O resto, só lendo o livro interessantíssimo para conhecer de perto o deus de tanta gente no governo e nas redações brasileiras
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 29/09/2014
Encomendei à jovem secretária o livro de Juan Reinaldo Sánchez. Se o tivesse visto numa livraria não teria comprado, porque impliquei com a capa da Editora Paralela: A vida secreta de Fidel – as revelações de seu guarda-costas pessoal. Ora, bolas: se era seu guarda-costas, só podia ser pessoal. Quando acaba, no texto descobri a explicação: o comandante em chefe tem dezenas de guardaespaldas, um dos quais, o tenente-coronel Sánchez, era o pessoal, o mais próximo de Fidel. No grupo havia dois guardaespaldas de sangue idêntico ao do comandante, grupo sanguíneo raro para permitir eventuais transfusões diretas.
O cubano Juan Reinaldo Sánchez perdeu os pais muito cedo e foi criado por um tio. Atleta, faixa preta de caratê e outras artes marciais, campeão de tiro de pistola, comunista convicto e admirador do comandante Fidel Alejandro Castro Ruz, fez carreira militar e chegou a tenente-coronel trabalhando durante 17 anos como guardaespaldas de seu ídolo. Diversas fotos coloridas mostram Sánchez colado a Fidel em Cuba e no resto do planeta.
Filhos, mulheres e namoradas, residências, irmãos, parentes, assessores, 200 mil cubanos enviados para guerrear em Angola comandados pelo general Ochoa, tudo contado no livro. Arnaldo T. Ochoa Sánchez foi o militar mais condecorado na Cuba fidelista antes de ser fuzilado por traficar cocaína para os EUA, tráfico e fuzilamento ordenados pelo próprio Fidel – conta o tenente-coronel guardaespaldas, que se desiludiu com o seu ídolo, foi preso, condenado a dois anos de cadeia, cumpriu a pena e conseguiu fugir para os Estados Unidos. O resto, só lendo o livro interessantíssimo para conhecer de perto o deus de tanta gente no governo e nas redações brasileiras.
Outro livro
Em mãos do philosopho outro livro – Brasil: potência alimentar – edição da Sociedade Nacional de Agricultura, coordenadores Antonio Mello Alvarenga Neto e Milton Thiago de Mello, esse último da Academia Brasileira de Medicina Veterinária. O Dr. Milton, que não é parente do poeta Thiago de Mello, tem exatos 98 aninhos e continua atuante na profissão.
Não sou crítico literário. Leio, anoto os dados interessantes e boto os livros nas estantes do tugúrio, no sentido de abrigo, refúgio do philosopho. Sim, porque tugúrio também é choupana, choça, casebre, que não congeminam com o bom apê em que me escondo.
No artigo “Papel da mídia na segurança alimentar”, do médico-veterinário Luiz Octávio Pires Leal, meu colega na fundação da Associação Brasileira de Informação Rural (Abir), cavalheiro respeitável que conhece o mundo inteiro geralmente viajando em trailers, recolho o seguinte: “E há outros enganos e mal-entendidos cabendo à comunicação social a responsabilidade de esclarecer. O risco dos transgênicos, dos clones e do uso de hormônios para engordar frangos são bons exemplos. Quanto aos primeiros, todo o Primeiro Mundo já aceitou, há anos, esses modernos recursos que aumentam geometricamente os índices de produtividade, o que tem importância relevante no combate à fome. Quanto ao último, trata-se de um engano. Dado pela boca, o hormônio seria destruído pelo estômago do frango e por via injetável seria tanto econômica como praticamente inviável”.
Bem feito!
Divertidíssima a notícia de que o FBI e a Apple andam à procura do hacker que pegou fotos íntimas de “celebridades” num negócio chamado iCloud e anda espalhando as peladas pela internet. Se cloud é nuvem e aquele i é coisa da Apple, como no iPhone, iCloud deve ser uma nuvem em que a Apple guarda as fotos que lhe são confiadas pelos utentes de seus aparelhos. Não sei se cobra por isso, mas deve cobrar. E o sistema é falho, como prova o feito do hacker que pegou as fotos.
Duvido, mas duvi-de-ó-dó, que o leitor e a leitora do grande jornal dos mineiros tenham fotos íntimas. Já a selfie é um negócio intolerável, mas amar, ser amado e fotografar ou filmar o ato amoroso é vontade de ser visto pelos outros, é vocação artística para filme pornô, que as celebridades fazem e depois se queixam: bem feito!
