS DOS SANTOS GONÇALVES, 48, é relator-geral da Comissão da Reforma Penal e procurador-regional da República.

LUIZ FLÁVIO GOMES, 55, doutor em direito penal, fundou a rede de ensino LFG. Foi promotor de justiça, juiz e advogado. É membro da Comissão de Reforma do Código Penal

LUIZA NAGIB ELUF, 57, é procuradora de Justiça do Ministério Público de São Paulo e membro da Comissão de Reforma do Código Penal 

Matias Spektor - Colombianas


 Matias Spektor
Colombianas

Agora que há um plano de paz, talvez seja inteligente o Brasil recebê-lo de frente, com a mão estendida
O Brasil nunca engoliu o Plano Colômbia, iniciado há 12 anos.

Brasília negou pedidos colombianos de cooperação, recusou-se a tratar grupos insurgentes como "organizações terroristas" e denunciou a presença militar norte-americana.

Também rejeitou propostas de atuação multilateral. Quando membros das Farc violaram o território brasileiro, foram expulsos a bala em operações silenciosas e unilaterais.

O governo colombiano seguiu em frente. No processo, derrubou as taxas de homicídios e de sequestros. Desmobilizou 30 mil paramilitares de direita e reduziu as Farc à metade de seu tamanho original.

Pela primeira vez em uma geração, o governo passou a controlar quase todo o território do país.

Houve horrores. Entre 3 milhões e 4 milhões de colombianos abandonaram suas cidades de origem, criando enorme desafio humanitário. As violações de direitos humanos foram estarrecedoras, assim como a promiscuidade entre narcotráfico, insurgência e partidos políticos.

Desenhado em parte para eliminar o tráfico de drogas, o plano foi um fracasso: não apenas a Colômbia continua sendo o principal produtor da cocaína consumida nos EUA como a mercadoria ficou mais barata e de melhor qualidade.

É por isso que o governo colombiano iniciou um inédito processo de paz. O objetivo é desmobilizar a guerrilha para separar o tema da insurgência da questão do narcotráfico.

As autoridades contam para isso com bastante apoio popular, superioridade militar e a cooperação dos dois países que mais influenciam as Farc, Cuba e Venezuela.

Bogotá reconheceu que a parceria com os EUA chegou a um limite e deve ser dosada com melhores relações regionais e um modelo de conciliação no qual a guerrilha seja parte interessada.

O governo também aceitou discutir reforma agrária e uma política de inclusão para guerrilheiros que depuserem as armas. Até abriu a possibilidade de rever sua vetusta e contraproducente política antidrogas.
Tudo isso deveria ser comemorado porque a conexão entre guerrilha e narcotráfico afeta o Brasil em cheio.
Dificulta o controle eficaz da fronteira, transforma o porto de Santos em rota de escoamento, traz instalações de refino de cocaína para o território nacional, financia campanhas políticas na Amazônia com dinheiro ilegal e contribui para um ambiente propício ao crime organizado.

Contudo, em Brasília, não houve ainda um gesto contundente de apoio ao processo de paz recém-iniciado. A guerra colombiana é o mais longo e perverso conflito de nossa vizinhança. A primeira tentativa de pacificação em mais de uma década demanda cuidados.

Há inúmeros meios de expressar apoio em foros multilaterais, em encontros bilaterais e por meio de uma inequívoca mensagem presidencial. Está passando da hora de fazê-lo no mais alto nível.

Quando a Colômbia iniciou seu plano de guerra, o Brasil deu-lhe as costas. Agora que há um plano de paz, talvez seja inteligente recebê-lo de frente, com a mão estendida.

Tostão - Outro futebol




 Tostão
Outro futebol

O futebol da seleção, contra o Japão, não tem nada a ver com o futebol que se joga no Brasil
Bela vitória e atuação do Brasil. O Japão facilitou. Quis marcar à frente e jogar como se fosse grande. O Brasil terá mais dificuldades contra fortes adversários e contra equipes médias, que marcam bem atrás para contra-atacar.

