Zero Hora 09/02/2014
Sabe a.... a... aquela, você sabe....a loirinha.... prima da.... como é
mesmo o nome... aquela que morava na rua atrás do clube... aquele clube
que teu irmão jogava futebol com o... tsk, que futebol, o quê. Tênis,
jogava tênis! Sabe?
Antes era só com minha mãe que eu conversava desse modo, tentando
preencher os pontinhos deixados em branco. Mas hoje em dia tem sido com
as amigas também. Entramos na fase da conversa por dedução. E dessa fase
não sairemos mais. Não vivas.
Vocês já foram nesse restaurante novo que abriu? Esse que foi
matéria ontem no... Vocês sabem, me ajudem, esse que foi superbem
comentado pela... Ah, não importa, andam dizendo que é onde se come o
melhor linguado ao molho de maracujá. Não: de manga. Linguado nada, eu
quis dizer salmão. Salmão ao molho de manga. Isso. Já foram lá?
Completar uma frase tem sido tarefa de adivinhação. Não sei com
você, mas eu não consigo mais lembrar o nome de artistas, de filmes, de
lugares. Mal consigo dizer corretamente o nome das filhas, e são apena
duas. Quem tem três – e acerta – vira meu herói.
É sabido que nosso cérebro está com lotação esgotada. É informação
demais para processar, não há como manter o estoque, é preciso jogar no
lixo o que não serve mais. Aquela atriz... aquela bonitona... me escapa o
nome agora. Pois bem, em sua biografia, ela comenta que, quando
esquecemos um nome, o melhor é deixar pra lá e seguir em frente, mais
adiante a lembrança retorna espontaneamente. Muito bem. Assim tenho
levado a vida, aguardando a volta de palavras que debandaram.
Sim, quero o CPF na nota. É 439136... não, 37... esquece, esse é meu
RG. O CPF é 30055082... Calma, acabei de te dar o telefone do meu
escritório.
Aguardo a volta dos números também.
Caduquice de velha? Olha: não é. Tenho visto muita criança de 30
anos que também está custando para levar uma frase até o final sem se
perder nos “como é mesmo?”. A questão é que estamos sobrecarregados de
tal forma que esquecer passou a ser mais comum do que lembrar. E os
bate-papos agora são assim, um tentando adivinhar o que o outro está
querendo dizer.
Estou indo para Ibiraquera, aluguei uma casa. Falei Ibiraquera?
Perequê, Perequê! Fica ali pertinho de... de... Porto Belo, obrigada. Só
voltaremos depois do Natal. Depois do Carnaval, isso. Muito tempo, né?
Estou levando quatro livros... Esse novo da Fernanda Montenegro... Hein?
Torres. Fernanda Torres. Um de um australiano, canadense, uma coisa
assim. Um sobre a vida da Jane Fonda. E outro daquele cara que tu gosta,
o Stephen... Philip Roth, esse aí. E um monte de palavras cruzadas,
prescrição médica.
Jane Fonda, claro. Como é que pude esquecer?
domingo, 9 de fevereiro de 2014
TeVê
TV paga
Estado de Minas: 09/02/2014
Endividados O GloboNews documentário abre a temporada 2014 hoje, às 20h30, com Tristezas não pagam dívidas. Inspirado no livro da jornalista Mara Luquet, traz de forma bem humorada 10 dicas básicas para sair da inadimplência. Entre os entrevistados, exemplos de quem se perdeu em dívidas, mas deu a volta por cima, como a cantora Elza Soares (foto).
Dose dupla Criada a partir de um projeto de Bill Gates, a série A grande história estreia hoje, às 22h, no canal History. A produção une a astronomia, biologia, química e geologia para levar o assinante a repensar os principais eventos da história. Os dois primeiros episódios analisam a história do sal e a exploração do ouro.
Mais cinco No NatGeo, o domingo é de maratona temática. Para hoje, o canal reservou cinco edições do programa Obras incríveis, começando às 21h15. Anote aí os episódios: “Canal do Panamá”, “Nazismo: a Muralha do Atlântico”, “Porta-aviões USS Ronald Reagan”, “O submarino nuclear russo” e “Plataforma flutuante”.
Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Estado de Minas: 09/02/2014
Endividados O GloboNews documentário abre a temporada 2014 hoje, às 20h30, com Tristezas não pagam dívidas. Inspirado no livro da jornalista Mara Luquet, traz de forma bem humorada 10 dicas básicas para sair da inadimplência. Entre os entrevistados, exemplos de quem se perdeu em dívidas, mas deu a volta por cima, como a cantora Elza Soares (foto).
Dose dupla Criada a partir de um projeto de Bill Gates, a série A grande história estreia hoje, às 22h, no canal History. A produção une a astronomia, biologia, química e geologia para levar o assinante a repensar os principais eventos da história. Os dois primeiros episódios analisam a história do sal e a exploração do ouro.
Mais cinco No NatGeo, o domingo é de maratona temática. Para hoje, o canal reservou cinco edições do programa Obras incríveis, começando às 21h15. Anote aí os episódios: “Canal do Panamá”, “Nazismo: a Muralha do Atlântico”, “Porta-aviões USS Ronald Reagan”, “O submarino nuclear russo” e “Plataforma flutuante”.
Enlatados
Mariana Peixoto - mariana.peixoto@uai.com.br
Crônica anunciada
Reclamação recorrente do público de Game of thrones é que a série tem tantos personagens e tramas paralelas que no hiato de 10 meses entre o fim de uma temporada e o início de outra, boa parte da narrativa anterior foi esquecida. Já que a estreia do quarto ano da mais badalada produção da HBO foi marcado para 6 de abril, o canal, espertamente, vem “esquentando” o espectador. Em janeiro exibiu o trailer e, hoje, antes do episódio de True detective (ou seja, por volta das 21h30), apresenta uma retrospectiva das três primeiras temporadas da produção baseada em As crônicas de gelo e fogo, de George R. R. Martin. Com 15 de minutos, o especial também vai trazer entrevistas com o elenco.
Sucesso –True detective, que só teve três episódios exibidos, teve seu segundo ano confirmado. Só que será sem a presença dos astros Woody Harrelson e Matthew McConaughey, já que cada temporada é independente.
Banda larga –Os assinantes Netflix vão ter o próximo fim de semana cheio. Na sexta-feira entram no ar a segunda e a terceira temporadas de House of cards e Sherlock, respectivamente. Originalmente programada para ir ao ar por somente dois anos, House of cards, primeira produção original do site de streaming, já garantiu sua terceira temporada. E a versão atualizada de Sherlock Holmes, da BBC, tem três episódios. Na estreia, em janeiro, teve 9 milhões de espectadores na Inglaterra.
Retorno –Depois de participar de Web therapy, ao lado da ex-colega de Friends Lisa Kudrow, David Schwimmer, o Ross da saudosa comédia, voltar a estrelar uma série. Será protagonista de Irreversible, também uma comédia, baseada numa produção israelense e centrada nos problemas de um casal. Vale lembrar que em 2014, mais exatamente em maio, completam-se 10 anos desde o fim de Friends.
Maratona –Sábado, a partir das 17h, o Universal Channel exibe maratona com os episódios 7 a 9 da segunda temporada de Beauty and the Beast.
Caras & Bocas
Simone Castro - simone.castro@uai.com.br
Sonho realizado
Na terceira e última fase de Em família (Globo), que entrará nos próximos dias, um dos novos personagens estará nas mãos da cantora Manu Gavassi, sensação teen que tem mais de 20 milhões de visualizações de seus vídeos na web. Ela sempre fez teatro desde criança e agora, aos 21 anos, sem deixar de lado a música, realiza o sonho de atuar, conciliando as duas carreiras. Manu estreia na telinha e na trama de Manoel Carlos no papel de Paulinha, namorada do flautista Leto, vivido por Ronny Kriwat, filho de Laerte (Gabriel Braga Nunes) e Shirley (Viviane Pasmanter). A artista paulista conseguiu o papel por meio de testes. E festeja a dupla conquista. É que Paulinha será uma cantora. “A Paulinha caiu do céu, porque ela vai ser cantora, então foi o melhor que poderia ter acontecido para mim”, contou ao site oficial da novela. Manu comentou, ainda, que a personagem vai morar no Vidigal. Foi a primeira vez que Manu Gavassi foi até a comunidade, no Rio de Janeiro, para as gravações. “Pude ter, diante dos meus olhos, a vista mais linda de toda a minha vida”, elogiou.
SAIBA QUAL IMPORTADO SERÁ FABRICADO NO BRASIL
No Vrum deste domingo, às 8h30, no SBT/Alterosa, fique por dentro do lançamento do A3 Sedan, o importado que será o primeiro Audi fabricado no Brasil depois de muitos anos. No teste de motos, a atração é a pequena e ágil Honda Pop 100. O telespectador ainda confere o teste de segurança que reprovou 10 dos 11 microcarros testados. Fique de olho, pois quatro desses modelos estão no mercado nacional. Acompanhe ainda o teste da Chevrolet S10 diesel cabine dupla.
TERCEIRA TEMPORADA DE SESSÃO TERAPIA VEM AÍ
O elenco da terceira temporada da série Sessão terapia, do canal GNT (TV paga), já está confirmado. Novamente com direção de Selton Mello, o formato continuará o mesmo e tem estreia prevista para agosto. De segunda a quinta-feira, o terapeuta Theo Cecatto (Zécarlos Machado) vai atender os pacientes. No primeiro dia, o terapeuta recebe Bianca Cadore (Letícia Sabatella), uma professora de literatura que tenta salvar seu casamento conturbado. Na terça-feira é a vez de Diego Duarte (Ravel Andrade), de 16 anos, estudante de classe alta que bebe demais. Às quartas, Felipe Alcântara (Rafael Lozano) tem um dilema para resolver: casar-se com uma mulher ou assumir sua homossexualidade?. Na quinta, Milena Dantas (Paula Possari), viúva de Dantas (Sérgio Guizé), o atirador que se suicidou na primeira temporada da série, agora é paciente e procura ajuda para vencer o transtorno obsessivo compulsivo. Também entrarão na trama, em um grupo de supervisão de psicólogos, os atores Fernando Eiras, Celso Frateschi e Camila Pitanga.