O mundo é uma bola
29 de setembro de 522 a.C., Dario I mata o usurpador magiar Guamâta e assume a condição de imperador do Império Aquemênida, primeiro império persa, fundado no século 6 a.C. por Ciro, o Grande. Em 61 a.C., Pompeu, o Grande, aos 45 anos, celebra o seu terceiro triunfo por suas vitórias sobre os piratas e pelo fim das Guerras Mitridáticas. Em 1066, Guilherme, o Conquistador, invade a Inglaterra. Aliás, vinha invadindo desde a véspera, quando começou a desembarcar suas forças de 7.000 homens.
Em 1829, fundação em Londres da Metropolitan Police Service, MPS ou Met, cujo quartel central é a Scotland Yard. Em 1850, a hierarquia Católica Apostólica Romana é restabelecida na Inglaterra e em Gales pelo papa Pio IX. Em 1911, a Itália declara guerra ao Império Otomano. Em 1938, Adolf Hitler, Neville Chamberlain, Edouard Deladier e Benito Mussoline assinaram o Acordo de Munique, permitindo que a Alemanha ocupasse a região da Sudentenland na Tchecoslováquia.
Ruminanças
“Aprende-se facilmente a dominar, dificilmente a governar” (Goethe, 1749-1832).
segunda-feira, 29 de setembro de 2014
Roteiro para o voto - Renato Janine Ribeiro
Valor Econômico 29/09/2014
Um roteiro prático para escolher o candidato a presidente mais adequado a suas convicções
Pensei num pequeno roteiro para
o voto no primeiro turno da eleição presidencial. O ideal seria
desenhar um fluxograma mas, não tendo eu esta habilidade, vai em texto
mesmo.
A primeira pergunta é: você vai votar para seu candidato vencer, ou para marcar posição? Se aposta na vitória dele, como a maior parte provavelmente faz, leia este parágrafo e o seguinte, mas só para sua reflexão. Agora, se para você o principal é afirmar uma ideia ou ideal, sem se preocupar com a vitória imediata mas querendo transmitir um recado forte aos políticos e à sociedade, este é o seu lugar. Sua posição é plenamente legítima, ainda mais num sistema de dois turnos, porque poderá, no segundo, votar "útil". E a pergunta será: você é um firme defensor das liberdades pessoais? Se sim, seu candidato é Eduardo Jorge. Ele está a favor de tudo o que é liberdade individual. É o mais moderno dos postulantes, deste ponto de vista. É uma Marina sem religião ou religiosos, mas com muita natureza. Dos candidatos, é o mais cool - e, brinde, o mais bem humorado. Um tuíte seu é antológico. Uma admiradora lhe escreveu: "Como você é lindo!"; ele respondeu: "Você está louca querida". Imbatível.
Mas há também outro nome, se sua questão for afirmar um ideal. Para você, o mais importante são os direitos sociais? Se sim, sua candidata é Luciana Genro. Apesar da retórica marxista, seu partido, o PSOL, não é tão radical. Em vários pontos, quer apenas aplicar a Constituição. Muitos direitos ainda não foram consagrados em lei. Assim como Eduardo Jorge, ela tem a sinceridade de quem não disputa a eleição para ganhar a curto prazo, fazendo concessões em prol da governabilidade, mas para firmar posições que, a médio ou longo termo, mudem o mundo.
Sem esses dois, a campanha teria um teor elevado de tédio.
Agora, se você quer a vitória de seu candidato, a coisa muda de figura. Comecemos pela pergunta: os programas sociais são prioridade zero para você? a ponto de não se importar muito se a economia vai bem ou mal? Se sim, sua candidata é Dilma Rousseff. Vejam, não estou dizendo que ela - ou você - é economicamente irresponsável. É questão de prioridade. Se para você conta, acima de tudo, a inclusão social - e se não dá crédito ou relevância aos rumores de uma iminente catástrofe na economia, sua posição é essa.
Vamos à pergunta seguinte. Para você, uma economia saudável é a chave de tudo o mais? Você pode ser contra os programas sociais, ou a favor deles, mas acreditar que sem uma boa economia eles não terão dinheiro. Neste caso, você não vota no PT - mas já sabia disso. Não estou dizendo nada de novo... Sua próxima etapa é decidir entre Aécio Neves e Marina Silva.
