terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Mirian Goldenberg

Folha de São Paulo


OUTRAS IDEIAS
MIRIAN GOLDENBERG - miriangoldenberg@uol.com.br
Mulheres desesperadas
Alunas competem para ver quem faz sexo com mais professores; são 'Marias-Apostilas' ou 'Marias-Lattes'
É recorrente, no discurso dos homens que tenho pesquisado, a afirmação de que o sexo está fácil demais. Eles dizem que estão se sentindo intimidados com a agressividade feminina na abordagem sexual.
Um arquiteto de 40 anos diz: "Não existe mais sedução, é tudo muito agressivo. Tenho até medo de dizer que não quero transar e ser xingado. São tão oferecidas que não dá o menor tesão".
Segundo ele, está faltando mulher elegante e interessante no mercado. "A oferta de periguetes está demais, elas abusam de roupas muito curtas e justas, parecem garotas de programa, são muito vulgares."
Um engenheiro de 35 anos conta: "Estava em um restaurante com minha namorada e duas amigas dela. De repente, senti a mão de uma delas me alisando, você sabe onde, sob a mesa. Se eu fizesse isso com qualquer mulher seria preso. As mulheres estão desesperadas".
Depois das "Marias-Gasolinas" e das "Marias-Chuteiras", eles afirmam que estão sendo assediados por outras "Marias".
Um professor de cursinho de 32 anos diz receber cantadas explícitas das alunas. "Elas escrevem nas apostilas: 'Que tal um sexo gostoso, sem qualquer compromisso?' São verdadeiras 'Marias-Apostilas'", afirma.
Um professor universitário de 42 anos conta que ele recebeu a seguinte mensagem de uma aluna, pelo Facebook: "Você vai ao barzinho? Se você for, eu vou sem calcinha".
Esse professor comenta: "Elas competem para saber quem faz sexo com mais professores. São apelidadas de Marias-Lattes, em função do currículo Lattes que temos como pesquisadores".
As periguetes estão na moda: onipresentes nas telenovelas, na performance da cantora Madonna no Rio de Janeiro e nos discursos de homens e de mulheres.
No entanto, a maioria das brasileiras continua dependendo da iniciativa masculina, aguardando ansiosamente o telefonema no dia seguinte e sonhando com o marido fiel.
Algumas mulheres estão invertendo os papéis de gênero e causando muito desconforto por tomarem a iniciativa sexual.
Elas recusam o papel de objetos passivos na conquista amorosa. São chamadas de periguetes, de garotas de programa e de "Marias".
Essas acusações revelam que muitos homens não estão preparados para aceitar o fato de que eles não são mais os únicos caçadores no jogo da sedução.
E você, caro leitor, também acha que as mulheres estão desesperadas?

    Rosely Sayão

    Folha de São Paulo


    Muito barulho para pouco exemplo
    Criticar os mais novos é fácil; até parece que o nosso mundo adulto é mais silencioso, polido e civilizado
    As redes sociais podem ser muito eficientes como desencadeadoras de movimentos sociais e difusoras de informações que alguns grupos consideram importantes.
    Claro que as mesmas redes podem ser muito chatas. Pessoas conhecidas têm me perguntado por que utilizo uma dessas redes em que chovem pedidos para participar de jogos e/ou comentários grosseiros e agressivos.
    Pelo jeito tenho tido sorte, pelo menos até agora. Claro que um ou outro convite para jogos sempre chega, assim como alguns comentários desagradáveis ou violentos. Mas, de modo geral, as pessoas conectadas à minha rede estão mais interessadas em assuntos que consideram relevantes e são civilizadas.
    E foi assim, por participar dessa rede virtual, que na última semana recebi dois alertas bem interessantes que, coincidentemente, chegaram no mesmo dia. Um deles reproduziu uma reportagem publicada em um jornal de Boa Vista (RR) a respeito de um acontecimento que pareceu inusitado à população.
    A mãe de uma adolescente que estuda em uma escola estadual decidiu, depois de saber que a filha havia feito uma pichação no muro da escola, que a garota deveria pintar o muro que sujara.
    Na reportagem, a mãe da aluna deu um depoimento sensacional para justificar sua decisão: "A escola é nossa, por isso temos que cuidar bem dela".
    O outro alerta que recebi também diz respeito à relação escola-comunidade. Nesse caso, foi uma decisão judicial proibindo crianças de uma escola de educação infantil em Porto Alegre (RS) de realizar atividades externas por causa do barulho, que atrapalha os vizinhos. O fato motivou várias reportagens locais com alguma repercussão nacional.
    Adolescentes e crianças têm depredado o patrimônio escolar? Sim, têm. Crianças e adolescentes têm produzido muito barulho no espaço escolar? Têm, sim. Mas o que proponho como reflexão hoje é a maneira como a sociedade tem reagido a esses acontecimentos que envolvem os mais novos.
    Visitei páginas da internet que publicaram as duas notícias. Em todas, encontrei comentários grosseiros contra crianças e adolescentes.
    Fiquei pensando que, se considerarmos tais comentários, fabricaremos a imagem de que o mundo adulto é uma maravilha: silencioso, polido, civilizado etc. Sabemos que isso não é verdade.
    Somos nós, com nosso comportamento ruidoso e nossa displicência em relação ao espaço público, que temos ensinado aos mais novos o mesmo comportamento. Só que, quando são crianças ou adolescentes os envolvidos na história, há pouca tolerância e muito moralismo.
    Os mais novos podem aprender a brincar e a realizar trabalhos escolares com menos ruído. Mas, para que isso aconteça, precisam da regulação dos adultos com quem estejam no momento.
    Jovens que depredam o espaço público também podem aprender a respeitar o lugar que frequentam se puderem entender que esse lugar é de todos. Mas temos renunciado ao espaço público por entender que, em vez desse ambiente pertencer a todos, não pertence a ninguém.
    Os mais novos podem ser muito melhores do que nós, adultos. Para isso, precisam apenas de nossa generosidade, dedicação e de nosso compromisso com a educação deles. Crianças e adolescentes precisam de nós.
    Restringir o espaço de circulação deles não irá ensiná-los a falar mais baixo, a fazer menos barulho, a saber conviver com respeito. Fazer com que recuperem o espaço de todos que prejudicaram pode ter efeito educativo. Qual caminho iremos escolher?
    Saio em férias a partir desta edição e retorno na primeira semana de fevereiro. Agradeço a boa companhia de sempre e desejo, a quem comemora no final de ano, que as festas sejam boas oportunidades para troca de afetos com amigos e familiares. Saúde!

      Maria Esther Maciel - Mundo cão‏


      Estado de Minas: 18/12/2012 
      Há uns seis, sete anos, encontrei na rua um cachorro amarelo, grande e de olhos ternos. Parecia um labrador, mas não era. Bastou um sinal amistoso para que ele me seguisse. Acompanhou-me, animado, até a porta do meu prédio. E fiquei sem saber o que fazer com ele – a essa altura já o chamava de Breton. Como achei que talvez estivesse com fome, subi ao meu apartamento, busquei um prato de ração e uma vasilha d’água. Ele, que me aguardava no portão, ficou feliz com a comida e devorou-a avidamente. Mas não queria ir embora. Perguntei ao porteiro se conhecia alguém que poderia ficar com ele, sem sucesso. Liguei para alguns amigos que moram em casa com quintal, mas nenhum quis adotá-lo. De minha parte, não tinha como acolhê-lo, morando em apartamento. Mesmo porque já tinha (tenho) uma cachorrinha, aliás bastante ciumenta. Liguei, então, para o veterinário que a atendia e ele me sugeriu que levasse o cão para a Sociedade Mineira Protetora dos Animais (SMPA). Disponibilizou, inclusive, o transporte. E não tive outra alternativa senão aceitar. “Pelo menos ele não vai ficar na rua, sem comida”, pensei com meus botões. 

      Quando chegamos à SMPA, no Bairro Guarani, não acreditei no que vi: um lugar imundo, com centenas de cães (e alguns gatos) magros e doentios amontoados em vários compartimentos. Um cenário deprimente, quase surrealista, que atribuí à falta de recursos da entidade e ao descaso do poder público. A mulher que me atendeu disse que a entidade vivia de doações. Não hesitei, diante disso, em oferecer uma contribuição mensal, pois queria ajudar a manter o pobre Breton e os outros animais que lá se encontravam. Meu marido, que me acompanhava, imediatamente anotou todos os dados, e a partir daí passamos a doar mensalmente uma determinada quantia, descontada na conta da Cemig. Ainda voltamos lá no dia seguinte para levar alguns sacos de ração, sempre pensando no destino do cão amarelo. E, por vários dias, fiquei com a imagem daquele triste cenário na cabeça. Mas acabei por me convencer de que tinha sido a melhor alternativa.