O futebol que se joga hoje nos campeonatos brasileiros, com excesso de faltas, chutões, jogadas aéreas e muito tumulto, não tem nada a ver com o futebol da seleção brasileira, com muita troca de passes, compacto, de contra-ataques, de marcação na frente, de volantes que atacam e defendem, sem um centroavante fixo e sem um meia de ligação, único responsável pela armação das jogadas. Os quatro mais adiantados são meias e atacantes. Os quatro dão passes e fazem gols.

Evidentemente, só teremos uma ótima seleção quando o time jogar bem, com regularidade e no mesmo nível das melhores seleções. Mas esse é o caminho. Infelizmente, na primeira má atuação e/ou derrota, vão pedir, por convicção e/ou para fazer média com torcedores de clubes, vários jogadores e mudanças no esquema tático. É óbvio que o Brasil tem de ter um bom e típico centroavante como opção.

Kaká confirmou, mais uma vez, pela movimentação, que só não é titular do Real Madrid porque há, na posição, outros excelentes jogadores. Ao lado de atacantes velozes, agressivos e que fazem gols, como Cristiano Ronaldo, Higuaín e Benzema, o técnico Mourinho prefere um típico armador (Özil) a um jogador veloz e com característica de atacante, como Kaká.

Pela primeira vez, estou com esperanças de o Brasil ter um ótimo time na Copa.

VENDERAM A ALMA

A única solução para acabar com o absurdo calendário, com jogos simultâneos da seleção e do Brasileirão, seria os clubes se negarem a entrar em campo. Isso não vai ocorrer, porque não têm coragem e porque já venderam até a alma.

Não há condição de se ter um bom campeonato com tantos erros, frequentes, graves e decisivos, dos árbitros e auxiliares. Mas é preciso separar o futebol virtual, com detalhes que só podem ser vistos pela TV, do real, com tantos erros grosseiros, que poderiam ser evitados. Temos de analisar o árbitro, e não o videoteipe. Nelson Rodrigues disse que o videoteipe é burro porque não tem nada a ver com a realidade, com a limitada visão humana.

Além da falta de competência técnica dos árbitros, é muito difícil apitar no Brasil, com tanto tumulto criado pelos jogadores e, no mínimo, com a omissão dos técnicos.
A CBF não faz nada. Ela só pensa na Copa do Mundo, na seleção e nos contratos comerciais.
Os clubes, marqueteiros e investidores, só pensam também no negócio. Iludem o torcedor, consumidor, ao anunciar jogadores bons como craques. Ninguém pensa na qualidade do espetáculo.

Televisão/Outro Canal





folha.com/outrocanal

Romance incestuoso vira especial na Record

Uma história de incesto é destaque entre os especiais de fim de ano da Record. O diretor Del Rangel, que entre 2001 e 2004 comandou a teledramaturgia da emissora, volta à rede como produtor independente, dirigindo um telefilme baseado em obra de Eça de Queiroz.

Trata-se de uma adaptação do romance "A Tragédia da Rua das Flores", uma história de incesto involuntário. A trama principal gira em torno da ambiciosa Joaquina (mais tarde conhecida por Genoveva), que abandona o filho ainda criança e parte para a vida de cortesã.

Depois de se envolver com vários homens ricos, a bela Genoveva se apaixona por um jovem de 23 anos, bacharel em direito, que ela não sabe ser seu próprio filho.

Fruto de uma parceria da produtora independente da Ink com a Record, o especial será adaptado pelo autor Marcelo Muller. Apesar de sofrer algumas adaptações, o tema principal da história, o incesto, não deve ser cortado da trama.

Del Rangel, que estava longe da TV havia um ano, quando deixou a direção de dramaturgia do SBT, iniciará as gravações do telefilme da Record no dia 1º de novembro.

O especial, de 45 minutos, terá incentivo fiscal da Agência Nacional do Cinema (Ancine) e deverá ser exibido em dezembro.


PASSAPORTE
Divulgação
Estreia hoje no GNT a nova temporada do "Chegadas e Partidas", de Astrid Fontenelle, agora em novo horário, às 20h30


Crise É grande a desmotivação em alguns setores da Record. Ainda mais depois que "Balacobaco", nova novela da emissora, estreou sem ajudar em nada o horário nobre da emissora.