MAIS UM EPISÓDIO DA SÉRIE ‘PALÁCIOS’ NA REDE MINAS
No segundo episódio da série “Palácios”, o programa Bem cultural mostra hoje, às 19h, na Rede Minas, o Palácio Cristo Rei e o Palácio da Justiça. Desenhado por Raffaello Berti, no estilo art déco, com revestimento em pó de pedra, o Palácio Cristo Rei foi inaugurado em 1937 para ser a residência do bispo, no complexo da Praça da Liberdade. Em 1º de julho de 1980, o papa João Paulo II se hospedou ali. Já o Palácio da Justiça, símbolo do Poder Judiciário em Minas, foi construído entre 1910 e 1912 e hoje abriga o Museu do Judiciário.
VILAREJO DE PIPA É ROTA DE HOJE DO VIAÇÃO CIPÓ
Confira a beleza do vilarejo de Pipa, no Rio Grande do Norte, no Viação Cipó, hoje, às 10h, na Alterosa. Aprecie o maior cajueiro do mundo, as praias paradisíacas, um encontro com os golfinhos e as falésias. Mais: uma deliciosa receita de camarão.
CONCURSO CULTURAL DÁ VIAGEM COMO PRÊMIO
A Nickelodeon (TV paga) promove até dia 22 um concurso cultural no qual o prêmio é uma viagem com acompanhante a Hollywood para assistir ao Kids Choice Awards 2014. O vencedor será conhecido em março e a viagem entre os dias 27 e 30 do mesmo mês. O evento, em sua 27ª edição, está marcado para 29 de março, em Los Angeles. Interessados em participar do concurso devem se registrar no site mundonick.uol.com.br e responder a uma pergunta. O autor da melhor resposta leva o prêmio. No canal, a cerimônia do Kids Choice Awards 2014 será exibida em 1º de abril, às 18h.
BÁRBARA EVANS FALA DE MUDANÇAS NA VIDA
A modelo Bárbara Evans tem encontro marcado com Marília Gabriela no De frente com Gabi, hoje, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Filha da ex-modelo Monique Evans, ela passou por uma reviravolta em sua vida ao vencer um reality show e hoje pensa em se dedicar à carreira de apresentadora e no licenciamento de produtos com seu nome. “Eu tive que cuidar da minha mãezinha, então eu tive que crescer”, comenta (logo depois que ela saiu do programa, sua mãe foi internada em um clínica psiquiátrica). Bárbara fala sobre o prêmio de R$ 2 milhões que ganhou na atração. “Agora que ganhei o prêmio estou morando sozinha. Apliquei o dinheiro, está guardado. Eu mesma cuido.” E revela: “Fiz amor dentro do confinamento, embaixo do edredom”. Bárbara mencionou também as tatuagens que fez nos braços, em homenagem aos pais e que viraram polêmica.
Reclamação recorrente do público de Game of thrones é que a série tem tantos personagens e tramas paralelas que no hiato de 10 meses entre o fim de uma temporada e o início de outra, boa parte da narrativa anterior foi esquecida. Já que a estreia do quarto ano da mais badalada produção da HBO foi marcado para 6 de abril, o canal, espertamente, vem “esquentando” o espectador. Em janeiro exibiu o trailer e, hoje, antes do episódio de True detective (ou seja, por volta das 21h30), apresenta uma retrospectiva das três primeiras temporadas da produção baseada em As crônicas de gelo e fogo, de George R. R. Martin. Com 15 de minutos, o especial também vai trazer entrevistas com o elenco.
Sucesso –True detective, que só teve três episódios exibidos, teve seu segundo ano confirmado. Só que será sem a presença dos astros Woody Harrelson e Matthew McConaughey, já que cada temporada é independente.
Banda larga –Os assinantes Netflix vão ter o próximo fim de semana cheio. Na sexta-feira entram no ar a segunda e a terceira temporadas de House of cards e Sherlock, respectivamente. Originalmente programada para ir ao ar por somente dois anos, House of cards, primeira produção original do site de streaming, já garantiu sua terceira temporada. E a versão atualizada de Sherlock Holmes, da BBC, tem três episódios. Na estreia, em janeiro, teve 9 milhões de espectadores na Inglaterra.
Retorno –Depois de participar de Web therapy, ao lado da ex-colega de Friends Lisa Kudrow, David Schwimmer, o Ross da saudosa comédia, voltar a estrelar uma série. Será protagonista de Irreversible, também uma comédia, baseada numa produção israelense e centrada nos problemas de um casal. Vale lembrar que em 2014, mais exatamente em maio, completam-se 10 anos desde o fim de Friends.
Maratona –Sábado, a partir das 17h, o Universal Channel exibe maratona com os episódios 7 a 9 da segunda temporada de Beauty and the Beast.
Caras & Bocas
Simone Castro - simone.castro@uai.com.br
Sonho realizado
Na terceira e última fase de Em família (Globo), que entrará nos próximos dias, um dos novos personagens estará nas mãos da cantora Manu Gavassi, sensação teen que tem mais de 20 milhões de visualizações de seus vídeos na web. Ela sempre fez teatro desde criança e agora, aos 21 anos, sem deixar de lado a música, realiza o sonho de atuar, conciliando as duas carreiras. Manu estreia na telinha e na trama de Manoel Carlos no papel de Paulinha, namorada do flautista Leto, vivido por Ronny Kriwat, filho de Laerte (Gabriel Braga Nunes) e Shirley (Viviane Pasmanter). A artista paulista conseguiu o papel por meio de testes. E festeja a dupla conquista. É que Paulinha será uma cantora. “A Paulinha caiu do céu, porque ela vai ser cantora, então foi o melhor que poderia ter acontecido para mim”, contou ao site oficial da novela. Manu comentou, ainda, que a personagem vai morar no Vidigal. Foi a primeira vez que Manu Gavassi foi até a comunidade, no Rio de Janeiro, para as gravações. “Pude ter, diante dos meus olhos, a vista mais linda de toda a minha vida”, elogiou.
SAIBA QUAL IMPORTADO SERÁ FABRICADO NO BRASIL
No Vrum deste domingo, às 8h30, no SBT/Alterosa, fique por dentro do lançamento do A3 Sedan, o importado que será o primeiro Audi fabricado no Brasil depois de muitos anos. No teste de motos, a atração é a pequena e ágil Honda Pop 100. O telespectador ainda confere o teste de segurança que reprovou 10 dos 11 microcarros testados. Fique de olho, pois quatro desses modelos estão no mercado nacional. Acompanhe ainda o teste da Chevrolet S10 diesel cabine dupla.
TERCEIRA TEMPORADA DE SESSÃO TERAPIA VEM AÍ
O elenco da terceira temporada da série Sessão terapia, do canal GNT (TV paga), já está confirmado. Novamente com direção de Selton Mello, o formato continuará o mesmo e tem estreia prevista para agosto. De segunda a quinta-feira, o terapeuta Theo Cecatto (Zécarlos Machado) vai atender os pacientes. No primeiro dia, o terapeuta recebe Bianca Cadore (Letícia Sabatella), uma professora de literatura que tenta salvar seu casamento conturbado. Na terça-feira é a vez de Diego Duarte (Ravel Andrade), de 16 anos, estudante de classe alta que bebe demais. Às quartas, Felipe Alcântara (Rafael Lozano) tem um dilema para resolver: casar-se com uma mulher ou assumir sua homossexualidade?. Na quinta, Milena Dantas (Paula Possari), viúva de Dantas (Sérgio Guizé), o atirador que se suicidou na primeira temporada da série, agora é paciente e procura ajuda para vencer o transtorno obsessivo compulsivo. Também entrarão na trama, em um grupo de supervisão de psicólogos, os atores Fernando Eiras, Celso Frateschi e Camila Pitanga.
MAIS UM EPISÓDIO DA SÉRIE ‘PALÁCIOS’ NA REDE MINAS
No segundo episódio da série “Palácios”, o programa Bem cultural mostra hoje, às 19h, na Rede Minas, o Palácio Cristo Rei e o Palácio da Justiça. Desenhado por Raffaello Berti, no estilo art déco, com revestimento em pó de pedra, o Palácio Cristo Rei foi inaugurado em 1937 para ser a residência do bispo, no complexo da Praça da Liberdade. Em 1º de julho de 1980, o papa João Paulo II se hospedou ali. Já o Palácio da Justiça, símbolo do Poder Judiciário em Minas, foi construído entre 1910 e 1912 e hoje abriga o Museu do Judiciário.
VILAREJO DE PIPA É ROTA DE HOJE DO VIAÇÃO CIPÓ
Confira a beleza do vilarejo de Pipa, no Rio Grande do Norte, no Viação Cipó, hoje, às 10h, na Alterosa. Aprecie o maior cajueiro do mundo, as praias paradisíacas, um encontro com os golfinhos e as falésias. Mais: uma deliciosa receita de camarão.
CONCURSO CULTURAL DÁ VIAGEM COMO PRÊMIO
A Nickelodeon (TV paga) promove até dia 22 um concurso cultural no qual o prêmio é uma viagem com acompanhante a Hollywood para assistir ao Kids Choice Awards 2014. O vencedor será conhecido em março e a viagem entre os dias 27 e 30 do mesmo mês. O evento, em sua 27ª edição, está marcado para 29 de março, em Los Angeles. Interessados em participar do concurso devem se registrar no site mundonick.uol.com.br e responder a uma pergunta. O autor da melhor resposta leva o prêmio. No canal, a cerimônia do Kids Choice Awards 2014 será exibida em 1º de abril, às 18h.