      Ledo engano. Agora, diante das recentes denúncias contra a Sociedade Mineira Protetora dos Animais, divulgadas pelo Estado de Minas, vi que não foi o melhor para o meu cão de rua. Lendo as matérias e vendo os vídeos sobre o caso, me inteirei, indignada, da verdadeira situação dos animais recolhidos na entidade: sem assistência, largados, maltratados, comendo ração com baratas, morrendo à mingua. Para completar, há evidências de má administração dos recursos, com suspeitas de desvios de verbas das doações. Ou seja, a própria entidade criada para proteger os bichos tornou-se um inferno para eles. 

      Machado de Assis, numa crônica de 1877, após declarar-se “sócio (sentimentalmente falando) de todas as sociedades protetoras dos animais”, exaltou o primeiro homem que se lembrou de criar uma associação como essa. Mal sabia ele do que estaria por vir em Minas, mais de 100 anos depois. 

      Breton já não deve estar vivo. Mas em nome dele, peço que justiça seja feita. Que a atual administração da SMPA, composta por membros de gestões anteriores, seja imediatamente substituída por quem realmente se preocupe com os animais.

      Tereza Cruvinel - Supremos poderes‏

      As pesadas condenações impostas aos envolvidos no escândalo do mensalão deixaram uma legião de brasileiros de alma lavada, produzindo um forte aplauso social que o Judiciário desconhecia 

      Estado de Minas: 18/12/2012 
      O julgamento da Ação Penal 470 termina com a radicalização das ambivalências que o acompanharam desde o início: as pesadas condenações impostas aos envolvidos no escândalo do mensalão deixaram uma legião de brasileiros de alma lavada, produzindo um forte aplauso social que o Judiciário desconhecia. Fortaleceu-se com isso. Já a heterodoxia do julgamento, a quebra de paradigmas, a flexibilização de exigências de provas para condenar e a má tipificação de crimes deixam uma outra legião preocupada com os novos superpoderes do Supremo Tribunal Federal (STF). Essa preocupação não deve ser confundida com esperneio dos condenados e aliados. Alcançam o mundo jurídico e acadêmico e o próprio STF, onde quatro ministros votaram contra as cassações de mandatos pela Corte. Atribui-se viés político aos votos dos ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli, por mais consistentes que sejam. Mas Cármen Lúcia e Rosa Weber, pela dureza, são insuspeitas. E divergiram corajosamente nesse item.

      A heterodoxia prevaleceu até no ato final de ontem: fugindo à tradição, o ministro presidente, Joaquim Barbosa, não encerrou o julgamento com a proclamação oficial do resultado. E as rusgas também: ao encerrar enaltecendo os servidores que contribuíram para o êxito do julgamento, Barbosa irritou o ministro Marco Aurélio, que se retirou num aparente protesto. 

      De todas as heterodoxias, a mais flagrante e polêmica, a que pode afetar a nossa arquitetura democrática, foi a de ontem. Apesar da clareza e da autoaplicabilidade do artigo 5º da Constituição, que reserva às duas Casas legislativas a prerrogativa de cassar mandatos dos membros que tenham sofrido condenação judicial, a Corte optou por tirar, ela mesma, o mandato dos deputados que são réus na ação. O ministro Celso de Mello desempatou a favor das cassações e arrematou com críticas contundentes à Presidência da Câmara, que sinalizou a disposição de descumprir a decisão. Qualificou essas intenções de “politicamente irresponsáveis e juridicamente inaceitáveis”. Confronto explicitado, consequências virão. 

      O Congresso não cometerá desatinos, como o de anistiar os condenados, mas tem como reagir. É provável que a Mesa da Câmara entre com recurso. Já haverá um novo ministro na Casa, Teori Zavaski, que pode fazer diferença, já que a decisão foi por 5 a 4 votos. Havia ontem quem propusesse uma lei complementar que liquidaria com a tese apresentada por Celso de Mello: a de que a exclusividade das Casas legislativas para cassar, expressa no artigo 5º, aplica-se apenas aos crimes menores. Quando as condenações forem superiores a quatro anos, e por crimes contra a administração, como peculato, corrupção ativa e passiva e assemelhados, o STF poderia tirar os direitos políticos e cassar os mandatos. Isso não está escrito nem na Constituição nem no Código Penal, que lhe é inferior. A lei diria o oposto. 

      Calou fundo no meio político a ênfase de Celso de Mello no poder supremo da Corte, inclusive o de errar por último. E a afirmação de que a Constituição continua sendo escrita todos os dias pelo STF, que recebeu da Constituinte o papel de interpretá-la e zelar por sua observância. Por tal entendimento, o Judiciário é o poder que pode mais. 

      Os aplausos ao julgamento e a reverência ao novo STF inibiram as críticas à heterodoxia. Poucos foram os reparos registrados pela mídia, vindos do meio acadêmico ou jurídico. Esse debate está adiado para depois do trânsito em julgado. Os críticos temeram, também, ser confundidos com aliados dos réus. No topo da lista de “inovações”, a condenação de José Dirceu na ausência de provas, com base em indícios e aplicando ao pé da letra a teoria do domínio do fato, o que produziu críticas de seu próprio formulador, o alemão Claus Roxin. Concluiu-se que os recursos repassados a políticos da base aliada configuraram compra de voto e apoio ao governo. Dispensou-se, nesse e em outros casos de corrupção ativa e passiva, o chamado ato de ofício, a prova de uma contraprestação pela propina. Nas condenações por lavagem de dinheiro, segundo vários juristas, não houve a tipificação do crime. Lavagem ocorreria quando o dinheiro de origem ilícita é injetado na economia para ganhar legalidade e ser reinvestido. Essas e outras decisões serão agora contestadas pelos agravos ou recursos. Talvez por formalidade, porque a maioria continuará sendo maioria.

      Realismo baiano

      Na semana passada o deputado e futuro prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), despediu-se da vida parlamentar numa festa que reuniu políticos, funcionários e jornalistas. Na semana anterior, ele visitou a presidente Dilma Rousseff, acompanhado pelo governador petista da Bahia, Jaques Wagner. Neto, como é chamado, traduz o dilema que vive seu partido, o Democratas, antigo PFL. Continuar fazendo oposição ao governo federal ou buscar uma situação mais confortável no espectro político, que não seja de adesismo, mas também não deixe à míngua os prefeitos do partido. Neto arrancou risadas de Dilma e de Jaques na audiência, quando disse: “Ser linha auxiliar do governo, vá lá. Nós já fomos, com Fernando Henrique. Mas ser linha auxiliar da oposição é muito cruel”. Wagner se diz aberto à parceria local e disposto a ajudar o jovem prefeito a abrir outras portas federais.

      CIÊNCIA » Faraó assassinado - Paloma Oliveto‏

      Cientistas concluem que Ramsés III, governante do Egito entre 1187 a.C. e 1155 a.C., foi morto por um corte na garganta. Mulher e filho seriam os responsáveis pelo crime 