Crise 2 Entre os profissionais da teledramaturgia da rede, a preocupação é de que os cortes de gastos tomem conta depois de mais uma novela sem sucesso.

Tesoura A RedeTV! deve enfrentar mais demissões a partir deste mês. Alguns diretores já levantaram nomes para novos cortes no canal.

Comercial A partir de novembro, a Fox vai duplicar o sinal dos seus canais: terá um nacional e um exclusivamente para a Grande São Paulo. A iniciativa tem em vista os anunciantes locais.

Venda O plano comercial de "Salve Jorge", próxima novela das 21h da Globo, chama a atenção para o aumento de público nesta faixa da rede nos últimos três anos: 14% de crescimento no share (participação no total de televisores ligados) na Grande São Paulo.

Venda 2 Segundo a Globo, em média, 3,3 milhões de paulistanos acompanharam por dia as novelas das 21h nos últimos três anos. No Brasil, essa média é de 38 milhões de telespectadores por dia.

Atrás Com audiência em baixa, a transmissão do GP EUA de F1, no dia 18 de novembro, corre o risco de ir ao ar gravado na Globo. A prova acontecerá no mesmo dia da antepenúltima rodada do Brasileirão, prioridade no canal. A rede diz que a grade de novembro ainda não está fechada.

Nina Horta - Tira, põe, deixa ficar!


 Nina Horta
Tira, põe, deixa ficar!

Uma cozinha experimental, sem egos, dando risada de si mesma, é sonho de todo mundo que quer aprender
Temos um cozinheiro novo, simpático, habilidoso com as facas e esforçado. É tão generoso que me deu um celular velho, no qual posso escutar os gritos da Carminha, bem baixinhos, nas festas onde estivermos.
Bem, fui mostrar a ele como saltear uns cubos de peito de frango à chinesa, para ficarem bem macios, e o rapaz quase morreu de ofensa. Juro, quase se demitiu! Começou a desenrolar a história da comida e das técnicas chinesas inventadas. Tudo ali, na hora, como se fosse um mandarim. Já o apelidei de China, e, me parece, depois de ter surtado, ele gostou do meu método de deixar o frango macio.

A primeira pergunta a um candidato a emprego de cozinheiro é se ele sabe cozinhar. Um truque, naturalmente, que aprendemos com o tempo. Se ele diz que "sim", nem precisa perguntar mais nada. É mudar para o próximo da fila. O bom cozinheiro sabe que nada sabe. A cozinha é um poço muito profundo.
Ai, que saudade, de bater um bom papo sobre comida, olhando o mesmo livro, serena, sem rivalidades, sem modas, sem pequenas mesquinharias de lado a lado, lendo por prazer, achando graça. E, por incrível que pareça, você só consegue fazer isso com um amigo, ou bom cozinheiro, ou alguém que vai se tornar uma grande cozinheiro.

Os pequenos lutam por seus espaços como cães de fila, parece que precisam saber de tudo, não dão o braço a torcer. A comida deles está sempre certa, é sempre melhor. Que canseira. A comida vai ficando, assim, como um estádio de futebol, com várias torcidas uniformizadas e até com hooligans, cruz-credo!
Já pensaram que alegria seria ter um laboratório como o do Rodrigo Oliveira, do Mocotó, e do Ferran Adrià? Lugar de acertar, mas de errar também, longe das vistas dos outros. Se eu tivesse um cantinho desses poria o nome de cozinha Caxangá. "Escravos de Jó jogavam caxangá. Tira, põe, deixa ficar! Guerreiros com guerreiros fazem zig, zig, zá!" Sonho de todo mundo que quer aprender, uma cozinha experimental, sem egos, sem palmas, sem choro nem ranger de dentes, sem soberba, humilde como só ela, perseguindo a perfeição, desanuviando o ambiente, dando risada de si mesma.