BÁRBARA EVANS FALA DE MUDANÇAS NA VIDA
A modelo Bárbara Evans tem encontro marcado com Marília Gabriela no De frente com Gabi, hoje, à meia-noite, no SBT/Alterosa. Filha da ex-modelo Monique Evans, ela passou por uma reviravolta em sua vida ao vencer um reality show e hoje pensa em se dedicar à carreira de apresentadora e no licenciamento de produtos com seu nome. “Eu tive que cuidar da minha mãezinha, então eu tive que crescer”, comenta (logo depois que ela saiu do programa, sua mãe foi internada em um clínica psiquiátrica). Bárbara fala sobre o prêmio de R$ 2 milhões que ganhou na atração. “Agora que ganhei o prêmio estou morando sozinha. Apliquei o dinheiro, está guardado. Eu mesma cuido.” E revela: “Fiz amor dentro do confinamento, embaixo do edredom”. Bárbara mencionou também as tatuagens que fez nos braços, em homenagem aos pais e que viraram polêmica.
AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA » Íamos salvar o Brasil
AFFONSO ROMANO DE SANT'ANNA »
Íamos salvar o Brasil
Estado de Minas: 09/02/2014
Essa morte trágica de Eduardo Coutinho, aos 80 anos, assassinado pelo filho esquizofrênico, me fez lembrar do tempo em que íamos salvar o Brasil.
Nos anos 1960 falava-se muito em reforma agrária. Eu não passava de um jovem poeta em Belo Horizonte que como diretor de cultura do DCE havia, com companheiros, criado o Centro Popular de Cultura (CPC) de Minas. Oduvaldo Viana (o Vianinha) bem que me convidou para ir para o Rio fazer parte do CPC da UNE, escrever poemas soviéticos de louvor aos heróis populares. Permanecendo, no entanto, em BH, cheguei a fazer algo no gênero, como testemunham os três exemplares de Violão de rua, que Moacyr Félix editava. Um desses poemas intitulava-se “Poema para Pedro Teixeira assassinado”. E aqui entra a conjunção com Eduardo Coutinho, que fez Cabra marcado para morrer. O personagem era o mesmo.
É bom que você vá ver no YouTube o filme de Coutinho e procure no Google toda a peripécia que foi fazer esse filme.
A primeira parte do documentário foi feita em 1964 e a segunda em 1981. Na primeira parte, Eduardo Coutinho registra a vida de Pedro Teixeira, líder camponês assassinado lá em Sapé – corresponderia ao momento em que os comunistas e socialistas íamos salvar o Brasil. Já a segunda parte, quase 20 anos depois, quando o cineasta reencontra a mulher de Pedro (Elizabeth), foi feita quando os militares que estavam no poder já desistiam de salvar o Brasil.
Volta e meia alguém tenta salvar o Brasil. Tancredo tentou, Sarney foi aquilo, Collor prometeu, Fernando Henrique, Itamar, Lula e Dilma idem. Desconfio que o Brasil não quer ser salvo. Hoje muita gente invade os shoppings fazendo rolê, achando que isto salva o Brasil. Meus amigos, vamos assistir de novo ao filme A classe operária vai ao paraíso, de Elio Petri (1971). O shopping virou o paraíso almejado.
Nos anos 60, quando minha geração ia salvar o Brasil, a UNE era um conglomerado de messias. Eu estava lá, Eduardo Coutinho estava lá. Estavam lá Cacá Diegues, Oduvaldo Viana, Armando Costa, Guarnieri, Arnaldo Jabor, Ferreira Gullar, Carlos Lyra, Cecil Thiré, Joel Barcelos etc. E bota etc. nisso. No lançamento de Violão de rua, na UNE, em 1962, jovem estudante de letras de Minas, sentei-me naquela festa revolucionária entre venerandos salvadores da pátria: Ferreira Gullar, Geir Campos, José Paulo Paes, Moacyr Félix, Paulo Mendes Campos, Reynaldo Jardim e o glorioso Vinicius de Moraes. Eu era quase um penetra nessa festa salvacionista, tanto que guardei o autógrafo no livrinho, que diz : “Para o Afonso, que vim encontrar súbito ao meu lado, o abraço do Paulo Mendes Campos e Vinicius de Moraes”.
Se no primeiro Violão de rua havia um poema meu ( “Morte na Lagoa Amarela”) feito a partir de uma entrevista de um camponês ao indômito Binômio, do José Maria Rabelo, no segundo volume daquela coleção meu herói era o Pedro Teixeira. Revelo, a quem interessar possa, que o poema era uma tentativa de conciliar o formalismo do concretismo e a participação do CPC. Ambos queriam salvar o Brasil. Os concretistas alardeavam (equivocadamente) com Maiakóvsky: “Sem forma revolucionária não existe arte revolucionária”. No poema eu fazia uma releitura de Lorca e da poesia medieval portuguesa, já que era aluno de Rodrigues Lapa, que, tendo se cansado de tentar salvar Portugal da época de Salazar, veio para o Brasil.
Naquele tempo, era muito fácil salvar a poesia e o Brasil. Havia fórmulas para tudo. Mas o Brasil não queria ser salvo. O país que tínhamos na cabeça não conferia com a realidade. Só 20 anos mais tarde iria refletir melhor sobre isso: “Que país é este?”.
Revejo o filme de Eduardo Coutinho.
Releio o meu poema uns 50 anos depois.
Acho um luxo você poder se reler 50 anos depois, poder rever sua vida e a de sua geração e medir o sucesso de todos os fracassos. Muitos não tiveram essa chance. De minha geração, muitos tombaram em torno dos 40 anos, seja de enfarte, seja na guerrilha.
Dentro de pouco tempo, como Eduardo Coutinho, iremos embora.
Outros tentarão (em vão) salvar o Brasil.
>> >> www.affonsors@uol.com.br
Estado de Minas: 09/02/2014
Essa morte trágica de Eduardo Coutinho, aos 80 anos, assassinado pelo filho esquizofrênico, me fez lembrar do tempo em que íamos salvar o Brasil.
Nos anos 1960 falava-se muito em reforma agrária. Eu não passava de um jovem poeta em Belo Horizonte que como diretor de cultura do DCE havia, com companheiros, criado o Centro Popular de Cultura (CPC) de Minas. Oduvaldo Viana (o Vianinha) bem que me convidou para ir para o Rio fazer parte do CPC da UNE, escrever poemas soviéticos de louvor aos heróis populares. Permanecendo, no entanto, em BH, cheguei a fazer algo no gênero, como testemunham os três exemplares de Violão de rua, que Moacyr Félix editava. Um desses poemas intitulava-se “Poema para Pedro Teixeira assassinado”. E aqui entra a conjunção com Eduardo Coutinho, que fez Cabra marcado para morrer. O personagem era o mesmo.
É bom que você vá ver no YouTube o filme de Coutinho e procure no Google toda a peripécia que foi fazer esse filme.
A primeira parte do documentário foi feita em 1964 e a segunda em 1981. Na primeira parte, Eduardo Coutinho registra a vida de Pedro Teixeira, líder camponês assassinado lá em Sapé – corresponderia ao momento em que os comunistas e socialistas íamos salvar o Brasil. Já a segunda parte, quase 20 anos depois, quando o cineasta reencontra a mulher de Pedro (Elizabeth), foi feita quando os militares que estavam no poder já desistiam de salvar o Brasil.
Volta e meia alguém tenta salvar o Brasil. Tancredo tentou, Sarney foi aquilo, Collor prometeu, Fernando Henrique, Itamar, Lula e Dilma idem. Desconfio que o Brasil não quer ser salvo. Hoje muita gente invade os shoppings fazendo rolê, achando que isto salva o Brasil. Meus amigos, vamos assistir de novo ao filme A classe operária vai ao paraíso, de Elio Petri (1971). O shopping virou o paraíso almejado.
Nos anos 60, quando minha geração ia salvar o Brasil, a UNE era um conglomerado de messias. Eu estava lá, Eduardo Coutinho estava lá. Estavam lá Cacá Diegues, Oduvaldo Viana, Armando Costa, Guarnieri, Arnaldo Jabor, Ferreira Gullar, Carlos Lyra, Cecil Thiré, Joel Barcelos etc. E bota etc. nisso. No lançamento de Violão de rua, na UNE, em 1962, jovem estudante de letras de Minas, sentei-me naquela festa revolucionária entre venerandos salvadores da pátria: Ferreira Gullar, Geir Campos, José Paulo Paes, Moacyr Félix, Paulo Mendes Campos, Reynaldo Jardim e o glorioso Vinicius de Moraes. Eu era quase um penetra nessa festa salvacionista, tanto que guardei o autógrafo no livrinho, que diz : “Para o Afonso, que vim encontrar súbito ao meu lado, o abraço do Paulo Mendes Campos e Vinicius de Moraes”.
Se no primeiro Violão de rua havia um poema meu ( “Morte na Lagoa Amarela”) feito a partir de uma entrevista de um camponês ao indômito Binômio, do José Maria Rabelo, no segundo volume daquela coleção meu herói era o Pedro Teixeira. Revelo, a quem interessar possa, que o poema era uma tentativa de conciliar o formalismo do concretismo e a participação do CPC. Ambos queriam salvar o Brasil. Os concretistas alardeavam (equivocadamente) com Maiakóvsky: “Sem forma revolucionária não existe arte revolucionária”. No poema eu fazia uma releitura de Lorca e da poesia medieval portuguesa, já que era aluno de Rodrigues Lapa, que, tendo se cansado de tentar salvar Portugal da época de Salazar, veio para o Brasil.
Naquele tempo, era muito fácil salvar a poesia e o Brasil. Havia fórmulas para tudo. Mas o Brasil não queria ser salvo. O país que tínhamos na cabeça não conferia com a realidade. Só 20 anos mais tarde iria refletir melhor sobre isso: “Que país é este?”.
Revejo o filme de Eduardo Coutinho.
Releio o meu poema uns 50 anos depois.
Acho um luxo você poder se reler 50 anos depois, poder rever sua vida e a de sua geração e medir o sucesso de todos os fracassos. Muitos não tiveram essa chance. De minha geração, muitos tombaram em torno dos 40 anos, seja de enfarte, seja na guerrilha.
Dentro de pouco tempo, como Eduardo Coutinho, iremos embora.