      Paloma Oliveto
      Estado de Minas: 18/12/2012 
      Brasília – Os ingredientes são dignos de um best-seller: o domínio de um império ultramarino, uma conspiração no harém, a traição da famíla e, por fim, um rei morto, levado para a tumba com um segredo que permanece guardado por 3 mil anos. O último capítulo não poderia ser mais incrível: passados 32 séculos, o mistério é solucionado – um ferimento no pescoço e um amuleto encontrado dentro da múmia revelam que o último grande faraó do Egito foi assassinado em um complô pelo trono. Essa, porém, é uma história verdadeira, cujo epílogo foi publicado ontem na revista científica British Medical Journal.
      Historiadores, paleoantropólogos, geneticistas, radiologistas e especialistas em múmias aliaram documentos antigos à tecnologia moderna para descobrir a causa da morte de Ramsés III, cujo reinado, de 1187 a.C. a 1155 a.C., foi o derradeiro antes que o país perdesse sua supremacia. Os pesquisadores esperam encerrar um amplo debate entre egiptólogos que, até hoje, não sabem se o faraó teria sido assassinado ou morrido naturalmente. Uma forte pista aponta para a primeira opção: o Papiro Judicial de Turim, escritura oficial da época, revela o desmonte de uma conspiração contra o governante. O texto não deixa claro, contudo, se os rebelados conseguiram matar o rei ou se ele ainda estava vivo quando os envolvidos no complô foram julgados.
      Imagens Um exame de tomografia computadorizada realizado na múmia de Ramsés III, que fica no Museu do Cairo, reforça a ideia do assassinato. As imagens identificaram um corte no pescoço do faraó, feito enquanto ele ainda estava vivo. “O ferimento só pode ser visto através da tomografia”, diz Zahi Hawass, ex-ministro de Antiguidades do Egito e um dos autores do estudo. Hawass, egiptólogo que usou a mesma técnica para estudar a causa da morte de outro faraó, o jovem Tutancâmon, conta em um comunicado à imprensa que o corte estava escondido pelas bandagens da múmia. “Estava claro que Ramsés (III) morreu em 1155 a.C., por volta dos 65 anos, mas só agora sabemos como”, afirma.
      O Papiro da Justiça de Turim, guardado pelo Museu Egípcio da cidade italiana, é o único da história antiga egípcia que relata um julgamento criminal. Outros dois papiros sobre o complô, o de Lee e o de Rollin, ajudam a recontar a trama, que inclui entre os principais protagonistas a segunda esposa de Ramsés III e seu filho Pentwere, que ela teve com o rei. Tiye, único nome pelo qual a mulher é conhecida, contou com a ajuda de outras pessoas, incluindo o chefe de seus aposentos, um copeiro, um general, um sacerdote e um feiticeiro. Todos foram julgados e, provavelmente, condenados à morte. Um dos trechos do Papiro da Justiça lembra que os sentenciados “tiraram suas próprias vidas”, ao se envolverem na conspiração.
      Sucessão Foi no Palácio Real das Mulheres, onde o faraó mantinha suas duas esposas e seu harém, que Tiye começou a tecer as intrigas que, de acordo com o estudo publicado ontem, culminaram no assassinato de Ramsés III. Tiye tinha motivos para querer matar o marido. Ela não era a primeira esposa, posto ocupado por Iset Ta-Hemdjert, cujo filho era mais velho que Pentwere. O faraó cometeu um erro grave: depois da morte do primogênito e da criança que nasceu em seguida, ele não coroou os demais filhos como príncipes. Também jamais nomeou Iset nem Tiye como Grande Esposa Real. Ramsés III, portanto, deixou brechas na sucessão, pois não havia um nome oficial para ocupar o trono depois de sua morte, cada vez mais iminente. Na Antiguidade, quando a expectativa de vida média não chegava aos 30 anos, uma pessoa com 65 era considerada muito velha.
      Apesar da falta de um nome oficial, naturalmente, por ser mais velho, acreditava-se que o filho de Ramsés III com Iset deveria reinar sobre o Egito. De fato, depois da morte do pai, ele foi nomeado Ramsés IV. Era isso que Tiye queria evitar quando armou o complô contra o marido. Seus planos incluíam depor o faraó e, com a ajuda dos outros conspiradores, afastar Iset e coroar Pentwere. O rei pode ter morrido, mas a rebelião não deu completamente certo, pois foi descoberta pelos oficiais de Ramsés III.
      A grande dúvida que surgiu sobre o paradeiro do faraó é que alguns trechos do papiro sugerem que ele conduziu pessoalmente o julgamento. “Os textos implicam que a corte recebeu instruções diretas do rei, que, portanto, teria sobrevivido ao ataque”, diz o artigo publicado no British Medical Journal. Ao mesmo tempo, algumas partes do documento se referem a Ramsés III como “o grande deus”, significando que ele havia morrido antes ou durante as deliberações. “A única linha interpretada especificamente pelos egiptólogos como uma possível metáfora para assassinato é ‘derrubada da árvore real’. Dada a natureza inconclusiva das evidências textuais e a falta de qualquer causa óbvia da morte detectada por estudos forenses prévios, acadêmicos têm listado uma variedade de possibilidades: o rei foi ferido e morreu em decorrência, o complô foi completamente derrotado ou a tentativa (de assassinato) foi bem-sucedida”, contam os autores do estudo.
      Punições De acordo com Albert Zink, paleoantropólogo do Instituto de Múmias da Academia Europeia de Bolzano e principal autor do artigo, a tomografia computadorizada não deixa mais dúvidas de que Ramsés III foi assassinado, ainda que ele não tenha morrido na hora. “Ele foi morto por um corte profundo na garganta. Finalmente, foi solucionado o grande mistério do Egito antigo, pois agora sabemos o que realmente ocorreu na Conspiração do Harém”, garante. Zink apresenta outra evidência do crime: “As imagens mostraram também um pequeno amuleto inserido no ferimento. Viemos a saber que se tratava do olho de Hórus, que estava associado à saúde, e deveria curar o faraó na outra vida”, diz. O objeto foi colocado no corpo de Ramsés III durante os rituais de mumificação. “O Papiro de Turim indica que o complô falhou e que todos foram condenados, mas não estava escrito o que havia ocorrido com o próprio Ramsés III. Graças ao nosso estudo, agora sabemos com certeza.”
      Os cientistas investigaram também uma múmia encontrada no século 19 no famoso complexo mortuário de Deir el-Bahri, que abriga o templo fúnebre de Ramsés III. Trata-se de um indivíduo sem identificação, o “homem E”. Quando desenrolada, a múmia revelou-se a mais tenebrosa já descoberta no Egito. Em primeiro lugar, o suave cheiro da cera usada no embalsamamento deu lugar a um odor putrefato, segundo testemunhas à época. Isso porque, em vez de perfumes e cremes, o indivíduo foi coberto com pele de bode, indicando uma grave punição.
      O pior, contudo, é a expressão facial do homem de 18 a 20 anos, que está aterrorizado e parece ter forte dor. O tórax inflado e as marcas em volta de seu pescoço sugerem que ele foi estrangulado, embora há quem diga que a vítima tenha sido enterrada viva. Os autores do artigo disseram que não podem afirmar exatamente como ele morreu, mas têm quase certeza de que o “homem E” é Pentwere, o filho conspirador do faraó. Uma análise de DNA mostrou que a múmia compartilhava muitos traços genéticos com Ramsés III. Como o corpo de Tiye jamais foi encontrado – sinal de que a mulher foi punida e não mereceu funeral real –, não se pode definir exatamente a ascendência do “homem E”. Os cientistas, contudo, acreditam que ele é um “forte candidato” a filho de Ramsés III.

      Crise
      Ramsés III governou o Egito na 20ª Dinastia do Novo Reino (a dinastia durou um período que se estendeu de 1185 a.C. a 1070 a.C.). Depois de sua morte, o país começou a sofrer problemas econômicos e disputas internas, abrindo caminho para que outros povos, como assírios, persas, gregos e, por fim, romanos, assumissem a liderança mundial.

      Joias de Natal (presépio criado por Aleijadinho) - Walter Sebastião‏

      Envoltas em mistério, personagens de presépio criado por Aleijadinho encantam pelo sabor popular. Quatro obras-primas do escultor mineiro estão expostas no Museu da Inconfidência 

      Walter Sebastião
      Estado de Minas: 18/12/2012 

      Tradicional personagem de presépios, o pastor remete à vida rural

      O pastor, o aristocrata, o pescador e o pajem real. Esses são os personagens de um presépio, obras-primas de Aleijadinho expostas no Museu da Inconfidência, em Ouro Preto. Encontrado num dos armários da Igreja de São Francisco, o quarteto permanece envolto em mistério. Não se sabe, por exemplo, se o escultor fez o conjunto completo ou se as demais peças se perderam.

      Myriam Ribeiro, especialista na obra de Aleijadinho, explica que as esculturas foram criadas provavelmente entre 1755 e 1790, pouco antes de o artista mergulhar no projeto da via-sacra de Congonhas. “Mais informações sobre a obra, inclusive como seria o Menino Jesus, só se pode imaginar, especular”, provoca a pesquisadora. Para “ajudar a imaginação”, Myriam recomenda observar como funciona o conjunto e visitar outros presépios do século 18 expostos no Museu da Inconfidência.