Adorei a explicação de um dos mais apreciados cozinheiros o mundo, Thomas Keller. Pensou e pensou como chegara àquele perfeccionismo culinário. Respondeu, sem fazer gênero: "Quer saber? Culpa da minha mãe. Não éramos ricos, e a minha tarefa em casa era limpar o banheiro. Só. Mas, o que eu brilhava aquele banheiro! Fui me aperfeiçoando, não deixava um canto sem escovar e brilhar. Foi ficando uma joia. E daí em diante tudo que eu pegasse como emprego era feito com a mesma disposição. Acabei na cozinha, mas imagino que qualquer outra coisa que fizesse espelharia aquela primeira tarefa".

Não tem jeito, temos de negociar as críticas, o trabalho do cozinheiro é sempre avaliado. Se ele é dono do restaurante, os críticos serão os clientes, não tem escapatória.

E para não chorar vamos nos comportar como os cronópios, dançando em roda, sem medo de sermos felizes. Nós, cozinheiros, eternos aprendizes.


ninahorta@uol.com.br
Leia o blog da colunista
ninahorta.blogfolha.com.br

Lixão extraordinário



Autores criam versões para o final da novela 'Avenida Brasil'

DE SÃO PAULO
"Avenida Brasil", da Globo, termina na sexta, com recordes de audiência e clima de Copa do Mundo. A bola da vez é o mistério sobre quem matou Max (Marcello Novaes). O diretor Ricardo Waddington avisa que seis finais serão gravados amanhã à noite. A pedido da Folha autores de TV, teatro, livro e filme imaginaram desfechos para a trama.

CINEASTA
Numa cajadada, Begônia se vinga de Max e ainda salva a irmã Nina


JOSÉ JOFFILY


ESPECIAL PARA A FOLHA

Begônia e Nina descobrem que o cara com quem a argentina transou era o Max. Descoberto, ele tripudia das irmãs. Begônia se esgueira pelo lixão, chega aonde está Max e dá uma paulada na irmã e outra nele.
Acode a irmã caída e, em seguida, baixa o porrete em Max. Enquanto bate, continuam as cenas dela sendo seduzida e ludibriada por ele.

Santiago prossegue com a investida incestuosa contra sua filha Carminha. Toca o telefone. Ela se livra do abraço do pai e atende. Do outro lado da linha, Jimmy. Carminha é derrubada pelo pai.

Nina e Jorginho vão partir para Los Angeles, mas, na escala em Campinas, um avião impede as decolagens.
O carro de Jimmy freia bruscamente diante da casa de Santiago. Impaciente, ele taca a mão na buzina.
A porta da casa se abre. Com a roupa rasgada, meio desnuda, Carminha foge do abraço libidinoso do pai com a ajuda de Jimmy. Enquanto vê o carro deles sumindo no horizonte, Santiago grita, enfurecido, impropérios.

JOSÉ JOFFILY, 66, é diretor de "Olhos Azuis" (2009), entre outros filmes.



NOVELISTA
Santiago elimina Max por causa de seu ciúme da filha, Carminha

TIAGO SANTIAGO



ESPECIAL PARA A FOLHA

Carminha vem por trás de Nina e a atinge com um golpe de enxada que a deixa desacordada. Carminha quer matar Nina, mas Max a impede. Os dois acabam brigando.

Neste momento chega Santiago e mata Max. Sobre o corpo dele, Santiago declara seu ódio, por ciúme obsessivo e doentio da própria filha. O pai de Carminha é, sem dúvida, o grande vilão da novela.

Carminha se desespera e lembra como o próprio pai a colocou na vida. Ela resolve então denunciar o próprio pai, odiado por Carminha por tudo que ele a fez sofrer.

Santiago abusou de Carminha e a levou à prostituição, como se pôde depreender subliminarmente das cenas exibidas na semana passada.

Em seguida, ela é julgada por seus crimes e acaba internada como louca perigosa, em um hospital psiquiátrico.

Nina é julgada e condenada por ter furtado o dinheiro de Tufão, que pagaria o falso sequestro de Carminha, e por falsidade ideológica. Ré primária, ganha o benefício de progressão de pena e fica em liberdade, para viver em paz seu amor com Jorginho.

TIAGO SANTIAGO, autor das três novelas da saga "Os Mutantes", exibida pela Record, trabalha atualmente no SBT.