Outros tentarão (em vão) salvar o Brasil.
>> >> www.affonsors@uol.com.br
EM DIA COM A PSICANÁLISE » Mistérios da criação
EM DIA COM A PSICANáLISE »
Mistérios da criação
Estado de Minas: 09/02/2014
Estado de Minas: 09/02/2014
Outro dia mesmo,
alguém comentava a relação atual entre pais e filhos. Sempre intrigante
talvez por se tratar de processo complicado e impreciso. Todos somos
filhos e talvez pais um dia. Mas nenhum de nós escapou dessa condição de
filho, pelo menos enquanto nascido de alguém. E nascemos por decisão
alheia ou por acidente de percurso.
Mesmo se não somos criados pelos que nos geraram, seremos cuidados por alguém que os substituirá ou alguma instituição que nos acolha e cuide da gente, até que sejamos independentes. Isto leva tempo. Algumas pessoas nunca alcançam a independência. Acredito que sejam muito infelizes por isso, embora alguns achem que possa ser uma situação vantajosa. Não creio.
Sabemos quem e como foram nossos cuidadores e pais, e quase sempre os responsabilizamos ou até culpamos pelo que somos. Mesmo que eles não tenham culpa, jamais poderão provar serem inocentes. Então, ser pai e mãe já é naturalmente, ou culturalmente, ser culpado. Não devemos acreditar que essa dívida possa ser paga. Se acreditarmos, tentaremos compensar nossos filhos e isso pode ser ainda pior do que carregar a dívida.
Nunca tente pagá-la. Como pais fizemos o melhor que podíamos na ocasião e, claro, ninguém erra porque quer, porque decide fazer o pior. Pelo menos alguém ‘‘normal’’, pois fazer o pior propositalmente seria uma perversão.
Erramos porque não sabemos como fazer o melhor em tal ou tal situação. E errar não é tão danoso. Provavelmente, nunca errar ou acreditar nessa possibilidade pode ser também pior. Se acreditar dono da verdade como se ela fosse única é tentar anular outras possibilidades.
Nunca saberemos quem será o filho que tivemos e nenhuma fórmula ou receita poderá nos ajudar. É como uma aposta que fazemos investindo no futuro que não é o nosso e sim de um outro que ainda não sabemos o que desejará.
Tantos pais, por não saberem ser pais, tratam os filhos como amigos. E disto podemos estar certos: filhos não são amigos. São seres humanos que precisam ser educados por nascerem sem noção de nada. E a educação ensina o certo, o errado, e é preciso insistir muito para as crianças aceitarem o que pode ou não pode.
Elas querem experimentar o mundo, o que é gostoso, o prazeroso, independentemente das consequências, pois ainda não absorveram o princípio da realidade. Funcionam no registro do princípio do prazer. Como fazê-los, então, abandonar o prazer pelo dever? Com o tempo, a insistência, a autoridade e principalmente com amor, pois, se não for por amor, não cola. Não será uma troca interessante. Não valerá a pena.
E somente com amor conseguiríamos deles algum progresso, pois para impor regras de comportamento e socialização é preciso firmeza, pulso e é aí que muitos pais fracassam. Têm de fazer cortes nas pessoas que amam. Se pudessem, dariam aos filhos apenas satisfação, fazendo-os acreditar num mundo onde tudo é feito para agradá-los.
A criança que se acredita o centro do universo e não se acostuma com frustrações cresce como uma majestade e permanece sem noção. Depois de grandes, não vão querer saber de outra coisa...
Assim, ter filhos é um desafio enorme e de grande responsabilidade. Se soubéssemos de antemão todos os riscos, talvez decidiríamos não tê-los. Mas é que às vezes para continuar, o que quer que seja, é preciso ignorar a verdade toda. Vale para a perpetuação da espécie.
E não somente isso. Depois de tudo o que penamos para educá-los, ver que eles se tornaram independentes, capazes e diferentes de tudo que planejamos ou quisemos para eles, é muito bom nos certificarmos de que se tornaram adultos com sua própria história para escrever.
>> reginacosta@uai.com.br
Mesmo se não somos criados pelos que nos geraram, seremos cuidados por alguém que os substituirá ou alguma instituição que nos acolha e cuide da gente, até que sejamos independentes. Isto leva tempo. Algumas pessoas nunca alcançam a independência. Acredito que sejam muito infelizes por isso, embora alguns achem que possa ser uma situação vantajosa. Não creio.
Sabemos quem e como foram nossos cuidadores e pais, e quase sempre os responsabilizamos ou até culpamos pelo que somos. Mesmo que eles não tenham culpa, jamais poderão provar serem inocentes. Então, ser pai e mãe já é naturalmente, ou culturalmente, ser culpado. Não devemos acreditar que essa dívida possa ser paga. Se acreditarmos, tentaremos compensar nossos filhos e isso pode ser ainda pior do que carregar a dívida.
Nunca tente pagá-la. Como pais fizemos o melhor que podíamos na ocasião e, claro, ninguém erra porque quer, porque decide fazer o pior. Pelo menos alguém ‘‘normal’’, pois fazer o pior propositalmente seria uma perversão.
Erramos porque não sabemos como fazer o melhor em tal ou tal situação. E errar não é tão danoso. Provavelmente, nunca errar ou acreditar nessa possibilidade pode ser também pior. Se acreditar dono da verdade como se ela fosse única é tentar anular outras possibilidades.
Nunca saberemos quem será o filho que tivemos e nenhuma fórmula ou receita poderá nos ajudar. É como uma aposta que fazemos investindo no futuro que não é o nosso e sim de um outro que ainda não sabemos o que desejará.
Tantos pais, por não saberem ser pais, tratam os filhos como amigos. E disto podemos estar certos: filhos não são amigos. São seres humanos que precisam ser educados por nascerem sem noção de nada. E a educação ensina o certo, o errado, e é preciso insistir muito para as crianças aceitarem o que pode ou não pode.
Elas querem experimentar o mundo, o que é gostoso, o prazeroso, independentemente das consequências, pois ainda não absorveram o princípio da realidade. Funcionam no registro do princípio do prazer. Como fazê-los, então, abandonar o prazer pelo dever? Com o tempo, a insistência, a autoridade e principalmente com amor, pois, se não for por amor, não cola. Não será uma troca interessante. Não valerá a pena.
E somente com amor conseguiríamos deles algum progresso, pois para impor regras de comportamento e socialização é preciso firmeza, pulso e é aí que muitos pais fracassam. Têm de fazer cortes nas pessoas que amam. Se pudessem, dariam aos filhos apenas satisfação, fazendo-os acreditar num mundo onde tudo é feito para agradá-los.
A criança que se acredita o centro do universo e não se acostuma com frustrações cresce como uma majestade e permanece sem noção. Depois de grandes, não vão querer saber de outra coisa...
Assim, ter filhos é um desafio enorme e de grande responsabilidade. Se soubéssemos de antemão todos os riscos, talvez decidiríamos não tê-los. Mas é que às vezes para continuar, o que quer que seja, é preciso ignorar a verdade toda. Vale para a perpetuação da espécie.
E não somente isso. Depois de tudo o que penamos para educá-los, ver que eles se tornaram independentes, capazes e diferentes de tudo que planejamos ou quisemos para eles, é muito bom nos certificarmos de que se tornaram adultos com sua própria história para escrever.
>> reginacosta@uai.com.br
O pintor da MPB Ary Barroso - Ana Clara Brant
O pintor da MPB
Ary Barroso, que morreu há 50 anos, num domingo de carnaval, coloriu com alegria a música brasileira. Ubá, terra natal do compositor, guarda documentos e relíquias
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 09/02/2014
Foi exatamente num domingo, 9 de fevereiro, há exatos 50 anos, que um dos compositores mais populares da nossa música faleceu, vítima de cirrose hepática. Era carnaval, ocasião mais que propícia para a despedida de alguém que criou sambas e marchas memoráveis e falou de um “Brasil bem brasileiro”: Ary Barroso (1903-1964). O neto dele Márcio Barroso, 54 anos, responsável pela Editora Aquarela do Brasil, que administra as músicas do avô (são cerca de 450), era muito garoto na época, mas tem lembranças do dia. Toda a família (Ary, a esposa, Ivonne, os filhos, Mariúza e Flávio, com os cônjuges e os cinco netos) morava num casarão de três andares na Ladeira Ary Barroso, no Leme, Rio de Janeiro, e ele se lembra da mãe chorando pelos cantos. “Minha mãe ficou muito triste, claro, e ela tentava esquecer arrumando as coisas, para se distrair – pegou o escovão e foi esfregar o chão da sala. É uma cena que ainda está forte na minha memória. Mas o engraçado é que não me recordo do enterro, do velório nem de quando meu avô foi para o hospital. Acho que eles tentavam proteger as crianças. Mesmo assim foi um dia realmente muito triste”, conta Márcio.
Nada de especial marcará o cinquentenário de falecimento de Ary, a não ser a chegada às lojas e sites especializados da caixa Brasil brasileiro, que traz 20 CDs com 316 regravações do autor de Aquarela do Brasil, No rancho fundo e Na baixa do sapateiro, e que foi lançada pela Novodisc/Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), em novembro.
Idealizado pelo professor de biologia, psicólogo e pesquisador paulista Omar Jubran, o box levou 12 anos para ser finalizado. Para ele, a MPB tem três pilares fundamentais: Noel Rosa, Lamartine Babo e o próprio Ary. Segundo Jubran, eles podem até não ser os melhores compositores do Brasil mas certamente foram os responsáveis por mudar a lírica da nossa música. “Os três a tornaram mais alegre, porque a música brasileira era bem trágica, dramática. A partir de então, todo mundo bebeu dessa fonte”, diz.