      Os trabalhos retratam o momento realista do escultor. “A imagem que chamamos de pescador é tão elaborada, tão envolvente que parece estar conversando com a gente”, observa Myriam Ribeiro, admirada. “O pastor ajoelhado é uma joia”, reforça ela, lembrando que ele foi criado para ser visto de perfil.

      Negro 

      O pajem é uma raridade. De acordo com a pesquisadora, Aleijadinho praticamente não esculpia negros. Um deles está no presépio do Museu da Inconfidência; o outro é São Jeremias no cárcere, que se encontra no altar lateral da Igreja do Carmo, também em Ouro Preto. 

      Recentemente, a pesquisadora descobriu de onde vem o gesto enigmático do pajem: provavelmente, ele segurava a corda do camelo do rei mago. Pode ter sido inspirado em alguém que Aleijadinho conhecia em Ouro Preto. O aristocrata, por sua vez, faz imaginar um presépio que integra todas as classes sociais. “Ninguém tem cara de rei. Todos são figuras populares”, observa Myriam Ribeiro.

      O conjunto mineiro traz cenas rurais e urbanas não citadas no texto bíblico, fruto da influência do presépio napolitano. Os personagens vestem roupas da época de Aleijadinho – e não túnicas usadas na época do nascimento de Jesus Cristo. O modelo napolitano, explica a especialista, se afirmou por volta do século 16 e demarcou a criação do presépio moderno.

      Para Myriam, o conjunto original de Aleijadinho possivelmente reunia a família sagrada, com direito a boizinho, burrico e a dois ou três pastores. O tamanho das peças – em grandes formatos – indica que, provavelmente, o presépio foi criado para uma igreja. A pesquisadora avisa: “É tudo mistério”.

      Não há resposta para várias questões. Por que o artista iniciou o presépio pelas figuras secundárias? Ele realmente fez os outros personagens? Trata-se de obra inacabada?

      “Minha impressão é de que se trata de um projeto interrompido”, diz a pesquisadora, presumindo que Aleijadinho teve dificuldade de encontrar oficiais que o ajudassem. Afinal, o artista era muito requisitado, com obras em diversas cidades.

      Não foi supresa encontrar a obra-prima de Aleijadinho numa igreja franciscana, pois deve-se a São Francisco a criação do presépio. Esses conjuntos eram comuns em templos e residências, inclusive mais modestas. “Toda a vida litúrgica do período colonial girava em torno de duas datas: o nascimento de Jesus e a Páscoa”, lembra Myriam Ribeiro. Atribui-se o fato de poucos presépios dos anos 1700 terem sobrevivido à deterioração causada pelo manuseio das peças. 

      Celebração oitocentista

      Publicado em 24 de dezembro de 1880 no jornal Arauto de Minas, de São João del-Rei, o texto de Severiano de Rezende revela como era a celebração natalina. Mães, filhas e escravas preparavam a comida com antecedência. Vestido novo enfeitado com fitas era o figurino das moças para ir à Missa do Galo, “mas também para agradar ao bigodão que não sai da porta do Rosário”, anota o repórter. E acrescenta: o “sexo feio” saía às pressas em busca de terno, gravata e chapéus elegantes. “Outros, mais exigentes, mandavam vir da corte fatiota de apurado gosto.” 

      Véspera de Natal era dia de rua cheia de pescadores e quitandeiras. A bom preço, podiam-se conseguir pratos de doces enfeitados com pombinhos, cobras e tatus, vindos em cestas com belas toalhas.

      “À noite, na casa de gente remediada ou de haveres, reunia-se a seleta sociedade, tocava-se piano, cantava-se uma modinha brasileira, um romance francês, trecho do trovador, da Traviata, formavam-se pares, dançava-se”. As classes “menos favorecidas pela fortuna”, informa Rezende, divertiam-se com música “da faceira viola, em harmonia com afinada rebeca, a pandeiros misturando-se às vozes dos cantores e ao arruído de forte sapateado dos mestres batuqueiros”.

      A cidade ficava iluminada: “As casinhas semeadas pela serra têm aspecto encantador”. Às 23h, registra o repórter, “retinem os campanários” com alegres repiques, chamando os fiéis para a Missa do Galo. “Todos vão ver o presépio e beijar os pés do Menino Jesus”.

      No dia 25, a festa continua no almoço de Natal. “Vê-se à mesa gordo capão, o peru de papo recheado e o leitão enfeitadinho com rodelas de limão, guarnecidos com franjas de papel de cor. (…) Quem não pode oferecer uma bandeja dos mais esquisitos manjares e dos mais delicados confeitos arranja o seu doce de cidra, copinhos de doce de chocolate, aletria e arroz de leite.” 

      A “mão da morte” – anota o jornalista – fez desaparecer “grande parte dos devotados armadores de presépios”. Os poucos existentes atestam “a simplicidade dos bons tempos de nossos avós”.

      Memória
      A origem

      O presépio foi criado por São Francisco no século 13. A princípio, as próprias pessoas representavam as figuras bíblicas. Mais tarde, passou-se a usar imagens em tamanho natural. Aos poucos, chegou-se às miniaturas montadas em cenário com pedras, musgos e papéis imitando a natureza. Em Portugal, tornaram-se comuns os conjuntos com influência napolitana, com cenas do dia a dia e personagens variados não citados no texto bíblico.

      Proteína desencadeia Parkinson - Paloma Oliveto‏

      Molécula com ação anti-inflamatória para proteger o organismo do mal, ao se juntar com radicais livres no cérebro doente mata neurônios 

      Paloma Oliveto
      Estado de Minas: 18/12/2012 

      Nas últimas décadas, houve muitos avanços nas pesquisas que investigam as causas do mal de Parkinson, uma doença degenerativa que afeta a coordenação motora. Já se sabe, por exemplo, que fatores genéticos e ambientais, como exposição a pesticidas, predispõem o surgimento do problema. A origem da maioria dos casos, contudo, permanece desconhecida. Agora, uma equipe de cientistas do The Scripps Research Institute da Califórnia, nos Estados Unidos, detectou um mecanismo que explica como um importante grupo de neurônios relacionados à enfermidade começa a se deteriorar. A descoberta, que contou com a participação de uma cientista brasileira e foi publicada no Journal of Immunology, poderá ajudar a desenvolver novos tratamentos para prevenir a doença. 


      “O mal de Parkinson é caracterizado pela perda de neurônios dopaminérgicos, que controlam os movimentos. Acredita-se que inflamações no cérebro contribuam para a morte dessas células”, conta Bruno Conti, professor do Departamento de Neurociência Molecular e Integrativa do instituto. Embora a inflamação não seja uma doença, mas uma resposta imunológica do organismo a infecções ou traumas, ela também é capaz de provocar danos graves. “Ao produzir radicais livres, uma inflamação pode afetar todos os neurônios. Mas a razão pela qual apenas um grupo de células cerebrais morre de Parkinson continuava um mistério”, acrescenta a neuroimunologista brasileira Maria Cecília Marcondes, que assina o artigo como primeira autora, ao lado de Brad Morrison, da Universidade da Califórnia em San Diego. 


      No estudo, realizado com ratos, os cientistas constataram que uma proteína conhecida por seu importante papel como moduladora de inflamações, a interleucina IL-13Ra1, também está presente nos neurônios dopaminérgicos. Porém, os pesquisadores viram-se diante de um paradoxo: na ausência dessa proteína, em vez de piorarem, os animais com inflamação crônica ficavam protegidos contra a perda dos neurônios. “A descoberta foi, a princípio, surpreendente, já que a IL-13Ra1 serve como receptora para a IL-13 e a IL-14, duas proteínas que têm ação anti-inflamatória. Se a inflamação é conhecida por causar danos, como a falta de substâncias anti-inflamatórias poderia ser um fator de proteção?”, reconhece. 


      Para solucionar o problema, os pesquisadores fizeram testes no disco de Petri, um recipiente de vidro usado em laboratórios de microbiologia, para saber se a IL-13 e a IL-14 destruíam os neurônios dopaminérgicos sem a influência de outras substâncias. “Descobrimos que elas não matam quando estão sozinhas, mas potencializam bastante os efeitos tóxicos dos radicais livres, que, de outra maneira, não teriam tamanha toxidade”, relata Bruno Conti. 