ESCRITOR
Ágata mata os pais, Carminha e Max, por causa de maus-tratos

MARCELINO FREIRE

ESPECIAL PARA A FOLHA

Nada do Divino. Estamos é na Cidade de Deus. Descobrimos no último capítulo. Mais uma referência cinematográfica que João Emanuel Carneiro faz em sua novela. Desta vez ao cinema brasileiro. Explico: dá-se um close na cara do assassino do Max. Na verdade uma assassina: é a Ágata. Sim, a menina gordinha, humilhada pela mãe, a Carminha. Meu Cristo! Que pecado! Ela matou o próprio pai. Chamemos o juizado de menores. Ágata é a chefe de uma miniquadrilha.

Desde pequena que ela se organiza. Reúne as crianças do lixão. E as da ONGs que ficaram sem o dinheiro de caridade do Tufão. Elas resolveram contra-atacar pelos maus-tratos. Os descasos de um país que joga a infância ao lixo. Pagar-se-á, sim, com a mesma moeda. Nem adianta reclamar. O ódio acabará sendo recíproco. Carminha terminará no aterro, enterrada. Suplicando por socorro e nada. Ágata chamará a Nina para atirar a última pá por cima. Uma legião de meninos e meninas vingados, como na televisão nunca se viu.
MARCELINO FREIRE, 45, é autor de "Amar É Crime" (Edith) e criador da Balada Literária (www.baladaliteraria.zip.net).


DRAMATURGO
Traída e humilhada por Max, Ivana decide matar o marido

LUCCIANO MAZA



ESPECIAL PARA A FOLHA

Saltos altos se movem ao redor de onde Max está com Nina. Pertencem a Ivana e Muricy. A mulher traída chuta uma madeira que derruba o bandido. Ao mesmo tempo, sua mãe zelosa pega um cano pesado para se defender, mas, atrapalhada, acerta Nina.

Max: "A perua de chifres chegou com a peruona velha."
Muricy: "Alto lá!"

Ivana: "Deixa a gente a sós, mamãe, agora a conversa aqui é de marido e mulher."
Muricy deixa o local, passando por cima de Nina.

Ivana: "Por quê, Max? Eu sempre te dei tudo do bom e do melhor!"
Max: "E olha aonde todo o seu luxo te trouxe: pro lixo."

Desequilibrada, Ivana dá as costas e começa a sair, mas para diante de uma enxada.
Max: "Vai capinar, vai?"

Ivana, com voz de criança: "Hasta la vista, bebezão!"

O sangue de Max espirra no canto da boca da mulher, que sente pela última vez o gosto de seu homem. Larga a enxada, limpa seu rosto com um lenço umedecido e depois pinga gotinhas de floral em sua boca. A bordo de seus saltos, deixa a cena do crime.

LUCCIANO MAZA é autor das peças "A Memória dos Meninos" e "Três T3mpos".


José de Abreu se divide entre lixão e mensalão

Antes de morrer, personagem revela segredo de Santiago em 'Avenida Brasil'
Militante da esquerda, ator ouve piadas de adversários por causa do papel e fala de sua relação com José Dirceu


ALBERTO PEREIRA JR.
ENVIADA ESPECIAL AO RIO

José de Abreu, 66, acompanha com a mesma intensidade o desfecho de "Avenida Brasil" e a conclusão do julgamento do mensalão no STF (Supremo Tribunal Federal).

No caso do folhetim da Globo, que termina na sexta-feira, a morte de seu personagem, Nilo, que começaria a ser exibida no capítulo de ontem, não o elimina da lista de suspeitos do assassinato de Max (Marcello Novaes), seu próprio filho.

"A morte do Max será revelada em flashback. Ainda posso gravar a cena", disse o ator na última sexta, ao receber a Folhaem seu apartamento no Jardim Oceânico, no Rio, "que está sendo quitado em cem prestações".

O rei do lixão vai perder a vida vítima de uma overdose de ecstasy provocada por Santiago (Juca de Oliveira).

Antes, revelará no episódio de hoje a Nina (Débora Falabella) e Jorginho (Cauã Reymond) que foi Santiago e não Lucinda (Vera Holtz) quem matou a mãe de Carminha (Adriana Esteves).