Linguagem rebuscada No caso do artista mineiro, que nasceu em Ubá, na Zona da Mata, provavelmente pelo fato de ter se formado em direito, ele tinha uma linguagem bem rebuscada e acabou se tornando referência para outros artistas, caso de Tom Jobim, por exemplo. “Ary Barroso deu nova cor à música popular. Todas as boas composições brasileiras, sejam contemporâneas ou não, têm uma pitadinha tanto dele como de Noel e de Lamartine. Enquanto Noel Rosa se tornou uma espécie de repórter do Rio de Janeiro e Lamartine Babo falava por entrelinhas, Ary conciliou essas duas características e, mesmo utilizando palavras mais sofisticadas, fazia letras que eram assimiladas por qualquer pessoa. E ainda era excelente melodista. Juntou tudo isso e caiu no gosto popular”, destaca o pesquisador.
Além da caixa, que ganhou apenas 1 mil edições (e deve ser ampliada), Márcio Barroso avisa que há a intenção de fazer outras ações, como um documentário. Já que o acervo pessoal do avô (fotos, troféus, partituras, cachimbos e dois pianos) está sob a guarda da família, eles poderão até criar um museu. “No Brasil é tudo muito complicado. Quero que as pessoas voltem a se lembrar dele. É engraçado como o norte-americano sabe trabalhar isso muito bem e valoriza seus verdadeiros ícones. O brasileiro tem memória muito curta e, apesar de o nosso trabalho ser de formiguinha, vou fazer de tudo para que meu avô não seja esquecido”, enfatiza.
Márcio conta que, ainda que tivesse fama de ranzinza e mal-humorado, Ary Barroso era extremamente carinhoso em família, e não se importava com a bagunça que os cinco netos faziam, até brincava com a meninada. “Eu me lembro dele bem velhinho com um robe dentro de casa e uma das recordações mais marcantes foi uma tarde em que mamãe reuniu todos para assistir a um programa de televisão de que ele estava participando. Eu não entendia como vovô tinha ficado tão pequenino para caber dentro da TV”, diverte-se.
Memorial não saiu do papel
Em Ubá, onde Ary Barroso nasceu, ainda há parentes do compositor, além de uma preciosidade: o piano em que o artista aprendeu a tocar e que pertenceu a tia Ritinha, que o criou, quando ele ficou órfão de pai e mãe. A ideia é que o instrumento, tombado, vá para um memorial a ser construído na cidade. Por enquanto, o projeto da construção do espaço está parado. Em novembro, mês de aniversário do compositor, foi inaugurada uma estátua batizada de Ary Barroso ao piano, na Praça São Januário, como parte da programação do Prêmio Ary Barroso de Música, realizado anualmente no município.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Ubá, Miguel Gasparoni, ex-presidente do Conselho do Patrimônio Cultural da cidade, é admirador do conterrâneo ilustre e lembra que, certa vez, foi até o Rio entregar uma cópia do registro original do nascimento de Ary Barroso para Mariúza, sua filha. Segundo o advogado, ela ficou tão emocionada que mostrou o enorme acervo de seu pai, a começar pelo piano onde ele compôs, em uma única noite chuvosa, Aquarela do Brasil. “Trouxemos todo esse material para Ubá, para montarmos o Memorial Ary Barroso, que seria na Praça da Estação, onde havia busto construído em homenagem a ele. Infelizmente, por falta de vontade política, até hoje o projeto não foi concretizado. Quando fui vereador e presidente da Câmara, propus a denominação da praça que se situa no trevo da rodovia Ubá-JF-Visconde do Rio Branco como Praça Aquarela do Brasil. Lá, plantamos ‘um coqueiro que dá coco’ e colocamos um monumento com a imagem em aço da Bandeira do Brasil e de um ‘mulato inzoneiro’. O espaço foi inaugurado por seu filho Flávio Rubens (já falecido)”, revela.
Gasparoni, que é amigo da família Barroso mas não chegou a conhecer o compositor e cronista, acrescenta que o relacionamento de Ary com Ubá foi muito profundo, mas ele se reservava o direito de ir à terra natal meio escondido. “Ficava em companhia dos amigos fechando todos os bares. Soube que ele era muito positivo e, se tinha que falar, ouvia quem quisesse. Ele falava o que pensava! Ubá ama e admira seu mais ilustre filho. No exterior, quando se fala em Brasil, toca-se Aquarela do Brasil. E isso nos orgulha, pois o mundo sabe que ele nasceu aqui”, celebra.
Ary Barroso em 10 tempos
Publicação: 09/02/2014 04:00
» Depois que ficou órfão, aos 7 anos, Ary Barroso foi criado por uma tia-avó, que queria torná-lo pianista de concerto ou padre. Por isso, o obrigava a estudar três horas de piano por dia. Ele costumava dizer que eram as três horas mais terríveis do dia.
» Ary Barroso demorou nove anos para se formar em direito e nunca trabalhou na área.
» Compôs Aquarela do Brasil, considerada o segundo hino nacional, numa noite do início de 1939. Quando a criou, chovia torrencialmente no Rio de Janeiro e Ary não pôde sair de casa, como fazia sempre. Na mesma noite, ele fez também a valsa Três lágrimas.
» Quem tornou a música conhecida nos Estados Unidos foi Walt Disney. Em inglês, o título de Aquarela do Brasil ficou apenas Brazil. Suas músicas também ficaram muito conhecidas na voz de Carmem Miranda. O sucesso lhe rendeu um convite de Disney para musicar o filme Você já foi à Bahia?
» O compositor foi eleito vereador pela União Democrática Nacional (UDN) em 1946, tendo recebido a segunda maior votação do Rio de Janeiro, então capital da República, ficando atrás apenas de Carlos Lacerda. O vereador mostrou visão ao propor, ainda em 1949, a criação da coleta seletiva de lixo na cidade e foi autor de manobras que foram decisivas na escolha do Maracanã como região para abrigar a construção do estádio de futebol.
» Ary Barroso ficou também famoso como locutor esportivo. Toda vez que o Flamengo, seu time de coração, marcava um gol, ele tocava uma gaitinha. Se fosse o adversário, ele virava-se de costas e dizia aos ouvintes: “Não vou nem olhar!”
» Numa viagem à Argentina, em 1937, para transmitir os jogos do Campeonato Sul-Americano de Futebol, foi protagonista de um fato que se tornou conhecido. Torcendo para o time rubro-negro mais do que narrando a partida, chegou a largar o microfone para incentivar os jogadores e cedeu sua gravata para que um jogador machucado a usasse como tipoóia. Outro fato de sua carreira como locutor esportivo se deu no ano seguinte porque, como ele era proibido de entrar no estádio do Vasco da Gama, chegou a transmitir o jogo do telhado, usando um binóculo.
» Como sabia que era bom compositor, Ary Barroso não hesitava em mudar a letra de canções compostas por outros artistas. Fez assim com Na virada da montanha, de Lamartine Babo. O resultado foi o sucesso No rancho fundo.
» Em 1940, Aquarela do Brasil não chegou a ficar entre as finalistas de concurso de sambas para o carnaval, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos. Por causa disso, Ary Barroso cortou relações com o maestro, só retomadas 15 anos depois, quando os dois receberam a Comanda Nacional do Mérito.
» Sua defesa dos direitos autorais dos compositores lhe rendeu boicote por parte da Ordem dos Músicos do Brasil, que ameaçou proibir a execução de suas composições.
Ary Barroso, que morreu há 50 anos, num domingo de carnaval, coloriu com alegria a música brasileira. Ubá, terra natal do compositor, guarda documentos e relíquias
Ana Clara Brant
Estado de Minas: 09/02/2014
Cafezinho e cigarro, amigos inseparáveis do compositor, cronista, locutor esportivo e vereador pelo Rio de Janeiro |
Foi exatamente num domingo, 9 de fevereiro, há exatos 50 anos, que um dos compositores mais populares da nossa música faleceu, vítima de cirrose hepática. Era carnaval, ocasião mais que propícia para a despedida de alguém que criou sambas e marchas memoráveis e falou de um “Brasil bem brasileiro”: Ary Barroso (1903-1964). O neto dele Márcio Barroso, 54 anos, responsável pela Editora Aquarela do Brasil, que administra as músicas do avô (são cerca de 450), era muito garoto na época, mas tem lembranças do dia. Toda a família (Ary, a esposa, Ivonne, os filhos, Mariúza e Flávio, com os cônjuges e os cinco netos) morava num casarão de três andares na Ladeira Ary Barroso, no Leme, Rio de Janeiro, e ele se lembra da mãe chorando pelos cantos. “Minha mãe ficou muito triste, claro, e ela tentava esquecer arrumando as coisas, para se distrair – pegou o escovão e foi esfregar o chão da sala. É uma cena que ainda está forte na minha memória. Mas o engraçado é que não me recordo do enterro, do velório nem de quando meu avô foi para o hospital. Acho que eles tentavam proteger as crianças. Mesmo assim foi um dia realmente muito triste”, conta Márcio.
Nada de especial marcará o cinquentenário de falecimento de Ary, a não ser a chegada às lojas e sites especializados da caixa Brasil brasileiro, que traz 20 CDs com 316 regravações do autor de Aquarela do Brasil, No rancho fundo e Na baixa do sapateiro, e que foi lançada pela Novodisc/Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS), em novembro.
Idealizado pelo professor de biologia, psicólogo e pesquisador paulista Omar Jubran, o box levou 12 anos para ser finalizado. Para ele, a MPB tem três pilares fundamentais: Noel Rosa, Lamartine Babo e o próprio Ary. Segundo Jubran, eles podem até não ser os melhores compositores do Brasil mas certamente foram os responsáveis por mudar a lírica da nossa música. “Os três a tornaram mais alegre, porque a música brasileira era bem trágica, dramática. A partir de então, todo mundo bebeu dessa fonte”, diz.
Linguagem rebuscada No caso do artista mineiro, que nasceu em Ubá, na Zona da Mata, provavelmente pelo fato de ter se formado em direito, ele tinha uma linguagem bem rebuscada e acabou se tornando referência para outros artistas, caso de Tom Jobim, por exemplo. “Ary Barroso deu nova cor à música popular. Todas as boas composições brasileiras, sejam contemporâneas ou não, têm uma pitadinha tanto dele como de Noel e de Lamartine. Enquanto Noel Rosa se tornou uma espécie de repórter do Rio de Janeiro e Lamartine Babo falava por entrelinhas, Ary conciliou essas duas características e, mesmo utilizando palavras mais sofisticadas, fazia letras que eram assimiladas por qualquer pessoa. E ainda era excelente melodista. Juntou tudo isso e caiu no gosto popular”, destaca o pesquisador.