Aqui temos um primeiro conjunto de questões. Você considera a privatização uma das principais iniciativas que foram tomadas na economia brasileira, e que talvez deva ser retomada? E dá importância crucial a uma gestão responsável, testada, da economia? Receia imaginação demais e eficiência de menos? Um "sim" a este conjunto de perguntas leva a um voto em Aécio. Por um lado, porque no atual discurso tucano a defesa da economia privada é central. Segundo, porque o PSDB tem o melhor nome que a oposição possa colocar na Fazenda, a saber, Arminio Fraga. E, sobretudo, porque o núcleo duro dos que votam em Aécio não quer correr riscos com a economia.
Quem votará, então, em Marina? Não é tão fácil formular a pergunta agora. Você não gosta da economia petista, mas aceita uma dose de risco maior do que os votantes de Aécio, na economia e no pacote completo? Pensa que a sociedade deva substituir um modelo predatório de desenvolvimento por um sustentável? Acredita que os recursos naturais devam ser explorados com parcimônia e critério? Crê que o que retiramos da natureza - por exemplo, ar e água - deve ser devolvido a ela com a mesma qualidade que tinha antes da utilização? Isso significa que a água que esfriou as turbinas da fábrica volte ao rio despoluída, que o carbono gerado por uma viagem de carro ou avião seja compensado pelo plantio de árvores. Se concordar com isso, você vota em Marina porque acredita num mundo melhor. Sua opção não é prudente e conservadora como a do parágrafo anterior, é conservacionista e em alguma medida utópica - embora um dos principais conselheiros da candidata diga ter horror desta palavra, "utopia".
Há outras possibilidades, neste G3 + 2? (G3 são os três principais candidatos, 2 são os do voto idealista, que mencionei no começo). Há. Certamente muitos votarão em Marina sem concordar com seus ideais, apenas por acreditar que ela tem mais chances de derrotar o PT. Será um voto útil. E haverá quem vote em Aécio, mesmo receando que num segundo turno ele seja derrotado por Dilma, por prudência, por convicção de que sua equipe é a melhor. Mas procurei percorrer as opções principais.
Em tempo: o segundo turno é outra coisa. Se o seu candidato ficar fora, você não precisa seguir o que ele recomendar. A decisão é sua. Mas não desvalorize o voto do primeiro turno. Ele não elege, mas é precioso, porque é sua voz.
Uma última sugestão: anote no computador os nomes em quem votar para deputado, federal e estadual. Se forem eleitos, passe os próximos anos acompanhando, por algum site (há vários), o que cada um faz e não faz. Mande e-mails a eles com frequência, apoiando ou reclamando. Dispender uns minutos por mês nisso não tem preço. Ajudará a mudar, para melhor, a representação nos legislativos - que hoje é bastante ruim. Isso depende de você e de seus amigos. E não importa em quem vote, faça isso.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.
E-mail: rjanine@usp.br
A primeira pergunta é: você vai votar para seu candidato vencer, ou para marcar posição? Se aposta na vitória dele, como a maior parte provavelmente faz, leia este parágrafo e o seguinte, mas só para sua reflexão. Agora, se para você o principal é afirmar uma ideia ou ideal, sem se preocupar com a vitória imediata mas querendo transmitir um recado forte aos políticos e à sociedade, este é o seu lugar. Sua posição é plenamente legítima, ainda mais num sistema de dois turnos, porque poderá, no segundo, votar "útil". E a pergunta será: você é um firme defensor das liberdades pessoais? Se sim, seu candidato é Eduardo Jorge. Ele está a favor de tudo o que é liberdade individual. É o mais moderno dos postulantes, deste ponto de vista. É uma Marina sem religião ou religiosos, mas com muita natureza. Dos candidatos, é o mais cool - e, brinde, o mais bem humorado. Um tuíte seu é antológico. Uma admiradora lhe escreveu: "Como você é lindo!"; ele respondeu: "Você está louca querida". Imbatível.