"Fizemos algo incrível nessa novela, um lixão bonito e lúdico. A casa de Tufão [Murílio Benício] como uma Torre de Babel, onde todos falavam ao mesmo tempo. O João Emanuel Carneiro foi buscar isso em Charles Dickens [1812-1870]", diz ele, que viajou a Londres para pedir "a bênção" do autor de "Oliver Twist".
"Estou bastante feliz com o Nilo, é sem dúvida um dos meus melhores personagens, e sabia que iria ouvir as piadinhas da direita."

"Recentemente, um cara escreveu no Twitter: 'revelada a verdadeira personalidade de Zé de Abreu: um lixão'", diverte-se o ator, apelidado de Zé Windows por José Mayer, por ser entusiasta da internet no Brasil desde 1995.

Amigo pessoal de José Dirceu, condenado pelo Supremo por corrupção ativa no caso do mensalão, Abreu diz que esteve duas vezes com o ex-ministro antes de sua condenação.

"Nunca conversei com o Zé a respeito das denúncias. Acho que o PT fez o que sempre se fez. É errado? Sim! Mas fez o que sempre se fez", diz.

"O Supremo quer mudar a maneira de fazer política no Brasil. Ótimo, maravilha! Óbvio que tinha que começar com o PT. Então, agora, para ser condenado aqui, basta ser preto, puta, pobre e petista."
Segundo Abreu, foi uma coincidência a novela e o mensalão terminarem ao mesmo tempo. "Mas não foi coincidência o julgamento ser em época eleitoral."

Ele afirma já sentir saudades da equipe do folhetim. "O fim de um trabalho dá uma certa dor, porque você sabe que não consegue manter a amizade e o contato."

NA INTERNET
Leia a íntegra da entrevista
folha.com/no1169911


BOLSA DE APOSTAS

Ivete Sangalo, cantora: "Acho que quem matou Max foi Tufão, isso porque ele não pode terminar a novela como o maior 'otário' da trama"

Zeca Camargo, apresentador: "Há duas possibilidades: Nina, uma nova virada no jogo de 'vilã e mocinha', ou Tufão"

Sabrina Sato, apresentadora: "Foi a Carminha quem assassinou o Max, e o pai dela [Santiago] a está chantageando"

Alcides Nogueira, autor de novelas: "Foi o Santiago. Ele é contraditório e, por isso, ser o assassino fica verossímil, cabe em sua personalidade"

Ilana Casoy, especialista em criminologia: Max já estava ferido, provavelmente foi morto por Nilo, que o feriu fatalmente neste golpe

Helvécio Ratton, cineasta: "Para mim o assassino é o Jorginho. O motivo? Freud explicou há muito tempo: complexo de Édipo!"

Andrea Matarazzo (PSDB-SP), vereador eleito: "Janaína matou Max para defender o filho Lúcio, que seria assassinado pelo vilão"

Matheus Souza, cineasta: "Foi a Suelen. Não faz sentido na trama, mas daria um número maior de cenas para a Isis Valverde no final da novela"




Para aracnídeo, vale a pena ser pai solteiro


Machos que cuidam de ovos têm mais chances de copular com novas fêmeas, diz estudo
Gustavo Requena/Reprodução
Um macho da espécie Iporangaia pustulosa com ovos
Um macho da espécie Iporangaia pustulosa com ovos
DE SÃO PAULO

Os machos de uma espécie de aracnídeo da mata atlântica chegam a passar fome para cuidar dos bebês, mas compensam a vida dura com boas chances de sobrevivência e até um aumento de seu "sex appeal" para as fêmeas.
As informações estão num artigo na revista científica "PLoS ONE", cujo primeiro autor é Gustavo Requena, do Instituto de Biociências da USP. Requena e seus colegas estudaram o Iporangaia pustulosa, que é um opilião (parente das aranhas com patas mais finas e longas).
Os biólogos acompanharam centenas de opiliões numa área do parque estadual Intervales (SP). Os machos da espécie são encarregados de cuidar dos ovos, podendo ficar vários meses de guarda em torno da ninhada.
Esse esforço todo deixa os machos magrinhos, porque eles não conseguem procurar comida com frequência, mas sua taxa de sobrevivência ainda assim é boa, provavelmente porque, sem se mexer muito, não chamam tanto a atenção dos predadores.
E há indícios de que as fêmeas preferem os machos que já estão cuidando de ovos, porque isso indica que eles também cuidariam bem de novos ovos, diz reportagem no "New York Times".