Além da caixa, que ganhou apenas 1 mil edições (e deve ser ampliada), Márcio Barroso avisa que há a intenção de fazer outras ações, como um documentário. Já que o acervo pessoal do avô (fotos, troféus, partituras, cachimbos e dois pianos) está sob a guarda da família, eles poderão até criar um museu. “No Brasil é tudo muito complicado. Quero que as pessoas voltem a se lembrar dele. É engraçado como o norte-americano sabe trabalhar isso muito bem e valoriza seus verdadeiros ícones. O brasileiro tem memória muito curta e, apesar de o nosso trabalho ser de formiguinha, vou fazer de tudo para que meu avô não seja esquecido”, enfatiza.
Márcio conta que, ainda que tivesse fama de ranzinza e mal-humorado, Ary Barroso era extremamente carinhoso em família, e não se importava com a bagunça que os cinco netos faziam, até brincava com a meninada. “Eu me lembro dele bem velhinho com um robe dentro de casa e uma das recordações mais marcantes foi uma tarde em que mamãe reuniu todos para assistir a um programa de televisão de que ele estava participando. Eu não entendia como vovô tinha ficado tão pequenino para caber dentro da TV”, diverte-se.
Memorial não saiu do papel
Em Ubá, o piano e a estátua, na Praça São Januário, aguardam espaço dedicado ao compositor |
Em Ubá, onde Ary Barroso nasceu, ainda há parentes do compositor, além de uma preciosidade: o piano em que o artista aprendeu a tocar e que pertenceu a tia Ritinha, que o criou, quando ele ficou órfão de pai e mãe. A ideia é que o instrumento, tombado, vá para um memorial a ser construído na cidade. Por enquanto, o projeto da construção do espaço está parado. Em novembro, mês de aniversário do compositor, foi inaugurada uma estátua batizada de Ary Barroso ao piano, na Praça São Januário, como parte da programação do Prêmio Ary Barroso de Música, realizado anualmente no município.
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de Ubá, Miguel Gasparoni, ex-presidente do Conselho do Patrimônio Cultural da cidade, é admirador do conterrâneo ilustre e lembra que, certa vez, foi até o Rio entregar uma cópia do registro original do nascimento de Ary Barroso para Mariúza, sua filha. Segundo o advogado, ela ficou tão emocionada que mostrou o enorme acervo de seu pai, a começar pelo piano onde ele compôs, em uma única noite chuvosa, Aquarela do Brasil. “Trouxemos todo esse material para Ubá, para montarmos o Memorial Ary Barroso, que seria na Praça da Estação, onde havia busto construído em homenagem a ele. Infelizmente, por falta de vontade política, até hoje o projeto não foi concretizado. Quando fui vereador e presidente da Câmara, propus a denominação da praça que se situa no trevo da rodovia Ubá-JF-Visconde do Rio Branco como Praça Aquarela do Brasil. Lá, plantamos ‘um coqueiro que dá coco’ e colocamos um monumento com a imagem em aço da Bandeira do Brasil e de um ‘mulato inzoneiro’. O espaço foi inaugurado por seu filho Flávio Rubens (já falecido)”, revela.
Gasparoni, que é amigo da família Barroso mas não chegou a conhecer o compositor e cronista, acrescenta que o relacionamento de Ary com Ubá foi muito profundo, mas ele se reservava o direito de ir à terra natal meio escondido. “Ficava em companhia dos amigos fechando todos os bares. Soube que ele era muito positivo e, se tinha que falar, ouvia quem quisesse. Ele falava o que pensava! Ubá ama e admira seu mais ilustre filho. No exterior, quando se fala em Brasil, toca-se Aquarela do Brasil. E isso nos orgulha, pois o mundo sabe que ele nasceu aqui”, celebra.
Ary Barroso em 10 tempos
Publicação: 09/02/2014 04:00
Ary Barroso ao lado da esposa, Ivonne, e dos netos Kátia, Ricardo e Márcio: casarão de três andares abrigava toda a família |
» Depois que ficou órfão, aos 7 anos, Ary Barroso foi criado por uma tia-avó, que queria torná-lo pianista de concerto ou padre. Por isso, o obrigava a estudar três horas de piano por dia. Ele costumava dizer que eram as três horas mais terríveis do dia.
» Ary Barroso demorou nove anos para se formar em direito e nunca trabalhou na área.
» Compôs Aquarela do Brasil, considerada o segundo hino nacional, numa noite do início de 1939. Quando a criou, chovia torrencialmente no Rio de Janeiro e Ary não pôde sair de casa, como fazia sempre. Na mesma noite, ele fez também a valsa Três lágrimas.
» Quem tornou a música conhecida nos Estados Unidos foi Walt Disney. Em inglês, o título de Aquarela do Brasil ficou apenas Brazil. Suas músicas também ficaram muito conhecidas na voz de Carmem Miranda. O sucesso lhe rendeu um convite de Disney para musicar o filme Você já foi à Bahia?
» O compositor foi eleito vereador pela União Democrática Nacional (UDN) em 1946, tendo recebido a segunda maior votação do Rio de Janeiro, então capital da República, ficando atrás apenas de Carlos Lacerda. O vereador mostrou visão ao propor, ainda em 1949, a criação da coleta seletiva de lixo na cidade e foi autor de manobras que foram decisivas na escolha do Maracanã como região para abrigar a construção do estádio de futebol.
» Ary Barroso ficou também famoso como locutor esportivo. Toda vez que o Flamengo, seu time de coração, marcava um gol, ele tocava uma gaitinha. Se fosse o adversário, ele virava-se de costas e dizia aos ouvintes: “Não vou nem olhar!”
» Numa viagem à Argentina, em 1937, para transmitir os jogos do Campeonato Sul-Americano de Futebol, foi protagonista de um fato que se tornou conhecido. Torcendo para o time rubro-negro mais do que narrando a partida, chegou a largar o microfone para incentivar os jogadores e cedeu sua gravata para que um jogador machucado a usasse como tipoóia. Outro fato de sua carreira como locutor esportivo se deu no ano seguinte porque, como ele era proibido de entrar no estádio do Vasco da Gama, chegou a transmitir o jogo do telhado, usando um binóculo.
» Como sabia que era bom compositor, Ary Barroso não hesitava em mudar a letra de canções compostas por outros artistas. Fez assim com Na virada da montanha, de Lamartine Babo. O resultado foi o sucesso No rancho fundo.
» Em 1940, Aquarela do Brasil não chegou a ficar entre as finalistas de concurso de sambas para o carnaval, cujo júri era presidido por Heitor Villa-Lobos. Por causa disso, Ary Barroso cortou relações com o maestro, só retomadas 15 anos depois, quando os dois receberam a Comanda Nacional do Mérito.
» Sua defesa dos direitos autorais dos compositores lhe rendeu boicote por parte da Ordem dos Músicos do Brasil, que ameaçou proibir a execução de suas composições.
Uma dor de difícil diagnóstico Fibromialgia
Uma dor de difícil diagnóstico
Fibromialgia, que atinge o tecido muscular, chega a afetar 3% da população brasileira e sua confirmação pode levar alguns anos. Sem explicação científica, doença atinge mais as mulheres, que devem se dedicar a atividades aeróbicas e alongamentos
Paula Takahashi
Estado de Minas: 09/02/2014
Dor generalizada por todo o corpo por no mínimo três meses acompanhada por fadiga, ansiedade, depressão, dificuldade para dormir e até alterações intestinais. Durante vários anos, o desconhecimento sobre a fibromialgia levou os pacientes acometidos por esses sintomas a serem tachados de “dramáticos” ou “estressados”, evoluindo para um diagnóstico de transtornos emocionais como depressão. Mesmo com o reconhecimento da doença considerada crônica e pesquisas intensivas sobre o assunto, o fibromiálgico pode levar até três anos para descobrir a justificativa para as dores persistentes e difundidas pelo tecido muscular. O fato de o reumatologista – médico dedicado aos estudos e tratamento da enfermidade – ser procurado apenas depois que o paciente passa por três outros profissionais de áreas distintas está entre os motivos para a morosidade na identificação da patologia.
Sem qualquer exame que seja capaz de detectar a fibromialgia, o diagnóstico é essencialmente clínico, baseado em critérios classificatórios pontuados pelo Colégio Americano de Reumatologia. Entre eles, a presença de dor difusa e generalizada por mais de três meses. “Dentro do corpo existe um sistema de controle de dor. No caso dos fibromiálgicos, esse sistema sofre uma falha, por isso a doença é conhecida como síndrome de amplificação dolorosa”, explica o reumatologista Marcelo Cruz Rezende, coordenador da Comissão de Dor, Fibromialgia e Outras Síndromes Dolorosas de Partes Moles da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).
A dor passa então a ocorrer de forma mais intensa nessas pessoas. Uma das justificativas para esse descontrole estaria nas alterações dos níveis de neurotransmissores no cérebro – como serotonina e noradrenalina –, substâncias químicas produzidas pelos neurônios e responsáveis por transportar as informações entre as células. “Há distúrbios associados também ao funcionamento da bomba de cálcio”, acrescenta Marcelo. Outra indicação de que o paciente sofre de fibromialgia são os 18 pontos dolorosos espalhados pelo corpo. É preciso que pelo menos 11 deles sejam reconhecidos. A revisão dos critérios estabelecidos pelo Colégio Americano de Reumatologia em 2010 excluiu a necessidade de contagem dos pontos dolorosos, orientação que ainda está sob questionamento pela área médica. Com isso, eles ainda continuam sendo utilizados como referência para a detecção do problema.