      Resultantes da oxidação das células, os radicais livres aumentam quando há processos inflamatórios sem necessariamente provocarem danos ao organismo. Contudo, em níveis muito altos, em vez de mediar a inflamação, eles prejudicam os tecidos. O estudo do The Scripps Research Institute mostrou que, no caso do Parkinson, a morte dos neurônios ocorre devido à interação dos radicais livres com as proteínas IL-13 e IL-14. “A natureza não desenvolveu esses receptores para provocarem doenças. Essas moléculas têm um papel fisiológico muito importante. Mas a combinação de vários fatores pode produzir um resultado que não é necessariamente bom”, explica Maria Cecília Marcondes. 


      Apesar de o trabalho ter sido realizado em ratos, Conti relata que, em humanos, o gene que decodifica a IL-13Ra1 está localizado em uma região do cromossomo X, conhecida por conter um fator que confere suscetibilidade ao Parkinson. Se estudos futuros confirmarem que os receptores dessa proteína agem nos neurônios humanos da mesma forma como atuam nos ratos, os cientistas poderão desenvolver tratamentos preventivos promissores. Uma possibilidade é descobrir drogas que bloqueiem os receptores IL-13, prevenindo a perda dos neurônios dopaminérgicos na ocorrência de uma inflamação. “Esse é apenas o começo”, diz Conti, lembrando que há muita pesquisa pela frente. 


      O cientista ressalta que o estudo não sugere que não se devem combater as inflamações por medo de matar os neurônios.  “O que nós mostramos é que o importante é a forma como a inflamação é reduzida ou cessada”, ressalta Conti. 
      Os processos inflamatórios são estimulados por agentes químicos chamados prostaglandinas, que podem causar danos ao produzir mediadores oxidativos. 
      “As drogas anti-inflamatórias mais comuns, incluindo o ibuprofeno, agem ao bloquear diretamente a síntese das prostaglandinas. Essa é uma estratégia valiosa”, reconhece Conti. “A IL-13 e a IL-14 também reduzem a inflamação, mas elas fazem isso de forma diferente. Se houver radicais livres, a IL-13 e a IL-14 podem danificar os neurônios dopaminérgicos. Essa é uma diferença importante, é como dizer ‘não é a queda que machuca você, mas a forma como você cai’. Então, o que não é recomendado é reduzir a inflamação com a IL-13 ou a IL-14 ou simulando sua síntese”, esclarece. 


      Outras doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer, também podem ter uma ligação com processos inflamatórios, de acordo com diversos estudos. Bruno Conti, porém, acredita que ainda é cedo para relacionar a descoberta do The Scripps Research Institute a outras enfermidades além do Parkinson. 
      “Atualmente, não há um link direto entre o sistema IL-13 e a doença de Alzheimer. Contudo, entender os mecanismos básicos da perda de neurônios durante o processo de neuroinflamação é certamente relevante para uma melhor compreensão das doenças neurodegenerativas.”

      TV PAGA

      Estado de Minas:18/12/2012

      Em uma cidade pacata, decadente e anônima, isolada e recriada num ponto cardeal durante apenas 24 horas, Clarice vê sua existência se desenrolar de maneira circular: ela nasce, cresce, envelhece e morre no mesmo dia. Esse é o enredo de Sudoeste, longa-metragem de Eduardo Nunes, com Simone Spoladore (foto) à frente de um elenco que reúne ainda Raquel Bonfante, Julio Adrião, Dira Paes, Mariana Lima, Everaldo Pontes, Victor Navega Motta, Regina Bastos e Léa Garcia. O filme estreia às 22h, no Canal Brasil.


      Muitas alternativas 
      no pacote de filmes

      O cinema brasileiro é destaque também no Megapix, que estreia em sua programação o filme Tropa de elite 2 – O inimigo agora é outro, de José Padilha, às 22h. Na Fox, o especial Vamos salvar o mundo continua hoje com Homem-Aranha 3, também às 22h. E no mesmo horário o FX segue com a seleção de paródias, exibindo Uma comédia nada romântica. Ainda na faixa das 22h, o assinante em mais nove opções: Drive, no Telecine Pipoca; Código de conduta, na TNT; Força policial, no Space; O quarto anjo, na MGM; Atração perigosa, na HBO; 72 horas, no Max HD; Sim senhor, na Warner; A névoa, no AXN; e Os meninos do Brasil, no TCM. Outras atrações da programação: Lembranças de Hollywood, às 21h, no Comedy Central; e O amor vem devagar, às 21h30, no Viva.

      Canal Brasil e SescTV 
      investem nos curtas

      O curta-metragem também tem espaço cativo na TV por assinatura. No Canal Brasil, às 21h, Pão com mortadela mostra o reencontro nostálgico de dois ex-namorados, interpretados por Fernando Alves Pinto e Georgina Castro. No mesmo horário, o SescTV emenda quatro filmes reunidos na sessão Curtadoc sob o tema “Sentimentos indígenas”: 
      Para os nossos netos, Corpo a corpo, Monumento a Uruçumirim e Canções de resistência guarani.
      Sylvio Mancusi não 
      só pega onda, ele voa 

      O canal Off continua comemorando seu primeiro aniversário com uma série de especiais. Para hoje, a novidade é o programa Na onda, com Sylvio Mancusi viajando pelo mundo com sua prancha e sua pipa em busca dos melhores lugares para a prática do kitesurfe. No roteiro do artista, Nova Zelândia, Chile, Ilhas Maurício e Indonésia. 

      Abujamra entrevista 
      ex-interno de orfanato

      O programa Provocações, apresentado por Antônio Abujamra na TV Cultura, recebe hoje, às 23h, o escritor José Ribeiro Rocha, que conta como foi parar num orfanato. Autor de cinco livros que relatam suas experiências da infância como interno na Casa do Meio, ele conta de onde os livros surgiram, como era o tratamento que recebia no orfanato e como foi a vida 
      fora dos muros. 

      Programa do SescTV
      destaca o Giramundo

      Mais duas boas atrações no canal Futura e no SescTV. No primeiro, a programação especial de fim de ano começa às 21h, com o documentário A alma roqueira de Noel, dirigido por Alex Miranda, acompanhando a expedição do roqueiro Paulo Miklos ao universo do samba para homenagear o Poeta da Vila, Noel Rosa. No SescTV, às 22h, o Giramundo Teatro de Bonecos é uma das atrações da série Teatro e circunstância. 

      Maconha, o remédio - Suzana Herculano-Houzel

      Folha de São Paulo


      NEURO
      SUZANA HERCULANO-HOUZEL - suzanahh@gmail.com
      Maconha, o remédio
      Para um paciente terminal, o risco de o vício deixar sequelas cognitivas é a menor das preocupaçōes
      Escrever aqui duas semanas atrás que a maconha faz mal -deixa sequelas cognitivas quando seu uso é iniciado na adolescência- me rendeu algumas mensagens de apoio e várias de protesto.
      Os mais raivosos reclamavam da mensagem negativa sobre sua droga recreativa predileta, temerosos de que a disseminação da mensagem "faz mal, sim" prejudicasse seu pleito pela legalização. Mas outros reclamaram, um pouco mais educadamente, por eu não ter comentado sobre o outro lado da maconha: seu uso medicinal.
      De fato: a maconha tem um lado clinicamente útil. Devido à sua ação pró apetite e contra enjoo, ela é particularmente interessante para pacientes em quimioterapia, que podem sofrer dias a fio com náuseas fortes, e para pacientes com câncer terminal, que perdem a vontade de comer e assim se enfraquecem ainda mais. E, naturalmente, o prazer propiciado pela droga nesses casos é um bônus muito bem-vindo.
      Também nisso a maconha é como tantas outras substâncias, que podem ser usadas medicinalmente, embora tenham efeitos nocivos para o corpo. A digitalina, por exemplo, é um veneno capaz de matar por parada cardíaca. Mas, em doses controladas, é um remédio contra a insuficiência cardíaca.
      Morfina, usada de modo controlado em hospitais, é uma droga potente contra a dor, embora leve rapidamente ao vício e ainda apresente o risco de matar o paciente por parada respiratória. Até a cocaína já teve uso clínico, como anestésico local.
      A maconha, portanto, não é nem só boa nem só ruim. É uma questão de circunstâncias. Sim, ela vicia e faz mal: como disse aqui na semana passada, seu consumo por adolescentes deixa sequelas cognitivas detectáveis no QI e que se estendem a vários domínios -memória, raciocínio, linguagem.
      Mas, para um paciente com câncer avançado, fazendo quimioterapia para ganhar mais alguns anos de vida, o risco de o uso da maconha levar ao vício ou deixar sequelas cognitivas é, nessas circunstâncias extremas, a menor das preocupaçōes.
      De qualquer forma, usuários, não se preocupem (muito): nos países que legalizaram a maconha, o maior argumento usado para isso não foi a afirmação de que a droga "não faz mal" (pois faz), e sim a constatação de que a proibição gerou um problema ainda maior para as demais pessoas, não usuárias, do que todos os inconvenientes do vício: a violência urbana associada ao tráfico ilegal.