Grupo acha gêmea da Terra 'na esquina'


Grupo acha gêmea da Terra 'na esquina'

O planeta, com quase a mesma massa que o nosso, está em Alfa Centauri, o conjunto estelar mais próximo do Sol
Distância é de 'apenas' 4,3 anos-luz do Sistema Solar; muito quente, astro não abrigaria vida, mas pode ter vizinhos

SALVADOR NOGUEIRA



COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

É provavelmente a notícia mais esperada desde que o primeiro planeta fora do Sistema Solar foi descoberto, em meados dos anos 1990. Finalmente foi encontrado um planeta que tem praticamente a mesma massa da Terra.
E a grande surpresa: ele fica ao redor de Alfa Centauri, o conjunto estelar mais próximo do Sol.
Diz-se conjunto porque estamos falando de um sistema trinário, ou seja, com três estrelas. O planeta, com 1,13 vez a massa da Terra, está orbitando Alfa Centauri B, ligeiramente menor e mais fria do que nossa estrela-mãe.
A má notícia é que esse mundo recém-descoberto não pode abrigar vida. Girando em torno de sua estrela uma vez a cada 3,2 dias (imagine um ano que dura três dias!), ele está muito perto do astro -deve ser um inferno.
Em compensação, o achado coroa uma longa busca por planetas em torno desse sistema próximo, localizado a 4,3 anos-luz de distância.
"É perto o suficiente para que os engenheiros pelo menos comecem a pensar numa forma de mandar uma sonda até lá", diz Eduardo Janot Pacheco, astrônomo do IAG-USP (Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP) que trabalha com planetas extrassolares, mas não esteve envolvido na atual pesquisa.
NO LIMITE
O achado foi feito no limite extremo da tecnologia da busca de planetas. O estudo foi encabeçado por Xavier Dumusque, do Observatório de Genebra, e faz parte dos esforços do grupo de Michel Mayor, pesquisador responsável pela descoberta do primeiro mundo extrassolar girando ao redor de uma estrela similar ao Sol, em 1995.
O instrumento capaz de detectar esse planeta é o Harps, instalado em La Silla (Chile), num telescópio de 3,6 metros pertencente ao ESO (Observatório Europeu do Sul).
Trata-se de um dispositivo capaz de analisar a luz de uma estrela e detectar um ligeiro bamboleio gravitacional nela, ocasionado pela presença de planetas por perto. Contudo, para um planeta tão pequeno como o de Alfa Centauri B, foi preciso medir diferenças de velocidade da ordem de 51 cm/s (a velocidade de uma caminhada). O desempenho ideal do Harps vai até 40 cm/s.
Por essa razão, apesar do entusiasmo, os astrônomos estão recebendo a empolgante notícia com um pé atrás.
"É possível, mas não dá para ter certeza de que o planeta está mesmo lá sem fazer uma análise bem detalhada, que consumirá muito tempo", diz Sylvio Ferraz Mello, astrônomo do IAG-USP especialista em dinâmica orbital.
O estudo foi publicado online pela revista científica britânica "Nature", e o mais entusiasmante nele não é tanto o que se viu, mas sim o que não se viu.
"O planeta deve ser muito quente para ter vida tal como a conhecemos", diz Stéphane Udry, um dos co-autores do estudo. "No entanto, esse pode muito bem ser um planeta num sistema de vários."
O que pode significar a existência de um planeta na região habitável de Alfa Centauri. O duro será enxergá-lo com as tecnologias atuais.
De toda forma, a perspectiva está aí: talvez não só não estejamos sós no Universo como pode ser que os vizinhos mais próximos morem logo ali, no próximo quarteirão.