Exames de imagem e diagnósticos não são usados para indicar a fibromialgia, mas sim para que seja eliminada a possibilidade de outras patologias. “Os sintomas são muito pouco específicos e não há nada exclusivo da fibromialgia. Por isso são realizados exames para excluir hipotireodismo, doenças do tecido conjuntivo, como artrite reumatoide, e no caso de mulheres no período fértil o lúpus”, explica Luiz Severiano Ribeiro, coordenador do Grupo de Educação do Paciente Fibromiálgico do Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (Ipsemg). Há mais de 20 anos, o grupo está aberto ao público interessado em informações sobre as causas, tratamentos e o funcionamento da doença. “Aqui, eles têm contato com pessoas que sofrem do mesmo problema e já passam por tratamento há muitos anos. É uma forma de eles sentirem que há outras pessoas na mesma situação e que não são os únicos”, afirma Luiz.
CAUSAS E TRATAMENTO O surgimento da doença está atrelado à genética e a situações de estresse crônico. “Há um padrão hereditário, mas não existe um gene identificado para a fibromialgia”, reconhece Marcelo Cruz. Doenças graves, traumas emocionais ou físicos e até mudanças hormonais podem desencadear os sintomas, que começam com uma dor crônica localizada que progride e é difundida para todo o corpo. A doença afeta mais as mulheres, já que de cada 10 pacientes, de sete a nove são do sexo feminino. A razão para essa incidência não é clara, já que não parece haver relação com hormônios.
A enfermidade não tem cura, mas diante de certas providências é possível conviver com a doença. Entre elas, a prática frequente de atividades aeróbicas. “Atividade física, principalmente aeróbica, tem efeito sobre o padrão de dor e melhora a fadiga. Existem trabalhos que mostram que até o tai chi chuan pode ajudar a amenizar os sintomas da fibromialgia”, reconhece Marcelo Cruz. Antidepressivos também podem ser indicados, já que agem sobre os neurotransmissores, tendo efeito sobre a dor. Diante de dores distintas e com intensidade variada, todo o tratamento é individualizado.
» Jorge Luiz Dutra, aposentado, de 58 anos
“Até descobrir o problema, em 2004, demorei quatro anos indo em vários médicos e fazendo todo tipo de exame. Hoje aprendi a conviver com a dor que é persistente, do pescoço para baixo. Só não dói o cabelo (risos). Tomo antidepressivos e analgésicos, mas o que funciona mesmo são as caminhadas diárias de uma hora. Faça chuva ou faça sol, não deixo de ir. Na família, tenho primos que estão fazendo exames e há suspeita de fibromialgia. A grande tristeza é que a gente passa por muita humilhação porque ninguém acredita na doença, nem mesmo o Instituto Nacional da Previdência Social (INSS). Se não tem exame que identifique, não dá para comprovar.”
» Evangelina Maria Lara, aposentada, de 75
“Problema nos ossos foi uma dos problemas que falaram que eu tinha antes de chegar até a fibromialgia. As dores, que estão sempre presentes, começaram há mais de 30 anos e há 25 trato a doença. Não foi identificado nenhum caso na família e meus filhos também não apresentaram os sintomas. Quando tenho algum problema emocional, por menor que seja a chateação do dia a dia, a dor intensifica e é preciso tomar analgésicos para aliviar.”
Números
3%
da população brasileira é
afetada pela fibromialgia
80%
dos pacientes são mulheres
34 a 57
anos é a faixa etária de
realização do diagnóstico
Sintomas associados
>> Fadiga intensa
>> Irritação intestinal e da bexiga
>> Dor de cabeça
>> Movimento involuntário das pernas durante o sono
>> Dificuldade para dormir
>> Ansiedade
>> Depressão
>> Dificuldade de concentração
Tratamento
>> Exercícios para alongamento e fortalecimento muscular, assim como para condicionamento cardiorrespiratório. Devem ser praticados durante 40 minutos, três vezes por semana
>> Técnicas de relaxamento para prevenir espasmos musculares
>> Hábitos saudáveis para melhorar a qualidade de vida e reduzir o estresse
>> Medicações para o controle da dor e dos distúrbios do sono
Eduardo Almeida Reis - Números
Números
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/02/2014
Mesmo com o adjutório da Sheng KA-9178A, a calculadora chinesa que me custou nove reais, sou uma lástima para lidar com números. Outro dia, resolvi calcular quantos minutos tem um mês. Considerando que a hora tem 60 minutos, o dia 24 horas e o mês normalmente 30 dias, multipliquei 60 x 24 x 30 e apareceu um número imenso na tela da Sheng. Copiei e fui em frente. Relendo o texto, achei que era muito minuto para um mês. Refiz os cálculos três vezes e publiquei o suelto com a nova quantidade de minutos: 43.200. Desconfio de que muita gente graúda não sabe lidar com números e calculadoras chinesas, daí a roubalheira nacional andar sempre na casa dos milhões.
Mas hoje vou falar de coisas honestas e bonitas: um silo metálico para armazenamento de cereais, o maior do mundo, baseado na matéria do meu amigo Leandro Mittmann, editor de A Granja, revista em que faço crônicas mensais há mais de 30 anos. Construído pela Kepler Weber e instalado em Primavera do Leste, MT, o silo armazena 35 mil toneladas e resiste a ventos de até 144km/h.
Uma tonelada é unidade de medida de massa equivalente a 1.000 quilos. Aí, você multiplica por mil e depois multiplica por 35 para imaginar o tamanho do maior silo do mundo. Ele tem 30 metros, altura equivalente a um edifício de 11 andares, e mais de 47 metros de diâmetro – quase meio quarteirão! Preço pago pela Uniagro, que trabalha com 400 produtores e já tinha capacidade para estocar 1,72 milhões de sacas: R$ 4 milhões.
O município de Primavera do Leste foi fundado ainda outro dia, em 1986, tem IDH muito alto e só uma de suas granjas avícolas produz 3 milhões de ovos/dia, em vias de passar para 4 milhões/dia. É um exemplo, infelizmente raro, do Brasil que funciona.
Cinquentões
Bacharéis alfabetizados, apessoados, divorciados, com emprego fixo e nome limpo na praça, correm grande perigo quando se mudam de cidade. É um tal de senhoras querendo se casar ou namorar, que o ádvena deve ficar esperto. Ádvena, minha gente: o que vem de fora.
Sim, porque ao contrário do que indica o noticiário, ainda existem mulheres que se amarram em homens, e vice-versa. Esses últimos escasseiam, é certo, o que talvez explique o afluxo de candidatas. Se inteligente, o ádvena prefere senhoras casadas, que não se mudam de mala e cuia. Visitam-no, podem levar um chinelinho, uma camisola, escova de dentes e creme dental “para botar no dentifrício”, como diz aquela senhora que confunde dentifrício com tubo, ou tubo com dentifrício. O vídeo foi gravado e circula na internet, para tristeza deste país grande e bobo.
Câmeras de segurança
Que segureza oferecem as câmeras de segurança particulares ou públicas? São relativamente novas em nossas casas e cidades, sem que o número de assaltos, e roubos, e mortes deixe de aumentar assustadoramente. A tevê nos mostrou uma rua na cidade de São Paulo, num bairro “bom”, em que todas as casas já foram assaltadas, com exceção de três. Os automóveis são roubados quando os moradores entram ou saem das garagens.
Eventualmente, uma câmera de segureza, segurança, seguridade, permite que a polícia identifique o criminoso. Localizado e preso, é solto na hora se menor de 18 anos. Maior de 18 fica preso, quando fica, por pouquíssimo tempo.
Cavalheiros e damas no exercício de altos cargos públicos disseram que o rolezinho no shopping é “cultural”. Ora, bolas, queimar clitóris das recém-nascidas para que não tenham prazer sexual também é cultural. Poligamia, burca, baile funk, tudo é cultural. Portanto, a corrupção brasileira é cultural e não se fala mais nela, falou?
O mundo é uma bola
Como é do desconhecimento geral, em 9 de fevereiro do ano de 474 teve início o reinado do imperador bizantino Zenão I, que se chamava Flavius Zeno e reinou até 491. Nascido circa 425, chamava-se Tarasis Rousoumbladiõtes até meados do ano 460, quando passou a chamar-se Flavius Zeno, bem melhor do que Rousoumbladiõtes, que tem uma espécie de tracinho por cima do último e, como também tem o tracinho em cima do último o, que aceitou o til.
Em 1849, pelo Risorgimento, foi proclamada a república romana. Em 1855, o governo imperial do Brasil firmou contrato com Edward Price para construção do primeiro trecho de uma estrada de ferro que visava ligar a Corte, então sediada no Rio de Janeiro, às províncias de São Paulo e de Minas Gerais – a Estrada de Ferro Central do Brasil. Enquanto philosopho, acho que a problemática ferroviária brasileira só terá solução no dia em que for confiada ao professor Júlio Lopes, secretário de Transportes do RJ no governo Sérgio Cabral, que supervisiona o maravilhoso sistema de trens daquele estado.
Em 1885, os primeiros japoneses se instalam no Havaí, que também tem vulcões: japonês adora vulcão. Hoje é o Dia do Frevo e o Dia do Zelador.
Ruminanças
“Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, 1895-1971).
Eduardo Almeida Reis
Estado de Minas: 09/02/2014
Mesmo com o adjutório da Sheng KA-9178A, a calculadora chinesa que me custou nove reais, sou uma lástima para lidar com números. Outro dia, resolvi calcular quantos minutos tem um mês. Considerando que a hora tem 60 minutos, o dia 24 horas e o mês normalmente 30 dias, multipliquei 60 x 24 x 30 e apareceu um número imenso na tela da Sheng. Copiei e fui em frente. Relendo o texto, achei que era muito minuto para um mês. Refiz os cálculos três vezes e publiquei o suelto com a nova quantidade de minutos: 43.200. Desconfio de que muita gente graúda não sabe lidar com números e calculadoras chinesas, daí a roubalheira nacional andar sempre na casa dos milhões.