      Jairo Marques

      Folha de São Paulo


      Presente baratinho
      Onde está convencionado, sancionado ou registrado que desejo de criança pobre precisa ser simples?
      De tanto azucrinar a mulher e amigos, eles se renderam e deitaram o cabelo, nos últimos dias, até os Correios para adotar cartas que crianças escrevem às toneladas destinadas ao velho do saco, o Papai Noel.
      Queria eu ser um desses "Eikis" da vida para conseguir pegar umas 10 mil cartas, que me gerariam, sem nenhuma dúvida, 100 milhões de risadas gostosas como retorno do investimento.
      Sou desses que não brincam com desejos depositados em missivas natalinas infantis. Nelas, além de pedidos pueris de um brinquedo qualquer, há esperança de que, em um toque de mágica, algo muito bom possa acontecer.
      Pois minha amada e alguns dos companheiros voltaram da empreitada dezembrina com uma máxima que me deixou com a vó atrás do toco: "Essa criançada só quer coisa cara. É celular, bicicleta, patinete, um diacho de nome Xbox. Ninguém quer presente baratinho".
      Mas onde é que está convencionado, sancionado ou registrado que desejo de criança pobre -a maioria que deposita sua vontade ao Deus-dará- precisa ser baratinho, precisa ser simples?
      Quando eu era menino comedor de terra, lá no interior de Mato Grosso do Sul, ansiava por presentes muito mais ousados. Queria um quarto lotado de surpresas, um trem elétrico de mentirinha, mas que corresse em trilhos e soltasse fumaça de verdade, uma espaçonave que lançaria bolhas de sabão e que tivesse uma geladeirinha dentro cheia de doces de boteco.
      Talvez o meu raciocínio seja daqueles que o Pondé coloca em baixo do travesseiro para ter muitos pesadelos e, depois, mais nervoso que aposentado em dia de pagar a conta da farmácia, inspira-se para escrever aqueles desaforos todos, mas o pensamento simples também acalenta a existência humana.
      Esse negócio de determinar merecimento e de fazer análises comportamentais sobre os pequenos e só assim determinar a premiação natalina são valores adultos que alguns querem enfiar goela abaixo dos infantes.
      Em uma das cartas que abraçamos lá em casa, o menino desfilava um monte de palavras pedindo uma roupinha nova de número tal, do tamanho tal, tentando suavizar o impacto de sua vontade legítima, que estava quase na última linha: "Papai Noel, se der, também quero um relógio do Ben 10".
      Não sabia que raios era isso de Ben 10, mas, sem pudores, entrei em várias lojas de shopping pedindo tudo que fosse relativo ao danado, que descobri ser um desses heróis meio doidos de desenho japonês mais doido ainda.
      Que o menino brinque aos montes com o mimo esquisito, que se inspire para enfrentar os monstros terríveis que o aguardam na vida adulta, e o mais importante: que no futuro incentive outros sonhadores a ter fé em dias melhores.
      -
      Os mais velhos também costumam ser alvos de "presentes baratinhos", afinal, eles já têm de tudo nessa vida. Pode até ser, mas no fundo o que muitos deles querem, a meu ver, custa caríssimo: um pouco do tempo corrido dos filhos para tomar um café e trocarem um chamego ou uma breve ligação dos netos, bisnetos para explicaren, mais uma vez, que danado de poder extraordinário tem o relógio do Ben 10.
      Bom Natal!

        Questões de ordem

        Folha de São Paulo


        MARCELO COELHO ccoelhofsp@uol.com.br
        Cai o pano
        É do Supremo, afirmou Celso de Mello, 'o monopólio da última palavra' em termos de interpretação constitucional
        Uma última picuinha, e das feias, marcou o encerramento da famosa ação penal 470, a do mensalão.
        Com tudo resolvido, inclusive um último recurso dos advogados de Henrique Pizzolato, o presidente do Supremo (e relator do processo), Joaquim Barbosa, tomou a palavra. Não se tratava de nenhum grande pronunciamento político-moral.
        Ele quis apenas fazer um agradecimento a seus assessores, pela colaboração num trabalho de sete anos.
        Quem estranhou a iniciativa foi Marco Aurélio Mello, que já vinha se destacando, nas últimas sessões, por algumas extravagâncias de opinião.
        Prestar homenagem a assessores? Numa sessão pública do tribunal? Como assim? Para Marco Aurélio, o agradecimento poderia ser feito em particular. Joaquim Barbosa estava rompendo totalmente com a liturgia do cargo.
        Se bem se entende sua objeção, a ideia é que teoricamente o ministro do Supremo faz tudo sozinho; não cabe sugerir (o que qualquer leigo acharia natural) que outros profissionais do direito trabalhem, preparem, escrevam, vá lá, os pronunciamentos de suas excelências.
        Barbosa insistiu. Não via problema nenhum em reconhecer, num julgamento inusitado como aquele, o serviço dos assessores.
        Prefiro dizer que não tem nada de inusitado, provocou Marco Aurélio. E, numa cena dispensável, pediu licença para se retirar do plenário.
        Talvez se tenha resumido, com isso, um dos aspectos mais comentados de todo o procedimento dos ministros do Supremo: o jogo de vaidades, a vontade de roubar a cena, a possível inconformidade diante do fato de Joaquim Barbosa -com todos os seus defeitos- ter-se transformado em herói popular.
        Vale ressaltar, contudo, que a vaidade não foi tão grande como se disse. As mulheres, para começar, foram discretas e ponderadas o tempo todo, com destaque para a mente organizada e minuciosa de Rosa Weber. Era sempre ela quem revia e recalculava as penas e as decisões do plenário.
        Gilmar Mendes teve raríssimos momentos em que levantou a voz para fazer alguma coisa parecida com discurso. Mal levantava, na verdade, a própria cabeça.
        Toffoli, de certo modo condenado à discrição, dado o seu histórico de proximidade com José Dirceu, saiu-se bem no julgamento, agindo, por vezes, com distanciamento do que seriam os interesses dos réus -em cuja culpa não acreditava.
        Vaidoso, Lewandowski? Sua atitude de discordância com as teses da acusação valeu, muitas vezes, que sofresse quase que um "bullying" por parte de Joaquim Barbosa. E sua atitude, nesses momentos, era tão serena que parecia até provocação, e de uma humildade que, sincera ou não, chegava aos limites do servil.
        Luiz Fux sem dúvida estava encantado com a própria voz, e feliz com seu papel -o de acompanhar na maior parte das vezes o voto do relator. Houve o episódio da guitarra também. Mas trouxe o conforto de se ver, pelo menos, um condenador que não precisava ficar mal-humorado com isso.
        Vaidoso, Joaquim Barbosa? Menos o amor por si mesmo, e mais a irritação com os réus, os advogados e os colegas foi o que orientou seu comportamento.
        Ayres Britto, presidente do tribunal durante boa parte do processo, já foi várias vezes elogiado aqui, por uma personalidade que parecia autenticamente amorosa, em meio às asperezas da matéria.
        Celso de Mello foi o ministro das falas intermináveis, das cadeias de sinônimos, e de todos os artigos da lei na ponta da língua. Seu voto nesta segunda-feira selou, como já se esperava, a determinação de que perdem o mandato parlamentar os condenados deste processo.
        Como membro mais velho do tribunal, coube-lhe advertir quanto à necessidade de que essa decisão não venha a ser contestada na Câmara dos Deputados. É do STF, repetiu Celso de Mello várias vezes, "o monopólio da última palavra" em termos de interpretação constitucional. Trata-se, disse ele recordando Ruy Barbosa, da responsabilidade de "errar por último". Não deixa de ser uma humildade final.