Mas há também outro nome, se sua questão for afirmar um ideal. Para você, o mais importante são os direitos sociais? Se sim, sua candidata é Luciana Genro. Apesar da retórica marxista, seu partido, o PSOL, não é tão radical. Em vários pontos, quer apenas aplicar a Constituição. Muitos direitos ainda não foram consagrados em lei. Assim como Eduardo Jorge, ela tem a sinceridade de quem não disputa a eleição para ganhar a curto prazo, fazendo concessões em prol da governabilidade, mas para firmar posições que, a médio ou longo termo, mudem o mundo.
E não esqueça o nome do deputado em quem votou
Sem esses dois, a campanha teria um teor elevado de tédio.
Agora, se você quer a vitória de seu candidato, a coisa muda de figura. Comecemos pela pergunta: os programas sociais são prioridade zero para você? a ponto de não se importar muito se a economia vai bem ou mal? Se sim, sua candidata é Dilma Rousseff. Vejam, não estou dizendo que ela - ou você - é economicamente irresponsável. É questão de prioridade. Se para você conta, acima de tudo, a inclusão social - e se não dá crédito ou relevância aos rumores de uma iminente catástrofe na economia, sua posição é essa.
Vamos à pergunta seguinte. Para você, uma economia saudável é a chave de tudo o mais? Você pode ser contra os programas sociais, ou a favor deles, mas acreditar que sem uma boa economia eles não terão dinheiro. Neste caso, você não vota no PT - mas já sabia disso. Não estou dizendo nada de novo... Sua próxima etapa é decidir entre Aécio Neves e Marina Silva.
Aqui temos um primeiro conjunto de questões. Você considera a privatização uma das principais iniciativas que foram tomadas na economia brasileira, e que talvez deva ser retomada? E dá importância crucial a uma gestão responsável, testada, da economia? Receia imaginação demais e eficiência de menos? Um "sim" a este conjunto de perguntas leva a um voto em Aécio. Por um lado, porque no atual discurso tucano a defesa da economia privada é central. Segundo, porque o PSDB tem o melhor nome que a oposição possa colocar na Fazenda, a saber, Arminio Fraga. E, sobretudo, porque o núcleo duro dos que votam em Aécio não quer correr riscos com a economia.
Quem votará, então, em Marina? Não é tão fácil formular a pergunta agora. Você não gosta da economia petista, mas aceita uma dose de risco maior do que os votantes de Aécio, na economia e no pacote completo? Pensa que a sociedade deva substituir um modelo predatório de desenvolvimento por um sustentável? Acredita que os recursos naturais devam ser explorados com parcimônia e critério? Crê que o que retiramos da natureza - por exemplo, ar e água - deve ser devolvido a ela com a mesma qualidade que tinha antes da utilização? Isso significa que a água que esfriou as turbinas da fábrica volte ao rio despoluída, que o carbono gerado por uma viagem de carro ou avião seja compensado pelo plantio de árvores. Se concordar com isso, você vota em Marina porque acredita num mundo melhor. Sua opção não é prudente e conservadora como a do parágrafo anterior, é conservacionista e em alguma medida utópica - embora um dos principais conselheiros da candidata diga ter horror desta palavra, "utopia".
Há outras possibilidades, neste G3 + 2? (G3 são os três principais candidatos, 2 são os do voto idealista, que mencionei no começo). Há. Certamente muitos votarão em Marina sem concordar com seus ideais, apenas por acreditar que ela tem mais chances de derrotar o PT. Será um voto útil. E haverá quem vote em Aécio, mesmo receando que num segundo turno ele seja derrotado por Dilma, por prudência, por convicção de que sua equipe é a melhor. Mas procurei percorrer as opções principais.
Em tempo: o segundo turno é outra coisa. Se o seu candidato ficar fora, você não precisa seguir o que ele recomendar. A decisão é sua. Mas não desvalorize o voto do primeiro turno. Ele não elege, mas é precioso, porque é sua voz.
Uma última sugestão: anote no computador os nomes em quem votar para deputado, federal e estadual. Se forem eleitos, passe os próximos anos acompanhando, por algum site (há vários), o que cada um faz e não faz. Mande e-mails a eles com frequência, apoiando ou reclamando. Dispender uns minutos por mês nisso não tem preço. Ajudará a mudar, para melhor, a representação nos legislativos - que hoje é bastante ruim. Isso depende de você e de seus amigos. E não importa em quem vote, faça isso.
Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.
E-mail: rjanine@usp.br
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