Mas hoje vou falar de coisas honestas e bonitas: um silo metálico para armazenamento de cereais, o maior do mundo, baseado na matéria do meu amigo Leandro Mittmann, editor de A Granja, revista em que faço crônicas mensais há mais de 30 anos. Construído pela Kepler Weber e instalado em Primavera do Leste, MT, o silo armazena 35 mil toneladas e resiste a ventos de até 144km/h.
Uma tonelada é unidade de medida de massa equivalente a 1.000 quilos. Aí, você multiplica por mil e depois multiplica por 35 para imaginar o tamanho do maior silo do mundo. Ele tem 30 metros, altura equivalente a um edifício de 11 andares, e mais de 47 metros de diâmetro – quase meio quarteirão! Preço pago pela Uniagro, que trabalha com 400 produtores e já tinha capacidade para estocar 1,72 milhões de sacas: R$ 4 milhões.
O município de Primavera do Leste foi fundado ainda outro dia, em 1986, tem IDH muito alto e só uma de suas granjas avícolas produz 3 milhões de ovos/dia, em vias de passar para 4 milhões/dia. É um exemplo, infelizmente raro, do Brasil que funciona.
Cinquentões
Bacharéis alfabetizados, apessoados, divorciados, com emprego fixo e nome limpo na praça, correm grande perigo quando se mudam de cidade. É um tal de senhoras querendo se casar ou namorar, que o ádvena deve ficar esperto. Ádvena, minha gente: o que vem de fora.
Sim, porque ao contrário do que indica o noticiário, ainda existem mulheres que se amarram em homens, e vice-versa. Esses últimos escasseiam, é certo, o que talvez explique o afluxo de candidatas. Se inteligente, o ádvena prefere senhoras casadas, que não se mudam de mala e cuia. Visitam-no, podem levar um chinelinho, uma camisola, escova de dentes e creme dental “para botar no dentifrício”, como diz aquela senhora que confunde dentifrício com tubo, ou tubo com dentifrício. O vídeo foi gravado e circula na internet, para tristeza deste país grande e bobo.
Câmeras de segurança
Que segureza oferecem as câmeras de segurança particulares ou públicas? São relativamente novas em nossas casas e cidades, sem que o número de assaltos, e roubos, e mortes deixe de aumentar assustadoramente. A tevê nos mostrou uma rua na cidade de São Paulo, num bairro “bom”, em que todas as casas já foram assaltadas, com exceção de três. Os automóveis são roubados quando os moradores entram ou saem das garagens.
Eventualmente, uma câmera de segureza, segurança, seguridade, permite que a polícia identifique o criminoso. Localizado e preso, é solto na hora se menor de 18 anos. Maior de 18 fica preso, quando fica, por pouquíssimo tempo.
Cavalheiros e damas no exercício de altos cargos públicos disseram que o rolezinho no shopping é “cultural”. Ora, bolas, queimar clitóris das recém-nascidas para que não tenham prazer sexual também é cultural. Poligamia, burca, baile funk, tudo é cultural. Portanto, a corrupção brasileira é cultural e não se fala mais nela, falou?
O mundo é uma bola
Como é do desconhecimento geral, em 9 de fevereiro do ano de 474 teve início o reinado do imperador bizantino Zenão I, que se chamava Flavius Zeno e reinou até 491. Nascido circa 425, chamava-se Tarasis Rousoumbladiõtes até meados do ano 460, quando passou a chamar-se Flavius Zeno, bem melhor do que Rousoumbladiõtes, que tem uma espécie de tracinho por cima do último e, como também tem o tracinho em cima do último o, que aceitou o til.
Em 1849, pelo Risorgimento, foi proclamada a república romana. Em 1855, o governo imperial do Brasil firmou contrato com Edward Price para construção do primeiro trecho de uma estrada de ferro que visava ligar a Corte, então sediada no Rio de Janeiro, às províncias de São Paulo e de Minas Gerais – a Estrada de Ferro Central do Brasil. Enquanto philosopho, acho que a problemática ferroviária brasileira só terá solução no dia em que for confiada ao professor Júlio Lopes, secretário de Transportes do RJ no governo Sérgio Cabral, que supervisiona o maravilhoso sistema de trens daquele estado.
Em 1885, os primeiros japoneses se instalam no Havaí, que também tem vulcões: japonês adora vulcão. Hoje é o Dia do Frevo e o Dia do Zelador.
Ruminanças
“Tempo é dinheiro. Paguemos, portanto, as nossas dívidas com o tempo” (Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o Barão de Itararé, 1895-1971).
Corrupção deve ser crime hediondo?
Corrupção deve ser crime hediondo?
Alexandre Magno Fernandes Moreira
Procurador do Banco Central, especialista do Instituto Millenium
Estado de Minas: 09/02/2014
De acordo com projeto
de lei já aprovado no Senado, e que, atualmente, tramita na Câmara dos
Deputados, os crimes de peculato, concussão, excesso de exação,
corrupção passiva e corrupção ativa poderão ser qualificados como crimes
hediondos. A característica comum a essa lista de crimes é a utilização
de uma função pública como meio para satisfazer indevidamente um
interesse privado. Trata-se, em suma, do que, costumeiramente, se
reconhece como corrupção.
O que muda com a eventual aprovação desse projeto de lei? Em termos formais, a inclusão da corrupção na lista de crimes hediondos faz com que os condenados em razão desse tipo de crime sejam tratados com mais rigor durante o inquérito policial, o processo penal e a execução da pena. Depois de presos em flagrante, por exemplo, eles não poderão receber o benefício da liberdade provisória, nem ao menos por meio do pagamento de uma fiança, uma vez que os crimes hediondos são inafiançáveis.
Porém, a questão que realmente interessa à população é: incluir a corrupção na lista dos crimes hediondos traria algum resultado prático na prevenção e na repressão desse tipo de crime?
Infelizmente, a resposta tende a ser negativa. A experiência tem demonstrado que o simples fato de qualificar um crime como hediondo não é suficiente para diminuir sua incidência. A razão para isso é bastante simples: geralmente, os criminosos, no momento em que cogitam cometer um crime, realizam uma espécie de “cálculo de probabilidade”. O crime compensa quando a chance de ser condenado é vista como desprezível, mesmo que a pena prevista em lei seja considerável. Nesse sentido, seria irrelevante, por exemplo, dobrar a pena máxima prevista para o crime de corrupção passiva (de 12 para 24 anos de reclusão) se os potenciais criminosos continuarem percebendo a chance de condenação como próxima de zero.
Depois que o crime foi cometido, é importante não apenas punir os culpados, mas, principalmente, recuperar a verba pública que tenha sido eventualmente desviada. Para isso, a classificação de um crime como hediondo é absolutamente irrelevante. Nesse ponto, chega a ser desnecessária qualquer alteração legislativa, uma vez que já existem os instrumentos legais (inclusive em nível internacional) aptos a cumprir essa finalidade. A questão deixa de ser penal para se tornar basicamente administrativa, uma vez que tudo depende da eficiência dos órgãos públicos encarregados da recuperação da verba desviada.
Enfim, incluir a corrupção no rol dos crimes hediondos é essencialmente uma mensagem de caráter retórico: o Congresso Nacional, provavelmente impulsionado pelas eloquentes manifestações de 2013, pretende convencer a população brasileira de que está cumprindo o seu papel no combate à corrupção. Porém, mesmo esse modesto objetivo está quase certamente fadado ao fracasso: dentro de pouco tempo aparecerão novos escândalos de corrupção envolvendo parlamentares e servidores do Congresso Nacional, demonstrando mais uma vez que o país precisa de muito mais do que retórica para resolver seus graves problemas.
O que muda com a eventual aprovação desse projeto de lei? Em termos formais, a inclusão da corrupção na lista de crimes hediondos faz com que os condenados em razão desse tipo de crime sejam tratados com mais rigor durante o inquérito policial, o processo penal e a execução da pena. Depois de presos em flagrante, por exemplo, eles não poderão receber o benefício da liberdade provisória, nem ao menos por meio do pagamento de uma fiança, uma vez que os crimes hediondos são inafiançáveis.
Porém, a questão que realmente interessa à população é: incluir a corrupção na lista dos crimes hediondos traria algum resultado prático na prevenção e na repressão desse tipo de crime?
Infelizmente, a resposta tende a ser negativa. A experiência tem demonstrado que o simples fato de qualificar um crime como hediondo não é suficiente para diminuir sua incidência. A razão para isso é bastante simples: geralmente, os criminosos, no momento em que cogitam cometer um crime, realizam uma espécie de “cálculo de probabilidade”. O crime compensa quando a chance de ser condenado é vista como desprezível, mesmo que a pena prevista em lei seja considerável. Nesse sentido, seria irrelevante, por exemplo, dobrar a pena máxima prevista para o crime de corrupção passiva (de 12 para 24 anos de reclusão) se os potenciais criminosos continuarem percebendo a chance de condenação como próxima de zero.
Depois que o crime foi cometido, é importante não apenas punir os culpados, mas, principalmente, recuperar a verba pública que tenha sido eventualmente desviada. Para isso, a classificação de um crime como hediondo é absolutamente irrelevante. Nesse ponto, chega a ser desnecessária qualquer alteração legislativa, uma vez que já existem os instrumentos legais (inclusive em nível internacional) aptos a cumprir essa finalidade. A questão deixa de ser penal para se tornar basicamente administrativa, uma vez que tudo depende da eficiência dos órgãos públicos encarregados da recuperação da verba desviada.
Enfim, incluir a corrupção no rol dos crimes hediondos é essencialmente uma mensagem de caráter retórico: o Congresso Nacional, provavelmente impulsionado pelas eloquentes manifestações de 2013, pretende convencer a população brasileira de que está cumprindo o seu papel no combate à corrupção. Porém, mesmo esse modesto objetivo está quase certamente fadado ao fracasso: dentro de pouco tempo aparecerão novos escândalos de corrupção envolvendo parlamentares e servidores do Congresso Nacional, demonstrando mais uma vez que o país precisa de muito mais do que retórica para resolver seus graves problemas.
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