          Painel - Vera Magalhães

          Folha de São Paulo


          Pacote de Natal
          Apesar de aliviados com o fim da maratona do julgamento do mensalão, ministros do STF demonstravam preocupação com o desgaste institucional de duas medidas contra o Congresso no mesmo dia. Três deles entendem que a liminar de Luiz Fux suspendendo a votação do veto da presidente Dilma Rousseff à redistribuição dos royalties do pré-sal atinge mais o Legislativo que a decisão pela perda imediata do mandato dos deputados condenados no mensalão.
          -
          Da gema Membros do Supremo lembram que, em 2011, Fux concedeu liminar contra resolução do Conselho Nacional de Justiça que obrigava os Tribunais de Justiça a funcionar em período integral. O TJ do Rio, na época, encabeçou a pressão contra a medida. A liminar não foi levada a plenário até hoje.
          Veja bem O petista Marco Maia (RS) convocou a Mesa da Câmara para discutir amanhã como proceder em relação aos mandatos de João Paulo Cunha (PT-SP), Valdemar Costa Neto (PR-SP) e Pedro Henry (PP-MT). A maioria dos membros do colegiado é contra enfrentar o STF.
          Ô loco! Diante do espanto geral com os agradecimentos finais de Joaquim Barbosa após quase cinco meses de julgamento, um colega fustiga: "Daqui a pouco vamos dar de cara com o presidente no programa do Faustão".
          Calendário Caso Barbosa conceda a prisão dos mensaleiros no recesso, como o Ministério Público deve pedir ainda nesta semana, os advogados cogitam esperar para apresentar habeas corpus no período em que o vice-presidente da corte, Ricardo Lewandowski, estiver no comando do plantão.
          Companheiros Em Porto Alegre para reunião do PT no fim de semana, o ex-ministro José Dirceu almoçou com Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, e com o prefeito da capital, José Fortunati (PDT).
          Caixa postal Alvo da Operação Porto Seguro, Rosemary Noronha reclama a amigos que nenhum funcionário da Presidência retorna suas ligações, apesar das inúmeras tentativas de contato.
          Contexto Luís Inácio Adams diz ter procurado o ex-adjunto José Weber Holanda para tratar do relatório da CPI do Cachoeira a fim de evitar que a AGU constasse como signatária do texto, uma vez que advogados da União ajudaram a comissão.
          Fora Adams deve se abster de decidir eventual processo disciplinar que seja instalado contra Weber após a conclusão da sindicância em curso. A missão ficará com Fernando Albuquerque, advogado-geral substituto.
          Abatido... Em diálogo da PF, Paulo Vieira disse "sonhar" com a Prefeitura de Cruzeiro, onde mantém faculdade. O ex-diretor da ANA contou a aliados seus planos para a cidade. "Passei a achar que poderia ser um bom prefeito lá também".
          ...em pleno voo Vieira dizia controlar o PT local e ameaçava acionar Lula caso o deputado Carlinhos Almeida avalizasse aliança petista com seus rivais. "Não adianta ele [Almeida] vir com muita confusão que a gente tem como botar o Lula na história".
          Agora vai? O BID fez ontem o primeiro repasse, de US$ 3,3 milhões, para a obra do Rodoanel Norte, vitrine eleitoral de Geraldo Alckmin.
          Visita à Folha Edson Giriboni, secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Alceu Segamarchi Júnior, superintendente do Daee, e de Maria Cláudia Gavioli e Nanci Moraes, assessoras de imprensa.
          -
          TIROTEIO
          "Depois de seis blecautes, onde estão aqueles senhores, entre eles Paulo Skaf, que atacaram São Paulo por causa da MP do setor elétrico?"
          DO SECRETÁRIO PAULISTA DE ENERGIA, JOSÉ ANÍBAL, sobre o apagão que atingiu 12 Estados desde sábado, o sexto em um período de quatro meses.
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          CONTRAPONTO
          Cabo eleitoral
          Durante a sessão em que a Câmara analisava urgência na apreciação do veto presidencial ao projeto dos royalties, quarta-feira passada, Rose de Freitas (PMDB-ES), que comandava os trabalhos, foi interrompida pelo colega de bancada, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), favorito a assumir a presidência da Casa a partir de 2013:
          -Queria cumprimentar a deputada pela forma brilhante como vem conduzindo a sessão...
          A deputada, que estuda lançar seu nome à presidência para enfrentar Alves, respondeu, sorrindo:
          -Assim fico estimulada a colocar minha candidatura.

            Tendências/Debates

            Folha de São Paulo


            CLAUDIA COSTIN
            TENDÊNCIAS / DEBATES
            Os desafios da educação
            Fundamental ter um currículo claro e provas unificadas todo bimestre. E temos de alfabetizar no 1º ano. No Rio, vários alunos eram analfabetos funcionais
            Os recentes resultados do Ideb, índice nacional que mede o desempenho da educação, permitem uma percepção clara dos desafios ainda a serem enfrentados se o Brasil deseja ter um desenvolvimento que inclua a todos.
            Muito do que deve ser feito demanda ação firme dos municípios. Ainda temos muito a fazer, mas celebramos o avanço da educação no Rio de Janeiro: colocada agora em 4º lugar entre as capitais, para os anos iniciais, as escolas cariocas melhoraram em 22% nos anos finais, refletindo uma nota mais elevada na Prova Brasil e uma redução na evasão escolar e na repetência.
            A importância da obtenção desses resultados em pouco tempo é clara quando voltamos à situação presente anos antes: só 29% das crianças de 5º ano com os conhecimentos apropriados para a série, pela Prova Brasil de 2007 (caindo de um patamar de 33% em 2005). Existiam 28 mil alunos analfabetos funcionais de 4º a 6º anos, sendo quase 17 mil apenas no 6º.
            O esforço para dar um salto na qualidade da educação e assegurar equidade começou com o estabelecimento de um currículo claro, organizado por bimestres, com provas bimestrais unificadas de português, matemática, ciências e redação.
            Convidamos os professores para ajudar na produção de material de apoio, na forma de cadernos pedagógicos e de aulas digitais, a serem projetadas em sala de aula.
            Foi dada grande ênfase em alfabetização. Se havia tantos analfabetos funcionais, algo deveria estar errado. Investimos forte na formação do professor alfabetizador, autorizando, inclusive, que a escola escolhesse sua metodologia de alfabetização. Produzimos, junto com os professores, nosso próprio livro de alfabetização e passamos uma mensagem forte de que alfabetizamos no primeiro ano.
            Não podemos aceitar que a escola privada alfabetize no primeiro ano e que a pública, dada a baixa escolaridade dos pais, deixe para fazê-lo mais tarde.
            Para as áreas conflagradas, criamos o programa Escolas do Amanhã, com atividades pós-escola de arte, esportes e reforço escolar, com um programa inovador de ciências, centrado em experimentação, e com um método mais dinâmico de ensino para desfazer bloqueios cognitivos criados pela exposição diária à violência.
            Cada escola recrutou um educador comunitário e três mães educadoras para ir à casa de alunos em risco de evasão e ser uma presença pacificadora no ambiente e implantou o Bairro Educador, iniciativa que integra as escolas e põe os espaços comunitários a serviço da educação.
            Aqui também os avanços são excelentes: queda da evasão de 5,1% (2008) para 3,18% (2011) e aumento de 33% no IDEB dos anos finais, fase em que o tráfico recruta os jovens.
            O reforço escolar teve importante papel na melhoria do ensino. Criamos um programa de aceleração dos mais velhos, de realfabetização dos analfabetos e o Nenhuma Criança a Menos, para garantir que os alunos com baixo desempenho nas avaliações externas tivessem chances de sucesso.
            Criamos um novo modelo de ensino para adolescentes, o Ginásio Experimental Carioca, com muito protagonismo juvenil, interdisciplinariedade e educação baseada em projetos. Em tudo, uma forte preocupação em envolver as famílias. Produzimos cartilha para os pais apoiarem a educação em casa. Mesmo pais com baixa escolaridade podem e devem apoiar o estudo dos filhos, que agora recebem lição de casa e tarefas de férias.
            Ainda há muito a fazer. Temos que garantir pelo menos sete horas de aula por dia, como fazem os países mais bem colocados no PISA, teste internacional de qualidade da educação em que o Brasil, apesar das melhorias, ainda ocupa o 53º lugar e colocar um sentido de urgência nos avanços. A pobreza de algumas áreas não pode ser desculpa. O Brasil tem pressa!



            NEY CARVALHO
            TENDÊNCIAS/DEBATES
            Getúlio e energia elétrica: a história se repete
            Insegurança jurídica, populismo tarifário, aversão às empresas... Deu na marchinha de Carnaval de 54: "Rio, cidade que seduz, de dia falta água, de noite falta luz"
            Não é a primeira vez que se unem, no Brasil, insegurança jurídica, nacionalismo e mal disfarçada ojeriza à livre iniciativa, além de demagogia tarifária no tratamento regulatório da energia elétrica.
            As mesmas atitudes que hoje conduzem o governo federal no tema já foram presenciadas durante os anos de Getúlio Vargas à frente do Estado brasileiro, entre 1930 e 1945. Parece recomendado rever o histórico, as providências daquele período e suas consequências nefastas.
            Vargas é tido, usualmente, como o grande modernizador do Brasil, apesar de essa não ser a realidade. O crescimento do parque energético nacional, por exemplo, foi brutalmente refreado, sob argumentos e pano de fundo em tudo semelhantes aos que vivemos na atualidade.
            A Constituição de 1891 concedera ampla autonomia aos Estados e municípios para concessão de serviços em seus territórios. Com isso, em 1930, já eram mais de mil as concessionárias, privadas ou municipais, de energia elétrica em atuação no país. Havia, no entanto, uma preponderância de duas empresas estrangeiras: a canadense Light e o grupo norte-americano Amforp.
            A partir daquele ano, a insegurança jurídica foi permanente. Com exceção do breve triênio da Constituição de 1934, o país foi dirigido durante 12 anos por decretos executivos e decretos-lei, versões um pouco pioradas das medidas provisórias.
            O cerco à indústria de eletricidade iniciou-se em setembro de 1931, quando foram proibidos negócios envolvendo terras que contivessem cursos d'água com potencial de exploração energética. Nenhuma empresa poderia se expandir.
            Em 27 de novembro de 1933, a maior quebra de contratos da história brasileira, alcançou, em cheio, as concessionárias. Foi a proibição da "cláusula ouro", uma espécie de correção cambial que preservava da inflação a metade das receitas das companhias de energia elétrica.
            O populismo tarifário se apresentava em marcha batida. Naquela data, Getúlio Vargas anotou em seu diário: "Assino o decreto abolindo os pagamentos em ouro feitos obrigatoriamente no Brasil. Isso atinge principalmente as empresas de serviços públicos, Light e outras (...), causando excelente efeito no público". O excelente efeito no público era sua única preocupação.
            Em seguida o Código de Águas, de julho de 1934, completava o círculo de fogo. As tarifas passaram a ser fixadas sobre o "custo histórico" dos investimentos, sem levar em conta a desvalorização monetária. Ficavam vedadas ampliações ou mesmo modificações nas usinas até a revisão dos contratos, o que nunca foi feito. Proibia-se, também, o ingresso de novos investimentos estrangeiros no setor, bem como quaisquer aumentos de tarifas.
            Há um episódio que revela a ignorância e leviandade com que todo o assunto foi tratado. Em recente biografia do economista Eugênio Gudin (1886-1986) é relatado um diálogo, oito anos depois, em 1942. Vargas lhe pergunta o que significava "custo histórico". Comentários são dispensáveis.
            Segundo a Memória da Eletricidade no Brasil, o crescimento da indústria de energia elétrica, que havia sido de 8,4% ao ano na década de 1910, e 7,8%, nos anos 1920, caiu para 4,9% entre 1930 e 1940, ainda efeito retardado de investimentos anteriores, e se reduziu a apenas 1,1% ao ano até 1945.
            O somatório das políticas de insegurança jurídica, aversão a investimentos privados e busca de modicidade tarifária vieram ecoar no Carnaval de 1954, um quarto de século após o início dos governos Vargas. Naquele ano, um dos maiores sucessos foi a marchinha "Vagalume". Ela cantava: "Rio de Janeiro, cidade que nos seduz, de dia falta água, de noite falta luz".

            Vladimir Safatle

            Folha de São Paulo


            Fé e saber
            Na semana passada, escrevi artigo criticando colocações de dom Odilo Pedro Scherer a respeito da submissão de uma universidade confessional ao quadro dos ditos valores católicos, com seus dogmas e preconceitos.
            Insisti que uma universidade não é simplesmente uma propriedade privada, mas uma autorização do Estado.
            É o Estado brasileiro que legitima o diploma dado por toda e qualquer universidade. Nada mais normal, então, que elas sigam injunções que o Estado democrático compreende como fundamentais para uma formação universitária adequada, como o respeito ao livre pensamento e ao desenvolvimento do senso crítico.
            Note-se que, em momento algum, disse que valores religiosos não devem ser objetos de debate e conhecimento no interior de uma universidade.
            Na verdade, disse que uma universidade não pode sub-meter sua liberdade de pesquisa e de crítica a conjunto algum de valores religiosos, muito menos de interesses ligados ao mercado ou a interesses do próprio Estado.
            Nossos alunos devem conhecer valores religiosos, já que eles são elementos maiores para a formação da cultura e da experiência do pensamento. Não entenderemos como pensamos o tempo, a identidade, a relação com o corpo, o poder, o outro, assim como não entenderemos os limites e potencialidades de nossas formas de pensar, sem passarmos pelo impacto que discussões teológicas tiveram no pensamento.
            No entanto nossos alunos têm a necessidade de conhecer bem valores de todas as religiões, e não apenas de uma específica, com suas leituras peculiares.
            Por exemplo, se nossos alunos, desde o ensino médio, conhecessem as discussões teológicas muçulmanas talvez tivéssemos menos absurdos circulando, quando é questão de tentar compreender as sociedades árabes. O mesmo vale para a tradição judaica. Talvez entenderíamos melhor aqueles que queremos, custe o que custar, colocar sob a rubrica de atrasados e irracionais.
            Mas, para tanto, não precisamos de cursos de teologia ou de formação religiosa. Precisamos de cursos de história das religiões e de seus sistemas de pensamento.
            Não é verdade que fé e saber andam juntos. Mais de 400 anos para que a igreja perdoasse Galileu deveria servir, ao menos, para alguns terem mais humildade quando falam sobre tal relação.
            No entanto é verdade que o saber reconhece como há algo na fé que demonstra como ele começou, de onde ele veio e quais são seus pontos de quebra. Por isso, um conhecimento sobre a história das religiões é uma aquisição fundamental para toda for-mação crítica.

              Carlos Heitor Cony

              Folha de São Paulo

              Madame de Pompadour
              RIO DE JANEIRO - A classe política e a mídia, como um todo, receiam dar nomes aos bois. A Operação Porto Seguro revelou, entre outras coisas, o grau de intimidade entre o ex-futuro presidente Lula e uma funcionária que dirigia importante órgão da Presidência da República. Tão logo o caso veio a público, lembrei uma passagem do Evangelho de Mateus, capítulo 26, versículo 41: "Spiritus promptus est, caro autem infirma".
              Sob muitos ou todos os aspectos, Lula é o espírito do Partido dos Trabalhadores e da cúpula do poder nos últimos dez anos. Ele rege e guia o partido, que surgiu como a salvação da lavoura pátria. E, diga-se a bem da verdade, pessoalmente, Lula sempre esteve "pronto", ou seja, vigilante, e assim conquistou por mérito próprio um lugar privilegiado na história republicana do Brasil.
              Mas se o espírito está pronto, a carne é fraca para todos nós, tenhamos ou não espaço na trajetória nacional. São muitos os episódios em que a fraqueza da carne se revela mais cedo ou mais tarde, bagunçando a própria história. Um dos fatos mais conhecidos não se deu numa república. Luís 15 ("Depois de mim, o dilúvio"), símbolo do poder absoluto, foi advertido pelo capelão que servia a corte, citando a frase do Evangelho de Mateus.
              A carne fraca, no caso, se referia a madame de Pompadour, que, por sinal, tinha um anexo na Du Barry. Não foi nada, não foi nada, ambas entraram no borbulhante caldeirão que, junto aos enciclopedistas e outros fatores mais graves, produziriam a queda da monarquia e a ida de seu neto, Luís 16, para a guilhotina. Uma borboleta bate as asas na Tailândia e um furacão quase destrói Nova York.
              A Operação Porto Seguro ainda é uma nebulosa. Aliás, os tempos que o PT atravessa são nebulosos, embora o espírito de Lula continue pronto.